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Compreendendo o Terrorismo

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DESCRIÇÃO
Estudos sobre os significados de terrorismo e suas distintas facetas e abordagens.
PROPÓSITO
Compreender o terrorismo como um fenômeno sociopolítico e internacional é basilar para
profissionais que lidam com relações de poder no mundo contemporâneo.
PREPARAÇÃO
Antes de iniciar este conteúdo, tenha em mãos reportagens veiculadas nos principais meios de
comunicação sobre ocorrências de atos terroristas em várias partes do mundo. É uma busca
simples, mas a cada ponto de leitura, tente classificar e entender o evento que você escolheu.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Reconhecer terrorismo e suas diversas manifestações
MÓDULO 2
Identificar o terrorismo separatista, segundo a análise de estudos de caso (Rússia, Irlanda e
Espanha)
MÓDULO 3
Distinguir a lógica adotada no terrorismo fundamentalista religioso daquela aplicada em
contextos anteriores
MÓDULO 4
Reconhecer as controvérsias surgidas a partir da utilização do conceito de terrorismo de Estado
MÓDULO 1
Reconhecer terrorismo e suas diversas manifestações
INTRODUÇÃO

EM UMA GALÁXIA MUITO DISTANTE?
Como em grandes sagas, guerras de grandes proporções atingem várias sociedades e moldam
vidas de milhares de pessoas. Vamos assistir a uma breve contextualização feita pelo professor
Rodrigo Rainha.
O tema terrorismo pode parecer distante para quem vive no Brasil e relacionado a vivências de
outros povos. A realidade, no entanto, é que esse assunto faz parte do nosso dia a dia mais do
que consideramos.
1
QUEM NÃO SE RECORDA DOS GRANDES EVENTOS
INTERNACIONAIS QUE O BRASIL SEDIOU RECENTEMENTE?
2
QUEM NÃO PAROU PARA ASSISTIR O LAMENTÁVEL 7 A 1 DA
COPA DO MUNDO DE 2014?
3
QUEM NÃO COMEMOROU AS MEDALHAS DE OURO
CONSEGUIDAS NAS OLIMPÍADAS DE 2016?
 
Imagens: Shutterstock.com; Stefano Buttafoco / Shutterstock.com. Adaptadas por Roberta
Meireles.
Consegue perceber a conexão? A partir do momento em que o país reuniu pessoas do mundo
inteiro em eventos que celebram a união dos povos, entramos no “radar” de potenciais terroristas.
 
Imagem: Shutterstock.com.
REFLITA SOBRE A PALAVRA TERRORISMO:
VOCÊ SABE A ORIGEM?
Ela é derivada de um verbo em latim (terrere) – assim como várias palavras da língua portuguesa
– e significa assustar, causar medo. Esse é o grande objetivo do terrorismo: apavorar,
desestabilizar e, acredite, mais do que causar um enorme número de vítimas, é provocar o
medo e apreensão de que isso ocorra.
Imagine viver assustado, na expectativa de que algo ruim possa acontecer no caminho de casa,
na ida ao trabalho ou ainda, assistindo a uma partida de futebol? Milhares de pessoas ao redor
do mundo vivem sob essa expectativa; as autoridades brasileiras nos anos de 2014 e 2016
viveram essa pressão.
Naquela época, para enfrentar esse inimigo ardiloso e surpreendente, foi modificada a norma
sobre o assunto, no Brasil. Segundo a Lei n 13.260/2016, o terrorismo foi definido como:
 
Imagens: Shutterstock.com, adaptadas por Roberta Meireles.
ART. 2º O TERRORISMO CONSISTE NA PRÁTICA POR
UM OU MAIS INDIVÍDUOS DOS ATOS PREVISTOS
NESTE ARTIGO, POR RAZÕES DE XENOFOBIA,
DISCRIMINAÇÃO OU PRECONCEITO DE RAÇA, COR,
ETNIA E RELIGIÃO, QUANDO COMETIDOS COM A
FINALIDADE DE PROVOCAR TERROR SOCIAL OU
GENERALIZADO, EXPONDO A PERIGO PESSOA,
PATRIMÔNIO, A PAZ PÚBLICA OU A INCOLUMIDADE
PÚBLICA.
(LEI Nº 13.260/2016)
Com base nesse artigo, a Polícia Federal iniciou a operação #hashtag que levou à prisão oito
jovens envolvidos em troca de mensagens de incitação ao ódio e de ameaças ao evento de
2016. Recentemente, outro caso chamou a atenção da mídia – o atentado à sede do canal
humorístico “Porta dos fundos” por causa de um especial natalino, considerado por muitos como
desrespeitoso.
Uma bomba foi arremessada, provocando danos materiais e lesão ao vigilante que se encontrava
de serviço. O acusado desse ato esteve foragido no exterior e, ao ser extraditado, responde pelo
crime de terrorismo. Como se pode perceber, o terrorismo não está tão longe de casa.
 
Imagens: Shutterstock.com, adaptadas por Roberta Meireles.
PROBLEMAS DE DEFINIÇÃO
A boa comunicação é o veículo primordial para conhecimento, compreensão e resolução de
conflitos. Todos já observamos, no âmbito privado ou coletivo, o quanto palavras mal-empregadas
podem transformar uma conversa casual em uma ofensa grave.
 
Imagem: Shutterstock.com.
O ATO DE COMUNICAR POSSIBILITOU UM
GRANDE AVANÇO PARA HUMANIDADE, MAS
TAMBÉM INVIABILIZOU A MANUTENÇÃO DA
HARMONIA.
Você deve estar se questionando por que refletir sobre esse tópico é tão necessário para a
compreensão do nosso tema de estudo. A resposta é bem simples: como entender e, por
conseguinte, confrontar um fenômeno se não existe consenso sobre ele, se a comunicação sobre
o fato gera mal-entendido? Organismos internacionais, agências de investigação e países ainda
não chegaram a uma definição sobre o que é ou não terrorismo. O que pode ser tipificado assim
no Reino Unido, não necessariamente é considerado uma violação no Quênia, no Sri Lanka, ou
no Brasil.
A falta de comunicação impede que ações conjuntas sejam elaboradas e haja uma união sobre
esse evento que atinge em maior ou menor proporção o mundo todo. Como destaca Bruce
(2013, p. 26), a ausência de um consenso sobre o conceito de terrorismo faz com que pesquisas
aleatórias realizadas em sites conhecidos possam nos levar à desinformação e ao
estabelecimento de estereótipos apropriados e deturpados por facções de distintas matizes
políticas e ideológicas.
Um grupo, por exemplo, que reivindique a soberania em determinado território pode ser rotulado
como legítimo ou terrorista por governos de esquerda ou direita, dependendo dos interesses
envolvidos na questão.
 
Imagens: Shutterstock.com, adaptadas por Roberta Meireles.
Observe, por exemplo, o caso do Estado Islâmico – aprofundaremos esse tópico adiante. A
principal base do grupo era na Síria e sua ameaça uniu Estados Unidos e Rússia, embora os
primeiros fossem contrários ao ditador Bashar al-Assad (representado na imagem anterior),
governante do território ameaçado, e a Rússia, defensora do regime.
Esse é outro aspecto curioso sobre os estudos do terrorismo:
 
Imagem: Shutterstock.com.
DE VEZ EM QUANDO, FORMAM-SE ALIANÇAS
IMPROVÁVEIS DE PAÍSES COM VIESES
POLÍTICOS E IDEOLÓGICOS MUITO DISTINTOS
NO COMBATE A CERTOS GRUPOS
AMEAÇADORES.
Outra importante questão que devemos considerar refere-se à natureza do evento terrorismo.
Quem se ocupa de estudar esse tema? Que ciência possui o cabedal adequado para analisar os
fatos relacionados ao terror? Ao contrário da primeira resposta, essa é bem complexa. Não
existe uma área de estudo que consiga, individualmente, compreender todas as dimensões das
ocorrências de terror.
Por essa razão, podemos citar História, Sociologia, Psicologia, Psiquiatria, Comunicação Social,
Ciências Políticas e Relações Internacionais como alguns dos saberes que contribuem
enormemente para esse estudo. Até a Arte, aparentemente tão distante porque nos remete à
ideia do belo, da contemplação, pode se dedicar à estética da morte, da morte como espetáculo.
Chegamos, então, a algumas perguntas:
1
POR QUE ESSA INDEFINIÇÃO PERSISTE, POR QUE É TÃO
DIFÍCIL PARA OS DIVERSOS ATORES SE COMUNICAR E
CHEGAR A UM CONSENSO SOBRE O QUE É TERRORISMO?
2
A QUEM INTERESSA?
3
A QUE NÃO INTERESSA DE FORMA ALGUMA ESSA
IMPRECISÃO?
A indefinição está diretamente ligada a quem analisa a questão, ou seja, agências coibidoras,
países, organizações de defesa. Deixar vago o que é terrorismo ou quem é terrorista permite que
entidades utilizem esse espaço para perseguir e estigmatizar possíveis adversários. Nesse
sentido, alguns governos ficam bem felizes em rotular seus inimigos como terroristas, visto que
não existem parâmetros mundiais a seguir.
 
Imagens: Shutterstock.com, adaptadas por Roberta Meireles.
Em contrapartida, se não há uma definição segura do que é terrorismo, muitos indivíduos
envolvidos em atividades possivelmente relacionadas aoato podem ser mais facilmente
defendidos diante das lacunas nas leis. Essa é mais uma peculiaridade do fenômeno: tanto
governos quanto os próprios terroristas podem se beneficiar da mesma imprecisão.
Nessa confusão, um ponto é pacífico, quem não tem qualquer interesse nesse imbróglio são as
vítimas, os civis que podem ser diretamente impactados por ações extremistas.
O QUE É O TERRORISMO?
Já sabemos que não existe uma definição padrão sobre o que é o terrorismo; por isso, muitas
descrições podem ser encontradas (alguns pontos se aproximam e outros divergem totalmente).
Conhecemos, entretanto, o contexto em que o termo terrorismo foi usado pela primeira vez de
forma mais ampla – na Revolução Francesa, quando aqueles que utilizavam a violência em nome
do Estado eram classificados como terroristas. O momento entre 1792 e 1795 foi denominado
como Período do Terror, com centenas de opositores e, por vezes, aliados críticos ao governo
conduzidos à guilhotina.
 COMENTÁRIO
Não confunda a origem da palavra “terrorismo”, do latim como estudamos, com a origem
do conceito. A origem etimológica refere-se a como, ao longo do tempo, a palavra se
transformou, de que idioma ela foi gerada; a origem do conceito tem relação com seu significado,
a maneira como a palavra foi empregada em determinado período:
Origem da palavra
=
De onde vem
Origem do conceito
=
Significado, como foi utilizada
Diante da diversidade de possibilidade, vamos destacar alguns conceitos de fontes relevantes:
WALTER LAQUEUR
Walter usa uma definição simples e ampla: "o terrorismo é o uso ilegítimo da força para alcançar
um objetivo político visando pessoas inocentes" (LAQUEUR apud BRUCE, 2006, p. 26).
TORE BJORGO
Bjorgo afirma que "o terrorismo é um conjunto de métodos de combate, em vez de uma ideologia
ou movimento identificável, e envolve o uso premeditado da violência contra (principalmente) não
combatentes, a fim de alcançar um efeito psicológico do medo em outros que o alvos imediatos"
(BJORGO apud BRUCE, 2006, p. 26).
Fernando Reinares (REINARES apud BRUCE, 2006, p.27) distingue três traços que definem o
terrorismo para fins de estudo acadêmico:
 
Imagens: Shutterstock.com, adaptadas por Roberta Meireles.
Mas, se pesquisarmos mais, encontraremos centenas de conceitos distintos, e seus traços
mais comuns são:
1
PRIMEIRO TRAÇO MAIS COMUM
O fenômeno do terrorismo tem muitos elementos diferentes, é instrumento ou tática de certos
grupos para atingir objetivos predeterminados.
2
SEGUNDO TRAÇO MAIS COMUM
Demonstrações de violência extrema são parte da técnica para atingir seus objetivos, contudo,
não são o objetivo em si. Eles não objetivam matar, mas matar pode ser um meio para obter o
que desejam.
3
TERCEIRO TRAÇO MAIS COMUM
Causar medo é uma das táticas mais importantes para obtenção de resultado. Atenção: causar
medo não é sinônimo de causar mortes.
4
QUARTO TRAÇO MAIS COMUM
Os alvos dos ataques terroristas não são necessariamente aqueles que pretendem atingir.
Exemplo: ao promover um ataque a uma casa noturna, os alvos não são os frequentadores, mas
as autoridades daquele país que não souberam proteger seus cidadãos.
5
QUINTO TRAÇO MAIS COMUM
Os atos terroristas são muito simbólicos, ou seja, trabalham com a ideia de representação. Ao
atacar o jornal Charlie Hebdo, que fez charges contra o Profeta Maomé, estão confrontando o que
entendem por heresia, desrespeito, xenofobia, não necessariamente a empresa.
 
Imagens: Shutterstock.com; Frederic Legrand - COMEO / Shutterstock.com; Erica Simone /
Shutterstock.com. Adaptadas por Roberta Meireles.

RECONHECENDO O TERROR
O professor Rodrigo Rainha e a professora Fernanda Mattos conversam sobre o que representa
o diálogo entre o Terror e a Cultura.
OS TERRORISTAS SE CONSIDERAM
TERRORISTAS?
Certamente não. Aqueles que são rotulados pelo senso comum como terroristas se denominam
libertadores, guerrilheiros, salvadores da pátria, idealistas, guerreiros de Deus, revolucionários,
rebeldes, contestadores, lutadores da liberdade e quantos mais sinônimos você conseguir
buscar. É uma questão de perspectiva, afinal, as críticas ao movimento advêm de quem o
combate; quem faz parte dele considera (pelo menos por princípio) sua causa justa e correta. Não
faria sentido que eles se rotulassem com um termo indefinido.
 
Imagem: Shutterstock.com.
EXISTE RELAÇÃO ENTRE A POBREZA E A BAIXA
ESCOLARIDADE E MAIS OU MENOS
ENGAJAMENTO NAS CAUSAS DE NATUREZA
TERRORISTA?
O desenvolvimento de um país está intimamente relacionado ao investimento massivo em
educação e cultura. Sociedades em que os desníveis sociais são menos acentuados tendem a
apresentar índices de violência pouco expressivos em relação àquelas cujo abismo social é mais
nítido. São estes os questionamentos que merecem nossa atenção:
1
ESSA LÓGICA, NO ENTANTO, PODE SER APLICADA AOS
ESTUDOS SOBRE TERRORISMO?
2
POBREZA E BAIXA ESCOLARIDADE CONDUZEM OS
INDIVÍDUOS AO ENGAJAMENTO NAS CAUSAS TERRORISTAS?
3
O MENOR ACESSO À CULTURA E CONHECIMENTO FACILITAM
A COOPTAÇÃO DE POSSÍVEIS AGENTES DO TERROR?
Segundo Krueger (2002, p.3), “qualquer conexão entre pobreza, educação e terrorismo é indireta,
complicada e provavelmente bastante superficial”. Além disso, é frágil é perigosa. É frágil, visto
que várias nações conhecidas pela extrema pobreza de sua população não são elencadas entre
as maiores vítimas ou “exportadores” de agentes de terrorismo. Perigosa porque estigmatiza a
pobreza como se ela fosse a principal responsável por instintos e ações extremas, o que poderia,
inclusive, contribuir para o aumento de xenofobia em relação aos cidadãos das nações mais
vulneráveis.
Essas ações podem justificar intervenções que interferem na soberania dos países, sob a
alegação de que estariam evitando o perigo do terror; podem, também, provocar o desinteresse
de organismos internacionais em políticas de desenvolvimento voltadas para esses territórios. A
ajuda humanitária perderia o sentido e cumpriria apenas a função de evitar problema. É como se
um indivíduo oferecesse dinheiro para não ser assaltado.
 RESUMO
O terrorismo é um fenômeno internacional; não existe país, religião, filiação política, classe
econômica que escape da possibilidade da tessitura de uma célula fundamentalista no seu seio.
ONDAS DO TERRORISMO
O terrorismo é um fenômeno atemporal e, por conta disso, vive atualizando suas motivações,
estratégias e atores. Para tentar explicar essas alterações, o estudioso David Rapoport (2002)
identificou as chamadas ondas de terrorismo. Em cada uma – para ele existiriam quatro –, alguns
elementos peculiares as caracterizariam. Vamos conhecer um pouco de cada uma dessas fases?
 
Imagem: Shutterstock.com.
PRIMEIRA ONDA
A chamada primeira onda, ou onda anarquista, ocorreu entre o final do século XIX e início do XX.
Alguns nomes conhecidos de teóricos do anarquismo, como os russos Bakunin e Kropotkin,
formularam teses sobre a utilização do terror como forma de estabelecer reivindicações políticas.
Para a divulgação de suas ideias, os adeptos da primeira onda utilizavam os meios de
comunicação da época, ou seja, o telégrafo, a imprensa e a distribuição de panfletos. Como
estratégia de luta, escolhiam alvos proeminentes e promoviam atentados. Algumas vítimas
dessas ações foram: Elizabeth, imperatriz da Áustria, e o presidente estadunidense, McKinley.
 
Imagens: Shutterstock.com; Leon Czolgosz / Wikimedia commons / Domínio público. Adaptadas
por Roberta Meireles.
SEGUNDA ONDA
O movimento da segunda onda é caracterizado pela luta anticolonial. O início coincidiu com as
últimas ações da primeira fase e seus objetivos giravam em torno da ideia de liberdade e
independência de territórios ocupados, em especial, pelas nações europeias no período do
Imperialismo.
As técnicas de confronto eram perturbadoras para seus “antigos proprietários”, pois a guerrilha
contava com forte apoio popular. É importante recordar que esses grupos tinham como bandeiraa autonomia de suas terras, ou seja, em sua concepção, eles é que estavam combatendo
terroristas, no caso, as metrópoles que os exploravam. Podemos citar dois exemplos de
manifestação do terror deste período: o ataque em Israel ao Hotel Rei Davi e o assassinato do
arquiduque da Áustria, Federico Ferdinando.
 
Imagens: Autor desconhecido / Wikimedia commons / Domínio público; Trampus / Wikimedia
commons / Domínio público; Ferdinand Schmutzer / Wikimedia commons / Domínio público.
Adaptadas por Roberta Meireles.
TERCEIRA ONDA
Essa fase foi denominada como a onda da nova esquerda, ou seja, grupos cuja orientação
ideológica eram as ideias socialistas. Após o término da Segunda Guerra Mundial, o mundo
tornou-se bipolarizado:
 
Imagem: Shutterstock.com. Adaptada por Roberta Meireles.
De um lado as nações capitalistas, aliadas dos Estados Unidos.

 
Imagem: Shutterstock.com. Adaptada por Roberta Meireles.
Do outro, a União Soviética e seus seguidores.
Muitos desses movimentos da terceira onda foram inspirados e patrocinados pelos soviéticos,
com a intenção de ampliar o seu rol de aliados em todo o mundo.
Temos ainda, nesse segmento, alguns grupos remanescentes da segunda onda, ou seja,
nacionalistas que pretendiam atingir a autonomia dos seus territórios, como, por exemplo, a OLP
(Organização dos Estados Palestinos) e que não necessariamente compartilhavam das ideias
socialistas, mas aproveitavam do patrocínio em sua luta.
As técnicas de combate, além da já citada guerrilha, incluíam sequestros de pessoas
proeminentes da sociedade, ou até mesmo de aviões, ações com reféns e troca de prisioneiros.
Essa mudança de estratégia revela uma nova maneira de negociação cujo objetivo não era a
morte do alvo do ataque, mas sua utilização como moeda de troca. Fazer uma vítima fatal seria
contraproducente. Exemplos: Nelson Mandela (na África do Sul), Hotel Brinks (no Vietnam) e lutas
por independência (Congo, Moçambique e Angola).
 
Imagens: SL-Photography / Shutterstock.com; Autor desconhecido / Wikimedia commons /
Domínio público. Adaptadas por Roberta Meireles.
QUARTA ONDA
A quarta onda também será mais aprofundada a posteriori. Em linhas gerais, identificamos essa
fase como uma guinada em relação às ideias que alimentam os movimentos – nesse período, a
base eram os fundamentos religiosos, que explicariam e justificariam as ações dos grupos.
O senso comum atribui o terrorismo aos grupos islâmicos e muitas ações usam tais ideias como
substrato; contudo, existem diversos grupos filiados a outras religiões e que promovem ações
igualmente violentas. Alguns exemplos são os grupos terroristas judeus, sikhs, cristãos e até
pequenas seitas como o grupo Aum Shinrikyo, promotor de um atentando no metrô de Tóquio
utilizando o gás sarin.
A quarta onda também desenvolveu novas táticas: o atentado suicida – a utilização de lobos
solitários ganhou força e, infelizmente, êxito.
 
Imagens: Shutterstock.com; yoshi0511 / Shutterstock.com; United States Public Health Service /
Wikimedia Commons / Domínio público. Adaptadas por Roberta Meireles.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. NESTE MÓDULO, APRESENTAMOS UMA DEFINIÇÃO PRECISA SOBRE
O FENÔMENO TERRORISMO. DESCOBRIMOS, NO ENTANTO, QUE
EXISTEM DIFICULDADES CONCRETAS PARA REALIZAR ESSA
FORMULAÇÃO CONCEITUAL E ELENCAMOS A SEGUIR ALGUNS DOS
PROBLEMAS QUE ENFRENTAMOS PARA CHEGAR A UM BOM TERMO.
ASSINALE A ALTERNATIVA QUE NÃO CORRESPONDE A ALGUMA
DESSAS DIFICULDADES:
A) O fato de o fenômeno do terrorismo ser estudado por distintas ciências impede que haja um
acordo entre os vários estudiosos.
B) A falta de articulação entre as diversas agências de segurança e países envolvidos nas ações
contraterroristas.
C) O interesse de determinados países na indefinição do tema com o propósito de utilizar esse
elemento contra os adversários políticos.
D) A sistemática mudança do fenômeno terrorista que está sempre se atualizando e alterando
suas formas de atuação e estratégias.
E) A disseminação de informações equivocadas através da internet, o que impede que a
população tenha acesso ao que de fato caracteriza o fenômeno.
2. COMPREENDEMOS QUE O FENÔMENO DO TERRORISMO NÃO FOI
UNIFORME AO LONGO DA HISTÓRIA, OU SEJA, ELE APRESENTOU
MUDANÇAS DE ESTRATÉGIA E OBJETIVOS. REFLETINDO SOBRE AS
TRANSFORMAÇÕES OCORRIDAS ENTRE A SEGUNDA E TERCEIRA
ONDAS É POSSÍVEL AFIRMAR QUE:
A) A segunda onda é tipicamente separatista, ou seja, busca autonomia de determinados
territórios em relação aos seus antigos dominadores, característica não identificada na terceira
onda.
B) O contexto que marca a emergência da terceira onda é o do mundo bipolarizado, ou seja, é
possível identificar a ingerência direta dos Estados Unidos e da União Soviética incentivando
ações em determinadas partes do mundo.
C) A terceira onda inova em termos de tática de combate empregando técnicas sem uso de
violência e mais sustentada pelo diálogo e negociação entre as partes envolvidas em questões
discordantes.
D) A segunda onda é aquela que inaugura a utilização sistemática dos atentados, empregando
homens-bomba e lobos solitários, ou seja, o terror pode emergir a cada esquina sem ameaças
prévias.
E) A passagem para a terceira onda marca a crescente influência do fundamentalismo religioso
nas iniciativas e reivindicações dos grupos terroristas, o que determina, inclusive, as táticas de
combate.
GABARITO
1. Neste módulo, apresentamos uma definição precisa sobre o fenômeno terrorismo.
Descobrimos, no entanto, que existem dificuldades concretas para realizar essa
formulação conceitual e elencamos a seguir alguns dos problemas que enfrentamos para
chegar a um bom termo. Assinale a alternativa que não corresponde a alguma dessas
dificuldades:
A alternativa "A " está correta.
 
O fato de o fenômeno do terrorismo ser estudado por distintas ciências não atrapalha de forma
alguma a definição do fenômeno, ao contrário, é uma necessidade, visto que lidamos com
eventos multifatoriais.
2. Compreendemos que o fenômeno do terrorismo não foi uniforme ao longo da história,
ou seja, ele apresentou mudanças de estratégia e objetivos. Refletindo sobre as
transformações ocorridas entre a segunda e terceira ondas é possível afirmar que:
A alternativa "B " está correta.
 
A passagem da segunda para a terceira onda não invalida a continuidade de lutas com
perspectiva separatista; contudo, o que melhor caracteriza essa alteração é o mundo bipolarizado
após a Segunda Guerra Mundial.
MÓDULO 2
Identificar o terrorismo separatista, segundo a análise de estudos de caso (Rússia, Irlanda e
Espanha)
TERRORISMO SEPARATISTA
O terrorismo atual está cada vez mais presente nas relações internacionais, por conta, entre
outros, das facilidades de obtenção de armamentos, mobilidade internacional de recursos,
facilidade de comunicação e da crescente insatisfação de populações com seus governos ou
com as políticas de outros países que afetam diretamente seu cotidiano (HOBSBAWM, 2007).
As mudanças e características existiram durante a Guerra Fria, mas permaneceram presentes na
dinâmica internacional. Uma das mudanças significativas nesse sentido foi o processo de
amadurecimento e transformação da dinâmica do Terrorismo. Por isso, iniciamos nosso olhar
pelos movimentos que emergem nessa transição: o terrorismo separatista (COLOMBO, 2016,
P. 50).
 
Imagens: Shutterstock.com, adaptadas por Roberta Meireles.
Segundo Souza Júnior (2015), o desenvolvimento de uma definição de terrorismo requer a
identificação e a resolução de um número distinto de dilemas, que seriam, analisando o caso
Kennedy:
O PROPÓSITO TERRORISTA
O terrorismo é restrito à busca de certos objetivos, por exemplo, objetivos políticos? Se sim,
qualquer objetivo político é suficiente para chegar a um objetivo terrorista? Existem objetivos não
políticos suficientes para um propósito terrorista? Poderia haver atos terroristas que não tenham
qualquer objetivo em particular?
 
Foto: Teresa Otto / Shutterstock.com. O caso Kennedy é considerado um clássico de terrorismo.
A AÇÃO TERRORISTA
Que tipo de ato conta como atos de terrorismo? Devem ser incluídos apenas atos que causem
mortes ou sérios danos físicos, ou deve-se incluir danos à propriedade ou as ameaças de fazer
qualquer um desses atos?
 
Foto: Walt Cisco, Dallas Morning News / Wikimedia Commons / Domínio público.
 John Kennedy e Jacqueline momentos antes da tragédia que culminou na morte do ex-
presidente dos Estados Unidos.
O ALVO TERRORISTA
Qualquer um pode ser alvo da ação de terrorismo? Os atos terroristas são restritos aos ataques a
não combatentes? Se sim, o que pode ser definido como “combatentes”? Ou os combatentes
podem ser alvos de terrorismo em conflitos armados?
 
Foto: Shutterstock.com.
 O local do assassinato possui uma demarcação que indica o local em que Kennedy foi
baleado.
O MÉTODO TERRORISTA
Os atos terroristas precisam se relacionar com a busca da finalidade terrorista de forma
particular? O terror é central para o terrorismo, ou pode ocorrer um ato que nem aterrorize, nem
intimide as pessoas, ser um ato de terrorismo?
 
Foto: Autor desconhecido / Wikimedia commons / Domínio público.
 A arma utilizada pelo suposto atirador.
O TERRORISTA
Qualquer um pode cometer um ato de terrorismo? Os terroristas sempre agem em grupos ou atos
individuais podem ser considerados também? Pode um Estado ou seus representantes
cometerem atos de terrorismo?
(FRIZZERA; SOUZA JÚNIOR, 2015, p. 116)
 
Foto: Dallas Police, Warren Commission - Heritage Auction Gallery / Wikimedia Commons /
Domínio público.
 Lee Harvey Oswald, suposto atirador.
Como observamos, houve uma significativa mudança na passagem da primeira para a segunda
onda terrorista, seguindo os conceitos de Rapoport (2002). Os combatentes dessa fase justificam
a luta sob a bandeira da libertação dos seus territórios contra a opressão daqueles que os
dominam. São grupos que se identificam como nação por questões de costumes, língua, religião
em comum, contra um oponente que “sufocou” essas características ao incorporar suas terras.
 RESUMO
Ou seja, eles querem sua autonomia e, por isso, foram denominados de separatistas. Os países
que dominam esses combatentes consideram ter pleno direito de manter a propriedade de suas
terras, e qualquer ato de oposição, sobretudo aqueles que causam vítimas, passam a ser
rotulados como terrorismo. Esse é um claro exemplo do que aprendemos na parte dos conceitos,
ou seja, Estados que são confrontados observam os questionadores como terroristas; os
questionadores se identificam como libertadores.
SEPARATISMO IRLANDÊS – IRA
Citando Hans-Peter Gasser:
 
Imagens: Shutterstock.com, adaptadas por Roberta Meireles.
O DIREITO INTERNACIONAL REGE O
COMPORTAMENTO DAS PESSOAS QUE ATUAM EM
NOME DE UMA PARTE EM UM CONFLITO ARMADO
INTERNACIONAL, OU SEJA, DE UM ESTADO.
LEGALMENTE, AS ENTIDADES QUE NÃO SE
ENCAIXAM NESTE PERFIL NÃO PODERIAM FAZER
PARTE DE CONFLITOS, COM EXCEÇÃO DOS
MOVIMENTOS DE LIBERTAÇÃO NACIONAL SE
CUMPRIREM AS CONDIÇÕES ESTIPULADAS NO
PROTOCOLO ADICIONAL I DE 1977 DAS
CONVENÇÕES DE GENEBRA DE 1949. TODAVIA,
DELIMITAÇÃO ENTRE A VIDA DENTRO E FORA DE
UMA COMUNIDADE POLÍTICA É CONFRONTADA AO
SE TRATAR DO TERRORISMO INTERNACIONAL.
(GASSER, 2002, p. 94)
O fenômeno em forma de redes transnacionais utiliza a mobilidade para arrecadar fundos e
recrutar membros, que permitem a manutenção de suas atividades. O poderio inglês e a tradição
de domínio não permitiriam o reconhecimento de uma ruptura inglesa tão próxima de sua raiz
histórica.
Para compreender melhor o que foi a luta do exército republicano irlandês, o IRA, precisamos
realizar um grande recuo histórico:
 
Imagem: Shutterstock.com, adaptada por Roberta Meireles.
1
A região da Irlanda, durante a Antiguidade, permaneceu autônoma e politeísta até o processo de
cristianização promovido no século IV.
O destaque à conversão é essencial visto que grande parte do alinhamento assumido pelo IRA
passava pela identidade religiosa católica.
2
3
Quando houve a consolidação do Império Britânico e o estabelecimento do domínio sobre a
Irlanda, que marca toda a Era Moderna, em toda a Irlanda o ideal independentismo coexistia com
essas movimentações.
Quando a Irlanda finalmente conseguiu o retorno de sua independência, a manutenção de parte
da ilha como parte do Império Britânico foi considerada uma violência.
4
5
Os levantes da Páscoa de 1916 (Easter Rising), quando os radicais nacionalistas irlandeses se
colocaram contra os ingleses durante a Primeira Guerra Mundial, tinham sido uma possibilidade
de separação, cuidadosamente esmagada posteriormente.
CUIDADOSAMENTE ESMAGADA
POSTERIORMENTE
Já, então, era clara a impossibilidade de vencer o poderoso exército britânico, mas existia
a ideia de despertar a população para a necessidade do sacrifício em nome de um bem
maior e, não à toa, o sentimento cristão romano foi amplamente explorado nesse sentido.
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Imagem: Shutterstock.com.
EM UM PRIMEIRO MOMENTO, AS AÇÕES NÃO
ESTAVAM CONCENTRADAS NO EXÉRCITO
REPUBLICANO IRLANDÊS (IRA), AINDA PARA
NASCER, MAS EM UMA SÉRIE DE GRUPOS QUE
LUTAVAM E NÃO ACEITAVAM O DOMÍNIO. COM
UMA SOCIEDADE PROFUNDAMENTE DIVIDIDA
EM CONFRONTOS POLÍTICOS E RELIGIOSOS, O
ARGUMENTO ERA QUE O GOVERNO INGLÊS
ERA O IRREPARÁVEL INIMIGO.
Nesse sentido, o IRA adotou modelos militares de treinamento e um protocolo ultranacionalista,
com inspirações socialistas, de modo marcante. Em muitos períodos, atuou junto com o exército
de liberação nacional irlandês, que obteve o êxito. O ideal de uma Irlanda única novamente era
a marca de diferenciação em relação a outros movimentos.
Depois de ações políticas diversas, houve uma escalada de tensão, com as disputas em Belfast
e Derry. As forças do IRA enfrentaram seus próprios confrades, defendendo os bairros católicos
das formas legalistas. O IRA em sua forma de guerra por desgaste nasceu em 1969, após
esses eventos relatados.
O envio de cinco mil soldados ingleses a fim de manter a Irlanda do Norte como um território
inglês acionou anos de movimentação terrorista. O IRA entendia que a política legalista e as
forças do exército britânico cometeram todo tipo de terrorismo e o combate a eles não deveria
medir esforços.
 
Imagem: Hely's Limited / Wikimedia commons / Domínio público. Adaptada por Roberta Meireles.
 Tentativa de implementar um espírito anticomunista em campanha política (“Não queremos
vermelho aqui! Mantenha suas cores longe da nossa bandeira! Vote por Cumann Na N
Gaedheal”).
 
Imagens: Shutterstock.com; Autor desconhecido / Wikimedia commons / Uso livre. Adaptadas por
Roberta Meireles.
 Frame de um vídeo de propaganda da IRA.
Em 30 de janeiro de 1972, um grupo de soldados ingleses tentou dissipar uma manifestação em
Derry, e abriu fogo contra as pessoas. Esse dia ficou conhecido como Domingo Sangrento e
iniciou a fase crítica do conflito.
 RESUMO
Somente em 2001, depois de muitas negociações e mudanças do espaço e da forma política,
observarmos uma transição: o IRA não deixa de existir, mas assume formas políticas e não reduz
sua pressão, só que, em vez de bombas, o modelo passa a ser o de votos.
SEPARATISMO BASCO – ETA
Os processos separatistas, ainda que possuam datas relativamente recentes, precisam ser
observados a partir de um momento mais remoto. Tal qual fizemos com a análise sobre o IRA,
para compreender a origem do grupo basco, devemos conhecer o processo de formação da
França e Espanha modernas.
No século XII, o que atualmente compreendemos como território espanhol e uma parte pequena
do solo francês estava subdividido em três reinos: Navarra, Aragão e Castela.
 
Imagem: Té y kriptonita / Wikimedia Commons / CC BY-SA 3.0. Adaptada por Roberta Meireles.
Por volta de 1461, com a fusão dos dois últimos, o território de Navarra foi consideravelmente
reduzido e se movimentou entre a realeza espanhola e francesa, resguardando, no entanto,
relativaautonomia administrativa, idiomática e de costumes.
O reino de Navarra abrigava um grupo étnico linguístico, os bascos, que a despeito das múltiplas
influências assegurou essa identidade. A situação se manteve relativamente controlada até o
século XX, com a emergência da ditadura franquista, a proibição e perseguição de qualquer
manifestação regional, e o impedimento da utilização do euskara (idioma basco).
Com a crescente repressão, um grupo de estudantes insatisfeitos, inspirado pelos movimentos
anticolonialistas que eclodiram nas décadas de 1950 e 1960, criou um grupo, cuja proposição
inicial era a preservação da cultura local.
Esse grupo, após dissensões e a conquista de novos adeptos, mudou a diretriz de suas ações e
passou a atuar como grupo paramilitar visando a preservar a memória da região e a criação de
um Estado próprio.
 
Imagens: Shutterstock.com; nitpicker/ Shutterstock.com; Tpwissaa / Wikimedia commons / CC
BY-SA 4.0. Adaptadas por Roberta Meireles.
Surgia, em 1959, o ETA (Pátria Basca e Liberdade). Embora não fosse o único grupo com essa
aspiração, ganhou mais relevância pela adoção de métodos de guerrilha que, inspirados na
ideologia marxista-leninista, causaram espanto e comoção mundiais.
 COMENTÁRIO
Esse grupo é identificado como pertencente à segunda onda do terrorismo (Luta
anticolonial) , definida anteriormente; alguns pesquisadores associam esse grupo à terceira
onda (Ideais socialistas) , por causa da influência de movimentos socialistas.
 
Imagem: Baldeadly / Wikimedia commons / CC BY-SA 3.0. Adaptada por Roberta Meireles.
 Grafite em apoio ao ETA em Durango, Espanha.
Parte da população, sentindo-se representada em seus anseios, concordava com as ações do
ETA, sobretudo no momento mais severo da ditadura do general Francisco Franco. Os alvos das
primeiras investidas do grupo eram militares e demais agentes das forças repressivas
franquistas, o que, de certa forma, provocava simpatia em vítimas dos desmandos do Estado.
O ETA começou a perder força e apoio a partir de 1978, quando foi restabelecida a monarquia
na Espanha, com a adoção do regime parlamentar e a promulgação de uma constituição que
assegurava autonomia à região do País Basco. Para uma significativa parcela das pessoas,
esse era um avanço monumental, mas não para os membros mais fundamentalistas do ETA.
 RESUMO
Na concepção deles, o grupo só deveria ser desmobilizado a partir de uma total independência
da região e formação de um Estado nacional. Em razão disso, os atentados, sobretudo aqueles
utilizando carros-bomba em lugares de grande circulação, continuaram. A desmobilização de fato
só foi anunciada em 2006, quando o grupo abdicou das ações terroristas e concedeu um cessar
fogo permanente. Dez anos mais tarde, assumindo publicamente os excessos de suas ações, o
grupo foi dissolvido, solicitando antes o perdão daqueles que sofreram com suas atividades.

O CASO ESPANHOL – UMA LONGA HISTÓRIA
Veremos, junto a nossa especialista, sobre a origem do movimento separatista basco e os
atentados cometidos pelo grupo ETA.
O SEPARATISMO DA CHECHÊNIA
Localizada em um território denominado Cáucaso, a Chechênia foi alvo de cobiça ao longo dos
séculos em virtude de sua posição geográfica estratégica. Situada próxima a importantes rotas
de comércio, foi disputada por persas, otomanos, mongóis e russos. Conseguiu manter-se
autônoma por vários períodos; entretanto, após a Primeira Guerra Mundial, foi incorporada à
recém-criada União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
 
Imagem: Shutterstock.com. Adaptada por Roberta Meireles.
Essa anexação nunca foi pacífica, o que ocasionou ações de grande violência e desconfiança
mútua entre as autoridades chechenas e as lideranças soviéticas, ao longo de décadas. Um dos
episódios mais emblemáticos foi a diáspora de quase meio milhão de chechenos em 1943, sob
o argumento de que eles teriam colaborado com os exércitos alemães durante a Segunda Guerra
Mundial. Como podemos observar, a tensão era uma constante nas relações russo-chechenas.
Em 1991, com o colapso da URSS, que não conseguiu manter a coesão de seu território, a
busca pela autonomia do país mais uma vez tomou forma, agora sob a liderança de Djokhar
Dudaiev, que declarou a separação do país com o estabelecimento de uma república sem
ingerência externa. A reação dos russos (representados pelo então governador da Rússia,
Vladimir Putin – retratado na colagem a seguir) foi severa, o que provocou uma série de conflitos
chamados de Guerras da Chechênia.
 
Imagem: Dmitry Borko / Wikimedia commons / CC BY-SA 4.0.
 Djokhar Dudaiev.
 
Imagens: Shutterstock.com; Frederic Legrand - COMEO / Shutterstock.com. Adaptadas por
Roberta Meireles.
Esse caso não apresenta muitas distinções em relação aos separatismos irlandês e basco em
sua essência – um território sempre resistente ao domínio externo e que jamais desistiu de
buscar sua libertação.
O que torna o caso checheno tão especial?
Um elemento que será mais bem retratado no módulo seguinte: o componente do
fundamentalismo religioso.
 
Imagens: Shutterstock.com; Autor desconhecido / Wikimedia commons / Uso livre. Adaptadas por
Roberta Meireles.
 Frame de um vídeo veiculado da Segunda Guerra da Chechênia.
A região da Chechênia, como outras pertencentes à extinta União Soviética, possui a maioria da
população como seguidora do islamismo de vertente sunita. Em virtude disso, seu movimento
separatista, que era ancestral e essencialmente étnico, foi ganhando propriedade e incorporando
as formas de luta adotadas pelos grupos extremistas islâmicos.
A atuação do governo russo pouco ajudou no apaziguamento dos ânimos e denúncias de
violações de direitos elementares dos separatistas, atos de tortura, estupros, massacres de civis
eram recorrentes. Essa combinação de intolerância de parte a parte teve um resultado
catastrófico, visto que vários atentados eclodiram em resposta à insistência da ingerência russa.
Dois deles ganharam atenção mundial:
 
Imagem: Autor desconhecido / Wikimedia commons / Uso livre.
A invasão de um teatro em Moscou, resultando na morte de aproximadamente cem reféns.
 
Imagem: Leon / Wikimedia commons / CC BY-SA 3.0.
O incidente na Escola de Beslan, em que os terroristas mantiveram centenas de crianças,
professores e funcionários retidos e, por fim, mataram pelo menos 300 pessoas.
 COMENTÁRIO
Para tornar ainda mais complexa a situação, rumores de ligação dos grupos terroristas
separatistas com organizações como a Al-Qaeda, e supostos patrocínios de países como a
Arábia Saudita e os Estados Unidos à causa libertária alimentam as tensões ainda latentes
naquela porção do Cáucaso. Continuaremos esse assunto no próximo módulo!
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. COMPREENDEMOS NESTE MÓDULO AS MUDANÇAS ASSUMIDAS
PELOS MOVIMENTOS TERRORISTAS PERCEBENDO QUE, EM ALGUNS
CASOS, ESSAS AÇÕES TINHAM UMA AGENDA QUE O MUNDO ATÉ
ENTÃO NÃO CONHECIA E IDENTIFICAVA. NO CASO DA IRLANDA DO
NORTE, TERRITÓRIO QUE VIVENCIOU POR VÁRIAS DÉCADAS UMA
ESCALADA DE VIOLÊNCIA MANIFESTADA AINDA POR UMA
DIVERGÊNCIA DE NATUREZA RELIGIOSA, É POSSÍVEL CONSIDERAR
QUE:
A) Os grupos protestantes defendiam a continuidade da Irlanda como integrante do Reino Unido,
mas, em contrapartida, o grupo católico advogava a reunificação com a República da Irlanda.
B) O IRA (Exército Republicano Irlandês), como grupo de caráter terrorista protestante, iniciou
uma série de ataques contra alvos católicos com objetivo de atingir a ingerência britânica na
região.
C) A assinatura do Acordo de Belfast, em vez de minimizar os conflitos, incentivou ainda mais os
grupos terroristas em suas ações visto que suas cláusulas eram abusivas e intransigentes.
D) Na região da Irlanda do Norte, palco da maioria dos eventos de natureza terrorista, havia uma
significativa hegemonia numérica de habitantes católicos o que inviabilizava qualquer atuação
dos protestantes.
E) O IRA, grupo de inspiração católica, pode ser designado comoadepto da quarta onda de
terrorismo em que o fundamentalismo religioso fornece o sustentáculo ideológico para as
reivindicações feitas.
2. COMPREENDEMOS QUE OS MOVIMENTOS SEPARATISTAS,
HABITUALMENTE, SÃO ROTULADOS DE TERRORISTAS PELOS
ESTADOS CONSTITUÍDOS. DESSA FORMA, É POSSÍVEL ASSOCIAR A
FORTE REAÇÃO DO GOVERNO ESPANHOL A UMA RECENTE
MANIFESTAÇÃO NA REGIÃO DA CATALUNHA, ADVOGANDO MAIS
AUTONOMIA PARA AQUELA ÁREA. ESSAS MANIFESTAÇÕES,
ANALISADAS A PARTIR DO EXEMPLO DO ETA E DA REGIÃO BASCA, SÃO
CONSIDERADAS PREJUDICIAIS AO GOVERNO PORQUE:
A) Criam caos e temor, prejudicando a economia do país.
B) Causam muitas vítimas entre civis e militares.
C) Incentivam a formação de novos grupos de natureza terrorista.
D) Estimulam o tráfico de armas e demais atividades ilícitas.
E) Permitem um crescente apoio interno e externo aos anseios autonomistas.
GABARITO
1. Compreendemos neste módulo as mudanças assumidas pelos movimentos terroristas
percebendo que, em alguns casos, essas ações tinham uma agenda que o mundo até
então não conhecia e identificava. No caso da Irlanda do Norte, território que vivenciou
por várias décadas uma escalada de violência manifestada ainda por uma divergência de
natureza religiosa, é possível considerar que:
A alternativa "A " está correta.
 
O caso da Irlanda do Norte demonstra a pluralidade de influências possíveis para o fenômeno do
terrorismo. As posições assumidas em relação à Grã-Bretanha e ao domínio inglês detinham,
entre outros aspectos, uma posição baseada na religião e nas relações de poder.
2. Compreendemos que os movimentos separatistas, habitualmente, são rotulados de
terroristas pelos Estados constituídos. Dessa forma, é possível associar a forte reação
do governo espanhol a uma recente manifestação na região da Catalunha, advogando
mais autonomia para aquela área. Essas manifestações, analisadas a partir do exemplo
do ETA e da região basca, são consideradas prejudiciais ao governo porque:
A alternativa "E " está correta.
 
A alcunha de "terrorismo" empregada aos diferentes movimentos tem, em muitos aspectos, uma
dimensão discursiva de acusação ou apoio a determinada configuração política. O caso do ETA
aponta essa dimensão e evidencia as articulações externas à recepção do termo "terrorismo".
Causando um efeito inverso, a taxação acaba por evidenciar um efeito carismático da causa.
MÓDULO 3
Distinguir a lógica adotada no terrorismo fundamentalista religioso daquela aplicada em
contextos anteriores
DE AL-QAEDA AO ESTADO ISLÂMICO
Certamente você já deve ter ouvido sobre Al-Qaeda e o Estado Islâmico. Centenas de
reportagens, vídeos, filmes e séries foram criados a partir das ações perpetradas pelos dois
grupos. No entanto, devemos sair da superfície das informações e aprofundar nosso domínio
acerca dos eventos que permitiram o aparecimento e a difusão das ideias dessas associações.
 
A bandeira da Al-Qaeda e mulçumano em oração na mesquita. Imagens: Shutterstock.com,
adaptadas por Roberta Meireles.
Já compreendemos que, segundo os mais proeminentes estudiosos do assunto, grupos cuja
inspiração e motivação derivam da religião, fazem parte da intitulada quarta onda do terror ou
onda religiosa. No entanto, embora o islamismo seja recorrentemente associado ao terrorismo
nessa fase, a religião não prega, em absoluto, práticas de violência como princípio de fé. O
islamismo não é uma religião de brutalidade e atos extremos; aqueles que cometem essas
ações são veementemente criticados e condenados pelos líderes religiosos sérios.
Outra noção essencial é a de que os atos terroristas associados à fé não são exclusivamente
praticados em nome do Islã. Outros credos, como citamos anteriormente, também justificam seu
extremismo por seguir essa ou outra crença.
Vamos citar alguns exemplos a partir de manchetes de jornal. Leia cada uma delas com atenção:
1
“TERRORISMO DE EXTREMISTAS JUDEUS VIRA PROBLEMA
PARA GOVERNO DE ISRAEL”
– Folha de São Paulo, 4 ago. 2015.
2
“TERIA O GOVERNO DE TRUMP RESSUSCITADO UM
EXÉRCITO RELIGIOSO DE EXTREMISTAS ANTIABORTO?”
– Open Democracy, 5 fev. 2018.
3
“QUEM É O MONGE CONHECIDO COMO 
BIN LADEN BUDISTA?”
– BBC Internacional, 10 jun. 2019.
Você pode perceber que temos judeus, cristãos, budistas citados acima. Se pesquisássemos
ainda mais, descobriríamos outras em filiações religiosas, grupos que divergem e reinterpretam
os preceitos religiosos de acordo com suas agendas particulares. Matar em nome de uma
religião é uma das grandes contradições humanas.
Voltando ao terrorismo islâmico, o ano para o início aproximado da quarta onda do terror foi
1979, mais especificamente o episódio conhecido como Revolução Islâmica. Esse fato
histórico foi considerado um marco, visto que destituiu um governo monárquico, apoiado pelo
Ocidente, em especial pelos Estados Unidos, e instituiu a República Islâmica do Irã.
 
Foto: Marion S. Trikosko / Wikimedia commons / Domínio público.
 Em protesto de 1979, nos Estados Unidos, manifestante segura a placa com os dizeres
“Deportem todos os iranianos. Saiam já do meu país”.
 COMENTÁRIO
Qual a relação de uma disputa interna de poder com o terrorismo religioso nascente? Um
dos desdobramentos dessa virada política foi a chamada Crise da Embaixada, quando
estudantes iranianos inflamados contra a política intervencionista estadunidense, o Grande Satã
invadiram a embaixada do país em Teerã e mantiveram 52 pessoas como reféns por ,(شیطان بزرگ)
444 dias. Visto que uma embaixada é considerada extensão do território do país que a abriga, o
ato foi considerado um ataque terrorista aos EUA e inaugurou eventos semelhantes, com a
justificativa de uma luta religiosa.
AL-QAEDA
Provavelmente, ao ler a palavra Al-Qaeda, sua memória estabelecerá duas conexões imediatas:
 
Foto: Anthony Correia / Shutterstock.com.
Atentados de 11 de setembro de 2001
 
Foto: thomas koch / Shutterstock.com.
Osama bin Laden
 
Imagem: Shutterstock.com.
SÃO RELAÇÕES CORRETAS, MAS MOSTRAM
APENAS UM FRAGMENTO DO QUE ESSA REDE
TERRORISTA REPRESENTOU.
Esse grupo não surgiu apenas em 2001, e os mortos por suas ações não estão apenas nos
Estados Unidos, apesar de não termos ouvido falar sobre eles antes desses eventos. As maiores
vítimas dos atos terroristas não estão nos chamados países de primeiro mundo. Se
contabilizarmos corretamente, o terrorismo faz mais mortos nos países africanos e asiáticos.
 
Ataques recentes atribuídos à Al-Qaeda. Imagem: Shutterstock.com, adaptada por Roberta
Meireles. Baseada em: St.Krekeler / Wikimedia commons / CC BY-SA 2.0.
1
EUA – Nova York (World Trade Center)
2
EUA – Washington (Pentágono)
3
EUA – Pensilvânia (Shanksville)
4
Inglaterra – Londres
5
França – Paris
6
Espanha – Madri
7
Marrocos – Casablanca
8
Tunísia – Djerba
9
Turquia – Istambul
10
Egito – Sinai
11
Iraque – Musayyib
12
Arábia Saudita – Yanbu
13
Iêmen – Áden
14
Quênia – Nairóbi
15
Tanzânia – Dar es Salã
16
Afeganistão
17
Paquistão – Charsadda
18
Indonésia – Jacarta
19
Indonésia – Bali
A Al-Qaeda surgiu no interior de outra facção que, inicialmente, não era considerada terrorista
pelas nações europeias e pelos Estados Unidos: o Talibã, um grupo formado pelos mujahidin
cujo conceito é muito mal interpretado, visto ,(جھاد) guerreiros, aqueles que levam a Jihad ,(مجاھدین)
que significa luta, combate, e é observado em um sentido muito amplo pelos fiéis do Islã – não
necessariamente com a conotação de aniquilação do inimigo ou daquele que não segue a sua fé.
O aparecimento do Talibã está relacionado à ocupação soviética dos territórios do Afeganistão,
entre 1979 e 1989. O mundo ainda vivia sob a lógica da Guerra Fria, ou seja, aqueles que
combatiam a URSS, eventualmente, recebiam apoio dos Estados Unidos e de aliados e vice-
versa.
Pelo vizinho Paquistão, chegavam armas, suprimentos, apoio logístico para que os soviéticos
fossem derrotados e vivessem ali – o mesmo ocorreu com os Estados Unidos, no Vietnã, anos
antes.Depois de muita insistência e grandes derrotas, os soviéticos assinaram um acordo de
retirada e as várias milícias afegãs, dentre elas o Talibã, lutaram para assumir a liderança do país.
Vitorioso, sob a liderança de Mohammed Omar e com discurso de acabar com as guerras
internas, desarmamento de bandos e aplicação da Sharia (Lei Islâmica), o grupo foi conquistando
mais territórios no Afeganistão. Seguia a vertente sunita do islamismo, com uma radicalização
dos costumes (supressão dos direitos das mulheres, código de vestimentas para os dois
gêneros, aplicação de penas de morte e mutilações públicas, além da destruição de patrimônio
cultural que, segundo eles, eram representações de apostasia).
 
Imagens: Shutterstock.com; Autor desconhecido / Wikimedia commons / Uso livre. Adaptadas por
Roberta Meireles.
 Frame de um vídeo veiculado pela BBC Newsnight de Omar, apresentando a capa do profeta
Maomé.
Os sunitas teriam surgido logo após a morte do profeta Maomé. Divergindo sobre quem o
substituiria, dois grandes grupos se formaram:
SUNITAS
Que acreditavam ser legítimo a qualquer homem, desde que seguidor fervoroso do Islã, substituir
o profeta.

XIITAS
Que compreendiam que a sucessão deveria respeitar os critérios dos laços sanguíneos.
O sunismo seguido pelo Talibã era considerado extremista, com uma interpretação muito severa
e, por que não dizer, equivocada do Corão e da Hádice (prescrições, jurisprudências do mundo
islâmico).
Por isso, várias atrocidades foram provocadas, sobretudo, contra outros grupos religiosos ou
minorias étnicas afegãs. Todas essas ações causaram comoção internacional e provocaram a
intervenção estadunidense no país.
 
Imagem: Shutterstock.com; Al-Andalus / Wikimedia commons / Domínio público. Adaptada por
Roberta Meireles.
 Página do Corão do Alandalus (século XII).
Você deve estar pensando:
Os Estados Unidos ajudaram a armar seus futuros inimigos? Eles colaboraram para a expulsão
dos soviéticos e depois intervieram na região?
A reposta para as duas perguntas é sim.
E qual a relação do Talibã com a Al-Qaeda? No contexto de luta contra os soviéticos, vários
combatentes árabes migraram para região, em auxílio aos afegãos. Inspirados pelos mesmos
ideais, lutavam lado a lado com eles, inclusive oferecendo recursos financeiros. Um dos grandes
patronos que fazia parte desse grupo de lutadores estrangeiros era o bilionário saudita, Osama
bin Laden. Sua facção, como outras milícias da região, foi armada e treinada pela CIA (agência
de inteligência dos Estados Unidos).
Podemos compreender, então, que o território afegão foi um campo de treino para as futuras
operações dos seguidores da Al-Qaeda. Nesse tempo, eles não se intitulavam dessa maneira: o
grupo de Bin Laden era conhecido como MAK (Maktab al-Khidamat) e se associou aos Estados
Unidos contra os soviéticos.
Apesar das relações superficialmente amistosas dos anos 1980, a rota de colisão com os
Estados Unidos teve início com a Guerra do Iraque. O ditador iraquiano, Saddam Hussein,
invadira o vizinho Kuwait e, sentindo-se ameaçado por uma possível expansão em direção à
Arábia Saudita, o monarca da dinastia Saud solicitou auxílio.
Foi formada uma coalizão de países liderados pelos EUA o que desagradou fortemente Osama
bin Laden. Ele havia proposto ajuda ao monarca saudita e sua recusa fez com que a Al-Qaeda,
inicialmente favorável à retaliação contra Saddam Hussein, se manifestasse contrária à
intervenção do Ocidente, em especial dos norte-americanos, vistos por ela, segundo suas
reformulações de objetivo, como inimigo, face à sua aliança com os judeus.
 
Imagem: Shutterstock.com.
A AL-QAEDA CONSIDERAVA COMO SEUS
ADVERSÁRIOS OS JUDEUS, MUÇULMANOS
XIITAS, A FAMÍLIA SAUD (MONARCAS DA
ARÁBIA SAUDITA), O “OCIDENTE EM GERAL” E,
EM ESPECIAL, OS ESTADOS UNIDOS.
A Al-Qaeda, oficialmente fundada em 1988, inovou bastante no que diz respeito às práticas
terroristas. Além de promover atos que causaram forte impacto midiático, pela escolha dos alvos
e quantidade de vítimas, foram muito ativos nas redes de comunicação, inaugurando uma
tendência: a cooptação e divulgação dos seus feitos para o mundo inteiro. O terrorismo
ampliou seu raio de alcance a níveis impensáveis.
A partir da reformulação de rota, surgiram várias incursões do grupo em distintas partes do
mundo – interferência no Sudão, Iêmen, Egito e até na Bósnia. Além dos vários atentados
promovidos pelo grupo, com destaque para os já citados eventos em território norte-americano
em 2001, constam o ataque a diversas embaixadas estadunidenses pelo mundo (Nairóbi,
Tanzânia), ataques aos metrôs de Madri e Londres e outros tantos conforme visualizamos no
mapa do início do módulo.
 
Imagens: Shutterstock.com, adaptadas por Roberta Meireles.
 Representação das Torres Gêmeas.
Um dado chama a atenção, no caso dos atentados em solo estadunidense: na época, apesar de
aprovar publicamente as ações, Osama afirmou que não tinha a ver com os eventos, lançando
especulações de que teriam sido obra interna, de grupos inseridos no governo dos EUA.
Por causa desses eventos, Osama bin Laden tornou-se um dos dez mais procurados pelo FBI no
mundo, o que desencadeou uma caçada mundial e o lançamento, sob o governo de George W.
Bush, da Cruzada contra o Terror ou a Guerra ao Terror, o que motivou a invasão ao governo
Talibã, antigo aliado, sob o pretexto de que ele acolhia terroristas.
Após uma década de perseguições, Osama bin Laden foi declarado morto em 2011, após a
inteligência estadunidense descobrir seu paradeiro no Paquistão. A despeito de sua morte, a Al-
Qaeda advoga a continuidade de sua organização até os dias atuais.
 
Foto: timsimages.uk / Shutterstock.com.

FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO E O IDEAL DA
“BELA” MORTE
Agora, falaremos sobre da relação entre o fanatismo religioso e os atentados terroristas, citando
a Al Qaeda e o Estado Islâmico.
ESTADO ISLÂMICO
O surgimento do Estado Islâmico também possui íntima relação com as intervenções
estadunidenses na região do Oriente Médio, especificamente, no Iraque. Após a invasão das
forças de coalisão e deposição de Saddam Hussein, grupos antes interessados nessa mudança
política, passaram a disputar a liderança na região e rechaçar a atuação ocidental.
Um desses grupos começou de forma modesta, em 2003, sob a proteção da Al-Qaeda, dada à
proximidade de seus ideais e fundamentos: ambos eram sunitas de inspiração salafista
wabbista, ou seja, seguiam uma interpretação mais rigorosa do islamismo e condenavam outros
muçulmanos que, segundo eles, teriam se desviado da verdadeira fé. Esse grupo, inicialmente
chamado de Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS) , passou a ser mundialmente
conhecido apenas como Estado Islâmico (EI) (e para os detratores como Daesh).
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Imagem: Shutterstock.com. Adaptada por Roberta Meireles.
 Saddam Hussein.
DAESH
Utilizado de forma pejorativa, Daesh é uma sigla em árabe formada a partir das letras
iniciais do nome anterior do grupo. Embora não signifique nada como uma palavra, a sigla
soa semelhante a um verbo árabe que significa pisar ou esmagar algo.
Na fase inicial, havia grande proximidade com Al-Qaeda, mas o líder do EI, Abu Musab al-
Zarqawi, em 2004, rompeu com Osama bin Laden e seus seguidores avançaram em um caminho
autônomo. O projeto inicial de expulsar as forças ocidentais da região do Iraque foi ampliado com
o propósito de estabelecer um califado de grande extensão territorial e exercer autoridade sobre
todos os muçulmanos do mundo.
 
Imagens: Shutterstock.com; Autor desconhecido / Wikimedia commons / Uso livre; Autor
desconhecido / Wikimedia commons / Uso livre. Adaptadas por Roberta Meireles.
 Abu Musab al-Zarqawi.
 
Imagem: Shutterstock.com.
PARA TANTO, O ROL DE INIMIGOS DO GRUPO
ERA EXTENSO E INCLUÍA DESDE CRISTÃOS,
JUDEUS, ZOROASTRISTAS ATÉ MUÇULMANOS
XIITAS E DEMAIS MINORIAS RELIGIOSAS. BEM
SIMILAR À AL-QAEDA.
Para atingir seu objetivo, o grupo não se furtouem promover atentados de natureza extremamente
violenta com ações contra alvos civis, autoridades iraquianas, soldados das forças de coalizão e
mesquitas xiitas; além disso, disseminou a prática do martírio suicida, ou seja, indivíduos se
dispunham a morrer (e matar) explodindo seus corpos em nome da causa.
Com a morte do líder al-Zarqawi, assumiu o poder Abu Bakr al-Baghdadi, intensificando as ações
ao interferir na vizinha Síria (que já vivia uma guerra civil contestando a autoridade do ditador
local, Bashar al-Assad). Vários territórios da Síria caíram nas mãos do Estado Islâmico, que
impôs sua autoridade com bastante violência e crueldade. Em 2014, houve a proclamação da
criação do Califado Islâmico, englobando áreas de Iraque e Síria e ameaçando a fronteira com a
Turquia, em seu projeto expansionista.
 
Imagens: Shutterstock.com; Autor desconhecido / Wikimedia commons / Uso livre; U.S Army /
Wikimedia commons / Domínio público. Adaptadas por Roberta Meireles.
 Abu Bakr al-Baghdadi.
Para os estudiosos do assunto, o Estado Islâmico é um caso interessante. Nenhum grupo anterior
soube utilizar com tanta maestria as redes sociais para conquistar simpatizantes e combatentes.
Se a Al-Qaeda usava a mídia para promover seus atos, o Estado Islâmico, maximizou essa
utilização.
Jovens do mundo inteiro foram aliciados a participar dos exércitos do EI. Nesse particular, não
havia discriminação de gênero e meninas eram igualmente bem-vindas fossem para servir de
esposas aos combatentes, atuar no convencimento de outras jovens, ou prestar serviços de
natureza médica e logística. Para tanto, o YouTube, as redes sociais (Facebook, Telegram,
VK (Rede social russa extremamente popular localmente) , Twitter) foram grandes ferramentas.
Devemos destacar, no entanto, que a propaganda não necessariamente correspondia à
realidade, e o destaque dado às mulheres era apenas uma forma de atrair meninas
ocidentalizadas.
As táticas de convencimento tinham início em grupos com interesses banais e chegavam ao
processo de radicalização, que, além de envolver uma interpretação tortuosa do Corão, criava
antagonistas que deveriam ser destruídos. Todos os que não pensassem ou agissem sob rígidos
princípios eram rivais e precisavam ser aniquilados; o outro, o diferente não era um adversário,
era um inimigo. A intolerância era a base da propaganda.
Centenas de jovens partiram de distintas partes do mundo para alimentar as fileiras de
combatentes do EI; jovens que meses antes tinham trajetórias corriqueiras, mergulharam e
praticaram atos de barbárie em nome de uma causa. Esqueceram famílias, referências,
costumes e apagaram suas memórias, visto que muitos jamais voltaram.
Uma estratégia alternativa era estimular alguns voluntários a continuar em seus países de origem
e lá organizarem células internas com intuito de levar a mensagem do Estado Islâmico a todos os
lugares. Essa mensagem permitiu dezenas de ataques em vários países sem que,
necessariamente, vitimassem muitas pessoas. O dano causado era mais simbólico – o constante
pavor de ser a próxima vítima, de estar no local errado, no momento errado.
 COMENTÁRIO
Lembre-se de que terrorismo não é sobre quantidade de mortos; é sobre quantidade de medo.
Outra inovação do grupo em termos de tática – se é que podemos denominar assim – foram as
lives de assassinato. As decapitações exibidas ao vivo e posteriormente viralizadas também se
tornaram marca desse grupo fundamentalista.
Os recursos para manutenção dessa complexa rede são de distintas naturezas:
 
Imagens: Shutterstock.com, adaptadas por Roberta Meireles.
A retomada de grande parte dos territórios do autoproclamado Califado por parte do exército
sírio, das forças curdas e aliados ocidentais diminuiu fortemente sua atuação, contudo, eles ainda
são considerados uma célula ativa, ameaçadora e com possibilidade de expansão.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. NO DIA 7 DE OUTUBRO DE 2001, ESTADOS UNIDOS E GRÃ-BRETANHA
DECLARARAM GUERRA AO REGIME TALIBÃ, NO AFEGANISTÃO. LEIA
TRECHOS DAS DECLARAÇÕES DO PRESIDENTE DOS ESTADOS
UNIDOS, GEORGE W. BUSH, E DE OSAMA BIN LADEN, LÍDER
MUÇULMANO, NA OCASIÃO: 
 
GEORGE BUSH: UM COMANDANTE-CHEFE ENVIA OS FILHOS E FILHAS
DOS ESTADOS UNIDOS À BATALHA EM TERRITÓRIO ESTRANGEIRO
SOMENTE DEPOIS DE TOMAR O MAIOR CUIDADO E DEPOIS DE REZAR
MUITO. PEDIMOS-LHES QUE ESTEJAM PREPARADOS PARA O
SACRIFÍCIO DAS PRÓPRIAS VIDAS. A PARTIR DE 11 DE SETEMBRO, UMA
GERAÇÃO INTEIRA DE JOVENS AMERICANOS TEVE UMA NOVA
PERCEPÇÃO DO VALOR DA LIBERDADE, DO SEU PREÇO, DO SEU
DEVER E DO SEU SACRIFÍCIO. QUE DEUS CONTINUE A ABENÇOAR OS
ESTADOS UNIDOS. 
 
OSAMA BIN LADEN: DEUS ABENÇOOU UM GRUPO DE VANGUARDA DE
MUÇULMANOS, A LINHA DE FRENTE DO ISLÃ, PARA DESTRUIR OS
ESTADOS UNIDOS. UM MILHÃO DE CRIANÇAS FORAM MORTAS NO
IRAQUE E PARA ELES ISSO NÃO É UMA QUESTÃO CLARA. MAS QUANDO
POUCO MAIS DE DEZ FORAM MORTOS EM NAIRÓBI E DAR-ES-SALAM, O
AFEGANISTÃO E O IRAQUE FORAM BOMBARDEADOS E A HIPOCRISIA
FICOU ATRÁS DA CABEÇA DOS INFIÉIS INTERNACIONAIS. DIGO A ELES
QUE ESSES ACONTECIMENTOS DIVIDIRAM O MUNDO EM DOIS
CAMPOS, O CAMPO DOS FIÉIS E O CAMPO DOS INFIÉIS. QUE DEUS NOS
PROTEJA DELES. 
 
(ADAPTADO DE O ESTADO DE S. PAULO, 8 OUT. 2001.) 
 
PODE-SE AFIRMAR QUE:
A) A justificativa das ações militares encontra sentido apenas nos argumentos de George W.
Bush.
B) A justificativa das ações militares encontra sentido apenas nos argumentos de Osama bin
Laden.
C) Ambos se apoiam em um discurso de fundo religioso para justificar o sacrifício e reivindicar a
justiça.
D) Ambos tentam associar a noção de justiça a valores de ordem política, dissociando-a de
princípios religiosos.
E) Ambos tentam separar a noção de justiça das justificativas de ordem religiosa,
fundamentando-a em uma estratégia militar.
2. A UNESCO CONDENOU A DESTRUIÇÃO DA ANTIGA CAPITAL ASSÍRIA
DE NIMROD, NO IRAQUE, PELO ESTADO ISLÂMICO, COM A AGÊNCIA DA
ONU CONSIDERANDO O ATO COMO UM CRIME DE GUERRA. O GRUPO
ESTADO ISLÂMICO INICIOU UM PROCESSO DE DEMOLIÇÃO EM VÁRIOS
SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS EM UMA ÁREA RECONHECIDA COMO UM DOS
BERÇOS DA CIVILIZAÇÃO. UNESCO E ESPECIALISTAS CONDENAM
DESTRUIÇÃO DE CIDADE ASSÍRIA PELO ESTADO ISLÂMICO (ADAPTADO
DE O GLOBO, 30 MAR. 2015). 
 
O TIPO DE ATENTADO DESCRITO NO TEXTO TEM COMO
CONSEQUÊNCIA PARA AS POPULAÇÕES DE PAÍSES COMO O IRAQUE A
DESESTRUTURAÇÃO DO(A):
A) Homogeneidade cultural por meio da contracultura.
B) Patrimônio histórico a partir do fenômeno de aniquilação cultural.
C) Controle ocidental por meio da identificação de símbolos ocidentais.
D) Unidade étnica através da diversificação de referências culturais.
E) Religião oficial a partir da inserção de novas experiências religiosas.
GABARITO
1. No dia 7 de outubro de 2001, Estados Unidos e Grã-Bretanha declararam guerra ao
regime Talibã, no Afeganistão. Leia trechos das declarações do presidente dos Estados
Unidos, George W. Bush, e de Osama bin Laden, líder muçulmano, na ocasião: 
 
George Bush: Um comandante-chefe envia os filhos e filhas dos Estados Unidos à
batalha em território estrangeiro somente depois de tomar o maior cuidado e depois de
rezar muito. Pedimos-lhes que estejam preparados para o sacrifício das próprias vidas. A
partir de 11 de setembro, uma geração inteira de jovens americanos teve uma nova
percepção do valor da liberdade, do seu preço, do seu dever e do seu sacrifício. Que
Deus continue a abençoar os Estados Unidos. 
 
Osama bin Laden: Deus abençoou um grupo de vanguarda de muçulmanos, a linha de
frente do Islã, para destruir os Estados Unidos. Um milhão de crianças foram mortas no
Iraque e para eles isso não é uma questão clara. Mas quando pouco mais de dez foram
mortos em Nairóbi e Dar-es-Salam, o Afeganistão e o Iraque foram bombardeados e a
hipocrisia ficou atrás da cabeça dos infiéis internacionais. Digo a eles que esses
acontecimentos dividiram o mundo em dois campos, o campo dos fiéis e o campo dos
infiéis. Que Deus nos proteja deles. 
 
(Adaptado de O Estado de S. Paulo,8 out. 2001.) 
 
Pode-se afirmar que:
A alternativa "C " está correta.
 
O terrorismo de quarta onda, no qual situamos o movimento da Al-Qaeda, justifica suas ações em
fundamentos de natureza religiosa. O presidente George W. Bush, ao inaugurar a chamada
Guerra ao Terror também associou suas ações a elementos de fé, inclusive dizendo que estava
promovendo uma cruzada.
2. A Unesco condenou a destruição da antiga capital assíria de Nimrod, no Iraque, pelo
Estado Islâmico, com a agência da ONU considerando o ato como um crime de guerra. O
grupo Estado Islâmico iniciou um processo de demolição em vários sítios arqueológicos
em uma área reconhecida como um dos berços da civilização. Unesco e especialistas
condenam destruição de cidade assíria pelo Estado Islâmico (adaptado de O Globo, 30
mar. 2015). 
 
O tipo de atentado descrito no texto tem como consequência para as populações de
países como o Iraque a desestruturação do(a):
A alternativa "B " está correta.
 
Uma das fontes de arrecadação de recursos do Estado Islâmico é a venda de relíquias históricas.
Além disso, quando definem que determinado artefato ou construção não se adequa ao que seus
fundamentos religiosos legitimam, o EI promove destruição maciça. Esse fenômeno de
aniquilação cultural é identificado como desestruturação do patrimônio histórico e da memória
coletiva daquele povo.
MÓDULO 4
Reconhecer as controvérsias surgidas a partir da utilização do conceito de terrorismo de Estado
ALGUMAS IMPORTANTES REFLEXÕES

TERROR DE ESTADO
Antes de iniciarmos o módulo, faremos uma reflexão: existe terror de Estado?
Quando pensamos sobre terrorismo a partir da lógica do senso comum, sempre imaginamos um
grupo ou indivíduo solitário planejando um ataque a alvos específicos com objetivo de reivindicar
ou vingar uma suposta afronta. Esses indivíduos ou essas organizações são sempre marginais à
sociedade e não possuem legitimidade para existir. Entretanto, devemos refletir:
1
SERÁ QUE TODOS OS ATOS DE VIOLÊNCIA SÃO
PERPETRADOS POR AGENTES NÃO ESTATAIS?
2
SERÁ QUE OS ESTADOS – GOVERNOS CONSTITUÍDOS –
TAMBÉM PODEM SER RESPONSÁVEIS POR AÇÕES
QUESTIONÁVEIS NO ÂMBITO DOS DIREITOS COLETIVOS?
 
Imagens: Shutterstock.com, adaptadas por Roberta Meireles.
Não temos resposta fácil. Como já observamos, dada à indefinição sobre o que é terrorismo,
cabe a governos e agências de proteção definir esses atos. Por conseguinte, se as ações de
violência partirem deles, fatalmente encontrarão justificativas para tornar lícitos e aceitáveis
quaisquer excessos.
Considere a seguinte situação: os cidadãos do país X, apavorados devido a recentes ataques
em vias públicas, clamam ao seu governo democraticamente eleito, ações que combatam e
evitem mais mortes e pânico. A ação do governo é imediata – aumento de forças de repressão
nas ruas, abordagens a qualquer indivíduo que apresente atitudes suspeitas ou aparente
nervosismo inexplicável.
Além disso, leis são criadas permitindo monitoramento de redes sociais, e-mails e, inclusive,
pesquisas realizadas em sites específicos. A população, comunicada sobre essas ações, partilha
um sentimento de maior segurança e conforto.
Você concorda com essa premissa?
Talvez sim, mas existem perigos reais e ameaças concretas em atitudes do gênero.
Reflita sobre as seguintes questões com base na situação hipotética anterior:
1
PRIMEIRA QUESTÃO
Os autores da violência cometida em via pública foram corretamente identificados?
2
SEGUNDA QUESTÃO
As forças repressivas colocadas nas ruas agem em respeito aos direitos civis, ou seja, sem
truculência, garantindo o direito de ir e vir e a liberdade de expressão?
3
TERCEIRA QUESTÃO
Quem determina o que são atitudes suspeitas? Quem identifica as reações de nervosismo como
fonte de ameaça real ou simples reação orgânica a uma situação de estresse?
4
QUARTA QUESTÃO
Você gostaria de saber que estranhos vigiam seus contatos e as mensagens que troca
diariamente com eles?
5
QUINTA QUESTÃO
Quem vigia os indivíduos que monitoram as redes? E se eles utilizarem as informações das quais
dispõem para praticar atos ilícitos, como chantagens e extorsões ao descobrir alguma
particularidade* da vida dos monitorados?
*Particularmente, não precisa ser um crime, pode ser simplesmente um flerte, uma preferência
sexual que a pessoa não quer tornar pública.
6
SEXTA QUESTÃO
E se os governos utilizarem as informações que obtêm para perseguir e eliminar adversários
políticos?
7
SÉTIMA QUESTÃO
E se os governos lançarem suspeitas indevidas sobre pessoas que pesquisam determinados
assuntos? Imagine se nós, estudando esse material, fôssemos colocados sob suspeita em razão
das buscas para aprimorar o conteúdo?
Todas essas reflexões precisam ser feitas e as respostas não são fáceis. Será que a sociedade
está pronta para renunciar à sua privacidade em nome de segurança contra inimigos reais ou até
mesmo inventados? Será que estamos dispostos a ter nossas vidas devassadas e correr o risco
de essas informações serem mal utilizadas por governos ou vendidas em sites clandestinos na
chamada dark web? Será que isso não pode originar um efeito adverso, o chamado terrorismo de
Estado?
O QUE É TERRORISMO DE ESTADO?
Feitas as reflexões anteriores, vamos eleger um conceito para definir o que é o terrorismo de
Estado, sempre lembrando que há divergência sobre sua existência ou não.
 
Imagens: Shutterstock.com, adaptadas por Roberta Meireles.
O TERRORISMO DE ESTADO É UMA FORMA DO
EXERCÍCIO DO PODER ESTATAL CUJA REGRA DE
CONHECIMENTO PERMITE OU IMPÕE, COM
OBJETIVO DE CRIAR TEMOR GENERALIZADO, A
APLICAÇÃO CLANDESTINA, IMPREVISÍVEL E DIFUSA
TAMBÉM A PESSOAS MANIFESTAMENTE
INOCENTES, MEDIDAS COERCITIVAS PROIBIDAS
PELO ORDENAMENTO JURÍDICO PROCLAMADO,
OBSTRUINDO OU CANCELANDO A ATIVIDADE
JUDICIAL E CONVERTENDO O GOVERNO EM
AGENTE ATIVO NA LUTA PELO PODER.
(VALDÉS apud VÁSQUEZ, 2010, p. 131)
Confrontando essa tese, no entanto, temos a concepção que ações, se promovidas pelo Estado
sob a vigência da lei, ainda que cruéis, não podem ser qualificadas como terrorismo, visto que
são legitimadas pelo monopólio do uso legítimo da força.
Percebam o quanto é delicada essa questão. Os estudiosos debatem a existência dessa
modalidade de terror, contudo, não há qualquer ordenamento jurídico no mundo que o defina. Ou
seja, os excessos praticados pelos Estados ficam, em geral, impunes porque podem ser
confundidos e, claro, justificados como ações antiterroristas. Nesse contexto, corremos o sério
risco de tipificar como atos terroristas movimentos sociais com pautas justas e necessárias se,
em alguma medida, desagradarem ao governo estabelecido.
 
Imagens: Shutterstock.com, adaptadas por Roberta Meireles.
Vamos a um exemplo claro de tal situação. Um conhecido matemático e estatístico, operante no
mercado financeiro chamado Nassim Nicholas Taleb, refletindo sobre as atividades econômicas,
escreveu o livro A lógica do Cisne Negro. Sua proposta pode ser condensada em três grandes
premissas:
PREMISSA
1
O improvável existe e tendemos, após sua ocorrência, a criar teorias de que ele poderia ter sido
previsto.
PREMISSA
2
Estatisticamente é impossível prever o improvável, visto que o que conhecemos é infinitamente
menor do que o desconhecido.
PREMISSA
3
Psicologicamente, os eventos improváveis são hiperdimensionados pela população em geral.
Você pode estar confuso sobre a relação desses princípios com o terrorismo, contudo, a teoria
do Cisne Negro se encaixa perfeitamente nos eventos dessa natureza. Então, vamos
contextualizar:
TEORIA DO CISNE NEGRO
Até meados do século XVIII, o mundo europeu, por não saber da existência do Cisne Negro,
concluiu que essa variante não existia. Os europeus consideravam redundante a utilização
da cor branca na descrição do cisne. Isso tudo mudou após o conhecimento do território
australiano, onde existe essa "variante impossível" do cisne. Desde então, essa história
virou uma metáfora para qualquer eventoimprovável e grande, que após sua ocorrência,
leva os envolvidos a crer que era claramente previsível.
PREMISSA
1
Por envolver uma sofisticada logística, muitos recursos, comprometimento de dezenas pessoas e
outras distintas variáveis, os atos terroristas podem ser enquadrados como improváveis.
PREMISSA
2
Quando ocorre um ato terrorista, por causa de sua improbabilidade, ele provoca uma comoção e
histeria significativas: pessoas são tomadas por desespero e apreensão de novas ocorrências.
PREMISSA
3
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E como agiria o terrorismo de Estado diante disso? Ao alimentar a ansiedade coletiva, muitos
países aproveitam o improvável para estabelecer uma vigilância extremada sobre os cidadãos.
IMPROVÁVEL
Improvável não é sinônimo de impossível. Assim, é matematicamente complexo prever sua
ocorrência, ou seja, as agências de segurança atuam com modelos altamente frágeis.
GLOBAL TERRORISM DATABASE (GTD)
 
Imagens: Fernanda M. Silva; Shutterstock.com. Adaptadas por Roberta Meireles.
Vamos analisar agora um exemplo prático de como o terrorismo de Estado pode se manifestar.
Para isso, utilizaremos uma ferramenta de busca internacional, o GTD. Essa sigla refere-se ao
Global Terrorism Database (Base de dados do Terrorismo global), criada em 2001 e alimentada
com os dados obtidos pela Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, com apoio de
agências de inteligência estadunidenses e estrangeiras.
Nesse banco de dados, estão reunidos eventos ocorridos a partir da década de 1970 em todo o
mundo, e que se caracterizariam como ações de natureza extremista. Como fonte de pesquisa, é
um acervo muito rico e detalhado para qualquer pesquisador da área.
Veja a seguir um mapa retratando a geografia dos atos terroristas ocorrida no ano de 2018:
 
Imagens: Fernanda M. Silva; Shutterstock.com. Adaptadas por Roberta Meireles.
Constantemente revistos, os dados podem nos oferecer algumas diretrizes na compreensão do
fenômeno. Os critérios para inclusão de um evento nessa ferramenta são definidos da seguinte
maneira:
OS ATOS SÃO REALIZADOS POR ATORES NÃO ESTATAIS
USO DE FORÇA ILEGAL/VIOLÊNCIA OU AMEAÇA DE UTILIZAÇÃO DELA
COM OBJETIVO DE NATUREZA POLÍTICA, ECONÔMICA, RELIGIOSA OU
SOCIAL
FORA DO CONTEXTO DA GUERRA LEGÍTIMA
A grande questão é: se não existe uma definição mundialmente conhecida para o que é
terrorismo, como analisar os dados ali preservados? Percebam que a importante ferramenta
exclui ações do Estado, indica que existe uma guerra legítima e, por exclusão, uma ilegítima. Mas
qual seria a diferença entre ambas? Como você deve ter percebido, para o GTD não existe
terrorismo de Estado. E as relativizações não se encerram aí. Vamos um pouco adiante.
 
Imagem: Shutterstock.com.
PESQUISANDO DADOS SOBRE O BRASIL (VOCÊ
PODE FAZER O MESMO), DESCOBRIMOS OS
SEGUINTES ELEMENTOS: HÁ, NO GTD, 294
REGISTROS DE ATOS TERRORISTAS
OCORRIDOS ENTRE 21 DE MAIO DE 1995 E 11
DE DEZEMBRO DE 2018 (ÚLTIMO DADO
INSERIDO SOBRE O PAÍS).
Encontramos ainda, como agentes terroristas desde grupos neonazistas ao PCC, passando
pelos índios da etnia terena e o MST. Se nos aprofundássemos nas motivações, encontraríamos
justificativas de natureza religiosa e patrimonial; pense que estamos analisando dados apenas do
Brasil e de forma superficial.
A discursão sobre terrorismo de Estado e utilização de ferramentas (como o GTD) de forma
equivocada não se encerram e nem devem. O que precisamos é que haja mais abertura dos
Estados para permitir que os atores não governamentais reflitam conjuntamente sobre
esse assunto tão melindroso.

AS AGÊNCIAS DE INTELIGÊNCIA E O
CONTRATERRORISMO
Falaremos com a nossa especialista sobre a as agências de inteligência – CIA e outras
iniciativas de contraterrorismo.
 
Imagens: Shutterstock.com, adaptadas por Roberta Meireles.
CONTRATERRORISMO
Nesse contexto, você deve estar considerando a possibilidade de o contraterrorismo ser, na
verdade, um mero mecanismo de controle sobre a população em geral. Uma ferramenta como
GTD pode ser usada para criminalizar causas legítimas como as reivindicações indígenas, ao
colocá-las lado a lado com ações de uma das maiores facções criminosas do mundo o PCC. O
Estado pode se valer desses recursos para ele mesmo agir com grande opressão.
Todas essas ponderações são válidas, mas tenha cuidado!
Tudo sobre esse assunto precisa ser analisado com cautela e extremo rigor científico.
O contraterrorismo, ou seja, o direito de os Estados estruturarem táticas de defesa para sua
manutenção e preservação da ordem estabelecida é lícito e necessário. Embora estejam lidando
com eventos improváveis, cabe aos governos buscar alternativas para, ao menos, minimizar os
danos e efeitos colaterais desses atos extremos. Contraterrorismo não é sinônimo de terrorismo
de Estado ou não deveria ser. Cabe à população vigiar os limites de atuação dos Estados e
impedir que eles abusem das prerrogativas que os cidadãos lhes concedem a cada processo
eleitoral.
 SAIBA MAIS
Os debates sobre esse limite e sua definição podem ser pensados a partir dos exemplos da
Guerra na Síria, do Afeganistão e dos movimentos populares nos Estados Unidos.
GUERRA NA SÍRIA
Nesse período, foram atribuídos a Bashar Al-Assad atos terroristas contra sua própria
população, como o uso do gás sarin. A acusação foi negada por Al-Assad e pelo governo
da Rússia. Por outro lado, no campo do discurso, inclusive no Conselho de Segurança da
ONU, o debate sobre o direito de Estado e sua atuação de forma a combater o terrorismo
podem resultar em duras ações de antiterror.
A comunidade internacional diante desse tipo de negociação complexa se vê dividida: de
um lado, a defesa da legitimidade do Estado e sua função de proteção diante das ameaças
de separatistas; do outro, uma possível guerra civil. As perguntas que podemos fazer neste
momento, é: quem vigia? A população, o governo? E como se dá esse processo?
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AFEGANISTÃO
Um outro exemplo é o notório caso do Afeganistão. Os Guerreiros de Allah já tinham sido
terroristas contra a violência e invasão soviética, com apoio americano. Tinham atuado
intensamente na luta da Sérvia, enviado homens para defender as minorias muçulmanas,
disseminando táticas inesperadas. Mas não eram o Estado. Quando um dos grupos
assume o poder e impõe uma série de ações para proteção dos sujeitos e da honra,
promove ações de censura, pena de morte, atos públicos de violência. Nesse sentido,
perguntamos: temos governo, ou ações e processos de terrorismo?
ESTADOS UNIDOS
Movimentos como Black Lives Matter e as marchas contra violência policial americana são
um bom exemplo de que indivíduos precisam estar atentos a precarização das condições
de suas individualidades e direitos. E o Estado deve ter atenção sobre as formas e as
imposições que utilizam para governar. Sempre que esses direitos parecem ser facilmente
negados, devemos cobrar.

BALANÇO GERAL DO TERROR
Faremos uma recapitulação e contextualizações extras sobre o que foi visto neste material.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. RECONHECEMOS, NESTE MÓDULO, AS DIFICULDADES PARA
CLASSIFICAR POSSÍVEIS EXCESSOS COMETIDOS PELOS ESTADOS
COMO TERRORISMO. A NATUREZA DESSA DIFICULDADE É MAIS BEM
EXPLICADA PELA ALTERNATIVA A SEGUIR:
A) O Estado, como agente legitimamente constituído, possui, a princípio, o monopólio da força, ou
seja, todas as suas ações são plenamente justificáveis.
B) Atuando sempre em defesa da ordem e manutenção das instituições, é problemático
reconhecer em que medida as ações do Estado são excessivas ou não.
C) Dado que a definição de terrorismo está nas mãos das autoridades constituídas, atribuir ao
Estado responsabilidade sobre excessos encontra barreiras institucionais.
D) Na medida em que o Estado sempre encontra como oponente grupos que não são
legitimados pela população, suas ações ficam descaracterizadas como excessivas.
E) Reconhecer a existência de um terrorismo

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