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30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 1/52 Teoria Crítica e Literatura Profª. Elaine Zeranze Descrição Pressupostos e legado da Teoria Crítica para a construção do pensamento ocidental e a teoria literária. Propósito Compreender aspectos históricos e conceituais da Teoria Crítica e sua contribuição para os estudos literários para ampliar conhecimentos pertinentes à Teoria da Literatura. Preparação Tenha em mãos um dicionário de literatura para compreender o vocabulário específico da área. Na internet, você acessa gratuitamente o E-Dicionário de Termos Literários, de Carlos Ceia, e o Dicionário de Cultura Básica, de Salvatore D’Onofrio. Objetivos Módulo 1 A Teoria Crítica 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 2/52 A Teoria Crítica Reconhecer o contexto e as principais temáticas da Escola de Frankfurt. Módulo 2 Walter Benjamin Identificar os principais conceitos em Walter Benjamin. Módulo 3 A Teoria Crítica no Brasil Reconhecer algumas aplicações da Teoria Crítica no contexto brasileiro. A Teoria Crítica é uma escola de pensamento que foi decisiva para a revolução do pensamento científico no século XX e que possui grande influência, sobretudo nas ciências humanas, até os dias atuais. Com críticas pungentes a outros pensadores e tradições filosóficas, a Teoria Crítica lançará mão de escritas fragmentárias e inacabadas, mediante aforismos e ensaios, por exemplo, como forma de provocar o pensamento crítico e evitar, assim, o pensamento fechado e dogmático. Com temática variada, a Teoria Crítica, também chamada de Escola de Frankfurt, que conta com os pensadores alemães Theodor Adorno (1903-969), Walter Benjamin (1892-1940), Max Horkheimer (1895-1973) e Herbert Marcuse (18998-1979), traz à tona questões importantes, como a sociedade totalitária, a cultura de massa, a falsa ideia de progresso e o mundo da técnica, sempre sob um viés político, afinal, para esses intelectuais, o pensamento crítico é também político. Introdução 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 3/52 1 - A Teoria Crítica Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer o contexto e as principais temáticas da Escola de Frankfurt. Contexto histórico e �losó�co da Teoria Crítica Memorial Karl Marx em Berlin-Stralau, em Berlim, na Alemanha. Antes de pensarmos a Teoria Crítica como escola filosófica, é importante demarcar o seu caminho de formação. A rápida modernização da Alemanha e de outros países europeus, como também a efervescência intelectual de meados do século XIX, são o germe da Teoria Crítica. Nas raízes da Teoria Crítica, encontramos o pensamento marxista, que é a sua pedra de toque, portanto 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 4/52 será nossa primeira abordagem. Em seguida veremos nomes como Lukács e Weber com os célebres conceitos de consciência de classe e desencantamento do mundo, respectivamente. O marxismo: a “grande narrativa” O marxismo poderia ser visto como uma teoria “pau para toda obra”, servindo para tratar de qualquer tema, em qualquer época (SIM; VAN LOON, 2019). Já é mais que sabida a importância da crítica ao capitalismo de Marx para pensarmos a modernidade. A figura do velho barbudo já está “viralizada”, e alguns de seus principais conceitos foram banalizados – como alienação e luta de classes – de tanto utilizados e reutilizados, algumas vezes apropriadamente, mas em boa parte fora de contexto. Karl Marx em 1875. Além desses conceitos mais célebres, veremos o importante método dialético materialista. Por uma questão metodológica, começaremos pelo método dialético. A dialética hegeliana (idealista) x dialética marxista (materialista) Desde os gregos, com Heráclito e depois Platão, a dialética é pensada como um método filosófico que busca resolver as contradições do Ser e do Universo. É a partir da filosofia idealista de Hegel que virá a lógica da dialética materialista. Logo, para compreendermos o método marxista, precisamos conhecer um pouco do pensamento hegeliano. Para Hegel, toda Ideia/realidade (tese) inevitavelmente traz em si a sua negação (antítese), o que nomeou de princípio da contradição. A partir do princípio da contradição, ficaria explicado o devir/vir a ser/transformação. E dessa contradição 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 5/52 inevitavelmente viria a sua resolução (síntese). Um dos exemplos dados por Hegel para ilustrar esse princípio é o da flor: Dialética Idealista Tese Antítese Síntese Semente Flor Fruto Ideia em si Ideia fora de si Ideia em si e para si Segundo Hegel, a Flor é a negação da Semente, assim como o Fruto é a negação da Flor, ou ainda, a negação da negação. Partindo dessa lógica, da superação das contradições, Hegel pretende resolver o devir contínuo, ou seja, as constantes transformações. A síntese se transformaria numa nova tese, que geraria sua antítese e caminharia para uma nova síntese, numa espiral contínua. A essa lógica, Hegel chamou de método dialético. Comentário A grande questão é a defesa de Hegel do método dialético como um inevitável caminho da mente humana para um nível mais elevado de síntese/autoconsciência, o que transmite a ideia de progresso da mente humana e, consequentemente, da humanidade. Nesse ponto irá divergir a dialética marxista, ao negar essa evolução histórica e, ainda, a própria concepção de história. Hegel A história é concebida como jornada do espírito no mundo, ou seja, a autoconsciência do Espírito/Ideia. 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 6/52 Marx A consciência é, já no princípio, uma construção social. E segue na direção da construção de uma dialética que dê conta da vida material e não abstrata/Ideal. A dialética hegeliana serviu perfeitamente aos ideais progressistas da burguesia revolucionária, que naquele momento estava então estabelecida. Contudo, não dava conta dos dilaceramentos que acompanharam todas as mudanças, o revés do progresso. Para o filósofo húngaro Georg Lukács (1885-1971), o materialismo histórico vem para dissolver esta última grande filosofia burguesa, o hegelianismo, a partir da decadência política dos partidos na Revolução de 1848. Sem descartar o método hegeliano, Marx tenta invertê-lo: Revolução de 1848 Trata-se de uma série de acontecimentos revolucionários também denominados de Revolução Francesa de 1848, com o fim da Monarquia de Julho e o início da Segunda República Francesa. O processo de pensamento – que ele transforma em sujeito autônomo sob o nome de ideia – é o criador do real, e o real é apenas sua manifestação externa. Para mim, ao contrário, o ideal não é mais do que o material transposto para a cabeça do ser humano e por ela interpretado. (MARX, 1994, p.17) 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 7/52 Marx lançará mão de sua dialética materialista para chegar a uma interpretação dialética da história, não como evolução, mas para analisar as contradições de classes, e a própria mercadoria, que seria a síntese da contradição de valor de uso X valor de troca: Dialética Materialista (Mercadoria) Tese Antítese Síntese Valor de uso Valor de troca Valor de uso e Valor de troca Subjetivo/qualitativo Mensurável/quantitativo Produção de riqueza Ao pensar valor de uso X valor de troca, chegamos a outro grande importante conceito na teoria marxista – o de alienação. Se Marx tira de Hegel a raiz do método dialético, é em Feuerbach que irá buscar o conceito de alienação, como veremos a seguir. Alienação em Feuerbach x Alienação em Marx A filosofia deFeuerbach se voltava para uma crítica mais focada para a questão da religião em Hegel. Em Feuerbach, encontramos o conceito de alienação. Prometeu roubando o fogo, por Jan Cossiers (1637). A religião seria uma projeção, em que a ideia mitológica de Deus seria uma “gigantografia” do homem, uma potencialização do homem ideal, basicamente a projeção de valores humanos idealizados numa construção artificial. Ainda que algo criado pelo homem, com o passar do tempo, essa ideia se desgarra de seu criador e se torna independente. O que segue é o controle do criador pela própria criatura. Em outras palavras, a ideia de Deus se torna autônoma e passa a escravizar o homem. A esse fenômeno 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 8/52 que Feuerbach dá o nome de alienação. Marx transporta a ideia de Deus para a lógica do trabalho. No contexto do capitalismo, o trabalho se torna autônomo e independente do homem em diversos processos. Esses processos podem ser resumidos da seguinte forma: Alienação do produto do seu próprio trabalho O produto do trabalho não pertence ao trabalhador, mas ao dono dos meios de produção. Alienação do processo de produção O trabalhador é reduzido a uma etapa da produção, e sua atividade é vendida e controlada por outra pessoa. Alienação de sua própria natureza humana O trabalho, antes o diferencial humano, agora está a serviço, assim como o trabalhador, da lógica capitalista. Alienação do homem de sua própria espécie Mercantilização das relações sociais (SELL, 2014). Lukács e a Consciência de Classe Em contraste com a práxis soviética, Lukács traz a luta de classes por um viés menos dogmático e mais teórico, voltado para a filosofia e críticas literária e cultural. Seu trabalho mais emblemático, História e Consciência de Classe (1923), será fundamental para a Teoria Crítica e de grande influência para o filósofo Walter Benjamin, que teve acesso a Marx por meio dessa obra. Em A Teoria do Romance (1916), Lukács aponta a fratura do indivíduo com o mundo (desenraizamento transcendental), sem conseguir identificar precisamente quando ocorre essa separação, e cuja falta de sentido da existência poderia ser compensada apenas pela arte. É a esse desenraizamento que o romance como forma responde, dando conta de representar a subjetividade do indivíduo de uma nova classe e de uma nova dinâmica social que se estabelece – o burguês e a vida burguesa. 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 9/52 Georg Lukács em 1952. No entanto, Lukács modifica sua postura em História e Consciência de Classe (1923), sugerindo que a transcendência, agora não mais espiritual, deveria ocorrer no seio da própria sociedade. Para o filósofo, as classes sociais são responsáveis pela história, assim a filosofia deveria dar conta de pensar nas condições de produção e reprodução da vida material no intuito de favorecer a consciência de classe. Lukács via na expressão artística uma possibilidade de perspectiva histórica. E, embora possua um volume considerável de textos em que trata dos movimentos artísticos, seus escritos se deram de forma mais intensa no campo da Crítica Literária. Ilustração de autoria de Franz Kafka. É falando a respeito dos movimentos artísticos que encontramos uma das questões mais controversas do pensamento de Lukács, quando o filósofo faz a defesa do realismo em detrimento dos movimentos de vanguarda, o que o leva, inclusive, a condenar artistas como Franz Kafka e James Joyce. Comentário Para Lukács, que denominou as vanguardas de correntes de evolução burguesa, esses movimentos significaram o declínio da literatura e da arte, tornando-se naturezas mortas representadas com artifício e refinamento. Na outra ponta situa-se o realismo do romancista alemão Thomas Mann, a quem Lukács toma como modelo de romance, e o situa lado a lado com o escritor, pensador e escritor alemão Wolfgang von Goethe. Para Lukács, o caminho criativo dos dois autores são condicionamentos das modificações históricas, em que conseguem a representação do progresso da humanidade sem deixar de revelar o contraditório de suas manifestações. Outro tema importante em Lukács, que podemos ler no ensaio Thomas Mann e A Tragédia da Arte Moderna, 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 10/52 está relacionado com dois aspectos: A pintura a óleo A fonte, por Ludwig von Hofmann (1913), que Mann comprou em 1914 e pendurou em seu escritório. o declínio do ato de narrar, que segundo o autor tem início na revolução de 1848; o isolamento do artista e da arte, que, em Thomas Mann, como afirma Lukács, é um processo concluído, refletindo o que, no íntimo da sociedade capitalista, já é fato. Mais tarde, Walter Benjamin aprofundará essas questões no célebre ensaio O Narrador (1936). Weber: Racionalização e desencantamento do mundo Weber aborda o vasto processo histórico-social de racionalização pelo qual o mundo estava passando e suas consequências. Se por um lado a produtividade era aumentada, pelo outro, a perda da liberdade era uma possibilidade. A modernidade trazia consigo a vida ascética capitalista, ou seja, uma dedicação rigorosa e disciplinada voltada para o mundo do trabalho. Um processo gradual, resultado do desencantamento do mundo. A hiper-racionalização desgasta o mundo mítico, eliminando a magia e, por consequência, a crença nas forças divinas é eliminada da vida moderna capitalista, o que, juntamente com a ciência e a técnica, conduz a uma vida cada vez mais burocratizada, racionalizada, num mundo administrado. Outro ponto importante apontado por Weber, como consequência do desencantamento do mundo, é o da 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 11/52 des-divinização da natureza. Para entendê-la, é preciso saber que, na teoria weberiana, o desencantamento do mundo tem duas dimensões: Dimensão religiosa Aponta o interior da própria religião como ponto de partida do processo de eliminação da magia, que será levado a cabo pela ciência e técnica ocidentais. Dimensão cientí�ca O saber racional do homem des-diviniza a natureza, logo, agora, carente de sentido, passa a estar a serviço do homem. É essa natureza desmistificada que veremos mais à frente na Teoria Crítica como revés do progresso, ou seja, na dialética capitalista o progresso intimamente relacionado à destruição da natureza. A Escola de Frankfurt 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 12/52 A Escola de Frankfurt Edifício do Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt, na Alemanha, fotografado em 2007. Vamos agora procurar entender a Teoria Crítica como método de análise e crítica da sociedade. O que é a Escola de Frankfurt? Devemos pensar a Escola de Frankfurt não como uma instituição física, pois trata-se de um termo para designar uma linha filosófica e de teoria social adotada por membros ligados ao Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt. Max Horkheimer (à esquerda) cumprimenta Theodor Adorno (à direita) em frente ao Instituto de Pesquisa Social, em 1964. De orientação socialista e materialista, seu trabalho se direcionava para a produção e divulgação de uma teoria crítica da sociedade por meio de uma perspectiva dialética. Ganha maior repercussão a partir da nomeação de Max Horkheimer como diretor do Instituto. Conta na sua composição com afiliados e associados do Instituto, em sua maior parte dissidentes do marxismo ortodoxo e partidário. Por isso, ganham a denominação de neomarxistas. Num período em que vigorava a defesa do marxismo como práxis, a Escola de Frankfurt suspende a unificação entre teoria e práxis em busca de uma renovação teórica, que só é possível por conta da autonomiado Instituto. Embora sua teoria não tenha exercido grande impacto na República de Weimar e no exílio que se segue, ela 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 13/52 se torna no pós-guerra a revitalização do marxismo na Europa Ocidental. Marcuse, que após o fim da guerra fixa residência nos EUA, teve grande influência para a Nova Esquerda norte-americana. República de Weimar Corresponde a um período histórico da Alemanha entre o final da Primeira Guerra Mundial e a ascensão do partido nazista ao poder, ou seja, entre 1919 e 1933. Esse período de transição entre a Grande Guerra e o Nazismo se caracterizou por um governo que procurava resolver os graves problemas do pós-guerra. É um governo que nasce da Carta Constitucional elaborada a partir da assembleia constituinte, que se instalou em fevereiro de 1919 na cidade de Weimar. O modelo de governo republicano parlamentarista que nasce dessa constituição se mostrou fragilizado e acabou convivendo com vários radicalismos, como o nacionalismo que deu origem ao nazismo. Saiba mais A Escola de Frankfurt, além de inspiração marxista, era composta basicamente por pesquisadores judeus. Por isso, o Instituto acabou sendo fechado pelos nazistas, tendo seus livros confiscados. Esses autores, que dão nome à Teoria Crítica, são críticos do socialismo soviético tanto quanto do capitalismo nas ideias e na forma. No âmbito das ideias Procuram fugir do caráter dogmático dos pensadores positivistas. Na instância da forma Dão preferência ao inacabado, como os textos na forma de ensaio e de aforismos (textos concisos e densos), em oposição à tradição filosófica e o pensamento fechado. Atenção A escola de Frankfurt apresenta o dilema do intelectual de esquerda do século XX. Como críticos da cultura, os membros do Instituto tinham diante de si a máquina capitalista que tudo absorvia, cooptava e esvaziava. Era um período em que a alienação se torna mercadoria lucrativa, a arte moderna cai nas graças da massa consumidora, atingindo, inclusive, as vanguardas, que se faz ornamento da vida cultural. As pesquisas ligadas a essa escola refletem o contexto em que foram produzidas. Seus teóricos escrevem sobre um período turbulento, que compreende o pós-guerra, com todo o empobrecimento econômico e humano que desemboca, de um lado, no fascismo e no nazismo, e do outro, no stalinismo. Viveram ainda o horror da Segunda Guerra Mundial que, com todo o aparato tecnológico e sociedade “hiper-racionalizada”, 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 14/52 produziu os campos de concentração e extermínio nazistas. A Dialética do Esclarecimento de Adorno e Horkheimer Mito e Esclarecimento Comício do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães em Nuremberg, em1936. A Dialética do Esclarecimento (1985) é uma obra em que Adorno e Horkheimer levantam questionamentos acerca do Esclarecimento (Iluminismo) que promove a barbárie. Tratam de um contexto em que uma sociedade extremamente racionalizada e ordenada, como a Alemanha do início do século XX, tem como produto o antissemitismo e o fascismo. Aqui, é possível enxergar a dialética weberiana que trata das sociedades hiper-racionalizadas que trazem a regressão junto ao progresso. O programa do esclarecimento era o desencantamento do mundo. (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p.18) Para os autores de Dialética do Esclarecimento, o fundamento do esclarecimento era a dominação. Saber e poder, nessa concepção, são sinônimos, logo a desmistificação da natureza, apontada já em Weber, tinha como propósito a dominação da própria natureza, tanto quanto a do homem. Desmistificar para dominar: O mito converte-se em esclarecimento, e a natureza em mera objetividade. (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p.21) 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 15/52 No ensaio Ulisses ou o Mito do Esclarecimento, os mesmos autores vão buscar em Homero as sementes do desencantamento do mundo. Na Odisseia de Ulisses, assistimos à vitória da astúcia sobre o mito. A astúcia era uma marca da razão ou de uma racionalidade. Os pensadores da Teoria Crítica analisam o célebre episódio em que Ulisses, para não sucumbir ao canto das sereias, pede para ser amarrado, assim, diferentemente de seus companheiros que estariam com os ouvidos tapados com cera, ele poderia ouvir o maravilhoso canto e não ceder a ele. Tal como esse, outros episódios da Odisseia representam desvios que impedem que o herói retorne à sua pátria, no entanto, o astucioso Ulisses sai vitorioso de todos eles, representando a vitória da racionalidade. A Indústria Cultural No ensaio Indústria Cultural, cujo subtítulo é o Esclarecimento como Mistificação das Massas, Adorno e Horkheimer apresentam o célebre conceito de indústria cultural. Nesse texto, os autores condenam os meios de comunicação de massa devido ao seu caráter totalizante, que impossibilita o direito à escolha. A indústria cultural, composta essencialmente pela mídia (como o cinema, o rádio, a televisão), é responsável pela difusão de valores e padrões de comportamento. Funciona como aparelhos que criam necessidades genéricas e constituem os indivíduos também como seres genéricos, logo substituíveis. O processo de padronização provocado pela indústria cultural está relacionado com uma sociedade alienada de si mesma, cuja compulsividade impele as massas a consumir aquilo que é produzido em larga escala, vinculando-se ao sentimento de que esses bens respondem a uma demanda, ou seja, nascem das necessidades dos próprios consumidores. A arte, nesse contexto, assume um caráter declaradamente mercantil, renuncia à sua autonomia e se lança como bem de consumo. Os Beatles desembarcando no Aeroporto JFK em Nova Iorque, em 1964. Adorno e Horkheimer tratam ainda da questão específica do cinema e do rádio, que já nascem dentro dessa lógica, logo não necessitam se apresentar como arte, pois não passando de um negócio: “utilizam uma ideologia destinada a legitimar o lixo que propositalmente produzem” (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p.100). Resumindo 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 16/52 A condenação enfática de Adorno e Horkheimer a essas mídias vem do seu caráter puramente de entretenimento, tomando o lugar do tempo livre, do ócio criativo, da liberdade. As massas, em seu tempo livre, agora estão anestesiadas se divertindo uniformemente, sendo bombardeadas por imagens ou notícias que não provocam o pensamento crítico, ao contrário, promovem anestesiamento e alienação. Adorno e o ensaio como forma Theodor Adorno em 1964. O ensaio adota uma perspectiva não totalizante do que se fala. Ele termina no instante em que se acredita suficiente e não quando mais nada se resta a dizer. O ensaio se afirma como uma forma não dogmática e fechada em si, ele não cria, mas recria a partir de algo já existente. Enquanto a tradição parte do universal para explicar o particular, o ensaio fará o caminho reverso. Adorno pondera que, ao contrário do que dizem aqueles que atacam o ensaio por uma suposta falta de rigor, a forma aberta do ensaio não significa falta de rigidez acadêmica. O ensaio adota uma perspectiva não totalizante do que se fala. Ele termina no instante em que se acredita suficiente e não quando mais nada se resta a dizer. O ensaio se afirma como uma forma não dogmática e fechada em si, ele não cria, mas recria a partir de algo já existente. Enquanto a tradição parte do universal para explicar o particular, o ensaio fará o caminho reverso. Adorno pondera que, ao contrário do que dizem aqueles que atacam o ensaio por uma suposta falta de rigor, a forma aberta do ensaio não significa falta de rigidez acadêmica. Adorno e outros companheiros defendem o desnudamento do texto científico, afinal,passando ao largo da falsa objetividade a que se pretende a ciência, que, embora escondida pela máscara da neutralidade científica, sempre carrega uma posição política, o ensaio afirma seu posicionamento. Além disso, a descontinuidade é fundamental ao ensaio. O ensaio é tanto aberto quanto fechado, tornando-se coeso em sua forma, pois é aberto no instante em que 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 17/52 nega qualquer sistemática, no entanto, torna-se fechado, pois trabalha de forma enfática no modo de exposição. O ensaio se aproxima tanto da arte, em razão de sua dinâmica, quanto da teoria, em razão dos conceitos que apresenta. Max Horkheimer e a crítica da razão instrumental A crítica da razão instrumental de Horkheimer diz respeito a uma sociedade em que a razão abre mão de sua autonomia para servir de instrumento e estabelecer uma ordem para aqueles que detêm o poder. A razão se mostraria algo doentio porque teria nascido da necessidade que o ser humano tem de dominar a natureza. A hiper-racionalização pensada por Weber ganha com Horkheimer a particularidade de instrumento, com isso, não serve mais ao homem como meio de emancipação, mas submete o homem a suas próprias leis. Max Horkheimer com Rose Riekher no 1º Congresso de Críticos Culturais de Munique (1958). Essas leis não têm mais a ver com a razão e busca por verdades objetivas e universais, mas com o alcançar um propósito, seja ele bom ou mau. Como produto da razão instrumental, Horkheimer denuncia: a decadência do pensamento; a razão a serviço da produção industrial; a cultura de massa; a deificação do trabalho; a natureza concebida como instrumento a serviço do homem; a relação de utilidade em detrimento da relação de necessidade. Para o diretor do Instituto, o maior serviço que a filosofia poderia prestar diante de um cenário aterrador é o de denúncia da própria razão e contar a história dos anônimos desse processo, a quem chamou de “verdadeiros mártires”. Entre os mártires a quem Horkheimer se refere estão aqueles que pereceram nos campos de concentração, 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 18/52 vítimas dessa razão instrumental, logo, a função da filosofia traduzir suas vozes, que foram silenciadas pela tirania. Herbert Marcuse e o homem unidimensional Herbert Marcuse em 1955. Em 1964, Marcuse escreve o célebre trabalho O Homem Unidimensional, este homem diz respeito àquele que vive numa sociedade de uma única dimensão, ou seja, uma sociedade sem oposição, totalizada. O espaço da sociedade total, resultado do mundo racionalizado e da técnica, fecha o horizonte para o pensamento crítico e obedece à lógica do domínio por aqueles que detêm o poder e usam a razão a serviço de seus interesses. Segundo Marcuse, a sociedade industrial avançada produz um mecanismo de controle que comanda todos os aspectos da vida, das ocupações aos desejos individuais, da esfera pública à privada. A organização e “homogeneização” da sociedade tem, no entanto, uma única finalidade, a dominação. Para Marcuse, a barreira totalitária não pode ser derrubada por meios tradicionais de protesto, como acreditava Marx, mas a sua desestabilização acontece por meio daqueles que a sociedade unidimensional deixa à margem, como os marginalizados, os estrangeiros, os refugiados, as minorias perseguidas, os desempregados etc. Contexto e temáticas da Escola de Frankfurt Está na hora de falarmos sobre os principais temas abordados pela Teoria Crítica. Vamos lá! 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 19/52 Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 1 - Vem que eu te explico! O que é a Escola de Frankfurt? Módulo 1 - Vem que eu te explico! Adorno e o Ensaio como Forma Todos Módulo 1 - Video Contexto e temáticas da Escola de Frankfurt Módulo 2 - Video O pensamento de Walter Benjamin Módulo 3 - Video Contribuição da Teoria Crítica no Brasil Todos Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 20/52 Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Assinale a alternativa que contém uma afirmativa correta sobre o contexto filosófico implicado na origem da Teoria Crítica. A O marxismo é a fonte teórica da Escola de Frankfurt, por isso mesmo a Teoria Crítica manteve intocados os conceitos e o pensamento marxistas, tendo seus principais pensadores rotulados de marxistas radicais. B Embora o marxismo seja a pedra de toque da Teoria Crítica, a Escola de Frankfurt se caracteriza por uma renovação teórica do marxismo, por isso seus integrantes foram chamados de neomarxistas. C Lukács, com o conceito de consciência de classe, e Weber, com a ideia de desencantamento do mundo, influenciaram o marxismo, mas não fazem parte do contexto filosófico da Escola de Frankfurt. D A Teoria Crítica surge num momento anterior à República de Weimar, quando a filosofia na Alemanha ainda não lidava com os desafios do pós-guerra. E Os pensamentos de Adorno, Horkheimer, Benjamin e Marcuse têm em comum uma origem filosófica preocupada com questões metafísicas e transcendentais. Parabéns! A alternativa B está correta. A origem da Teoria Crítica está relacionada com o pensamento marxista, além do diálogo com o pensamento de Lukács e Weber. No entanto, a Teoria Crítica propõe uma renovação teórica, inclusive superando alguns aspectos do marxismo, como a unificação entre teoria e práxis. A forte influência marxista e a postura não dogmática em relação ao pensamento de Marx levaram os teóricos daQuestão 2 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 21/52 marxista e a postura não dogmática em relação ao pensamento de Marx levaram os teóricos da Escola de Frankfurt a serem denominados de neomarxistas. Ques ão Considere a enumeração a seguir tendo em vista as principais temáticas abordadas pela Escola de Frankfurt. I. Cultura de massa II. O mundo transcendente III. Sociedade totalitária IV. Crítica do capitalismo V. Niilismo A partir desta enumeração, assinale a alternativa correta: A Apenas os itens I e II estão corretos. B Apenas os itens II e III estão corretos. C Apenas os itens I, II e III estão corretos. D Apenas os itens I, III e IV estão corretos. E Apenas os itens III, IV e V estão corretos. Parabéns! A alternativa D está correta. A Escola de Frankfurt tem como principais temas a cultura de massa, a sociedade totalitária e a crítica ao capitalismo, por isso os itens I, III e IV são os únicos corretos. Os itens II e V estão incorretos porque o mundo transcendente, preocupação de filósofos como Kant, e o Niilismo, temática muito cara a Nietzsche, não eram temas com os quais a Teoria Crítica da Escola de Frankfurt se ocupava. 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 22/52 2 - Walter Benjamin Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os principais conceitos em Walter Benjamin. Biogra�a de Walter Benjamin Walter Benjamin nasceu em 15 de julho de 1892. De temperamento melancólico e de difícil enquadramento, Benjamin dizia-se regido sob o signo de Saturno. De origem judaica, Benjamin desperta o interesse pelo judaísmo influenciado por seu amigo sionista Gershon Scholem (1897-1982). O messianismo judaico é bastante expressivo nos escritos de Benjamim, e possui particular atenção pela mística judaica, que se manifesta mais precisamente nos seus textos mais maduros. Walter Benjamin era de uma família burguesa e abastada. Em 1917, casa-se com Dora Sophie Pollak. O autor se torna pai na Suíça, paísem que se refugia com sua esposa para não ser convocado pelo exército alemão durante a Primeira Guerra. Em 1919, defende sua tese de doutoramento na Universidade de Berna, 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 23/52 com o título O conceito de crítica de arte no romantismo alemão. Politicamente, Benjamin manifestava espírito livre e, embora tenha se aproximado bastante do marxismo, não se filia a nenhum partido, como teria feito boa parte dos intelectuais da esquerda marxista. Walter Benjamin em 1928. Seu pensamento livre e sui generis o deixou numa espécie de limbo acadêmico. Sua atuação como escritor, de 1925 a 1934 (quando se torna colaborador e bolsista do Instituto de Pesquisas Sociais) são os trabalhos de freier schiriftsteller (uma espécie de free-lance) e, após esse período, mesmo com a bolsa no Instituto, a sua situação financeira encontrava-se cada vez mais precária. O cenário se tornava cada vez pior. Com a ascensão do nazismo, os jornais e as revistas alemãs recusam seus trabalhos, Benjamin perde a cidadania alemã e começa a sofrer perseguições como inúmeros judeus. Refugiado na França, junto com outros milhares de judeus, é transferido para um “campo de trabalho voluntário”, pois a França entra na guerra contra a Alemanha e declara os cidadãos alemães, refugiados ou não, inimigos do país. Liberto com a ajuda de amigos franceses, permanece em Paris e escreve em 1940 as teses Sobre o conceito de história. Em junho de 1940, a Alemanha ocupa a França e, após um pacto de armistício, ela se compromete a entregar os refugiados alemães. O que segue é uma penosa jornada em que Benjamin tenta asilo em outro país. Sem cidadania e um visto para sair da França ou entrar em outro país se torna inviável. Ilegalmente chega a Portbou, na Espanha, e lá descobre que seria obrigado a retornar à França, o que significava ser entregue à Gestapo. Mediante a possibilidade quase irreversível de ser enviado aos campos nazistas, Benjamin se suicida com uma dose letal de morfina, que carregava junto a si como última saída para não cair nas mãos dos nazistas. A obra benjaminiana Embora tenha seu nome vinculado à Escola de Frankfurt, a produção teórica de Walter Benjamin merece um capítulo à parte do Instituto. Sua relação com a academia, em alguns momentos, assemelha-se à sua relação com a vida, errante, cheia de revezes e inacabada. Seu estilo original lhe negou uma vida financeira e 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 24/52 acadêmica estáveis. Mesmo entre amigos, seu trabalho era visto de forma ambígua, ganhando divulgação e reconhecimento merecidos apenas após sua morte. Comentário É uma tarefa difícil enquadrar o pensamento benjaminiano, sendo assunto de discordância entre seus comentadores ainda nos dias atuais. Isso se dá pelo fato de o teórico alemão, apesar de sua formação filosófica, ter uma produção considerável em temas que abrangem a literatura e a arte. Para além da filosofia ou da crítica, por meio de seus escritos, Benjamin projeta fazer uma nova escritura da História, que ganha amplo sentido na metáfora de “escovar a História a contrapelo”. Seria uma escritura contada pelo lado dos vencidos. Anos mais tarde, Marcuse verá nessa camada dos vencidos, a que classifica como os que estão à margem da sociedade unidimensional, o desequilíbrio da barreira totalitária responsável pela homogeneização da sociedade. A classe dos vencidos como condição revolucionária perpassa boa parte da obra benjaminiana, entretanto, trabalha mais a fundo esse tema nas suas teses Sobre o conceito de história. Depois de visitar uma exposição de Paul Klee, em abril de 1921, Benjamin comprou a aquarela Angelus Novus. Na forma, assim como seus companheiros da Escola de Frankfurt, Walter Benjamin tem preferência pelo inacabado, seja pela forma do ensaio, pelo fragmento ou pela montagem por meio de citações, levada a cabo de forma mais intensa em Das Passagen-Werk. O livro Passagens é uma obra inacabada composta por 4.234 fragmentos, separados por temas e suas notas organizadas de A-Z. Nesse projeto, encontramos, no arquivo “N” intitulado de “Teoria do Conhecimento – Teoria do Progresso”, o seu valioso conceito de imagem dialética. Sua intenção era deixar vir à tona os sentidos por meio do choque provocado pela montagem de citações. Das Passagen-Werk Livro Passagens. Entre os temas frequentes em seus ensaios literários e especialmente no livro sobre a vida em Paris no século XIX, podemos listar o labirinto, as ruas, os passeios cobertos, o trânsito, entre outros. Lemos em Benjamim a crítica ao progresso e a ideia de desencantamento do mundo provocado pela 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 25/52 sociedade racional e técnica. Também vemos uma forte crítica ao capitalismo como estrutura que mecaniza, reifica e quantifica a vida. É importante ressaltar a presença da teologia em seu trabalho. Contudo, é preciso olhá-la por um viés romântico do messianismo judaico, esclarecido na seguinte citação a Friedrich Schlegel: “O desejo revolucionário de realizar o Reino de Deus é... o começo da história moderna” (LÖWY, 2005, p. 22). Para Löwy, a combinação das duas imagens utópicas, do reino messiânico e da revolução, não é à toa, e busca nos textos do jovem Benjamin a ponte dialética pela seguinte sentença: “a busca da felicidade da humanidade livre” (LÖWY, 2005, p. 22). Benjamin, nessa imagem, faz a mediação entre as lutas libertadoras históricas, “profanas” e a realização da promessa messiânica. Na síntese da obra do autor, encontramos a estética, o historicismo e a teologia como três esferas que, atravessadas pelo marxismo, numa combinação improvável, conferem originalidade a Walter Benjamin. A modernidade e a degradação da experiência A obra benjaminiana é perpassada por uma elaborada teoria da experiência, e ainda que não possua uma sistematização, o conceito de Erfahrung (Experiência) aparece em alguns trabalhos de uma forma mais direcionada, como nos ensaios Experiência (1913); Experiência e pobreza (1933); e O Narrador (1936). O primeiro passo é entender o que Benjamin infere por experiência. Segundo Sergio Paulo Rouanet (2008), importante tradutor e comentador da obra benjaminiana, podemos compreendê-la à luz da teoria freudiana do trauma. Nesta teoria, Freud prega a existência de dois mecanismos psíquicos distintos, a consciência e a memória. A consciência seria responsável pelo estágio de alerta do indivíduo, servindo como defesa e filtro para as inúmeras excitações externas a que ele está submetido. No sentido oposto, a memória ficaria no encargo de guardar as experiências, aquelas não captadas pela consciência. A partir dessa tese, Benjamin traça um paralelo entre memória/experiência e consciência/vivência. A primeira estaria situada na tradição, enquanto a segunda é produto da modernidade. 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 26/52 Em Experiência e pobreza (1933), Benjamin inicia seu ensaio com uma conhecida parábola judaica – O tesouro enterrado no vinhedo. Na parábola, a ideia de experiência transmitida é a de uma sabedoria compartilhada entre gerações. O tesouro enterrado no vinhedo Conta-se que um velho no leito de morte revela aos filhos a existência de um tesouro enterrado no vinhedo da família. Diante daquela revelação, os filhos, então, reviram e trabalham a terra incansavelmente, contudo, não encontram tesouro algum. No outono, as vinhas produzem mais do que qualquer outra da região. Nesse momento, os filhos percebem que o tesouro ao qual o pai se referiu era a experiência. A experiência dos mais velhos, passada de geração para geração, traz consigo o pressuposto da tradição e da temporalidade como continuidade,em que o aprendizado será perpetuado. A narração como transmissão de sabedoria não é mais uma possibilidade no mundo desencantado, este, nos diz Benjamin em O Narrador, seria o responsável pela decadência da memória e a impossibilidade de narrar. A desintegração da persistência da memória, por Salvador Dalí (1954). Há uma célebre passagem em Experiência e pobreza que se repete quase integralmente em O Narrador, onde Benjamin reflete sobre o fato de os combatentes da Primeira Guerra voltarem silenciosos dos campos de batalha. Porque nunca houve experiências mais radicalmente desmoralizadas que a experiência estratégica pela guerra de trincheiras, a experiência econômica pela inflação, a experiência do corpo pela fome, a experiência moral pelos governantes. Uma geração que ainda fora à escola num bonde puxado por cavalos viu-se abandonada, sem teto, numa paisagem diferente em tudo, exceto nas nuvens, e em cujo centro, num campo de forças de correntes e 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 27/52 explosões destruidoras, estava o frágil e minúsculo corpo humano. (BENJAMIN, 1996, p. 115) No silêncio, real e simbólico dos combatentes, vemos as experiências incomunicáveis, não apreendidas por meio das palavras. Para a literatura, na encruzilhada do inenarrável com a urgência de contar, que se vê diante de uma crise da representação, Benjamin deixa algumas pistas, que não seja silenciamento nem redenção. Uma delas pode ser lida na narrativa do absurdo em Kafka. As criações de Kafka são pela própria natureza parábolas. A miséria e a beleza delas, porém, é que tiveram de se tornar mais que parábolas. Elas não se deitam pura e simplesmente aos pés da doutrina [...]. Uma vez deitadas elas se levantam contra esta, inadvertidamente, uma pata de peso. (BENJAMIN, 1996, p. 105) No contexto em que a Experiência (Erfahrung) se esvazia, surge um novo conceito na teoria benjaminiana, o de Vivência (Erlebnis). Quanto maior é a participação do fator do choque em cada uma das impressões, tanto mais constante deve ser a presença do consciente no interesse em proteger contra estímulos; quanto maior for o êxito que ele operar, tanto menos essas impressões serão incorporadas à experiência, e tanto mais corresponderão ao conceito de vivência. (BENJAMIN, 2010, p.111) Em oposição à noção do Erfahrung que pressupõe uma vivência coletiva, virá o Erlebnis que “reenvia à vida do indivíduo particular, na sua inefável preciosidade, mas também na sua solidão” (GAGNEBIN, 2007, p.59). Voltando à teoria de Freud, esse esquema ficaria: 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 28/52 Erfahrung (Experiência) Memória Erlebnis (Vivência) Consciência A Experiência, que necessita do coletivo, do ritual e da tradição, na modernidade cede lugar à Vivência, em que o indivíduo, para fugir do exterior anônimo, hostil e com excessos de excitações, se refugia no interior da casa. Em outros termos, o homem moderno sem identidade coletiva está desenraizado e num mundo desmistificado. No mundo desencantado fica o esvaziamento de sentido que é preenchido pela lógica do trabalho, do capital e da propriedade privada. Para Benjamin, a experiência do choque torna-se determinante para a lírica em Baudelaire, e traz a imagem do esgrimista na sua obra de maturidade, Sobre alguns temas em Baudelaire (1939): 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 29/52 Ao longo dos subúrbios, onde nos pardieiros Persianas acobertam beijos sorrateiros, Quando o impiedoso sol arroja seus punhais Sobre a cidade e o campo, os tetos e os trigais, Exercerei a sós a minha estranha esgrima, Buscando em cada canto os acasos da rima, Tropeçando em palavras como nas calçadas, Topando imagens desde há muito já sonhadas. (BENJAMIN, 2010, p.112) O espaço público que abarcava a coletividade e os rituais é tomado por uma massa anônima que se acotovela. Uma multidão na qual as pessoas não são em relação às outras nem completamente opacas nem totalmente nítidas. Assim, o particular sensível, do interior burguês, dos objetos pessoais, da família burguesa, é como fuga da multidão, não na direção de um reencantamento do mundo, pois este já está perdido, mas por uma frágil possibilidade de personalização da vida. A obra de arte na era da técnica A base da crítica cultural benjaminiana encontra-se na teoria do choque em Freud, que se desdobra em diversas camadas. Como esfera subjetiva, temos a decadência da memória, provocada pelos choques onipresentes da vida na cidade. O resultado é a padronização das necessidades, massificação e solidão. A esfera econômica é representada pela produção em série, em que o tempo quantificado é supremo. Na cadência da cadeia de produção das fábricas, como autômato, o operário responderá ao ritmo da máquina. Ele não tem mais domínio do tempo e nem da técnica, pois está alienado de uma etapa da cadeia de produção, e não guarda relação teleológica (relação de finalidade) com o que produz. N t d t d f bj ti ô i i t d á d d 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 30/52 Na arte, vemos o produto das esferas subjetiva e econômica, pois esta responderá a uma demanda massificada por meio da produção em série. A arte sempre foi reprodutível, diz Benjamin em A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica (1936), contudo, a sua reprodução era ensinada por um mestre e repetida pelos discípulos. Com o avanço da técnica, cada vez mais o homem é retirado do processo. Da xilogravura e litografia à fotografia, o que vemos é vitória da máquina sobre o homem. Pela primeira vez no processo de reprodução da imagem, a mão foi liberada das responsabilidades artísticas mais importantes, que agora cabiam unicamente ao olho. Como o olho apreende mais depressa do que a mão desenha, o processo de reprodução das imagens experimentou tal aceleração que começou a situar-se no mesmo nível que a palavra oral. (BENJAMIN, 1996, p.167) É nesse ensaio que surgirá o importante conceito benjaminiano de aura, elemento que confere unicidade à obra e que é perdido por meio da reprodução técnica. Mas afinal, o que é a aura para Walter Benjamin? É uma figura singular, composta de elementos espaciais e temporais: a aparição única de uma coisa distante, por mais perto que ela esteja. (BENJAMIN, 1996, p.170) A aura, no entanto, é elemento inserido na tradição, ou seja, a sua autenticidade tem fundamento teológico, está diretamente ligada à sua função ritualística. A obra de arte reproduzida tecnicamente adquire caráter serial e ganha status de mercadoria, indo de encontro ao espectador, que tem cada vez mais a necessidade de possuir objetos. O seu fim, logo, não é arbitrário, mas condicionado socialmente. Benjamin aponta para o declínio da aura como finalidade política e não meramente estética, daí a mudança de seu valor de culto para valor de mercadoria. Teses sobre o conceito de História 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 31/52 Teses sobre o conceito de História No ano crítico de 1940, Walter Benjamin redigiu o texto Sobre o conceito de história. A pretensão era de escrever uma história que rompesse com o positivismo, seja o historicismo conservador ou o marxismo vulgar. O contexto que levou Benjamin às teses foi a Segunda Guerra em seu momento mais terrível, no qual o autor se via perseguido, sem cidadania e na iminência de a qualquer tempo ser pego e entregue aos nazistas. Sobre o conceito de história é composto por dezenove aforismos e, nas palavras de Löwy, o que de início nos aparece como hermético e opaco, após uma imersão nessas proposições podemos entendê-las na sua infinita profundidade. De fato, são fragmentos de difícil compreensãoa priori, contudo de profunda coerência com o pensamento benjaminiano. Tese II [...] a imagem da felicidade está indissoluvelmente ligada à da salvação. O mesmo ocorre com a imagem do passado, que a história transforma em coisa sua. O passado traz consigo um índice misterioso, que o impele à redenção. (BENJAMIN, 1996, p. 223) Nesse fragmento, podemos ler uma passagem que vai do particular ao coletivo. A redenção coletiva, segundo Michael Löwy, refere-se à rememoração das vítimas do passado, pois não é possível pensar numa redenção no presente sem evocar as vítimas do passado. Existe um cunho claramente teológico no fragmento, mas que se realiza no profano, apontado no fechamento da tese ao sugerir que cabe ao materialista histórico esse papel. O materialismo histórico traz a concepção marxista de que a história da humanidade é a história da luta de classes, ou seja, da sucessão de opressões. Logo, o poder messiânico de redenção não estaria na espera de um Messias, mas se cumpriria na imanência. Nas palavras de Löwy, “somos nós o Messias, cada geração possui uma parcela do poder messiânico e deve se esforçar para exercê- la” (LÖWY, 2005, 51). A redenção das vozes caladas pela história oficial viria, então, segundo análise de Löwy, por uma história rememorada pelo lado dos vencidos, escovada à contrapelo. 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 32/52 Tese IX Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. [...] O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e a dispersa a nossos pés. (BENJAMIN, 1996, p.226) Na alegoria do anjo da história, Walter Benjamin encerra o aforismo falando do progresso que impede que o anjo acorde os mortos e junte os destroços nas ruínas. As ruínas simbolizam as catástrofes que a humanidade acumula e são apagadas pela ideia positivista de progresso. Em Aviso de incêndio, Löwy entenderá essa crítica ao progresso como confronto à filosofia de Hegel, “essa imensa teodiceia racionalista que legitimava cada “ruína” e cada infâmia histórica [..] como momento inevitável do Progresso da humanidade” (LÖWY, 2005, p.92). Tese XII O sujeito do conhecimento histórico é a própria classe combatente e oprimida. Em Marx, ela aparece como a última classe escravizada, como a classe vingadora que consuma a tarefa de libertação em nome das gerações de derrotados. (BENJAMIN, 1996, p.228) A classe de que Marx falava e que seria responsável pela tarefa de libertação é o proletariado. Benjamin nos 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 33/52 apresenta o proletariado como sujeito de ação e de conhecimento. Contudo, como apontado na tese II, a libertação só pode ser coletiva, ou seja, é necessário buscar a libertação, mas sem esquecer das classes oprimidas anteriormente. Através da memória coletiva dos vencidos, rompe-se com a ideia linear de progresso, que somada à decadência da memória e apagamento do passado produziu o fascismo. O pensamento de Walter Benjamin Está na hora de falarmos sobre os principais conceitos desenvolvidos por Walter Benjamin. Vamos lá! Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 2 - Vem que eu te explico! A modernidade e a degradação da experiência Módulo 2 - Vem que eu te explico! A obra de arte na era da técnica 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 34/52 Todos Módulo 1 - Video Contexto e temáticas da Escola de Frankfurt Módulo 2 - Video O pensamento de Walter Benjamin Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Todos Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 Questão 1 Levando em conta que a teoria da experiência de Walter Benjamin busca suas bases na teoria do choque freudiano, aponte quais das proposições abaixo faz uma leitura contrária a essa relação. A A vida na cidade eleva ao paroxismo (aos extremos) as situações de choque, o que conduz à decadência da memória. B A multidão nas ruas da cidade produz choque e conduz a um novo sentimento de coletividade e, inevitavelmente, ao reencantamento do mundo. C O choque excessivo da vida moderna obriga o indivíduo a estar sempre alerta para filtrar essas excitações externas. D Erfahrung é um termo alemão que corresponde à memória, enquanto Erlebnis se refere à 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 35/52 consciência. E A modernidade impossibilita a experiência, por isso mesmo ela inaugura a vivência. Parabéns! A alternativa B está correta. Na modernidade, não é possível um reencantamento, pois ele depende da tradição e o mundo já estaria perdido, na visão de Benjamin. A multidão se caracteriza por uma massa de anônimos, não sendo percebida por Benjamin como um novo tipo ou sentimento de coletividade. Assim, as afirmações na alternativa B se opõem à relação que Benjamim estabelece entre sua teoria da experiência e a teoria do choque de Freud. Questão 2 Segundo Benjamin, a obra de arte sempre foi reprodutível, contudo, o capitalismo inaugura a produção em série. Sobre a reprodutibilidade técnica da obra de arte, assinale a afirmativa que traz uma proposição correta. A A obra reproduzida tecnicamente e de modo serial já nasce com sua aura. B O indivíduo moderno não tem a necessidade de se apropriar da arte, por isso a arte não tem o sentido de mercadoria. C Com o avanço da técnica, o homem foi cada vez mais fazendo parte diretamente do processo de reprodução da obra de arte. D O valor de culto inserido na tradição cede lugar ao valor de mercadoria na modernidade. E A aura, para Walter Benjamin, está presente na obra de arte e tem um fundamento profano e científico. Parabéns! A alternativa D está correta. 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 36/52 3 - A Teoria Crítica no Brasil Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer algumas aplicações da Teoria Crítica no contexto brasileiro. A recepção da Teoria Crítica em terras brasileiras A Teoria Crítica chega ao Brasil em meados da década de 1960. A recepção da Escola de Frankfurt chega de forma difusa, interessando a diferentes campos do conhecimento nas Ciências Humanas, mas seus estudos se dão de modo mais intenso nas áreas da crítica literária e da comunicação. Em 1968, saem as primeiras traduções em Língua Portuguesa veiculadas pela Revista Civilização Brasileira, A aura entra em declínio com a reprodução técnica, por isso a obra de arte perde seu valor de culto, que provém da tradição. Assim, prevalece na obra de arte, na modernidade, o valor comercial ou de mercadoria. 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 37/52 espaço de publicação e propagação das obras dos intelectuais de esquerda. O primeiro texto a ser traduzido é A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica, de Walter Benjamin. Logo em seguida vieram algumas traduções de Adorno e Marcuse. As poucas traduções dos frankfurtianos limitaram um conhecimento mais amplo da Escola de Frankfurt na época. Contando com escassos textos de Adorno, Marcuse e Walter Benjamin, este pode ter sido um dos motivos pela predileção a certos temas, como os da crítica de arte e da indústria cultural. Sobre a contextualização histórica, o Brasil acabara de sofrer um golpe militar, e os estudos da Teoria Crítica interessam também à classe artística de esquerda à procura por uma arte engajada e de resistência ao autoritarismo quese instalara, então, no país. Os icônicos movimentos de contracultura que surgiam pretendiam ser ao mesmo tempo revolucionários e identitários. Tanques patrulham a Esplanada dos Ministérios, em 1964, após o golpe militar. Nos estudos sociais, a questão da identidade brasileira, assunto que já fervilhava desde a década de 1940, agrega-se ao legado da Teoria Crítica para os estudos de periferia e subdesenvolvimento. Grosso modo, os pensadores da Teoria Crítica que caíram nas graças dos intelectuais brasileiros foram Walter Benjamin e Theodor Adorno. Já Marcuse teve uma importante influência nos artistas da contracultura e do irracionalismo, mas acaba por desinteressar aos acadêmicos por seu status pop e, ainda nos dias atuais, boa parte dos estudos teóricos sobre o autor de O Homem Unidimensional segue esse caminho, da sua forte influência sobre os movimentos artísticos. Neste primeiro momento de recepção à Escola de Frankfurt, dois nomes se destacam. Gabriel Cohn Nas Ciências Sociais. 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 38/52 Roberto Schwarz Nos estudos literários. O relevo desses intelectuais não é apenas pela sistematização ou larga divulgação de uma corrente até então pouco ou nada conhecida, mas principalmente pela contribuição teórica original que prestam à academia brasileira. Enquanto os estudos sociais da época se dedicavam quase exclusivamente às pesquisas de brasilidade e identidade nacional, Gabriel Cohn se concentra no conceito de Indústria Cultural. Segundo o pesquisador, o interesse se deu por um desconforto que o acometeu, “com aquilo que se revelaria, em termos adornianos, a instalação plena da indústria cultural no país” (MUSSE; KLEIN, 2018 p. 291). Cohn passa por uma trajetória semelhante à dos frankfurtianos, enfrenta uma espécie de dogmatismo metodológico, que defende a compreensão da realidade brasileira a partir de conceitos periféricos. Embora tenha sofrido críticas, defende-se dizendo que quanto mais bruta é a sociedade, mais fina deve ser a análise. Diz isso no sentido de acrescentar à reflexão conhecimento novo e inesperado, e, de fato, o fez nas suas pesquisas de modo preciso e original. No campo dos estudos literários, Roberto Schwarz, de forte influência adorniana, pode ser considerado o correspondente brasileiro da Escola de Frankfurt. Tanto no conceito quanto no método, sua análise imanente pede uma leitura atenta, pois passa ao largo da interpretação fechada e pronta. Em A sereia e o desconfiado (1981), num ensaio cujo curioso título figura “Uma barata é uma barata é uma barata”, Schwarz se dedica à análise da novela kafkiana A Metamorfose, narrativa que apresenta um homem que se vê transformado num inseto. Sobre a vida e a obra de Kafka, Schwarz comenta: Desta consistência absoluta de vida e palavra, em que o tempo e os atos não 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 39/52 fazem violência à linguagem mas antes aceitam a sua imagem que nela coagulou, nasce um homem que sofre o seu produto: regrado pelas significações que criou, não tem como escapar ao seu horror. (SCHWARZ, 1981, p.60) A passagem transcrita aqui é um poderoso exemplo da dialética negativa do esclarecimento, na qual a razão em que a linguagem se faz instrumento coloca o homem como servo de sua criação. Emancipado pela razão, encontra nela também os limites da significação, do qual seus sentidos coagulados não dão conta de compreender o horror de sua condição atual. O horror de ter se metamorfoseado em um inseto daninho. Para além dos limites da linguagem, o que lemos é também a crítica da razão como regressão, que na sua forma mais organizada conduziu ao nazismo e ao fascismo. Gabriel Cohn e a indústria cultural A importância de Gabriel Cohn para a difusão da Teoria Crítica no Brasil é inegável. Em uma simples pesquisa sobre o tema, seu nome, sem dúvida, figurará entre os primeiros. Apesar da ousadia de se lançar aos estudos frankfurtianos num período em que vigorava o nacionalismo acadêmico, sua originalidade segue carreira própria. No que se refere à relevância de sua pesquisa para os estudos de indústria cultural, Cohn desvenda a dialética adorniana atualizando o conceito mediante um percurso histórico que vai desde a sua concepção até a contemporaneidade. Para o crítico, na época de sua formulação, a indústria cultural estava mais preocupada em entender a produção e difusão de material simbólico. Com as tecnologias digitais, essa cadeia, apesar do potencial de intensificação pelas redes e real aumento de escala, provoca, contudo, mudanças no processo de massificação, através da variação no padrão de consumo. Os consumidores que a teoria crítica veria como meramente submetidos ao império das grandes organizações da indústria cultural estariam na realidade equipados, por diferenças de socialização e de inserções grupais, não só para efetuar seleções no interior da massa de material simbólico oferecido no mercado cultural como também, e principalmente, para submeter o material selecionado a interpretações eventualmente discrepantes daquelas esperadas 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 40/52 pelos controladores da sua produção e difusão. (COHN, 2020, p.252) Para Gabriel Cohn, o questionamento citado é respondido no seio da indústria cultural, onde a sua essência não é homogeneizar ou “desdiferenciar” o mercado, mas sim manter a iniciativa do processo. Levando adiante a problematização, chega ao ponto central da recepção das mensagens simbólicas, que inevitavelmente passariam por alguns filtros de cunho social ou subjetivo, causando descompasso no processo. Comentário Com essa fineza de análise, Cohn pretende mostrar o conceito de indústria cultural em sua potência e limitações e com isso produzir o fermento que faz crescer a verdadeira teoria que se propõe crítica. O conceito de Adorno e Horkheimer é de grande valia para a compreensão da produção de mercadorias, pluralidade de produtos e consumo culturais; contudo, uma pretensa liberdade do sujeito demanda reflexão mais à frente. Mais no campo da interrogação, Cohn dirá que há mais sentido na espontaneidade e fugacidade da ação do que uma possível racionalização das escolhas. Essa diferenciação que toma o lugar da homogeneização na indústria cultural contemporânea segue a lógica da dominação e exclusão, nas palavras de Domingues, que delineia uma linha do tempo desde Marx; conseguimos visualizar as etapas deste processo até chegar a Gabriel Cohn. Podemos sugerir que, se Marx enfrentou o mundo da modernidade liberal em expansão e sobre os frankfurtianos desabou uma formação em que grandes organizações buscavam controlar e homogeneizar o mundo, hoje nos deparamos com outra fase da modernidade, a terceira, em que os processos de dominação, exclusão e seleção têm lugar [...] (DOMINGUES, 2011, p.103) Para essa terceira fase, as redes sociais prestam um valioso serviço, pois, se antes absorviam ou excluíam o divergente, agora o instrumentaliza, e numa lógica perversa do capital esvazia e conduz na direção do lucro e da dominação. Roberto Schwartz: Literatura e Sociedade Importante intelectual do século XX, Roberto Schwarz se dedicou como poucos ao estudo do processo 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 41/52 social brasileiro. Sociólogo de formação e crítico literário por afinidade, seus ensaios magistrais sobre as obras de Machado de Assis conferiram ao professor um lugar de destaque. Antonio Candido em 2011. Discípulo do professor e crítico literário Antônio Cândido, Schwarz traz o legado frankfurtiano para os estudos brasileiros, que lucra com novas feições conceituais e metodológicas, principalmente por meio do ensaio, forma presente desde seus primeiros escritos.Na periferia do capitalismo, Schwarz pega a fórmula já conhecida de se entender a sociedade pela literatura ou a literatura pela sociedade e tensiona esses polos. Ou seja, à sua dialética não interessa o óbvio, não é fazer da literatura alegoria da sociedade. O verdadeiro espírito crítico, para o autor, habita na dúvida, na recusa e na investigação. Na contramão da crítica positivista, que busca apenas a confirmação direta e recíproca da sociedade na arte ou o seu contrário, Schwartz se faz herdeiro do método dialético, estabelecendo sua função na crítica literária, como a de explicar o que antes situava-se no domínio da “vida extra-artística” que, ao adentrar o espaço da fantasia, carrega-se de forças estruturais que até então estavam ocultas. O caminho é o da análise da forma artística mediada pela realidade social e histórica. Leitor de Lukács, Schwarz compreende a formação social brasileira do século XIX e XX à luz de seus estudos sobre a forma do romance e sua relação com a modernidade. O resultado dessa empreitada é a sua tese de doutoramento, Ao vencedor as batatas: Forma literária e processo social nos inícios do romance brasileiro. Nessa tese, ele reflete sobre o processo de má-formação nacional devido à indigesta combinação histórica de um regime colonial escravocrata com liberalismo. Para ele, quando o Brasil é inserido na nova ordem capitalista, responde de modo profundamente coerente com sua raiz colonial e escravocrata, mantendo traços arcaicos e legitimando uma nova economia de barbárie. 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 42/52 O escravismo desmente as ideias liberais; mais insidiosamente o favor, tão incompatível com elas quanto o primeiro, as absorve e desloca, originando um padrão particular. O elemento de arbítrio, o jogo fluido de estima e autoestima a que o favor submete o interesse material, não podem ser integralmente racionalizados. (SCHWARZ, 2012, p.17) Neste caso, o progresso chega às terras brasileiras, assim como a outros países de realidade semelhante, de modo particular, em que o moderno e o não moderno convivem no mesmo tempo histórico na intenção de conservar as relações de exploração, que na própria essência contraria os princípios do liberalismo burguês. Para Roberto Schwarz, antes mesmo de haver romancistas brasileiros, o romance já existia em nossas terras. Com esse escopo teórico, ele começa sua análise apontando nas obras de José de Alencar e nos primeiros romances de Machado de Assis o desalinho à realidade nacional, pois essas obras estariam importando o modelo do romance realista europeu que não dá conta das particularidades dos países de terceiro mundo. Afinal, o cotidiano brasileiro era regido pelos mecanismos do favor, incompatível com a trama realista de influência romântica (SCHWARZ, 2012) Contudo, diz Schwarz, a situação é ajustada numa segunda fase machadiana que tem como marco o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, em que, pela voz do narrador defunto, ficam evidentes as contradições desse processo de modernização pelo qual o Brasil passava, em que “o quiproquó das ideias não podia ser maior” (SCHWARZ, 2012, p.41). Candido Portinari produziu uma série de ilustrações para a obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, como O primeiro Beijo. Em terras brasileiras, os ideais burgueses da razão e da cultura convertem-se em adorno e marca de fidalguia, e as relações de poder se mantêm por trás de uma sensível ideia de liberdade, podendo ser entendida como uma espécie de economia de favores. 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 43/52 Marcuse e a contracultura A década de 1960 foi emblemática por conta dos movimentos e ensaios revolucionários marcados pela contestação de ordem política e cultural. Esses movimentos de natureza heterogênea pululavam. Defensores da revolução armada, anarquistas, movimentos de contracultura eram algumas correntes que davam um novo rosto aos descontentes com a nova ordem. No que antes se viam as classes proletárias reivindicando mudanças, na década de 1960 a juventude, de modo globalizado, vai às ruas à procura de mais liberdade. O então presidente Costa e Silva e seus ministros, em cujo governo foi instituído o AI-5. No Brasil, essa década foi cortada por um golpe militar e um Ato Institucional de natureza extremamente repressora (AI-5). Num momento em que vigorava a censura e o cerceamento das liberdades individuais, a obra de Marcuse cai como uma luva àqueles que resistiam à ditadura. A recepção do autor de O Homem unidimensional se deu de forma ambígua no cenário brasileiro. Essa recusa, principalmente, da ortodoxia marxista levou à compreensão equivocada de uma falta de rigor metodológico em seus trabalhos, e com essa justificativa acabou por ser deixado de lado pelos intelectuais brasileiros. Sempre conectado ao ideal revolucionário, Marcuse defendia uma profunda transformação do capitalismo e emancipação completa do homem. Via na tecnologia uma saída para a redução da jornada de trabalho, e com isso o indivíduo teria mais tempo para dedicar-se ao processo de autoconhecimento e desalienação. Na dimensão estética defendeu a obra de arte autônoma em detrimento da arte ideológica. Sua posição denuncia rejeição à reducionista concepção marxista ortodoxa de arte, como podemos ler no fragmento a seguir. 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 44/52 A minha crítica desta ortodoxia baseia-se na teoria marxista, na medida em que esta também encara a arte no contexto das relações sociais e atribui à arte uma função política e um potencial político. [...] vejo o potencial político da arte na própria arte, como qualidade da forma estética. [...] a arte é absolutamente autônoma perante as relações sociais. (MARCUSE, 2007, p.9) No ensaio A dimensão estética, Marcuse se dedica à análise crítica da literatura dos séculos XVIII e XIX, saindo em defesa de uma arte de vanguarda com potencial revolucionário. Por tudo isso, agradou e respondeu aos anseios dos movimentos estudantis e culturais de vanguarda que se mobilizavam na emblemática década de 1960 em diversos países do globo. Em terras brasileiras, a contracultura tem início já na década de 1950 por meio da Bossa Nova e do Cinema Novo. E, com o tempo, novos representantes defensores da arte autônoma vão surgindo. Contudo, conforme a repressão ia se aprofundando, os movimentos artísticos passaram a agir na clandestinidade para fugir da censura e perseguição que se aproximava cada vez mais da classe artística. A arte engajada respondia ao projeto estético brasileiro de uma arte nacionalista e anti-imperialista, mas que passasse ao largo do ultranacionalismo de cunho fascista. Em tal empreitada vimos emergir o movimento tropicalista. A Tropicália abarcou diversos setores artísticos, mas se desenvolveu de forma mais produtiva na música. Nela, vemos representada a realidade brasileira urbano-industrializada e seu processo de modernização, tudo isso como expressão da crise. Os Mutantes em 1968. Em Verdade Tropical, Caetano Veloso descreve o movimento antropofágico tropicalista: 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 45/52 Nós, brasileiros, não deveríamos imitar e sim devorar a informação nova, viesse de onde viesse, ou nas palavras de Haroldo de Campos, ‘assimilar sob a espécie brasileira a experiência estrangeira e reinventá-la em termos nossos’. (VELOSO, 1997, p.247) Na música, é lançado o célebre álbum Tropicália, ou Panis et circencis (1968), que conta com a cooperação de vários músicos numa espécie de manifesto musical, em que vemos na prática artística a antropofagia da qual falara Caetano, numa mistura de coisas, palavras, ritmos, cultura e moral nacionais e estrangeiras. Uma das faixas de colaboraçãoentre Gilberto Gil e Torquato Neto em “Geleia Geral” exibe os contornos da Tropicália. Capa do álbum Tropicalia ou Panis et Circencis. O poeta desfolha a bandeira E a manhã tropical se inicia Resplendente, cadente, fagueira Num calor girassol com alegria Na geleia geral brasileira Que o Jornal do Brasil anuncia [...] Minha terra onde o sol é mais lindo E Mangueira onde o samba é mais puro 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 46/52 Tumbadora na selva-selvagem Pindorama, país do futuro Ê bumba-iê-iê boi Ano que vem, mês que foi Ê bumba-iê-iê-iê É a mesma dança, meu boi [...] É a mesma dança na sala (No Canecão), na TV E quem não dança, não fala Assiste a tudo e se cala Não vê no meio da sala As relíquias do Brasil Doce mulata malvada Um LP de Sinatra Maracujá, mês de abril Santo barroco baiano Super poder de paisano Formiplac e céu de anil [...] (O poeta desfolha a bandeira, de Torquato Neto, Compilação Rio Arte, 1985, n.p.) Embora tenha sido mais fortemente ligado à música, o tropicalismo também se manifestou nas artes plásticas cujo maior representante foi o artista plástico e performático Hélio Oiticica, no projeto artístico Parangolés (1964-1979). Saiba mais Parangolés é fruto de um processo de experiências de Oiticica com a comunidade da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. Ao entrar em contato com o samba, a dança, o corpo, ele trouxe para o universo da arte contemporânea vestimentas improvisadas, capas e túnicas, que ele denominou de Parangolés. Essas roupas não estavam previstas para serem exibidas em um cabide, mas para serem usadas por passistas, pelo público, por quem quisesse experimentar a leveza desses materiais reaproveitados, que voavam com os movimentos da dança. As pessoas, dessa forma, ao usarem o 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 47/52 parangolé, também se tornavam parte da obra de arte. Hélio Oiticica leva a fundo a teoria estética de Marcuse na direção da “antiobra” de arte que promove a experiência estética para além das belas artes. Esse trabalho, além da clara influência de Marcuse, remonta à imagem do trapeiro (chiffonnier) a que Benjamin se refere nos estudos sobre Baudelaire, em que pensará numa reconstrução da memória histórica a partir de tudo o que é julgado como refugo. Podemos ler em Oiticica essa escrita que é ao mesmo tempo inscrição e rememoração da história periférica, feita a partir da montagem de fragmentos que contam com a mistura de cores, tecidos, estandartes, memórias, bandeiras etc. Contribuição da Teoria Crítica no Brasil Acompanhe os comentários e exemplos sobre a influência dos estudos da Teoria Crítica em temáticas relacionadas à arte no Brasil. Confira! Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 3 - Vem que eu te explico! Roberto Schwartz: Literatura e Sociedade Módulo 3 - Vem que eu te explico! Marcuse e a contracultura 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 48/52 Todos Módulo 1 - Video Contexto e temáticas da Escola de Frankfurt Módulo 2 - Video O pensamento de Walter Benjamin Módulo 3 - Video Contribuição da Teoria Crítica no Brasil Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Todos Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 Questão 1 Para Gabriel Cohn, as redes sociais prestam um grande serviço à indústria cultural. De que modo isso ocorre? A Excluindo tudo aquilo que destoa da sociedade homogeneizada. B Divulgando o igual e criminalizando o diferente. C Produzindo necessidades iguais. 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 49/52 D Instrumentalizando o divergente. E Produzindo corpos dóceis. Parabéns! A alternativa D está correta. Com as tecnologias digitais e o fenômeno das redes sociais, podemos identificar processos em que os divergentes não são excluídos ou absorvidos nesse meio. Ao contrário, no meio digital e dos produtos culturais que por ele circulam, os usurários são instrumentalizados, ou seja, fazem parte dos interesses e da lógica do lucro que alimentam as redes. Assim, as redes sociais instrumentalizam o divergente, esvaziando-o e usando-o para o lucro. Questão 2 Em Ao vencedor as batatas, Roberto Schwarz aponta uma particularidade da realidade social moderna brasileira. Que particularidade é esta? A A combinação de moderno e do não moderno representada na política de favores. B O ideal de liberdade levado a cabo de modo mais intenso no Brasil do que nos países europeus. C Conservação das marcas tradicionais, como o ritual. D Adesão ao liberalismo sem qualquer reserva. E Rejeição dos ideais liberais em nome de uma cultura ultranacionalista. Parabéns! A alternativa A está correta. A herança escravocrata combinada com o liberalismo produziu a particularidade social brasileira 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 50/52 Considerações �nais Você pôde verificar, ao longo deste conteúdo, que a Teoria Crítica ou Escola de Frankfurt se constitui numa importante corrente filosófica a partir da contribuição do pensamento e das obras de autores como Adorno, Horkheimer, Benjamin e Marcuse. Revisitando e renovando conceitos marxistas, os frankfurtianos desenvolveram críticas teóricas e elaboraram conceitos relacionados com o papel da razão ou da racionalidade que marca nosso tempo, com a indústria cultural, com a arte transformada pela tecnologia, entre outros aspectos. Você viu, ainda, que no Brasil a Teoria Crítica contribui para a reflexão sobre diversos temas, embora tenhamos destacado a sua influência no pensamento sobre a arte. A partir dos estudos de Roberto Schwarz, no campo literário, e de Gabriel Cohn, nas ciências sociais, você percebeu que os conceitos dos teóricos frankfurtianos têm sido atualizados e aplicados na reflexão sobre a música, a literatura, as redes sociais e outras dimensões ou aspectos da contemporaneidade. Podcast Para encerrar, ouça os comentários que exemplificam as contribuições da Teoria Crítica na reflexão sobre arte e literatura no Brasil. que é a de conservar a dominação ao combinar o moderno e o não moderno, através de uma espécie de economia de favores. 30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 51/52 Referências ADORNO, T. W. O ensaio como forma. In: ADORNO, T. W. Notas de literatura I. Trad. Jorge de Almeida. São Paulo: Ed. Duas Cidades; Ed. 34, 2003. ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. Dialética do Esclarecimento: fragmentos filosóficos. Tradução de Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985. 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