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Teoria Crítica e Literatura

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30/08/2022 21:19 Teoria Crítica e Literatura
https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212hu/02819/index.html# 1/52
Teoria Crítica 
e Literatura
Profª. Elaine Zeranze
Descrição
Pressupostos e legado da Teoria Crítica para a construção do pensamento ocidental e a teoria literária.
Propósito
Compreender aspectos históricos e conceituais da Teoria Crítica e sua contribuição para os estudos
literários para ampliar conhecimentos pertinentes à Teoria da Literatura.
Preparação
Tenha em mãos um dicionário de literatura para compreender o vocabulário específico da área. Na internet,
você acessa gratuitamente o E-Dicionário de Termos Literários, de Carlos Ceia, e o Dicionário de Cultura
Básica, de Salvatore D’Onofrio.
Objetivos
Módulo 1
A Teoria Crítica
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A Teoria Crítica
Reconhecer o contexto e as principais temáticas da Escola de Frankfurt.
Módulo 2
Walter Benjamin
Identificar os principais conceitos em Walter Benjamin.
Módulo 3
A Teoria Crítica no Brasil
Reconhecer algumas aplicações da Teoria Crítica no contexto brasileiro.
A Teoria Crítica é uma escola de pensamento que foi decisiva para a revolução do pensamento
científico no século XX e que possui grande influência, sobretudo nas ciências humanas, até os dias
atuais.
Com críticas pungentes a outros pensadores e tradições filosóficas, a Teoria Crítica lançará mão de
escritas fragmentárias e inacabadas, mediante aforismos e ensaios, por exemplo, como forma de
provocar o pensamento crítico e evitar, assim, o pensamento fechado e dogmático.
Com temática variada, a Teoria Crítica, também chamada de Escola de Frankfurt, que conta com os
pensadores alemães Theodor Adorno (1903-969), Walter Benjamin (1892-1940), Max Horkheimer
(1895-1973) e Herbert Marcuse (18998-1979), traz à tona questões importantes, como a sociedade
totalitária, a cultura de massa, a falsa ideia de progresso e o mundo da técnica, sempre sob um viés
político, afinal, para esses intelectuais, o pensamento crítico é também político.
Introdução
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1 - A Teoria Crítica
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer o contexto e as
principais temáticas da Escola de Frankfurt.
Contexto histórico e �losó�co da Teoria
Crítica
Memorial Karl Marx em Berlin-Stralau, em Berlim, na Alemanha.
Antes de pensarmos a Teoria Crítica como escola filosófica, é importante demarcar o seu caminho de
formação.
A rápida modernização da Alemanha e de outros países europeus, como também a efervescência intelectual
de meados do século XIX, são o germe da Teoria Crítica.
Nas raízes da Teoria Crítica, encontramos o pensamento marxista, que é a sua pedra de toque, portanto
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será nossa primeira abordagem. Em seguida veremos nomes como Lukács e Weber com os célebres
conceitos de consciência de classe e desencantamento do mundo, respectivamente.
O marxismo: a “grande narrativa”
O marxismo poderia ser visto como uma teoria “pau para toda obra”, servindo para tratar de qualquer tema,
em qualquer época (SIM; VAN LOON, 2019).
Já é mais que sabida a importância da crítica ao capitalismo de Marx para pensarmos a modernidade. A
figura do velho barbudo já está “viralizada”, e alguns de seus principais conceitos foram banalizados – como
alienação e luta de classes – de tanto utilizados e reutilizados, algumas vezes apropriadamente, mas em
boa parte fora de contexto.
Karl Marx em 1875.
Além desses conceitos mais célebres, veremos o importante método dialético materialista. Por uma
questão metodológica, começaremos pelo método dialético.
A dialética hegeliana (idealista) x dialética marxista
(materialista)
Desde os gregos, com Heráclito e depois Platão, a dialética é pensada como um método filosófico que
busca resolver as contradições do Ser e do Universo.
É a partir da filosofia idealista de Hegel que virá a lógica da dialética materialista.
Logo, para compreendermos o método marxista, precisamos conhecer um pouco
do pensamento hegeliano.
Para Hegel, toda Ideia/realidade (tese) inevitavelmente traz em si a sua negação (antítese), o que nomeou
de princípio da contradição.
A partir do princípio da contradição, ficaria explicado o devir/vir a ser/transformação. E dessa contradição
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inevitavelmente viria a sua resolução (síntese).
Um dos exemplos dados por Hegel para ilustrar esse princípio é o da flor:
Dialética Idealista
Tese Antítese Síntese
Semente Flor Fruto
Ideia em si Ideia fora de si
Ideia em si e
para si
Segundo Hegel, a Flor é a negação da Semente, assim como o Fruto é a negação da Flor, ou ainda, a
negação da negação. Partindo dessa lógica, da superação das contradições, Hegel pretende resolver o devir
contínuo, ou seja, as constantes transformações.
A síntese se transformaria numa nova tese, que geraria sua antítese e caminharia para uma nova síntese,
numa espiral contínua. A essa lógica, Hegel chamou de método dialético.
Comentário
A grande questão é a defesa de Hegel do método dialético como um inevitável caminho da mente humana
para um nível mais elevado de síntese/autoconsciência, o que transmite a ideia de progresso da mente
humana e, consequentemente, da humanidade.
Nesse ponto irá divergir a dialética marxista, ao negar essa evolução histórica e, ainda, a própria concepção
de história.
Hegel
A história é concebida como jornada do espírito no mundo, ou seja, a autoconsciência do Espírito/Ideia.
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Marx
A consciência é, já no princípio, uma construção social. E segue na direção da construção de uma
dialética que dê conta da vida material e não abstrata/Ideal.
A dialética hegeliana serviu perfeitamente aos ideais progressistas da burguesia revolucionária, que naquele
momento estava então estabelecida. Contudo, não dava conta dos dilaceramentos que acompanharam
todas as mudanças, o revés do progresso.
Para o filósofo húngaro Georg Lukács (1885-1971), o materialismo histórico vem para dissolver esta última
grande filosofia burguesa, o hegelianismo, a partir da decadência política dos partidos na Revolução de
1848.
Sem descartar o método hegeliano, Marx tenta invertê-lo:
Revolução de 1848
Trata-se de uma série de acontecimentos revolucionários também denominados de Revolução Francesa de
1848, com o fim da Monarquia de Julho e o início da Segunda República Francesa.
O processo de pensamento – que ele transforma em sujeito autônomo sob o
nome de ideia – é o criador do real, e o real é apenas sua manifestação
externa. Para mim, ao contrário, o ideal não é mais do que o material
transposto para a cabeça do ser humano e por ela interpretado.
(MARX, 1994, p.17)
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Marx lançará mão de sua dialética materialista para chegar a uma interpretação dialética da história, não
como evolução, mas para analisar as contradições de classes, e a própria mercadoria, que seria a síntese da
contradição de valor de uso X valor de troca:
Dialética Materialista (Mercadoria)
Tese Antítese Síntese
Valor de uso Valor de troca
Valor de uso e
Valor de troca
Subjetivo/qualitativo Mensurável/quantitativo
Produção de
riqueza
Ao pensar valor de uso X valor de troca, chegamos a outro grande importante conceito na teoria marxista –
o de alienação. Se Marx tira de Hegel a raiz do método dialético, é em Feuerbach que irá buscar o conceito
de alienação, como veremos a seguir.
Alienação em Feuerbach x Alienação em Marx
A filosofia deFeuerbach se voltava para uma crítica mais focada para a questão da religião em Hegel. Em
Feuerbach, encontramos o conceito de alienação.
Prometeu roubando o fogo, por Jan Cossiers (1637).
A religião seria uma projeção, em que a ideia mitológica de Deus seria uma “gigantografia” do homem, uma
potencialização do homem ideal, basicamente a projeção de valores humanos idealizados numa construção
artificial. Ainda que algo criado pelo homem, com o passar do tempo, essa ideia se desgarra de seu criador
e se torna independente. O que segue é o controle do criador pela própria criatura.
Em outras palavras, a ideia de Deus se torna autônoma e passa a escravizar o homem. A esse fenômeno
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que Feuerbach dá o nome de alienação.
Marx transporta a ideia de Deus para a lógica do trabalho. No contexto do capitalismo, o trabalho se torna
autônomo e independente do homem em diversos processos.
Esses processos podem ser resumidos da seguinte forma:
Alienação do produto do seu próprio trabalho
O produto do trabalho não pertence ao trabalhador, mas ao dono dos meios de produção.
Alienação do processo de produção
O trabalhador é reduzido a uma etapa da produção, e sua atividade é vendida e controlada por outra pessoa.
Alienação de sua própria natureza humana
O trabalho, antes o diferencial humano, agora está a serviço, assim como o trabalhador, da lógica capitalista.
Alienação do homem de sua própria espécie
Mercantilização das relações sociais (SELL, 2014).
Lukács e a Consciência de Classe
Em contraste com a práxis soviética, Lukács traz a luta de classes por um viés menos dogmático e mais
teórico, voltado para a filosofia e críticas literária e cultural.
Seu trabalho mais emblemático, História e Consciência de Classe (1923), será
fundamental para a Teoria Crítica e de grande influência para o filósofo Walter
Benjamin, que teve acesso a Marx por meio dessa obra.
Em A Teoria do Romance (1916), Lukács aponta a fratura do indivíduo com o mundo (desenraizamento
transcendental), sem conseguir identificar precisamente quando ocorre essa separação, e cuja falta de
sentido da existência poderia ser compensada apenas pela arte. É a esse desenraizamento que o romance
como forma responde, dando conta de representar a subjetividade do indivíduo de uma nova classe e de
uma nova dinâmica social que se estabelece – o burguês e a vida burguesa.
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Georg Lukács em 1952.
No entanto, Lukács modifica sua postura em História e Consciência de Classe (1923), sugerindo que a
transcendência, agora não mais espiritual, deveria ocorrer no seio da própria sociedade. Para o filósofo, as
classes sociais são responsáveis pela história, assim a filosofia deveria dar conta de pensar nas condições
de produção e reprodução da vida material no intuito de favorecer a consciência de classe.
Lukács via na expressão artística uma possibilidade de perspectiva histórica. E, embora possua um volume
considerável de textos em que trata dos movimentos artísticos, seus escritos se deram de forma mais
intensa no campo da Crítica Literária.
Ilustração de autoria de Franz Kafka.
É falando a respeito dos movimentos artísticos que encontramos uma das questões mais controversas do
pensamento de Lukács, quando o filósofo faz a defesa do realismo em detrimento dos movimentos de
vanguarda, o que o leva, inclusive, a condenar artistas como Franz Kafka e James Joyce.
Comentário
Para Lukács, que denominou as vanguardas de correntes de evolução burguesa, esses movimentos
significaram o declínio da literatura e da arte, tornando-se naturezas mortas representadas com artifício e
refinamento.
Na outra ponta situa-se o realismo do romancista alemão Thomas Mann, a quem Lukács toma como
modelo de romance, e o situa lado a lado com o escritor, pensador e escritor alemão Wolfgang von Goethe.
Para Lukács, o caminho criativo dos dois autores são condicionamentos das modificações históricas, em
que conseguem a representação do progresso da humanidade sem deixar de revelar o contraditório de suas
manifestações.
Outro tema importante em Lukács, que podemos ler no ensaio Thomas Mann e A Tragédia da Arte Moderna,
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está relacionado com dois aspectos:
A pintura a óleo A fonte, por Ludwig von Hofmann (1913), que Mann comprou em 1914 e pendurou em seu escritório.
o declínio do ato de narrar, que segundo o autor tem início na revolução de 1848;
o isolamento do artista e da arte, que, em Thomas Mann, como afirma Lukács, é um processo concluído,
refletindo o que, no íntimo da sociedade capitalista, já é fato.
Mais tarde, Walter Benjamin aprofundará essas questões no célebre ensaio O Narrador (1936).
Weber: Racionalização e desencantamento do
mundo
Weber aborda o vasto processo histórico-social de racionalização pelo qual o mundo estava passando e
suas consequências. Se por um lado a produtividade era aumentada, pelo outro, a perda da liberdade era
uma possibilidade.
A modernidade trazia consigo a vida ascética capitalista, ou seja, uma dedicação rigorosa e disciplinada
voltada para o mundo do trabalho. Um processo gradual, resultado do desencantamento do mundo.
A hiper-racionalização desgasta o mundo mítico, eliminando a magia e, por
consequência, a crença nas forças divinas é eliminada da vida moderna capitalista,
o que, juntamente com a ciência e a técnica, conduz a uma vida cada vez mais
burocratizada, racionalizada, num mundo administrado.
Outro ponto importante apontado por Weber, como consequência do desencantamento do mundo, é o da
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des-divinização da natureza.
Para entendê-la, é preciso saber que, na teoria weberiana, o desencantamento do mundo tem duas
dimensões:
Dimensão religiosa
Aponta o interior da própria religião como ponto de partida do processo de eliminação da magia, que
será levado a cabo pela ciência e técnica ocidentais.
Dimensão cientí�ca
O saber racional do homem des-diviniza a natureza, logo, agora, carente de sentido, passa a estar a
serviço do homem.
É essa natureza desmistificada que veremos mais à frente na Teoria Crítica como revés do progresso, ou
seja, na dialética capitalista o progresso intimamente relacionado à destruição da natureza.
A Escola de Frankfurt
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A Escola de Frankfurt
Edifício do Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Frankfurt, na Alemanha, fotografado em 2007.
Vamos agora procurar entender a Teoria Crítica como método de análise e crítica da sociedade.
O que é a Escola de Frankfurt?
Devemos pensar a Escola de Frankfurt não como uma instituição física, pois trata-se de um termo para
designar uma linha filosófica e de teoria social adotada por membros ligados ao Instituto de Pesquisas
Sociais de Frankfurt.
Max Horkheimer (à esquerda) cumprimenta Theodor Adorno (à direita) em frente ao Instituto de Pesquisa Social, em 1964.
De orientação socialista e materialista, seu trabalho se direcionava para a produção e divulgação de uma
teoria crítica da sociedade por meio de uma perspectiva dialética. Ganha maior repercussão a partir da
nomeação de Max Horkheimer como diretor do Instituto.
Conta na sua composição com afiliados e associados do Instituto, em sua maior parte dissidentes do
marxismo ortodoxo e partidário. Por isso, ganham a denominação de neomarxistas.
Num período em que vigorava a defesa do marxismo como práxis, a Escola de
Frankfurt suspende a unificação entre teoria e práxis em busca de uma renovação
teórica, que só é possível por conta da autonomiado Instituto.
Embora sua teoria não tenha exercido grande impacto na República de Weimar e no exílio que se segue, ela
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se torna no pós-guerra a revitalização do marxismo na Europa Ocidental. Marcuse, que após o fim da guerra
fixa residência nos EUA, teve grande influência para a Nova Esquerda norte-americana.
República de Weimar
Corresponde a um período histórico da Alemanha entre o final da Primeira Guerra Mundial e a ascensão do
partido nazista ao poder, ou seja, entre 1919 e 1933. Esse período de transição entre a Grande Guerra e o
Nazismo se caracterizou por um governo que procurava resolver os graves problemas do pós-guerra. É um
governo que nasce da Carta Constitucional elaborada a partir da assembleia constituinte, que se instalou
em fevereiro de 1919 na cidade de Weimar. O modelo de governo republicano parlamentarista que nasce
dessa constituição se mostrou fragilizado e acabou convivendo com vários radicalismos, como o
nacionalismo que deu origem ao nazismo.
Saiba mais
A Escola de Frankfurt, além de inspiração marxista, era composta basicamente por pesquisadores judeus.
Por isso, o Instituto acabou sendo fechado pelos nazistas, tendo seus livros confiscados.
Esses autores, que dão nome à Teoria Crítica, são críticos do socialismo soviético tanto quanto do
capitalismo nas ideias e na forma.
No âmbito das ideias
Procuram fugir do caráter dogmático dos pensadores positivistas.
Na instância da forma
Dão preferência ao inacabado, como os textos na forma de ensaio e de aforismos (textos concisos e
densos), em oposição à tradição filosófica e o pensamento fechado.
Atenção
A escola de Frankfurt apresenta o dilema do intelectual de esquerda do século XX. Como críticos da cultura,
os membros do Instituto tinham diante de si a máquina capitalista que tudo absorvia, cooptava e esvaziava.
Era um período em que a alienação se torna mercadoria lucrativa, a arte moderna cai nas graças da massa
consumidora, atingindo, inclusive, as vanguardas, que se faz ornamento da vida cultural.
As pesquisas ligadas a essa escola refletem o contexto em que foram produzidas. Seus teóricos escrevem
sobre um período turbulento, que compreende o pós-guerra, com todo o empobrecimento econômico e
humano que desemboca, de um lado, no fascismo e no nazismo, e do outro, no stalinismo. Viveram ainda o
horror da Segunda Guerra Mundial que, com todo o aparato tecnológico e sociedade “hiper-racionalizada”,
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produziu os campos de concentração e extermínio nazistas.
A Dialética do Esclarecimento de Adorno e
Horkheimer
Mito e Esclarecimento
Comício do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães em Nuremberg, em1936.
A Dialética do Esclarecimento (1985) é uma obra em que Adorno e Horkheimer levantam questionamentos
acerca do Esclarecimento (Iluminismo) que promove a barbárie. Tratam de um contexto em que uma
sociedade extremamente racionalizada e ordenada, como a Alemanha do início do século XX, tem como
produto o antissemitismo e o fascismo. Aqui, é possível enxergar a dialética weberiana que trata das
sociedades hiper-racionalizadas que trazem a regressão junto ao progresso.
O programa do esclarecimento era o desencantamento do
mundo.
(ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p.18)
Para os autores de Dialética do Esclarecimento, o fundamento do esclarecimento era a dominação. Saber e
poder, nessa concepção, são sinônimos, logo a desmistificação da natureza, apontada já em Weber, tinha
como propósito a dominação da própria natureza, tanto quanto a do homem. Desmistificar para dominar:
O mito converte-se em esclarecimento, e a natureza em mera
objetividade.
(ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p.21)
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No ensaio Ulisses ou o Mito do Esclarecimento, os mesmos autores vão buscar em Homero as sementes do
desencantamento do mundo.
Na Odisseia de Ulisses, assistimos à vitória da astúcia sobre o mito. A astúcia era uma marca da razão ou
de uma racionalidade. Os pensadores da Teoria Crítica analisam o célebre episódio em que Ulisses, para
não sucumbir ao canto das sereias, pede para ser amarrado, assim, diferentemente de seus companheiros
que estariam com os ouvidos tapados com cera, ele poderia ouvir o maravilhoso canto e não ceder a ele.
Tal como esse, outros episódios da Odisseia representam desvios que impedem que o herói retorne à sua
pátria, no entanto, o astucioso Ulisses sai vitorioso de todos eles, representando a vitória da racionalidade.
A Indústria Cultural
No ensaio Indústria Cultural, cujo subtítulo é o Esclarecimento como Mistificação das Massas, Adorno e
Horkheimer apresentam o célebre conceito de indústria cultural. Nesse texto, os autores condenam os
meios de comunicação de massa devido ao seu caráter totalizante, que impossibilita o direito à escolha.
A indústria cultural, composta essencialmente pela mídia (como o cinema, o rádio, a televisão), é
responsável pela difusão de valores e padrões de comportamento. Funciona como aparelhos que criam
necessidades genéricas e constituem os indivíduos também como seres genéricos, logo substituíveis.
O processo de padronização provocado pela indústria cultural está relacionado com uma sociedade
alienada de si mesma, cuja compulsividade impele as massas a consumir aquilo que é produzido em larga
escala, vinculando-se ao sentimento de que esses bens respondem a uma demanda, ou seja, nascem das
necessidades dos próprios consumidores. A arte, nesse contexto, assume um caráter declaradamente
mercantil, renuncia à sua autonomia e se lança como bem de consumo.
Os Beatles desembarcando no Aeroporto JFK em Nova Iorque, em 1964.
Adorno e Horkheimer tratam ainda da questão específica do cinema e do rádio, que já nascem dentro dessa
lógica, logo não necessitam se apresentar como arte, pois não passando de um negócio: “utilizam uma
ideologia destinada a legitimar o lixo que propositalmente produzem” (ADORNO; HORKHEIMER, 1985,
p.100).
Resumindo
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A condenação enfática de Adorno e Horkheimer a essas mídias vem do seu caráter puramente de
entretenimento, tomando o lugar do tempo livre, do ócio criativo, da liberdade. As massas, em seu tempo
livre, agora estão anestesiadas se divertindo uniformemente, sendo bombardeadas por imagens ou notícias
que não provocam o pensamento crítico, ao contrário, promovem anestesiamento e alienação.
Adorno e o ensaio como forma
Theodor Adorno em 1964.
O ensaio adota uma perspectiva não totalizante do que se fala. Ele termina no instante em que se acredita
suficiente e não quando mais nada se resta a dizer. O ensaio se afirma como uma forma não dogmática e
fechada em si, ele não cria, mas recria a partir de algo já existente.
Enquanto a tradição parte do universal para explicar o particular, o ensaio fará o caminho reverso. Adorno
pondera que, ao contrário do que dizem aqueles que atacam o ensaio por uma suposta falta de rigor, a
forma aberta do ensaio não significa falta de rigidez acadêmica.
O ensaio adota uma perspectiva não totalizante do que se fala. Ele termina no instante em que se acredita
suficiente e não quando mais nada se resta a dizer. O ensaio se afirma como uma forma não dogmática e
fechada em si, ele não cria, mas recria a partir de algo já existente.
Enquanto a tradição parte do universal para explicar o particular, o ensaio fará o caminho reverso. Adorno
pondera que, ao contrário do que dizem aqueles que atacam o ensaio por uma suposta falta de rigor, a
forma aberta do ensaio não significa falta de rigidez acadêmica.
Adorno e outros companheiros defendem o desnudamento do texto científico,
afinal,passando ao largo da falsa objetividade a que se pretende a ciência, que,
embora escondida pela máscara da neutralidade científica, sempre carrega uma
posição política, o ensaio afirma seu posicionamento.
Além disso, a descontinuidade é fundamental ao ensaio.
O ensaio é tanto aberto quanto fechado, tornando-se coeso em sua forma, pois é aberto no instante em que
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nega qualquer sistemática, no entanto, torna-se fechado, pois trabalha de forma enfática no modo de
exposição. O ensaio se aproxima tanto da arte, em razão de sua dinâmica, quanto da teoria, em razão dos
conceitos que apresenta.
Max Horkheimer e a crítica da razão instrumental
A crítica da razão instrumental de Horkheimer diz respeito a uma sociedade em que a razão abre mão de
sua autonomia para servir de instrumento e estabelecer uma ordem para aqueles que detêm o poder. A
razão se mostraria algo doentio porque teria nascido da necessidade que o ser humano tem de dominar a
natureza.
A hiper-racionalização pensada por Weber ganha com Horkheimer a particularidade de instrumento, com
isso, não serve mais ao homem como meio de emancipação, mas submete o homem a suas próprias leis.
Max Horkheimer com Rose Riekher no 1º Congresso de Críticos Culturais de Munique (1958).
Essas leis não têm mais a ver com a razão e busca por verdades objetivas e universais, mas com o alcançar
um propósito, seja ele bom ou mau.
Como produto da razão instrumental, Horkheimer denuncia:
a decadência do pensamento;
a razão a serviço da produção industrial;
a cultura de massa;
a deificação do trabalho;
a natureza concebida como instrumento a serviço do homem;
a relação de utilidade em detrimento da relação de necessidade.
Para o diretor do Instituto, o maior serviço que a filosofia poderia prestar diante de um cenário aterrador é o
de denúncia da própria razão e contar a história dos anônimos desse processo, a quem chamou de
“verdadeiros mártires”.
Entre os mártires a quem Horkheimer se refere estão aqueles que pereceram nos campos de concentração,
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vítimas dessa razão instrumental, logo, a função da filosofia traduzir suas vozes, que foram silenciadas pela
tirania.
Herbert Marcuse e o homem unidimensional
Herbert Marcuse em 1955.
Em 1964, Marcuse escreve o célebre trabalho O Homem Unidimensional, este homem diz respeito àquele
que vive numa sociedade de uma única dimensão, ou seja, uma sociedade sem oposição, totalizada.
O espaço da sociedade total, resultado do mundo racionalizado e da técnica, fecha o horizonte para o
pensamento crítico e obedece à lógica do domínio por aqueles que detêm o poder e usam a razão a serviço
de seus interesses.
Segundo Marcuse, a sociedade industrial avançada produz um mecanismo de
controle que comanda todos os aspectos da vida, das ocupações aos desejos
individuais, da esfera pública à privada. A organização e “homogeneização” da
sociedade tem, no entanto, uma única finalidade, a dominação.
Para Marcuse, a barreira totalitária não pode ser derrubada por meios tradicionais de protesto, como
acreditava Marx, mas a sua desestabilização acontece por meio daqueles que a sociedade unidimensional
deixa à margem, como os marginalizados, os estrangeiros, os refugiados, as minorias perseguidas, os
desempregados etc.
Contexto e temáticas da Escola de
Frankfurt
Está na hora de falarmos sobre os principais temas abordados pela Teoria Crítica. Vamos lá!
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Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
Módulo 1 - Vem que eu te explico!
O que é a Escola de Frankfurt?
Módulo 1 - Vem que eu te explico!
Adorno e o Ensaio como Forma
Todos
Módulo 1 - Video
Contexto e temáticas da Escola de Frankfurt
Módulo 2 - Video
O pensamento de Walter Benjamin
Módulo 3 - Video
Contribuição da Teoria Crítica no Brasil

 Todos Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 
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Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Assinale a alternativa que contém uma afirmativa correta sobre o contexto filosófico implicado na origem da
Teoria Crítica.
A
O marxismo é a fonte teórica da Escola de Frankfurt, por isso mesmo a Teoria Crítica
manteve intocados os conceitos e o pensamento marxistas, tendo seus principais
pensadores rotulados de marxistas radicais.
B
Embora o marxismo seja a pedra de toque da Teoria Crítica, a Escola de Frankfurt se
caracteriza por uma renovação teórica do marxismo, por isso seus integrantes foram
chamados de neomarxistas.
C
Lukács, com o conceito de consciência de classe, e Weber, com a ideia de
desencantamento do mundo, influenciaram o marxismo, mas não fazem parte do
contexto filosófico da Escola de Frankfurt.
D
A Teoria Crítica surge num momento anterior à República de Weimar, quando a filosofia na
Alemanha ainda não lidava com os desafios do pós-guerra.
E
Os pensamentos de Adorno, Horkheimer, Benjamin e Marcuse têm em comum uma
origem filosófica preocupada com questões metafísicas e transcendentais.
Parabéns! A alternativa B está correta.
A origem da Teoria Crítica está relacionada com o pensamento marxista, além do diálogo com o
pensamento de Lukács e Weber. No entanto, a Teoria Crítica propõe uma renovação teórica, inclusive
superando alguns aspectos do marxismo, como a unificação entre teoria e práxis. A forte influência
marxista e a postura não dogmática em relação ao pensamento de Marx levaram os teóricos daQuestão 2
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marxista e a postura não dogmática em relação ao pensamento de Marx levaram os teóricos da
Escola de Frankfurt a serem denominados de neomarxistas.
Ques ão 
Considere a enumeração a seguir tendo em vista as principais temáticas abordadas pela Escola de
Frankfurt.
I. Cultura de massa 
II. O mundo transcendente 
III. Sociedade totalitária 
IV. Crítica do capitalismo 
V. Niilismo 
A partir desta enumeração, assinale a alternativa correta:
A Apenas os itens I e II estão corretos.
B Apenas os itens II e III estão corretos.
C Apenas os itens I, II e III estão corretos.
D Apenas os itens I, III e IV estão corretos.
E Apenas os itens III, IV e V estão corretos.
Parabéns! A alternativa D está correta.
A Escola de Frankfurt tem como principais temas a cultura de massa, a sociedade totalitária e a
crítica ao capitalismo, por isso os itens I, III e IV são os únicos corretos. Os itens II e V estão
incorretos porque o mundo transcendente, preocupação de filósofos como Kant, e o Niilismo,
temática muito cara a Nietzsche, não eram temas com os quais a Teoria Crítica da Escola de
Frankfurt se ocupava.
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2 - Walter Benjamin
Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car os principais
conceitos em Walter Benjamin.
Biogra�a de Walter Benjamin
Walter Benjamin nasceu em 15 de julho de 1892. De temperamento melancólico e de difícil enquadramento,
Benjamin dizia-se regido sob o signo de Saturno.
De origem judaica, Benjamin desperta o interesse pelo judaísmo influenciado por seu amigo sionista
Gershon Scholem (1897-1982).
O messianismo judaico é bastante expressivo nos escritos de Benjamim, e possui
particular atenção pela mística judaica, que se manifesta mais precisamente nos
seus textos mais maduros.
Walter Benjamin era de uma família burguesa e abastada. Em 1917, casa-se com Dora Sophie Pollak. O
autor se torna pai na Suíça, paísem que se refugia com sua esposa para não ser convocado pelo exército
alemão durante a Primeira Guerra. Em 1919, defende sua tese de doutoramento na Universidade de Berna,

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com o título O conceito de crítica de arte no romantismo alemão.
Politicamente, Benjamin manifestava espírito livre e, embora tenha se aproximado bastante do marxismo,
não se filia a nenhum partido, como teria feito boa parte dos intelectuais da esquerda marxista.
Walter Benjamin em 1928.
Seu pensamento livre e sui generis o deixou numa espécie de limbo acadêmico. Sua atuação como escritor,
de 1925 a 1934 (quando se torna colaborador e bolsista do Instituto de Pesquisas Sociais) são os trabalhos
de freier schiriftsteller (uma espécie de free-lance) e, após esse período, mesmo com a bolsa no Instituto, a
sua situação financeira encontrava-se cada vez mais precária.
O cenário se tornava cada vez pior. Com a ascensão do nazismo, os jornais e as revistas alemãs recusam
seus trabalhos, Benjamin perde a cidadania alemã e começa a sofrer perseguições como inúmeros judeus.
Refugiado na França, junto com outros milhares de judeus, é transferido para um “campo de trabalho
voluntário”, pois a França entra na guerra contra a Alemanha e declara os cidadãos alemães, refugiados ou
não, inimigos do país.
Liberto com a ajuda de amigos franceses, permanece em Paris e escreve em 1940 as teses Sobre o conceito
de história. Em junho de 1940, a Alemanha ocupa a França e, após um pacto de armistício, ela se
compromete a entregar os refugiados alemães. O que segue é uma penosa jornada em que Benjamin tenta
asilo em outro país.
Sem cidadania e um visto para sair da França ou entrar em outro país se torna inviável. Ilegalmente chega a
Portbou, na Espanha, e lá descobre que seria obrigado a retornar à França, o que significava ser entregue à
Gestapo. Mediante a possibilidade quase irreversível de ser enviado aos campos nazistas, Benjamin se
suicida com uma dose letal de morfina, que carregava junto a si como última saída para não cair nas mãos
dos nazistas.
A obra benjaminiana
Embora tenha seu nome vinculado à Escola de Frankfurt, a produção teórica de Walter Benjamin merece um
capítulo à parte do Instituto. Sua relação com a academia, em alguns momentos, assemelha-se à sua
relação com a vida, errante, cheia de revezes e inacabada. Seu estilo original lhe negou uma vida financeira e
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acadêmica estáveis. Mesmo entre amigos, seu trabalho era visto de forma ambígua, ganhando divulgação e
reconhecimento merecidos apenas após sua morte.
Comentário
É uma tarefa difícil enquadrar o pensamento benjaminiano, sendo assunto de discordância entre seus
comentadores ainda nos dias atuais. Isso se dá pelo fato de o teórico alemão, apesar de sua formação
filosófica, ter uma produção considerável em temas que abrangem a literatura e a arte.
Para além da filosofia ou da crítica, por meio de seus escritos, Benjamin projeta fazer uma nova escritura da
História, que ganha amplo sentido na metáfora de “escovar a História a contrapelo”. Seria uma escritura
contada pelo lado dos vencidos. Anos mais tarde, Marcuse verá nessa camada dos vencidos, a que
classifica como os que estão à margem da sociedade unidimensional, o desequilíbrio da barreira totalitária
responsável pela homogeneização da sociedade. A classe dos vencidos como condição revolucionária
perpassa boa parte da obra benjaminiana, entretanto, trabalha mais a fundo esse tema nas suas teses Sobre
o conceito de história.
Depois de visitar uma exposição de Paul Klee, em abril de 1921, Benjamin comprou a aquarela Angelus Novus.
Na forma, assim como seus companheiros da Escola de Frankfurt, Walter Benjamin tem preferência pelo
inacabado, seja pela forma do ensaio, pelo fragmento ou pela montagem por meio de citações, levada a
cabo de forma mais intensa em Das Passagen-Werk.
O livro Passagens é uma obra inacabada composta por 4.234 fragmentos, separados por temas e suas
notas organizadas de A-Z. Nesse projeto, encontramos, no arquivo “N” intitulado de “Teoria do
Conhecimento – Teoria do Progresso”, o seu valioso conceito de imagem dialética. Sua intenção era deixar
vir à tona os sentidos por meio do choque provocado pela montagem de citações.
Das Passagen-Werk
Livro Passagens.
Entre os temas frequentes em seus ensaios literários e especialmente no livro sobre a vida em Paris no
século XIX, podemos listar o labirinto, as ruas, os passeios cobertos, o trânsito, entre outros.
Lemos em Benjamim a crítica ao progresso e a ideia de desencantamento do mundo provocado pela
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sociedade racional e técnica. Também vemos uma forte crítica ao capitalismo como estrutura que
mecaniza, reifica e quantifica a vida.
É importante ressaltar a presença da teologia em seu trabalho. Contudo, é preciso
olhá-la por um viés romântico do messianismo judaico, esclarecido na seguinte
citação a Friedrich Schlegel: “O desejo revolucionário de realizar o Reino de Deus
é... o começo da história moderna” (LÖWY, 2005, p. 22).
Para Löwy, a combinação das duas imagens utópicas, do reino messiânico e da revolução, não é à toa, e
busca nos textos do jovem Benjamin a ponte dialética pela seguinte sentença: “a busca da felicidade da
humanidade livre” (LÖWY, 2005, p. 22). Benjamin, nessa imagem, faz a mediação entre as lutas libertadoras
históricas, “profanas” e a realização da promessa messiânica.
Na síntese da obra do autor, encontramos a estética, o historicismo e a teologia como três esferas que,
atravessadas pelo marxismo, numa combinação improvável, conferem originalidade a Walter Benjamin.
A modernidade e a degradação da
experiência
A obra benjaminiana é perpassada por uma elaborada teoria da experiência, e ainda que não possua uma
sistematização, o conceito de Erfahrung (Experiência) aparece em alguns trabalhos de uma forma mais
direcionada, como nos ensaios Experiência (1913); Experiência e pobreza (1933); e O Narrador (1936).
O primeiro passo é entender o que Benjamin infere por experiência.
Segundo Sergio Paulo Rouanet (2008), importante tradutor e comentador da obra benjaminiana, podemos
compreendê-la à luz da teoria freudiana do trauma.
Nesta teoria, Freud prega a existência de dois mecanismos psíquicos distintos, a consciência e a memória.
A consciência seria responsável pelo estágio de alerta do indivíduo, servindo como defesa e filtro para as
inúmeras excitações externas a que ele está submetido. No sentido oposto, a memória ficaria no encargo de
guardar as experiências, aquelas não captadas pela consciência.
A partir dessa tese, Benjamin traça um paralelo entre
memória/experiência e consciência/vivência. A primeira estaria
situada na tradição, enquanto a segunda é produto da
modernidade.
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Em Experiência e pobreza (1933), Benjamin inicia seu ensaio com uma conhecida parábola judaica – O
tesouro enterrado no vinhedo.
Na parábola, a ideia de experiência transmitida é a de uma sabedoria compartilhada entre gerações.
O tesouro enterrado no vinhedo
Conta-se que um velho no leito de morte revela aos filhos a existência de um tesouro enterrado no vinhedo
da família. Diante daquela revelação, os filhos, então, reviram e trabalham a terra incansavelmente, contudo,
não encontram tesouro algum. No outono, as vinhas produzem mais do que qualquer outra da região. Nesse
momento, os filhos percebem que o tesouro ao qual o pai se referiu era a experiência.
A experiência dos mais velhos, passada de geração para geração, traz consigo o pressuposto da tradição e
da temporalidade como continuidade,em que o aprendizado será perpetuado.
A narração como transmissão de sabedoria não é mais uma possibilidade no mundo desencantado, este,
nos diz Benjamin em O Narrador, seria o responsável pela decadência da memória e a impossibilidade de
narrar.
A desintegração da persistência da memória, por Salvador Dalí (1954).
Há uma célebre passagem em Experiência e pobreza que se repete quase integralmente em O Narrador,
onde Benjamin reflete sobre o fato de os combatentes da Primeira Guerra voltarem silenciosos dos campos
de batalha.
Porque nunca houve experiências mais radicalmente desmoralizadas que a
experiência estratégica pela guerra de trincheiras, a experiência econômica
pela inflação, a experiência do corpo pela fome, a experiência moral pelos
governantes. Uma geração que ainda fora à escola num bonde puxado por
cavalos viu-se abandonada, sem teto, numa paisagem diferente em tudo,
exceto nas nuvens, e em cujo centro, num campo de forças de correntes e
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explosões destruidoras, estava o frágil e minúsculo corpo humano.
(BENJAMIN, 1996, p. 115)
No silêncio, real e simbólico dos combatentes, vemos as experiências incomunicáveis, não apreendidas por
meio das palavras. Para a literatura, na encruzilhada do inenarrável com a urgência de contar, que se vê
diante de uma crise da representação, Benjamin deixa algumas pistas, que não seja silenciamento nem
redenção. Uma delas pode ser lida na narrativa do absurdo em Kafka.
As criações de Kafka são pela própria natureza parábolas. A miséria e a beleza
delas, porém, é que tiveram de se tornar mais que parábolas. Elas não se
deitam pura e simplesmente aos pés da doutrina [...]. Uma vez deitadas elas se
levantam contra esta, inadvertidamente, uma pata de peso.
(BENJAMIN, 1996, p. 105)
No contexto em que a Experiência (Erfahrung) se esvazia, surge um novo conceito na teoria benjaminiana, o
de Vivência (Erlebnis).
Quanto maior é a participação do fator do choque em cada uma das
impressões, tanto mais constante deve ser a presença do consciente no
interesse em proteger contra estímulos; quanto maior for o êxito que ele operar,
tanto menos essas impressões serão incorporadas à experiência, e tanto mais
corresponderão ao conceito de vivência.
(BENJAMIN, 2010, p.111)
Em oposição à noção do Erfahrung que pressupõe uma vivência coletiva, virá o Erlebnis que “reenvia à vida
do indivíduo particular, na sua inefável preciosidade, mas também na sua solidão” (GAGNEBIN, 2007, p.59).
Voltando à teoria de Freud, esse esquema ficaria:
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Erfahrung (Experiência)
Memória
Erlebnis (Vivência)
Consciência
A Experiência, que necessita do coletivo, do ritual e da tradição, na modernidade cede lugar à Vivência, em
que o indivíduo, para fugir do exterior anônimo, hostil e com excessos de excitações, se refugia no interior
da casa.
Em outros termos, o homem moderno sem identidade coletiva está desenraizado e num mundo
desmistificado. No mundo desencantado fica o esvaziamento de sentido que é preenchido pela lógica do
trabalho, do capital e da propriedade privada.
Para Benjamin, a experiência do choque torna-se determinante para a lírica em Baudelaire, e traz a imagem
do esgrimista na sua obra de maturidade, Sobre alguns temas em Baudelaire (1939):
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Ao longo dos subúrbios, onde nos pardieiros Persianas acobertam beijos
sorrateiros, Quando o impiedoso sol arroja seus punhais Sobre a cidade e o
campo, os tetos e os trigais, Exercerei a sós a minha estranha esgrima,
Buscando em cada canto os acasos da rima, Tropeçando em palavras como
nas calçadas, Topando imagens desde há muito já sonhadas.
(BENJAMIN, 2010, p.112)
O espaço público que abarcava a coletividade e os rituais é tomado por uma massa anônima que se
acotovela. Uma multidão na qual as pessoas não são em relação às outras nem completamente opacas
nem totalmente nítidas.
Assim, o particular sensível, do interior burguês, dos objetos pessoais, da família burguesa, é como fuga da
multidão, não na direção de um reencantamento do mundo, pois este já está perdido, mas por uma frágil
possibilidade de personalização da vida.
A obra de arte na era da técnica
A base da crítica cultural benjaminiana encontra-se na teoria do choque em Freud, que se desdobra em
diversas camadas.
Como esfera subjetiva, temos a decadência da memória, provocada pelos choques onipresentes da vida na
cidade. O resultado é a padronização das necessidades, massificação e solidão.
A esfera econômica é representada pela produção em série, em que o tempo quantificado é supremo. Na
cadência da cadeia de produção das fábricas, como autômato, o operário responderá ao ritmo da máquina.
Ele não tem mais domínio do tempo e nem da técnica, pois está alienado de uma etapa da cadeia de
produção, e não guarda relação teleológica (relação de finalidade) com o que produz.
N t d t d f bj ti ô i i t d á d d
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Na arte, vemos o produto das esferas subjetiva e econômica, pois esta responderá a uma demanda
massificada por meio da produção em série.
A arte sempre foi reprodutível, diz Benjamin em A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica (1936),
contudo, a sua reprodução era ensinada por um mestre e repetida pelos discípulos. Com o avanço da
técnica, cada vez mais o homem é retirado do processo. Da xilogravura e litografia à fotografia, o que vemos
é vitória da máquina sobre o homem.
Pela primeira vez no processo de reprodução da imagem, a mão foi liberada
das responsabilidades artísticas mais importantes, que agora cabiam
unicamente ao olho. Como o olho apreende mais depressa do que a mão
desenha, o processo de reprodução das imagens experimentou tal aceleração
que começou a situar-se no mesmo nível que a palavra oral.
(BENJAMIN, 1996, p.167)
É nesse ensaio que surgirá o importante conceito benjaminiano de aura, elemento que confere unicidade à
obra e que é perdido por meio da reprodução técnica.
Mas afinal, o que é a aura para Walter Benjamin?
É uma figura singular, composta de elementos espaciais e temporais: a
aparição única de uma coisa distante, por mais perto que ela esteja.
(BENJAMIN, 1996, p.170)
A aura, no entanto, é elemento inserido na tradição, ou seja, a sua autenticidade tem fundamento teológico,
está diretamente ligada à sua função ritualística.
A obra de arte reproduzida tecnicamente adquire caráter serial e ganha status de mercadoria, indo de
encontro ao espectador, que tem cada vez mais a necessidade de possuir objetos. O seu fim, logo, não é
arbitrário, mas condicionado socialmente. Benjamin aponta para o declínio da aura como finalidade política
e não meramente estética, daí a mudança de seu valor de culto para valor de mercadoria.
Teses sobre o conceito de História
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Teses sobre o conceito de História
No ano crítico de 1940, Walter Benjamin redigiu o texto Sobre o conceito de história. A pretensão era de
escrever uma história que rompesse com o positivismo, seja o historicismo conservador ou o marxismo
vulgar.
O contexto que levou Benjamin às teses foi a Segunda Guerra em seu momento mais terrível, no qual o autor
se via perseguido, sem cidadania e na iminência de a qualquer tempo ser pego e entregue aos nazistas.
Sobre o conceito de história é composto por dezenove aforismos e, nas palavras de Löwy, o que de início nos
aparece como hermético e opaco, após uma imersão nessas proposições podemos entendê-las na sua
infinita profundidade. De fato, são fragmentos de difícil compreensãoa priori, contudo de profunda
coerência com o pensamento benjaminiano.
Tese II
[...] a imagem da felicidade está indissoluvelmente ligada à da salvação. O
mesmo ocorre com a imagem do passado, que a história transforma em coisa
sua. O passado traz consigo um índice misterioso, que o impele à redenção.
(BENJAMIN, 1996, p. 223)
Nesse fragmento, podemos ler uma passagem que vai do particular ao coletivo. A redenção coletiva,
segundo Michael Löwy, refere-se à rememoração das vítimas do passado, pois não é possível pensar numa
redenção no presente sem evocar as vítimas do passado.
Existe um cunho claramente teológico no fragmento, mas que se realiza no profano, apontado no
fechamento da tese ao sugerir que cabe ao materialista histórico esse papel.
O materialismo histórico traz a concepção marxista de que a história da
humanidade é a história da luta de classes, ou seja, da sucessão de opressões.
Logo, o poder messiânico de redenção não estaria na espera de um Messias, mas
se cumpriria na imanência. Nas palavras de Löwy, “somos nós o Messias, cada
geração possui uma parcela do poder messiânico e deve se esforçar para exercê-
la” (LÖWY, 2005, 51).
A redenção das vozes caladas pela história oficial viria, então, segundo análise de Löwy, por uma história
rememorada pelo lado dos vencidos, escovada à contrapelo.
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Tese IX
Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus. Representa um anjo que
parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. [...] O anjo da
história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde
nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que
acumula incansavelmente ruína sobre ruína e a dispersa a nossos pés.
(BENJAMIN, 1996, p.226)
Na alegoria do anjo da história, Walter Benjamin encerra o aforismo falando do progresso que impede que o
anjo acorde os mortos e junte os destroços nas ruínas.
As ruínas simbolizam as catástrofes que a humanidade acumula e são apagadas pela ideia positivista de
progresso. Em Aviso de incêndio, Löwy entenderá essa crítica ao progresso como confronto à filosofia de
Hegel, “essa imensa teodiceia racionalista que legitimava cada “ruína” e cada infâmia histórica [..] como
momento inevitável do Progresso da humanidade” (LÖWY, 2005, p.92).
Tese XII
O sujeito do conhecimento histórico é a própria classe combatente e oprimida.
Em Marx, ela aparece como a última classe escravizada, como a classe
vingadora que consuma a tarefa de libertação em nome das gerações de
derrotados.
(BENJAMIN, 1996, p.228)
A classe de que Marx falava e que seria responsável pela tarefa de libertação é o proletariado. Benjamin nos
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apresenta o proletariado como sujeito de ação e de conhecimento. Contudo, como apontado na tese II, a
libertação só pode ser coletiva, ou seja, é necessário buscar a libertação, mas sem esquecer das classes
oprimidas anteriormente.
Através da memória coletiva dos vencidos, rompe-se com a ideia linear de progresso, que somada à
decadência da memória e apagamento do passado produziu o fascismo.
O pensamento de Walter Benjamin
Está na hora de falarmos sobre os principais conceitos desenvolvidos por Walter Benjamin. Vamos lá!
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A modernidade e a degradação da experiência
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A obra de arte na era da técnica
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O pensamento de Walter Benjamin
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
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Questão 1
Levando em conta que a teoria da experiência de Walter Benjamin busca suas bases na teoria do choque
freudiano, aponte quais das proposições abaixo faz uma leitura contrária a essa relação.
A
A vida na cidade eleva ao paroxismo (aos extremos) as situações de choque, o que
conduz à decadência da memória.
B
A multidão nas ruas da cidade produz choque e conduz a um novo sentimento de
coletividade e, inevitavelmente, ao reencantamento do mundo.
C
O choque excessivo da vida moderna obriga o indivíduo a estar sempre alerta para filtrar
essas excitações externas.
D Erfahrung é um termo alemão que corresponde à memória, enquanto Erlebnis se refere à
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consciência.
E A modernidade impossibilita a experiência, por isso mesmo ela inaugura a vivência.
Parabéns! A alternativa B está correta.
Na modernidade, não é possível um reencantamento, pois ele depende da tradição e o mundo já
estaria perdido, na visão de Benjamin. A multidão se caracteriza por uma massa de anônimos,
não sendo percebida por Benjamin como um novo tipo ou sentimento de coletividade. Assim, as
afirmações na alternativa B se opõem à relação que Benjamim estabelece entre sua teoria da
experiência e a teoria do choque de Freud.
Questão 2
Segundo Benjamin, a obra de arte sempre foi reprodutível, contudo, o capitalismo inaugura a produção em
série. Sobre a reprodutibilidade técnica da obra de arte, assinale a afirmativa que traz uma proposição
correta.
A A obra reproduzida tecnicamente e de modo serial já nasce com sua aura.
B
O indivíduo moderno não tem a necessidade de se apropriar da arte, por isso a arte não
tem o sentido de mercadoria.
C
Com o avanço da técnica, o homem foi cada vez mais fazendo parte diretamente do
processo de reprodução da obra de arte.
D O valor de culto inserido na tradição cede lugar ao valor de mercadoria na modernidade.
E
A aura, para Walter Benjamin, está presente na obra de arte e tem um fundamento profano
e científico.
Parabéns! A alternativa D está correta.
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3 - A Teoria Crítica no Brasil
Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer algumas
aplicações da Teoria Crítica no contexto brasileiro.
A recepção da Teoria Crítica em terras
brasileiras
A Teoria Crítica chega ao Brasil em meados da década de 1960. A recepção da Escola de Frankfurt chega de
forma difusa, interessando a diferentes campos do conhecimento nas Ciências Humanas, mas seus
estudos se dão de modo mais intenso nas áreas da crítica literária e da comunicação.
Em 1968, saem as primeiras traduções em Língua Portuguesa veiculadas pela Revista Civilização Brasileira,
A aura entra em declínio com a reprodução técnica, por isso a obra de arte perde seu valor de
culto, que provém da tradição. Assim, prevalece na obra de arte, na modernidade, o valor
comercial ou de mercadoria.

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espaço de publicação e propagação das obras dos intelectuais de esquerda. O primeiro texto a ser traduzido
é A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica, de Walter Benjamin. Logo em seguida vieram
algumas traduções de Adorno e Marcuse.
As poucas traduções dos frankfurtianos limitaram um conhecimento mais amplo da Escola de Frankfurt na
época. Contando com escassos textos de Adorno, Marcuse e Walter Benjamin, este pode ter sido um dos
motivos pela predileção a certos temas, como os da crítica de arte e da indústria cultural.
Sobre a contextualização histórica, o Brasil acabara de sofrer um golpe militar, e os estudos da Teoria Crítica
interessam também à classe artística de esquerda à procura por uma arte engajada e de resistência ao
autoritarismo quese instalara, então, no país. Os icônicos movimentos de contracultura que surgiam
pretendiam ser ao mesmo tempo revolucionários e identitários.
Tanques patrulham a Esplanada dos Ministérios, em 1964, após o golpe militar.
Nos estudos sociais, a questão da identidade brasileira, assunto que já fervilhava desde a década de 1940,
agrega-se ao legado da Teoria Crítica para os estudos de periferia e subdesenvolvimento.
Grosso modo, os pensadores da Teoria Crítica que caíram nas graças dos intelectuais brasileiros foram
Walter Benjamin e Theodor Adorno. Já Marcuse teve uma importante influência nos artistas da
contracultura e do irracionalismo, mas acaba por desinteressar aos acadêmicos por seu status pop e, ainda
nos dias atuais, boa parte dos estudos teóricos sobre o autor de O Homem Unidimensional segue esse
caminho, da sua forte influência sobre os movimentos artísticos.
Neste primeiro momento de recepção à Escola de Frankfurt, dois nomes se destacam.
Gabriel Cohn
Nas Ciências Sociais.
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Roberto Schwarz
Nos estudos literários.
O relevo desses intelectuais não é apenas pela sistematização ou larga divulgação de uma corrente até
então pouco ou nada conhecida, mas principalmente pela contribuição teórica original que prestam à
academia brasileira.
Enquanto os estudos sociais da época se dedicavam quase exclusivamente às
pesquisas de brasilidade e identidade nacional, Gabriel Cohn se concentra no
conceito de Indústria Cultural. Segundo o pesquisador, o interesse se deu por um
desconforto que o acometeu, “com aquilo que se revelaria, em termos adornianos,
a instalação plena da indústria cultural no país” (MUSSE; KLEIN, 2018 p. 291).
Cohn passa por uma trajetória semelhante à dos frankfurtianos, enfrenta uma espécie de dogmatismo
metodológico, que defende a compreensão da realidade brasileira a partir de conceitos periféricos. Embora
tenha sofrido críticas, defende-se dizendo que quanto mais bruta é a sociedade, mais fina deve ser a análise.
Diz isso no sentido de acrescentar à reflexão conhecimento novo e inesperado, e, de fato, o fez nas suas
pesquisas de modo preciso e original.
No campo dos estudos literários, Roberto Schwarz, de forte influência adorniana, pode ser considerado o
correspondente brasileiro da Escola de Frankfurt. Tanto no conceito quanto no método, sua análise
imanente pede uma leitura atenta, pois passa ao largo da interpretação fechada e pronta.
Em A sereia e o desconfiado (1981), num ensaio cujo curioso título figura “Uma barata é uma barata é uma
barata”, Schwarz se dedica à análise da novela kafkiana A Metamorfose, narrativa que apresenta um homem
que se vê transformado num inseto. Sobre a vida e a obra de Kafka, Schwarz comenta:
Desta consistência absoluta de vida e palavra, em que o tempo e os atos não
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fazem violência à linguagem mas antes aceitam a sua imagem que nela
coagulou, nasce um homem que sofre o seu produto: regrado pelas
significações que criou, não tem como escapar ao seu horror.
(SCHWARZ, 1981, p.60)
A passagem transcrita aqui é um poderoso exemplo da dialética negativa do esclarecimento, na qual a razão
em que a linguagem se faz instrumento coloca o homem como servo de sua criação. Emancipado pela
razão, encontra nela também os limites da significação, do qual seus sentidos coagulados não dão conta de
compreender o horror de sua condição atual.
O horror de ter se metamorfoseado em um inseto daninho. Para além dos limites da linguagem, o que lemos
é também a crítica da razão como regressão, que na sua forma mais organizada conduziu ao nazismo e ao
fascismo.
Gabriel Cohn e a indústria cultural
A importância de Gabriel Cohn para a difusão da Teoria Crítica no Brasil é inegável. Em uma simples
pesquisa sobre o tema, seu nome, sem dúvida, figurará entre os primeiros. Apesar da ousadia de se lançar
aos estudos frankfurtianos num período em que vigorava o nacionalismo acadêmico, sua originalidade
segue carreira própria.
No que se refere à relevância de sua pesquisa para os estudos de indústria cultural, Cohn desvenda a
dialética adorniana atualizando o conceito mediante um percurso histórico que vai desde a sua concepção
até a contemporaneidade.
Para o crítico, na época de sua formulação, a indústria cultural estava mais preocupada em entender a
produção e difusão de material simbólico. Com as tecnologias digitais, essa cadeia, apesar do potencial de
intensificação pelas redes e real aumento de escala, provoca, contudo, mudanças no processo de
massificação, através da variação no padrão de consumo.
Os consumidores que a teoria crítica veria como meramente submetidos ao
império das grandes organizações da indústria cultural estariam na realidade
equipados, por diferenças de socialização e de inserções grupais, não só para
efetuar seleções no interior da massa de material simbólico oferecido no
mercado cultural como também, e principalmente, para submeter o material
selecionado a interpretações eventualmente discrepantes daquelas esperadas
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pelos controladores da sua produção e difusão.
(COHN, 2020, p.252)
Para Gabriel Cohn, o questionamento citado é respondido no seio da indústria cultural, onde a sua essência
não é homogeneizar ou “desdiferenciar” o mercado, mas sim manter a iniciativa do processo. Levando
adiante a problematização, chega ao ponto central da recepção das mensagens simbólicas, que
inevitavelmente passariam por alguns filtros de cunho social ou subjetivo, causando descompasso no
processo.
Comentário
Com essa fineza de análise, Cohn pretende mostrar o conceito de indústria cultural em sua potência e
limitações e com isso produzir o fermento que faz crescer a verdadeira teoria que se propõe crítica.
O conceito de Adorno e Horkheimer é de grande valia para a compreensão da produção de mercadorias,
pluralidade de produtos e consumo culturais; contudo, uma pretensa liberdade do sujeito demanda reflexão
mais à frente. Mais no campo da interrogação, Cohn dirá que há mais sentido na espontaneidade e
fugacidade da ação do que uma possível racionalização das escolhas.
Essa diferenciação que toma o lugar da homogeneização na indústria cultural contemporânea segue a
lógica da dominação e exclusão, nas palavras de Domingues, que delineia uma linha do tempo desde Marx;
conseguimos visualizar as etapas deste processo até chegar a Gabriel Cohn.
Podemos sugerir que, se Marx enfrentou o mundo da modernidade liberal em
expansão e sobre os frankfurtianos desabou uma formação em que grandes
organizações buscavam controlar e homogeneizar o mundo, hoje nos
deparamos com outra fase da modernidade, a terceira, em que os processos de
dominação, exclusão e seleção têm lugar [...]
(DOMINGUES, 2011, p.103)
Para essa terceira fase, as redes sociais prestam um valioso serviço, pois, se antes absorviam ou excluíam o
divergente, agora o instrumentaliza, e numa lógica perversa do capital esvazia e conduz na direção do lucro
e da dominação.
Roberto Schwartz: Literatura e Sociedade
Importante intelectual do século XX, Roberto Schwarz se dedicou como poucos ao estudo do processo
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social brasileiro. Sociólogo de formação e crítico literário por afinidade, seus ensaios magistrais sobre as
obras de Machado de Assis conferiram ao professor um lugar de destaque.
Antonio Candido em 2011.
Discípulo do professor e crítico literário Antônio Cândido, Schwarz traz o legado frankfurtiano para os
estudos brasileiros, que lucra com novas feições conceituais e metodológicas, principalmente por meio do
ensaio, forma presente desde seus primeiros escritos.Na periferia do capitalismo, Schwarz pega a fórmula já conhecida de se entender a sociedade pela literatura
ou a literatura pela sociedade e tensiona esses polos. Ou seja, à sua dialética não interessa o óbvio, não é
fazer da literatura alegoria da sociedade.
O verdadeiro espírito crítico, para o autor, habita na dúvida, na recusa e na investigação.
Na contramão da crítica positivista, que busca apenas a confirmação direta e
recíproca da sociedade na arte ou o seu contrário, Schwartz se faz herdeiro do
método dialético, estabelecendo sua função na crítica literária, como a de explicar o
que antes situava-se no domínio da “vida extra-artística” que, ao adentrar o espaço
da fantasia, carrega-se de forças estruturais que até então estavam ocultas. O
caminho é o da análise da forma artística mediada pela realidade social e histórica.
Leitor de Lukács, Schwarz compreende a formação social brasileira do século XIX e XX à luz de seus
estudos sobre a forma do romance e sua relação com a modernidade. O resultado dessa empreitada é a sua
tese de doutoramento, Ao vencedor as batatas: Forma literária e processo social nos inícios do romance
brasileiro.
Nessa tese, ele reflete sobre o processo de má-formação nacional devido à indigesta combinação histórica
de um regime colonial escravocrata com liberalismo. Para ele, quando o Brasil é inserido na nova ordem
capitalista, responde de modo profundamente coerente com sua raiz colonial e escravocrata, mantendo
traços arcaicos e legitimando uma nova economia de barbárie.
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O escravismo desmente as ideias liberais; mais insidiosamente o favor, tão
incompatível com elas quanto o primeiro, as absorve e desloca, originando um
padrão particular. O elemento de arbítrio, o jogo fluido de estima e autoestima a
que o favor submete o interesse material, não podem ser integralmente
racionalizados.
(SCHWARZ, 2012, p.17)
Neste caso, o progresso chega às terras brasileiras, assim como a outros países de realidade semelhante,
de modo particular, em que o moderno e o não moderno convivem no mesmo tempo histórico na intenção
de conservar as relações de exploração, que na própria essência contraria os princípios do liberalismo
burguês.
Para Roberto Schwarz, antes mesmo de haver romancistas brasileiros, o romance já existia em nossas
terras.
Com esse escopo teórico, ele começa sua análise apontando nas obras de José de Alencar e nos primeiros
romances de Machado de Assis o desalinho à realidade nacional, pois essas obras estariam importando o
modelo do romance realista europeu que não dá conta das particularidades dos países de terceiro mundo.
Afinal, o cotidiano brasileiro era regido pelos mecanismos do favor, incompatível com a trama realista de
influência romântica (SCHWARZ, 2012)
Contudo, diz Schwarz, a situação é ajustada numa segunda fase machadiana que tem como marco o
romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, em que, pela voz do narrador defunto, ficam evidentes as
contradições desse processo de modernização pelo qual o Brasil passava, em que “o quiproquó das ideias
não podia ser maior” (SCHWARZ, 2012, p.41).
Candido Portinari produziu uma série de ilustrações para a obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, como O primeiro Beijo.
Em terras brasileiras, os ideais burgueses da razão e da cultura convertem-se em adorno e marca de
fidalguia, e as relações de poder se mantêm por trás de uma sensível ideia de liberdade, podendo ser
entendida como uma espécie de economia de favores.
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Marcuse e a contracultura
A década de 1960 foi emblemática por conta dos movimentos e ensaios revolucionários marcados pela
contestação de ordem política e cultural. Esses movimentos de natureza heterogênea pululavam.
Defensores da revolução armada, anarquistas, movimentos de contracultura eram algumas correntes que
davam um novo rosto aos descontentes com a nova ordem. No que antes se viam as classes proletárias
reivindicando mudanças, na década de 1960 a juventude, de modo globalizado, vai às ruas à procura de
mais liberdade.
O então presidente Costa e Silva e seus ministros, em cujo governo foi instituído o AI-5.
No Brasil, essa década foi cortada por um golpe militar e um Ato Institucional de natureza extremamente
repressora (AI-5). Num momento em que vigorava a censura e o cerceamento das liberdades individuais, a
obra de Marcuse cai como uma luva àqueles que resistiam à ditadura.
A recepção do autor de O Homem unidimensional se deu de forma ambígua no cenário brasileiro.
Essa recusa, principalmente, da ortodoxia marxista levou à compreensão equivocada de uma falta de rigor
metodológico em seus trabalhos, e com essa justificativa acabou por ser deixado de lado pelos intelectuais
brasileiros.
Sempre conectado ao ideal revolucionário, Marcuse defendia uma profunda
transformação do capitalismo e emancipação completa do homem. Via na
tecnologia uma saída para a redução da jornada de trabalho, e com isso o indivíduo
teria mais tempo para dedicar-se ao processo de autoconhecimento e
desalienação.
Na dimensão estética defendeu a obra de arte autônoma em detrimento da arte ideológica. Sua posição
denuncia rejeição à reducionista concepção marxista ortodoxa de arte, como podemos ler no fragmento a
seguir.
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A minha crítica desta ortodoxia baseia-se na teoria marxista, na medida em que
esta também encara a arte no contexto das relações sociais e atribui à arte
uma função política e um potencial político. [...] vejo o potencial político da arte
na própria arte, como qualidade da forma estética. [...] a arte é absolutamente
autônoma perante as relações sociais.
(MARCUSE, 2007, p.9)
No ensaio A dimensão estética, Marcuse se dedica à análise crítica da literatura dos séculos XVIII e XIX,
saindo em defesa de uma arte de vanguarda com potencial revolucionário.
Por tudo isso, agradou e respondeu aos anseios dos movimentos estudantis e culturais de vanguarda que se
mobilizavam na emblemática década de 1960 em diversos países do globo.
Em terras brasileiras, a contracultura tem início já na década de 1950 por meio da Bossa Nova e do Cinema
Novo. E, com o tempo, novos representantes defensores da arte autônoma vão surgindo. Contudo, conforme
a repressão ia se aprofundando, os movimentos artísticos passaram a agir na clandestinidade para fugir da
censura e perseguição que se aproximava cada vez mais da classe artística.
A arte engajada respondia ao projeto estético brasileiro de uma arte nacionalista e anti-imperialista, mas
que passasse ao largo do ultranacionalismo de cunho fascista. Em tal empreitada vimos emergir o
movimento tropicalista.
A Tropicália abarcou diversos setores artísticos, mas se desenvolveu de forma mais produtiva na música.
Nela, vemos representada a realidade brasileira urbano-industrializada e seu processo de modernização,
tudo isso como expressão da crise.
Os Mutantes em 1968.
Em Verdade Tropical, Caetano Veloso descreve o movimento antropofágico tropicalista:
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Nós, brasileiros, não deveríamos imitar e sim devorar a informação nova, viesse
de onde viesse, ou nas palavras de Haroldo de Campos, ‘assimilar sob a
espécie brasileira a experiência estrangeira e reinventá-la em termos nossos’.
(VELOSO, 1997, p.247)
Na música, é lançado o célebre álbum Tropicália, ou Panis et circencis (1968), que conta com a cooperação
de vários músicos numa espécie de manifesto musical, em que vemos na prática artística a antropofagia da
qual falara Caetano, numa mistura de coisas, palavras, ritmos, cultura e moral nacionais e estrangeiras.
Uma das faixas de colaboraçãoentre Gilberto Gil e Torquato Neto em “Geleia Geral” exibe os contornos da
Tropicália.
Capa do álbum Tropicalia ou Panis et Circencis.
O poeta desfolha a bandeira 
E a manhã tropical se inicia 
Resplendente, cadente, fagueira 
Num calor girassol com alegria 
Na geleia geral brasileira 
Que o Jornal do Brasil anuncia 
[...] 
Minha terra onde o sol é mais lindo 
E Mangueira onde o samba é mais puro 
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Tumbadora na selva-selvagem 
Pindorama, país do futuro 
Ê bumba-iê-iê boi 
Ano que vem, mês que foi 
Ê bumba-iê-iê-iê 
É a mesma dança, meu boi 
[...] 
É a mesma dança na sala 
(No Canecão), na TV 
E quem não dança, não fala 
Assiste a tudo e se cala
Não vê no meio da sala 
As relíquias do Brasil 
Doce mulata malvada 
Um LP de Sinatra
Maracujá, mês de abril 
Santo barroco baiano 
Super poder de paisano 
Formiplac e céu de anil 
[...]
(O poeta desfolha a bandeira, de Torquato Neto, Compilação Rio Arte, 1985, n.p.)
Embora tenha sido mais fortemente ligado à música, o tropicalismo também se manifestou nas artes
plásticas cujo maior representante foi o artista plástico e performático Hélio Oiticica, no projeto artístico
Parangolés (1964-1979).
Saiba mais
Parangolés é fruto de um processo de experiências de Oiticica com a comunidade da Escola de Samba
Estação Primeira de Mangueira. Ao entrar em contato com o samba, a dança, o corpo, ele trouxe para o
universo da arte contemporânea vestimentas improvisadas, capas e túnicas, que ele denominou de
Parangolés. Essas roupas não estavam previstas para serem exibidas em um cabide, mas para serem
usadas por passistas, pelo público, por quem quisesse experimentar a leveza desses materiais
reaproveitados, que voavam com os movimentos da dança. As pessoas, dessa forma, ao usarem o
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parangolé, também se tornavam parte da obra de arte.
Hélio Oiticica leva a fundo a teoria estética de Marcuse na direção da “antiobra” de arte que promove a
experiência estética para além das belas artes.
Esse trabalho, além da clara influência de Marcuse, remonta à imagem do trapeiro (chiffonnier) a que
Benjamin se refere nos estudos sobre Baudelaire, em que pensará numa reconstrução da memória histórica
a partir de tudo o que é julgado como refugo.
Podemos ler em Oiticica essa escrita que é ao mesmo tempo inscrição e rememoração da história
periférica, feita a partir da montagem de fragmentos que contam com a mistura de cores, tecidos,
estandartes, memórias, bandeiras etc.
Contribuição da Teoria Crítica no Brasil
Acompanhe os comentários e exemplos sobre a influência dos estudos da Teoria Crítica em temáticas
relacionadas à arte no Brasil. Confira!
Vem que eu te explico!
Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar.
Módulo 3 - Vem que eu te explico!
Roberto Schwartz: Literatura e Sociedade
Módulo 3 - Vem que eu te explico!
Marcuse e a contracultura
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Todos
Módulo 1 - Video
Contexto e temáticas da Escola de Frankfurt
Módulo 2 - Video
O pensamento de Walter Benjamin
Módulo 3 - Video
Contribuição da Teoria Crítica no Brasil
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
 Todos Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 
Questão 1
Para Gabriel Cohn, as redes sociais prestam um grande serviço à indústria cultural. De que modo isso
ocorre?
A Excluindo tudo aquilo que destoa da sociedade homogeneizada.
B Divulgando o igual e criminalizando o diferente.
C Produzindo necessidades iguais.
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D Instrumentalizando o divergente.
E Produzindo corpos dóceis.
Parabéns! A alternativa D está correta.
Com as tecnologias digitais e o fenômeno das redes sociais, podemos identificar processos em
que os divergentes não são excluídos ou absorvidos nesse meio. Ao contrário, no meio digital e
dos produtos culturais que por ele circulam, os usurários são instrumentalizados, ou seja, fazem
parte dos interesses e da lógica do lucro que alimentam as redes. Assim, as redes sociais
instrumentalizam o divergente, esvaziando-o e usando-o para o lucro.
Questão 2
Em Ao vencedor as batatas, Roberto Schwarz aponta uma particularidade da realidade social moderna
brasileira. Que particularidade é esta?
A A combinação de moderno e do não moderno representada na política de favores.
B
O ideal de liberdade levado a cabo de modo mais intenso no Brasil do que nos países
europeus.
C Conservação das marcas tradicionais, como o ritual.
D Adesão ao liberalismo sem qualquer reserva.
E Rejeição dos ideais liberais em nome de uma cultura ultranacionalista.
Parabéns! A alternativa A está correta.
A herança escravocrata combinada com o liberalismo produziu a particularidade social brasileira
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Considerações �nais
Você pôde verificar, ao longo deste conteúdo, que a Teoria Crítica ou Escola de Frankfurt se constitui numa
importante corrente filosófica a partir da contribuição do pensamento e das obras de autores como Adorno,
Horkheimer, Benjamin e Marcuse.
Revisitando e renovando conceitos marxistas, os frankfurtianos desenvolveram críticas teóricas e
elaboraram conceitos relacionados com o papel da razão ou da racionalidade que marca nosso tempo, com
a indústria cultural, com a arte transformada pela tecnologia, entre outros aspectos.
Você viu, ainda, que no Brasil a Teoria Crítica contribui para a reflexão sobre diversos temas, embora
tenhamos destacado a sua influência no pensamento sobre a arte. A partir dos estudos de Roberto Schwarz,
no campo literário, e de Gabriel Cohn, nas ciências sociais, você percebeu que os conceitos dos teóricos
frankfurtianos têm sido atualizados e aplicados na reflexão sobre a música, a literatura, as redes sociais e
outras dimensões ou aspectos da contemporaneidade.
Podcast
Para encerrar, ouça os comentários que exemplificam as contribuições da Teoria Crítica na reflexão sobre
arte e literatura no Brasil.
que é a de conservar a dominação ao combinar o moderno e o não moderno, através de uma
espécie de economia de favores.

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Referências
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Paulo: Ed. Duas Cidades; Ed. 34, 2003.
ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. Dialética do Esclarecimento: fragmentos filosóficos. Tradução de Guido
Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
BENJAMIN, W. Experiência e pobreza. In: BENJAMIN, W. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre
literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1996.
BENJAMIN, W. Sobre alguns temas em Baudelaire. In: Charles Baudelaire um lírico no auge no capitalismo.
Tradução: José Martins Barbosa, Hemerson Alves Baptista. São Paulo: Brasiliense, 2010.
COHN, G. As duas faces da indústria cultural. Revista A Terra é Redonda, 30 jun. 2020.
DOMINGUES, J. M. Dominação e diferença na crítica de Gabriel Cohn. instituto de Estudos Sociais e
Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), set. 2011.
GAGNEBIN, J. História e narração em Walter Benjamin. Perspectiva. São Paulo, 2007.
LÖWY, M. Walter Benjamin: aviso de incêndio: uma leitura das teses “Sobre o conceito da história”. São
Paulo: Boitempo, 2005.
MARCUSE, H. A dimensão estética. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
MARX, K. O capital: crítica da economia política. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994 (3 volumes).
MUSSE, R.;

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