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Autor: Profa. Sirlei Pitteri Colaboradores: Profa. Cristiane Nagai Prof. André Galhardo Fernandes Mercado Financeiro e de Capitais Professora conteudista: Sirlei Pitteri Possui pós-doutorado em Economia das Organizações pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA -USP, 2015), graduação em Física pela mesma instituição (1975) e mestrado e doutorado em Administração pela Universidade de São Caetano do Sul (USCS, 2006 e 2012). Tem experiência profissional como executiva do Citibank como gerente de projetos de TI para tesouraria, mercado de capitais e negócios internacionais (1975-1987), diretora administrativa e financeira em empresa de construção civil (1988-2003) e consultora de empresas, professora e pesquisadora em administração, com ênfase em relações entre organizações, inovação em gestão, gestão das informações, governança corporativa e finanças corporativas. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) P688m Pitteri, Sirlei. Mercado Financeiro e de Capitais / Sirley Pitteri. – São Paulo: Editora Sol, 2020. 120 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Sistema financeiro. 2. Mercados financeiros. 3. Mercado de capitais. I. Título. CDU 336.76 U507.47 – 20 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Lucas Ricardi Bruno Barros Sumário Mercado Financeiro e de Capitais APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................ 10 Unidade I 1 POLÍTICAS ECONÔMICAS E TAXAS DE JUROS ...................................................................................... 13 1.1 Como nasceu o conceito de juros ................................................................................................. 14 1.2 Políticas econômicas: fiscal, cambial e monetária ................................................................. 15 1.2.1 Política fiscal ............................................................................................................................................. 16 1.2.2 Política cambial........................................................................................................................................ 16 1.2.3 Política monetária .................................................................................................................................. 16 1.3 Política monetária e as taxas de juros ......................................................................................... 17 1.3.1 Taxa Selic .................................................................................................................................................... 18 1.3.2 Spread bancário ....................................................................................................................................... 19 1.3.3 Taxa CDI ou (DI) ....................................................................................................................................... 20 1.3.4 Taxa Referencial (TR) ............................................................................................................................. 21 1.3.5 Taxa de Longo Prazo (TLP) ................................................................................................................... 21 1.3.6 Composição das taxas de juros ......................................................................................................... 21 1.4 Inflação, deflação, estagflação e índices .................................................................................... 22 1.4.1 Índices de inflação (indexadores) ..................................................................................................... 23 2 SISTEMA FINANCEIRO BRASILEIRO (SFB) .............................................................................................. 24 2.1 Mercados financeiros .......................................................................................................................... 25 2.1.1 Mercado monetário ............................................................................................................................... 25 2.1.2 Mercado de crédito ................................................................................................................................ 25 2.1.3 Mercado de capitais ............................................................................................................................... 26 2.1.4 Mercado de câmbio ............................................................................................................................... 26 2.2 Formação do Sistema Financeiro Brasileiro ............................................................................... 26 2.2.1 Conselho Monetário Nacional (CMN) ............................................................................................ 28 2.2.2 Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) ........................................................................ 29 2.2.3 Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC) ................................................... 29 2.2.4 Banco Central do Brasil (BC ou Bacen) .......................................................................................... 30 2.2.5 Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ........................................................................................ 30 2.2.6 Superintendência de Seguros Privados (Susep) ......................................................................... 31 2.2.7 Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) ................................. 31 2.3 Entidades de apoio ao Sistema Financeiro Brasileiro ............................................................ 32 2.3.1 Banco do Brasil (BB) .............................................................................................................................. 32 2.3.2 Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) .................................. 33 2.3.3 Caixa Econômica Federal (CEF) .......................................................................................................... 34 2.4 Ministro da Fazenda e presidente do Banco Central ............................................................. 34 2.5 Comitê de Política Monetária (Copom) ....................................................................................... 35 2.6 Os bancos e o custo de crédito ....................................................................................................... 35 2.6.1 Inadimplência ...........................................................................................................................................36 2.6.2 Lucros ........................................................................................................................................................... 36 2.6.3 Impostos diretos ...................................................................................................................................... 37 2.6.4 Compulsório + encargos ...................................................................................................................... 37 2.6.5 Custo administrativo ............................................................................................................................. 37 3 INSTITUIÇÕES OPERADORAS DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL .......................................... 38 3.1 Instituições bancárias e instituições não bancárias ............................................................... 39 3.1.1 Instituições bancárias ........................................................................................................................... 39 3.1.2 Instituições não bancárias .................................................................................................................. 41 3.2 Operações ativas, passivas e acessórias ....................................................................................... 42 3.2.1 Operações ativas ..................................................................................................................................... 42 3.2.2 Operações passivas ................................................................................................................................. 42 3.2.3 Operações acessórias ou especiais ................................................................................................... 42 4 OPERAÇÕES NOS MERCADOS FINANCEIROS....................................................................................... 43 4.1 Fundamentos de matemática financeira .................................................................................... 43 4.1.1 Unidade de tempo-base da taxa de juros ..................................................................................... 44 4.1.2 Taxas equivalentes e taxas proporcionais ..................................................................................... 44 4.1.3 Valor presente (PV) e valor futuro (FV)........................................................................................... 47 4.1.4 Séries de pagamentos (PGTO) ............................................................................................................ 48 4.1.5 Noções de calculadora financeira HP 12C .................................................................................... 50 4.2 Operações do mercado monetário ................................................................................................ 52 4.2.1 Letras do Tesouro Nacional (LTN) ..................................................................................................... 52 4.2.2 Certificados de Depósitos Bancários (CDB) .................................................................................. 54 4.2.3 Certificados de Depósitos Interbancários (CDI) .......................................................................... 55 4.2.4 Caderneta de poupança ....................................................................................................................... 56 4.2.5 Commercial papers (notas promissórias) ...................................................................................... 57 4.2.6 Debêntures ................................................................................................................................................ 58 4.3 Operações no mercado de crédito................................................................................................. 61 4.3.1 Hotmoney .................................................................................................................................................. 61 4.3.2 Desconto simples de títulos ............................................................................................................... 63 4.3.3 Factoring .................................................................................................................................................... 64 4.4 Financiamentos com leasing ........................................................................................................... 64 Unidade II 5 VALOR DAS EMPRESAS E O MERCADO DE CAPITAIS........................................................................ 74 5.1 Valor patrimonial das empresas ..................................................................................................... 74 5.2 Valor mercadológico das empresas ............................................................................................... 75 5.3 Valor econômico das empresas ...................................................................................................... 75 5.4 Como aumentar o valor das empresas ........................................................................................ 76 5.5 Financiamentos internos e a estrutura de capital .................................................................. 78 5.5.1 Análise da estrutura de capital da empresa................................................................................. 78 5.5.2 Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC) ................................................................................ 79 5.5.3 Estudo de alternativas de investimento em dois cenários .................................................... 81 5.5.4 Investimentos em cenários de expansão e recessão ................................................................ 82 5.6 A migração do valor econômico das empresas ........................................................................ 84 5.7 Entendendo o mercado de valores mobiliários ........................................................................ 86 5.7.1 Abertura do capital ................................................................................................................................ 86 5.7.2 Ofertas públicas ....................................................................................................................................... 87 5.7.3 Negociação ................................................................................................................................................ 87 5.7.4 Fechamento do capital ......................................................................................................................... 88 6 MERCADO DE CAPITAIS: ACIONÁRIO ...................................................................................................... 88 6.1 Mercado de ações ................................................................................................................................ 88 6.1.1 Ações ordinárias (ON) e ações preferenciais (PN) ...................................................................... 88 6.1.2 Mercado primário e mercado secundário ..................................................................................... 89 6.1.3 Bolsas de valores e mercado de balcão ......................................................................................... 89 6.1.4 O que são bolsas de valores? .............................................................................................................. 89 6.1.5 O que é mercado de balcão? .............................................................................................................. 90 6.1.6 O que é mercado de balcão organizado? ...................................................................................... 90 6.1.7 Quem pode intermediar as negociações? ..................................................................................... 91 6.1.8 Pregão e mercado à vista ....................................................................................................................91 6.2 Rendimento e risco das ações ....................................................................................................... 91 6.2.1 O que é risco de investimento? ......................................................................................................... 92 6.2.2 Risco de investir em ações .................................................................................................................. 92 6.3 Índices representativos do mercado de ações .......................................................................... 93 7 MERCADO DE CAPITAIS: MERCADORIAS E FUTUROS ...................................................................... 94 7.1 O que são commodities? ................................................................................................................... 95 7.2 O que são bolsas de mercadorias e futuros? ............................................................................. 97 7.3 O que são derivativos? ....................................................................................................................... 97 7.4 O que são swaps cambiais? .............................................................................................................. 98 7.5 O que é hedge cambial? ..................................................................................................................100 8 MERCADO DE CAPITAIS: FUNDOS DE INVESTIMENTO IMOBILIÁRIO ........................................101 8.1 Conceito de Fundos de Investimento Imobiliário (FII) ........................................................101 8.2 O produto ..............................................................................................................................................103 8.3 Direitos e deveres dos investidores em FII ...............................................................................103 8.4 Estrutura de um FII ............................................................................................................................104 8.5 Categorias de FII .................................................................................................................................105 8.6 Vantagens dos FII sobre outros investimentos .......................................................................105 8.7 Como investir em FII .........................................................................................................................106 9 APRESENTAÇÃO Esta disciplina tem por objetivo apresentar conceitos básicos sobre o funcionamento dos mercados financeiro e de capitais, bem como suas relações com as políticas econômicas brasileiras, especialmente nos efeitos da política monetária sobre as taxas de juros praticadas pelas instituições financeiras, públicas ou privadas. Inicialmente, iremos apresentar o contexto econômico, político e financeiro brasileiro, situando as decisões externas que podem afetar a gestão das empresas. Faremos uma apresentação das políticas econômicas monetária, fiscal e cambial e explicaremos como os instrumentos da política monetária utilizados pelo governo impactam as taxas de juros praticadas no Brasil. Apresentaremos, ainda, as principais taxas de juros, com ênfase especial na taxa Selic, cuja finalidade é estabelecer padrões para o controle da liquidez da economia. Abordaremos ainda conceitos sobre inflação, deflação e estagflação, assim como os principais indicadores sobre a economia brasileira. Na sequência, traremos uma visão geral do Sistema Financeiro Brasileiro (SFB), que pode ser definido como o conjunto de instituições, produtos e instrumentos que viabiliza a transferência de recursos ou ativos financeiros entre os investidores (poupadores ou agentes superavitários) e tomadores de recursos (agentes deficitários) da economia. Descreveremos os mercados monetário, de crédito, cambial e de capitais, bem como as instituições públicas que regulam esses mercados: Conselho Monetário Nacional (CMN), Banco Central do Brasil (Bacen ou BCB), Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e Comitê de Política Monetária (Copom). Abordaremos ainda o papel das instituições financeiras Banco do Brasil (BB), Caixa Econômica Federal (CEF) e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Trataremos também das instituições bancárias e não bancárias que compõem o SFB. A diferença básica entre instituições bancárias e não bancárias é a atividade de depósitos em conta corrente. Existem, portanto, instituições financeiras que podem receber depósitos em conta corrente, como os bancos comerciais e bancos múltiplos, entre outras, e aquelas que apenas atuam como intermediadoras dos agentes poupadores e tomadores de recursos. Abordaremos ainda as operações que são efetuadas nos mercados monetário e de crédito, com exemplos práticos, utilizando a calculadora financeira HP 12C e planilhas eletrônicas. Abordaremos conceitos básicos sobre o mercado de valores mobiliários. Inicialmente, apresentaremos as instituições envolvidas nas operações do mercado de capitais, bem como as etapas de abertura de capital (initial public offering – IPO), a negociação e o fechamento do capital. Posteriormente, faremos um detalhamento do mercado de capitais de ações (acionário), apresentando os tipos de ações, os mercados primário e secundário, as bolsas de valores e outras instituições envolvidas nesse mercado. Faremos ainda uma discussão sobre riscos e retornos envolvidos nesse mercado. 10 Abordaremos ainda o mercado de capitais voltado para mercadorias e futuros. Faremos um detalhamento sobre os produtos negociados nesse mercado, como as commodities e uma ênfase especial nos contratos de opção (derivativos) e suas variações: hedge cambial, swap cambial, entre outros. Por fim, apresentaremos conceitos sobre o mercado de capitais voltados para os Fundos de Investimentos Imobiliários (FII). Apresentaremos o conceito do produto, os aspectos técnicos e as vantagens desse produto com relação a outros investimentos. INTRODUÇÃO No Brasil, predominam milhares de micro, pequenas e médias empresas, raríssimas grandes empresas e apenas cinco grandes bancos, que detêm o controle de quase todo o dinheiro que circula no país. No entanto, são as micro, pequenas e médias empresas que sustentam a economia brasileira. Dados de uma pesquisa do IBGE (2019) apontam um perfil interessante sobre os empregadores brasileiros: existem, no Brasil, aproximadamente 5 milhões de empregadores, sendo 98,28% (4.942.765) micro e pequenas empresas (0 a 49 empregados); 1,33% (66.869) médias empresas (50 a 250 empregados) e apenas 0,39% (19.475) grandes empresas, incluídos aqui os órgãos públicos. Por que isso é importante? Porque observamos, com muita frequência, que as empresas, principalmente as pequenas e médias, têm falido ou enfrentam sérios problemas de sobrevivência. Os empresários criticam a carga tributária, os encargos sociais e os juros altos. Esses fatores contribuem, sim, para debilitar as empresas. A falta de conhecimento sobre como funcionam os bancos e os governos, ou seja, como as políticas econômicas se relacionam com o sofisticado sistema financeiro, deixam os empresários fragilizados, pois eles não têm tempo para estudar esses assuntos. Eles se ocupam, e devem se ocupar, em buscar clientes no mercado, contratar e gerenciar pessoas, produzir bens e serviços, cuidar da logística e principalmente preservar sua imagem corporativa na sociedade. Vivemos em um momento em que aplicar os recursos escassos disponíveis com a máxima eficiência tornou-se uma tarefa difícil. Exige-se um elenco de informações confiáveis para se tomar as decisões sobre como e onde dedicar os recursos. Desse modo, as informações reais que norteiam nossas decisões devem ser de responsabilidade dos advogados, economistas e contabilistas. Vale ressaltar, entretanto, que em nosso país, em alguns segmentos da nossa economia, a função do contabilista foi distorcida, estandovoltada quase que exclusivamente para satisfazer as exigências fiscais. No entanto, o perfil do contabilista vem se modificando já há algumas décadas, visando ampliar a atuação dos profissionais da área contábil. 11 Compreender como funciona em profundidade o mercado financeiro e de capitais certamente irá contribuir, de modo relevante, na produção de informações necessárias para decidir sobre as melhores alternativas de investimentos, evidenciar a capacidade da empresa em gerar lucros e encontrar as melhores formas de adquirir financiamentos. Este livro-texto, portanto, tem com finalidade preparar os futuros economistas e contabilistas no que se refere ao funcionamento do mercado financeiro e de capitais, para que possam ampliar sua atuação nas empresas, como consultores dos empresários, apresentando relatórios confiáveis sobre a empresa e tendências externas. 13 MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS Unidade I 1 POLÍTICAS ECONÔMICAS E TAXAS DE JUROS Há noventa anos, em 24 de outubro de 1929, dia que ficou conhecido como a Quinta-Feira Negra, aconteceu a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, fato que abalou os mercados financeiros e jogou os Estados Unidos na Grande Depressão de 1930. Antes dessa Quinta-Feira Negra, os Estados Unidos apresentavam um crescimento industrial e urbano sem precedentes. Essa ilusão de prosperidade levou muita gente a se endividar e comprar ações na bolsa de valores. Só que a demanda excessiva por ações criou uma bolha especulativa – as ações das empresas eram supervalorizadas – e essa bolha cresceu e estourou. Assim, a economia dos Estados Unidos mergulhou na Grande Depressão. Famílias inteiras ficaram na miséria, empresas e bancos faliram e fábricas fecharam. Hunt e Sherman (2010, p. 185) escrevem sobre esse período: “o sistema econômico capitalista parecia estar à beira de um colapso total. Era urgente tomar medidas drásticas que revertessem o processo da crise”. Assim, os economistas se dedicaram em conhecer melhor a natureza do problema que levou à Grande Depressao e que colocava em risco a existência do sistema capitalista. Considerado o fundador da macroeconomia, John Maynard Keynes (1883-1946) mostrou que as economias capitalistas não tinham capacidade de promover automaticamente o pleno emprego, abrindo caminho, assim, para o uso da política econômica. Para a maioria dos economistas, as experiências realizadas durante a Segunda Guerra comprovaram, no essencial, a exatidão das ideias de Keynes. O capitalismo podia ser salvo desde que os governos soubessem fazer uso de seu poder de cobrar impostos, contrair empréstimos e gastar dinheiro (HUNT; SHERMAN, 2010). Assim, a razão para a existência do governo é a de guiar os agentes econômicos e também corrigir e complementar o sistema de mercado, o qual, sozinho, não é capaz de desempenhar todas as funções econômicas. O esquema a seguir ilustra o papel do governo no fluxo circular, denominação que Keynes utilizou para desenvolver sua teoria: 14 Unidade I Mercado de fatores de produção Mercado de bens e serviços Empresas Famílias Recebe - Bens - Seviços Oferta - Bens - Seviços Impostos Infraestrutura Impostos Serviços públicos Demanda - Bens - Seviços Paga - Bens - Seviços Paga FP - Salários - Aluguel - Juros Recebe FP - Salários - Aluguel - Juros Demanda de FP - Trabalho - Terra - Capital Oferta de FP - Trabalho - Terra - Capital Governo Figura 1 Este trecho, portanto, tem como finalidade explicar a relação entre as políticas econômicas e seus reflexos na composição das taxas de juros e, consequentemente, nos mercados financeiro e de capitais. Por que isso é importante? Porque as sucessivas crises econômicas e políticas ao longo de mais de um século, bem como a regulação do Estado na economia, interferem na vida das empresas de modo relevante. Desse modo, como as políticas econômicas estão intimamente relacionadas com o sistema financeiro, é muito importante compreender como os bancos e governos atuam em benefício das empresas e da sociedade. Assim, iremos apresentar o contexto econômico, político e financeiro, situando as decisões externas que podem afetar a gestão das empresas e dos imprevistos do macroambiente. 1.1 Como nasceu o conceito de juros Kerr (2011) explica a intermediação financeira de modo muito simples: de um lado, temos um investidor (poupador) que possui uma certa quantia de dinheiro (capital) que ele não utilizou para suas despesas rotineiras. De outro lado, temos um tomador (de recursos), que gastou mais dinheiro do que possuía para suas despesas rotineiras. Um intermediário financeiro aproxima os dois e assim ocorre uma operação em que o investidor empresta uma quantidade de dinheiro ao tomador por um determinado período. Após esse período, o tomador devolve o dinheiro ao investidor acrescido de um valor adicional, como rendimento pelo uso do dinheiro. Esse valor adicional corresponde aos juros. 15 MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS A exigência de um encargo como pagamento, em troca de um empréstimo de bens ou serviços, não era um conceito socialmente aceito na vida comunitária das sociedades primitivas. Empréstimos tinham a função de aliviar um aperto, ou uma situação difícil de alguém, e o costume aceitável era não esperar nada mais em troca, a não ser uma retribuição do mesmo tipo. Tirar vantagem da dificuldade circunstancial de outro membro da mesma comunidade não era, com razão, um comportamento bem-visto (KERR, 2011, p. 59). Essa prática de comercializar dinheiro com cobrança era denominada usura, termo utilizado como sinônimo de juros até a Idade Média. Assim, surgem as primeiras normas legais que estabeleciam o que era considerado uma cobrança adequada e legal, diferenciando-a daquela considerada “extorsiva”. O termo usura passa a designar as cobranças abusivas, e juro passa a designar uma cobrança legal. Esse conceito de imoralidade da cobrança de um valor em troca de um empréstimo levou os antigos legisladores a distinguir quantitativamente o ilegal do legal por meio da limitação do valor cobrado. Buscava-se traçar uma linha divisória, separando o que seria uma cobrança de juros legal e justa daquilo que seria uma cobrança de juros abusiva. A intensificação das trocas, do comércio e da produção forçou as sociedades a rever o conceito ético dessas cobranças por empréstimos, embora ainda demorasse muito tempo até que se percebesse a importante função social do crédito e, consequentemente, dos juros. No período da Revolução Industrial (séculos XVIII e XIX), em que prevaleceu a ideologia do liberalismo, a Inglaterra e a maioria dos países europeus abandonaram completamente o controle sobre as taxas de juros, embora a preocupação com cobranças ilegais ainda existissem. Os contratos individuais passaram a fazer uso dos dispositivos que possibilitavam a renegociação dos contratos, quando os juros eram considerados abusivos pelo devedor. Observação No Brasil, houve períodos de maior liberalismo, com a cobrança dos juros, alternados com períodos de menor tolerância. Em 1933, no governo provisório de Getúlio Vargas, foi decretado, pela primeira vez no Brasil, um valor máximo legal para as taxas de juros. A Constituição Federal de 1988 estabeleceu um limite para os juros em 12% ao ano, porém, em 2003, a Emenda Constitucional n. 40 revogou esse artigo da CF, de modo que a limitação dos juros deixou de existir. 1.2 Políticas econômicas: fiscal, cambial e monetária Os juros são de extrema importância no processo de intermediação financeira. Quando são altos, estimulam a poupança; quando são baixos, estimulam o consumo. Por sua vez, o consumo alto estimula o aumento da produção e, consequentemente, dos investimentos. 16 Unidade I Assim, a gestão da economia pelos órgãos do governo encarregados dessa tarefa tem vários objetivos, como atingir o pleno emprego, distribuir riqueza, defender o poder aquisitivo da moeda e permitir que a economia cresça. As ações do governo para essefim são denominadas políticas econômicas, que se dividem em: política fiscal, política cambial e política monetária. 1.2.1 Política fiscal A política fiscal é o principal instrumento do setor público, pela qual o governo gerencia o orçamento do Estado. A política fiscal aborda o conjunto de medidas pelas quais o governo arrecada receitas e realiza despesas de modo a cumprir três funções: a estabilização macroeconômica, a redistribuição da renda e a alocação de recursos. A função estabilizadora consiste na promoção do crescimento econômico sustentado, com baixo desemprego e estabilidade de preços. A função redistributiva visa assegurar a distribuição equitativa da renda. Por fim, a função alocativa consiste no fornecimento eficiente de bens e serviços públicos, compensando as falhas de mercado. Saiba mais O orçamento do Estado tem tudo a ver com o nosso dia a dia. Para saber como o orçamento público é elaborado, consulte o link: ORÇAMENTO público: entenda como é definido. Politize!, [s.d.]. Disponível em: https://www.politize.com.br/orcamento-publico-como-e- definido/. Acesso em: 23 mar. 2020. 1.2.2 Política cambial A política cambial é utilizada para controlar as relações comerciais e financeiras que envolvem países diferentes, principalmente nas operações de exportação e importação. Quando o Brasil exporta bens e serviços, ocorre uma entrada de dólares na economia e quando importa, ocorre uma saída de dólares. A situação de equilíbrio é avaliada pela balança comercial, ao gerar saldo positivo ou negativo entre a exportação e importação de bens e serviços. Já no âmbito financeiro, o equilíbrio é mensurado entre a quantidade de recursos (dólares) atraídos para o mercado interno para pagamento das contas em dólares. A soma dos dois fatores resulta em superávit ou déficit da chamada balança de pagamentos. 1.2.3 Política monetária A política monetária é a parte da política econômica que cuida do controle da oferta da moeda e das taxas de juros, visando manter a estabilidade do valor da moeda, manter uma balança de pagamentos equilibrada e buscar o pleno emprego. 17 MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS O principal órgão do governo executor da política monetária é o Banco Central (BC ou Bacen), encarregado da emissão da moeda, da regulação do crédito, da manutenção do padrão monetário e do controle do câmbio. Ele atua diretamente sobre o controle da quantidade de moeda em circulação, buscando defender o poder de compra. A política monetária pode ser restritiva ou expansionista. O objetivo da política restritiva é reduzir a quantidade de moeda em circulação e tornar os empréstimos mais caros, por meio de uma taxa básica de juros mais elevada. Ou seja, o Banco Central busca diminuir a quantidade de dinheiro em circulação a fim de desaquecer a economia e evitar a inflação. Por sua vez, o objetivo da política expansionista é tomar medidas que aumentem a quantidade de dinheiro em circulação, diminuindo a taxa básica de juros e desonerando os empréstimos. Assim, o aumento da quantidade de dinheiro em circulação aquece a economia e, consequentemente, ocorre o crescimento econômico. 1.3 Política monetária e as taxas de juros Os instrumentos mais usuais de que o Banco Central dispõe para executar a política monetária são: depósito compulsório, open market e redescontos bancários. O impacto que as alterações no recolhimento de depósitos compulsórios causam na economia está relacionado com o efeito multiplicador bancário. Os bancos comerciais e as instituições que atuam com depósitos à vista criam moeda ao fazer empréstimos. A essa moeda criada denomina-se moeda escritural, ou moeda bancária. O efeito multiplicador bancário e a criação de moeda escritural ocorrem porque os bancos recebem depósitos à vista, mas sabem que não precisam ter todo o dinheiro disponível o tempo todo para os correntistas. Estatisticamente, apenas uma parte pequena do total de recursos precisa estar disponível. Assim, os bancos podem emprestar o restante, se não houver qualquer impedimento para que isso aconteça (por exemplo, depósitos compulsórios). A mesma moeda em circulação, que é de propriedade do correntista, agora está nas mãos dos bancos, aumentando a quantidade de dinheiro na economia. Por conta disso, o Banco Central controla a quantidade de dinheiro disponível para empréstimos nos bancos, por meio de depósitos compulsórios, limitando, assim, o efeito multiplicador bancário. Quanto maior o depósito compulsório, menos dinheiro sobra para o banco emprestar e menor será o efeito multiplicador bancário e da criação da moeda escritural. O processo de colocação de títulos da dívida pública no mercado financeiro é feito por meio do mercado aberto, mais conhecido como open market. A colocação de títulos no mercado retira moeda de circulação e, portanto, reduz a liquidez da economia. Quanto mais títulos lançados, menor a liquidez (menos dinheiro na economia) e maior a taxa de juros (lei da oferta e da procura). Em sentido contrário, quando o governo recompra seus títulos, injeta 18 Unidade I dinheiro na economia. Quanto mais títulos forem recomprados, mais aumenta a liquidez (mais dinheiro na economia) e menor será a taxa de juros. Entre os instrumentos de política monetária, esse é o que causa efeito mais rapidamente. Quando os bancos comerciais necessitam tomar recursos, podem recorrer ao Banco Central, em uma operação chamada redesconto. A garantia desses empréstimos geralmente é feita por meio de títulos emitidos por instituições financeiras. O Banco Central aceita esses títulos e os desconta a uma taxa pré-fixada, definindo o prazo de liquidação da operação, que é geralmente um dia (overnight). O controle da liquidez da economia por meio desse instrumento ocorre pela alteração das taxas cobradas, dos prazos máximos para liquidação e dos limites máximos (volume de dinheiro) permitidos para redesconto. Também são controlados quais títulos são aceitos como garantia. Quanto mais rígido for o Banco Central nas operações de redesconto, mais reservas os bancos terão que manter em caixa, menos dinheiro estará disponível para emprestar e menor será a criação de moeda escritural. 1.3.1 Taxa Selic Selic é a sigla para Sistema Especial de Liquidação e Custódia, criado em 1979 pelo Banco Central e pela Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto (Anbima) com o objetivo de tornar mais transparente e segura a negociação de títulos públicos. Na década de 1970, a custódia dos títulos públicos no Brasil ainda era feita por processo manual, o que incluía desde o arquivamento por instituição até a movimentação física nos cofres dos bancos, com grande risco de fraude e de extravio dos papéis. Com o sistema Selic, títulos e cheques foram substituídos por simples registros eletrônicos, gerando ganhos em eficiência e agilidade, já que as operações são fechadas no mesmo dia em que se realizam. É interessante distinguir a meta da taxa Selic (Selic Meta), definida pelo Comitê de Política Econômica (Copom), da taxa Selic determinada pela média ponderada das taxas de operações no mercado aberto (Selic Efetiva), entre o Banco Central e as instituições financeiras, ou seja, determinada pela oferta e procura. No Brasil, essa diferença é razoavelmente grande e é denominada spread bancário. O Copom foi instituído em 1996 e é formado pelo presidente do Banco Central, seus diretores e alguns chefes de departamento. Ele é responsável pelo estabelecimento da taxa básica de juros da economia. Nas reuniões do Copom, que ocorrem no mínimo a cada 45 dias, estabelece-se a meta para a taxa Selic. A mesa de operações do Banco Central procura atuar nos leilões do mercado aberto para atingir essa meta. Após a reunião do comitê, publica-se uma ata da reunião. Ela costuma ser lida com atenção pelos diversos agentes econômicos, com o intuito de entender o que foi discutido. Nessa ata, o Copom informa também o viés da taxa. 19 MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS Um viésde alta autoriza o presidente do Banco Central a determinar um aumento da taxa antes da próxima reunião, sem consultar o comitê. Um viés de baixa é o oposto e o viés neutro indica que somente na próxima reunião do Copom a taxa básica de juros da economia será reavaliada. 1.3.2 Spread bancário A palavra spread vem do inglês e significa extensão, largura, envergadura. A palavra é utilizada no mercado financeiro justamente com o sentido de extensão (distância) entre duas taxas de juros. Quando se fala em spread bancário, geralmente refere-se à distância entre a taxa básica e as taxas praticadas pelos bancos. Uma redução ou aumento na taxa básica de juros não implicará automaticamente em um aumento ou redução nas taxas de juros cobradas pelos bancos dos consumidores. Isso porque vários fatores estão envolvidos na determinação do spread bancário além da taxa básica de juros. Além da instabilidade econômica e política em determinados períodos, outros fatores são o percentual de depósitos compulsórios exigidos pelo Banco Central, a carga tributária incidente nos empréstimos, o risco de inadimplência e o grau de concorrência existente no mercado financeiro. O gráfico a seguir exemplifica a relação entre a taxa Selic média e as taxas de juros praticadas no mercado de crédito brasileiro para cheque especial no período entre agosto de 1994 e maio de 2019. Na parte inferior do gráfico, existem duas tabelas comparando as reduções da taxa do cheque especial e respectivo spread no mês de janeiro de 2020 a partir das novas regras do Banco Central para essa modalidade de empréstimo: 330 300 270 240 210 180 150 120 90 60 30 Cheque especial Spread cheque especial Taxa de juros: cheque especial x taxa Selic média Selic média ag o/ 94 m ai /9 5 fe v/ 96 no v/ 96 ag o/ 97 m ai /9 8 fe v/ 99 no v/ 99 ag o/ 00 m ai /0 1 fe v/ 02 no v/ 02 ag o/ 03 m ai /0 4 fe v/ 05 no v/ 05 ag o/ 06 m ai /0 7 fe v/ 08 no v/ 08 ag o/ 09 m ai /1 0 fe v/ 11 no v/ 11 ag o/ 12 m ai /1 3 fe v/ 14 no v/ 14 ag o/ 15 m ai /1 6 fe v/ 17 no v/ 17 ag o/ 18 m ai /1 90 Mês Taxa Spread Var. mês atual Taxa Spread jan/20 165,60 154,41 dez/19 247,57 232,24 -81,97 -77,83 jan/19 267,25 245,16 -101,65 -90,75 Histórico Valor Mês Var. mês atual Maior taxa 330,64 nov/16 -165,04 Menor taxa 136,47 mai/13 29,13 Maior spread 297,29 jan/18 -142,88 Menor spread 67,83 jul/94 86,57 Figura 2 20 Unidade I O gráfico a seguir apresenta a relação entre a taxa Selic média e a taxa do rotativo de cartão de crédito, que continua sendo a mais alta do mercado – com a queda da taxa do cheque especial, ela chega a ser quase o dobro desta. Observa-se que a taxa de juros começou a se distanciar da taxa Selic no período de instabilidade política que culminou com o impedimento da presidente Dilma Roussef, ocorrido entre maio de 2013 e 31 de agosto de 2016, quando atingiu a maior amplitude. 500 450 400 350 300 250 200 150 100 50 Cartão de crédito rotativo Spread cartão rotativo Taxa de juros: cartão de crédito rotativo x taxa Selic média Selic média m ar /1 1 ju n/ 11 se t/1 1 de z/ 11 m ar /1 2 ju n/ 12 se t/1 2 de z/ 12 m ae /1 3 ju n/ 13 se t/1 3 de z/ 13 m ar /1 4 ju n/ 14 se t/1 4 de z/ 14 m ar /1 5 ju n/ 15 se t/1 5 de z/ 15 m ar /1 6 ju n/ 16 se t/1 6 de z/ 16 m ar /1 7 ju n/ 17 se t/1 7 de z/ 17 m ar /1 8 ju n/ 18 se t/1 8 de z/ 18 m ar /1 9 ju n/ 19 se t/1 9 de z/ 19 0 Mês Taxa Spread Var. mês atual Taxa Spread jan/20 316,79 299,22 dez/19 318,75 300,28 -1,96 -1,06 jan/19 287,07 263,79 29,72 35,44 Histórico Valor Mês Var. mês atual Maior taxa 497,73 dez/16 -180,94 Menor taxa 250,18 jan/13 66,61 Maior spread 427,80 jan/17 -128,57 Menor spread 226,91 jan/13 72,31 Figura 3 1.3.3 Taxa CDI ou (DI) A taxa CDI (ou DI) é uma referência muito importante da taxa de juros para o mercado financeiro brasileiro. Ela é amplamente utilizada para, por exemplo, servir como meta de rentabilidade para fundos de renda fixa, referência em outras operações do mercado financeiro, como operações de hotmoney, e para indexar outros tipos de operações financeiras, como o CDB-DI. Desde 1998, a taxa DI é anunciada como taxa efetiva anual. Essa taxa é obtida por meio da média ponderada das operações efetuadas em Certificados de Depósitos Interbancários (CDI). Essas operações são registradas na Central de Custódia e Liquidação Financeira de Títulos (Cetip). Do mesmo modo que ocorre com os títulos públicos no Selic, a Cetip calcula a taxa média ponderada dessas operações realizadas a cada dia e publica a taxa média de depósitos interbancários (DI) do dia anterior. 21 MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS Devido à importância da taxa DI para o mercado financeiro, a Anbima calcula uma prévia da taxa DI, levando em consideração apenas as maiores transações do dia, e as publica no mesmo dia à noite. 1.3.4 Taxa Referencial (TR) A Taxa Referencial (TR) foi criada em 1991 com a intenção de ser uma taxa básica referencial de juros para substituir os Bônus do Tesouro Nacional (BTN), indexador utilizado até então e que havia sido extinto. Essa taxa foi criada para servir como base para reajustes de contratos antigos (em OTN ou BTN), remuneração em cadernetas de poupança e do dinheiro bloqueado pelo Plano Collor e na correção de débitos de impostos, taxas e demais obrigações fiscais. Atualmente ela é utilizada para remunerar cadernetas de poupança, FGTS e títulos da dívida agrária (TDA-E). 1.3.5 Taxa de Longo Prazo (TLP) A Taxa de Longo Prazo (TLP) é a taxa de juros utilizada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nos empréstimos que concede. Como tem foco no apoio à criação e expansão de novos negócios, essa modalidade de cálculo afeta especialmente os empreendedores, incluindo aqui também as pessoas físicas. A TLP é relativamente nova, visto que foi criada em 2018, em substituição à Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP). É considerada uma adequação: enquanto a TJLP, por vezes, possuía uma taxa abaixo da praticada pelos bancos comerciais e da própria taxa Selic (criando um déficit), a TLP promove o nivelamento. Entre outras vantagens da sua implementação, a principal delas diz respeito à desassociação das taxas de juros do BNDES do direcionamento político, ou seja, o uso dela (como poderia acontecer no TJLP) com outros interesses que não a sustentabilidade financeira da instituição e os objetivos que ela promove (TAXAS..., [s.d.]). 1.3.6 Composição das taxas de juros A composição das taxas de juros obedece o esquema a seguir: In ce rt ez a no re to rn o do c ap ita l i nv es tid o Taxa de juros Taxa real Taxa livre de risco Taxa nominal Taxa de risco Inflação Figura 4 22 Unidade I O gráfico apresenta a função que determina as taxas de juros. Quanto maior a incerteza no retorno do capital investido, maior é a taxa de juros. A incerteza no retorno do capital investido depende de muitos fatores na composição do spread bancário. A taxa nominal é composta pela taxa de risco somada à taxa livre de risco (spread bancário) e inclui, ainda, a inflação no período. Para conhecermos a taxa real do investimento ou do financiamento, precisamos descontar a inflação do período. 1.4 Inflação, deflação, estagflação e índices Inflação, em uma definição informal, é o aumento generalizado de preços em uma economia, que provoca a redução do poder aquisitivo da moeda. Deflação, por sua vez, seria o contrário, uma redução generalizada de preços na economia. Em geral, inflação alta está ligada a crescimento alto. Quando as coisas vão bem, as pessoas consomem mais e, se a oferta não acompanha o crescimento da demanda, há espaço para o aumento de preços, gerando inflação. Crescimento alto é algo desejável, mas inflação alta, não. Para lidar com esses dois objetivos conflitantes (controlar a inflação e estimular crescimento) o Brasil adota, desde 1999, o sistema demetas de inflação e garante autonomia ao Banco Central para combater apenas a inflação, ainda que isso possa significar sacrifício ao crescimento econômico. Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o termo inflação passou a ser amplamente empregado como sinônimo de enormes aumentos de preços e da base monetária nos países da Europa, principalmente Alemanha, Áustria e Rússia. Até a década de 1930, a inflação geralmente era definida como um aumento anormal na oferta de dinheiro sem um correspondente aumento na oferta de bens e serviços. Após os estudos de John Maynard Keynes, entretanto, os economistas passaram a dar menos ênfase à quantidade de dinheiro como principal determinante dos preços e do consumo total. O consumo corrente passou a ser considerado mais como uma função da renda, e, assim, o foco da definição de inflação passou para o aumento de preços. A consequência direta da definição de inflação como um aumento no nível geral de preços e da deflação como uma redução foi definir um índice de preços (ou média ponderada de preços individuais) que sirva para medir a variável inflação. Porém, os diversos preços individuais em uma economia variam diferentemente. Desse modo, qualquer índice de preços fornecerá apenas uma tendência central das variações dos diversos preços individuais da economia. Como o nome indica, estagflação combina estagnação econômica com a inflação. A estagflação na economia corresponde a uma situação de recessão econômica, com a diminuição do nível de emprego. Essa situação se caracteriza pela ausência de instrumentos da política econômica que regulem a economia. Diz-se que um país está em estagflação quando registra uma estagnação no desenvolvimento econômico seguida de inflação persistente. 23 MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS Esse termo surgiu na década de 1970 para descrever a crise econômica mundial. As suas causas estavam no superaquecimento das economias dos países desenvolvidos, com a explosão da procura por bens e serviços, mas com a diminuição da oferta, por conta das limitações colocadas pelos países produtores de petróleo e, consequentemente, pela diminuição de atividades em setores dependentes do petróleo. Isso levou a um aumento de desemprego e depreciação das moedas (ESTAGFLAÇÃO..., 2016). 1.4.1 Índices de inflação (indexadores) Existem vários índices de preços no mercado brasileiro, apurados por diversas entidades. Embora todos busquem medir a inflação, cada índice tem um objetivo, calculado de acordo com sua metodologia própria. O gráfico a seguir apresenta a evolução da inflação calculada pelos Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ao longos dos últimos 25 anos, no período de agosto de 1995 a agosto de 2019: IGP-M Evolução IGP-M e IPCA - janela de 12 meses Variação do IPCA para fev/20 baseada na expectativa média apurada pelo Comitê de Acompanhamento Macroeconômico ANBIMA IPCA ag o/ 95 ag o/ 98 ag o/ 01 ag o/ 04 ag o/ 07 ag o/ 10 ag o/ 13 ag o/ 16 ag o/ 19 m ai /9 6 m ai /9 9 m ai /0 2 m ai /0 5 m ai /0 8 m ai /1 1 m ai /1 4 m ai /1 7 fe v/ 97 fe v/ 00 fe v/ 03 fe v/ 06 fe v/ 09 fe v/ 12 fe v/ 15 fe v/ 18 no v/ 97 no v/ 00 no v/ 03 no v/ 06 no v/ 09 no v/ 12 no v/ 15 no v/ 18 IPCA IGP-M fev/20 3,90% 6,82% há um mês 4,19% 7,81% há um ano 3,89% 7,60% IPCA IGP-M Variação Mês Variação Mês Maior variação 26,36% ago/95 32,97% abr/03 Menor variação 1,65% jan/99 -1,72% dez/09 33% 30% 27% 24% 21% 18% 15% 12% 9% 6% 3% 0% -3% Figura 5 O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido mensalmente pelo IBGE, foi criado com o objetivo de oferecer a variação dos preços no comércio para o público final. O IPCA é considerado o índice oficial de inflação do país. 24 Unidade I Outro índice importante é o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), divulgado pela Fundação Getúlio Vargas. Esse índice foi concebido para equalizar correções de alguns títulos do governo. Atualmente, é utilizado para correções de tarifas de energia elétrica e contratos. Saiba mais A reportagem a seguir traz um detalhamento das aplicações do IGP-M, especialmente sobre contratos: IGP-M: o que é e como funciona o IGPM acumulado. Toro Investimentos, [s.d.]. Disponível em: https://artigos.toroinvestimentos.com.br/igpm-o-que- e-indice-acumulado. Acesso em: 13 abr. 2020. 2 SISTEMA FINANCEIRO BRASILEIRO (SFB) O Sistema Financeiro Nacional (SFN), também denominado Sistema Financeiro Brasileiro (SFB), é o ambiente que agrega todas as instituições que viabilizam a intermediação financeira no país. Mas o que é intermediação financeira? De acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA, [s.d.]a), a intermediação financeira é a atividade que consiste em transferir recursos de agentes superavitários para os agentes deficitários. Agentes superavitários são pessoas, empresas, instituições de modo geral, que possuem dinheiro, porém pretendem guardar para gastar no futuro. Assim, eles emprestam esse dinheiro e cobram juros, aumentando seus recursos. Poderão gastar, no futuro, quando recebem de volta o dinheiro com os juros. Já os agentes deficitários (a maioria da população) são aquelas pessoas, empresas ou organizações que não têm dinheiro, porém querem gastar agora e não se importam de pagar mais por isso, porém no futuro. Assim, eles tomam dinheiro emprestado para pagar no futuro o valor que tomaram emprestado mais os juros. Intermediação financeira Agentes superavitários Recebem juros Pagam juros Poupadores Investidores Depositam R$ Tomadores Emprestadores Recebem R$ Instituições financeiras Agentes deficitários Figura 6 25 MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS A intermediação financeira ocorre quando as instituições financeiras tomam dinheiro emprestado dos agentes superavitários, ou seja, poupadores ou investidores, mediante a promessa de pagar juros após um determinado tempo e, por outro lado, elas emprestam esse dinheiro para os agentes deficitários, cobrando juros. Se a taxa de juros que as instituições financeiras oferecem aos investidores for igual à taxa de juros que elas cobrarem dos tomadores de empréstimos, a instituição financeira não ganha nada pelo serviço de intermediação. Assim, as taxas cobradas dos emprestadores é sempre maior que as taxas oferecidas aos investidores, criando assim, o spread bancário, cuja finalidade é gerar dinheiro para as instituições financeiras. É a remuneração que elas recebem pelo serviço prestado. Mas e se o tomador do dinheiro não pagar conforme o combinado? Pode acontecer; porém, as instituições financeiras possuem instrumentos que as permitem emprestar dinheiro reduzindo o risco envolvido. Elas fazem uma avaliação do cliente antes de emprestar. Quanto maior o nível de inadimplência avaliado pelo banco, maior o juro que o tomador de empréstimo terá de pagar (ANBIMA, [s.d.]a). 2.1 Mercados financeiros Kerr (2011) escreve que o mercado financeiro costuma ser dividido em segmentos, apenas por questões didáticas, pois na prática muitas vezes esses segmentos se confundem. Alguns autores dividem o mercado financeiro em dois únicos segmentos, de acordo com o prazo das operações: mercado de crédito e mercado de capitais. Outros autores ampliam essa segmentação e dividem o mercado financeiro em quatro mercados, como veremos a seguir. 2.1.1 Mercado monetário É o mercado onde se concentram as operações para controle da oferta de moeda e das taxas de juros de curto prazo com vistas a garantir a liquidez da economia. O Banco Central do Brasil atua nesse mercado praticando a chamada política monetária. O controle da liquidez da economia pode ser efetuado pela venda ou recompra de títulos públicos, como Letras do Tesouro Nacional (LTN), por exemplo. No mercado monetário, também são negociados títulos privados emitidos por bancos e por empresas. Os mais importantes são os Certificados de Depósito Interbancários(CDI), negociados exclusivamente entre instituições financeiras, e os Certificados de Depósito Bancário (CDB), que são vendidos ao público em geral. As empresas, por sua vez, emitem debêntures e commercial papers (notas promissórias). 2.1.2 Mercado de crédito Atuam nesse mercado diversas instituições financeiras e não financeiras, prestando serviços de intermediação de recursos de curto e médio prazo para tomadores que necessitam de recursos para consumo ou capital de giro. O Banco Central do Brasil (Bacen) é o principal órgão responsável pelo controle, normatização e fiscalização desse mercado. 26 Unidade I Nele, as instituições financeiras podem atuar na intermediação de forma direta ou indireta. Quando atua de forma direta, a instituição recebe recursos de investidores (poupadores ou agentes superavitários), assumindo a obrigação de devolver, ao investidor, o montante investido (capital inicial acrescido de juros). A instituição fica devedora dos recursos captados (posição passiva). De posse desses recursos, a instituição realiza empréstimos e financiamentos a tomadores de crédito (agentes deficitários). A instituição fica credora dos recursos emprestados (posição ativa). Os juros cobrados pelo banco na posição ativa são mais altos do que os pagos na posição passiva, cuja diferença de taxas é denominado spread. Na intermediação indireta, as instituições atuam apenas como intermediários, cobrando uma comissão pelos serviços. 2.1.3 Mercado de capitais Tem como objetivo canalizar recursos de médio e longo prazo para agentes deficitários, através das operações de compra e de venda de títulos e valores mobiliários, efetuadas entre empresas, investidores e intermediários. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é o principal órgão responsável pelo controle, normatização e fiscalização desse mercado. 2.1.4 Mercado de câmbio Esse mercado é aquele onde são negociadas as trocas de moedas estrangeiras por reais (R$). O Banco Central do Brasil é o responsável pela administração, fiscalização e controle das operações de câmbio e da taxa de câmbio atuando através de sua política cambial. 2.2 Formação do Sistema Financeiro Brasileiro O SFB é um dos mais avançados do mundo, e sua solidez se deve a uma gestão macroeconômica comprometida com a estabilidade. A formação do Sistema Financeiro Brasileiro começou em 1808, por meio da fundação da primeira instituição financeira nacional, o Banco do Brasil, uma das poucas instituições da espécie no mundo, naquela época, ao lado do Riksbank, da Suécia (1694), e do Banco de França (1800). Nas décadas de 1950, 1960 e 1970, novas instituições e estruturas de regulação foram criadas, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), hoje entre as maiores agências de fomento do mundo, e o Sistema Financeiro de Habitação (SFH), dedicado a financiamentos imobiliários. Também foram instituídos o Conselho Monetário Nacional (CMN), órgão federal superior responsável pela fixação das diretrizes da política monetária brasileira, o Banco Central, encarregado da execução das políticas monetárias e da regulação e supervisão do sistema financeiro, e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), dedicada à regulação e supervisão do mercado de valores mobiliários. 27 MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS A estrutura do SFN pode ser classificada em três subsistemas. O primeiro é o subsistema normativo, que estabelece as normas do sistema financeiro e fiscaliza suas aplicações. O segundo é o subsistema supervisor, composto por entidades que supervisionam o cumprimento das normas. O terceiro é o subsistema operador, que concentra todas as instituições que fazem a intermediação financeira entre os agentes superavitários e os agentes deficitários. O esquema a seguir ilustra como as instituições normativas, supervisoras e operadoras se relacionam. Na sequência, apresentaremos uma breve descrição de cada uma dessas instituições, iniciando pelos órgãos normativos e, posteriormente, apresentaremos as entidades supervisoras. Por fim, faremos uma breve descrição das principais instituições operadoras, classificando-as em instituições bancárias, não bancárias e acessórias. Composição e seguimento do Sistema Financeiro Nacional CMN Conselho Monetário Nacional BCB Banco Central do Brasil CVM Comissão de Valores Mobiliários Susep Superintendência de Seguros Privados Previc Superintendência Nacional de Previdência Complementar Bancos e caixas econômicas Administradoras de consórcios Bolsa de Valores Seguradoras e resseguradores Entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão) Cooperativas de crédito Instituições de pagamento** Demais instituições não bancárias * Dependendo de suas atividades corretoras e distribuidoras também são fiscalizadas pela CVM. ** As instituições de pagamento não compõem o SFN, mas são reguladas e fiscalizadas pelo BCB, conforme diretrizes estabelecidas pelo CMN. Sociedades de capitalização Corretoras e distribuidoras* Entidades abertas de previdência Bolsa de mercadorias e futuros CNSP Conselho Nacional de Seguros Privados CNPC Conselho Nacional de Previdência Complementar Moeda, crédito, capitais e câmbio Seguros privados Op er ad or es Su pe rv is or es Ó rg ão s no rm at iv os Previdência fechada Figura 7 28 Unidade I 2.2.1 Conselho Monetário Nacional (CMN) O Conselho Monetário Nacional (CMN) é o órgão normativo mais importante do Sistema Financeiro Nacional e tem a responsabilidade de formular as políticas monetárias, cambial e de crédito, objetivando a estabilidade da moeda e o desenvolvimento econômico e social do país. Foi criado pela Lei n. 4.595, de 31 de dezembro de 1964. Ao CMN compete: • estabelecer as diretrizes gerais das políticas monetária, cambial e creditícia; • regular as condições de constituição, funcionamento e fiscalização das instituições financeiras; • disciplinar os instrumentos de política monetária e cambial. Tradicionalmente, o Conselho Monetário Nacional era composto por apenas três integrantes: o ministro da Fazenda, que ocupa o lugar de presidente do CMN; o presidente do Bacen; e o ministro do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. É importante notar que, em 2019, houve uma reorganização nos ministérios. Com isso, a composição do CMN passou a ser: ministro da Economia, presidente do Bacen, secretário especial de Fazenda (ANBIMA, [s.d.]b). Observação No governo de 2019 a 2022, o nome do cargo ministro da Fazenda foi trocado para ministro da Economia e acumulou outros ministérios. Os objetivos do CMN são os seguintes: • adaptar o volume dos meios de pagamento às reais necessidades da economia nacional e seu processo de desenvolvimento; • regular o valor interno da moeda, corrigindo ou prevenindo os surtos inflacionários ou deflacionários, de ordem interna ou externa; • regular o valor externo da moeda e o equilíbrio no balanço de pagamentos do país, tendo em vista a melhor utilização dos recursos em moeda estrangeira; • orientar a aplicação de recursos das instituições financeiras, públicas ou privadas, visando proporcionar, nas diversas regiões do país, condições favoráveis ao desenvolvimento harmônico da economia nacional; • propiciar o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos financeiros com a finalidade de aumentar a eficiência do sistema de pagamentos e mobilização de recursos; 29 MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS • zelar pela liquidez e solvência das instituições financeiras; • coordenar as políticas monetária, de crédito, orçamentária, fiscal e das dívidas públicas, interna e externa (KERR, 2011, p. 15). 2.2.2 Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) O Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) é o órgão responsável por fixar as diretrizes e normas da política de seguros privados, operacionalizadas pelos setores de seguros, resseguros, previdência complementar aberta e capitalização. O conselho é composto por representantesdo Ministério da Fazenda (presidente), do Ministério da Justiça, do Ministério da Previdência e Assistência Social, da Superintendência de Seguros Privados, do Banco Central do Brasil e da Comissão de Valores Mobiliários. A Secretaria de Política Econômica (SPE) tem como uma de suas funções assessorar o representante do Ministério da Fazenda no Conselho Nacional de Seguros Privados (BRASIL, [s.d.]). 2.2.3 Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC) O Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC) tem como função regular o regime de previdência complementar, cuja operação é executada pelas entidades de previdência complementar. O CNPC é constituído atualmente pelo ministro da Economia, atuando como Presidente do Conselho e pelo superintendente da Susep, como presidente substituto. Suas atribuições são as seguintes: • fixar diretrizes e normas da política de seguros privados; • regular a constituição, organização, funcionamento e fiscalização dos que exercem atividades subordinadas ao Sistema Nacional de Seguros Privados, bem como a aplicação das penalidades previstas; • fixar as características gerais dos contratos de seguro, previdência privada aberta, capitalização e resseguro; • estabelecer as diretrizes gerais das operações de resseguro; • conhecer dos recursos de decisão da Susep e do IRB; • prescrever os critérios de constituição das sociedades seguradoras, de capitalização, entidades de previdência privada aberta e resseguradores, com fixação dos limites legais e técnicos das respectivas operações; • disciplinar a corretagem do mercado e a profissão de corretor (BRASIL, [s.d.]). 30 Unidade I 2.2.4 Banco Central do Brasil (BC ou Bacen) O Banco Central do Brasil é o órgão executor das políticas do Sistema Financeiro Nacional. Foi criado pela Lei n. 4.595, de 31 de dezembro de 1964. É o principal executor das orientações do Conselho Monetário Nacional (CMN) e responsável por garantir o poder de compra da moeda nacional (KERR, 2011). O objetivos do Banco Central do Brasil são os seguintes: • zelar pela adequada liquidez da economia; • manter as reservas internacionais em nível adequado; • estimular a formação de poupança; • zelar pela estabilidade e promover o permanente aperfeiçoamento do sistema financeiro. 2.2.5 Comissão de Valores Mobiliários (CVM) A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é o órgão normativo responsável pelo desenvolvimento, disciplina e fiscalização do mercado de valores mobiliários. Sua principal atribuição é a fiscalização da emissão e negociação de títulos emitidos pelas sociedades por ações de capital aberto, para que as bolsas de valores funcionem de acordo com os princípios éticos e legais. A CVM é um órgão colegiado composto de um presidente e quatro diretores, nomeados pelo presidente da República. Tem como principais funções: • assegurar o funcionamento eficiente e regular dos mercados de bolsa e de balcão; • proteger os titulares de valores mobiliários; • evitar ou coibir modalidades de fraude ou manipulação no mercado; • assegurar o acesso do público a informações sobre valores mobiliários negociados e sobre as companhias que os tenham emitido; • assegurar a observância de práticas comerciais equitativas no mercado de valores mobiliários; • estimular a formação de poupança e sua aplicação em valores mobiliários; • promover a expansão e o funcionamento eficiente e regular do mercado de ações e estimular aplicações permanentes em ações do capital social das companhias abertas (KERR, 2011). 31 MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS 2.2.6 Superintendência de Seguros Privados (Susep) A Superintendência de Seguros Privados (Susep) é o órgão responsável pelo controle e fiscalização dos mercados de seguro, previdência privada aberta, capitalização e resseguro. É uma autarquia vinculada ao Ministério da Economia e foi criada pelo Decreto-lei n. 73, de 21 de novembro de 1966. Tem como missão desenvolver os mercados supervisionados, assegurando sua estabilidade e os direitos do consumidor. A Susep está constituída por representantes do Ministério da Justiça, do Ministério da Previdência e Assistência Social, do Banco Central do Brasil e da Comissão de Valores Mobiliários. Tem como atribuições: • fiscalizar a constituição, organização, funcionamento e operação das sociedades seguradoras, de capitalização, entidades de previdência privada aberta e resseguradores, na qualidade de executora da política traçada pelo CNSP; • atuar no sentido de proteger a captação de poupança popular que se efetua através das operações de seguro, previdência privada aberta, de capitalização e resseguro; • zelar pela defesa dos interesses dos consumidores dos mercados supervisionados; • proporcionar o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos operacionais a eles vinculados, com vistas à maior eficiência do Sistema Nacional de Seguros Privados e do Sistema Nacional de Capitalização; • promover a estabilidade dos mercados sob sua jurisdição, assegurando sua expansão e o funcionamento das entidades que neles operem; • zelar pela liquidez e solvência das sociedades que integram o mercado; • disciplinar e acompanhar os investimentos daquelas entidades, em especial os efetuados em bens garantidores de provisões técnicas; • cumprir e fazer cumprir as deliberações do CNSP e exercer as atividades que por este forem delegadas; • prover os serviços de Secretaria Executiva do CNSP (SUPERINTENDÊNCIA DE SEGUROS PRIVADOS, [s.d.]). 2.2.7 Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) A Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) é uma autarquia de natureza especial, dotada de autonomia administrativa e financeira e patrimônio próprio, vinculada ao Ministério da Economia, com sede e foro no Distrito Federal (DF), tendo atuação em todo o território nacional. Sua missão é fiscalizar e supervisionar as atividades das entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão) e executar as políticas para o regime de previdência complementar. 32 Unidade I A Previc, de acordo com o Decreto n. 8.992, de 20 de fevereiro de 2017, é dirigida por uma Diretoria Colegiada, composta por: diretor-superintendente, diretor de administração, diretor de licenciamento, diretor de fiscalização e monitoramento e diretor de orientação técnica e normas. Possui ainda, em sua estrutura, gabinete, assessoria de comunicação social e parlamentar, coordenação-geral de suporte à diretoria colegiada, ouvidoria, coordenação-geral de inteligência e gestão de riscos, coordenação-geral de gestão estratégica e inovação institucional, corregedoria, auditoria interna, procuradoria federal, além de cinco escritórios de representação em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco e Rio Grande do Sul (SUPERINTENDÊNCIA NACIONAL DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR, [s.d.]). 2.3 Entidades de apoio ao Sistema Financeiro Brasileiro Além das instituições apresentadas, existem três instituições criadas com finalidade social: Banco do Brasil (BB), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Caixa Econômica Federal (CEF). O principal objetivo dessas entidades seria atuar nos mercados financeiros, promovendo o desenvolvimento econômico, por meio de financiamentos subsidiados e outras atividades de natureza social. Entretanto, elas foram perdendo sua função social ao longo do tempo, como veremos a seguir. 2.3.1 Banco do Brasil (BB) O Banco do Brasil é uma instituição financeira brasileira, atualmente constituída na forma de sociedade por ações, em que a União Federal participa com 50% das ações; 0,49% são ações em tesouraria e as demais ações, totalizando 49,51%, são negociadas nas bolsas de valores Brasil e Estados Unidos, sendo 23,91% de capital brasileiro e 25,6% de capital estrangeiro. Sua criação ocorreu em 1808, ano em que a família real portuguesa veio ao Brasil. Após muitas fusões com outras instituições e mudanças na sua orientação, ocorreu sua consolidação por meio daLei n. 4.595, de dezembro de 1964 (a Lei da Reforma Bancária), que marcou o início de um processo de transformação dos diversos papéis até então desempenhados pelo Banco do Brasil enquanto instituição financeira e partícipe na formulação e execução da política financeira e creditícia do governo. Essa legislação criou o Banco Central (BC), transferindo-lhe aquelas funções que lhe são típicas, antes em parte exercidas pelo BB. O modelo institucional definido para o Banco do Brasil conservou a sua natureza mista de banco de governo e banco comercial. Atuou como um banco de governo por realizar volumosas operações lastreadas em recursos supridos por ordem e conta do Tesouro. Continuou com a função de agente financeiro do Tesouro, além de desempenhar diversas tarefas, como administração do sistema de compensação de cheques e suprimento de numerário para o sistema bancário – estas por delegação do Banco Central –, administração do comércio exterior brasileiro, via Carteira do Comércio Exterior (Cacex), e gestor de diversos fundos e programas oficiais. Executou, também, operações típicas de banco comercial, mas mesmo nestas operou sob forte influência das políticas governamentais, dada a visão de um banco voltado ao financiamento do desenvolvimento do país. Concentrou sua atuação no financiamento de atividades produtivas, especialmente no setor agropecuário, e estendeu sua rede de agências preferencialmente pelo interior do país. 33 MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS 2.3.2 Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) foi criado em 1952, com o objetivo de formular e executar a política nacional de desenvolvimento econômico. Investiu muito em infraestrutura, mas a criação de estatais, aos poucos, liberou o banco para investir mais na iniciativa privada e na indústria. Durante a década de 1960, o setor agropecuário e as pequenas e médias empresas passaram a contar com linhas de financiamento do BNDE. Em 1964, o Banco já descentralizava suas operações, por meio da abertura de escritórios regionais em São Paulo, Recife e Brasília. Passou, ainda, a operar em parceria com uma rede de agentes financeiros espalhados por todo o Brasil. O BNDE se tornou uma empresa pública em 1971, possibilitando maior flexibilidade na contratação de pessoal, bem como uma maior liberdade nas operações de captação e aplicação de recursos, com menos interferência política. Na década de 1970, o BNDE foi fundamental na política de substituição de importações. Os setores de bens de capital e insumos básicos passaram a receber mais investimentos, contribuindo para a consolidação, no Brasil, do maior parque industrial da América Latina. Começaram os investimentos em segmentos ainda incipientes, como a informática e a microeletrônica. Em 1974, o banco estabeleceu três subsidiárias para atuar no mercado de capitais, de modo a ampliar as formas de capitalização das empresas brasileiras. Elas se fundiriam, em 1982, na BNDESPar. O início dos anos 1980 foi marcado pela integração das preocupações sociais à política de desenvolvimento. A mudança se refletiu no nome do banco, que, em 1982, passou a se chamar Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Durante a década de 1980, o conceito da integração competitiva se fortaleceu, por meio da expansão do mercado interno e, ao mesmo tempo, o incentivo às exportações, mediante um programa específico, criado em 1983. Ainda na década de 1980, o BNDES passou a utilizar o planejamento estratégico, com a finalidade de efetuar análises e formulação de políticas públicas com foco social. Nos anos 1990, o BNDES teve papel importante na privatização das grandes estatais brasileiras. O banco foi o órgão responsável pelo suporte administrativo, financeiro e técnico do Programa Nacional de Desestatização, iniciado em 1991. Em 1993, o BNDES iniciou a atuação em novos campos, com estímulo à descentralização regional, com o incremento dos investimentos em projetos nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. O programa de exportações passou a incluir as micro, pequenas e médias empresas. O setor de comércio e serviços começou a receber investimentos do banco, e a preocupação com o meio ambiente ganhou força, com a classificação do risco ambiental dos projetos. A área social também deu início ao programa de microcrédito. 34 Unidade I Em 1995, o banco ampliou sua atuação com apoio ao setor cultural, com investimentos na produção de filmes e na preservação do patrimônio histórico e artístico nacional. A partir de 2006, o BNDES passou a investir na economia da cultura, com financiamentos para todas as etapas de sua cadeia produtiva (BNDES, [s.d.]). 2.3.3 Caixa Econômica Federal (CEF) A Caixa Econômica Federal (CEF) foi fundada em 1861 pelo imperador dom Pedro II. Desde então, a Caixa caminha lado a lado com a trajetória do país, acompanhando seu crescimento e o de sua população. Em 1931, iniciou a oferta de operações de empréstimo por consignação para pessoas físicas; três anos depois, por determinação do Governo Federal, assumiu a exclusividade dos empréstimos sob penhor, o que extinguiu as casas de prego operadas por particulares. No dia 1º de junho do mesmo ano, foi assinada a primeira hipoteca para a aquisição de imóveis da Caixa do Rio de Janeiro. A CEF incorporou o Banco Nacional de Habitação (BNH) em 1986 e assumiu definitivamente a condição de maior agente nacional de financiamento da casa própria e de importante financiadora do desenvolvimento urbano, especialmente do saneamento básico. No mesmo ano, com a extinção do BNH, tornou-se o principal agente do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), administradora do FGTS e de outros fundos do Sistema Financeiro de Habitação (SFH). Quatro anos depois, em 1990, iniciou ações para centralizar todas as contas vinculadas do FGTS, que, à época, eram administradas por mais de 70 instituições bancárias. Seus principais produtos são caderneta de poupança, empréstimos, gestão do FGTS, do Programa de Integração Social (PIS), do Seguro-Desemprego, do crédito educativo e do financiamento habitacional e transferência de benefícios sociais e das Loterias Federais, das quais detém o monopólio desde 1961 (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, [s.d.]). 2.4 Ministro da Fazenda e presidente do Banco Central Castro (2016) escreve que os dois cargos públicos mais importantes do SFN são o do ministro da Fazenda e do presidente do Banco Central. O ministro da Fazenda é quem cuida de toda a receita do Governo Federal e organiza a maneira como o dinheiro é gasto. Em última instância, é o ministro da Fazenda que libera as verbas para os outros ministérios e para os governos estaduais e municipais e também quem faz o pagamento de emendas parlamentares. As conversas com empresários e investidores sobre impostos e desonerações, a proposição de medidas e sua negociação com o Congresso, a formulação de planos econômicos, entre outros, fazem parte do trabalho. Todo esse processo envolve negociação, seja com o Congresso, governadores, prefeitos, empresários ou com outros ministros. A política está no dia a dia do cargo, e seu ocupante responde diretamente ao presidente da República. As funções do ministro da Fazenda são auxiliar o presidente da República e administrar as contas do governo. É um cargo técnico e político. 35 MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS O presidente do Banco Central é o responsável por zelar pela solidez do sistema bancário do país e pela condução das políticas monetária, cambial, de crédito e de relações financeiras com o exterior. Quando se fala de política monetária, o principal instrumento que o BC tem para cumprir seu maior objetivo – que é o combate à inflação – é a decisão sobre a taxa básica de juros da economia, a taxa Selic. O presidente do Banco Central tem autonomia operacional. Isso significa que, apesar de ser nomeado e demitido pelo presidente da República, não deve aceitar ingerências
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