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ALÉM DO APARENTE Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Elaborado por Sônia Magalhães Bibliotecária CRB9/1191 Guedes, Olinda G924Além do aparente : um livro sobre constelações familiares / Olinda Guedes. ² ¹⁵ – 1. ed. – Curitiba, 2015. ²⁴ p. ; ²¹ cm Inclui bibliografias ISBN 978-85-8192-650-6 1. Psicologia. 2. Relações humanas. I. Título. CDD 20. ed. – 150 Editora e Livraria Appris Ltda. Rua General Aristides Athayde Jr., 1027 – Bigorrilho Curitiba/PR – CEP: 80710-520 Tel: (41) 3156-4731 - (41) 3030-4570 http://www.editoraappris.com.br/ Printed in Brazil Impresso no Brasil Olinda Guedes ALÉM DO APARENTE - um livro sobre Constelações Familiares - Curitiba - PR 2015 Editora Appris Ltda. 1a Edição - Copyright© 2015 dos autores Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda. Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei n° 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis n°s 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010. FICHA TÉCNICA EDITORIAL Sara C. de Andrade Coelho Augusto V. de A. Coelho ASSESSORIA EDITORIAL Camila Dias Manoel COMITÊ EDITORIAL Edmeire C. Pereira - Ad hoc. Iraneide da Silva - Ad hoc. Jacques de Lima Ferreira - Ad hoc. Marli Caetano - Análise Editorial DIREÇÃO - ARTE E PRODUÇÃOAdriana Polyanna V. R. da Cruz DIAGRAMAÇÃO Adriana Polyanna V. R. da Cruz WEBDESIGN Carlos Eduardo H. Pereira GERENTE COMERCIAL Eliane de Andrade LIVRARIAS E EVENTOS Dayane Carneiro | Estevão Misael ADMINISTRATIVO Selma Maria Fernandes do Valle Autora: Olinda Roseli Pereira Guedes Fotografia: Eduarda Albuquerque e Olinda Guedes Caligrafia capa (modelo): Noili Grigoletti Revisão, organização de texto, correção ortográfica e palpites: Susy Guedes Tradução: Agnes Vercauteren Lorena Kim Richter e Renate Christina Becker Studio: Chácara Colibri – Serra da Graciosa - Piraquara - PR Retaguarda: Cizinho Pereira Guedes Capa: Juliane Turcovic Guedes Textos dos ditados e transcrições de áudios e vídeos: Alaídes Tortato Zanoni Jania Salvadore Juciene de Souza Keila Tavares Okuda Marinez da Silva Amatti Regina Almeida Sandra de Fátima Brantes Zulmira Theis Martins Contribuições (capítulos adicionais): Regis Teixeira Coelho e Ruud Knaapen Filmagens: Elmo Macedo Brugnolo, Jefferson Luiz Barbosa, Marinez da Silva Amatti, Sandra Regina Zawadzki Depoimentos: alunos do curso de Formação em Constelações Familiares IMAGEM DA CAPA: Tela: “Primeiros Passos” - 1890 Vincent Willem van Gogh 30 de Março de 1853 - 29 de Julho de 1890 Vincent van Gogh fez 21 cópias deste desenho originalmente produzido por Jean-François Millet (1814 – 1875), pintor francês da escola realista. Encontrava-se internado voluntariamente em um manicômio e resolveu “treinar” uma interpretação, ou melhor, “uma improvisação” da obra do artista que tanto admirava, da mesma forma - dizia numa carta a seu irmão Theodore van Gogh - que os músicos eruditos desenvolviam uma execução própria de uma composição clássica.¹ Porque Van Gogh representa o amor dos sistemas. O quanto as crianças amam os seus pais, seus irmãos. O amor dos irmãos. O quanto as crianças amam. Vincent, sua vida não foi em vão; o amor nunca é em vão. 1 Fonte: http://blog.humanarte.net/2014/10/arte-inconsciente-5-van-gogh.html. Acesso: 10/03/2015. O TÍTULO Inspirado na obra de Nilton Bonder – “O Segredo Judaico da Resolução de Problemas”, Imago, 1995. Ao longo da história, o povo judeu experimentou inúmeras situações de ameaça à sobrevivência, tanto do ponto de vista individual como coletivo. A soma das experiências acumuladas em séculos de ensinamentos, resultou em uma visão única do mundo, batizada de Ídiche Kop, ou “cabeça de judeu”. De acordo com essa tradição, em que a pergunta é tão importante quanto a resposta, pensar é preciso. As reviravoltas da realidade dependem do raciocínio e da percepção acurada, não apenas da fé. Por meio de parábolas e pequenos contos, o rabino Nilton Bonder decodifica a perspicácia do povo judeu em quatro diferentes dimensões: “o aparente do aparente”, o “oculto do aparente”, “o aparente de oculto” e “o oculto do oculto”. Estes temas se cruzam e mantém um equilíbrio controverso: O tolo prevalece sobre o sábio, e o silêncio sobre a resposta. Marcada pelo otimismo, a obra surpreende pela fluidez com que maneja temas complexos, tornando-os acessíveis ao grande público sem, no entanto, perder em profundidade. Pode parecer indecifrável, mas são apenas os diferentes graus de apresentação de um problema. Assim nasce: “Além do Aparente” – um livro sobre Constelações Familiares “Agora que vocês sabem estas coisas, felizes serão se as praticarem.” João 13:17 Para aqueles que oram. Para todos aqueles que nos abençoam com milagres “A alegria é um pássaro que só vem quando quer. Ela é livre. O máximo que podemos fazer é quebrar todas as gaiolas e cantar uma canção de amor, na esperança de que ela nos ouça. Oração é o nome que se dá a esta canção para invocar a alegria.” Rubem Alves Die Früchte können wir nur genießen ‚wenn es die Bäume gibt. Bert Hellinger, wegen Ihrer Arbeit, Ihrem Mut, Ihrer Achtung und Präsenz, wegen Ihrem Ja-sagen ‚wegen all dem ist dieses Werk. Sophie Hellinger, Ihre Präzens bereichert uns. In Dankbarkeit! Só podemos saborear os frutos se existirem as árvores. Bert Hellinger, por causa de seu trabalho, coragem, atenção e presença, por dizer sim, por tudo, esta obra é. Sophie Hellinger, por mais. Gratidão! GRATITUDE Ao lidar com o sofrimento causado por um elemento estranho dentro da sua concha, a ostra produz uma substância que envolve esse elemento e o transforma numa pérola. Bonita metáfora a indicar as possíveis escolhas que podemos fazer pela vida afora. Este livro é fruto do cultivo dedicado e persistente, das horas de estudos, observações e pesquisas em uma jornada de três décadas de leituras e escutas atentas das histórias de vida que me contam – conchas que se abrem para mostrar suas pérolas. DEDICO esta obra aos meus queridos alunos, estudantes e apaixonados pela vida. Já sabem que o conhecimento liberta e que, com sabedoria, é possível ser mais feliz e usufruir da liberdade suficiente que o destino nos reserva. Com vocês construímos outro recorde, um milagre: antes mesmo de este livro existir, vocês já haviam adquirido mil exemplares. Ah! Orgulho do meu coração. As turmas cheias, vocês chegando, todas as almofadas ocupadas, é o presente que sempre pedi a Deus: que eu pudesse sempre honrar o talento que d’Ele recebi, colocando-o a serviço da humanidade, a serviço da vida. Para Ele, meu coração inteiramente grato! De vocês recebo tantos presentes. Este livro também é um presente. De você, Keila Okuda Tavares, recebi um e-mail no mês de julho de 2013, onde estavam todos os “ditados” da exposição oral dialogada, reflexões feitas durante a Formação em Constelações Familiares que realizou. Por isto sou tão orgulhosa de vocês, estudantes amados. Sempre sou surpreendida com tantos presentes. Por sua causa, Keila, esta obra veio mais rápido. Gratidão! A você, Noili Grigoletti, porque disse sim, sua bela arte em caligrafia deixou a capa deste livro muito mais bonita. Gratidão! A você, minha especial Lorena - Juliane Turcovic Guedes, seu sim, seu talento e serenidade sempre me encantam. A capa deste livro é fruto de sua habilidade maravilhosa em criar, em tornar realidade o que está no campo dos pensamentos. Quando vejo, eu sinto um tantinho do que os pais sentem: orgulho de ver que aqueles a quem entregamos a vida, são nós melhores. Como um artista, a cada pincelada sua obra fica mais extraordinária. Assim Ele nos faz. Gratidão aos seus pais, João e Sueli, por terem dito sim e tê-las trazido para nós: a você e a Kuka, nossa primogênita amada, que nos fez tios, avós, bisavós, pais! Para vocês, pelas preciosasatitudes, agradeço também. Este livro é mais, por causa de cada um, e vocês sabem bem o porquê: Alice Mesquita, André Ribeiro, Antonio Manuel Vicente Inácio Duarte, Antonio Onofre Neves, Bernhard Joseph Lenz, Diego Baliero, Eugenia Tuczek Romaiv, Jair Santos, João Alberto Costenaro Juarez Mocelin, Larry Carlos Marchioro, Leliane Tobar Galan, Lorena Kim Richter, Luis Henrique de Oliveira, Marinez Amatti, Marisa de Souza, Marli Caetano, Renate Christina Becker, Rose Mari Silva, Sizumi Claudia Sato Suzuki, Vera Lucia Mendes de Oliveira Gratidão a todos que contribuíram! AGRADEÇO À MINHA FAMÍLIA por todo apoio, gentileza, carinho e cuidado para comigo. Fazer nascer uma obra não é um passe de mágica. Exige dedicação, trabalho árduo e paciência. Tantas vezes nos retiramos para poder criar e compor cada parágrafo. Especialmente à minha mana Susy, apoio, mais que intelectual, fraterno e espiritual. Meu porto seguro nesta terra! Cuida e zela por mim, mesmo quando eu só estou um pouco cansada. Ao meu pai, Cizinho Pereira Guedes, pelas flores, frutos e até borboleta. Como haveria de não gostar de escrever em seu lar? Com suas bênçãos a vida flui com tanto sabor. A minha mãe, Carmelita Neves Guedes que, lá no céu, sorri para tudo isto e se alegra com minhas tranças e andanças. Para Emma Pereira Guedes, minha 5.a sobrinha, que nasceu no lar de sua família enquanto estas páginas também tomavam forma, meu amor especial. Em vocês, Josiane (Kuka), Juliane (Lorena), Elliot, Elli e Emma, vemos alegremente a vida seguir adiante. O amor desta família nos aquece o coração: Alonso, o bebê amado que eu desejei para nossa casa, hoje com sua esposa Kim e seus lindos filhos, tem sido inspiração e alegria para todos nós, sobre a gostosura de ser o lar que desejamos ter. Por fim, agradeço a Antonio Renato Margaridi Júnior. Juntos temos construído nossa canção. Com você experimento novamente a oportunidade de conviver com a grandeza da vida que se mostra por meio do amor conjugal, da infância e da pureza do coração das crianças. Constato mais uma vez o quanto os filhos amam seus pais. Grata por me permitir fazer parte, gratidão por tudo! Em memórias póstumas, para: Francisca Barth - seu cobertor continua conosco, seu sorriso e vontade de partilhar sempre. Agora você está no céu, certamente cultivando e saboreando morangos. Denise-Marie Villiger – lembro-me que, algumas vezes, você disse: “As misericórdias se renovam a cada manhã.” Sua alegria e ternura continuam conosco. A doçura do seu coração ilumina nossa memória. Lenir Luft Scheerem – com sua alegria, sua capacidade de amar e de compor novas equações, você se despede enquanto este livro é editado. Para você, para seus olhos tão felizes, nosso amor e gratidão por tantos momentos compartilhados. Também sabemos que nossos corações continuam unidos e sua luz, agora, é nossa luz. Porque sabemos que somos eternos e acomodamos em saudades a vontade de nos abraçarmos. Até hora destas! Agora é nossa alegria celebrando. Vocês aí e nós aqui, no paraíso do céu e do céu na terra. Se não falas, vou encher o meu coração com o teu silêncio, e aguentá-lo. Ficarei quieto, esperando, como a noite em sua vigília estrelada, com a cabeça pacientemente inclinada. A manhã certamente virá, a escuridão se dissipará, e a tua voz se derramará em torrentes douradas por todo o céu. Então as tuas palavras voarão em canções de cada ninho dos meus pássaros, e as tuas melodias brotarão em flores por todos os recantos da minha floresta. Rabindranath Tagore Alguém perguntou a um velho mestre: - Como você consegue ajudar outras pessoas? Elas frequentemente o procuram e lhe pedem conselho em assuntos que você mal conhece. Apesar disso, sentem-se melhor depois. O mestre lhe respondeu: - Quando alguém para no caminho e não quer prosseguir, isso não depende do saber. Ele busca segurança onde é preciso coragem, e quer liberdade onde o certo não lhe deixa escolha. E com isso fica dando voltas. O mestre, porém, não cede ao pretexto e à aparência. Busca o centro e, recolhido nele, aguarda que uma palavra eficaz o alcance, como o navegador que abre suas velas ao vento. Quando alguém o procura, encontra-o no mesmo lugar aonde ele próprio precisa chegar, e a resposta vale para os dois. Pois ambos são ouvintes. E o mestre acrescentou: “No centro sentimos leveza.” (HELLINGER, 1996, p. 15.) APRESENTAÇÃO Além do Aparente – um livro sobre Constelações Familiares Susy Guedes Bert Hellinger, ao desenvolver o método das Constelações Familiares, despertou para uma visão inédita da realidade humana, enquanto indivíduo e enquanto coletividade. Ao mesmo tempo, esta metodologia impressiona e surpreende pelas soluções alcançadas: a depressão que cede lugar à alegria, a confiança no lugar da hiperatividade (TDHA – Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), a remissão espontânea das doenças, a prosperidade finalmente possível e simples, a justiça, o amor fluindo entre casais, entre a criança e seus pais. Ao escrever este livro, Olinda Guedes nos presenteia com reflexões profundas e esclarecedoras sobre os princípios sistêmicos – pertencimento, compensação e ordem, e sobre como a vida retribui com soluções quando se faz o que é necessário. Resultado de anos de estudo sobre Constelações Familiares, as reflexões aqui apresentadas são consequências da interação entre a autora e seus alunos para compreensão e aprendizagem desta metodologia e do pensamento sistêmico para lidar com os principais sofrimentos da humanidade: pobreza, infelicidade e doença. Além do Aparente é um livro intrigante e esclarecedor, pode-se lê-lo como uma prosa, como um poema ou simplesmente percebê-lo como uma melodia que desperta o coração para as dinâmicas simples e reais que trazem o amor de volta. Porque a felicidade pode ser aprendida e, segundo Hellinger, ela se aprende por meio do amor. PREFÁCIO OU ALGO SOBRE OS DITADOS A vista do meu ponto: Por favor, leia esta obra somente se tiver a intenção de ampliar sua consciência e percepção da realidade. O tempo é precioso demais para defender premissas. Este livro é resultado de tantos encontros, módulos da Formação em Constelações Familiares, dos “ditados” – momentos em que os estudantes, com dedicação e atenção, ouvem a professora, com seus lápis e cadernos anotam linha por linha, palavra por palavra. Às vezes, dizem: “me perdi; o que foi dito mesmo?” E com atenção renovada, continuam. Ao final de cada trecho, de cada texto, de tantos ditados, brincamos: quantas linhas foram? Caíram fichas? E assim, vêm os insights. Insights são cliques que nos levam para diante, como bem disse um dos alunos. Somos todos alunos, na vida, encontrando mais e mais a luz do conhecimento. A intenção é que possa servir como inspiração para a jornada de muitos, como fonte de entendimento para as diversas situações da vida, como oportunidade de elevar a percepção uma oitava acima, onde possamos assumir a nossa vida como protagonistas, compreendendo e integrando o “perpetrador e a vítima” que mora em todos nós. A felicidade tem um custo. Os infelizes não precisam fazer nada. Talvez você possa, ao ler este livro, imaginar-se sentado sobre confortáveis almofadas, ao lado de colegas, com seu caderno e lápis, anotando tudo sobre felicidade e compreendendo as bênçãos e a perfeição da Existência. Gostaria também que lesse este livro do jeito que quiser e apreciar. Leia capítulos, partes, frase, palavras. Saboreie. Nem pense que tem a obrigação de começar e concluir. Porque, afinal, a vida é uma deliciosa aventura e cada um está autorizado a criar a sua canção. Sugiro que este livro seja saboreado, porque um livro é como um alimento. Se não for saboreado, não cumpre integralmente o seu propósito. Saciar fomes! Sim. O conhecimento sacia a fome da alma. Porque a alma sabe que: sem conhecimento, sem liberdade. Apreciarei receber sua cartinha contando suas percepções e entendimentos. Será que poderá fazer isto? As trocas tanto nos enriquecem. Até a próxima edição,até breve! Abraços felizes, Olinda Roseli Soares Camargo de Godoy de Campos Penteado Dourado de Santana Francisco Neves e Pereira da Silva e Pereira Guedes autora@anaueteino.com.br https://www.facebook.com/OlindaGuedes https://www.facebook.com/pages/Além-do-Aparente/796956470392949 mailto:autora@anaueteino.com.br https://www.facebook.com/OlindaGuedes https://www.facebook.com/pages/Al�m-do-Aparente/796956470392949 SUMÁRIO As leis do amor e os movimentos que curam Lealdades ou o amor que nunca se cansa Quem pertence? Movimentos que curam: benevolência retidão compaixão Relações conjugais relacionamentos entre pais e filhos O que é necessário para que o relacionamento conjugal exista e tenha futuro Com quem a criança deve ficar ou algo sobre alienação parental O relacionamento conjugal influenciando o relacionamento com os filhos Sintomas e doenças – o que cura e o que faz adoecer O que você precisa? As dinâmicas que fazem adoecer Constelações organizacionais O êxito essencial Os dois sucessos O que está a serviço da vida Tem uma escola no meio do caminho (para o sucesso) O êxito na rotina Por que isso acontece comigo? - temas existenciais Bênçãos inesperadas Noites escuras da alma Ordens da ajuda As ordens da ajuda As diversas dinâmicas que atuam na alma REFERÊNCIAS CONTRIBUIÇÕES COMPARTILHANDO… INDICADOR PROFISSIONAL CAPÍTULO I AS LEIS DO AMOR E OS MOVIMENTOS QUE CURAM PERTENCIMENTO COMPENSAÇÃO ORDEM CONCORDAR AGRADECER PEDIR REPARAR DANOS CAUSADOS Fazemos tudo para pertencer, inclusive permanecemos infelizes, pobres ou doentes. Bert Hellinger² organizou, de maneira ímpar, todo o conhecimento sistêmico e o tornou disponível para o caminho da cura, do bem estar e do desenvolvimento humano. A técnica das Constelações pode ser compreendida por meio dos conhecimentos da Biologia, pesquisados por Maturana³, Varela⁴ e Rupert Sheldrake⁵, notáveis cientistas contemporâneos. É deste último o conceito do “campo ciente”, ou seja, eu posso não saber, você pode não saber, mas nós sabemos. O “nós” é o campo, um campo invisível. Sheldrake diz que a informação se encontra presente sempre no agora, não tem passado, os indivíduos acessam essas informações com um único propósito, o da sobrevivência, para assegurar a permanência da vida. Hellinger percebeu que cada pessoa está comprometida com o destino do grupo; todo indivíduo está, acima de tudo, muito mais a serviço do seu sistema, do que a serviço do seu próprio querer. Ele constata que nós temos uma pequena liberdade diante do destino, pequeníssima liberdade, que consiste apenas em concordar ou discordar. É importante compreender aqui o significado de concordar: aceitar o dado como verdadeiro, real, existente. Não significa atribuir ao mesmo um juízo de valor, de certo ou errado. A negação do destino nos coloca em conflito (falta de sintonia) com ele, o que inviabiliza o caminho da cura, da reconciliação e da felicidade. Só quem concorda com o seu destino pode se reconciliar; por meio desse movimento é possível tomar do destino apenas aquilo que fortalece e, assim, curar, transformar o que enfraquece. Quem discorda permanece pequeno e infeliz. Hellinger também percebeu: quando atuamos em sintonia com o sistema ao qual pertencemos, nossa consciência fica tranquila. Por isso, muitas vezes fazemos algo que perante os outros parece totalmente mau, totalmente errado. Entretanto, isso foi feito de “consciência tranquila”, porque quando agimos “igual”, tendo as mesmas atitudes, vivenciando os mesmos valores, nos sentimos pertencentes e seguros. Deste modo, Pertencimento é o primeiro princípio sistêmico observado, dentro de um conjunto que Hellinger nominou de Leis do Amor. Outros chamam de Leis da Vida ou Princípios da Vida, Princípios Sistêmicos ou, simplesmente, Princípios. Fazemos tudo para pertencer, inclusive permanecemos infelizes, pobres ou doentes. Não nos curamos, não prosperamos e não nos tornamos felizes para dizer aos nossos antepassados, à nossa família de origem e família atual: “eu sou um de vocês, eu sou leal”. Compõem nossa família de origem todos os que vieram antes de nós. Todos que conduziram a vida, geração após geração até chegar ao agora. Por família atual compreendemos o cônjuge, os filhos, netos, bisnetos. Os pais e seus descendentes. Observamos o quanto essa fome de pertencimento é real, por exemplo, quando uma pessoa diz “eu já fiz de tudo, mas não consigo me livrar desta enxaqueca, ou: desta falta de dinheiro, ou: desta falta de amor…”. No nível aparente do aparente o indivíduo quer ser mesmo feliz, próspero e saudável. Contudo, além do aparente, não podemos tomar nada que nos faça sentirmos melhores do que os outros, porque sentir-se melhor é o mesmo que ser diferente. O que é diferente não pertence; a alma faz de tudo para pertencer, a qualquer preço, porque somente pertencendo é que se experimenta segurança, e, assim, tem-se a percepção de que poderá manter-se vivo. Mesmo se destruindo, mesmo sofrendo. O preço pode ser uma depressão profunda, ou uma doença gravíssima, ou uma falta de dinheiro inexplicável. Atua sobre nós, também, o Princípio da Compensação ou Princípio do Equilíbrio, que é a segunda Lei do Amor. Sempre a alma deseja retribuir o que recebeu. O desejo de retribuir o que recebeu é uma constante em nossa alma. Portanto, sentir-se endividado ou sentir-se credor são movimentos naturais da nossa alma; é o que nos mantém vinculados ao sistema. É o que faz com que a vida seja passada adiante. Os pais são credores e os filhos, devedores; os filhos reparam suas dívidas para com os pais passando a vida adiante. Os filhos só conseguem agradecer aos pais quando fazem algo extraordinário com suas vidas, sem desejar nenhuma recompensa; a maneira mais grandiosa para fazer isso é passar a vida adiante. Quem tem filhos honra seus pais e pode finalmente tomar a vida em toda a sua plenitude. Quando essa oportunidade não é concedida, eles também podem ser honrados quando os filhos escolhem fazer algo extraordinário para o mundo, sem esperar recompensa. Algo que se aproxime do amor gratuito dos pais, dessa condição infinita, imensurável de passar a vida adiante, é a prática do amor incondicional. Mas quem diz “eu não quero ter filhos” só pode tomar da vida um pouco menos, esse é o preço. Ao decidir por isso, uma pessoa deixa de ter créditos perante a vida, pois quem não toma integralmente o amor dos pais, não pode tomar integralmente as outras bênçãos da vida. Se um dia, os pais tivessem tido essa mesma atitude, a vida não chegaria até este filho. Eles se submeteram a tudo, colocaram em risco suas vidas, sua segurança, suas carreiras profissionais para nos entregar a vida. Enfrentaram o mistério, o desconhecido, lidaram com seus medos e apreensões, suportaram a culpa de oferecer um mundo ainda com tanto a ser feito, suportaram a culpa de ver os filhos lidarem com a vida exatamente como ela é. Como agradecer a tudo isso? Somente dizendo: “Sim, eu também! Sim, eu também concordo e passo a vida adiante.” O amor dos pais é de graça. Quando recebemos algo bom, retribuímos com um pouco mais e quando causamos um dano devemos proceder à reparação, a fim de que o equilíbrio se restabeleça. Para permanecer vivo, o sistema precisa estar organizado. Organização tem a ver com ordem, com hierarquia, ou seja, cada um deve ocupar o seu lugar. Ordem: esta é a terceira Lei do Amor. Quando alguém, por algum motivo, não puder ocupar o seu lugar, outro alguém fará isso. PARA ENTENDER Uma mulher morre jovem, deixando órfã uma pequena criança. Posteriormente, uma bisneta dessa mulher que morrera jovem, poderá, desde muito pequena, muito cedo, querer cuidar e zelar de sua mãe que, pessoalmente, não passou pela orfandade. Pois bem, essa bisneta, hoje, assume o lugar de sua bisavó, que não pôde experimentar a maternidade, e projeta em sua mãe a imagem da avó, que vivenciou a experiência da criança que não pôde usufruir os cuidados maternos. No aparente, essa história nem é comentada, tãodistante, está esquecida… e essa bisneta, hoje adolescente/jovem/adulta (não importa), experimenta uma sensação inexplicável de medo de separação, sendo vista pelas pessoas como alguém carente, dependente, apegada. E, pelo que ela aparenta, lhe é aplicado um “rótulo”. “Rótulos”, geralmente, revelam o quanto tantas pessoas estão solitárias e incompreendidas perante aqueles que serão beneficiados diretamente porque alguém está fazendo as “tarefas” mais difíceis. Chamamos de “tarefas” tudo aquilo que deveria ser vivenciado para que o pertencimento, a compensação e a ordem não fossem princípios violados; entretanto, devido a fatos, acontecimentos, essas “tarefas” não puderam ser completas. Por exemplo: o amor e o cuidado entre pais e filhos, o respeito e a ética entre os sócios de uma empresa, a solidariedade entre irmãos, a compaixão para com aqueles que sofrem, a gratidão para com aqueles que muito fizeram, etc. No aparente, a violência dos pais para com um filho fica no passado, mas no além do aparente, este desamor permanece e pode se mostrar, no agora, por meio de uma ansiedade profunda em um dos integrantes desses sistemas. Sabemos que uma das “dinâmicas” que sustenta a ansiedade é “… papai, sem você… eu tenho que ir rápido demais para o futuro. Sozinho eu tenho medo do amanhã!” Tarefas desafiantes são cumpridas, independente da vontade do indivíduo, para a finalidade de tornar algo completo dentro do destino, assegurando assim, a perpetuação da vida. Portanto, para que possamos assumir o nosso lugar no sistema ao qual pertencemos, todos aqueles que vieram antes de nós precisam ter o seu bom lugar. Todos, todos! Faz parte também da ordem, o sistema maior ao qual pertencemos. A sociedade humana é formada pela união homem e mulher, os quais somente estão em harmonia e reconciliados quando reconhecem mutuamente o lugar de cada um e assumem, respectivamente, suas funções. SOBRE SERVIR E SER SERVIDO NA TRADIÇÃO JUDAICO-CRISTÃ, o maior serve o menor – e aqui o sentido de servir é exatamente o que Jesus Cristo fez na última ceia, conforme o relato em João 13:4-14. Assim, o homem serve e a mulher é servida. O homem vem em primeiro lugar, depois a mulher e depois os filhos. Portanto, quando a mãe está amparada pelo seu marido, pelo pai, então ela pode amparar e cuidar dos filhos. Porém, um homem só pode assumir o seu lugar, andar, zelar e prover se ele estiver reconciliado com a sua mãe. E uma mulher só poderá aceitar ser cuidada, protegida e amada se ela estiver reconciliada com o seu pai; isso é a ordem. Faz parte também da ordem, que os pais não sejam “amigos” dos filhos, ou seja, que preservem sua intimidade, medos, preocupações e segredos. Quando os filhos se tornam confidentes dos pais, estes se enfraquecem. E, quando os filhos querem consertar os pais, aqueles também se enfraquecem. A hierarquia mostra que os pais são os grandes e os filhos, os pequenos. Pais são pais, filhos são filhos. Só assim o sistema se fortalece e entra em equilíbrio. ² Bert Hellinger, terapeuta alemão idealizador/criador da terapia sistêmica denominada Constelação Sistêmica Familiar. ³ Humberto Maturana, biólogo chileno, crítico do Realismo Matemático e criador da teoria da Autopoiese e da Biologia do Conhecer, junto com Francisco Varela. Um dos propositores do pensamento sistêmico e do construtivismo radical. ⁴ Francisco Varela, biólogo chileno, escreveu sobre sistemas vivos e cognição, autonomia e modelos lógicos. Escreveu “Princípios de Autonomia Biológica”, um dos textos básicos da Autopoiese, teoria que desenvolveu com Humberto Maturana. ⁵ Rupert Sheldrake, biólogo inglês. Pesquisador do conhecimento que está além da mente racional, do conhecimento disponível em todos os sistemas, que chamou de “campo ciente” ou campos morfogenéticos. CAPÍTULO II LEALDADES OU O AMOR QUE NUNCA SE CANSA Hellinger trouxe à luz uma percepção fundamental para a cura: ele observou que quando existe um sofrimento, quando existe um desequilíbrio, é apenas a voz do sistema pedindo inclusão, compensação ou ordem. Todos os desequilíbrios, todos os sintomas, todas as dores que são inexplicáveis, persistentes e repetitivas têm a função de manter o pertencimento, “olham para uma vinculação com o sistema”. Não sou “eu” e não é “você”, é o “nós”, o grande “nós” fluindo por meio do indivíduo. Normalmente pensamos como “eu” e desejamos, a partir do ego, do intelecto e da razão, combater aquele sintoma, resolver a situação ou buscar o equilíbrio. O intelecto, a mente, a razão servem apenas para resolver situações corriqueiras, tarefas cotidianas. O que é do sistema permanece e a pessoa chega à conclusão “sou assim mesmo”, “para mim não adianta, as coisas não dão certo”. E, novamente, a partir do ego, ela diz “mas eu vou tentar de novo, quero ver, eu não desisto”, e assim segue e os emaranhamentos permanecem. Pode até ganhar dinheiro, porém, não se sentir próspera, pode até não ter doença, mas mesmo assim não se sentir saudável. Pode não ter depressão, mas não sente a bênção da vida. Durante todo o tempo permanecemos vinculados ao sistema; ou nos vinculamos pela felicidade ou pela dor, que também é amor. Para um sistema só existe um tempo: o agora. Nem passado, nem futuro. Somos nossos pais, avós, bisavós, trisavós e todas as gerações antes. Todos eles estão em mim e eu estarei em todos os meus descendentes. A dor de um indivíduo reflete a dor de todos, e a cura de um indivíduo contribuirá para a cura de todos. Muitas vezes experimentamos sensações inexplicáveis de angústia, ou de temor, ou de irritação, sensações que não correspondem à nossa vida atual, porém ela está ali, sendo quase possível segurar, fotografar, medir, pesar, tão real se apresenta. E quando perguntamos “a quem isso pertence?”, talvez imediatamente, surja a imagem de um homem ou de uma mulher dentro de nós, ou até mesmo de um povo. Às vezes a angústia é o choro da mãe que não pôde prantear a perda do seu filho, a dor no coração do pai que teve que ir para a batalha, mas outras vezes pode ser também a dor da criança que nunca foi incluída. Quando nos abrimos para essa compreensão, os vínculos interrompidos do amor são refeitos e, finalmente, esses sentimentos inexplicáveis cedem lugar para uma sensação de presença e de paz, indescritíveis, porque mesmo que, no aparente do aparente, tudo esteja um rebuliço, além do aparente, internamente, a sensação é de totalidade, de empoderamento, de amor, de capacidade, de confiança, de entrega. E, se fecharmos nossos olhos e olharmos para nossa família de origem e para a nossa atual, eles estarão sorrindo para nós. Entretanto, como tudo é movimento, talvez imediatamente percebamos que, no rosto de algum desses integrantes, em algum rosto dos nossos, surja um pedido, uma dor, uma necessidade. E como estamos abertos, fazemos isso imediatamente: “Olá, você é um de nós, você também pertence, eu sinto muito e agora podemos dizer sim para a vida, sim, nós servimos”. Quando, no sistema, algo ou alguém foi excluído, quer seja por ter cometido um erro ou simplesmente porque foi abortado (não importa o modo), ou assassinado, esquecido, isso permanece no sistema “pedindo” inclusão, esperando seu bom lugar. Quando uma injustiça acontece e não ocorre uma reparação, isso também permanece. Quando alguém não tem um bom lugar, quando a ordem é violada, isso também gera emaranhamentos. O que gera emaranhamentos é sempre a violação desses princípios sistêmicos: exclusão, injustiça, desrespeito, desonra. Portanto, emaranhamentos são consequências da violação dos princípios do pertencimento, compensação e ordem. SOBRE AQUELES QUE FORAM IMPEDIDOS DE ENTRAR. POR EXEMPLO: aconteceu um aborto na família. Os pais colocam isso no esquecimento e realmente, quando pensam nos seus filhos, contam somente os vivos e dizem: “nós temos três filhos”, porém, eles tiveram mais quatro filhos abortados. Quantos filhos eles têm? Três ou sete? Geralmente, um desses filhos se torna hiperativo. Crianças hiperativas estão sempre procurando por algoimportantíssimo. Quando algo vital precisa ser encontrado, reconhecido, ter ou encontrar o seu lugar, temos muita pressa. Temos toda pressa do mundo e nada mais importa tanto do que encontrar o que se está a procurar. Lembra-se de quando você esqueceu onde colocou a chave do carro ou não sabe onde foi parar aquele documento importante? Você conseguia se concentrar em outra coisa? Conseguia ficar sentado, parado, esperando? Além do aparente, a criança, por meio da velocidade, dos movimentos rápidos, está procurando seus irmãos, na maioria das vezes, ou os irmãos de algum antepassado. Deste ponto de vista, não existe pessoa desatenta. Existe apenas a atenção sendo dedicada ao que é essencial para que seu sistema se equilibre. Não existem crianças distraídas, existem crianças ocupadíssimas, trabalhando para os seus pais. Antes do sucesso, o amor aos pais. A COMPREENSÃO DESCORTINA HORIZONTES DE CURA Quando vivemos conscientes e temos a compreensão destes princípios, podemos nos deixar conduzir, curar os emaranhamentos, prevenir que outros emaranhamentos aconteçam e assegurar um futuro de felicidade, a saúde e a prosperidade para todos. Só assim podemos amar. E quando o amor não flui por meio da alegria, ele assegura sua existência por meio da dor, angústia, tristeza, autodestruição. Somos, em primeiro lugar, a consciência coletiva. Sim, todos nós somos, em primeiro lugar, essa consciência que chamamos de arcaica, que podemos traduzir por “meu amor por todos é sempre maior que meu amor por mim, porque sem vocês a vida não chegaria até mim”. Por isso permanecemos pobres, doentes e infelizes. Por meio dos nossos limites permanecemos leais, iguais, pertencentes. É possível curar quando e se for dito: “eu não serei melhor que você se me tornar feliz, próspero e saudável porque, querido avô, querida avó, queridos pais, aqui em mim, finalmente nós podemos. Vejam como é bom ser feliz, próspero e saudável, como é bom que agora nós podemos, finalmente, experimentar alegria de viver”. Uma mulher poderá resolver suas questões afetivas se disser/vivenciar: “Querida bisavó, podemos ter alegria, sim, alegria de amar os homens, podemos finalmente experimentar a vida boa e feliz que sempre desejou”. CAPÍTULO III QUEM PERTENCE? Todos pertencem, os bons e os maus, todos. Ouvistes que foi dito: Amarás ao teu próximo, e odiarás ao teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus; porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos. Mateus 5:43-45 O nosso sistema familiar ou, simplesmente, o nosso sistema, é composto pela família atual, pela família de origem, pela pátria atual, pela pátria de nossos antepassados e por todos aqueles que, sem eles, a vida não teria sido possível; por exemplo, um doador, um sócio da empresa da família que “carregou” essa empresa quando o outro estava doente; todos fazem parte do sistema. Também fazem parte aqueles que atuaram como obstáculo à vida, como os assassinos. Às vezes, também fazem parte os animais da família: um cachorro que salvou uma criança da morte. Então, nosso sistema é composto por todos e por tudo que fez com que nossa vida chegasse até aqui. Todos pertencem, os bons e os maus, todos . O pertencimento é experimentado profundamente nos emaranhamentos. Não depende da nossa vontade, ele é uma força que atua em nós. Uma criança pode, por exemplo, ficar profundamente irritada porque seu pai não é mais respeitado, mas é considerado mau e errado e, nesse sentido o “bando” quer bani-lo, a sociedade julga e abandona. As crianças sempre se colocam ao lado dos excluídos, daqueles que não foram honrados, dos injustiçados e assim, colocam seus pequenos ombros sob o fardo que eles estão a carregar. Porque criança não exerce julgamento, seu coração é totalmente livre para amar todos e as primeiras pessoas a quem devotam esse amor são seus pais. Toda criança ama os seus pais. TODA CRIANÇA AMA OS SEUS PAIS Entretanto, é cada vez mais comum ouvir os pais dizerem: “não sei por que essa criança não gosta de mim”. A criança talvez carregue a memória da injustiça, da exclusão, do desrespeito cometido contra um ex-cônjuge, mesmo que ninguém conte para ela, isso acontece com muita frequência. Não é que a criança não gosta dos pais. Além do aparente ela está conectada e profundamente identificada com aquele ex-cônjuge que é rejeitado, desqualificado, excluído. A alma dessa criança está lá junto dele, amando-o, incluindo-o, fazendo por ele o que o sistema necessita para permanecer vivo. Lembre-se: um sistema jamais deixará que uma parte sua seja excluída - a vida do sistema é a inclusão de todas as suas partes. Então, a partir de quando os pais se respeitarem, sem julgamento, concordando com os seus destinos, com aquele que foi excluído, dando aquele que é “mau, errado e leviano” um bom lugar em seu coração⁷, esta criança não mais precisará estar ocupada em ficar junto desse indivíduo e estará livre para a reciprocidade do amor entre ela e seus pais (pai, mãe). O movimento do amor é, acima de tudo e sempre, em direção a assegurar a permanência da vida. Já sabemos que os três princípios sistêmicos asseguram isso: pertencimento, compensação e ordem. É natural para o espírito buscar a inclusão, o equilíbrio entre o dar e o receber e o respeito ao lugar de cada um. A violação de quaisquer das Leis do Amor exige reparação dos danos causados, para que a harmonia retorne ao sistema. Temos aí a oportunidade para a prática das virtudes do coração: gratidão, generosidade, benevolência, compaixão e honra. Desse modo, a Lei do Pertencimento é atendida por meio da inclusão, o que exige de nosso coração a prática da generosidade e da benevolência. Se o Princípio da Compensação foi violado, o restabelecimento do equilíbrio se dará mediante o exercício da compaixão. O terceiro princípio da Ordem - convida a honrar e respeitar o próprio lugar e o lugar do outro. Inclui também disciplina, perseverança, método, bem como se deixar conduzir por algo já estabelecido. Orienta sobre o que é ser pai, mãe, filho, como se comporta quem é servido e sobre quem serve. O princípio da Ordem nos deixa livres para sermos criativos, dentro da segurança do que já é estabelecido. Estabelece parâmetros e limites, por exemplo, se sou pai/mãe, isso já está pronto. Então fico livre para agir do jeito que quiser desde que eu permaneça grande e sirva aos filhos. Poderíamos chamar esse princípio de “princípio da liberdade”. Pertencer ao sistema não resulta de merecimento, mas da participação do indivíduo no fluxo da vida desse sistema mediante suas ações, quaisquer que sejam elas. ⁷ Um bom lugar no coração: significa admitir, serenamente, sem julgamentos, o indivíduo presente no sistema. O movimento é o do “sim, você faz parte, você é um de nós”. CAPÍTULO IV MOVIMENTOS QUE CURAM: BENEVOLÊNCIA RETIDÃO COMPAIXÃO ⁸Benevolência sf (lat benevolentia) Que expressa a qualidade de alguém que é benevolente, ou seja demonstra afeto e estima em relação a alguém. Retidão sf (lat rectitudine) Característica, condição ou qualidade do que é reto. Conformação demonstrada por um senso de integridade, de justiça, de quem possui um caráter integro e se comporta a favor da razão, da lei, do dever: retidão de proceder. Característica daquele que segue os preceitos da lei, da legalidade. COMPAIXÃO sf (lat compassione) Sentimento de pesar que nos causam os males alheios, bem como uma vontade de ajudar o próximo. Sentimento de simpatia ou de piedade para com o sofrimento alheio, associado a vontade ou ao desejo de auxiliar de alguma forma: doar dinheiro para campanhas humanitárias é uma atitude que envolve muita compaixão. Dicionários são excelentes fontes de consulta não apenas para se procurar o significado de termos desconhecidos, mas também para aprofundar o conhecimento de palavras que costumamos usar ou ouvir com frequência, sem refletir no seu significado. É enriquecedoreste exercício. Amor é o movimento, o fluxo de energia entre os elementos conectados no sistema. Tal conexão é experimentada por nós, pela primeira vez, no primeiro local onde nos tornamos presente/presença no sistema. Que lugar é esse? É na nossa mãe. Fomos colocados lá por um sentimento entre nosso pai e nossa mãe, pela força da vida, que é maior que qualquer ser humano. Talvez, do ponto de vista aparente, alguém possa dizer “não, não foi um ato de amor de meus pais que me gerou; na verdade, foi um acidente, eles nem queriam que seu ato sexual resultasse em um filho…” Isso é o aparente, representa apenas fatos visíveis, contingências e circunstâncias mediante as quais o princípio gerador da vida foi acionado. O princípio que gera vida é o Amor, o movimento que aproxima e une duas células prontas, plenas de todos os recursos, preparadas pela Inteligência Divina, que se fundem para gerar um ser humano completo. A violação das Leis do Amor interrompe seu movimento. O que cura o movimento interrompido do amor é o mundo bom e belo. É essa fome natural de todos nós, esquecida às vezes, corrompida outras tantas. Esquecemo-nos dela. Então, de algum modo ela será “lembrada”: por meio dos excessos de comer, beber, trabalhar, falar, comprar, querer, etc. O mundo bom e belo só pode ser tomado por meio do olhar da mãe. A criança procura o olhar da mãe, a voz da mãe, o coração da mãe, o acalanto da mãe. E ela procura na mãe também o pai, no olhar a permissão para tomar as bênçãos da vida, como bem disse Rubem Alves: “Van Gogh tem uma delicada tela que representa esta cena: o pai, jardineiro, interrompeu seu trabalho, está ajoelhado no chão, com os braços estendidos para a criança que chega, conduzida pela mãe. O rosto do pai não pode ser visto. Mas é certo que ele está sorrindo. O rosto-olhar do pai está dizendo para o filhinho: “Eu quero que você ande”. É o desejo de que a criança ande, desejo que assume forma sensível no rosto da mãe ou do pai, que incita a criança à aprendizagem dessa coisa que não pode ser ensinada nem por exemplo e nem por palavras”. O movimento que cura o vínculo interrompido do amor é sempre na direção da benevolência e da compaixão. Quatro movimentos, atitudes, sustentam esse processo. EU SOU GRATO. O PRIMEIRO MOVIMENTO é o Movimento da Gratidão, o ato de agradecer, pois somente quem agradece pode tomar a grandeza da vida e usufruir a bênção do que lhe foi ofertado. A ausência da gratidão consiste no não reconhecimento daquilo que se recebeu e, consequentemente, o sentimento é de que há uma falta, um débito, uma carência, o que leva ao movimento da queixa, da murmuração. A postura de ingratidão perante a vida faz “perecer no deserto”. Quem conhece a trajetória do povo hebreu mediante o relato bíblico, especialmente nos livros de Êxodo e Números, sabe a consequência das repetidas queixas do povo contra Deus que, realizando grandes milagres, os guiava para a terra de abundância: toda a geração que saiu do Egito, menos dois homens (Josué e Calebe) não chegou à Terra Prometida - morreu no deserto. Os que entraram em Canaã foram os gerados durante a peregrinação que durou quarenta anos e que podia ser feita em algumas semanas, segundo afirmam estudiosos de geografia bíblica. Aquele que exige, interrompe o movimento em direção ao amor, em direção à vida; quem exige já perdeu. É a gratidão, e não a exigência, que abre as portas da abundância. O fruto de um coração grato é a generosidade, ao passo que um coração exigente se torna ganancioso e avarento. Este, ainda que possuindo muito, “perece agarrado ao saco de dinheiro”. EU PRECISO, POR ISSO PEÇO. O SEGUNDO MOVIMENTO é o de reconhecer aquilo que se precisa, o Movimento do Pedir; pedir ao outro, que tem a liberdade de conceder ou não. Pedir é uma atitude, acima de tudo, de humildade, que leva a reconhecer o valor do outro e o valor do que se precisa. Um pedido não existe para ser atendido, mas para que um importante aspecto do sistema seja reconhecido: a interdependência, fundamental para que seja atendida a Lei do Pertencimento. Quando peço ao outro algo que não posso obter por mim mesmo, reconheço que necessito do outro. O estado de pleno pertencimento ao sistema, tanto meu, quanto do outro, se verifica quando estou aberto tanto a dar quanto a receber. Este é o exercício necessário de humildade, porque só com a humildade se dá o pertencimento, se reconhece que o outro não é maior, nem menor, ele apenas pode me ajudar, apoiar. Ele apenas é diferente, é o outro. Na visão sistêmica, ser diferente não é ser desigual, ou seja, cada um é visto na sua singularidade, e por isso, não há maiores ou menores (desigualdade), todos somos iguais, porque somos diferentes (singulares). Logo, ser humilde, no ponto de vista sistêmico, nada mais é do que estar exatamente no seu lugar, no mesmo nível em que o outro se encontra, não acima dele como ser superior, nem abaixo, como inferior. Mas não é suficiente saber que cada um está no seu lugar; é também necessário saber que cada um está no seu lugar em conexão com o outro, em interconexão com todo o sistema. EU DIGO “SIM” O TERCEIRO MOVIMENTO é o Movimento de Concordar e concordar significa dizer “sim”, concordar atende ao Princípio da Ordem, para o que está posto, para o que é e evita pensamentos, julgamentos com relação a situações, fatos, acontecimentos sobre os quais não é possível nenhuma intervenção pessoal para mudança. Concordar fortalece e poupa energia para ser dedicada ao que é essencial, concordar é um movimento de profunda paz e de reverência pela vida. Concordar sustenta os estados de paz, serenidade, assertividade e sucesso; só tem sucesso quem concorda. Quem concorda age, produz. Quem discorda, neste contexto permanece infantilizado. Muitas vezes, o protestar, o criticar apenas esconde uma conduta passiva esperando que outros façam. Byron Katie (2009), uma autora americana, diz “Ame a realidade e sua vida se transformará.” Talvez possamos compreender estes conceitos lembrando a não reatividade, a assertividade, o não ficar remoendo pensamentos, sentimentos, conversas que não fortalecem a ninguém. Apenas trazem um sentimento temporário de ter razão por ser vítima, perpetrador ou salvador. Concordar, dentro da abordagem sistêmica, não significa “achar certo” ou “achar errado”, pois isto é julgamento. Dentro de um sistema, um fato não precisa da nossa opinião pessoal, individual, para ser o que é. O fato simplesmente é. Julgamentos sempre remetem ao “que poderia ter sido e que não foi”, o que impede os movimentos que podem ser realizados em direção à cura e apenas contribui para manter os emaranhamentos ou até mesmo intensificá-los. Evidentemente que, na vida, há contextos onde é necessário e de bom senso utilizar a noção de certo/errado, porém não quando se está a buscar a cura profunda, para situações que se apresentam com suas raízes “além do aparente”. Aqui, a sabedoria do discernimento, como sempre, é valiosa. É comum ouvir a frase “pare de falar e faça alguma coisa”. Esta fala comum, de pessoas comuns, revela um saber inerente sobre o grande potencial que temos para criar um mundo melhor. Este desejo, natural em muitas pessoas, é apenas a conexão, a consciência do profundo movimento do espírito em sua essência. Toda fala precisa ser seguida de espaços de silêncio. Silêncio para sentir não apenas o que foi dito, mas o que não foi dito, o que ficou para além das palavras proferidas. EU SINTO MUITO. O QUARTO E ÚLTIMO MOVIMENTO é o de reparar os danos causados. É o Movimento de Lamentar, de modificar, de arrepender-se, de pedir e também dar uma nova chance, assim, “setenta vezes sete”. É o movimento que dá acesso ao perdão. Perceba: como se fosse uma porta, a chave para abri-la é a atitude do arrependimento, que significa disposição sincera em mudar de direção. E, pela interdependência, na qual se assenta o princípio do dar e receber, a atitude do coração, neste movimento do perdão é: “eu sinto muito e eu concordo que o perdão seja para mim e para você e paratodos os envolvidos”. É o movimento do profundo relacionamento com Deus, onde deixamos com Ele o incompreensível, o irreparável e o irrecuperável. Só perdoa quem é maior e só Deus é maior, porque apenas Ele tem toda condição de assumir a magnitude de uma dívida humanamente impossível de ser paga. Assim, o perdão destina-se aos danos causados que não podem ser reparados pela condição humana, portanto o perdão é reservado a situações restritas da existência. As mortes, suicídios, homicídios, crimes de guerra, pouquíssimas situações. Todas as outras situações precisam ainda, neste movimento do perdão, ter uma dedicação suficiente para reparar os danos causados. Na tradição cristã temos na oração modelo, ensinada por Jesus, o trecho que trata do perdão: “Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores.” (Mateus 6:12). Encontramos aqui o perdão de Deus, cuja concessão está condicionada à disposição humana de também perdoar. O incompreensível, o irreparável, o irrecuperável, o “humanamente impossível” fica para Deus. E o possível fica para o ser humano. A desculpa não pode ser “de graça”, ela precisa ser conquistada por meio de atitudes; ela pode ser concedida por meio da compreensão do todo, do não julgamento e do entendimento da corresponsabilidade: se alguém errou, onde eu colaborei ou deixei de colaborar para que isto ocorresse? O que eu fiz ou deixei de fazer para que isso não ocorresse? O lamentar é acima de tudo um movimento consciente, de ampliação da consciência: ninguém acerta e erra sozinho. Conceder e conquistar uma compreensão, uma oportunidade de reparação pelos danos causados é sempre uma oportunidade e sinal de evolução de nosso nível de consciência. SOBRE A JUSTIÇA E APLICAÇÃO DE PENALIDADES EM UMA SOCIEDADE REALMENTE EVOLUÍDA, alguém que cometeu um crime talvez fosse “condenado” a cultivar hortaliças, a reformar escolas, aprenderia a cantar ou tocar, faria coisas para doentes ou idosos, por muitos e muitos anos. Talvez vivesse como um monge e aprenderia a meditar e respirar para poder voltar à vida, servindo à vida. É disso que fala o quarto movimento. Em tudo o que for possível, deve haver reparação/restituição, quer de maneira direta ou indireta. Vide a história de Zaqueu, relatada em Lucas 19:2-10. Tomar com responsabilidade a consequência das nossas ações e que todo dano causado pode ser reparado se não por nós, por Deus. Assim, tudo pode ser reparado por nós e por Deus¹ . ⁸ Fonte: http://www.significados.com.br/. Acesso em 08/03/2015. Fonte:http://www.paisefilhos.pt/index.php/opiniao/63-rubem-alves.Acessoem 08/03/2015. ¹ Salmos 86:5 “Porque tu, Senhor, és bom, e pronto a perdoar, e abundante em benignidade para com todos os que te invocam.” CAPÍTULO V RELAÇÕES CONJUGAIS RELACIONAMENTOS ENTRE PAIS E FILHOS Sentir-se certo, exatamente como se é, é uma das fomes da alma. “Honra a teu pai e a tua mãe, para que te vá bem, e sejas de longa vida sobre a terra.” - Efésios 6:2a,3. Existe uma ordem entre a criança e seus pais e a ordem é: primeiro os filhos recebem e depois eles passam adiante. O amor da criança em direção aos pais é sempre na direção do futuro, é sempre para frente. Quando a criança está ferida, quando o vínculo desse amor foi interrompido, a vida não vai para frente, a criança adoece, não aprende, não floresce. Porém, isso não acontece só com uma criança, isso acontece com todo o filho, todas as pessoas, independentemente da idade. Quando a vida vai para frente é porque estamos reconciliados com os nossos pais. Quando adoecemos, fracassamos ou ficamos infelizes precisamos recuperar o vínculo do amor que um dia foi interrompido entre nós e nossos pais. Ou entre os nossos pais e os pais deles. Quando algo não aconteceu diretamente conosco, mas aconteceu com nossos pais, avós, bisavós e outros pertencentes ao sistema, e nós carregamos isso, chamamos de comportamentos ou sentimentos adotados. Hellinger, no livro Ordens do Amor (2003, p. 398), comenta sobre a Análise do Script, uma ferramenta da Análise Transacional, uma teoria de personalidade, desenvolvida por Eric Berne. Ele diz que por meio da identificação de quais filmes, histórias, músicas que comovem uma pessoa, é possível perceber claramente quais são suas histórias sistêmicas, verdades, experiências não comentadas pelos integrantes daqueles sistemas, entretanto, que marcam profundamente criando padrões, scripts. Gerando lealdades e emaranhamentos. Um exemplo é quando uma pessoa se sente tão triste e tão só, revelando com isso a memória de uma orfandade no sistema. Contudo, é a bisavó que foi órfã. Os sentimentos adotados são sentimentos que não correspondem aos estímulos do agora, pois eles apontam para emaranhamentos, para situações que estão ainda à espera de se completarem. São sentimentos exagerados de tristeza, raiva, medo, desproporcionais aos estímulos, ao momento presente, gerando, muitas vezes, expressões assim: “mas, que exagero!” “Não era para tanto!” “Fulano é desequilibrado, qualquer coisa o tira do sério, é pavio curto, não leva desaforo para casa!” Eckhart Tolle (2007, p.116) nominou estas reações de “Corpo de Dor”. Uma reação que é consequência de uma emoção experimentada por si mesmo ou por outros integrantes do sistema, seja nesta geração, na infância, por exemplo, ou em outras gerações. Esse corpo de dor se torna maior que o próprio indivíduo; é constituído de grandes sofrimentos que todos carregam: crianças, homens, mulheres, nações. A ordem sempre é: o amor dos pais flui de graça para os filhos. Quando essa ordem é violada, os filhos não podem crescer, é como se já estivessem endividados. Só pode crescer quem tem créditos. E o amor de graça dos pais é essencial para crescer, é este amor que gera créditos. Alguns permanecem crianças, esperando o amor de graça chegar. Perante o sofrimento podemos perguntar: “que idade eu/nós temos aqui?”. Imediatamente surge uma imagem de quem é e a idade que se tem ali. O princípio da Compensação diz aqui que o pai e a mãe são sempre certos um para o outro, porque foi por meio deles que a vida foi possível. Não existe outra hipótese e é este o movimento que fortalece. Porque o filho é o pai e a mãe juntos. Lembre-se sempre: “sem meu pai e minha mãe, eu não existiria. A vida fluiu para mim por meio deles dois. Se a vida tivesse fluido por meio de um deles com outro cônjuge, outro filho ou filha teria sido gerado e não eu”. Se o pai e a mãe são certos um para o outro, logo o filho também o é. Sentir-se certo, exatamente como se é, é uma das fomes da alma. Quando a criança sente-se certa como é, pode experienciar, criar, alegrar-se, descobrir-se no mundo. Só assim é possível o pertencimento, porque se essa fome – sentir-se certa exatamente como é – não for saciada, o indivíduo vai experimentar o pertencimento adoecendo, entristecendo ou empobrecendo. Uma das ideias sistêmicas é de que “o todo é mais do que a simples soma das partes”. Assim, quando olhamos para uma criança, temos diante de nós o pai e a mãe dessa pessoa e algo mais. Por isso, os pais que estão ligados à vida se sentem tão felizes diante de seus filhos, por conta do algo mais. Esse algo mais tem a força e o potencial para a cura dos emaranhamentos. Por isso, os pais ficam tão felizes quando percebem a singularidade dos filhos. Podemos, então, dizer aos nossos pais, aos nossos avós, a todos os nossos antepassados: “a vida é maior”. E, ao dizer isso, podemos perceber como todos e tudo se acalma; pertencimento, reconhecimento, reverência. Este é o lugar certo, onde a vida é maior, onde ela vem primeiro. Só quando este princípio é violado é que a morte se faz presente. Portanto, o que é certo é sempre a vida e quando estamos a serviço da vida, ela permanece. Por isto, é tão natural o homem sentir falta da mulher e a mulher sentir falta do homem. A vida é masculino e feminino juntos. Sem essas duas energias, a vida não consegue seguir adiante. Uma mulher é sempre mais com um homem e um homem é sempre mais com uma mulher. E eles são mais juntos,porque somente assim é possível passar a vida adiante. CAPÍTULO VI O QUE É NECESSÁRIO PARA QUE O RELACIONAMENTO CONJUGAL EXISTA E TENHA FUTURO Amor do coração Amor da Sexualidade Amor à vida “Te amo sem saber como, nem quando, nem onde, te amo diretamente sem problemas nem orgulho: assim te amo porque não sei amar de outra maneira.” Pablo Neruda¹¹ O AMOR DO CORAÇÃO é querer bem ao outro, é querer fazer o outro feliz, essa é a ordem. Quem procura outro para se fazer feliz tem menos para oferecer, portanto não pode tomar o amor para entregá-lo, servi-lo ao outro; pois nesse “estado de necessidade de ser feliz”, precisa, antes, servir-se do amor. Além do aparente, está pronto para receber e não pronto para dar. Só pode dar aquele que tem em abundância. E qual é a medida da abundância? É quando se tem o suficiente para si e para o outro. Os insatisfeitos permanecem infantilizados; para os infelizes, nada basta. Eles ainda estão esperando algo de seus pais. Se se tornarem completos e felizes, o que farão com sua lealdade e emaranhamento? Se aprovarem os seus cônjuges, o que fazer com a mamãe que sempre dizia que a vida conjugal é um sofrimento? Se estiverem felizes, o que fazer com um ditado na família: “Ruim com ele, pior sem ele!”? O sucesso no relacionamento conjugal é “eu tomei e recebi o suficiente da vida, portanto eu posso servir”. A ordem aqui também é “eu me proporciono alegria verdadeira, por isso eu posso alegrar-me com o outro, posso ajudar o outro a viver a sua felicidade”. Isso vale para todos os relacionamentos. Quem espera do outro está impedido de tomar. O que conduz ao fracasso é a carência. O que conduz ao sucesso é a plenitude e esse amor precisa ser tomado dos pais. Todo o amor em nós vem dos pais, vem dos antepassados e parte de nós para todos os outros relacionamentos - conjugal, profissional, fraternal. Observa-se que, quem não está reconciliado com os seus pais, está impedido de amar, busca no amor do cônjuge o amor dos pais. Um relacionamento fracassa quando negamos que o amor dos pais está nos pais. Os relacionamentos só podem ser bem sucedidos quando estamos plenos do amor dos pais. Isso vale para todos os relacionamentos, não somente o conjugal. Muito bem: esse “rio do Amor” que fluiu, desde nossas remotas origens familiares até nós, tem seu leito no curso da história, com todos os fatos, todos os acontecimentos; eventos que se completaram e outros que ficaram incompletos, realizados por todos os que vieram antes, os quais ficam no registro dessa memória coletiva, nesse “campo ciente”, onde o “eu” pode não saber de modo consciente, mas “nós” sabemos. O AMOR SEXUAL caracteriza e define que o relacionamento é conjugal. Sem o vínculo da sexualidade, o relacionamento conjugal se desfaz. Quando um cônjuge deseja o outro, diz: “eu quero me unir a você” e quando o outro retribui com o seu “sim”, equilibra o relacionamento. E então eles podem realizar o terceiro movimento, que é ter algo em comum, e essa aliança são os filhos. Por meio da sexualidade, um homem e uma mulher declaram que eles são certos um para o outro e só assim a vida pode seguir adiante. Quem tem prazer na sexualidade, internamente diz “sim” para a vida. A sexualidade é a força maior a serviço da vida; por isso um homem, quando está junto a uma mulher e uma mulher está junto a um homem, eles desejam um ao outro e desejam ter filhos. Um filho é a expressão tangível da aliança entre o homem e a mulher, indissolúvel – um filho é para sempre: “O que Deus uniu o homem não separa!” (Mc, 10:9). AS DIFICULDADES DA SEXUALIDADE são dificuldades em tomar a vida. Para o exercício pleno da sexualidade é preciso tornar-se adulto e, ao mesmo tempo, ter vivenciado uma infância feliz. Só a partir dessas duas condições é possível desejar ao outro e concordar em ser desejado. Quando um cônjuge deseja o outro muito mais e é rejeitado, o princípio da compensação é violado. Cria-se um desequilíbrio porque aquele que mais desejou fica devedor, aquele que rejeitou, tem créditos em excesso; isso interrompe o fluxo de amor entre o casal. O que mais abençoa uma criança é quando internamente ela sabe “que foi com prazer”, nem que seja no momento de sua concepção, aquele homem e aquela mulher, masculino e feminino, viven-ciaram o prazer, a alegria da vida. Nem que seja somente na concepção. A criança se fortalece quando ela percebe que aquela aliança foi desejada. Portanto, para ser um casal, precisam estar unidos por meio do amor do coração, do amor sexual e de um amor maior, os filhos. Quando estes não existem por uma impossibilidade, quando essa bênção não é concedida, o casal pode permanecer unido se encontra uma causa, um propósito onde eles possam fazer algo parecido com o que os pais fazem para os filhos: a prática do amor incondicional, da gratuidade e da generosidade. O QUE ABENÇOA os filhos é a alegria da mãe ser mulher e a alegria do pai ser homem. Desta forma o masculino e o feminino estão em harmonia naquele ser porque, às vezes, quando o pai e a mãe não tomaram a si próprios e nem um ao outro, isso pode sustentar as dinâmicas da homossexualidade: “eu vou buscar o igual perfeito” - a mulher ou o homem - para os pais do sexo oposto. A mulher busca outra mulher para completar, na alma da mãe, o equilíbrio do feminino a fim de presentear o pai. O mesmo acontece na homossexualidade masculina: busca-se o homem perfeito para presentear a mãe. Evidentemente que existem também tantas outras dinâmicas, tantas outras. O relacionamento entre os pais tem precedência sobre o relacionamento com os filhos. Antes os pais se respeitam e se cuidam, para que assim o respeito e o cuidado com os filhos possam realmente fazer efeito. Muitas vezes o vínculo do amor entre a criança e seus pais é interrompido pelo fato dos pais viverem em conflito. A paz entre os pais fortalece o vínculo entre eles e também com a criança, porque uma criança é os seus pais. “os filhos não somente tem os seus pais, como são os seus pais” (HELLINGER, 2008, p. 33). Por isso o relacionamento dos pais tem precedência. Quando a mãe diz “eu cuido dos meus filhos”, se isso é real nós ouviremos “eu respeito e honro, eu cuido, eu zelo do meu relacionamento com o pai dessa criança”. E quando o pai diz “eu cuido dos meus filhos”, nós ouviremos o mesmo “eu honro, eu zelo, eu respeito o meu relacionamento com a mãe deles”. E isso não tem nada a ver com o estado civil deles. Uma criança cujos pais não mais vivem juntos conjugalmente, porém se respeitam e estão em paz, experimentará um “estado de alma” diferente daquela cujos pais estão em conflito. O QUE SENTEM OS FILHOS? PARA COMPREENDERMOS melhor, imaginemos e façamos um paralelo: o que sente um filho que percebe que entre seu pai e sua mãe há honra e respeito e o que sente outro filho diante de uma briga real entre seus pais - ele irá procurar fazer alguma coisa, qualquer coisa, gritar com seus pais pedindo que parem, chamar o vizinho, chorar, ficar desesperado… o que mais? Qual é seu “estado de alma”? Sem chance para a serenidade e toda condição necessária para tocar a vida de modo normal, estudando, vivendo de modo saudável, etc. No aparente pode estar tudo bem, porém, além do aparente, há um “estado de guerra”, um conflito sério. No coração do pai, a mãe não tem um bom lugar e vice-versa. No aparente, “um não quer enxergar o outro nem pintado de ouro”, porém no filho, estão juntos. E o filho fará tudo para que a paz se faça, porém, como é um processo além do aparente, o “trabalho” do filho pelos pais se manifesta em atitudes deste que trarão mais infelicidade, sofrimento, dor. Um filho com problemas está trabalhando para seus pais, para seu sistema. Enquanto não houver a reabilitação da honra e do respeito, isto é, a reconciliação, não haverá paz. ¹¹ Poema recitado por Patch Adams, no filme “O Amor é Contagioso” CAPÍTULO VII COM QUEM A CRIANÇA DEVE FICAR OU ALGO SOBRE ALIENAÇÃO PARENTAL Quem critica o pai, ofende a criança; quem desqualifica a mãe, fere o filho. “Pai Meperdoa essa insegurança É que eu não sou mais aquela criança Que um dia morrendo de medo Nos seus braços você fez segredo Nos seus passos você foi mais eu Pai Eu cresci e não houve outro jeito (…) Longos anos em busca de paz” Fábio Júnior, “Pai” Se uma criança convive com pais que se criticam enquanto pessoas, sua energia é destinada para se proteger, comprometendo seu desenvolvimento, seu sucesso, felicidade e saúde. Quem não respeita o destino do outro, não é reconhecido como alguém que inspire confiança o suficiente para ser um aliado. Portanto, a criança deve permanecer próxima à figura parental que honra o relacionamento e respeita a outra figura parental. Em um tribunal seria perguntado à criança: “quem respeita mais um ao outro?”. Seria observado quem honra mais, quem está menos ressentido, mais reconciliado e esta criança seria orientada a permanecer mais próxima a esse pai/mãe. Aqui não nos referimos à “guarda” no sentido jurídico, mas aquele que tem mais condições de ser o “guardião” do bom desenvolvimento da criança. Um relacionamento só pode dar certo quando um cônjuge diz ao outro “eu tomo você e tudo o que une a mim e a você, inclusive seus pais e sua família de origem, eu concordo com isso, eu te tomo”. As maiores bênçãos fluem dos pais para os filhos, quando cada um dos cônjuges: 1. Concorda com o seu destino – seja o filho inteligente, bem humorado, irritado ou desinteressado. 2. Respeita mãe e pai do jeito que são. Por meio de sua vida, este cônjuge também honra seus pais e mantém-se pertencente ao seu sistema. 3. Sabe que o filho não é seu, que o filho é “o pai e a mãe”. Coisas nos pertencem, pessoas não. 4. Cuida da própria felicidade. Os filhos sentem que têm permissão para a alegria, a saúde e a prosperidade quando os pais são bem sucedidos, saudáveis e felizes. MEU FILHO OU NOSSO FILHO? UM PRINCÍPIO importantíssimo dentro de um sistema é o da alteridade. O que é alteridade? Alteridade é um substantivo feminino que expressa a qualidade ou o estado do que é outro ou do que é diferente. É antônimo de identidade (do que é idêntico). Em Filosofia tem o sentido de circunstância, condição ou característica que se desenvolve por relações de diferença, de contraste. Assim, a alteridade fala da necessária presença do outro para a construção do “eu”, ou seja, o “eu”, na sua forma individual, só pode existir por meio de um contato com o “outro”; o indivíduo é resultado de suas relações com o outro e das interações sociais, ou seja, as relações sociais produzem em cada indivíduo, alterações que o caracterizam como pertencente a determinado sistema, a determinada cultura. Neste sentido, a alteridade no sistema prevê que nenhum elemento se sobrepõe ao outro, porque cada indivíduo se reconhece como tal por causa desse “outro”. E a interdependência prevê que uma mudança ocorrida em um elemento, afeta todo o sistema e, portanto, todos os demais elementos. Por isso que não faz sentido os pais dizerem “meu filho”, pois esse filho só foi possível por causa do outro. O adequado é dizer “nosso filho”, pois assim o outro é reconhecido e o princípio da honra é atendido. CAPÍTULO VIII O RELACIONAMENTO CONJUGAL INFLUENCIANDO O RELACIONAMENTO COM OS FILHOS - Uma criança é seu pai e sua mãe e algo mais. - Um cônjuge não deveria ter a pretensão de mudar o outro; isso é o que o faz ruir qualquer relacionamento. Quando queremos mudar alguém, significa que pensamos que esta pessoa é errada. Entretanto, isso desonra a família a que pertence. Ao criticar, ao querer mudar, desonra a família de origem de seu parceiro. O cônjuge jamais pode mudar, porque mudar significaria perder a dignidade, significaria separar-se de sua família de origem, significa deixar de ser, de fazer a tarefa que lhe é designada para que pertença (pobre, doente ou infeliz). Nunca deixamos de ser leais, porque lealdade significa pertencimento. Não existe exercício espiritual maior do que casar-se e ter os seus filhos. Quem tem um relacionamento conjugal, tem mais. Mais desafios, mais aprendizados, mais oportunidades, mais. Um solteiro tem sempre menos, menos um pouco. E um casal que tem filhos, tem ainda muito mais, muito mais força. Uma pessoa que tem filhos é mais, serve mais, oferece mais e então recebe mais. Uma cliente disse certa vez: “meu orçamento era tão apertado, eu nunca imaginava que seria suficiente para mais nada. Entretanto, quando nosso filho nasceu, o milagre veio: o dinheiro era mais que suficiente para mim, era suficiente para nós dois. Parece existir um tipo de providência divina que vem junto com nossos filhos que provê a nós, pais, do que é necessário para ampará-los e servi-los.” OS SINTOMAS, os sofrimentos pedem sempre uma reconciliação, uma reconciliação com os pais e tudo o que isso significa. Então quando um cônjuge toma o outro, ele precisa estar reconciliado com os próprios pais para tomar as bênçãos deles e tomar o outro com os seus próprios pais. Por isso está escrito “deixará o homem seu pai e sua mãe e unir-se-á à sua mulher” (Mc 10:7). Aqui sabemos que deixar significa liberar-se dos julgamentos, significa crescer, significa parar de implicar, significa esperar, significa criar o novo. Porque só quem deixa pode tomar. Deixar não quer dizer abandonar os pais - uma atitude de profunda desonra - ou libertar-se deles - um ato impossível, pois um filho só existe por causa de seus pais. Deixar pai e mãe significa simplesmente considerar um ciclo relacional completo - o período vivido na família de origem - para iniciar outro - a própria família. Este ato altera todo o sistema, pois novas conexões serão formadas. O novo casal conectará dois sistemas familiares diferentes que partilharão os destinos, que influenciarão as histórias que começam a ser escritas a partir de então. Por isso, em certo sentido está certo quando se diz: “você não se casa apenas com seu cônjuge, mas com toda a família”. O sucesso em um relacionamento conjugal depende exclusivamente de tomar os próprios pais, ou seja, tomar o essencial deles - a vida que fluiu deles para formar você. Depende de crescer, tornar-se adulto, assumir a condição de responsabilizar-se pela própria vida: “Se algo me faltou, agora eu faço.” Compreender que os pais, antes de tudo são humanos e estão, assim como os filhos, a serviço do destino de seus sistemas. Geralmente é o inverso disso que acontece: “Eles não me deram amor, atenção, tempo e segurança, então agora você me dá.” Ninguém pode dar a alguém o que os pais deveriam dar, a não ser a própria pessoa. Só ela tem acesso aos seus pais. Quando ouvimos “você tem que se libertar dos seus pais”, deveríamos apagar a frase. Dizer isto é o mesmo que dizer: “arranque o seu braço que este reumatismo não vai mais lhe incomodar.” Todo o nosso ser reage de modo rápido e preciso perante uma incoerência desta. Por mais que se reclame dos pais, os filhos amam os seus pais e precisam deles. Naturalmente percebemos na alma uma sensação de culpa, necessidade de nos afastarmos de quem os critica e, se temos alguma liberdade com essa pessoa, entramos em conflito com ela. Por isso, muitos cônjuges têm conflito, porque um diz ao outro: “Faça melhor, capriche. Como você é descuidado! Nossa… você é igualzinho seu pai!” Deste modo, nem um e nem outro ficam livres para ser o algo mais. Somos o pai, a mãe e algo mais, nesta ordem. Enquanto não tomamos o pai e a mãe, enquanto não os honramos, não podemos ser o algo mais. A depressão é um vazio, vazio do pai ou da mãe e do algo mais. Um relacionamento conjugal proporciona a oportunidade do exercício do amor do coração, do querer bem ao outro, incondicionalmente, pelo que é e dedicar-se à felicidade do outro porque se é feliz. Hellinger disse certa vez: anote vinte pecados que você desculparia, multiplique por três e aumente mais alguns. Assim, irá verdadeiramente usufruir e ter felicidade em seu relacionamento. O maior espelho é o outro: o que admiramos ou o que não gostamos mostra muito mais quem somos do que aquilo que o outroé. Oportunidades de crescimento. Decidir por conhecer-se, cuidar do outro, realizar um propósito, caminhar lado a lado, só é possível para adultos. Numa sociedade infantilizada, onde o prazer está em primeiro lugar e a cultura do descarte rápido cada vez mais vigente, as pessoas são privadas desta oportunidade maravilhosa de uma vida de companheirismo, de prazer, de crescimento, respeito e maturidade. Jirina Prekov também nos convidou, em um seminário, a refletir sobre este tema: qual a maior fome de um ser humano? E nos fez perceber que nossa maior fome é a de sermos aceitos exatamente pelo que somos. Que somos suficientes, que não seremos abandonados apesar de não sermos perfeitos. Em uma cerimônia de casamento, digo sempre, a única exigência deveria ser: todos descalços. Principalmente os noivos. Porque, para uma vida conjugal suficientemente feliz, se faz necessário considerar que o destino do outro é sagrado. Que uma relação pressupõe cuidado, sensibilidade, ternura, rigor. A história, a vida de uma pessoa é construída a um preço que não é possível descrever. Por isto, diante do outro, reverência. Sem julgamento, sem orgulho, sem salto alto. Humildade. Assim é possível prosseguir. O amor não é romântico. O amor é exigente. As frases numa cerimônia seriam: “Eu tomo a você e tudo o que une a mim a você.” “Concordo com seus pais, seus hábitos, características, comportamentos, destino, antepassados, futuro. Concordo e honro.” E o relacionamento só será bem sucedido se estas frases puderem ser ditas com toda verdade, de todo o coração. As separações tantas vezes vivenciadas com tanta dor, aconteceram e acontecem pela ausência do compromisso mútuo com a verdade destas declarações, as quais, ainda que não tenham sido proferidas, são princípios que sustentam qualquer relacionamento conjugal. CAPÍTULO IX SINTOMAS E DOENÇAS – O QUE CURA E O QUE FAZ ADOECER Um sintoma é um caminho. A cura é uma jornada. SER SAUDÁVEL É UMA CONSEQUÊNCIA, É UM EFEITO. É um efeito, sobretudo de amar o sintoma, de “concordar” com ele. Lembre do significado de concordar, já mencionado anteriormente neste livro. Todo sintoma traz uma mensagem, um sintoma é um anjo, é um mensageiro. Quando “brigamos” com o sintoma, ele pode temporariamente desaparecer, mas esse mensageiro, esse anjo, tem uma qualidade: não desiste, é perseverante. Ele faz de tudo para a mensagem chegar ao destinatário, ele se disfarça muitas vezes de várias roupagens, mas é o mesmo anjo, é o mesmo mensageiro, é a mesma mensagem. No início pode ser em forma de resfriado. A mensagem precisa ser entregue, então ela chega na forma de um sintoma. Contudo, o destinatário diz “vou tomar um comprimido e logo desaparece”. Só o resfriado que desaparece, pois o mensageiro permanece, ela dá meia volta e dali a algum tempo, quem sabe, aparece uma tosse. O destinatário diz: “agora, bastam três comprimidos e eu já resolvo tudo isso”. E, aparentemente, resolve. Mas o anjo, mensageiro, o sintoma retornará… Depois de um tempo, pode surgir um reumatismo e talvez, neste momento, aumente a dose: “sete comprimidos e isso já se resolve”. Ledo engano, não se resolve. Então a pessoa, o destinatário diz “ah, é assim mesmo”, e adapta a sua vida ao sintoma. COMO SE FOSSE MÁGICA MUITAS VEZES ocorre algo assim, como um filme, algo mágico: “… um dia algo acontece, ou porque ele foi à igreja, ou lendo um capítulo de um livro, encontrado num banco de aeroporto, ou quando está cantando, dançando, ele tem uma sensação incrível, agora sim, teve um milagre. Nem um, seis, sete comprimidos. Algo incrível aconteceu, inexplicável, sem receita. Essa pessoa sabe que está curada, mas o que a curou é impossível de ser descrito. Não é a oração, não é o conhecimento, não é o canto e não é a dança. É algo extraordinário que aconteceu com o seu ser, que excede a qualquer entendimento. A pessoa e “seu anjo” respiram aliviados e felizes, tornando-se uma unidade. O sintoma está integrado, coordenado, ele é agora “dentro”, essa parte excluída é agora pertencente. Algo tornou-se completo! Uma cura aconteceu.” O primeiro sinal de uma doença é quando a pessoa sente-se bem e desconfortável ao mesmo tempo, é comum esta frase: “não sei o que há comigo”. Isso significa que ela já está doente, “não sei o que há comigo” é sinal de exclusão, tem algo pedindo para ser incluído, percebido. Algo pedindo para tornar-se completo. O que precisa ser incluído para o bem-estar tornar-se presente? O caminho para a saúde é incluir-se. Todo sintoma significa, em primeiro lugar, uma autoexclusão. Alguns médicos sabem bem disso e perguntam aos seus clientes: “O que se passa com você? Quero que você medite como está sua vida; onde, na sua vida o amor, o humor e a alegria, precisam estar mais?”. Uma doença também pede para trilharmos um segundo caminho, o caminho da ordem. É fundamental para curar-se, reordenar. Não somente tarefas, mas principalmente a missão e o propósito, nem sempre o quê, mas sempre o como. E quando acontece uma cura verdadeira, existe um sinal, e o sinal é uma frase dita espontaneamente: “eu sou outra pessoa” e tem sempre um sorriso junto a isso. Já o terceiro caminho para a cura é um caminho que os orientais conhecem muito, o caminho da gratidão e da generosidade. Gratidão e generosidade são partes essenciais desse caminho. Um sintoma aparece quando violamos essa ordem de ajuda, quer seja quando exigimos mais, quando oferecemos demais, ou simplesmente quando damos as costas, desqualificando tudo de bom que nos é dado. Na abordagem sistêmica, chamamos esse caminho de “equilíbrio entre o dar e o receber” ou princípio da compensação. UM SINTOMA é uma bênção, é a vara e o cajado do pastor sendo usados para tanger a ovelha a fim de que retorne ao seu lugar seguro, é uma oportunidade de voltar para casa, é uma oportunidade de ampliar a presença. Este termo - presença - é o mesmo empregado por Eckhart Tolle, em seu livro “O Poder do Agora” (2003, p. 94). Ali, o autor discorre sobre o que chama de “estado de presença” e explica que, em certo sentido, o estado de presença poderia ser comparado à espera cuja analogia Jesus empregou em algumas das suas parábolas. Não se trata da habitual espera enfadonha ou inquieta, uma recusa do presente. Não é uma espera na qual a atenção tem seu foco nalgum ponto do futuro e o presente é percebido como um obstáculo indesejável que nos impede de alcançar o que desejamos. Existe um tipo de espera que requer prontidão total. Alguma coisa pode acontecer a qualquer momento e, se não estivermos absolutamente acordados e calmos, vamos perdê-la. Um sintoma sempre é um caminho que se abre na direção de um tesouro. Curar- se significa tornar-se mais por meio do menos. Para que a cura aconteça é fundamental desapegar-se; desapegar-se dos medos, dos pensamentos, das ideias - todos carregados do peso do julgamento - e poder perceber o que é. Simplesmente perceber o corpo como um sistema, ouvir o que ele precisa; ouvir a si mesmo como um grande sistema genético, emocional, familiar e perceber qual a tarefa aqui, qual a oportunidade de aprendizado há naquele sintoma. A medicina sabe um pouco deste princípio quando diz: “você precisa diminuir o sal, o açúcar, a ingestão de álcool, de carboidratos, a quantidade de trabalho, etc.”, porém, somente isso não cura. É preciso atuar em nível de identidade e criar mudanças no ser. Por exemplo, ser menos preocupado, menos apegado, menos exigente, menos vítima - tomar a vida, a sua vida e viver, simplesmente viver e vivê-la com aquilo que é exclusivo dela e não da vida de outros. A cura chega quando, a partir do movimento de soltar, é possível a condição extraordinária de tomar. Um sintoma sempre pede uma mudança, quem tem um sintoma tem um pedido do corpo para mudar algo. O que é preciso mudar aqui, que, se acontecer, o sintoma se transforma em saúde, o sintoma se transforma em força e recurso. O quê? O quê? Para que a cura aconteça, as transformações precisam ir além das intervenções no ambiente e das intervenções no comportamento.
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