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RESUMO LEITURAS OBRIGATÓRIAS UFRGS VESTIBULAR 2022 ISABELA FIGUEIREDO Caderno de memórias coloniais Lourenço Marques (atual Maputo) em Moçambique, é o cenário das memórias de Isabela Figueiredo. Além da cidade e do país como cenários físicos destas memórias, a autora nos apresenta seus sentimentos sobre o período de “colonização” e descolonização portuguesa por lá. Isabela é filha de colonos portugueses e nascida em Lourenço Marques. Com a descolonização (1975) voltou a Portugal, deixando para trás suas raízes, histórias e seus pais, tornando-se uma “retornada”. Ao longo das páginas deste livro nos deparamos com um relato cru, sarcástico e sentimental sobre as percepções da menina Isabela no período colonial e posteriormente do seu retorno a Portugal na casa da avó e o choque de realidade vivenciada. Acompanhamos, através da visão desta criança, o racismo, as dificuldades enfrentadas pela população negra de moçambique com o trabalho escravo, já que os negros eram irremediavelmente mau pagos pelos colonos. Junto com a Isabela criança, nos damos conta da separação entre brancos e negros, bem como dos brancos usando de sua força e suposta superioridade para subjugar as mulheres negras a seus prazeres – “Os brancos iam às pretas”. A criança Isabela, não podia brincar com as crianças negras. A não ser que fosse escondido. Não podia ter costumes de negros, como andar descalça por exemplo, a não ser que fosse escondido. A menina Isabela, apesar de ser natural de Lourenço Marques, era branca e isso fazia toda a diferença. O livro é também um passar a limpo todo o amor e desamor da autora por seu pai, visto que ao longo de sua vida e das percepções que foi tendo sobre a “colonização” em África pelos Portugueses, passou a confrontar as ideias de seu pai, colonizador e racista até sua morte. Falando sobre suas memórias, que tem o pai como centro da narrativa, Isabela provoca a nossa percepção para Camila Consi como as ações particulares de seu pai fazem parte e participam de uma perspectiva maior de brutalidade e dominação. Patriarcal, machista e escravagista. CHICO BUARQUE Construção (Álbum) Liricamente, o álbum é carregado de críticas ao regime militar vigente, principalmente no que concerne à censura imposta pelo governo ("Cordão") e pelo estado indigno no qual as condições individuais se encontravam no país ("Construção"), além de algumas canções mais clássicas e pessoais ("Valsinha" e "Minha História"). O disco marca o aguçamento da vertente crítica da poética do autor. Se antes ele harmonizava Bossa Nova com composições veladamente críticas à ditadura brasileira, em "Construção" o cantor mostrou-se mais ousado - como indica os versos iniciais de "Deus lhe Pague", faixa que abre o LP ("Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormir"). Em "Samba de Orly", parceria com Toquinho e Vinicius de Moraes, Chico canta abertamente sobre o exílio - o que fez com que a canção fosse parcialmente censurada. A faixa-título é uma crítica sobre um homem que trabalhou arduamente até sua morte. Não faltaram também o lirismo característico do artista, como demonstrado em "Olha Maria" e "Valsinha". O álbum conta com arranjos de Magro, então integrante do grupo MPB-4, e do maestro Rogério Duprat. "Construção teve uma criação que esteve condicionada ao país em que eu vivi. Existe alguma coisa de abafado, pode ser chamado de protesto, e eu nem acho que eu faça música de protesto....mas existem músicas que se referem imediatamente à realidade que eu estava vivendo, à realidade política do país. Até o disco da samambaia (Chico Buarque, 1978), que já é o disco que respira, o disco onde as músicas censuradas aparecem de novo. Enfim, a luta contra a censura, pela liberdade de expressão, está muito presente nesses cinco discos dos anos 70." Chico Buarque sobre a construção do álbum. Camila Consi https://pt.wikipedia.org/wiki/Ditadura_militar_no_Brasil_(1964%E2%80%931985) https://pt.wikipedia.org/wiki/Minha_hist%C3%B3ria_(Chico_Buarque) https://pt.wikipedia.org/wiki/Bossa_Nova https://pt.wikipedia.org/wiki/Toquinho https://pt.wikipedia.org/wiki/Vinicius_de_Moraes https://pt.wikipedia.org/wiki/Constru%C3%A7%C3%A3o_(can%C3%A7%C3%A3o_de_Chico_Buarque) https://pt.wikipedia.org/wiki/Magro_(MPB4) https://pt.wikipedia.org/wiki/MPB-4 https://pt.wikipedia.org/wiki/Rog%C3%A9rio_Duprat https://pt.wikipedia.org/wiki/Rog%C3%A9rio_Duprat CONCEIÇÃO EVARISTO Ponciá Vicêncio Título: Ponciá Vicêncio Autora: Conceição Evaristo Ano de publicação: 2003 Nacionalidade: Brasileiro Foco narrativo: 3° pessoa Movimento literário: Literatura afro-brasileira contemporânea A obra narra a vida de Ponciá Vicêncio, em flashbacks, desde sua infância até a idade adulta. Ela nasceu na vila chamada Vicêncio, no interior do Brasil. Era um local de população formada por descendentes de escravos cujos proprietários da terra eram a Família Vicêncio. Lá, os nascido herdaram esse sobrenome e era onde todos moravam e trabalhavam. Sua mãe era Maria Vicêncio e trabalhava com o artesanato de barro, assim como Ponciá. Seu pai e seu irmão trabalhavam na lavoura da família Vicêncio. Ponciá, que brincava de passar por debaixo do arco-íris com medo de mudar de sexo (crendice popular), era diferente desde a infância; principalmente pela semelhança física com o avô Vicêncio. Na época em que ele era escravo, teve um momento de loucura e indignação com a escravidão. Acabou matando a esposa e tentou suicídio. Fê-lo cortando o braço, mas não morreu, restando-lhe um cotoco. Ponciá imitava o avô desde pequena, apesar de ele ter falecido quando ela era uma criança de colo. Ela sempre modelava um boneco de barro como ele e todos se espantavam com isso, dizendo que ela “carregava a herança do avô”. A obra Ponciá Vicêncio é o primeiro romance de Conceição Evaristo e nela são narrados os problemas do cotidiano das mulheres afrodescendentes, sob um ponto de vista claramente feminino e negro. Camila Consi Esta obra contrapõe a tese segundo a qual a escrita dos descendentes de escravos estaria restrita ao conto e à poesia. Além disso, estabelece uma visão crítica sobre o abolicionismo do século XIX e até se assemelha com obras do negrismo modernista de Jorge Amado ou José Lins do Rego. Em toda a prosa há a forte presença da linguagem poética, ela narra os pequenos acontecimentos do cotidiano, mas com um olhar que transcende o automatismo das coisas do dia-a-dia. Assim, olha-se com a essência da poesia. É um texto marcado pela etnicidade cultural da voz. Quem fala é um sujeito étnico, com as marcas do preconceito carregadas e sentidas na pele, percorrendo o passado em contraponto com os mitos de cordialidade e democracia racial. Já de início o sobrenome “Vicêncio”, que provém do antigo dono da terra, era uma marca de subalternidade. Assim, denuncia a ausência de um dos direitos de cidadania, para aqueles descendentes de escravos. O relato estende-se pelo penoso caminho de vazios e derrotas. Nele, menina ou mulher, vai sendo alijada dos entes queridos e de tudo o que possa significar enraizamento identitário. Ponciá até chega a cair na letargia que a faz perder-se de si mesma. Mas como carrega a força de seus ancestrais, ainda que no fundo poço, consegue voltar às suas origens. AMÍLCAR BETTEGA Deixa o quarto como está Amílcar Bettega Barbosa, nome de destaque da atual safra de ficcionistas brasileiros, contrariando a tradição realista de nossa prosa ficcional, em "Deixe o quarto como está" tomou o caminho da narrativa fantástica. Neste seu segundo livro se firma como um dos mais talentosos contistas brasileiros. A maioria dos contos de "Deixe o quarto como está" é pautada pelo insólito. A escrita elegante, a leveza e o diálogo Camila Consi entre poesia e prosa lembram o estilo de Murilo Rubião, outro que fez da espera e do cansaço matéria-prima da ficção. Recriando o fantástico com uma escrita peculiar, mesclada de lirismo e certa melancolia, aliada ao humor cáustico que percorrecada página, Amílcar deixa o leitor sempre a meio caminho entre a realidade e o sonho, apostando sobretudo nos detalhes, nas minúcias do cotidiano, sob as quais se escondem mundos inimagináveis. A narrativa pop-surrealista de Amílcar Bettega é marcada por um grande domínio técnico e esteticamente se filia ao chamado realismo mágico, estabelecendo uma intertextualidade com o escritor argentino Julio Cortázar, em que acontecimentos inesperados tomam conta do contexto de forma "realista". Amílcar segue caminho próprio dentro da nova literatura brasileira, construindo uma obra que se mantém ligada através de personagens à procura de um sentido para se viver num mundo cada vez mais caótico de sentidos e significados. A lógica cotidiana abre espaço para estranhos eventos, que passam a impor suas próprias regras configurando uma nova realidade. As situações mais absurdas são descritas com naturalidade: Um homem toma um trem para sair da cidade, mas não consegue deixar o perímetro urbano. Outro personagem acorda em seu quarto e percebe que está acompanhado de um crocodilo. Uma casa redesenha a própria arquitetura como se estivesse viva. Os contos "Auto-retrato", "Aprendizado" e "Para salvar Beth", se aproximam da ficção realista. "Hereditário", "O crocodilo", "O rosto", "O encontro" - adentram mundos insólitos como inquietantes fantasias kafkianas narradas com o humor sutil de um cineasta surrealista. Invariavelmente, o que impressiona é a habilidade de Bettega em enredar o leitor como cúmplice na construção de estranhos, oníricos e delirantes universos. Camila Consi ADÉLIA PRADO Bagagem Bagagem é o livro de estreia da poeta mineira Adélia Prado e foi publicado pela primeira vez em 1976, após indicação de Carlos Drummond de Andrade. O renomado poeta, também mineiro, ficou entusiasmado com o estilo e a sensibilidade da escritora — que contrasta a leveza com a força, mesclando versos sutis e rimas doces com reflexões e sentimentos profundos. A obra é repleta de poemas que, segundo a própria autora, nasceram não só de um processo criativo, mas também de experiências pessoais regadas de tristeza, sofrimento e angústia. Além disso, a temática religiosa é muito recorrente no livro, já que a poeta retrata a fé como um pilar da vida e da humanidade. Essa relação com a religiosidade não está restrita às questões de sagrado e de divindade, estende-se também para uma análise do bem e do mal, do lado bom e do lado ruim das coisas. Em Bagagem, os poemas estão distribuídos em cerca de 150 páginas, dependendo da edição do livro. Segundo a autora, a obra foi escrita em um período de grande inspiração criativa, com versos que são descargas emocionais despejadas no papel. Muito autocrítica, Adélia Prado chegou a afirmar que sua produção não tem valor literário, são apenas experiências. A obra traz temáticas variadas, abordando o amor, as dores, as angústias, o chamado à poesia e à vocação poética. Pode-se perceber que a combinação dos contrários (amor e ódio, tristeza e alegria, sagrado e profano) e a afirmação da condição feminina da autora estão presentes em todo o livro. Quanto à estrutura, o livro está dividido em 5 partes: O modo poético; Um jeito de amor; A sarça ardente I; A sarça ardente II; e Alfândega. Análise da obra Camila Consi Apresentado de forma sutil e um leve erotismo, o amor é um dos temas centrais da obra. Outro tema que ganha destaque é a família, visto que muitos poemas falam sobre o amor materno, a relação entre irmãs, o convívio entre pai e filha, neta e avós, marido e mulher. Nessa abordagem das relações pessoais, surge a questão da memória. Muitas linhas são dedicadas ao saudosismo, tratando com muito lirismo o passado. A autora também discorre sobre ações do cotidiano e sobre a condição feminina. Além disso, está presente a metalinguagem ou, nesse caso específico, a metapoesia: uma parte inteira destinada a falar sobre o ato de escrever e a vocação de ser poeta. Quanto à linguagem, Adélia Prado opta por uma escrita simples, sem palavras sofisticadas nem métricas complicadas, mas com um forte posicionamento sobre o ser mulher e escritora, que pode ser lido, muitas vezes, como feminista. Nesse sentido, inclusive, é que alguns de seus poemas vão dialogar com textos de vários escritores. Bagagem explora bastante a intertextualidade, dialogando com escritores como Carlos Drummond de Andrade, Castro Alves, Camões, Fernando Pessoa, Manual Bandeira e até João Guimarães Rosa. Entretanto, sua maior inspiração é o poeta Carlos Drummond de Andrade. Adélia chega até a citar frases do autor, como acontece em Com licença poética, que tem uma passagem do Poema de sete faces, de Carlos Drummond de Andrade. Adélia traz a visão feminina para a poesia de Drummond, como pode ser visto no poema Agora, Ó José, que faz uma alusão ao texto “E agora, José?.” GRACILIANO RAMOS São Bernardo A perda da humanidade Camila Consi Publicado em 1934, “São Bernardo” é tido como um dos maiores representantes da segunda fase do Modernismo brasileiro. Nos anos conturbados das décadas de 1930 e 40, com crises econômicas, sociais e políticas em todo o mundo, os artistas voltaram-se para as temáticas sociais. No Brasil, os romances dessa época tinham um caráter regionalista, tratando principalmente dos problemas do Nordeste do país, tais como a seca, os retirantes, a miséria e a ignorância do povo. Porém, apesar do pano de fundo de “São Bernardo” ser os problemas do sertão, Graciliano Ramos foi muito além disso, criando uma obra com uma densa carga psicológica. Para alcançar sua ascensão social, Paulo Honório abre mão de sua humanidade. Endurecido pelas dificuldades do meio onde vive, ele se torna um homem rude, bruto e violento. Narrado em primeira pessoa, todo o romance irá se desenvolver centrado em dois planos diferentes: o Paulo Honório narrador e o Paulo Honório personagem. Esses planos ficam evidentes através do tempo verbal utilizado na narrativa: o Paulo Honório narrador é demarcado pelo uso do tempo presente; já o Paulo Honório personagem é demarcado pelo tempo pretérito. O narrador irá se debruçar sobre seu passado, tentando entender a si mesmo, ao mundo e como ele se relaciona com esse mundo exterior. O narrador expõe no primeiro capítulo como ele planejava contar sua história, delegando funções para pessoas mais cultas. Porém, Paulo Honório descobre que este método de escrita é falho, pois ninguém falava da forma como estava escrito e ele não se via representado ali. A partir de então, ele mesmo resolve tomar a frente e escrever suas próprias lembranças. Através desse processo metalinguístico de exposição do projeto de escrita do livro, coloca-se o próprio ato de escrever em discussão. Porém, ao contrário do que se pode imaginar, a linguagem utilizada na narrativa não é desconexa e nem tosca. Pode-se dizer, então, que há uma certa inverossimilhança na obra, pois como um homem rústica que se diz quase Camila Consi analfabeto, iria escrever um texto tão bem escrito? Mas, apesar de esta crítica ser pertinente, observa-se que a linguagem utilizada é extremamente enxuta e direta, o que, além de ser típica do estilo do próprio Graciliano Ramos, combina com Paulo Honório. De origem humilde, Paulo Honório não mediu esforços para conseguir sua ascensão social, utilizando muitas vezes de meios antiéticos, como ameaças, assassinato e roubo. Sua visão de mundo é totalmente centrada em uma relação de poder entre “opressor” e “oprimido”. Para ele, o que importa é “ter”. Essa visão de mundo entra em choque com a de sua esposa, Madalena, que é da esfera do “ser”, ou seja, ela não se preocupa com posses, mas com a qualidade e dignidade humanas. Por fim, Paulo Honório não consegue compreender o mundo entra em choque com a de sua esposa, Madalena, que é da esfera do “ser”, ou seja, ela não se preocupa com posses, mas com a qualidade e dignidade humanas. Por fim, Paulo Honório não consegue compreender o mundo de sua esposae a acusa de infiel e “subversiva”; por sua vez, Madalena não consegue resgatar Paulo Honório de sua desumanidade. Sem sua esposa e abandonado também pelos amigos, Paulo Honório assume em partes seus erros que levaram à tragédia que se abateu sob a fazenda São Bernardo. Porém, ele joga a culpa de seu endurecimento, de sua perda da humanidade no ambiente em que vive. LYGIA FAGUNDES TELLES As Meninas É uma das obras-primas da escritora brasileira Lygia Fagundes Telles. O romance foi publicado em 1973, durante a ditatura militar, período em que não se podia falar sobre qualquer assunto que envolvesse sexo, drogas e política. E daí? Lygia falou disso e mais um pouco ao dar vida a um romance corajoso, com as personagens Lorena, Lia (Lião) e Ana Clara (Ana Turva). Lorena, Lia e Ana Clara são as personagens do romance, o qual transparece tanto complicações, desequilíbrios e Camila Consi perversões das meninas quanto da própria sociedade da época, que vivenciava o período ditatorial. Lorena é de família rica; sonha em se casar, pensa muito em fazer sexo, embora ainda seja virgem; é apaixonada por M.N, um médico casado e que tem cinco filhos; ouve muitos discos; ama estudar Latim e ler; cursa Direito. Lia é uma baiana filha de um alemão que fugiu do nazismo; coloca-se como militante de esquerda; sonha com uma grande revolução; busca lutar na linha de frente contra o regime político opressivo; cursava Ciências Sociais; já teve suas relações sexuais e amorosas, inclusive com uma mulher; no momento da narrativa é apaixonada por Miguel, preso político, e sonha em encontrá-lo na Argélia, onde poderão viver livres. Ana Clara, também chamada de Ana Turva, uma das personagens mais complexas; é muito bonita e ruiva; já sofreu abusos sexuais; é viciada em drogas; bebe muito; sonha em ficar rica e sair em capas de revistas; envolve-se em um relacionamento com um homem rico que ela chama de Escamoso, de quem é noiva; ao mesmo tempo, tem um relacionamento com Max, traficante de drogas; estudava Psicologia, mas largou o curso. Parece que há uma certa força, repleta de amor e vontade de viver intensamente, que une as amigas, as quais moram em um pensionato de freiras. Todas sem família por perto, em um período feroz da política brasileira e, desse modo, a amizade é uma rede de força entre elas. As meninas são distintas e elas sabem disso. Muitas vezes, uma faz crítica ao modo de vida da outra, mas, por fim, sabem que juntas podem estar amparadas e cuidadas, mesmo em momentos de maior criticidade e tristeza, em uma sociedade perversa e reprimida. Camila Consi Embora as meninas pareçam complexas, elas nada mais são do que representações de seres humanos com seus problemas, dúvidas próprias, medos e sonhos. Seres com vontade de viver. E é isso que defende a escritora: Parti da realidade para a ficção. Sei que em estado bruto as minhas meninas existem, estão por aí. Como ponto de partida tomei-as assim meio informes, sem características mais profundas, os traços ainda indefinidos: vieram como nebulosas. Tomei-as e fui trabalhando em cada uma, lenta e pacientemente, sou lenta. Afinal, tudo somado, creio que durante três anos convivi intimamente com essas três (TELLES, 2012, p. 313). MARCELO RUBENS PAIVA Feliz Ano Velho Feliz Ano Velho, de Marcelo Paiva, é uma obra autobiográfica que causou impacto nacional, em sua época. Nela, Marcelo conta como sua vida mudou do dia para a noite, após um acidente que o deixou tetraplégico. Narra sobre a força de vontade em se recuperar e o apoio dos amigos. Título: Feliz Ano Velho Autor: Marcelo Rubens Paiva Ano de publicação: 1982 Nacionalidade: Brasileiro Foco narrativo: Primeira pessoa Movimento literário: literatura brasileira contemporânea Camila Consi Marcelo era um jovem de 20 anos que vivia numa república com seus amigos, estudava engenharia na Unicamp e tinha uma vida de farras, com muitas mulheres. Ele também amava música, tinha uma banda, junto com o seu amigo Cassy, e já participara de concursos, a música fazia parte dele. Sua família era de boa condição e a única memória triste que sempre o acompanhava era a de seu pai, desaparecido em meio a ditadura militar no Brasil. Certo dia a polícia bateu em casa, levou a mãe, o pai, a irmã mais velha e após os questionamentos; apenas o pai não retornou. No dia 14 de dezembro, poucos dias antes do Natal de 1979, Marcelo Paiva estava bêbado no meio de um festejo com os amigos e, numa brincadeira, disse que iria buscar o tesouro no fundo do lago. Pulou em um “salto do Tio Patinhas”, sem saber que era raso. Seus amigos viram que ele não submergiu rapidamente e que deveria ter sofrido um acidente. Tiraram-no do lago, o colocaram de pé e depois o levaram deitado para um hospital. Não se sabe se o fato de logo ter ficado de pé havia agravado a situação, fato é que ele havia fraturado a quinta vértebra cervical e comprimido a medula. Assim, estava tetraplégico, perdera os movimentos abaixo do Feliz ano velho é o primeiro livro de Marcelo Rubens Paiva, sendo uma autobiografia escrita aos 26 anos, logo após o seu penúltimo tratamento. Diferentemente de algumas pessoas que sofrem algo e se fecham, resumindo-se a isso; Marcelo sente que é preciso lutar. Assim, a linguagem do texto expressa a irreverência e a determinação, além da compreensão de que “o futuro é uma quantidade infinita de incertezas”. A narrativa em primeira pessoa é bastante clara e direta, coloquial, permitindo ao leitor um rápido envolvimento com a trama. A história não se detém apenas ao aspecto do acidente ocorrido com o personagem, mas também, aborda todas as lembranças e reflexões que são levantadas por ele, trazendo os aspectos externos e internos do humano. Assim, a história tem um teor muito realista, nos direcionando a pensar em nossos próprios valores e questionamentos. Camila Consi É um livro que dá asas às lembranças e à imaginação, fazendo do trágico uma base para momentos de humor, ternura e erotismo. Um dos aspectos mais ressaltados, além da determinação de Marcelo, é a constante presença e auxílio da amizade. FLORBELA ESPANCA Poemas: https://www.youtube.com/watch?v=GN9GEZ-StB4 1. Fanatismo; 2. Horas rubras; 3. Eu; 4. Vaidade; 5. Lágrimas ocultas; 6. A minha dor; 7. Suavidade; 8. Se tu viesses ver-me; 9. Ser poeta; 10. Fumo; 11. Frêmito do meu corpo; 12. Realidade; 13. Súplica; 14. Doce certeza; 15. Quem sabe?!...; 16. A Mulher I; 17. A Mulher II; Camila Consi https://www.youtube.com/watch?v=GN9GEZ-StB4 18. Amiga; 19. Ódio; 20. Amar!; 21. O maior bem; 22. Neurastenia. MACHADO DE ASSIS Papéis avulsos Papéis avulsos, de Machado de Assis, terceiro livro do escritor Machado de Assis, em sua fase realista. Foi lançado em 1882. Os textos são decisivos na constituição do cânone de Machado de Assis. Com esse livro, a narrativa curta é legitimada como gênero de primeira importância no Brasil. A partir de Papéis Avulsos, onde há uma reunião de excelentes histórias, percebemos o grande aperfeiçoamento da linguagem do autor, sendo considerado um momento de ruptura na sua forma de escrita. A começar pelo título, sugerindo casualidade no arranjo dos escritos, tem-se a postura sutilmente corrosiva e implacável na representação dos desvios à norma ou da incapacidade de se estabelecer uma norma para uma sociedade estruturada em bases contraditórias e violentas, sob uma camada muito tênue de civilidade. Escritos no mesmo período da renovação de Memórias póstumas de Brás Cubas, os contos reunidos no volume sistematizam traços estilísticos da forma livre, com que Machado de Assis inscreve sua obra no grande diálogo internacional da sátira menipéia, fundada no humor paródico e no relativismo cético. Em Papéis Avulsos as histórias se armam principalmente em cima do aparecer, do mostrar aquilo que se quer ser, exposto na trilogia da aparência dominante formada pelos contos A Sereníssima República, O Segredo do Bonzo e Teoria do Medalhão.Em Papéis Avulsos, o autor começa a cunhar a fórmula mais permanente de seus contos: a contradição entre parecer e ser, entre a máscara e o desejo, entre a vida pública e os impulsos escuros da vida interior, desembocando sempre na fatal capitulação do sujeito à aparência dominante. Machado procura roer a substância do eu e do fato moral considerados em si mesmos; mas deixa nua a relação de dependência do mundo interior em face da conveniência do mais forte. É a móvel combinação de desejo, interesse e valor social que fundamenta as estranhas teorias do comportamento expressa nos contos que compõem os "Papéis avulsos" machadianos. Camila Consi MARIA FIRMINA DOS REIS Úrsula Em “Úrsula”, a princípio, vemos uma típica história de romance entre uma moçoila e um rapaz, com direito a todos os intricados vocábulos e diálogos da época. A obra, afinal, origina-se de 1859, uma época em que o Brasil, apesar de já ser império, ainda permeava as crueldades da escravidão inteiramente legal. O curioso, entretanto, se faz pelo retrato e pela abordagem da escravidão brasileira. Talvez pelo papel social da autora – como mulher e negra -, a maneira com a qual tratou de tal tema se mostrou, não surpreendentemente, sensível, fácil e fluida. Isso, porém, não fez as críticas e riscos escritos pela mesma menos perceptíveis e ousados, especialmente numa época de auge escravista. Por tratar-se de um romance, mesmo com a visão abolicionista evidentemente presente, a abordagem da escravidão, assim como dos demais aspectos do livro, agarra-se às questões emocionais tanto das personagens quanto da leitora. Maria Firmina foi excepcional ao relacionar e humanizar todas as personagens de forma a conseguirmos entendê-las, apesar da linguagem antiga. Inclusive, talvez esse seja o principal modo de luta da autora contra a escravidão, isto é, apresentar os negros e negras como seres humanizados e não como objetos. WILLIAM SHAKESPEARE Hamlet Título: Hamlet (abreviação do original: “A tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca”) Título original: The Tragedie of Hamlet, Prince of Denmarke Autor: William Shakespeare Ano de escrita: Entre 1599 e 1601 Camila Consi https://deliriumnerd.com/tag/escravidao/ https://deliriumnerd.com/tag/personagens/ Nacionalidade: Britânico Gênero textual: Peça de teatro. –É nesta obra que Shakespeare escreveu a célebre frase “Ser ou não ser, eis a questão”; conhecida mundialmente junto à cena do rapaz olhando para uma caveira e refletindo sobre os dilemas da vida. –Shakespeare dedicou-se a estudar latim e literatura por muitos anos. Resultado: mais de 70% da obra está escrita em versos (como poemas e diálogos) e mais de 20% em prosa. Uma estrutura muito curiosa. –A peça é a mais longa composta por Shakespeare. Uma encenação comum costuma durar cerca de 2 horas, contudo, esta peça é composta por 5 atos e quase 30 mil palavras, o que equivaleria a uma peça de um pouco mais de 4 horas. –Não está situada especificamente em um movimento literário. A princípio, não ganhou muito destaque, mas, anos depois, com a chegada do Romantismo, as obras de Shakespeare se consolidaram mundialmente. –Acredita-se que a primeira companhia de teatro de Shakespeare iniciou escrevendo obras inspiradas em contos anglo-saxões antigos. Assim, existem várias “versões primitivas” com esse enredo, que são a base desta produção final e oficial. Esta peça de Shakespeare tornou-se mundialmente famosa não só pela sua elaborada estrutura ou trágico enredo, mas principalmente pelo modo como foi elaborada. Ao escrevê-la, Shakespeare explora profundamente a condição humana. Trata de temas polêmicos e relevantes em todas as épocas e sociedades: corrupção, traição, incesto, vingança e moralidade. Além disso, o faz por meio de uma longa análise filosófica e psicológica do comportamento, expondo cada sentimento e pensamento do protagonista. Assim, utilizando-se de uma rica expressão literária e demonstrando domínio da escrita, brinca entre os limites da sanidade e da sandice, comunicando-se com o leitor, causando nele muitas impressões e reflexões. Para além do efeito de interlocução e introspecção, ele utiliza raciocínios aplicáveis até hoje, trazendo um ar de atemporalidade e fazendo com que a obra atravesse séculos. Camila Consi Camila Consi
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