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Oficina de Leitura – Vida e Obra de Ruy Mauro Marini Deusdete Garcia Dyeggo Guedes1 1. APRESENTAÇÃO Ruy Mauro Marini foi um grande intelectual marxista que estudou profundamente as questões do desenvolvimento capitalista na América Latina. Marini fez parte de uma corrente de pensadores formada nos anos 1960 que viveram todo o contexto da ditadura militar e que impulsionaram seus estudos no intuito de buscar uma nova interpretação para as causas do ‘Desenvolvimento Desigual’, especificamente das economias latino-americanas, diferentemente do que foi desenvolvido na Europa e nos EUA. Alguns outros pensadores fizeram parte desse grupo, entre eles Theotônio dos Santos, André Gunder Frank e Vânia Bambirra. O grupo se destacou por levar a práxis militante a sério, atuando organicamente nos movimentos populares no Brasil através da Polop (Política Operária) e da Organização Revolucionária Marxista no México, Chile e na França, aliando isso à produção científica no aprofundamento dos estudos de caso. É nesse contexto de teoria e práxis que surgirá a Escola da Dependência apresentando-se enquanto um espaço alternativo à corrente de pensamento Desenvolvimentista da época. Procuraram direcionar seus estudos para o caso do Subdesenvolvimento na América Latina acreditando, sobretudo, que os problemas referentes ao seu desenvolvimento seriam resolvidos a partir da condução revolucionária da classe trabalhadora ao Socialismo. O texto que se segue utiliza-se unicamente do livro: “Ruy Mauro Marini – Vida e Obra” como referência, visto que este trabalho contém elementos da vida do autor e de sua produção científica. O trabalho está estruturado da seguinte forma: primeiramente será trabalhada uma exposição dos acontecimentos/fatos que seguem a vida do autor em análise, em seguida trabalha-se o arcabouço conceitual elementar de sua obra no intuito de compreender alguns elementos expostos em seu texto sobre “A 1 Estudantes de Economia da UEFS, bolsistas do PET-Economia UEFS. Dialética da Dependência” de 1973. Por fim serão feitas as considerações finais levantando os aspectos principais abordados neste trabalho. 2. ETAPAS DE SUA VIDA Filho de uma família aristocrata e emigrante, Marini nasceu após dilapidação da fortuna de sua família juntamente com o processo de abolição da escravatura. Formou-se com uma boa educação em um colégio público e, em 1950 foi para o Rio de Janeiro com o intuito de cursar medicina. Seus planos mudaram após sua chegada e entrega à boemia. Ingressou no seu primeiro trabalho no Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Industriários trabalhando no setor de Matérias e Jornais onde acabou descobrindo sua paixão por livros e pela escrita, desenvolvendo assim seu lado mais humanístico. Em 1953 decidiu voltar à academia e ingressou na faculdade de Direito na Universidade do Brasil. Durante sua graduação aproximou-se de professores de boa conduta e do Movimento Estudantil no Centro Acadêmico (CACO). Como seu curso era noturno, apresentava diversos problemas tanto da administração interna como da própria lógica do curso. Sua maior crítica foi ao sectarismo e a pequena participação integrada dos colegas de Direito. Marini optou por uma boa formação acadêmica, seu principal foco era os escritos de Lênin. Em seu segundo ano de Graduação conseguiu uma Bolsa de Pesquisa na EBAP onde realizou viagens ao norte e nordeste do Brasil levantando dados sobre a condição dos trabalhadores da PETROBRÁS. Ao concluir seu curso na EBAP, Marini foi para a França concluir sua formação acadêmica passando pela SciencePo, Sorbone e College Del France estreitando laços com vários pensadores. Foi lá também que Marini realizou estudos sistemáticos das obras de Marx e Hegel, aprofundando assim seu conhecimento no Marxismo. No contexto Francês cosmopolita, havendo estudos e estudantes de todas as partes do mundo e de forma intensificada, Marini aprofundou seus conhecimentos sobre a América Latina, aproximando-se da CEPAL – Teoria Desenvolvimentista/Centro- Periferia – por um período de tempo. Na França Marini aproximou-se da revista ‘Movimento Socialista’ da Organização Revolucionária Marxista, grupo que fazia parte da juventude do partido comunista com nível de atuação internacional. Na América Latina este grupo chegava a Argentina, Venezuela, Peru, Nicarágua e no Brasil atuava em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Volta ao Brasil Em 1960 Marini regressou ao Brasil após concluir seus estudos, reassumiu o cargo na AERI e buscou um emprego secundário onde começou sua atuação na imprensa da agência cubana - Prensa Latina - pela qual acompanhou a renúncia de Jânio Quadros e a primeira fase do Governo Jango. A partir de 1962, acompanhou a segunda fase do governo Jango no Jornal - O Metropolitano. UnB: Marini exaltava a construção da UnB que, para ele, na época era o maior pólo de qualificação acadêmica, social e política do Brasil. A UnB apresentava uma boa concepção de ensino-pesquisa, de universidade-sociedade, extensão, além de uma boa formação profissional e capacitação dos movimentos estudantis, docente e sindical. Nesse curto período que passou na UnB (cortado via Golpe Militar Burguês), Marini intensificou seus estudos na Escola da Dependência e na direção do programa, apresentou críticas ao modelo desenvolvimentista da CEPAL elaborando assim algumas conclusões antagônicas sobre as duas corretes: Teoria da Dependência Teoria Desenvolvimentista - CEPAL Caráter: Antiimperialista e Socialista / Negação da Burguesia Latina como dirigente da luta Antiimperialista Caráter: Revolução Democrática Burguesa Frente ideológica de partidos comunistas composta por uma nova esquerda: Brasil, Cuba, Venezuela e Peru Ligados à 3ª Internacional Objetivo: unidade, luta de classes e revolução socialista Objetivo: viabilizar o capitalismo autônomo nacional O aprofundamento de seus estudos no Brasil foi interrompido devido ao Golpe Militar em 1964. Marini exilou-se no México neste mesmo ano. 2.1 Primeiro Exílio. México, 1964 – 1969 Firmou-se no colégio do México graças a companheiros políticos onde sua primeira tarefa foi elaborar um relatório sobre a situação política do Brasil com o golpe militar. Marini levantou dados do governo do final do Estado Novo, em 1945, até ao golpe, destacando a ofensiva imperialista estadunidense. Em contato com a ‘Monthly Review’, revista de caráter socialista que tinha grande público em toda a região da América Latina, Marini publicou uma série de ensaios assim que chegou ao México. Dessas publicações, o ensaio “Interdependência Brasileira e Integração Imperialista” foi a que teve destaque logo em sua chegada. Com esse trabalho Marini apontou algumas questões referentes à transformação da economia a partir do pós- guerra, os impactos na economia brasileira e na política externa da América Latina. Com esse estudo Marini obteve três resultados: 1) superação do enfoque institucional como análise da política externa latino-americana; 2) mudança operada nos mecanismos do capital no pós-guerra e, 3) a questão do subimperialismo, levantado pela primeira vez por Marini. Já em contato com a Universidade Autônoma do México (Unam), Marini começou a ministrar uma disciplina voltada para estudos da política externa na América Latina, aprofundando assim seus conhecimentos a respeito através da utilização de uma pedagogia marxista voltado para análise de problemas institucionais. Com o aprofundamento de seus conhecimentos que Marini deu início a um núcleo de pesquisa voltado para essas questões e foi a partir disso que ele iniciou a construção de seus novos conceitos para explicar o fenômeno econômico na América Latinajunto à realização de seminários periodicamente. Em 1968, sob convite de Adab, da OEA, Marini Conescal para cargo de educador devido a sua boa conduta pedagógica. Marini elaborou uma série de seminários amplos, de cursos de verão, seminários da obra D’o Capital, de Marx, dentre outros. Em 1969, um pouco antes de sua saída para o Chile, Marini publicou seu primeiro livro já apresentando algumas objeções a respeito de seu método de análise para os conceitos e contribuições na análise do subdesenvolvimento latino-americano: “Subdesarrollo y revolución”. 2.2 Segundo Exílio. Chile, 1969 – 1973 No Chile foi recebido por velhos amigos e alguns que viriam a ser novos amigos a partir de então, como o Senador Salvador Allende. Foi através de Allende que Marini iniciou seus trabalhos na Universidade de Concepción. Dentre algumas coisas que levaram Marini a escolher o Chile, certamente a que mais lhe chamou atenção foi a turbulência política que iniciara no Chile com a guinada do governo da União Popular formando uma frente de luta de toda a esquerda partidária. Inclusive, antes mesmo de iniciar seu trabalho na Universidade, Marini passou três meses de férias no intuito de acompanhar em Santiago o processo de consolidação de uma República Socialista no Chile. Nesse contexto Marini ocupou o cargo de Professor Pesquisador no CESO assim como o cargo administrativo. Marini construiu, como educador, alguns seminários sobre economia e política na América Latina, assim como também seminários de estudos da Obra de Marx. No que diz respeito a sua participação política, publicou ensaios e artigos com diversos temas ligados ao movimento estudantil, a atuação do governo da UP, destacando as medidas políticas do governo como estatização dos bancos, expropriação de terra para reforma agrária e nacionalização da indústria local e também escreveu sobre a esquerda armada e subimperialismo. Como exemplo do método de um de seus trabalhos segue abaixo sua divisão: Trabalho de Determinação do Subdesenvolvimento 1) Integração e condições da América Latina no mercado mundial: � Contexto da economia capitalista (condições para o processo de produção) � Alteração da economia Latina 2) Economia Exploratória: � Valor do Trabalho (Trabalho como mercadoria, superexploração) � Desenvolvimento da produção � Definição crítica da Divisão Internacional do Trabalho 3) Desenvolvimento capitalista na America Latina: � Dominação � Superexploração do trabalho � Abundância dos recursos naturais 4) Industrialização: � Relações de Produção � Concluindo com - Mais-Valia extraordinária e a Transformação da Mais-Valia em lucro Sua maior contribuição, sem dúvida foi a obra “Dialectica de La dependência” com uma análise sociopolítica da America Latina apresentando críticas ao modelo Cepalino e levantando novos conceitos como os de superexploração do trabalho, subimperialismo e dependência. Sua estadia no Chile foi curta devido ao Golpe Militar em setembro de 1973. As forças imperialistas norte-americanas mais uma vez cruzaram a vida de Ruy Mauro Marini, mas sua experiência no Chile, onde foi levantado um dos programas mais progressistas na perspectiva socialista e onde também a sociedade chilena viveu um dos processos mais ricos de sua história, foi muito importante para a concretude de seu pensamento. Pode-se observar que apesar do governo chileno ter tido um caráter popular, a manutenção das estruturas do poder, como o Congresso, a Constituição e Burguesia Nacional, formaram a base para a conseqüente tomada do poder pelas forças repressoras militares que estava sendo fortemente incentivado pelo governo estadunidense, os quais financiavam com uma grande quantidade de dólares a oposição militar. Para se ter uma idéia em dois anos, de 1971 a 1972, os EUA já haviam liberado mais verbas para os militares chilenos do que nos últimos 40 anos. Com o Golpe Militar e a morte do presidente Allende, Marini mais uma vez saiu às pressas e foi para o Panamá, onde ficou por menos de um ano. De lá se deslocou mais uma vez para o México onde deu continuidade a seus estudos. 2.3 Terceiro Exílio. México, 1974 – 1979 Voltou ao México depois de uma rápida passagem pelo Panamá e pela Alemanha onde também iniciou um núcleo de pesquisa sem resultados. Reingressou na Unam onde iniciou um núcleo de pesquisa na FPCyS onde também iniciou suas publicações no “Cuadernos Políticos”, revista para publicação de artigos dos trabalhos elaborados. Por fim, Marini voltou-se para orientação de pesquisas em núcleos como CIDAMO – Centro de Informação, Desenvolvimento e Análise do Movimento Operário na América Latina – com caráter analítico de conjuntura socioeconômica e desenvolveu estudos em três linhas de pesquisa. Linhas de Pesquisa do CIDAMO, México: 1) Conjuntura Internacional � Sistema mundial de poder � Transformação do mundo de Bipolar - Multipolar � Análises conseqüentes 2) Características da crise econômica mundial � Condições de trabalho � Novas tecnologias 3) Rumos do socialismo mundial � Crise da esquerda européia � Caso da polônia Importante observar que em todas as suas pesquisas houve resultados. Os cadernos CIDAMO´s foram muito bem conhecidos em toda a proximidade da America latina e Europa. Os resultados de suas publicações junto a estudantes orientandos e professores coadjuvantes são o exemplo mais claro da contribuição de Marini ao desenvolvimento de novas análises da America Latina Sua passagem pelo México foi bem nesse sentido focando seu estudo para o desenvolvimento dessas pesquisas e publicações. Em 1979, antes de sua volta ao Brasil, Marini publicou “Sobre a Dialética da Dependência” como resposta a crítica de Fernando Henrique Cardoso. Depois de 15 anos de exílio, Marini regressou ao Brasil. 2.4 Anistia. Brasil, 1979 Ao chegar ao país Marini se deparou com algumas cicatrizes da ditadura militar e acabou sofrendo alguns embargos ao tentar dar inicio a um jornal e uma revista. Ele pôde perceber que no Brasil não havia mais espaço para construir atividades voltadas para um público amplo. Então, sua primeira medida foi a construção de um texto levantando as principais ‘cicatrizes abertas’ da ditadura militar. Ele especificou o papel da censura, como barreira à difusão do conhecimento; da TV, por se tratar de um meio de comunicação funcional ao sistema, servindo como mecanismo de opressão e alienação; da intervenção nas Universidades por perseguir professores e alunos além de privatização da educação e os novos pólos de reflexão (EUA e Europa); outro problema levantado por Marini foi a cooptação dos intelectuais da esquerda no Brasil. Nesse trabalho Marini deixou bem claro as restrições impostas para dar segmento a sua pesquisa, o que ficou evidente no decorrer dos anos no Brasil. Seu exemplo mais claro foi na CESAP – Curso Superior de Administração Publica – onde atuou até 1987 e que se destacou por ter sido um dos primeiros centros de ensino superior a passar por reformas tecnicistas acabando com os núcleos de pesquisa além de uma brutal reforma no currículo anulando disciplinas das Ciências Humanas. Durante esse período Marini sofreu com essas reformas que acabaram por reduzir quase por inteiro suas produções. Regressou a UnB depois do período de redemocratização, mas as coisas já não eram mais como antigamente. 3. DIVISÃO DA OBRA DE MARINI Principais conceitos e contribuição teórica de Ruy Mauro Marini Para entendermos o pensamento de Marini se faz necessário trabalharmos algumas categorias teóricas relacionadas aos conceitos utilizados por este autor. Todos os conceitos abordados abaixo atuam de forma integrada como fulcro do processo de reprodução ampliada do capital em esfera internacional. As três categorias têmpor finalidade explicar a dialética do desenvolvimento latino-americano. • Dependência Relação de subordinação necessária para perpetuar a lógica de reprodução do capital através da existência de dois processos, Subdesenvolvimento-Desenvolvimento, onde o capital se nutre desta relação. É importante destacar que subdesenvolvimento e desenvolvimento são processos indissociáveis necessários, inclusive, para a evolução do modo de produção capitalista. Por um lado, com mecanismos de apropriação- exploração-concentração gerando a relação de subordinação. E por outro lado, pela obtenção do valor (através do consumo e da ampliação do mercado interno) para, novamente, reproduzir o capital. Resulta-se dessa relação, a manutenção da hegemonia do capital internacional. Essa explanação já é feita por Marx através de seu método científico de análise. A contribuição de Marini é feita através da aplicação do método marxista para compreender a lógica capitalista latino-americana. Desta forma ele levantou algumas especificidades da região: a) Monopólio do dólar na circulação das mercadorias; b) As transnacionais obtêm lucros e envia-os aos grandes centros de origem; c) Estado garantindo concessões tributárias e fiscais; d) Taxa de juros mais elevadas do mundo. O sistema financeiro do Brasil recolhia as taxas de juros mais altas do mundo chegando a 20%, enquanto nos EUA não passam de 2%. Isso também é aplicado às outras economias periféricas; e) Controle do setor de serviço – pagamento em dólar; f) Taxas de Royalties – por tecnologia importada; g) Desnacionalização das empresas, gerando uma queda significativa no PIB do país; • Superexploração do trabalho Assim como a apropriação e a concentração de renda, a exploração também é um mecanismo de dependência dos mercados desiguais. No caso da superexploração a mesma cumpre dois papéis na América Latina: trabalho bruto feito aqui (setor primário da economia) e, principalmente compensar as perdas dos capitalistas na troca de moedas no mercado internacional. Essa compensação é dada através de uma superexploração do trabalho no pagamento de um salário que não garante a reprodução do trabalhador. Diferentemente dos trabalhadores das economias centrais os trabalhadores das economias periféricas não são tidos como consumidores, seus salários não cumprem a contento a função de reproduzir a mão-de-obra assalariada. Neste contexto a América Latina produzia apenas para satisfazer o mercado externo – seus países atuam de maneira subordinada e complementar de acumulação da produção desenvolvida nos países centrais. Em sua obra, Marini aponta alguns mecanismos que concretizam seu conceito: a) Mão-de-obra abundante; b) Sindicatos corrompidos agindo em prol do capital; c) Classe operária historicamente jovem sem acúmulo ideológico e projeto socialista; d) Burguesia nacional associada aos interesses da burguesia internacional; e) Estado que responde a favor do capital e não pela classe operária. Nesse contexto Marini aponta para o limite do processo civilizatório que estamos vivendo devido à intensificação desses mecanismos de reprodução da lógica do capital e apropriação privada. A única saída responsável é, para ele, o socialismo. • Subimperialismo “… papel que as economias subdesenvolvidas executarão com relação às demais economias na mesma situação, a partir da forma como se estabelecerá a divisão internacional do trabalho.”2 Esta forma desenvolvida pelo capital visa garantir o domínio das economias de forma intensificada. O Subimperialismo, como exposto acima, é executado de um país sobre outros que se encontram na mesma situação de subdesenvolvido. Dessa forma é garantido o domínio hegemônico sobre as economias periféricas. Marini explica que esse domínio é garantido na América Latina através da implantação de políticas neoliberais e como principais medidas dessa política tem-se a privatização e a entrega da produção para as grandes corporações internacionais. Além disso, ele destaca alguns exemplos de política subimperialista no continente: • Projeto SIVAM - Serviço de Vigilância da Amazônia, sob mando dos EUA utiliza espaço para pesquisa e desenvolvimento de produtos farmacêuticos com alto grau de tecnologia. Resta lembrar que o Brasil paga taxa royalties por tecnologia importada; • Petrobrás - sua atuação mercadológica no continente exerce monopólio definindo preço e quantidade, obtendo ampla dominação do mercado; • Construção dos Blocos econômicos: a) MERCOSUL: redução dos impostos alfandegários para comercialização entre as empresas. Só lembrando que os mais beneficiados são as transnacionais que aumentam suas taxas de lucro; b) ALCA: acordos bilaterais entre os EUA e os países centrais visando áreas de produção centralizada e específica, também redução nos impostos por importação e repasse das mercadorias pelo dólar, desvalorizando ainda mais o valor dos produtos; 2 Ruy Mauro Marini – vida e obra, pag. 36. 3.1 Dialética da Dependência, 1973 Integração da América Latina ao mercado mundial Na visão de Marini, a América Latina se desenvolveu estritamente relacionada com a dinâmica do capitalismo internacional. Inicialmente como Colônia, esta região produtora de metais preciosos e gêneros diversos, viabilizou o fluxo de mercadorias juntamente com a expansão dos meios de pagamentos, permitindo o desenvolvimento do capital comercial e bancário da Europa, propiciando a estas economias a criação da grande indústria. Fazendo um paralelo entre as duas regiões – Europa e América Latina – pode- se perceber que enquanto as economias européias, em específico a Inglaterra, estavam passando pelo processo de Revolução Industrial no século XIX, as economias da América Latina estavam vivenciando a Independência Política de seus países. A relação que se firmará a partir deste período entre os países latino- americanos e a Inglaterra, no que concerne aos fluxos de mercadorias e, mais tarde, de capitais, será estabelecida em função das necessidades da metrópole – importação de bens primários e exportação de produtos manufaturados3. Esta relação com o centro capitalista se insere na estrutura da divisão internacional do trabalho e determinará o modo de desenvolvimento específico do continente latino-americano. A partir de então, na ótica de Marini, se configura a relação de dependência – “relação de subordinação entre nações formalmente independentes”4. A especificidade da relação internacional mantida pelas nações latino- americanas desempenha um papel importante na formação da economia capitalista internacional. Com o surgimento definitivo da indústria se estabeleceram as bases da divisão internacional do trabalho. Marini aponta que, caso não houvesse o fornecimento de produtos primários para as economias capitalistas centrais seu processo de desenvolvimento industrial estaria obstaculizado. Basta percebermos que, se fosse necessário a produção destes itens dentro destas economias isto inviabilizaria a especialização da produção para o desenvolvimento da indústria. Os meios de subsistência de origem agropecuária necessários à manutenção da classe operária dos países avançados foram supridos pela 3 É importante destacar que durante a primeira metade do século XIX a balança comercial latino- americana foi deficitária e que os empréstimos estrangeiros neste período foram destinados para manter a capacidade de importação do continente. Este processo viabilizou o acúmulo de dívidas desta região. 4 Ruy Mauro Marini – vida e obra. Pg. 141 produção primária latino-americana, o que permitiu o aprofundamento da divisão internacional do trabalho intensificando o nosso caráter econômicodependente. Considerações finais Buscou-se trabalhar neste texto os aspectos centrais da vida e obra de Ruy Mauro Marini. Os elementos principais foram levantados tendo como referencia sua práxis como intelectual e militante engajado com os movimentos sociais e as necessidades de sua região – América Latina. No que concerne aos aspectos teóricos da análise do autor, discutiu-se as categorias principais de sua produção científica como os conceitos de dependência, superexploração do trabalho e subimperialismo. Importante notar que são conceitos inter-relacionados, pois para entender as características da dependência latino- americana em relação aos países desenvolvidos estes três elementos, segundo Marini, são os que fazem parte do sustentáculo da reprodução do capital em esfera internacional. Por fim trabalhou-se o elemento histórico contido em sua obra – Dialética da Dependência, 1973 – sobre a integração latino-americana ao mercado mundial, bem como seu papel na manutenção da classe trabalhadora – operária – dos países centrais, fornecendo os produtos primários necessários à reprodução dos mesmos. Esta especificidade dos países dependentes permitiu que as economias dos países avançados se especializassem na produção de manufaturas, viabilizando a extração e acúmulo das divisas desta região, além de colaborar com o aprofundamento da divisão internacional do trabalho assumindo mundialmente o papel de fornecedor dos produtos de subsistência e baixo valor agregado. Referência Bibliográfica TRASPADINI, Roberta. STEDILE, João Pedro (orgs). Ruy Mauro Marini, Vida e Obra. 1. ed, São Paulo: Expressão Popular, 2005. 304p.
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