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TUTORIAL 2 - GENÉTICA ● Fluxo da informação genética e Transcrição do DNA: Alguns pesquisadores criaram a hipótese de que o DNA serve como molde para sintetizar o RNA, e após esse processo as moléculas do RNA vão para o citoplasma e determinam como os aminoácidos irão se arranjar para formar as proteínas. Essa teoria é chamada de Dogma central da biologia. Ao serem descobertas enzimas virais (transcriptase reversa) capazes de usar o RNA como molde para produzir o DNA foi possível entender que essa não era a única forma de passagem dos genes. Esse processo ocorre da seguinte forma: o DNA é duplicado e usado como fita molde, o RNA é transcrito e forma um RNA de fita simples que tem a sequência de bases nitrogenadas iguais a uma das fitas do DNA. Em seguida ocorre a tradução, que converte a sequência de bases do DNA numa sequência de aminoácidos, gerando a proteína. As polimerases do RNA são enzimas que catalisam a síntese do RNA utilizando o DNA como molde na transcrição. Essas enzimas são responsáveis por transcrever um conjunto específico de genes, elas são chamadas de polimerase I, II e III do RNA e não precisam de primer (iniciadores) para dar início a nova cadeia de RNA, diferente das polimerases do DNA. Nos eucariontes existem 3 tipos dessas enzimas, já nos procariontes só 1 tipo. Essas enzimas utilizam os fatores gerais de transcrição (GTFs) previamente ligadas ao promotor para auxiliar o processo de transcrição que atraem as polimerases ao local de ativação correto, já que essas enzimas não se ligam diretamente ao DNA e sim a essas proteínas. Polimerase I do RNA: sintetiza a molécula precursora de três tipos de RNA ribossômico (28S, 18S e 5,8S); Polimerase II do RNA: transcreve os genes do RNA mensageiro, precursores de microRNA e RNA longos não codificadores (RNAInc); Polimerase III do RNA: sintetiza o RNA ribossômico 5S, o RNA transportador e pequenos RNA nucleares (snRNA). 1. A transcrição começa dentro da bolha de transcrição (que é a região “aberta” do DNA) e começa quando as pontes de hidrogênio do DNA são temporariamente rompidas, tendo 18 de seus pares separados da dupla hélice para que uma fita seja usada como molde. A polimerase do RNA se liga numa sequência especial de DNA chamada promotor. Na sequência de bases presentes nessa região fica o sítio de iniciação, que contém a primeira base do DNA a ser transcrita (chamada de +1). A partir desse ponto a polimerase se move ao longo do molde, sintetizando o RNA até alcançar a região terminalizadora, depois que a polimerase passa a fita molde do DNA volta se emparelhar. Um exemplo de promotor é o TATA box, rico em A e T e fica na posição -30, ele permite que fatores de transcrição e a RNA polimerase se liguem nele. Nucleotídeos que vem antes do sítio de iniciação recebem números negativos estão a montante. Nucleotídeos que vem depois do sítio de iniciação são marcados com números positivos e estão a jusante. 2. Após ligada a RNA polimerase ao promotor inicia-se a fase de alongamento, basicamente a fita de RNA fica mais longa a medida que são adicionados novos nucleotídeos. Durante o alongamento, a RNA polimerase "caminha" ao longo de uma fita molde de DNA, da 3' para 5'. Para cada nucleotídeo no molde, a RNA polimerase adiciona um nucleotídeo de RNA correspondente (complementar) à extremidade 3' da fita do RNA. As polimerases próximas ao início do gene têm caudas de RNA curtas que ficam cada vez maiores à medida que a polimerase transcreve mais do gene. Exemplo: existem 2 cadeias e 3 genes, para cada gene só 1 cadeia será usada como molde para transcrição. O sentido da transcrição é sempre o mesmo, começa na extremidade 3’ da cadeia molde (5’ do RNA transcrito) e termina na ponta 5’ do DNA molde (3’ do RNA transcrito). A sequência de bases do RNA é complementar à cadeia molde do DNA, apresentando uracila no lugar de timina. 3. A RNA polimerase vai continuar transcrevendo até encontrar sinais para parar. O processo de término da transcrição é chamado terminação e isso acontece uma vez que a polimerase transcreve uma sequência de DNA conhecida como terminador. A terminação tem início quando um sinal de poliadenilação aparece no transcrito de RNA. Essa é uma sequência de nucleotídeos que marca onde o RNA deve terminar. O sinal é reconhecido por uma enzima que corta o transcrito de RNA nas proximidades, liberando-o da RNA polimerase. A RNA polimerase continua sintetizando RNA desnecessário, mas por não ser protegido pelo encapamento esse pedaço é degradado. Todo esse processo ocorre no núcleo da célula e antecede a tradução. ● Leitura do DNA: Antes da tradução ocorrer o RNAm sofre algumas reações. Ao ser sintetizado pela RNA polimerase II o RNA é considerado um transcrito primário, que tem um tamanho longo e ainda não é capaz de codificar uma proteína, e esse tamanho deve-se a longas cadeias nucleotídicas chamadas de íntrons, porque estão intercalados nas sequências codificadoras a qual será expressa, formando blocos chamados éxons. 1. Splicing durante esse processo o pré-RNAm perderá os íntrons para que seu tamanho e sequência de nucleotídeos seja favorável a produção de proteínas, ou seja, o RNAm se tornará maduro. Isso ocorre porque os íntrons não parecem ter uma sequência de nucleotídeos úteis para as células, então as proteínas snurps (snRNPs) vão removê-los. As snurps carregam moléculas de snRNA, que possuem 5 tipos funcionais no splicing (U1, U2, U3, U4, U5 e U6), a U1 e U2 interagem entre si, com o pré-RNAm e várias proteínas para definir os limites do íntron, e as outras 3 formam um complexo e interagem com a U1 e U2 e com o pré-RNAm para mudar sua configuração, esse complexo é chamado spliceossomo. O spliceossomo cliva cada extremidade do íntron e o libera como um laço, o papel do snRNA é reconhecer e, por complementaridade de bases, se emparelhar com a sequência de nucleotídeos que marcam o início e o ponto de ramificação de cada íntron, assim as snurps aproximam as duas pontas do íntron que não foram retiradas. Existem vários tipos de splicing, por isso existem formas tão variadas de genes. 2. Encapamento é um dos procedimentos que torna o RNAm maduro, nesse processo a extremidade 5’ do RNA é encapado pela adição de um nucleotídeo contendo Guanina metilado. O encapamento ocorre no início da transcrição, quando o transcrito é pequeno, a molécula 7-metilguanosina se liga a ponta 5’ do transcrito tornando-se 5’ cap, cuja função é proteger o RNA recém formado da degradação, além de agir no início da tradução. 3. Poliadenilação ocorre na extremidade 3’ do transcrito, logo após ser transcrita uma sequência específica da molécula (sinal de poliadenilação) o RNA transcrito é clivado. Depois a enzima polimerase poli-A adiciona de 100 a 200 resíduos de nucleotídeos contendo adenina, na extremidade 3’ da cadeia, completando o pré-RNAm. A cauda de poli-A tem função de exportar o RNAm maduro para o citoplasma, afeta sua estabilidade no citoplasma e faz parte de um sistema que será reconhecido pelo ribossomo durante a tradução. A tradução ocorre no citosol dentro dos ribossomos, nela os códons do RNAm são lidos por ordem (da extremidade 5’ para a 3’) por meio das moléculas RNAt (transferência), cada um desses RNAs possui um anticódon, que é um conjunto de 3 nucleotídeos que se liga ao códon correspondente no RNAm pelo pareamento de bases (5’AUG-UAC3’ por exemplo), e a outra extremidade do RNAt traz o aminoácido especificado pelo códon, esses aminoácidos são adicionados na cadeia polipeptídica até formar uma proteína. 1. Iniciação para a tradução ocorrer é preciso de um ribossomo (com subunidades pequena e grande), um RNAm trazendo a informação genética e um RNAt carregando o primeiro aminoácido da proteína (geralmente é a metionina), e eles devem estar unidos para formar o complexo de iniciação que irá produzir uma nova proteína. Algumas proteínas especializadas auxiliam esse processo, elas movimentam o RNAm e o RNAt para que se encontrem de forma ordenada e previsível, esse processo tem gasto energético de GTP. Primeiro o RNAtcarregando a metionina se liga à subunidade ribossômica pequena. Juntos, eles se ligam à extremidade 5' do RNAm através do reconhecimento do cap 5' GTP. Em seguida, eles "caminham" ao longo do RNAm na direção 3' e param quando alcançam o códon de iniciação (com frequência, mas nem sempre, o primeiro AUG). 2. Alongamento o primeiro RNAt carregando a metionina começa no meio no ribossomo, chamado de sítio P. Ao lado, um novo códon é exposto em outro compartimento, chamado de sítio A. O sítio A será o "desembarque" para o próximo RNAt, aquele cujo anticódon é o correspondente perfeito (complementar) do códon em exposição. Uma vez que o RNAt correspondente desembarca no sítio A é formada uma ligação peptídica que conecta um aminoácido a outro. Esta etapa transfere a metionina do primeiro RNAt para o aminoácido do segundo RNAt no sítio A. A metionina forma o N-terminal (grupo amina) do polipeptídeo, e o outro aminoácido é o C-terminal (grupo carboxila). Depois que a ligação peptídica é formada, o RNAm é puxado para frente no ribossomo por um códon. Esse deslocamento permite que o primeiro RNAt, agora vazio, saia através do sítio E (do inglês “exit”). Isso também faz com que um novo códon fique exposto no sítio A, para que todo ciclo se repita. A proteína titina, que é encontrada nos músculos e é o mais longo polipeptídeo conhecido. 3. Terminação ele acontece quando um códon de parada no RNAm (UAA, UAG ou UGA) entra no sítio A. Os códons de parada são reconhecidos por proteínas chamadas de fatores de liberação, os quais se adaptam perfeitamente no sítio P (embora não sejam RNAt). Fatores de liberação confundem a enzima que normalmente forma as ligações peptídicas: fazem-na adicionar uma molécula de água ao último aminoácido da cadeia. Essa reação separa a cadeia do RNAt, assim a proteína recém-produzida é liberada. E depois esses elementos podem voltar a um novo ciclo de tradução. Os Polipeptídeos muitas vezes precisam de algumas "edições". Durante e após a tradução, aminoácidos podem ser quimicamente alterados ou removidos. O novo polipeptídeo também vai se dobrar em uma estrutura em 3D distinta e podem se associar a outros polipeptídeos para formar uma proteína com múltiplas partes. Muitas proteínas são boas em se dobrarem sozinhas, mas algumas precisam de auxiliares ("chaperonas") para evitar que se unam incorretamente durante o processo complexo que é o dobramento. ● Função do DNA lixo: Antes acreditava-se que 98% do DNA não era funcional, e só 2% era utilizado para síntese de proteínas. As pesquisas hoje relatam 80% de funcionalidade do DNA, uma grande parte disso atua apenas em um tipo específico de célula. Embora não seja capaz de codificar a produção de proteínas, o “DNA lixo” tem influência direta sobre o modo como elas atuam no organismo. Isso porque age como controlador, ligando ou desligando os genes. E é ainda capaz de fazer o mesmo gene produzir proteínas diferentes. Por exemplo, apesar de todas as células do corpo terem o gene que codifica a produção de insulina (o hormônio que abre a porta das células para a entrada da glicose que está no sangue) sua ativação se dá apenas no pâncreas. O moderador desse processo, acredita-se agora, está nessa outra parte do DNA. ● Tipos de Rna e sua função: O RNA é um polímero composto por 4 tipos de nucleotídeos, seu açúcar é a ribose, possui um grupo hidroxila (OH) adicional no carbono 2’, possui a uracila como base nitrogenada ao invés da timina e sua fita é simples, com os nucleotídeos ligados entre si a partir de ligações covalentes. Apesar de ter uma fita simples quando comparado a dupla hélice do DNA, o RNA tem uma arquitetura tridimensional bem complexa e definida, e isso permite que ele realize dobramentos sobre si mesmo, por isso a molécula do RNA forma regiões de dupla hélice em locais com sequência de bases complementares. É por essas regiões dupla-hélice que a estrutura do RNA o permite realizar diversas funções, como a transportadora e ribossômica. O RNAs se dividem em duas classes, os funcionais atuam agindo como DNA em diversas atividades biológicas e a outra contém a informação genética para sintetizar proteínas. RNAm participa da tradução que é o processo anterior a síntese de proteínas, o RNAm tem as informações para a síntese de proteínas na forma de 3 nucleotídeos chamados de códons, existem 61 códons diferentes para cada aminoácido e eles originam todas as proteínas existentes. O códon AUG marca o início da tradução e outros 3 códons marcam o polipeptídeo como terminado. RNAt eles variam entre si e isso permite a distinção entre os diferentes tipos de moléculas, todos eles interagem com sítios específicos dos ribossomos durante a síntese de proteínas. Além disso, em uma de suas extremidades eles se associam ao RNAm (por complementaridade de bases) e na outra eles transportam aminoácidos. Os RNAt tem bases não usuais, diferentes de A, G, C e U, e essas bases se originam por modificações das bases usuais após serem incorporados na molécula de RNAt. RNAr nos ribossomos existem duas subunidades, uma grande e outra pequena, e elas se encaixam uma na outra formando um complexo, mais da metade desse complexo contém RNA ribossômico com função catalítica. Durante a síntese de proteínas esse RNA interage com o RNAm e o RNAt durante as 3 fases da tradução, sendo auxiliado por algumas proteínas a se manter na estrutura adequada para exercer sua atividade catalítica. RNAsn participam do splicing na maturação do RNAm, são chamados de pequenos RNA nucleares. Sua função é reconhecer e aproximar os íntrons no pré-RNAm. RNAsi são RNAs curtos de interferência, sua função é silenciar genes, são muito promissores na genética reversa. RNAinc são RNA longos não codificadores, sua função é regular a expressão gênica e inibir a atividade de elementos de transposição. ● RNA de interferência no tratamento terapêutico: A interferência por RNA (RNAi) é um mecanismo de silenciamento gênico pós-transcricional. Esse mecanismo é mediado por pequenos RNAs capazes de reconhecer especificamente uma sequência de RNAm e mediar sua clivagem ou reprimir sua tradução. O emprego da RNAi tem sido muito estudado, especialmente em infecções virais, câncer, desordens genéticas herdadas, doenças cardiovasculares e mesmo em doenças reumáticas. As vias de quebra de tolerância e inflamação são alvos potenciais para terapia com RNAi em doenças inflamatórias e autoimunes. 1. A interferência por RNA (RNAi) é um mecanismo celular responsável pelo silenciamento gênico pós-transcricional (PTGS) atuando sobre o RNA mensageiro (mRNA). Seu de ação consiste em uma molécula de fita dupla de RNA que ao ser ativada se liga numa sequência de nucleotídeos complementar no mRNA, causando o silenciamento por inibição da tradução e/ou degradação do mRNA. A RNAi tem sido o método de escolha no silenciamento de genes em células de mamíferos por sua seletividade e potência. O emprego de RNAi como abordagem terapêutica tem sido considerado altamente promissor no combate a doenças em que a expressão anormal de certos genes pode ser identificada como a causa ou o fator contribuinte. Entre essas doenças está o câncer, doenças genéticas dominantes, doenças autoimunes e infecções virais. 2. Há basicamente duas estratégias para se induzir RNAi. Na primeira, siRNAs pré-sintetizados são introduzidos nas células-alvo. Mas esse processo é temporário. A segunda estratégia se baseia na introdução de vetores que codificam o shRNA, o que resulta em silenciamento estável de longa duração na célula. A transcrição do shRNA é controlada por sequências promotoras para as RNA polimerases II ou III, dependendo do tipo de expressão desejada. 3. Existem três atributos importantes que devem ser levados em consideração quando se deseja projetar e selecionar um siRNA. São eles: potência, especificidade e estabilidade às nucleases. Um dos fatores críticos para o sucesso no uso de RNAi é a capacidade do siRNA em silenciar especificamente o mRNA-alvo. O silenciamento gênico mediado por siRNAs pode ser altamente específico,como evidenciado pelo silenciamento seletivo de alelos que divergem em um único nucleotídeo. No entanto, siRNAs também podem reconhecer e interferir com a expressão de mRNAs que apresentam homologia parcial com o mRNA-alvo, alterando os níveis de mRNA de genes que não são o alvo desejado (efeitos fora do alvo) embora com menor intensidade. 4. O principal obstáculo ao uso de siRNAs como drogas terapêuticas é obter sua penetração na célula através da membrana plasmática, de modo a ser incorporado na via de RNAi e causar a degradação do mRNA-alvo no tecido de interesse. Na ausência de agentes de transfecção ou alta pressão, a maioria das células não incorpora siRNA, por sua carga negativa, logo não penetra com facilidade através das membranas celulares hidrofóbicas. Entretanto, silenciamento in vivo tem sido relatado após administração direta de siRNAs desprotegido (naked) a locais anatomicamente isolados (intravítreo, intranasal e intratecal), demonstrando a possibilidade de entrega de siRNAs em olhos, pulmão e sistema nervoso central. Entretanto, o emprego terapêutico de RNAi de modo mais amplo depende da possibilidade de associar às moléculas de siRNA outras propriedades farmacológicas como biodisponibilidade e seletividade para as células-alvo. Diversas estratégias empregam injeção endovenosa de siRNAs quimicamente modificados, mediante conjugação ao colesterol, ou protegidos dentro de lipossomas catiônicos. A conjugação ao colesterol tem mostrado bons resultados, pois prolonga a meia-vida dos siRNA na circulação por meio de ligação a lipoproteínas, que são resistentes à filtração pelos rins e oferecem também proteção à ação das nucleases plasmáticas. Embora eficaz, a conjugação ao colesterol não é um método seletivo, pois o complexo colesterol-siRNA-lipoproteína pode ser endocitado por receptores de colesterol encontrados em todos os tipos celulares.
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