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1 FACULDADE ÚNICA DE IPATINGA 2 Sidelmar Alves da Silva Kunz Doutor em Educação pela Universidade de Brasília (UnB) (2019). Mestre em Geografia pela mesma instituição (2014). Especialista em Ontologia e Epistemologia pela Faculdade Unyleya (2016). Especialista em Supervisão Escolar pela Faculdade do Noroeste de Minas Gerais (2009). Graduado em Geografia (licenciatura) e Pedagogia pela Universidade Estadual de Goiás (UEG). Professor da UAB/UnB, na modalidade a distância. Possui mais de uma centena de publicações científicas (artigos em revistas, Anais, livros, capítulos, dentre outros) e de materiais didáticos. Pesquisador do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). ORGANIZAÇÃO, EPISTEMOLOGIA, TEORIA E REGIONALIDADE DO ESPAÇO 1ª edição Ipatinga – MG 2021 3 FACULDADE ÚNICA EDITORIAL Diretor Geral: Valdir Henrique Valério Diretor Executivo: William José Ferreira Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa Revisão/Diagramação/Estruturação: Bárbara Carla Amorim O. Silva Bruna Luiza Mendes Leite Carla Jordânia G. de Souza Guilherme Prado Salles Rubens Henrique L. de Oliveira Design: Brayan Lazarino Santos Élen Cristina Teixeira Oliveira Maria Luiza Filgueiras Taisser Gustavo de Soares Duarte © 2021, Faculdade Única. Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autorização escrita do Editor. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2921 NEaD – Núcleo de Educação a Distância FACULDADE ÚNICA Rua Salermo, 299 Anexo 03 – Bairro Bethânia – CEP: 35164-779 – Ipatinga/MG Tel (31) 2109 -2300 – 0800 724 2300 www.faculdadeunica.com.br 4 Menu de Ícones Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao lado dos textos.Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a seguir: São sugestões de links para vídeos, documentos científico (artigos, monografias, dissertações e teses), sites ou links das Bibliotecas Virtuais (Minha Biblioteca e Biblioteca Pearson) relacionados com o conteúdo abordado. Trata-se dos conceitos, definições ou afirmações importantes nas quais você deve ter um maior grau de atenção! São exercícios de fixação do conteúdo abordado em cada unidade do livro. São para o esclarecimento do significado de determinados termos/palavras mostradas ao longo do livro. Este espaço é destinado para a reflexão sobre questões citadas em cada unidade, associando-o a suas ações, seja no ambiente profissional ou em seu cotidiano. 5 SUMÁRIO PROJETO COLONIAL DE OCUPAÇÃO TERRITORIAL ................................ 7 1.1 FEITORIAS ................................................................................................................ 7 1.2 CAPITANIAS HEREDITÁRIAS ................................................................................. 17 FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 29 SISTEMAS DE EXPLORAÇÃO TERRITORIAL .............................................. 33 2.1 PLANTATION.......................................................................................................... 33 2.2 ENTRADAS E BANDEIRAS...................................................................................... 40 2.2.1 As bandeiras de apresamento...................................................................43 2.2.2 As bandeiras de prospecção.....................................................................44 2.2.3 Sertanismo de contrato ...............................................................................45 FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 50 ESTRATÉGIAS DE OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO .................. 54 3.1 A PECUÁRIA.......................................................................................................... 54 3.2 A MINERAÇÃO ..................................................................................................... 62 FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 70 CONFIGURAÇÕES TERRITORIAIS DO IMPÉRIO E DA PRIMEIRA REPÚBLICA ................................................................................................................. 74 4.1 AS ILHAS ECONÔMICAS E O COMÉRCIO EXTERIOR ......................................... 74 4.2 CONSOLIDAÇÃO DAS FRONTEIRAS.................................................................... 79 FIXANDO O CONTEÚDO ...................................................................................... 82 POLÍTICAS TERRITORIAIS NO SÉCULO XX ............................................... 87 5.1 INTEGRAÇÃO NACIONAL ................................................................................... 87 5.2 UNIDADE TERRITORIAL .......................................................................................... 94 FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 101 TERRITÓRIO BRASILEIRO NO SÉCULO XXI............................................. 105 6.1 DIVERSIDADE SOCIOESPACIAL ......................................................................... 105 6.2 DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL ..................................................................... 114 FIXANDO O CONTEÚDO .................................................................................... 126 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO ............................................. 130 REFERÊNCIAS......................................................................................... 131 UNIDADE 01 UNIDADE 04 UNIDADE 02 UNIDADE 03 UNIDADE 05 UNIDADE 06 6 CONFIRA NO LIVRO Tem como enfoque uma breve discussão sobre o contexto sócio- histórico das feitorias que a compreende sua importância para o desenvolvimento da vida política local tanto da colônia quanto da metrópole. E as capitanias hereditárias como a primeira divisão territorial do Brasil na qual os donatários ficam responsáveis pela ocupação, colonização e desenvolvimento. Discorre sobre a plantation como um fundamento econômico- social da colonização portuguesa que determinava o foco na produção agrícola e proibia qualquer atividades manufatureiras na colônia. Enquanto a discussão sobre entradas e bandeiras ressaltam que as expedições interioranas contribuíram para o poder de Portugal no continente americano e para a sertanização do Brasil. O enfoque é a pecuária em vista de lugar secundário na economia colonial e com o passar do tempo obtém destaque na agenda econômica do país. E a mineração que se destacou no cenário internacional e intensificou as iniciativas de adentramento no interior do Brasil. É abordado sobre as ilhas econômicas e o comércio exterior que propiciaram sobretudo o desenvolvimento econômico e a ocupação territorial do Brasil. E a consolidação das fronteiras a partir do conceito de identidade e diferença que contribuíram para a formação de fronteiras geopolíticas. Destaca-se a questão da integração nacional pelo viés do processo de urbanização que foram desigualmente alterando de natureza e composição. Ao passo que é refletido sobre a unidade territorial no Brasil que nos remete aos aspectos socioculturais, políticos e econômicos que demarcam esse lugar, assim como seu lugar no contexto global. Ressalta a temática diversidade socioespacial a partir do contexto da globalização que marca a atual expansão do capitalismo. Assim sendo, é preciso refletir sobre os deslocamentos das populações através das fronteiras internacionais e seus enfrentamentos diante das desigualdades sociais ora em busca dos mercados tradicionais de emprego, ora na inserção ao tecido socialdos países que os recebem. 7 PROJETO COLONIAL DE OCUPAÇÃO TERRITORIAL 1.1 FEITORIAS A partir da visão de Cruz (2015), manifestamos que as feitorias eram entrepostos comerciais de origem europeia instalados em territórios estrangeiros. Além disso, pontuamos que a sua origem remonta às instalações ocorridas na Europa Ocidental durante a Idade Medieval e que o seu uso foi amplo em terras dominadas, as quais eram consequências de conquistas coloniais. Ao pensarmos na estrutura e no funcionamento desse modelo de organização, assinalamos que o seu formato se alterava em função dos objetivos e das realidades políticas, econômicas e culturais que estavam inseridos. Nesse tocante, podia ser de uma casa com instalações módicas até propostas arquitetônicas que comportassem distintos meios de suporte para o atendimento de demandas militares ou de oficinas para o trabalho com os navios. Aliás, havia situações em que tais feitorias funcionavam como suporte para a atividade comercial local, bem como para o desenvolvimento de encontros espirituais, a atuação judiciária ou a promoção de acordos diplomáticos. Essas organizações tinham, fundamentalmente, o papel de armazéns para os produtos (CRUZ, 2015). À vista disso, notamos que essas feitorias desempenhavam múltiplos papéis na economia colonial. Podemos destacar a sua atuação como ponto estratégico para o desenvolvimento da vida política local que via na presença da feitoria o único sinal claro da existência de uma estrutura administrativa e de representação da figura do rei. UNIDADE 01 8 A burocracia corporativa instalada tinha como foco central a proteção e garantia do cumprimento dos objetivos do rei materializados por intermédio das intenções dos mercadores e suas propostas de ampliação de lucros a qualquer preço, independentemente do esfacelamento do tecido social. Esclarece-se que os feitores supostamente defendiam os interesses da nação, ou seja, do rei. Portanto, a compreensão de nação na perspectiva portuguesa consistia na realização da vontade do rei que, em si, bastava como o único desejo válido na Coroa. O movimento de conquista e colonização do Brasil exigiu de Portugal projetos, investimentos coletivos e articulações para dar conta dessa empreitada. O fato é que a circulação de pessoas de diversas origens pelo Atlântico gerava incertezas para os planos de Portugal. Muitas nações estiveram presentes na América em virtude do processo de colonização, dentre elas, preocupava os Portugueses a circulação de expedições realizadas na costa brasileira por parte de espanhóis, franceses, ingleses e holandeses. Como exemplo, podemos citar que o espanhol Vicente Yanez Pinzon esteve presente na região do atual Amazonas antes da chegada da esquadra de Pedro Alvarez Cabral no território de Porto Seguro (SANTOS, 2015). Cabe ressaltar que: [...] a conquista e colonização da América é uma janela do deslocamento do eixo comercial que ligava o Mediterrâneo ao Mar do Norte e, ao final do século XV a partir do desenvolvimento da navegação, se amplia para o Atlântico, circunavegando o Estreito de Gibraltar, a Península Ibérica e constituindo um novo equilíbrio comercial na Europa (SANTOS, 2015, p. 35). Embora se cultue a ideia de que Portugal não deu o devido valor para as terras conquistadas na América, a realidade apresenta uma outra nuance porque nos primeiros trinta anos da colonização foram realizadas expedições com navios e armadas portuguesas que tinham o propósito claro de aprofundar os seus 9 conhecimentos geográficos e assegurar o domínio do território conquistado no litoral brasileiro (América portuguesa). Essas movimentações representaram importantes feitos náuticos e cartográficos para o contexto histórico daquela época (DOMINGUES, 2012). Figura 1: Perspectiva portuguesa Fonte: Disponível em https://bit.ly/2RU22qE. Acesso em: 26 mar. 2021 Entendemos que essa atuação foi crucial para o projeto português de conquista do território, haja vista que deu a conformação necessária para o seu posicionamento estratégico na América. Figura 2: Expedições para exploração (período pré-colonial) Fonte: Disponível em https://bit.ly/3fZsS8K. Acesso em: 26 mar. 2021 As habilidades de negociação comercial e de aprendizagem de outras 10 línguas foram nevrálgicas para a manutenção dos negócios portugueses no território brasileiro, por mais que essa dinâmica não deve ser romantizada de modo que venha a sufocar ou silenciar a luta dos indígenas em face da incursão portuguesa em seus territórios. Assinala-se que essas habilidades foram de grande relevância ao longo de todo o período colonial, entretanto, quando a diplomacia (negociação) e a cruz (igreja) não funcionavam o recurso mais utilizado foi a espada (guerra). Devemos lembrar, em primeiro lugar, que o regime do Padroado da Ordem de Cristo foi passado para a Coroa portuguesa em 1515. Como as terras brasileiras estavam sob a jurisdição da Ordem de Cristo e sendo o Rei de Portugal o seu representante, a cobrança de dízimos ficou sob a administração da Coroa, que ao mesmo tempo era responsável pela manutenção da Igreja e do clero secular na colônia (VASCONCELOS, 2016, p. 51). O pau-brasil foi o primeiro produto de grande valor a ser comercializado pelos europeus na costa brasileira. A Europa já conhecia esse produto: uma madeira corante de gênero distinto da asiática. A expedição de Duarte Coelho, em 1501, reconheceu a madeira e enviou algumas amostras para Portugal. Figura 3: Pau-brasil Fonte: Disponível em https://bit.ly/3cbSP3P. Acesso em: 04 mar. 2021 Essa madeira se concentrava em porções no litoral do Rio de Janeiro, no sul da Bahia, no Recife, no Rio Grande do Norte, na Baía de Todos os Santos (Recôncavo Baiano) e no litoral norte da Bahia. Veja o relato de um religioso francês da época acerca do significado do pau-brasil: 11 [...] tal árvore, tendo sido descoberta em nosso tempo, serviu de grande alívio aos mercadores, e meio de novas buscas para os que tinham o costume de navegar, os quais, chegando a este país, e vendo os selvagens adornados com tão belas plumagens de cores diversas, e também que esse povo tinha o corpo pintado diversificadamente, indagaram qual o meio dessa tintura, e alguns lhe mostraram a árvore que chamamos brasil, e os selvagens, Orabutan/Araboutã. Essa árvore é muito bela de se olhar e grande, com uma casca superficialmente de cor acinzentada, e a madeira vermelha por dentro, principalmente o cerne, que é a parte mais importante, e que é a carga maior dos mercadores. E direi de passagem que, de uma árvore tão grossa que só pode ser abraçada por três homens, tira-se somente do cerne e da medula vermelha uma porção que corresponde à largura da coxa de um homem (THEVET, 2009, p. 173). A identificação de selvagens se aproxima da noção cultivada de um imaginário de “bárbaros” que se edificou na Europa. Nesse sentido, remonta à perspectiva de costumes e valores que demandam alterações para que se possa converter essas pessoas ao estágio que se inclui na noção de civilização, a julgar pela ideia de que os indígenas estavam em uma etapa anterior de desenvolvimento cultural. No período pré-colonial, os portugueses não tinham o conhecimento da geografia local, nem sabiam como retirar o pau-brasil das matas: uma árvore que chegava a ter 15 metros de altura e seus galhos possuíam espinhos. Diante dessa situação de dependência da mão de obra e dos conhecimentos dos indígenas no que se refere à execução do corte, preparação e carregamento. Os portugueses se viam impulsionados a realizar negociações com os indígenas para viabilizar o comércio do pau-brasil, também conhecido pelos tupis como ibirapitanga. 12 Em sintonia com o debate que nos propomos a pensar a formação territorial brasileira e assim lançar luz nas feitorias, ponderamos que, no Brasil, foram construídas estrategicamente em pontos comerciais ao longo do litoral sobretudo como estocagem da madeira pau-brasil para que os navios levassemtais produtos à Europa. O principal responsável pela feitoria era o feitor: um funcionário designado como representante do rei. Dentre as suas responsabilidades estavam a de representar o rei nas relações comerciais, comprar mercadorias, fazer negociações com os nativos, proteger as mercadorias, cuidar da preservação da qualidade dos materiais obtidos, garantir o embarque dos produtos para Portugal, dentre outras. Tais movimentações que ocorriam na feitoria eram registradas pelo escrivão e isso tornou possível parte considerável do conhecimento que temos na atualidade sobre esses mecanismos do período inicial da colonização no Brasil (FERNANDES, 2008). 13 No litoral brasileiro as feitorias eram construídas, em geral, em ilhas para garantir a segurança e tais empreendimentos eram resultantes do conhecimento acumulado por Portugal em suas empreitadas na construção de feitorias na África. Figura 4: Feitorias portuguesas na África Fonte: Disponível em https://bit.ly/3fXIny0. Acesso em: 26 mar. 2021 Ainda em 1448, foi edificado a primeira feitoria no território africano, no atual Senegal. E, em 1482, construído o Castelo de São Jorge da Mina, atual Sudão. A “descoberta” do Brasil em 1500 levou ao debate da intencionalidade ou não da viagem de Cabral e sua frota, que se dirigia para as Índias. No ano seguinte, uma expedição exploratória foi enviada ao litoral brasileiro e o comércio do pau-brasil foi contratado com Fernão de Loronha, com a obrigação de implantar feitorias no litoral, ou seja, uma sessão de território a ser administrado por particular (VASCONCELOS, 2016, p. 40). As feitorias não eram apenas armazéns de produtos, mas também tinham a função militar como forte de resistência e de marcação de posição em local estratégico. Além disso, era a sede da representatividade do rei em uma perspectiva diplomática e as feitorias apresentavam a conotação de cidade. O mapeamento levado a cabo por Jacques de Vau de Claye, durante a expedição francesa capitaneada por Felipe de Strozzi, no reconhecimento do litoral brasileiro, traçou um interessante esboço do que chamou le vrai pourtraict de Genèvre et du Cap Frie. Datado por 14 referência a 1576, tem a descritiva enquadrada pela ótica militar de sua finalidade (FERNANDES, 2008, p. 174). A primeira feitoria construída pelos portugueses foi a de Cabo Frio. Tal empreendimento foi fundado por Américo Vespúcio no ano de 1504 e teve como primeiro feitor o colono João de Braga. Quando Américo Vespúcio retornou a Portugal manteve na localidade o contingente de 24 homens que guarneciam a casa construída em barro e telhado de palha. Muitos embates aconteceram ao longo da história na área de Cabo Frio, inclusive a invasão francesa e a sua consequente criação do Forte de São Mateus. A expulsão francesa somente foi efetivada no ano de 1615 por intermédio da ajuda de Mém de Sá e do indígena Araribóia. Essa ação vitoriosa foi muito significativa historicamente porque reafirmou a presença e os interesses portugueses na região (ASSOCIAÇÃO ESTADUAL DE MUNICÍPIOS DO RIO DE JANEIRO , 2017). Figura 5: Forte de São Mateus, em Cabo Frio-RJ Fonte: Disponível em https://bit.ly/3ySnooM. Acesso em: 09 fev. 2021 Também ganharam relevância as feitorias de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, bem como as das ilhas de Igaraçu e de Itamaracá em Pernambuco. As feitorias brasileiras eram rudes e modestas em função dos valores comerciais dos produtos, apesar do valor do pau-brasil não se comparar com o valor das especiarias asiáticas. Dito isso, assinalamos que entre 1502 e 1504 são construídas as primeiras feitorias no Brasil: no litoral de Pernambuco, em Cabo Frio e no atual Rio de Janeiro. A feitoria de Cabo Frio foi longeva e ainda em 1526 se noticiava a presença dos portugueses. É salutar registrar que a feitoria do Rio de Janeiro foi destruída pelos indígenas. Essa afirmação desmistifica a ideia de passividade dos povos indígenas em relação ao processo de colonização portuguesa. Tais feitorias eram bases de sustentação do império português que se expandia 15 e em cada porção anexada ao seu domínio demandava delimitação por meio dessas fortalezas. Tal organização garantia a presença do feitor como representante do rei, cuja representação exerceu papel relevante nesses anos iniciais da colonização do Brasil. Portugal foi o pioneiro da expansão marítima europeia dos séculos XV e XVI e o que possibilitou isso foi a precoce unificação política, ainda no século XIV, por meio da Revolução de Avis. A orientação econômica da época era o mercantilismo. O mercantilismo pregava a acumulação de metais diferente do feudalismo que a riqueza estava preponderantemente associada à terra (SANTOS; MOURA, 2017). Cabe ressaltar que a Revolução de Avis se constituiu como fundamental para a formação do Estado nacional português. Trata-se de uma revolução crucial porque edificou Portugal como o primeiro Estado nacional da história ocidental. Teve como antecedente o fato que no século VIII houve a invasão dos muçulmanos na Península Ibérica que vieram do norte da África e a ocupação forçou os cristãos para o norte da península ibérica. E os reinos cristãos lutaram pela reconquista até o século XV, quando os cristãos expulsaram definitivamente os muçulmanos. O reino de Portugal nasce no âmago das Guerras de Reconquista da Península Ibérica e aí surge uma burguesia crescente. O Mestre de Avis comandou a Revolução de Avis que aliado ao povo e a burguesia lutou contra a nobreza do reino de Portugal e do reino de Castela. A vitória dos burgueses baseada em estratégias defensivas e usos de emboscadas levaram Dom João, Mestre de Avis, ao posto de rei do reino de Portugal (SANTOS; MOURA, 2017). Tal formação do Estado nacional português marcou uma aliança entre o rei e a burguesia, a qual tinha grande valor para as relações comerciais e econômicas resultando no financiamento da indústria náutica importante passo para as empreitadas de navegações portuguesas e, por conseguinte, repercutiu na colonização do Brasil, de Calicute nas Índias e no domínio da costa africana. Sendo assim, essa Revolução de Avis foi nevrálgica para o desenho do projeto de colonização portuguesa na América. Virgulamos que o capitalismo comercial incorporado por Portugal defendia a acumulação de metais como forma de expressão da riqueza. Dessa forma, os portugueses estavam ligados ao comércio de especiarias (pimenta, gengibre, cardamomo, ervas aromáticas, açafrão, canela, cravo, noz moscada, etc.), cujo foco era a promoção de rotas comerciais para chegar às Índias a fim de obter as 16 famosas especiarias que encontravam dificuldade para serem cultivadas na Europa em razão da não adaptação ao clima. Também alimentavam o ideário de conseguir acumular o máximo de metais preciosos que tivessem acesso como meio de expressão de riqueza e posicionamento privilegiado no cenário internacional perante as demais potências europeias. Na costa brasileira no início da colonização não se obteve as especiarias nem os metais, então, o pau-brasil dava menos lucro que as especiarias indianas. O pau- brasil era utilizado para extrair corante vermelho que se utilizava em manufaturas têxteis na Inglaterra, além de servir como madeira para a produção de móveis. A mão de obra para a extração do pau-brasil era indígena e o escambo era a relação principal nos 30 primeiros anos da colonização (1500 a 1530). Os indígenas retiravam o pau Brasil e levava para as feitorias e depois os portugueses embarcavam essa madeira em direção à Europa. Em troca, os indígenas recebiam dos portugueses produtos como machado, espelho, vestimentas, dentre outros objetos. Figura 6: Costa do pau-brasil Fonte: Disponível em https://bit.ly/3fV2YTu. Acesso em: 09 fev. 2021 Nessa época o Brasil tinha entre dois e quatro milhões de indígenas distribuídos 17 em mais de mil nações e que falavam mais de 150 idiomas, os quais podem ser divididos em dois troncos linguísticos (Tupi no litoral e Macro-Jêno Planalto Central). Muitas tribos conheciam a agricultura, no entanto, muitas dessas organizações sociais se baseavam na caça e na pesca. Essas sociedades não tinham classes, nem se estruturavam na ideia de propriedade privada. Pondera-se que na atualidade a população indígena é de aproximadamente 0,5% (aproximadamente 900 mil pessoas) da população brasileira. Desse modo, as feitorias exerceram um papel fundamental até o ano de 1532, data da instauração das capitanias hereditárias (CRUZ, 2015). 1.2 CAPITANIAS HEREDITÁRIAS Em 1530 se inicia efetivamente a colonização portuguesa no Brasil. É o processo de consolidação da conquista territorial. Além disso, a mudança de visão acerca do Brasil e, diante das possibilidades de ganhos, Portugal resolve avançar em relação a sua presença na colônia. As expedições exploradoras e as expedições guarda-costas nos trinta primeiros anos, assim como a exploração do pau-brasil e o estabelecimento do regime das feitorias que faziam frente à presença de piratas e corsários, motivaram a colonização efetiva por meio do envio do nobre e militar português: Martim Afonso de Sousa. Só entre 1530 e 1533 a expedição comandada por Martim de Souza foi enviada ao litoral brasileiro e a primeira vila, São Vicente, foi fundada em 1532, quando foram implantados os primeiros engenhos de açúcar. Em 1534 foram criadas as capitanias hereditárias no Brasil, seguindo o modelo das ilhas do Atlântico, porém em uma escala territorial bem mais ampla. A elevação de vice-reinado na Índia e a implantação no período dos bispados de Funchal, de Goa, de Cabo Verde e de São Tomé, mostram a pouca importância inicial dada ao território brasileiro pelos portugueses (VASCONCELOS, 2016, p. 42). Martim Afonso de Sousa começou a produção de cana-de-açúcar porque era um produto com grande aceitação no mercado europeu com geração de grandes oportunidades de ganhos. Esse produto contava com o apoio dos holandeses, banqueiros e comerciantes. Além disso, fez se relevante as possibilidades resultantes de condições climáticas (clima tropical) e edáficas (solo de massapê). O comércio das especiarias das índias (tapetes, perfumes, pimenta do reino, 18 cravo, canela, gengibre, cânfora, noz-moscada...) geraram muitas riquezas para Portugal, no entanto, a entrada de concorrentes reduziram os lucros. Ademais, os franceses ameaçavam as ações de Portugal no Brasil. Para fazer frente a isso, o rei enviou a expedição de Martim Afonso de Sousa e em seguida instituiu o sistema de Capitanias Hereditárias em que o governo entrava com as terras e a iniciativa precisava injetar dinheiro no projeto. A primeira divisão territorial do Brasil foi experimentada pelas capitanias hereditárias, a partir de uma divisão do litoral em faixas de cerca de 50 léguas de comprimento que ficaram a cargo dos donatários, que foram responsáveis pela sua ocupação, colonização e desenvolvimento (VASCONCELOS, 2016, p. 48). As capitanias hereditárias eram divisões do território em grandes faixas de terra em que se nomeavam representantes da nobreza de Portugal. Dom João III promoveu essa organização político-administrativa do território brasileiro, tomando como referência o Tratado de Tordesilhas. Em suas posses atlânticas os portugueses já haviam implantado o sistema de capitanias e lá o projeto se apresentou como bem sucedido. Contudo essa realidade não se repetiu no caso brasileiro. Figura 7: Projeto Capitanias Hereditárias Fonte: Disponível em https://bit.ly/3i8bSzG. Acesso em: 27 mar. 2021 19 Os donatários enfrentaram dificuldades nesse processo porque tinham que dar conta de sobreviver diante de ataques dos indígenas e de estrangeiros e com recursos escassos. Haviam também grandes distâncias entre uma capitania e outra, faltava uma relação ou intercâmbio de experiências entre as capitanias, não havia órgãos que coordenasse o trabalho dos donatários, escassez de recursos financeiros por parte da Coroa (na maioria dos casos), muitos donatários não vieram ao Brasil (como é o caso do donatário da Capitania de Ilhéus), dentre outros aspectos que se apresentaram como desafio. Assim, o conceito-chave para entender a construção do espaço geográfico das capitanias não foi o de um território, uma região fechada definida pelas cartas de doação. Foram os acima apresentados e, mais do que eles, o conceito de termo das vilas. A capitania se define territorialmente não pela geometria de um polígono, mas por uma linha na costa onde se criavam vilas, às quais se associavam os seus fundos e sertões, áreas agregadas que vão ser definidas e ampliadas pelos termos das novas vilas criadas na dependência jurisdicional das anteriores, em sucessivas levas (CINTRA, 2017, p. 218-219). As capitanias hereditárias resultaram de interesses políticos e econômicos que envolvem estratégias para administrar o território brasileiro colonial para não sair do controle de Portugal. A falta de recursos suficientes fez com que Portugal se valesse de investimentos de particulares para dar continuidade em sua empreitada no território brasileiro. Então, Dom João III, em 1534, realizou a divisão da colônia em 15 lotes que foram passados aos capitães ou donatários. No entanto, eram 14 capitanias hereditárias repassadas para 12 capitães. Pondera-se que, conforme Mello (1999), ocorreram muitos embates entre a Coroa e os capitães donatários. O mapa disponibilizado, a seguir, das capitanias hereditárias é resultado dos estudos recentes que materializam na representação cartográfica as possibilidades mais plausíveis em função das fontes históricas disponíveis e trabalhadas na pesquisa de Cintra (2013) que refaz as principais propostas disseminadas nos livros acerca desse tema. 20 Figura 8: Capitanias hereditárias Fonte: Cintra (2013, p. 39) O desejo do rei D. João III ao financiar expedições como a de Martin Afonso de Sousa era de encontrar pedras preciosas na colônia Brasil. Além dessa realidade, cabe ressaltar que O fato de que os portugueses seguiam encontrando diversos navios franceses com pau brasil, e até ocupando áreas que de acordo com o Tratado de Tordesilhas pertenciam a Portugal, ajudou a pressionar D. João na sua decisão por dividir o Brasil em CH’s [Capitanias Hereditárias] e começar a povoá-lo para acabar com o risco de perder as terras para a França. Este se tornou, assim, outro objetivo da expedição (INNOCENTINI, 2009, p. 14). Cabe ressaltar, de acordo com Moreira (1994) que o Tratado de Tordesilhas foi 21 assinado por Dom João II de Portugal e o seu significado ultrapassa a demarcação de limites territoriais entre a Espanha e Portugal. Figura 9: Tratado de Tordesilhas assinado por Portugal e Espanha (1494) Fonte: Disponível em https://bit.ly/3vIMXqv. Acesso em: 23 fev. 2021 O debate alcançava questões comerciais que envolviam os mercadores andaluzes e as suas relações comerciais clandestinas na Guiné. Em 1479, momento do Tratado de Alcáçovas que teve sua ratificação com o Tratado de Toledo se nota o reconhecimento das conquistas portuguesas na costa africana e nas ilhas atlânticas, no entanto, não incluía as ilhas canárias resultantes de embates históricos. Com a viagem de Colombo o Atlântico Ocidental começa a ganhar a cena dos debates e exige melhores definições geopolíticas. E, em 1494, o Tratado de Tordesilhas é assinado com definições das esferas de influência. Dessa forma, o Tratado de Tordesilhas se tornou um “[...] marco fundamental no desenvolvimento de várias linhas políticas” (MOREIRA, 1994, p. 12). 22 Figura 10: Delimitação resultante do Tratado de Tordesilhas Fonte: Disponível em https://bit.ly/3vGisS5. Acesso em: 23 fev. 2021 Entre 1500 e 1530, no período pré-colonial, Portugal não se preocupava em defender as terras porque havia acordo com a outra nação que se embrenhava nas grandes navegações: a Espanha. Com o lançamento da França, Inglaterra e Holanda ao mar a preocupação dos portugueses se ampliou e Portugal se vê obrigado a defender para não perder a possedas terras. O custo da colonização de Portugal foi transferido para a iniciativa privada e se realiza a doação de lotes para donatários que deveriam empreender a colonização no Brasil. O território brasileiro foi dividido em 15 lotes denominados capitanias hereditárias que custeariam a colonização. Com base nos documentos da Carta de Doação e dos Forais sedimentava-se que o donatário detinha a posse e não a propriedade, portanto, não se podia vender uma parte da capitania. Os capitães donatários eram as autoridades máximas na sua capitania e após a sua morte a capitania era transferida para seus herdeiros. Em função disso, recebeu o nome de capitanias hereditárias. Nada obstante, poderia distribuir sesmarias (partes da capitania) para outros colonos. Todos os bens das matas, do subsolo e dos mares eram de propriedade da Coroa portuguesa. Caberia ao donatário plantar e colher. 23 Figura 11: Carta de doação à Fernão de Noronha concedendo a capitania e o governo das Ilhas de São João Fonte: Disponível em https://bit.ly/34DsBTu. Acesso em: 26 fev. 2021 Figura 12: Carta de foral doando a Capitania de Pernambuco a Duarte Coelho 1. Um dos requisitos para obter as capitanias era ser uma pessoa abastada na sociedade portuguesa. Dois eram os documentos: a carta de doação e o foral que consistia na declaração dos direitos e dos deveres dos capitães donatários. Além disso, tinha direito de fazer uso da escravidão indígena. O capitão poderia doar sesmarias para explorar e povoar as terras. A base econômica era pautada em latifúndios. As sesmarias eram latifúndios e se davam por meio de 24 [...] doações de sesmarias aos colonos importantes, sobretudo membros da nobreza com algumas exigências para a implantação de engenhos de açúcar. Na produção de açúcar, portanto, os maiores investimentos eram voltados para a construção de engenhos e a compra de escravos, pois as terras eram recebidas em sesmarias. Em seguida as sesmarias começaram a ser subdivididas sendo arrendadas aos pequenos colonos (VASCONCELOS, 2016, p. 49). Era dever do capitão donatário passar parte do lucro para Portugal, explorar as terras, combater invasões estrangeiras, povoar as capitanias hereditárias. Os capitães donatários e os sesmeiros perceberam que a vida no Brasil deveria ser duradoura porque não vislumbravam nitidamente a volta para Portugal. Os que vieram solteiros precisavam formar famílias. Entretanto, a relação formalizada com as nativas não era bem vista. Então, começam a trazer mulheres solteiras de Portugal para o Brasil: no geral, crianças e adolescentes órfãs de Portugal que vinham para casar de maneira forçada com os homens que estavam fazendo as primeiras construções brasileiras. Portugal também enviava homens pobres e existem relatos de envio de criminosos como alternativa de vida. Portugal queria diminuir a sua população carcerária e garantir a mão de obra no Brasil. O fidalgo que nasceu com poder e dinheiro e o plebeu não tinha nada. Os fidalgos vinham como administradores e os plebeus como trabalhadores, conquanto essa distância foi reduzindo em função da noção de que os demais estavam abaixo das suas posições. Uma concepção cultural de inferiorização que colaborou para tal configuração. As capitanias não deram conta de defender os territórios em razão das dificuldades de sua efetivação para obtenção de lucros. A Capitania de São Vicente foi doada a Martim Afonso de Souza e pode contar com o suporte da Coroa portuguesa. Uma expressão do sucesso desse empreendimento foi o surgimento do povoado de Santos, fundado por Brás Cubas. O desenvolvimento significativo da 25 produção de cana-de-açúcar nessa capitania foi fundamental para seu sucesso. Ao tempo que a Capitania de Pernambuco doada para Duarte Coelho se tornou o maior centro de produção de cana-de-açúcar durante o período colonial. A Capitania hereditária de Pernambuco, também conhecida como Nova Lusitânia, sob o governo descentralizado da iniciativa privada com o objetivo de implementar a colonização, ou seja, fazer o Brasil gerar lucro esteve inicialmente sob a direção de Duarte Coelho. A sua prosperidade se estabeleceu em função do cultivo da cana-de-açúcar que combinou financiamento e propensão geográfica para tal empreendimento. Havia demanda crescente para o consumo de açúcar e as capitanias de Pernambuco, São Vicente e Bahia foram os principais locais de produção na América Portuguesa. A produção econômica se sustentou inicialmente na mão de obra indígena e, posteriormente, foi substituída pela mão de obra escrava africana. Duarte Coelho recebeu degredados em sua capitania que lhe rendeu muitos conflitos, também cabe ressaltar os conflitos encampados contra os indígenas. A cana-de-açúcar se estabeleceu como empresa agrícola açucareira e contou com a crucial participação holandesa. Portugal desde o empreendimento náutico contou com capitais de uma burguesia comercial financeira holandesa. A maioria do capital do empreendimento náutico português contou com esse capital. A Capitania de Pernambuco ou Nova Lusitânia teve a sua prosperidade impulsionada em função de recursos holandeses na produção açucareira que participava do financiamento, transporte, refino e distribuição do açúcar na Europa. No caso da empresa agrícola açucareira tornou-se expressivo o financiamento da implantação da produção, o transporte e o refino que era feito na Holanda. Além disso, os holandeses distribuíram o açúcar e o lucro ficava de forma massiva sob o seu poder. Portugal recebia impostos dos navios e da comercialização em uma estrutura de monopolização dessa atividade. A esperança de Portugal era conseguir instituir uma empresa mineradora das terras brasileiras, sonho esse que foi perseguido desde o início da colonização. Também a Capitania de São Vicente, sob os auspícios de Martim Afonso de Sousa, conseguiu prosperidade em seu segundo lote em razão da produção de açúcar. Ressaltamos que no total eram 14 capitanias distribuídas em 15 lotes de terra, os quais foram doados para 12 donatários portugueses. 26 Conforme dito anteriormente, os capitães donatários eram representantes da burocracia ou da nobreza de Portugal e eram chamados de fidalgos. Recebiam a carta de doação que atribuía a concessão para a exploração da capitania. A terra continuava a pertencer ao Estado português. Em caso de descumprimento de regras o donatário poderia perder o seu direito à concessão. A concessão era passada de pai para filho, ou seja, vitalícia. No foral estabeleciam os direitos e os deveres dos capitães donatários. As sesmarias eram lotes grandes de terras que eram doados a colonos para a exploração. Portugal teve que agir em defesa do território e optou em trazer para o Brasil o Governo Geral com a finalidade de controlar as áreas das capitanias. Os objetivos eram defender o território, dinamizar a economia e fiscalizar as capitanias. Com as capitanias pode-se assinalar que trouxeram muitas vantagens para Portugal como a instalação de uma base territorial que sustentou a colonização portuguesa. Os povoamentos de destaque podemos citar Santos, Olinda, Ilhéus e São Vicente. A posse das terras em face dos riscos de invasões estrangeiras também é de grande significado para a empreitada portuguesa. Outro aspecto notável foi a 27 viabilidade da exploração da cana-de-açúcar. O sistema de capitanias não funcionou na prática como se previa inicialmente. Em caso de guerra as capitanias não se ajudavam. Existiam muitos contrabandos dos franceses e outras nações que dificultavam o crescimento das capitanias. Os capitães donatários, em muitos casos, abandonaram as suas capitanias e não foi construída a estrutura necessária para o seu funcionamento. Muitos capitães não acreditaram que o projeto das capitanias hereditárias daria certo. A figura do capitão donatário assumiu outra noção a partir de 1549 até 1572, período a partir do qual Portugal adota outro esquema: o Governo Geral. O Brasil passa ater um governador geral que o administra. Portanto, se trata da centralização administrativa do território. A falta de condições de administração fez com que o Governador Geral nomeasse o Ouvidor Mor (justiça), o Provedor Mor (finanças) e Capitão Mor (defesa territorial). Figura 13: Projeto Governador Geral Fonte: Disponível em https://bit.ly/2S0qKFH. Acesso em: 27 mar. 2021 Veio para o Brasil o Governador Geral, Tomé de Souza, com sede em Salvador, que estava no centro da produção açucareira. Salvador era a capital do Brasil e teve o início de sua construção em 1º de maio de 1549 em uma área elevada de frente para o mar e com arquitetura que viabilizava a defesa militar. Portugal teve gastos e se sentia obrigado a transformar a colônia em um empreendimento lucrativo. A lógica do Governo Geral era promover a centralização da administração da colônia. Esse sistema não significou o fim das capitanias 28 hereditárias, dessa forma, coexistiram até o ano de 1759. O que podemos destacar depois da complexidade de eventos em diferentes contextos históricos e geográficos, é a transformação de um império mercantil implantado por uma série de feitorias, fortes e cidades portuárias, em um império cuja base principal é o imenso território brasileiro, que só foi possível consolidá-lo com a implantação da produção de açúcar voltada para a exportação, em grandes propriedades, baseada no trabalho escravo, cujas repercussões sobre a sociedade e economia brasileiras foram fundamentais até o momento presente (VASCONCELOS, 2016, p. 47). O regimento do Governo Geral tinha como propósito fazer a defesa das terras contra os ataques estrangeiros, promover ações em busca de metais preciosos, apoiar a disseminação da igreja católica e fazer frente à resistência indígena. O regime teve que enfrentar problemas como a dificuldade de comunicação e a oposição com os interesses locais. Os jesuítas surgiram no Concílio de Trento, o concílio da contrarreforma. A Companhia de Jesus tinha a missão de catequizar povos recém descobertos - a cristianização dos povos. São os responsáveis pela educação dos índios e dos colonos em uma forma mais ampla. Esse grupo de religiosos chegaram juntamente com o Governador Geral representados por seis jesuítas sob a chefia do padre português Manuel da Nóbrega e tinham a incumbência de catequizar os indígenas. 29 FIXANDO O CONTEÚDO 1. (Cesgranrio) O início da colonização portuguesa no Brasil, no chamado período “pré-colonial” (1500-1530), foi marcado pelo(a) a) envio de expedições exploratórias do litoral e pelo escambo do pau-brasil. b) plantio e exploração do pau-brasil, associado ao tráfico africano. c) deslocamento, para a américa, da estrutura administrativa e militar já experimentada no oriente. d) fixação de grupos missionários de várias ordens religiosas para catequizar os indígenas. e) implantação da lavoura canavieira, apoiada em capitais holandeses. 2. (USS) Assinale a alternativa correta a respeito do período pré-colonial brasileiro. a) Os franceses não reconheciam o domínio português, tanto que chegaram a se estabelecer no Rio de Janeiro e no Maranhão. b) O trabalho intenso de Anchieta e Nóbrega na catequese dos índios tinha o objetivo de impedir a escravização do gentio. c) A ocupação temporária europeia, por meio de feitorias, deveu-se à inexistência de organização social produtora de excedentes negociáveis. d) A cordialidade dos indígenas contrastava com a hostilidade europeia dos portugueses, cujo objetivo metalista conduzia sempre à prática da violência. e) A cordialidade inicial entre europeus e índios deveu-se ao fato de que o objetivo catequético superava os fins materiais da expansão marítima. 3. (Fuvest) No Brasil colonial, a escravidão caracterizou-se essencialmente a) por sua vinculação exclusiva ao sistema agrário exportador. b) pelo incentivo da igreja e da coroa à escravidão de índios e negros. c) por estar amplamente distribuída entre a população livre, constituindo a base econômica da sociedade. d) por destinar os trabalhos mais penosos aos negros e mais leves aos índios. e) por impedir a emigração em massa de trabalhadores livres para o brasil. 30 4. (UEL) No Brasil colônia, a pecuária teve um papel decisivo na a) ocupação das áreas litorâneas. b) expulsão do assalariado do campo. c) formação e exploração dos minifúndios. d) fixação do escravo na agricultura. e) expansão para o interior. 5. (Unesp-2015) A constatação de que “Essa aliança refletiu-se numa política de terras que incorporou concepções rurais tanto feudais como mercantis” justifica- se, pois a política de terras desenvolvida por Portugal durante a colonização brasileira a) permitiu tanto o surgimento de uma ampla camada de pequenos proprietários, cuja produção se voltava para o mercado interno, quanto a implementação de sólidas parcerias comerciais com o restante da América. b) determinou tanto uma rigorosa hierarquia nobiliárquica nas terras coloniais, quanto o confisco total e imediato das terras comunais cultivadas por grupos indígenas ao longo do litoral brasileiro. c) envolveu tanto a cessão vitalícia do usufruto de terras que continuavam a ser propriedades da Coroa, quanto a orientação principal do uso da terra para a monocultura exportadora. d) garantiu tanto a prevalência da agricultura de subsistência, quanto a difusão, na região amazônica e nas áreas centrais da colônia, das práticas da pecuária e da agricultura de exportação. e) assegurou tanto o predomínio do minifúndio no Nordeste brasileiro, quanto uma regular distribuição de terras entre camponeses no Centro-Sul, com o objetivo de estimular a agricultura de exportação. 6. (UNIP) Após a restauração Portuguesa, ocorrida em 1640 a) as relações entre Portugal e o Brasil tornaram-se mais liberais. b) a autonomia administrativa do Brasil foi ampliada. 31 c) o Pacto Colonial luso enrijeceu-se. d) os capitães-donatários forma substituídos pelos vice-reis. e) a justiça colonial passou a ser exercida pelos “homens novos”. 7. (PUC-RIO) "Isto é claro - diziam os mareantes - que depois deste Cabo não há aí gente nem povoação alguma (...) e as correntes são tamanhas, que navio que lá passe, jamais nunca poderá tornar." Gomes Eanes de Zurara, ca. 1430 A despeito de todos os temores e incertezas que marcaram a aventura da expansão marítima portuguesa, os aventureiros que nela se lançaram conseguiram desbravar a costa oeste africana, até o seu extremo sul, durante o século XV. Com relação a esses acontecimentos, podemos afirmar que: I. A ultrapassagem do Cabo Bojador, em 1434, pela expedição comandada por Gil Eanes, concretizou uma das primeiras das intenções do infante D. Henrique: a de firmar controle sobre o litoral da África subsaariana. II. A expansão portuguesa no litoral ocidental africano levou ao estabelecimento de feitorias e ao início, em pequena escala, do tráfico de escravos africanos. III. A crença na existência do reino cristão de Preste João, situado em algum lugar para além dos domínios muçulmanos, foi um dos elementos do imaginário coletivo da época que estimulou a participação de muitos nas expedições direcionadas para o litoral africano. Assinale a alternativa correta a) se somente a afirmativa II estiver correta. b) se somente as afirmativa I e II estiverem corretas. c) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas. d) se somente as afirmativas I e III estiverem corretas. e) se todas as afirmativas estiverem corretas. 8. (FGV) Sobre a conquista holandesa do Nordeste brasileiro, no período colonial, é correto afirmar: 32 a) Os conflitos entre portugueses e holandeses devem ser compreendidos no contexto da União Ibérica (1580-1640) e da separação das Províncias Unidas do Império Habsburgo. b) A ocupação das áreas de plantio de cana obrigou os holandeses a intensificarem a escravização dos indígenas, uma vez que não possuíam bases no continente africano. c) Estabelecidos em Pernambuco, os holandeses empreenderamuma forte perseguição aos judeus e católicos ali residentes e fortaleceram a difusão do protestantismo no Brasil colonial. d) A administração de Maurício de Nassau foi caracterizada pelo pragmatismo e pela desmontagem do grande centro de artistas e letrados organizado pelas autoridades portuguesas em Olinda. e) Os holandeses implementaram uma nova e eficiente estrutura produtiva baseada em pequenas e médias propriedades familiares, que se diferenciava das antigas plantations escravistas. 33 SISTEMAS DE EXPLORAÇÃO TERRITORIAL 2.1 PLANTATION O Brasil tendia a ser uma colônia britânica “oculta”, pois, em consonância com Velho (2009), uma grande parte do que era extraído enviava-se para a Grã-Bretanha, com quem Portugal, sobretudo após 1703, possuía uma relação de dependência semicolonial. Ressalta-se que “[...] no Brasil, com um imenso território, com fronteiras imprecisas, e com o estabelecimento do sistema escravista, além da gestão das outras partes do Império, era necessário controlar e colonizar a colônia” (VASCONCELOS, 2016, p. 48). Ainda, Velho (2009, p. 103) destaca que Exatamente por ser uma colônia “oculta”, os cientistas sociais britânicos em geral não dão muita atenção ao papel do Brasil para a acumulação primitiva através da economia de plantation e o comércio de escravos. No caso das exportações de ouro, no entanto, as coisas foram mais maciças e óbvias (VELHO, 2009, p. 103). Tinha-se o exclusivismo colonial ou o pacto colonial. Na verdade, não houve pacto e sim a imposição das regras para a colônia, uma imposição colonial. Nessa perspectiva o Brasil tinha o papel de fornecedor de matérias primas e gêneros tropicais para a metrópole, então havia a transformação na metrópole que revendia para a colônia. Lembrando que o Brasil só poderia estabelecer relação econômica com Portugal. A compra exclusiva de produtos manufaturados gerava uma desvantagem comercial avassaladora para o território brasileiro. Para pensarmos a economia do Brasil colonial faz-se relevante que algumas características gerais sejam compreendidas porque se alteram os produtos gerados, mas as bases econômicas são as mesmas. A economia açucareira entra nos aspectos do sistema colonial que tem início com a lógica das monarquias europeias sustentadas na exploração mercantilista que visava acumular riquezas nas colônias. O sistema administrativo de controle do Estado português permitia vinculações locais, mas a dependência externa era extrema. A cana de açúcar era uma especiaria de grande valor na Europa e os portugueses já tinham experiência nesse comércio em suas ilhas no Atlântico. Então, tendo como alvo o comércio exterior, a UNIDADE 02 34 cana-de-açúcar foi escolhida para levantar lucros na colônia e a economia açucareira teve seu apogeu nos séculos XVI e XVII. O seu cultivo predominou na zona da mata nordestina que tinha como vantagem a qualidade do solo e condições favoráveis para o cultivo. Os maiores produtores de cana-de-açúcar eram a Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Vicente e se tinha um projeto de colonização alicerçada na plantation. Segundo Tanezini (1994, p. 117-118): A faixa litorânea de Pernambuco e capitanias anexas e o recôncavo da Bahia tornaram-se regiões por excelência para o desenvolvimento da "plantation" canavieira, colocando o Brasil-Colônia na posição de maior produtor mundial de açúcar nos séculos XVI e XVII. Havia financiamento holandês para a produção e essa colaboração gerava lucros exorbitantes porque faziam empréstimos a juros e com o refino tornando-o mais valioso, e se distribuía na Europa. A produção do açúcar ganhou tanto destaque que os portugueses tiveram que criar uma nova organização social e territorial, como mostra Vasconcelos (2016, p. 47): Os portugueses deram origem a uma nova forma de organização social e territorial: uma colônia voltada para produzir e exportar mercadorias de interesse dos mercados europeus, como o açúcar. Essa orientação foi agravada pela concentração da propriedade fundiária e, sobretudo, pela utilização sistemática, em todo o território, do trabalho escravo (VASCONCELOS, 2016, p. 47). O Brasil era uma grande fazenda para Portugal. Predominava-se o modelo monocultor da grande produção agrícola nos latifúndios, as plantations. Tinham como objetivo explorar a colônia, haja vista que a “instalação de grandes unidades produtivas na maioria das vezes já era prevista no momento de doação das 35 sesmarias, e mais que isso, justificavam a própria requisição da concessão de terras” (TANEZINI 1994, p. 50). Onde as plantations eram implementadas se proibia o fomento de atividades manufatureiras, a colônia era proibida de competir com a metrópole. Além disso, o Brasil era obrigado a consumir os produtos manufaturados da Europa e isso teve como implicação a industrialização tardia, bem como reforçou as mentalidades colonizadas, monopolizadoras e conservadoras que pouco se preocupavam com a necessidade de industrialização do Brasil. Para pensar o sistema da plantation, também chamado de plantação ou plantagem, é necessário ter a clareza de que se trata de um termo datado e que reporta a concepções polissêmicas. Ele pode ser pensado na dimensão física do espaço, assim como é razoável expor que uma fazenda se distingue de uma plantation. A dimensão cultural deve ser considerada, bem como a compreensão de que há um recorte da burocracia que está envolvida nessas dinâmicas. Precisamos olhar para a plantation e entender as relações culturais envolvidas, as quais não podem ser desconectadas da territorialidade. A terra, o capital e o trabalho devem ser vistos em suas interações. A respeito do seu conceito: O conceito de "plantation" foi sendo construído a partir da abordagem dos clássicos das diversas ciências sociais. Na Economia Política essa forma econômica foi mencionada por mercantilistas, fisiocratas e economistas clássicos, como Adam Smith no século XVlll, por seus críticos, Karl Marx e Friedrich Engels no século XIX e Vladimir I. Lênin e Karl Kautsky no início do século XX. Na Geografia Humana e Agrária foi analisada por Ritz e Edward Hahn (que a definiu conceitual mente como "plantation" em ISSO) e em especial por Leo Waibel em I932. Dentre as escolas sociológicas, foi objeto de estudo de Max Weber, além do próprio Marx . Na Ciência Histórica esse tema foi abordado particularmente pela História Económica da qual destacamos a análise de Maurice Dobb na década de quarenta. Finalmente constituiu-se numa problemática para a Antropologia nos anos cinquenta e sessenta, quando os estudiosos procuraram distinguir, nem sempre claramente, "haciendas" e "plantations" no Novo Mundo, estabelecendo situações-tipo que as exemplificasse (TANEZINI, 1994, p. 46) Na realidade a plantation é todo um processo em interligação que remonta a um sistema de sistemas espaciais que demanda a decomposição do território e das paisagens, de modo a considerar as formas, as estruturas, as funções e os processos. Como pontua Tanezini (1994, p.112), 36 A "plantation" se constituiu como o fundamento econômico-social da colonização portuguesa, depois adotada por outras nações europeias nas Antilhas. Como processo produtivo agroindustrial instalado nas colônias, representava uma contra tendência à divisão internacional do trabalho (TANEZINI, 1994, p. 112). A ideia de espaço e território é um elemento central para o entendimento da plantation, haja vista que o espaço se apresenta como essencial para o aprofundamento da dinâmica das relações sociais. Tais relações se desenrolam no plano espacial, ou seja, no corpo territorial. Isso é nítido em razão de que as relações humanas não acontecem sem uma base territorial. Cada lugar ou configuração espacial reporta a uma multiplicidade de tempos que consolidam mosaicos de uma realidade concreta. [...] existência da "plantation" açucareira como um empreendimento agroindustrial capitalista no século XVI, como parte da nova tendência de apropriação da esfera produtivapelo capital, permitindo a reprodução e acumulação do capital industrial propriamente dito, no bojo da chamada acumulação primitiva, como duas "faces da mesma moeda", como duas fases do mesmo movimento contraditório da evolução histórica (TANEZINI, 1994, p. 83). Não se pode desconsiderar o papel da plantation para a formação do território e da sociedade brasileira. Território é tradução de tempos diversos que fazem alusão às dimensões que atribuem a densidade das funções assumidas pelas formas espaciais que ocorrem em consonância a uma estrutura específica, a qual determina articulações que podem ou não se perenizar ao longo da história. O monopólio comercial e as plantations atuavam de modo articulado para a promoção de altos lucros para as coroas europeias. De acordo com Tanezini (1994, p.112): 37 Não faltou a mão-de-obra, porque desde o século XV portugueses e espanhóis e depois ingleses, franceses, holandeses, dinamarqueses organizaram o lucrativo tráfico de escravos. Com a "Plantation" americana generalizou-se a escravidão sistemática moderna em função do suprimento da força de trabalho para a atividade produtiva, como instituição para garantir a compulsão ao trabalho (e não por guerras etc), para uma indústria que demandava enorme dispêndio de energia física e que operava em regiões tórridas e úmidas, em clima exaustivo (TANEZINI, 1994, p. 112). Tais características de produção se inserem em uma sociedade peculiar colonial com características marcadas pela economia do açúcar, tipicamente patriarcal (centrada no homem e a mulher sufocada em sua condição de sujeito e tinham o papel engessado que se baseava em se casar e ter filhos), escravista (adotou a mão de obra escravizada como elemento de lucro), estamental (a posição social do indivíduo está de acordo com o seu nascimento, sem mobilidade social), rural (desenvolvida no campo) e da relação entre senhores e escravos (conflitos como a gênese dessa sociedade). Muitos dos desafios contemporâneos estão assentados nesse quadro cultural. A unidade econômica que se produzia a cana de açúcar era denominada engenho que no plano local era vista como autossuficiente, entretanto, havia uma profunda dependência das tecnologias oriundas da Europa. No engenho se tinha a senzala, a casa grande, a utilização da força motriz da água ou de animais. Conforme Tanezini (1994, p. 212) O engenho colonial era compreendido de modo geral em dois sentidos: a propriedade rural canavieira, sede da unidade de transformação da cana em açúcar e a fábrica propriamente dita. O engenho no seu sentido restrito constituía o coração da propriedade rural à qual dava o nome e esta, por sua vez o coração da "plantation" canavieira (TANEZINI, 1994, p. 212). Nesse contexto, a produção ocorria no engenho constituído por casa grande, senzala, capela e casa de engenho. Tal estrutura básica em que a casa grande era a moradia do senhor de engenho e lugar de administração do engenho; a senzala era o local de alojamento, uma espécie de prisão extremamente insalubre e precária destinada aos escravos; a capela católica refletia a riqueza do engenho; a casa de engenho onde se produzia o açúcar e era formada pela moenda (existiam as movidas por força d´água e os que usavam força humana ou animal), caldeira (o caldo de cana sob o processo de fervura), casa de purgar (retirar as impurezas) e galpões (armazenagem em formato de pães/formas de açúcar). 38 A arquitetura materializava a lógica de discriminação social. Nas capelas, no geral, se tinham os alpendres na frente onde muitos assistiam à missa fora da igreja porque não eram batizados (catecúmenos, às vezes escravos). Assistir à missa dentro da igreja era um privilégio de poucos. Os senhores de engenho eram os pais absolutos, um administrador dos seus bens, de sua mulher, dos seus filhos e dos escravos. A lógica dessas leis instituídas sob seus auspícios se estruturava, basicamente, o primeiro filho ficava no engenho, o segundo iria se formar em direito, o terceiro padre, o quarto médico e assim sucessivamente. O envio dos filhos para a Europa gerava incontáveis desconfortos porque desconectava as nossas elites da realidade do país. As meninas eram preparadas para casar por isso não aprendiam a ler e nem a escrever para não escrever carta para namorado, além disso, viviam submissas aos maridos e aos filhos. Os casamentos eram, no geral, com os parentes como uma forma de proteção do patrimônio das terras e dos engenhos. A aristocracia do açúcar tinha um horror ao trabalho braçal e, em muitos casos, se emitia cédulas com valores variados que tinham caracterizava como uma economia fechada e que gerava dependência à mercearia do senhor de engenho que recebia tais cédulas. Nos engenhos além dos escravos, indígenas no começo e africanos depois, os escravos viviam nas senzalas sob o controle dos feitores. Além dos escravos haviam os técnicos formados por mestre de açúcar, fazedor de aguardente, geralmente portugueses e mestiços contratados na fazenda. O trabalho nas regiões dos engenhos foi marcado pela herança da escravidão que se manifesta na reprodução material e nunca no valor do ser humano que trabalha. E o trabalhador descendente dos escravos se transformou em morador dos engenhos em função da dependência do proprietário das terras que 39 era dono de tudo e a sua dominação do tempo de trabalho do morador fez com que a lógica escravocrata se ampliasse ou se renovasse em novos formatos. A mulher não tinha direito de ter a fazenda em seu nome e em boa parte dos casos as escravas eram abusadas pelos senhores e as esposas socialmente não podiam se levantar contra a dominação masculina na época. Acentua-se que a rede comercial relacionada à colônia compusera camadas sociais que não se reduziam a senhores e escravos, mas também uma rede média que integravam roceiros, caixeiros, produtores de alimentos, dentre outros, que abasteciam as plantations. Até hoje esse modelo de plantation nos permeia e nos fazem ter um legado que colabora para sermos considerados grandes produtores de laranja, café, soja, frango, linguiça, carne, dentre outros. E, conforme pontua Tanezini (1994, p.179): A "plantation" causou a destruição da Mata Atlântica original, não por causa do atraso do seu processo de produção agrícola, ao contrário, pelo seu caráter moderno de possuir uma fábrica instalada no meio rural. O período manufatureiro na Europa caracterizou-se justamente pela instalação das indústrias no campo, junto às fontes de matéria prima e de energia, tendo como consequência a destruição florestal. Acrescenta-se que a produção de pecuária extensiva em que o gado é criado solto no pasto, um gado leiteiro de mistura de raças, com localização principal no sertão nordestino era utilizada no mercado interno para auxiliar na produção canavieira. O gado brasileiro inicial servia para transporte, abastecimento de carne, couro e leite nas fazendas de cana-de- açúcar. É uma pequena economia em face da grande economia açucareira e não se estruturou com mão de obra escrava e o pasto era socializado por criadores de gado e aqui está a origem do sertanejo ou vaqueiro nordestino. No que tange a mão de obra escrava utilizada nas plantations, registramos que a escravidão africana, a partir de 1550 começam a chegar os primeiros navios 40 negreiros que eram vistos como tumbas navegantes, eram priorizadas porque espécies parecidas com a cana que era produzida no Brasil já eram conhecidas por eles. Os africanos por terem um maior conhecimento eram mais lucrativos e geravam dinheiro para a Coroa com o tráfico negreiro. Colocamos em relevo o fato de que não houve a passividade, nem pactos de conciliação de classes, o que tivemos foi uma atuação abominável por parte dos portugueses que trouxeram africanos de línguas e dialetos distintos com formações mais plural possível nas fazendas. A busca dos fazendeiros também passava pela tentativa de colocarem numa mesma fazenda negros oriundosde etnias rivais. Essas estratégias buscavam evitar revoltas, fugas resultantes de diálogos e uniões entre os negros. 2.2 ENTRADAS E BANDEIRAS Como se percebe, no Brasil colonial a atuação de Portugal se deu inicialmente de modo periférico e litorâneo, haja vista que a colonização visava levantar riquezas para Portugal em uma política claramente voltada para o mercantilismo (COSTA; FARIAS, 2009). Assim, o litoral apresentava certas vantagens, estava mais próximo da Europa, era, portanto, o acesso mais fácil à metrópole e ao comércio europeu. O fator geográfico da proximidade era de extrema importância em um período no qual a navegação era o único meio usado para deslocar, a longa distância, pessoas e mercadorias entre os espaços na escala do mundo. A proximidade relativa entre o litoral da colônia com a metrópole portuguesa e com a Europa em geral, evitava grandes dispêndios financeiros com os transportes das mercadorias. É importante também lembrar para você que, além da localização, o litoral apresentava outras vantagens geográficas, nele se encontravam as condições edafoclimáticas (solos aluviais férteis e clima quente e úmido) essenciais para a opção econômica que Portugal escolheu para ocupar produtivamente o seu espaço colonial no Novo Mundo – a cana-de-açúcar (COSTA; FARIAS, 2009, p. 01). As expedições interioranas contribuíram para a expansão portuguesa na América e para a sertanização do Brasil. É salutar ressaltar as contribuições da União Ibérica que colaborou para a noção de litoraneidade e interiorização. Avançar para o interior do Brasil era algo muito complicado em função do desconhecimento da geografia brasileira e a presença de serras ao longo do litoral contribuiu para ampliar os desafios dos portugueses nos séculos XVI e XVII. 41 Contudo, esse caráter litorâneo e periférico da territorialidade portuguesa no Brasil colonial não deve ser considerado em absoluto. Mesmo no século XVI e, fundamentalmente, nos séculos subseqüentes, a ocupação colonial portuguesa, embora de forma rarefeita e dispersa, estendeu-se para o interior, movida pelos deslocamentos das entradas, das bandeiras e das missões. Esses deslocamentos para o interior do espaço colonial tinham como objetivos: aprisionar os indígenas para vendê-los como escravos, procurar os metais preciosos e as drogas do sertão, estabelecer currais, para a prática da pecuária, e roçados, para a agricultura acessória, fundar aldeias para evangelizar os índios etc. (COSTA; FARIAS, 2009, p. 01). O ponto mais ao interior durante o século XVI foi a Vila de São Paulo que se localizava 65 quilômetros de São Vicente. No caso dos espanhóis, conseguiram explorar o interior bem antes dos portugueses e isso viabilizou a exploração mais precoce de metais preciosos. Ressalta-se que por decreto do rei Dom João III a pecuária extensiva foi levada para o interior e a sua execução era realizada por mão de obra livre. No sul do país, as missões jesuíticas encamparam produções relevantes no que se refere a dimensão agropastoril e o gado da região passou a ser chamado de missioneiro. O Brasil na virada do século XVI para o XVII estava com suas atividades econômicas concentradas na região nordeste em razão da pujança da produção açucareira. A busca por outras atividades lucrativas foi materializada por meio da atuação de expedições denominadas de entradas e bandeiras. Nessa epopéia, entradistas, bandeirantes e missionários transpuseram os limites territoriais portugueses na América e foram muito além dos marcos definidos para eles pelo Tratado de Tordesilhas. Essa expansão para além desse tratado obrigou a Portugal e a Espanha renegociarem os limites das suas possessões coloniais na América do Sul. Isso foi concretizado através da assinatura de novos tratados, a exemplo do Tratado de Madri (1750) e do Tratado de Santo Ildefonso (1777), que expandiram os domínios portugueses em detrimento dos espanhóis no subcontinente sul-americano (COSTA; FARIAS, 2009, p. 01). A palavra sertão tinha a conotação de região selvagem, distante das cidades e também do litoral. Nesse sentido, o termo sertão é “[...] utilizado para designar as regiões distantes da costa, é o Brasil interiorano. Não tem o mesmo significado que se emprega no Nordeste do Brasil onde o termo Sertão refere-se a uma região natural específica, o semi-árido nordestino” (COSTA; FARIAS, 2009, p. 4). Em linhas gerais, compreendida como interior do país. Com o propósito de explorar o interior do país foram promovidas expedições pela administração portuguesa ou por iniciativas particulares. Oliveira (1998, p. 8) nos 42 esclarece que “Um dos desdobramentos do mito do sertão é o do bandeirante, responsável pelo aumento do espaço territorial da colônia portuguesa nos séculos XVII e XVIII”. Tendo em vista as entradas: [...] Hélio Viana considera como entradas as que partiram das várias capitanias do Brasil [colônia], com exceção de São Vicente, e, como bandeiras, as que partiram desta capitania. Assim, poderíamos dizer que as bandeiras foram paulistas, enquanto as entradas foram maranhenses, pernambucanas, baianas, espírito-santenses e fluminenses. Outros autores distinguem os dois movimentos, considerando como entradas as expedições organizadas e dirigidas pelo poder público, enquanto as bandeiras seriam as expedições particulares (ANDRADE, 2003, p. 61). Nesse sentido, é possível entender que as entradas eram originadas de qualquer localidade no território pertencente ao rei de Portugal, enquanto as bandeiras são designadas como as originárias da região da Vila de São Paulo de Piratininga: exclusivamente paulistas. Algumas expedições pernambucanas também devassaram o interior do atual Nordeste visando aprisionar índios para escravizar. Entre essas expedições consta a organizada no governo Duarte Coelho de Albuquerque. Esse donatário, com o auxílio do padre do Ouro, reduziu muitos indígenas à escravidão. Contudo, essas expedições pernambucanas não obtiveram muito sucesso. As mais famosas entradas tiveram como ponto de partida a Bahia, entre elas podemos destacar: a de Antônio Dias Adorno, que explorou o norte de Minas; a de Gabriel de Sousa, que explorou a Chapada Diamantina; e a de Belchior Dias, que percorreu o sertão do São Francisco. Todas elas buscavam encontrar os metais e as pedras preciosos. Outras entradas partiram de Porto Seguro, promovidas pelos donatários do Espírito Santos e do Rio de Janeiro. Essas não foram bem-sucedidas, ou seja, não encontraram os metais e as pedras preciosos, limitando-se a trazer alguns escravos índios para os entornos das suas capitanias (COSTA; FARIAS, 2009, p. 04). De acordo com Costa e Farias (2009), a atuação das entradas teve a sua relevância garantida na consolidação do território brasileiro, haja vista que instituiu propostas de ocupação territorial e fixação cada vez maior para o interior do Brasil. Além disso, foi fundamental para a sustentação econômica do modelo de exploração adotado por Portugal para sua colônia Brasil. As atividades ligadas à atuação da plantation foram cruciais e as entradas tornaram viáveis essas atuações de suporte produtivo. Também é pertinente assinalar que as entradas tiveram uma importância geopolítica ímpar porque colaboraram para o domínio português em face das constantes ameaças estrangeiras. No entanto, resultou ainda no quadro de avanço para além dos limites impostos pelo Tratado de Tordesilhas. 43 Os corpos de ordenanças, existentes em Portugal já no século XVI, representaram um desdobramento da organização militar portuguesa mais antiga, na qual existiam as bandeiras. Essas bandeiras medievais constituíam-se como organizações militares espontâneas e tumultuárias a que o Regimento das Ordenanças procurou disciplinar ainda naquele século. No Brasil, foi através desse regimento que se vulgarizou a definição de bandeira. As adaptações do instituto das bandeiras por aqui não se fizeram esperar. Primeiramente, de emprego defensivo e estático na metrópole, a bandeira passoua exercer diversas outras funções. Seus comandantes eram, em geral, também comandantes das milícias e ordenanças nomeados pelas autoridades coloniais ou reinóis (FONSECA, 2017, p. 41). As bandeiras ficaram conhecidas também como aquelas feitas pelos bandeirantes paulistas. São expedições organizadas e financiadas por particulares que adentravam o interior da colônia e buscavam lucros eram compostos por brancos, mestiços e índios. Sendo que o líder da expedição era denominado armador. Cabe ressaltar que o: [...] caráter expansionista atribuído às bandeiras foi mais praticado nas áreas periféricas aos centros políticos e econômicos coloniais. São Paulo e Belém do Pará foram os núcleos irradiadores das ações que vieram a romper com os limites de Tordesilhas. É por essa via de entendimento que podemos considerar que a ação de indivíduos como Raposo Tavares e Francisco de Melo Palheta, assim como de Ricardo Franco de Almeida Serra, revestiam- se do caráter militar, embora os dois primeiros não integrassem o exército regular da época, como foi o caso do último (FONSECA, 2017, p. 41) Não respeitar o Tratado de Tordesilhas foi uma marca forte e importante para a configuração do território brasileiro, pois “Sem a constituição de núcleos de colonização portuguesa a oeste de Tordesilhas, não haveria consolidação da expansão da fronteira que seria legitimada pelos tratados de limites” (FONSECA, 2017, p. 47). Podemos fazer o registro de tipos distintos de bandeirismo. A seguir é apresentado um breve panorama de cada um dos três tipos. 2.2.1 As bandeiras de apresamento Captura de índios para vendê-los como escravos, com destaque para as atuações de Manuel Preto e Raposo Tavares. Os indígenas eram comprados por um valor inferior ao escravo africano. A rigor, a escravidão indígena não era legalizada pela Coroa portuguesa, pois não se tratava da configuração de guerra justa que a lei prescrevia, ou seja, quando o índio ataca primeiro. 44 Figura 14: Bandeiras de preação Fonte: Disponível em https://bit.ly/2RcCXqt. Acesso em: 26 mar. 2021 2.2.2 As bandeiras de prospecção Atividade importante devido à procura de metais preciosos, com destaque para Fernão Dias e Antônio Rodrigo de Arzão. 45 Figura 15: Bandeiras de prospecção Fonte: Disponível em https://bit.ly/3pcf2nB. Acesso em: 26 mar. 2021 A busca de ouro e diamante deu origem a atividade lucrativa em Minas Gerais. 2.2.3 Sertanismo de contrato A serviço dos grandes latifundiários para combater índios e para capturar escravos fugitivos, assim como para a destruição de quilombos, nesse sentido, Domingos Jorge Velho (que não falava português, apenas tupi guarani) foi o mais significativo com a destruição de Palmares. Os quilombos eram lugares de refúgio dos fugitivos e a destruição desses espaços eram financiados pelos fazendeiros para desestimular as fugas dos escravos. Em muitos casos contavam com o apoio do governo. Eram, de fato, um bando armado que cometiam crimes no território brasileiro. 46 Figura 16: A Guerra dos Palmares, Óleo de Manuel Vítor de 1955 Fonte: Disponível em https://bit.ly/3i5Y7BH. Acesso em: 26 mar. 2021 As monções são expedições fluviais paulistas sobretudo no rio Tietê que se encontra no interior com o Rio Paraná. Era uma viagem que ligava São Paulo a Cuiabá. Em razão das dificuldades de abastecimento na exploração de ouro, as monções realizavam o transporte do comércio nas áreas de São Paulo, Mato Grosso e Goiás. São expedições de comércio que estabeleciam a comunicação na região. Figura 17: Principais bandeiras - séculos XVII e XVIII Fonte: Disponível em https://bit.ly/3yXQDqu. Acesso em: 26 mar. 2021 O bandeirantismo trouxe consequências para a nossa história como o 47 alargamento da fronteira colonial, a descoberta do ouro, o desenvolvimento da pecuária do sul, dentre outros aspectos. O propósito dessas expedições era proporcionar a exploração das terras do interior do Brasil e assumiu a importância de expandir o território e dominar novas áreas, inclusive serviram de pressão em face da pressão que Portugal vinha sofrendo em razão da presença de espanhóis. Assevera- se que: [...] as fronteiras portuguesas na América do Sul foram expandidas a partir de duas frentes de colonização: pioneiramente, a frente amazônica e, após o início do Ciclo do Ouro, a frente paulista. Essas frentes se encontraram no rio Madeira, fechando o périplo da ocupação da fronteira oeste e ligaram uma região à outra com o estabelecimento da rota das monções do Norte. Essas monções eram expedições comerciais que, a partir da metade do século XVIII, abasteciam exclusivamente o norte do Mato Grosso através de Belém. O atribuir ao elemento paulista mérito de ter expandido nossa fronteira oeste é fruto de verdade apenas parcial (FONSECA, 2017, p. 44). Nesse sentido, as expedições sertanistas naturalistas consolidavam informações sobre as terras do interior do país que em sua maioria, os relatos dessas experiências vividas são marcados por visões eurocêntricas que buscavam civilizar todos e tudo que viam pela ‘frente’ A Capitania de São Vicente era uma das mais pobres da colônia. No início da colonização conseguiu prosperar, mas, de fato, as capitanias da Bahia e de Pernambuco conseguiram prosperar. Com a União Ibérica se diminuiu a mão de obra escrava e, dessa forma, se impulsiona ainda mais a captura de indígenas para viver como escravos. Na época o poder e a população estavam concentrados no Nordeste e a população do contexto colonial eram vistos como rebeldes e se camuflavam em um pragmatismo e sonho exacerbado em que se buscava a mão de obra, mas ao mesmo tempo tinham a perspectiva de encontrar a fonte de minérios que funcionaria como a atividade redentora ou salvadora da condição de capitania de segunda categoria na colônia. As grandes bandeiras traziam os índios para São Paulo e ali ficavam, então, é 48 um mito a ideia de que os bandeirantes capturavam índios para abastecer atividades no nordeste brasileiro como forma de compensar as dificuldades momentâneas da escravidão negra. O universo cultural dos portugueses se intercalou com os conhecimentos indígenas porque sem eles a dificuldade de movimentação seria enorme. É um grande engano achar que a conquista no Brasil se deu em função da superioridade europeia, haja vista que a dominação portuguesa aconteceu sobretudo em razão de uma ocupação constituída por meio de alianças que viabilizavam o entendimento das trilhas, das técnicas, dos animais e dos locais de defesa mais estratégicos. Sendo assim, os indígenas e, de modo mais expressivo, os protagonistas foram os mestiços ou mamelucos que foram os líderes das expedições ou integraram como capitães juntamente com os índios. Praticamente não haviam capitães portugueses. A procura de riquezas pelos bandeirantes era o objetivo de fato, tanto é que esses homens rudes não construíram livros de memórias que sinalizassem um sinal de grandeza ou de curiosidade intelectual. A ideia era somente garantir a subsistência e a grandiosidade estava distante da perspectiva daquele tempo. O tratamento com os índios era de modo violento, escravizar o máximo possível, amarrar em fila indiana, dizimar os que resistissem. A destruição dos indígenas foi uma marca do período colonial que se reconhece o papel devastador do bandeirismo, no entanto, em todo o país essa dinâmica de domínio e dizimação dos indígenas se materializou em todo o território brasileiro, independente da presença dos bandeirantes. Reconhece-se que as caminhadas dos bandeirantes levaram a descoberta de ouro e sustentaram o avanço territorial do Brasil para além da linha do Tratado de Tordesilhas. É bom lembrar que relatos contemporâneos ao movimento de ocupação do território são muito poucos. Os séculos XVI e XVII são 49 marcados pelo tráfico de escravos, conquista de terras e apropriação de seus produtos, havendo questionamento acerca da humanidade ou não dos índios. Este período é marcado pela disputa entre
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