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PERÍCIA CONTÁBIL Professor Esp. Heric Garcia de Morais Diretor Geral Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino e Pós-graduação Daniel de Lima Diretor Administrativo Eduardo Santini Coordenador NEAD - Núcleo de Educação a Distância Jorge Van Dal Coordenador do Núcleo de Pesquisa Victor Biazon Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Projeto Gráfico e Editoração Douglas Crivelli Revisão Textual Leandro Vieira Web Designer Thiago Azenha FATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 FATECIE Unidade 2 Rua Candido Berthier Fortes, 2177, Centro Paranavaí-PR (44) 3045 9898 FATECIE Unidade 3 Rua Pernambuco, 1.169, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 FATECIE Unidade 4 BR-376 , km 102, Saída para Nova Londrina Paranavaí-PR (44) 3045 9898 www.fatecie.edu.br FICHA CATALOGRÁFICA FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS DO NORTE DO PARANÁ. Perícia Contábil Heric Garcia de Morais Paranavaí - PR.: Fatecie, 2018. 50 p. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Zineide Pereira da Silva. As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site Freepik. Atribuições: Designed by rawpixel.com / Freepik Designed by jannoon028 / Freepik Designed by Pressfoto / Freepik Designed by Peoplecreations / Freepik Designed by mindandi / Freepik Designed by Freepik PALAVRA DA DIREÇÃO Prezado Acadêmico(a), É com muita satisfação que inauguramos um novo mundo de oportunidades e expansão de nossa instituição que estrapolam os limites físicos e permite por meio da tecnolgias digitais que o processo ensino educação ocorra de formas ainda mais dinâmicas e em consonância com o estilo de vida da sociedade contemporânea. Empregamos agora no Ensino a Distância toda a dedicação e recursos para oferecer a você a mesma qualidade e excelência que virou a marca de nosso grupo educanional ao longo de nossa história. Queremos lembrar a você querido aluno, que a Faculdade Fatecie nasceu do sonho de um grupo de professores em contribuir com a sociedade por meio da educação. Motivados pelo desafio de empreender, tornaram o sonho realidade com a autorização da faculdade fatecie no ano de 2007. Desde o princípio a fatecie parte da crença no sonho coletivo de construção de uma sociedade mais democrática e com oportunidades para todos, onde a educação prepara para a cidadania de qualidade. Toda dedicação que a comunidade acadêmica teve ao longo de nossa história foi reconhecido ao conquistarmos por duas vezes consecutivas o título de Faculdade Número 1 do Paraná. Um feito inédito para paranavaí e toda região noroeste. No ranking, divulgado pelo mec em 2014 e 2015, a Fatecie foi destaque como a faculdade melhor avaliada em todo o estado. Posição veiculada em nível nacional pela Revista Exame e Folha de São paulo, apontando a Fatecie como a 1ª colocada no Paraná. Essas e outras conquistas que obtivemos ao longo dos nossos 10 anos de história tem como base a proposta global da faculdade fatecie, que consiste em criar um ambiente voltado para uma abordagem multidisciplinar, crítica e reflexiva, onde se desenvolvem as atividades ensino, pesquisa e extensão. Para isso, a Fatecie conta com um corpo docente composto, em sua maioria, por professores com mestrado e doutorado e com ampla experiência profissional nas mais diversas áreas do mercado e da educação. Seja bem-vindo! Direção Faculdade Fatecie A U T O R Prof. Esp. Heric Garcia de Morais Graduado em Ciências Contábeis pela Universidade Estadual do Paraná - UNESPAR - Campus Paranavaí. MBA (Master of Business Administration) em Custos e Controladoria pela Universidade de Tecnologia do Norte do Paraná (PR) - UniFatecie. Pós-Graduado em Auditoria e Perícia Contábil pela Faculdade Cidade Verde - FCV. Mestrando em Ciências Contábeis na Universidade Estadual de Maringá - UEM. Atualmente é professor de graduação na Faculdade de Tecnologia e Ciências do Norte do Paraná - UniFatecie. Professor de pós-graduação EAD na UniFatecie. Professor conteudista/formador na EAD - UniFatecie. Tutor Mediador nos cursos de graduação e pós graduação na modalidade EAD do grupo UniFatecie. Ministra aulas em cursos preparatórios para o Exame de Suficiência Contábil - CFC. Ministra palestras e treinamentos para o segmento empresarial. Sócio Proprietário e Contador na SLOGAN Consultoria e Treinamentos Ltda - Maringá/PR. Consultor Empresarial credenciado ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE/ PR. Possui experiência na área de Auditoria, Perícia Contábil e Gestão Empresarial. Lattes: http://lattes.cnpq.br/2730214457302756 APRESENTAÇÃO Seja bem vindo(a) ao curso de Perícia Contábil, é um prazer fazer parte dessa jornada rumo ao desenvolvimento e soluções de conflitos judiciais. Esta especialidade da contabilidade, de forma geral, costuma ser um grande desafio aos estudantes, e não poderia ser diferente, afinal, ela trata do ensino de uma nova maneira de pensar, com a qual você será capaz de olhar para problemas cotidianos e solucionar conflitos judiciais e extrajudiciais de maneira eficiente e prática. Portanto, esta é uma disciplina básica e bastante importante para qualquer profissional da área contábil, sendo inclusive, disciplina indispensável para outras áreas do conhecimento, como o direito por exemplo. Ela lhe fornecerá a base necessária para desenvolver soluções nos mais diversos tipos de perícias contábeis. É preciso que você entenda, nesse início de curso, a importância da prática na disciplina de Perícia Contábil. Ela é essencial para a fixação do aprendizado e para a internalização dos novos conceitos aprendidos. Isto porque objetivamos que, aos poucos, você seja capaz de produzir com facilidade as suas próprias soluções. Faça todos os exercícios propostos com atenção e dedicação, isso com certeza será o grande diferencial para um bom aprendizado da disciplina. Mais uma vez eu reforço, pratique... pratique muito! No primeiro módulo de nosso curso, teremos o primeiro contato com os conceitos de Perícia. Aqui vamos compreender a importância deste profissional, o conceito, a finalidade, objetivo, objeto, a legislação vigente e os tipos de perícia de modo geral. No segundo módulo você será apresentado as exigências para se tornar um perito contábil. É com ela que você entenderá o processo de cadastramento judicial, os tipos de perito e a importância da ética nos trabalhos periciais. Neste módulo apresentaremos também os direitos e deveres do perito contábil ao assumir um trabalho judicial, enfatizando sua responsabilidade civil e criminal sobre o serviço prestado ao magistrado. Em seguida compreenderemos as situações que impossibilitam o perito de exercer sua função, apresentando os casos de suspeição e impedimento. Neste módulo discutiremos sobre o planejamento e a execução dos trabalhos periciais, a elaboração da proposta de honorários e a composição do termo de diligência. Já no módulo quatro, conheceremos um pouco mais da parte prática do trabalho realizado pelo perito contábil, apresentando os conceitos de diligências e papéis de trabalho elaborados por este profissional. Neste último módulo, discutiremos sobre os tipos de provas periciais, a formação dos quesitos e a emissão do laudo ou parecer pericial. Espero que goste do conteúdo e possa aproveitar cada conteúdo aqui exposto para crescer nessa área que é muito promissora. Tenha a certeza que o mercado precisa de profissionais capacitados para agir em situações litigiosas no âmbito judicial, cabe a você decidir se quer ser esse profissional. SUMÁRIO CAPÍTULO 1 08 | Introdução a Perícia Contábil CAPÍTULO 2 18 | Direitos e Deveres do Perito Contábil CAPÍTULO 3 28 | Prática Pericial l CAPÍTULO 4 38 | Perícia Prática ll PÁGINA 8 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO APERÍCIA CONTÁBIL Professor Heric Garcia Objetivos de Aprendizagem: • Compreender a importância da Perícia Contábil; • Conceituar o que é Perícia; • Conhecer os diferentes tipos de Perícia.Plano de estudo: • Surgimento da Perícia Contábil; • Objetivo da Perícia Contábil; • Objeto da Perícia Contábil; • A importância da Perícia Contábil; • Legislação vigente; • Perícia Contábil antes e após o Novo Código de Processo Civil; • Perícia Contábil Judicial, Extra Judicial e Arbitral; PÁGINA 9 INTRODUÇÃO DA UNIDADE A Ciência Contábil é uma Ciência Social Aplicada que oferece diferentes áreas de atuação profissional para os contabilistas. Assim, podemos destacar a Perí- cia Contábil como uma especialidade da Contabilidade que desperta interesse não só de profissionais da área, mas de diversas outras, como por exemplo: o Direito. A Perícia Contábil é uma das áreas de atuação mais importantes da Contabili- dade, pois o perito deve possuir, além da condição legal, capacidade técnica e idoneidade moral e responsabilidade para exercer a profissão. Neste sentido, tem-se que a perícia contábil é auxiliadora na resolução de conflitos judiciais e extrajudiciais, que tem como pontos controvertidos matérias técnicas especiali- zadas. O conteúdo a seguir, tem por objetivo fornecer informações necessárias ao exercício da atividade pericial, tornando-o um instrumento de consulta, em con- cordância com as normas que regulam a existência desta profissão. Para atin- girmos tal finalidade, foram evidenciadas as principais noções quanto ao es- tudo da origem da perícia contábil, introduzindo aspectos relevantes quanto aos seus objetivos, espécies e aplicações, bem como os conceitos essenciais quanto à figura do perito contábil. Para a elaboração e desenvolvimento deste material, realizamos uma funda- mentação teórica, aliada a uma pesquisa empírica, com o intuito de salientar a importância da perícia e conhecer a sua contribuição para as decisões judiciais. PÁGINA 10 1.1 Surgimento da Perícia Contábil Não existem registros que possam datar com exatidão o surgimento da perícia contábil, diferentemente do surgimento da contabilidade em geral, que se ini- ciou com os primórdios da civilização. Todavia, sabemos que o questionamento acerca da verdade dos fatos é sim muito antigo. No antigo Egito e na Grécia, iniciou-se os conhecimentos jurídicos e a utiliza- ção de especialistas que realizavam exames de algumas questões. Na Índia surgiu a figura do árbitro, eleito pelas partes, sendo que era perito e juiz ao mesmo tempo, pois verificava, examinava e decidia tudo. Foi no direito romano que se começou a perceber melhor a figura do perito, uma vez que estava desvinculado do árbitro. Quando o juiz tinha dificuldade de interpretação ou apreciação técnica de determinado fato, ele tinha a possi- bilidade de delegar esse juízo a homens que possuíam maior conhecimento na área. Analisando a etimologia da palavra Perícia, originária do latim “peritia”, temos o significado de experiência, conhecimento, notório saber de determinada área. No Brasil, as regras de perícia são regulamentadas desde o Código de Proces- so Civil de 1939, sendo que a perícia contábil se consolidou com a criação do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), em 1946. O Conselho Federal, através das Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC), esclareceu que a perícia contábil constitui o conjunto de procedimentos técni- cos e científicos destinados a levar à instância decisória elementos de prova necessários a subsidiar à justa solução do litígio, mediante laudo pericial con- tábil e/ou parecer pericial contábil, em conformidade com as normas jurídicas e profissionais, e a legislação específica no que for pertinente. A perícia contábil nada mais é do que a investigação científica, pericial, de questões relacionadas ao patrimônio, aos registros e informações próprias da contabilidade. PÁGINA 11 1.2 Objetivo da Perícia Contábil Trazer aos autos, provas ou uma opinião especializada sobre o estado verda- deiro do objeto ou matéria examinada, visando subsidiar ou fornecer elementos de convicção para uma decisão. Ou seja, examinar, realizar levantamentos, vis- toriar, fazer indagações, investigar, avaliar, com o intuito de elucidar as dúvidas ou contradições. Para Zanna (2016), o objetivo da perícia contábil é apresentar a verdade dos fatos, sejam eles econômicos, comerciais, tributários, previdenciários, finan- ceiros, trabalhistas, fiscais e administrativos, respeitando as peculiaridades de cada caso e de acordo com o que está sendo pleiteado na petição inicial e/ou rebatido na contestação. Resumindo, a perícia tem por finalidade desvendar algo que não está evidente e mostrar o que não está claro para quem está analisando. PÁGINA 12 REFLITA 1.3 Objeto da Perícia Contábil O objeto da perícia contábil são fatos ou questões contábeis utilizadas para que se possa provar determinada situação. Segundo Zanna (2016), a perícia contábil tem por objeto a escrituração con- tábil, os documentos que lhe dão suporte e as demonstrações contábeis e fi- nanceiras dela resultante, os cálculos trabalhistas e financeiros, a apuração de haveres e seus balanços. Assim, entende-se que a perícia contábil tem como objeto o patrimônio das pessoas, jurídicas ou físicas. Uma vez que o patrimônio se demonstra através da Contabilidade, os meios disponíveis para a perícia contábil são todos os componentes do sistema contábil venham a elucidar e esclarecer um litígio ju- dicial. 1.4 A importância da Perícia Contábil O Laudo ou Parecer técnico contábil, emitido pelo perito contador, é docu- mento de fundamental importância na instrução processual, que visa por um lado esclarecer ao Juiz, elementos particulares daquela discussão, trazendo questões de caráter técnico-contábil para melhor compreensão, auxiliando na fundamentação da decisão a ser proferida. Por outro lado, procura auxiliar a parte, bem como o próprio perito judicial nos trabalhos periciais com o objetivo de que a verdade venha à tona e a Justiça seja feita. Como surgiu a Perícia? Qual é a finalidade da Perícia Contábil? Qual é o seu Objeto? Qual é a importância da Perícia nas decisões judiciais? 1.5 Legislação Vigente Toda a carreira dos contabilistas, em geral, é regida pelas Normas Brasileiras de Contabilidade, que estabelecem um conjunto de regras e procedimentos da conduta profissional que devem ser atendidas pelos profissionais da área. E assim não é diferente com o perito-contador, este por sua vez, deve estar aten- to às NBC TP 01 e NBC PP 01, que são as normas que regem a profissão de perito contador. PÁGINA 13 A NBC TP 01 trata das normas técnicas da perícia contábil, ou seja, dos proce- dimentos que devem ser adotados quando ocorre a realização da perícia com relação ao planejamento, execução, procedimentos, laudo e parecer pericial contábil. É aplicável aos peritos contador nomeados em juízo, contratados pe- las partes, escolhidos na arbitragem e também ao perito-contador assistente. Enquanto que a NBC PP 01 trata das normas profissionais do perito contábil, ou seja, dos direitos e deveres do profissional quanto a: competência técnico profissional, independência, impedimento e suspeição, honorários, sigilo, res- ponsabilidade e zelo, bem como, utilização de trabalho de especialista e aper- feiçoamento profissional. O Perito judicial também deve estar atento às normas do Código de Processo Civil, que em seu art. 156 elenca o perito como um dos auxiliares da justiça, vejamos: Art. 156. O juiz será assistido por perito quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico. 1.6 Perícia Contábil antes e após o Novo Código de Processo Civil (NCPC). A legislação brasileira é bastante complexa e muda constantemente seus tex- tos, visando melhorar a prática dos operadores do direito, bem como, a vida do cidadão comum que tem seu cotidiano, direta ou indiretamente, afetado pela mudança legal. Neste sentido, observa-se a alteração do Código de Processo Civil, que era regido pela Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, e, que, foi revogado pela Lei nº 13.105, de 2015 (Novo Código de ProcessoCivil), que entrou em vigor em março de 2016. Dentre as alterações e melhorias inseridas pelo novo Código, se destacam como aspectos relevantes (não contemplados no código anterior): Estimativa de honorários do perito (critério técnico); Especialização dos peritos; Cadas- tro de peritos; Prova técnica simplificada; Comunicação do perito ao assistente técnico e acompanhamento da perícia; perito escolhido pelas partes; Estrutura de apresentação do Laudo Pericial. PÁGINA 14 1.7 Perícia Contábil Judicial, Extra Judicial e Arbitral 1.7.1 Perícia Contábil Judicial A perícia judicial tem como escopo o aparecimento da verdade real (prova), de- monstrável científica ou tecnicamente, subsidiando a convicção do agente jul- gador. Ou seja, a perícia judicial é aquela realizada sob a tutela do judiciário, que provocado a decidir sobre determinada lide, encontrou nos pontos contro- vertidos matéria técnica, necessitando de esclarecimentos de um expert, que por meio de seu laudo pericial, fornece elementos de convencimento para a tomada de decisão. Alberto (2012, p. 38) afirma que: A perícia judicial é aquela realizada dentro dos procedi- mentos processuais do poder judiciário, por determinação, requerimento ou necessidade de seus agentes ativos, e se processa segundo regras legais específicas. Esta espécie de perícia subdivide-se, segundo suas finalidades precí- puas no processo judicial, em meio de prova ou de arbitra- mento. 1.7.2 Perícia Contábil Extra Judicial Em outras palavras, a perícia extrajudicial é aquela realizada fora do judiciário, que atua em conflitos de particulares (pessoas físicas e/ou jurídicas), em suas relações privadas, que tentam se resolver sem envolver o Estado. Utiliza-se da perícia contábil extrajudicial quando existe a necessidade da opi- nião de um douto da matéria em questão, sendo exemplos os casos de cisão, fusão, incorporação e em questões administrativas de empresas. É bastante comum em casos de perícia extrajudicial as partes não chegarem a um acordo, e posteriormente recorrerem ao judiciário. Nesse contexto, é de extrema importância que o perito se atenha as normas vigentes, pois mesmo que a perícia tenha sido realizada fora do judiciário, ela pode vir a ser utilizada como prova em algum processo futuro, ou apresentada como cálculo em petições iniciais. PÁGINA 15 REFLITA 1.7.3 Arbitral A Perícia arbitral ou arbitragem é criada pela vontade das partes envolvidas na lide, sendo realizada em instância decisória, onde serão determinadas as re- gras que serão aplicadas à arbitragem. Nesse sentido é considerada pelos profissionais da área como sendo a priva- tização da justiça, pois, funciona como sendo o próprio árbitro da causa em questão. Alberto (2007, p. 39) define a perícia arbitral da seguinte forma: “É aquela perícia realizada no juízo arbitral - instância de- cisória criada pela vontade das partes -, não sendo enqua- drável em nenhuma das anteriores por suas características especialíssimas de atuar parcialmente como se judicial e extrajudicial fosse.” Pode-se concluir que as partes elegem um indivíduo responsável para ser o ár- bitro da perícia, as partes o obedecem como se fosse o juiz que delimitasse as regras, porém, fica claro que esta não tramita na esfera judicial e não se consti- tui como extrajudicial. Quais foram as principais alterações introduzidas pelo Novo Código de Proces- so Civil na perícia Contábil? Qual é a diferença entre Perícia Contábil Judicial, Extra Judicial e Arbitral? PÁGINA 16 SAIBA MAIS Principais diferenças entre Auditoria e Perícia Contábil. ITEM PERÍCIA AUDITORIA Escopo do trabalho Deve acompanhar o laudo pericial como anexo, para confirmar a conclusão do pe- rito. Constitui prova do auditor não, necessi- tando de confirmação junto ao relatório ou parecer Opinião do profissio- nal É absoluta, necessária, detalhista e precisa. É relativa, observa aspectos mais relevantes e materiais. Duração do trabalho De pouca duração. Tem data prevista para iniciar e termi- nar. Não se repete. É continuado. A programação é previamente definida e em períodos convenientes. É repetitivo. Relacionamento do trabalho Com as partes (autor e réu) e o Juiz. Com toda a equipe do auditado onde o tra- balho for realizado. Divulgação externa do resultado Não é divulgado Na imprensa escrita, normalmente em jor- nal de grande circula- ção. Local de realização do trabalho Normalmente no escritório do perito No escritório do audi- tado ou do auditor Divulgação interna do trabalho Não é divulgado, fica à dispo- sição das partes na Justiça. Mediante reunião do auditor com o audita- do ao final do traba- lho, antes da entrega do relatório Autoridade Tem autoridade que dispõe a lei e a que é concedida pelo Juiz. Não tem autoridade no processo da enti- dade auditada. Fonte: http://www.crc-ce.org.br/ PÁGINA 17 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste primeiro módulo é importante entender que estamos aprendendo os con- ceitos básicos de perícia contábil, como objetivo, objeto, legislação aplicável a prática pericial e sua tipologia. Embora existam diferentes tipos de perícias, e, dentre elas a perícia contábil (Judicial, Extrajudicial e Arbitral), destaca-se neste trabalho a Perícia Judicial, com o intuito de melhor abordar o tema proposto e demonstrar a relevância social prestada pela classe contadora à Justiça, buscando elucidar os casos omissos através de investigações, exames, diligências, avaliações e indaga- ções. O perito judicial nomeado é um auxiliar da justiça que ajuda a resolver os confli- tos através da busca pela verdade dos fatos, atuando de maneira imparcial às partes envolvidas na lide, sejam elas de natureza cível, trabalhista, tributária ou criminal, muitas vezes fazendo valer os direitos do cidadão comum, potenciali- zando a sensação de justiça na sociedade. A perícia judicial pode ser determinada de ofício ou requerida por qualquer uma das partes, e, caso deferida, é nomeado pelo Juiz um perito oficial e facultado aos envolvidos na demanda a indicação de seus peritos assistentes. O Perito-contador-judicial assume, portanto, um papel de extrema importância na demanda jurídica, sempre comprometido com a moral e a ética, sendo pro- fundo conhecedor da matéria, demonstrando de maneira técnica e objetiva o seu trabalho, afim de facilitar o entendimento da autoridade judicial. PÁGINA 18 CAPÍTULO 2 DIREITOS E DEVERES DO PERITO CONTÁBIL Professor Heric Garcia Objetivos de Aprendizagem: • Direitos e deveres do Perito Contábil; • Penalidades aplicáveis na prática pericial; • Entender o trabalho realizado pelo perito; • A importância da ética na execução dos trabalhos; Plano de estudo: • Exigências para se tornar um perito contábil; • Cadastramento de Perito Judicial; • Ética nos trabalhos periciais; • Direitos e Deveres dos peritos; • Responsabilidade Civil e Penal; • Trabalho realizado pelo Perito Oficial e Assistente. PÁGINA 19 INTRODUÇÃO DA UNIDADE A Perícia Contábil é uma especialidade da Ciência Contábil, que vem se des- tacando, principalmente, nos gabinetes dos magistrados, que reconhecem a necessidade de o profissional de perícia possuir o domínio de noções funda- mentais quanto à produção de provas, já que aquele tem papel significativo ao apresentar a veracidade dos fatos e auxiliar à Justiça na decisão judicial. Neste segundo módulo verificaremos os critérios necessários para a inserção do contador como perito no mercado de trabalho judicial, bem como, identificar as atividades desenvolvidas por este profissional conforme as Normas Brasilei- ras de Contabilidade (NBC) e o Novo Código de Processo Civil, analisando o perfil ideal de um Perito Contador. PÁGINA 20 2.1 Exigências para se tornar um Perito Contábil Primeiramente, devemos lembrar que perito contador é o profissional regular- mente registrado em Conselho Regional de Contabilidade, que exerce a ativi- dadepericial de forma pessoal, devendo ser profundo conhecedor, por suas qualidades e experiência, da matéria periciada Assim, o perito é aquele profissional que só aceitará a realização do trabalho pericial se o mesmo tiver capacitação, ou seja, todo o conhecimento técnico su- ficiente para executar a atividade pericial. Mas não basta somente ter o conhecimento, para Sá (2011), o perito deve ser contador, estar registrado e em dia com suas obrigações perante o Conselho Regional de Contabilidade, conforme as normas e a lei. Alberto (2012) corrobora dizendo que o primeiro requisito legal exigível do peri- to é de que seja profissional de nível universitário, porém com a observação de que seja profissional na matéria sobre a qual recairá a perícia. Logo o segundo requisito legal é que o perito esteja inscrito no órgão de classe competente. Conforme a NBC PP 01, o perito deve comprovar sua habilitação como perito em contabilidade por intermédio de Certidão de Regularidade Profissional emi- tida pelos Conselhos Regionais de Contabilidade. O perito deve anexá-la no primeiro ato de sua manifestação e na apresentação do laudo ou parecer para atender ao disposto no Código de Processo Civil. É permitida a utilização da certificação digital, em consonância com a legislação vigente e as normas esta- belecidas pela Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileiras – ICP-Brasil. O NCPC, ainda destaca em seu art. 156 que: “§ 1o Os peritos serão nomeados entre os profissionais legalmente habilitados e os órgãos técnicos ou científicos devidamente inscritos em cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado. § 2o Para formação do cadastro, os tribunais devem realizar consulta pública, por meio de divulgação na rede mundial de computadores ou em jornais de grande circula- ção, além de consulta direta a universidades, a conselhos de classe, ao Ministério Público, à Defensoria Pública e à Ordem dos Advogados do Brasil, para a indicação de pro- fissionais ou de órgãos técnicos interessados.” PÁGINA 21 SAIBA MAIS 2.2 Cadastramento de Peritos Judiciais Visando atender as exigências do Código de Processo Civil, o Conselho Fede- ral de Contabilidade Editou a Resolução CFC Nº 1.502/2016, que dispõe so- bre o Cadastro Nacional de Peritos Contábeis (CNPC) do Conselho Federal de Contabilidade (CFC). Dentre os aspectos relevantes, podemos destacar que os peritos contadores tiveram até a data de 31 de dezembro de 2016 para se cadastrarem no Cadas- tro Nacional de Peritos Contábeis, devendo, para tal, anexar documentos que comprovassem a sua experiência de atuação com perícia contábil. Já a partir de 1º de janeiro de 2017, o ingresso no CNPC foi condicionado à aprovação no Exame de Qualificação Técnica (EQT), específico para a área contábil, regulamentado pelo CFC. É importante destacarmos que a permanência do profissional no CNPC foi con- dicionada à obrigatoriedade do cumprimento do Programa de Educação Profis- sional Continuada, a ser regulamentada pelo CFC. O Cadastro Nacional de Peritos Contábeis (CNPC) do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), tem o objetivo de oferecer ao judiciário e à sociedade uma lista de profissionais qualificados que atuam como Peritos Contábeis. Desta forma, no Sistema CFC/CRCs identificam-se os peritos com o intuito de dar maior celeridade à ação do poder judiciário, uma vez que se poderá co- nhecer geograficamente e, também, por especialidade a disponibilidade desses profissionais. O CNPC se justifica tendo em vista o novo Código de Processo Civil Brasileiro (CPC), que entrou em vigor no dia 18 de março de 2016, determinando que os juízes sejam assistidos por peritos quando a prova do fato depender de conhe- cimento específico e que os tribunais consultem os conselhos de classe para formar um cadastro desses profissionais. PÁGINA 22 2.3 Ética nos trabalhos periciais Neste tópico, é de suma importância destacarmos os itens dispostos nas Nor- mas Brasileiras de Contabilidade. A NBC PP 01 dispõe sobre a aplicação do Código de Ética Profissional aos profissionais da perícia contábil, a NBC PG 100 – Aplicação Geral aos Profissionais da Contabilidade e a NBC PG 200 – Contadores que prestam Serviços (contadores externos). O Código de Ética Profissional do Contador, ainda, esclarece que: Art. 5º O Contador, quando perito, assistente técnico, audi- tor ou árbitro, deverá; I – Recusar sua indicação quando reconheça não se achar capacitado em face da especialização requerida; II – Abster-se de interpretações tendenciosas sobre a maté- ria que constitui objeto de perícia, mantendo absoluta in- dependência moral e técnica na elaboração do respectivo laudo; III – Abster-se de expender argumentos ou dar a conhecer sua convicção pessoal sobre os direitos de quaisquer das partes interessadas, ou da justiça da causa em que estiver servindo, mantendo seu laudo no âmbito técnico e limitado aos quesitos propostos; IV – Considerar com imparcialidade o pensamento exposto em laudo submetido à sua apreciação; V – Mencionar obrigatoriamente fatos que conheça e repute em condições de exercer efeito sobre peças contábeis ob- jeto de seu trabalho, respeitado o disposto no inciso II do art. 2º; VI – Abster-se de dar parecer ou emitir opinião sem estar sufi- cientemente informado e munido de documentos; VII – Assinalar equívocos ou divergências que encontrar no que concerne à aplicação dos Princípios de Contabilidade e Normas Brasileiras de Contabilidade editadas pelo CFC; PÁGINA 23 2.4 Direitos e Deveres do Perito Analisando o Código de Ética do Conselho Nacional de Peritos Judiciais do Brasil - CONPEJ, podemos destacar como direitos e deveres dos peritos: 1.1.1 Direitos: Proposta de honorários, Escusa por motivo justificado, Dilação de prazos, Solicitação de documentos, Levantamento de 50% dos honorários no início dos trabalhos, Poder de investigação. 2.4.2 Deveres: Aceitação da nomeação (salvo por motivo plausível e legal), Ética, imparcialidade e zelo profissional, Comparecer nas audiências, Responder aos quesitos ou justificar a impossibilidade de fazê-lo, Cumprimento de prazos processuais. 2.5 Responsabilidade Civil e Penal A legislação vigente determina responsabilidades e penalidades para o profis- sional que exerce a função de perito, as quais consistem em multa, indeniza- ção e inabilitação. O art. 468 do Código de Processo Civil, esclarece que o perito poderá ser substituído nos seguintes casos: I - Faltar-lhe conhecimento técnico ou científico; II - Sem motivo legítimo, deixar de cumprir o encargo no prazo que lhe foi assinado. § 1o No caso previsto no inciso II, o juiz comunicará a ocor- rência à corporação profissional respectiva, podendo, ain- da, impor multa ao perito, fixada tendo em vista o valor da causa e o possível prejuízo decorrente do atraso no pro- cesso. § 2o O perito substituído restituirá, no prazo de 15 (quinze) dias, os valores recebidos pelo trabalho não realizado, sob pena de ficar impedido de atuar como perito judicial pelo prazo de 5 (cinco) anos. PÁGINA 24 A legislação penal, ainda, estabelece penas de multa e reclusão para os profis- sionais que exercem a atividade pericial e que venham a descumprir as normas legais. Vejamos: Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a ver- dade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intér- prete em processo judicial, ou administrativo, inquérito poli- cial, ou em juízo arbitral: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. § 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em proces- so penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta. PÁGINA 25 2.6 Trabalho realizado pelo Perito Oficial Perito oficial ou perito judicial é aquele nomeado pelo juiz, é o profissional que produzirá um relatório paraconstar como prova no processo. O perito repre- senta a Justiça na perícia judicial, sendo um auxiliar direto do juízo. O trabalho realizado pelo perito oficial consiste na perícia judicial em si e todas as diligên- cias necessárias para se obter as respostas para os quesitos formulados e os elementos de provas suficientes para a elaboração de seu parecer e o laudo pericial. 2.7 Trabalho realizado pelo Perito Assistente Não há essa referência no Código de Processo Civil – CPC, porém, ouve-se esta expressão em diversas regiões do país. Alguns dizem perito assistente para designar o assistente técnico. A colaboração do perito assistente é muito importante aos advogados, debatendo com os mesmos as possibilidades téc- nicas quanto ao desenvolvimento da prova técnica contábil, culminando por sugerir quesitos ou proposição que possam solucionar os fatos controvertidos objetos da lide. Art. 466: § 1o Os assistentes técnicos são de confiança da parte e não estão sujeitos a impedimento ou suspeição. § 2o O perito deve assegurar aos assistentes das partes o acesso e o acompanhamento das diligências e dos exames que realizar, com prévia comunicação, compro- vada nos autos, com antecedência mínima de 5 (cinco) dias. Ou seja, o código supracitado, esclarece também que as partes terão 5 (cinco) dias, contados da data da intimação do despacho que nomeia o perito, para in- dicar assistente técnico e apresentar os quesitos PÁGINA 26 REFLITA Professor, em que local a perícia contábil poderá ser realizada? Nas Varas Cíveis: • Prestação de contas – Quando alguém tem o direito de exigir que ou- trem lhe preste contas, porque tem o direito assegurado de exigi-las, e tal prestação não ocorre com defeitos e simulações, pode o interessado, como autor, propor a ação de “Prestação de Contas”. • Avaliações Patrimoniais – Nas ações que visam discutir o prejuízo da minoria sobre uma incorporação, cujos valores são contestáveis ou dis- cutíveis. A perícia se dá sobre o laudo, sem abandonar a hipótese de verificar escrita contábil. • Litígios entre sócios – Violação de estatuto, suspeita de irregularidade, liberalidade excessiva. Nas Varas Criminais: • Fraudes e Vícios Contábeis - Exames já direcionados para detectar frau- des. Fraudes contra sócios, contra herdeiros, contra o fisco, contra cre- dores, justiça, etc.; • Adulterações de lançamentos e registros; • Desfalques ou apropriações indébitas. Na Justiça do Trabalho: • Indenizações de diversas modalidades; • Litígios entre empregadores e empregados de diversas espécies. Entre outros locais. PÁGINA 27 CONSIDERAÇÕES FINAIS Vencemos mais uma etapa, e nessa unidade percebemos que das áreas que um profissional da contabilidade poderá seguir, o ramo da perícia tem crescido consideravelmente. Assim, o perito contador deve ter em mente que o seu pa- pel é fundamental para a resolução da controvérsia, razão pela qual seu traba- lho deverá ser sempre pautado por sólido conhecimento da matéria, para que seus méritos tenham de fato relevância nas decisões judiciais. Além disso, analisando a unidade estudada, outro ponto que não podemos ig- norar é a questão da postura ética que tanto o perito judicial quanto o assisten- te técnico estão submetidos, afinal, todo o conhecimento de que são detentores só será válido se aplicado com elevados padrões éticos e morais na busca pela verdade dos fatos. Neste contexto, cabe ainda ressaltar que, embora o papel do assistente técnico seja justamente o de auxiliar a parte contratante na resolução do litígio, sendo um aliado em defesa de seus interesses, deve realizar seu trabalho dentro dos limites da lei e sem qualquer manipulação da verdade, valendo-se apenas de argumentos válidos e elucidativos e não de subterfúgios que só visam o atraso dos procedimentos judiciais. Por fim, verificamos que entre os principais critérios de inserção dos peritos no mercado estão a qualificação, a experiência e a qualidade do laudo emitido. Assim, esses profissionais devem ser empreendidos por alguém de confiança do juiz, que tenha responsabilidade ética, moral e profissional, experiência em Perícia Contábil, notório saber em Contabilidade e que tenha noção do funcio- namento do Poder Judiciário. PÁGINA 28 CAPÍTULO 3 PRÁTICA PERICIAL 1 Professor Heric Garcia Objetivos de Aprendizagem: • Compreender as situações que impossibilitam o perito de exercer sua função; • Planejamento e execução da perícia contábil; • Elaboração da proposta de honorários; • Composição do termo de diligência. Plano de estudo: • Casos de Suspeição e Impedimento; • Planejamento e Organização do trabalho pericial; • Honorários Periciais • Registro do tempo gasto com trabalhos periciais; • Prazo para a execução da Perícia Judicial; PÁGINA 29 INTRODUÇÃO DA UNIDADE Subimos mais um nível, e agora você já é capaz de compreender que Perícia Contábil é uma técnica de trabalho que está à disposição de pessoas físicas ou jurídicas, realizada por contadores, legalmente habilitados, a fim de apurar, esclarecer ou evidenciar certos fatos, ou seja, sua finalidade é estudar os con- tornos, origens e reflexos que produz, para fornecer, através de um laudo, rela- tório ou parecer, em linguagem acessível, condições para o julgamento e apre- ciação jurídica do fato analisado. O contador que se propõe a ser um profissional da área pericial irá encontrar algumas condições legais e grandes desafios para atuar como um auxiliar da justiça. Nesse sentido, o perito contábil deverá exercer a sua profissão com zelo, diligência, honestidade pautada nos princípios da consideração, respeito, apreço e solidariedade, em consonância com os postulados previstos no Códi- go de Ética Profissional do Contabilista. Em regra, o perito nomeado não poderá recusar o trabalho oferecido pelo ma- gistrado, porém, nesta unidade, estudaremos alguns casos em que o contador não poderá exercer a função de perito judicial. Destacaremos também, a impor- tância do planejamento pericial e da elaboração da proposta de honorários. PÁGINA 30 3.1 Casos de Suspeição e Impedimento Em regra geral, o profissional contábil nomeado como perito não pode recusar o chamado da Justiça. No entanto, o perito contábil pode recusar a pe- rícia por vários motivos sem sofrer qualquer tipo de penalidade. Dentre essas escusas (recusas) estão o impedimento e a suspeição. Os motivos de impedimento e suspeição são situações fáticas ou circunstan- ciais que impossibilitam o perito de exercer, regularmente, suas funções ou rea- lizar atividade pericial em processo judicial ou extrajudicial, inclusive arbitral. O Código de Processo Civil trata de impedimento e suspeição de juízes, nos artigos 144 a 148. Essa regra é aplicável (no que couber) aos peritos e demais auxiliares da justiça, por analogia, conforme o inciso II do artigo 148 do CPC: Art. 148. Aplicam-se os motivos de impedimento e de sus- peição: I – ao membro do Ministério Público; II – auxiliares da justiça; Ainda, conforme o Código de Processo Civil, o assistente técnico não está sujeito ao impedimento ou suspeição: Art. 466. O perito cumprirá escrupulosamente o encar- go que lhe foi cometido, independentemente de termo de compromisso. § 1º Os assistentes técnicos são de confiança da parte e não estão sujeitos a impedimento ou suspeição. Apesar do CPC informar que o perito assistente não está sujeito ao impedi- mento (de forma geral), entendemos que o impedimento técnico-científico para o perito assistente previsto na NBC PP 01 continua válido. Tal compreensão advém de que o perito assistente ao aceitar um trabalho no qual não possui capacidade técnica, apesar de não estar descumprindo expressamente o CPC, estará infringindo o Código de Ética e a NBC PP01. O perito deve se declarar suspeito quando após nomeado, contratado ou esco- lhido verificar a ocorrência de situações que venha suscitar suspeição em fun- ção da sua imparcialidade ou independência e, desta maneira,comprometer o resultado do seu trabalho em relação à decisão. PÁGINA 31 No quadro a seguir, esquematizamos os casos de Suspeição abordados no Novo Código de Processo Civil, bem como, na Norma Brasileira de Contabilida- de (NBC) PP 01: Casos de suspeição no CPC – art. 145 Casos de suspeição NBC PP 01 I - amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados; II - que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes ou depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa ou que subministrar meios para atender às despesas do litígio; III - quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu cônjuge ou companheiro ou de parentes destes, em linha reta até o terceiro grau, inclusive; IV - interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das partes. § 1o Poderá o juiz declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, sem necessidade de declarar suas razões. § 2o Será ilegítima a alegação de suspeição quando: I - houver sido provocada por quem a alega; II - a parte que a alega houver praticado ato que signifique manifesta aceitação do arguido. a) ser amigo íntimo de qualquer das partes; b) ser inimigo capital de qualquer das partes; c) ser devedor ou credor em mora de qualquer das partes, dos seus cônjuges, de parentes destes em linha reta ou em linha colateral até o terceiro grau ou entidades das quais esses façam parte de seu quadro societário ou de direção; d) ser herdeiro presuntivo ou donatário de alguma das partes ou dos seus cônjuges; e )ser parceiro, empregador ou empregado de alguma das partes; f) aconselhar, de alguma forma, parte envolvida no litígio acerca do objeto da discussão; e g) houver qualquer interesse no julgamento da causa em favor de alguma das partes Fonte: Código de Processo Civil e Norma Brasileira de Contabilidade PÁGINA 32 O Perito Judicial deve se declarar impedido quando não puder exercer suas ati- vidades com imparcialidade e sem qualquer interferência de terceiros, ou ocor- rendo uma das seguintes situações: Casos de impedimentos CPC – art. 144 Casos de impedimentos NBC PP 01 Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no processo: I - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como membro do Ministério Público ou prestou depoimento como testemunha; II - de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão; III - quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou membro do Ministério Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive; IV - quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive; V - quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa jurídica parte no processo; VI - quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer das partes; VII - em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha relação de emprego ou decorrente de contrato de prestação de serviços; VIII - em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por advogado de outro escritório; IX - quando promover ação contra a parte ou seu advogado. § 2o É vedada a criação de fato superveniente a fim de caracterizar impedimento do juiz. I - for parte do processo; II - tiver atuado como Assistente Técnico ou prestado depoimento como testemunha no processo; III - tiver cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou em linha colateral até o terceiro grau, postulando no processo ou entidades da qual esses façam parte de seu quadro societário ou de direção; IV - tiver interesse, direto ou indireto, mediato ou imediato, por si, seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou em linha colateral até o terceiro grau, no resultado do trabalho pericial; V - exercer cargo ou função incompatível com a atividade de Perito Judicial, em função de impedimentos legais ou estatutários; VI - tiver mantido, nos últimos cinco anos ou mantenha com alguma das partes ou seus procuradores, relação de trabalho como empregado, administrador ou colaborador assalariado; VII - tiver atuado, pessoalmente, como advogado de uma das partes ou de algum de seus procuradores Fonte: Código de Processo Civil e Norma Brasileira de Contabilidade PÁGINA 33 SAIBA MAIS Caso o contador recuse a nomeação, este deve dirigir petição fundamentada ao juiz no prazo legal. Este prazo é de 15 dias contados da intimação ou de alguma hipótese de impedimento que venha a surgir durante o processo. Veja- mos o que dispõe o Código de Processo Civil: Art. 157. O perito tem o dever de cumprir o ofício no pra- zo que lhe designar o juiz, empregando toda sua diligência, podendo escusar-se do encargo alegando motivo legítimo. § 1º A escusa será apresentada no prazo de 15 (quinze) dias, contado da intimação, da suspeição ou do impedi- mento supervenientes, sob pena de renúncia ao direito a alegá-la. O não cumprimento do prazo assinalado pode ensejar a substituição do perito em função Judicial. O art. 468, CPC, esclarece que o perito poderá ser substi- tuído quando faltar-lhe conhecimento técnico científico ou, sem motivo legítimo, deixar de cumprir o encargo no prazo fixado pelo juiz. No caso de perito assistente, a recusa será manifestada em resposta à parte que o indicou. Esta resposta será enviada com cópia para o juiz. O foro íntimo (motivo íntimo) para rejeitar a perícia é algo subjetivo, decorrente dos valores éticos e sociais do perito. O contador pode recusar por motivo ínti- mo, por exemplo, uma perícia que envolva determinada pessoa a qual ele não concorda com suas convicções religiosas ou políticas. PÁGINA 34 REFLITA 3.2 Planejamento e organização do trabalho pericial Para organizar e planejar uma perícia é necessário inicialmente conhecer o li- tígio e a que época ele se refere, para isso o perito lê com atenção a petição inicial e a contestação. Com a leitura da petição inicial o perito se atenta as alegações do autor da ação e na contestação os pontos divergentes da parte reclamada. Isso engloba observar os documentos juntados por ambas as partes. Feito isso, o perito foca nos quesitos formulados pelas partes e planeja quais levantamentos técnicos serão necessários para respondê-los (cálculos, análi- ses, pesquisas bibliográficas ou de legislação específica, etc.) Segundo Ornelas (2017), planejar o trabalho pericial é ordenar os procedimen- tos que serão desenvolvidos para obter os elementos necessários ao laudo pe- ricial. Importante destacar que o planejamento de trabalho é realizado no escritório do perito, previamente à execução da perícia e visa, entre outros aspectos, criar um cronograma capaz de atender os prazos processuais. Qual a diferença entre os casos de suspeição e impedimento na execução da Perícia? Porque o planejamento da Perícia Contábil é fundamental para a reali- zação dos trabalhos periciais? 3.3 Honorários Periciais A NBC PP 01 apresenta aspectos muito importantes sobre como o perito irá elaborar sua proposta de honorários. Nessa elaboração, o perito dever consi- derar os seguintes fatores: a relevância, o vulto, o risco, a complexidade, a quantidade de horas, o pessoal técnico, o prazo estabelecido, e a forma de recebimento, entre outros fatores. PÁGINA 35 Nada mais justo, pois existem os mais variados trabalhos a serem realizados e, portanto, a proposta de honorários deve estar de acordo com as dificulda- des que serão encontradas em sua realização, isto é, a proposta de honoráriosdeve ser bem fundamentada. O art. 465, § 2, do Novo CPC esclarece que: § 2o Ciente da nomeação, o perito apresentará em 5 (cinco) dias: I - Proposta de honorários; II - Currículo, com comprovação de especialização; III - Contatos profissionais, em especial o endereço ele- trônico, para onde serão dirigidas as intimações pessoais. O Código de Processo supracitado, ainda, destaca que cada parte adiantará a remuneração do assistente técnico que houver indicado, sendo a do perito adiantada pela parte que houver requerido a perícia ou rateada quando a perí- cia for determinada de ofício ou requerida por ambas as partes. Assim, a quan- tia para o pagamento dos honorários periciais será recolhida em depósito ban- cário à ordem do juízo. Caso houver a necessidade de desembolso para despesas supervenientes, como viagens e estadias, para a realização de outras diligências, o perito deve requerer ao juízo ou solicitar ao contratante o pagamento das despesas, apre- sentando a respectiva comprovação, desde que não estejam contempladas ou quantificadas na proposta inicial de honorários. PÁGINA 36 SAIBA MAIS A Lei 13.467/17, trouxe alterações significativas em relação ao recebimento dos honorários periciais nos processos trabalhistas (Reforma). Anteriormente à mu- dança da Lei, o artigo 790-B, estabelecia que o pagamento dos honorários pe- riciais seria de responsabilidade do perdedor da demanda, mas se este fosse beneficiário da Justiça gratuita deixaria de arcar com tal ônus. Com a alteração do artigo 790-B, a nova redação determina o seguinte: “A responsabilidade pelo pagamento dos honorários pe- riciais é da parte sucumbente na pretensão objeto da perícia, ainda que beneficiária da justiça gratuita.” Portanto, com a mudança trazida ao artigo 790-B, podemos constatar que o beneficiário da justiça gratuita, que antes não estava obrigado a arcar com o pagamento dos honorários do perito, agora terá sim que pagar o perito, se su- cumbente (perdedor da demanda). 3.4 Prazos para a execução da Perícia Judicial O juiz nomeará perito especializado no objeto da perícia e fixará de imediato o prazo para a entrega do laudo. O perito tem o dever de cumprir o ofício no pra- zo estipulado pelo juiz, empregando toda sua diligência, podendo escusar-se do encargo alegando motivo legítimo, como vimos anteriormente. O perito nomeado protocolará o laudo em juízo, no prazo fixado pelo juiz, pelo menos 20 (vinte) dias antes da audiência de instrução e julgamento. As partes serão intimadas para, querendo, manifestar-se sobre o laudo do perito do juízo no prazo comum de 15 (quinze) dias, podendo o assistente técnico de cada uma das partes, em igual prazo, apresentar seu respectivo parecer. O art. 477, § 3, do Código Processual Civil, destaca que se houver necessida- de de esclarecimentos, a parte requererá ao juiz que mande intimar o perito ou o assistente técnico a comparecer à audiência de instrução e julgamento, for- mulando, desde logo, as perguntas, sob forma de quesitos. Logo, o perito ou o assistente técnico será intimado por meio eletrônico, com pelo menos 10 (dez) dias de antecedência da audiência. PÁGINA 37 REFLITA Como será elaborada a proposta de honorários? Qual é o prazo de execução de uma perícia judicial? CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, percebemos que a perícia se reveste de grande valor por apro- fundar e trazer à luz da verdade, acontecimentos ocultos que, para serem es- clarecidos, necessitam do conhecimento de profissionais dotados de capacida- de técnica-científica e consciência ética. O principal objetivo da perícia é verificar a veracidade do objeto, sem levar em conta interesses pessoais das partes periciadas, focando o interesse maior que é o da coletividade O Perito Contador, no exercício de sua função, primeiramente, deve se autoco- nhecer, e através da autocrítica direcionar suas atitudes não apenas com a in- tenção de se autopromover, mas com a consciência de que sua função exerce implicações socioeconômicas, já que o resultado de sua atuação é prova para a aplicação da justiça. O exercício da perícia, por ser uma série de procedimentos dos quais decorrem direitos, deveres e responsabilidades inerentes à própria atividade como resul- tado da atuação do perito, se baseia da constante observância dos requisitos legais e morais. Portanto, é indispensável ao profissional, sempre atuar mantendo a qualidade técnica e a postura moral consciente, jamais deduzindo a verdade por presun- ção, demonstrando fielmente as informações acerca da veracidade do objeto do seu trabalho. Por fim, quando nos referimos ao profissional que exerce a função pericial é indispensável à postura ética e responsabilidade social, pois essas qualidades proporcionam ao perito a continuidade no mercado de trabalho dos seus servi- ços e por sua vez respeito e confiança daqueles que necessitam de uma opi- nião consumada. PÁGINA 38 CAPÍTULO 4 PERÍCIA PRÁTICA II Professor Heric Garcia Objetivos de Aprendizagem: • Conhecer as diligências e o papel de trabalho; • Compreender os tipos de provas perícias; • Entender os quesitos da perícia. • Elaboração do laudo ou parecer pericial; Plano de estudo: • Diligências – Conceitos; • Papéis de trabalho na Perícia Contábil; • Provas Periciais – NCPC e NBC TP 01; • Quesito – Conceitos e Definições; • Laudo Pericial e Parecer Técnico – Conceitos e Definições; PÁGINA 39 INTRODUÇÃO DA UNIDADE Nas unidades anteriores, entendemos que a Perícia Contábil se caracteriza como um instrumento considerável na resolução de conflitos judiciais, além de ser um trabalho de extrema relevância social, prestado pela classe contábil à justiça, com o objetivo de apurar a verdade por meio de investigações, exames e avaliações. Analisamos também que a Perícia Contábil é uma especialidade da Ciência Contábil da qual a justiça utiliza o trabalho do Contador para auxiliar na resolução de conflitos que fogem do âmbito do direito, mas, para isso é preciso que o contador possua registro ativo no Conselho Regional de Contabilidade e esteja inserido no Cadastro Nacional de Peritos Contábeis (CNPC), sujeitando- se aos casos de impedimento e suspeição previstos em lei. Nesta unidade, aprofundaremos o nosso conhecimento sobre a prática pericial, revelando a sua importância no auxílio ao Poder Judiciário para elucidar fatos controversos, esclarecendo o que está oculto, a fim de atender às necessidades das partes envolvidas em um conflito, proporcionando o bem- estar a todos aqueles que tenham interesse no esclarecimento do processo judicial. PÁGINA 40 4.1 Diligências – Conceitos De acordo com Ornelas (2017), diligência é uma das fases do trabalho pericial e consiste no trabalho de campo. Ou seja, é o trabalho realizado para buscar os elementos necessários à confecção do laudo pericial. As diligências realizadas, que podem ser cálculos, vistorias, exames, visitas in loco, etc., devem ser documentas através de termo próprio a ser incluso no laudo pericial contábil. 4.1.1 Termo de diligência Termo de diligência é o instrumento por meio do qual o perito solicita documentos, coisas, dados e informações necessárias à elaboração do laudo pericial contábil e do parecer técnico-contábil. Serve também para determinar o local, a data e a hora do início da perícia, e ainda para a execução de outros trabalhos que tenham sido a ele determinados ou solicitados por quem de direito, desde que tenham a finalidade de orientar ou colaborar nas decisões, judiciais ou extrajudiciais. Caso ocorra a negativa da entrega dos elementos de prova formalmente requeridos, o perito deve se reportar diretamente a quem o nomeou, contratou ou indicou, narrando os fatos e solicitando as providências cabíveis. Conforme a NBC TP 01, o termo de diligência conterá os seguintes itens: (a) identificação do diligenciado; (b) identificação das partes ou dos interessados e, em se tratando de perícia judicial ou arbitral, o número do processo ou procedimento,o tipo e o juízo em que tramita; (c) identificação do perito com indicação do número do registro profissional no Conselho Regional de Contabilidade; (d) indicação de que está sendo elaborado nos termos desta Norma; (e) indicação detalhada dos documentos, coisas, dados e informações, consignando as datas e/ou períodos abrangidos, podendo identificar o quesito a que se refere; (f) indicação do prazo e do local para a exibição dos documentos, coisas, dados e informações necessários à elaboração do laudo pericial contábil ou parecer técnico- contábil, devendo o prazo ser compatível com aquele concedido pelo juízo; (g) local, data e assinatura PÁGINA 41 SAIBA MAIS O termo de diligência deve ser redigido pelo perito, ser apresentado diretamente ao perito-assistente, à parte, a seu procurador ou terceiro, por escrito e juntado ao laudo. O perito deve observar os prazos a que está obrigado por força de determinação legal e, dessa forma, definir o prazo para o cumprimento da solicitação pelo diligenciado. 4.2 Papéis de trabalho Entende-se por papéis de trabalho a documentação preparada pelo perito para a execução da perícia. Eles integram um processo organizado de registro de provas, por intermédio de termos de diligência, informações em papel, meios eletrônicos, plantas, desenhos, fotografias, correspondências, depoimentos, notificações, declarações, comunicações ou outros quaisquer meios de prova fornecidos e peças que assegurem o objetivo da execução pericial. De acordo com a NBC TP 01, item 15, o perito deve documentar os elementos relevantes que serviram de suporte à conclusão formalizada no laudo pericial contábil e no parecer pericial contábil, por meio de papéis de trabalho, que foram considerados relevantes, visando fundamentar o laudo ou parecer e comprovar que a perícia foi executada de acordo com os despachos e decisões judiciais, bem como as normas legais e Normas Brasileiras de Contabilidade. 4.3 Provas periciais A perícia técnica tem por objetivo auxiliar o juiz com um conhecimento especializado que ele não possui, de modo a lhe dar condições objetivas para que tome a melhor decisão possível, formando seu convencimento a partir do esclarecimento técnico de questões controvertidas. Neste contexto, o Novo Código de Processo Civil (CPC) e as Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC) reconhecem a importância da prova pericial e apresentam grandes inovações para a designação do perito. PÁGINA 42 4.3.1 Prova pericial no Código de Processo Civil A prova pericial consistirá em exame, vistoria ou avaliação, e poderá ser determinada de ofício ou a requerimento das partes. Vejamos o art. 464, CPC: Art. 464 - A prova pericial consiste em exame, vistoria ou avaliação. § 4o Durante a arguição, o especialista, que deverá ter formação acadêmica específica na área objeto de seu depoimento, poderá valer-se de qualquer recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens com o fim de esclarecer os pontos controvertidos da causa. É importante destacar também que caso o objeto da perícia envolva aspectos de maior complexidade, abarcando diversas áreas de conhecimento, o juiz nomeará mais de um perito, haja vista a necessidade de que cada um seja especializado em sua respectiva área do saber. 4.3.2 Prova pericial nas Normas Brasileiras de Contabilidade A prova pericial visa fundamentar as conclusões que serão levadas ao laudo pericial contábil ou parecer pericial contábil, e abrange, total ou parcialmente, a natureza e a complexidade da matéria. As provas periciais dispostas na NBC TP 01 consistem em: exame, vistoria, indagação, investigação, arbitramento, mensuração, avaliação e certificação. 4.3.3 Dispensa da prova pericial A produção da prova pericial poderá ser dispensada quando as partes, na inicial e na contestação, apresentarem, sobre as questões de fato, pareceres técnicos ou documentos elucidativos que forem considerados suficientes pelo magistrado (art. 472, CPC). 4.3.4 Prova Técnica Simplificada Em muitos casos, apesar da necessidade de conhecimentos técnicos ou científicos especializados para a comprovação de determinado fato, pode ocorrer que a causa não envolva questões de alta complexidade. Nesta hipótese o juiz poderá de ofício, ou a requerimento das partes, substituir a perícia por prova técnica simplificada, a qual consiste apenas na explicação do perito sobre os pontos controvertidos da causa. PÁGINA 43 REFLITA Provas Periciais - NCPC Provas Periciais - NBC TP 01 O exame é desenvolvido mediante analise de livros e documentos (escrituração contábil, notas fiscais, guias de impostos, etc.) Vistoria é mais adotado na área medica ou de engenharia, mas na área contábil pode consistir em olhar ou observar determinada coisa ou fato. Avaliação envolve a valorização, ou seja, estimar valor em moeda a algo. O exame é a análise de livros, registros das transações e documentos. A vistoria é a diligência que objetiva a verificação e a constatação de situação, coisa ou fato, de forma circunstancial. A indagação é a busca de informações mediante entrevista com conhecedores do objeto ou fato relacionado à perícia. A investigação é a pesquisa que busca trazer ao laudo pericial contábil ou parecer pericial contábil o que está oculto por quaisquer circunstâncias. O arbitramento é a determinação de valores ou a solução de controvérsia por critério técnico. A mensuração é o ato de qualificação e quantificação física de coisas, bens, direitos e obrigações. A avaliação é o ato de estabelecer o valor de coisas, bens, direitos, obrigações, despesas e receitas. A certificação é o ato de atestar a informação trazida ao laudo pericial contábil pelo perito- contador, conferindo-lhe caráter de autenticidade pela fé pública atribuída a este profissional Fonte: Código de Processo Civil e Normas Brasileiras de Contabilidade. PÁGINA 44 4.4 Quesito – Conceitos e definições Pode-se entender por questionário básico, os quesitos formulados, seja pelo juiz ou pelas partes, antes do início das diligências, isto é, antes do desenvolvimento da produção da prova pericial contábil e entrega da peça técnica. Para Cordeiro de Mello (2017), os quesitos são questionários básicos que as partes formulam ao perito e que devem ser respondidos e fundamentados, não sendo aceitas apenas respostas “sim ou não”. Resumidamente, são perguntas de natureza técnica ou científica a serem respondidas pelo perito judicial e apreciadas pelo magistrado, afim de fundamentar sua decisão. Vale destacar que o juízo também poderá formular quesitos oficiais, sendo estes respondidos previamente, respeitando-se a hierarquia processual. 4.5 Laudo Pericial e Parecer técnico – Conceito e definição O laudo pericial contábil e o parecer técnico-contábil são documentos nos quais os peritos devem registrar, de forma abrangente, o conteúdo da perícia e particularizar os aspectos e as minudências que envolvam o seu objeto e as buscas de elementos de prova necessários para a conclusão do seu trabalho. O laudo e o parecer são, respectivamente, orientados e conduzidos pelo perito do juízo e pelo perito-assistente. Laudo pericial é a peça escrita, na qual os peritos contábeis expõem, de forma circunstanciada, as observações e estudos que fizeram e registraram as conclusões fundamentadas da perícia, ou seja, deverá ser elaborado de forma escrita e assinada pelo perito contador, tratando-se de uma peça formal que se junta aos autos do processo. Para Ornelas (2017), laudo pericial contábil é a materialização do trabalho pericial, ou seja, é a própria prova pericial. Conforme a NBC TP 01, o laudo pericial contábil e o parecer pericial contábil devem conter, no mínimo, os seguintes itens: • identificação do processo e das partes; • síntese do objeto da perícia; • metodologia adotada para os trabalhos periciais; • identificação das diligências realizadas; • transcrição e resposta aos quesitos:para o laudo pericial contábil; PÁGINA 45 • transcrição e resposta aos quesitos: respostas formuladas pelo perito-contador e as respostas e comentários do peri- to-contador assistente; • conclusão; • anexos; • assinatura do perito e o seu número de registro em Conse- lho Regional de Contabilidade. 4.5.1 Laudo de Esclarecimentos Esclarecimentos são respostas oferecidas pelo perito aos pedidos de esclarecimentos do laudo pericial contábil e parecer pericial contábil, determinados pelas autoridades competentes, quando estas por algum motivo entenderem a necessidade da presença do perito na audiência, para descrever e explicar de maneira ordenada e pormenorizada o conteúdo do laudo pericial. Os quesitos de esclarecimentos efetuados podem ser respondidos de duas maneiras: (a) de forma escrita: os quesitos de esclarecimentos deferidos e apresentados ao perito, no prazo legal, podem ser respondidos por escrito e, neste caso, deverá ser entregue o original, na audiência, para a juntada nos autos. (b) de forma oral: os quesitos de esclarecimentos deferidos e apresentados ao perito, no prazo legal, podem ser respondidos de forma oral, cuidando para sanar as obscuridades, omissões, contradições ou interpretações distintas daquelas constantes no laudo pericial contábil. Se for necessário efetuar diligências para arrecadar novos documentos ou outros elementos de prova, o perito deve adotar todas as providências constantes nesta Norma, não podendo, no entanto, requerer honorários complementares para aquele feito. (NBC TP 01) PÁGINA 46 4.5.2 Laudo Suplementar Sobre o laudo complementar, o Novo Código de Processo Civil dispõe que as partes poderão apresentar quesitos suplementares durante a diligência e que poderão ser respondidos pelo perito previamente ou na audiência de instrução e julgamento. É importante, ainda, destacar que, conforme a norma supracitada, o juiz poderá não aceitar quesitos impertinentes (estranhos ao assunto) e também, poderá formular os quesitos que entender necessários ao esclarecimento da causa. Vejamos: Art. 470. Incumbe ao juiz: I - Indeferir quesitos impertinentes; II - Formular os quesitos que entender necessários ao esclarecimento da causa. PÁGINA 47 CONSIDERAÇÕES FINAIS A elaboração da perícia judicial está pautada com o exercício profissional, motivo pelo qual, o perito designado para cumprimento do trabalho, carecerá obedecer não exclusivamente à legislação processual, como também à legislação regulamentadora de sua profissão. É o laudo pericial contábil que esclarece acerca do objeto em ação, por isso, sua forma de realização e sua qualidade é de extrema importância, já que o mesmo propiciara a autoridade melhores condições de interpretar os fatos e decidir o litígio. Ainda que a matéria não permita conclusão, em face de sua extensão e abrangência, as informações apresentadas nesta unidade evidenciam, de maneira irrefutável, que a prova pericial contábil para ser considerada como um trabalho científico, exige apresentar rigor tecnológico e estreita correlação com os registros contábeis periciados: os fatos, os dados, provas e documentos verificados; os quais, não permitem margem de dúvidas. Assim, a Perícia Contábil é o instrumento que traz às decisões judiciais a verdade comprovada de forma científica, onde a Ciência Contábil é aplicada de tal maneira que o Direito alcança sua plenitude, pois passa a contar, por meio desta, com um fundamento seguro e exato. PÁGINA 48 MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO NA WEB Título: Perícia Contábil. Autoras: Paulo Cordeiro de Mello Editora: SENAC Sinopse: Levantamento de perdas e danos, revisão de encargos financeiros ou prestação de contas são alguns dos tipos de ações em que perito contábil é acionado pelo judiciário hoje. Cada vez mais indispensável para a solução de litígios na justiça, esse profissional elabora o laudo especializado para auxiliar o magistrado no esclarecimento de pontos controvertidos. Temas práticos como parecer técnico na inicial ou contestação de um processo judicial, auxílio na formulação de quesitos e tópicos que representam possíveis atuações de assistentes técnicos e peritos contábeis são aprofundados por Paulo Cordeiro de Mello em Perícia contábil. LEI Nº 13.105/2015. – CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL (CPC). Link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm Normas brasileiras de contabilidade: perícia contábil: NBC TP 01 - CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE Link: https://cfc.org.br/wp-content/uploads/2016/02/NBC_TP_01.pdf PÁGINA 49 REFERÊNCIAS ALBERTO, Valder Luiz Palombo. PERÍCIA CONTÁBIL. 5. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2012. Código de Ética dos Peritos Judiciais – CONSELHO NACIONAL DOS PERITOS JUDICIAIS DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL; disponível em: https://www.conpej.org.br/codetica.pdf; CORDEIRO DE MELLO, Paulo. PERÍCIA CONTÁBIL. 2.ed. atualizada. São Paulo: Editora SENAC, 2017. CORDEIRO DE MELLO, Paulo. A PERÍCIA NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. São Paulo: Editora Trevisan, 2016. LEI Nº 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015. – CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL (CPC). Brasília: DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 2015. MOURA, Ril. PERÍCIA CONTÁBIL: JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL. 4.ed. Rio de Janeiro: Editora Freitas Bastos, 2017. Normas brasileiras de contabilidade: perícia contábil: NBC TP 01 e NBC PP 01 - CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Brasília: Conselho Federal de Contabilidade, 2015. ORNELAS, Martinho Maurício Gomes - PERÍCIA CONTÁBIL - DIRETRIZES E PROCEDIMENTOS, 6ª ed. São Paulo: Editora Atlas, 2017. Resolução CFC Nº 1.502/2016 - CADASTRO NACIONAL DE PERITOS CONTÁBEIS (CNPC), Brasília: Conselho Federal de Contabilidade, 2016. Resolução CFC Nº 803/1996 - CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO CONTADOR, Brasília: Conselho Federal de Contabilidade, 1996. SÁ, Antônio Lopes de. - PERÍCIA CONTÁBIL. 10 ed. São Paulo: Editora Atlas, 2011. SANTOS, Franklin - PERÍCIA CONTÁBIL, Recife: Editora Clube de Autores, 2011 ZANNA, Remo Dalla – PRÁTICA DE PERÍCIA CONTÁBIL. 6 ed. São Paulo: Editora IOB Sage, 2016. PÁGINA 50 CONCLUSÃO Atualmente o acesso à Justiça tornou-se mais democrático, não só por meios facilitadores que o próprio Poder Judiciário tem disponibilizado para a população, mas também por uma certa evolução da sociedade em geral, que, notoriamente, desde a popularização da internet no Brasil (em meados dos anos 2000), tem caminhado a passos largos para ser mais crítica e conhecedora de seus direitos, exigindo mais dos serviços públicos. Neste sentido, houve também um significativo aumento do número de demandas judiciais, desde questões mais simples envolvendo apenas matéria de Direito, como também discussões mais complexas que tem como ponto principal matérias técnicas, necessitando do auxílio de um Perito. Passou a ser cada vez mais comum a nomeação de um expert para auxiliar os juízes nos processos, sendo a sua atuação de extrema relevância na resolução dos litígios. O laudo pericial é uma peça fundamental nas tomadas de decisões, por ser imparcial, é uma prova judicial firme e transparente, realizada com padrões técnicos que buscam somente a verdade dos fatos. O módulo que se finda, teve por objetivo demonstrar os objetivos, as normas, as alterações na legislação, os tipos de perícia contábil, os requisitos necessários para se tornar um perito contador, bem como, exemplificar o trabalho do perito oficial, através de levantamentos bibliográficos atuais. Assim, o trabalho do perito além de ser importante no desfecho dos conflitos é, sem dúvidas, um multiplicador da sensação de justiça na sociedade. Espero que tenha gostado do nosso curso. Ele é apenas uma parte dentro do grande universo da perícia, mas é uma ótima base para seguir adiante, conhecendo novas linguagens e metodologias de desenvolvimento na área contábil.
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