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II_RELAÇÃO SOCIEDADE MODERNA E NATUREZA

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Biogeografia
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Profa. Dra. Adriana Furlan
Revisão Textual:
Profa. Ms. Alessandra Fabiana Cavalcanti
Relação Sociedade Moderna e Natureza
• Introdução
• Unidade de Conservação (UC)
• Grupo de Proteção Integral
• Grupo de Uso Sustentável
• A Geopolítica da biodiversidade
• Biopirataria
 · Identificar de que forma a nossa sociedade se relaciona à natureza, a 
partir das ideias e das concepções de criação de áreas de conservação 
e de que forma a biopirataria funciona.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
Nesta Unidade, vamos aprender um pouco mais sobre um importante 
tema, o qual apresentará a discussão sobre as Unidades de Conservação e a 
questão da geopolítica da biodiversidade, incluindo nesta temática uma breve 
reflexão sobre a biopirataria.
Então, procure ler, com atenção, o conteúdo disponibilizado e o material 
complementar. Não se esqueça! A leitura é um momento oportuno para 
registrar suas dúvidas; por isso, não deixe de registrá-las e transmiti-las ao 
professor-tutor.
Além disso, para que a sua aprendizagem ocorra num ambiente mais 
interativo possível, na pasta de atividades, você também encontrará as 
atividades de Avaliação, uma Atividade Reflexiva e a videoaula. Cada material 
disponibilizado é mais um elemento para seu aprendizado, por favor, estude 
todos com atenção!
ORIENTAÇÕES
Relação Sociedade Moderna e Natureza
UNIDADE Relação Sociedade Moderna e Natureza
Contextualização
Leia as notícias a seguir.
Desmatamento gera perda irreversível da biodiversidade na Amazônia, 
avaliam especialistas. 13/12/2005
Manaus – O desmatamento na Região Amazônica causa prejuízos irreversíveis para a 
biodiversidade, segundo pesquisadores do Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e do 
Museu Paraense Emílio Goeldi. Na avaliação da pesquisadora do Goeldi, Ana Luisa Albernaz, 
as áreas protegidas legalmente no país têm pouco apoio e ao longo da cabeceira do Rio 
Solimões, por exemplo, quase não existem áreas de proteção.
“Os conservacionistas acabam optando por proteger áreas distantes do ambiente de várzea, 
preferindo trabalhar onde não existe ocupação do homem. É preciso fazer algo em relação à 
perda da biomassa e da biodiversidade provocada pelos desmatamentos”, afirma.
A pesquisadora abordou a questão por ocasião da mesa redonda “Integridade Biótica 
na Amazônia”, quando se destacou o fato de que os ecossistemas e a biodiversidade da 
Amazônia vêm sendo influenciados negativamente pelo processo de ocupação regional, 
sendo que mais de 12% da floresta já foi derrubada nas últimas décadas. Destacou-se, ainda, 
o fato de que as áreas desmatadas se encontram em diferentes estados de degradação tanto 
do solo como da biodiversidade animal e vegetal. (...)
Adaptado de: http://goo.gl/BE85VS
Marco legal da biodiversidade é positivo para indústrias farmacêuticas e 
de cosméticos. 27/04/2015
A análise do marco legal da biodiversidade pela Câmara dos deputados é motivo de 
comemoração para as indústrias do setor farmacêutico e de cosméticos. O projeto, que 
depois de avaliado será encaminhado para sanção presidencial, visa criar uma lei que facilite 
o acesso ao patrimônio genético de animais e de plantas do País.
Esse projeto traz possibilidades de pesquisa, de desenvolvimento e de boas oportunidades 
de crescimento para o setor, considerando que o mercado farmacêutico brasileiro é o terceiro 
maior consumidor de produtos de beleza no mundo, segundo a Associação Brasileira da 
Indústria de Higiene Pessoal Perfumaria e Cosmética (ABIHPEC), e que teve um crescimento 
de 12% no início de 2015 (dados do Instituto Moreira Sales).
Com o marco legal da biodiversidade, a burocracia em relação às pesquisas irá diminuir 
e as empresas poderão desenvolver e explorar novos métodos e matérias-primas, vindas 
principalmente na região Amazônica.
O ponto mais importante dessa revisão – que vai muito além dos benefícios econômicos – é 
a garantia de que o patrimônio da sociobiodiversidade não será afetado pelas indústrias e de 
que as comunidades do entorno, responsáveis pela conservação e uso econômico, não serão 
prejudicadas e muito menos ignoradas.
Também ficará assegurado o compartilhamento de benefícios para os produtores, as populações 
tradicionais, os indígenas e a exclusão de empresas estrangeiras não associadas.
Fonte: http://goo.gl/KBgmwP
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Importante!
No texto 1, temos que o desmatamento causa a perda da biodiversidade e no 
texto 2, temos que a criação do marco regulatório (uma legislação específica) da 
biodiversidade possibilitará a ampliação das pesquisas com a nossa fauna e nossa 
flora, visando ao desenvolvimento de produtos pelas indústrias farmacêuticas 
(remédios, cosméticos etc.).
Trocando ideias...
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UNIDADE Relação Sociedade Moderna e Natureza
Introdução
Há registros, segundo o IBAMA, de que as áreas protegidas existem desde o 
ano 250 a.C., quando na Índia já se protegiam certos animais, peixes e áreas 
florestadas. Mas foi somente no final do século XIX, que surgiram as primeiras 
áreas legalmente protegidas para a preservação dos ecossistemas e das paisagens 
naturais. Temos como a primeira área de preservação mundialmente definida, o 
Parque Nacional de Yellowstone, criado em 1872, nos Estados Unidos.
Este parque foi criado como reduto de vida selvagem, local onde as crescentes 
populações urbanas pudessem desfrutar do contato com a natureza “intocada” 
em seus momentos de lazer. Para tanto, a legislação criada para esta área de 
conservação e demais que se seguiram a esta (nos Estados Unidos e depois pelo 
mundo) não previa a ocupação humana em tais espaços, pois o objetivo de criação 
destas áreas era a preservação da flora e da fauna ali existentes.
Na área escolhida, teoricamente desocupada, a presença humana se limitava (e 
se limita) à contemplação da natureza, sem causar qualquer movimento no sentido 
de modificar o que está sendo protegido.
No Brasil, o ano de 1937, é a data de criação do primeiro parque nacional, o 
Parque Nacional de Itatiaia, no Rio de Janeiro. A importação da ideia de preservação 
da natureza advinda dos Estados Unidos (como área que não compatibiliza 
preservação da natureza e ocupação humana) e aplicada na íntegra no Brasil, 
em várias partes do mundo (América do Sul e Central, África e Ásia), acarretou 
diversas consequências negativas, pois nessas partes do mundo as florestas eram (e 
ainda são) habitadas por diversos povos que delas dependem para sobrevier.
Assim, com a criação de áreas de conservação (Unidades de Conservação) um 
número imenso de famílias, de tribos indígenas e demais agrupamentos sociais 
foram expulsos de suas terras em nome da preservação da natureza. Os conflitos 
instalados por conta disso foram inúmeros. A grande maioria dessa população não 
detinha título de propriedade da terra, tendo o direito de ocupá-la por estar ali há 
várias gerações.
Com o passar do tempo, por pressão de movimentos de defesa das comunidades 
tradicionais, essa concepção de incompatibilidade entre preservação da natureza e 
presença humana começou a ser revista.
Começou-se a perceber, conforme afirmam moradores de áreas protegidas, que 
a preservação foi possível em função do modo de vida dessas populações, pois a 
preservação da floresta para essas comunidades é uma questão de sobrevivência. 
Assim, os ambientes em que vivem se mantiveram preservados não por força de 
alguma lei ou dos movimentos ambientais, mas porque se esses ambientes forem 
destruídos o seu modo de vida desaparece.
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A legislação atual define e procura garantir os direitos de permanência destas 
comunidades nas áreas em que vivem, mas foi, somente, recentemente que foram 
criadas as Reservas Extrativistas (figura 1) e outros tipos de áreas de proteção com 
o intuito de garantir a permanência e a sobrevivência destas comunidades dentro 
das áreas de preservação, como veremos adiante.
Figura 1 – Atividade extrativista em comunidade tradicional
Fonte: iStock / Getty Images
Comunidades tradicionais- O conceito de comunidades tradicionais é relativamente 
novo, tanto na esfera governamental quanto na esfera acadêmica ou social. A expressão 
comunidades ou populações tradicionais surgiu no seio da problemática ambiental, 
no contexto da criação das unidades de conservação, para dar conta da questão das 
comunidades tradicionalmente residentes nestas áreas. São chamadas “tradicionais” por 
manterem muitos aspectos culturais seculares e praticarem, sobretudo, a agricultura ou a 
pesca voltada à subsistência (SANTOS, 2008).
Ex
pl
or
Unidade de Conservação (UC)
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, o Sistema Nacional de Unidades 
de Conservação (SNUC) refere-se o conjunto de unidades de conservação (UC) 
federais, estaduais e municipais. É composto por 12 categorias de UC, cujos objetivos 
específicos se diferenciam quanto à forma de proteção e usos permitidos: aquelas 
que precisam de maiores cuidados, pela sua fragilidade e particularidades, e aquelas 
que podem ser utilizadas de forma sustentável e conservadas ao mesmo tempo.
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Observe na figura abaixo a distribuição das Unidades de Conservação no Brasil.
 
Figura 2 – Unidades de conservação no Brasil
Fonte: www.florestal.gov.br
Na figura 2, as categorias de UC existentes no Brasil e sua distribuição estão 
presentes. Observe que a maior parte das UCs está localizada na região Norte do 
Brasil. Por que será que isso ocorre?
Antes de respondermos a essa questão, vamos observar com atenção as figuras 
3 e 4, a seguir.
Observe na figura 3 a localização das principais cidades brasileiras.
Figura 3 – Localização das principais cidades brasileiras e as interligações rodoviárias
Fonte: mapas-brasil.net
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Observe na figura 4 a distribuição da população brasileira, em 2010.
Figura 4 – Distribuição da população brasileira em 2010
Fonte: www.atlassocioeconomico.rs.gov.br
Vamos agora comparar os três mapas apresentados nas figuras 2, 3 e 4. O que 
podemos concluir a partir de nossa observação?
Percebemos que na maioria das cidades, a população brasileira está localizada 
próxima à zona costeira, enquanto as UCs se localizam, em sua maior parte, na 
região mais interior do país, especialmente na região Norte.
Por que isso ocorre? Para entendermos essa distribuição espacial das UCs, das 
cidades e da população, devemos lembrar que a ocupação do território brasileiro, desde 
a época da colonização, ocorreu no (ou próxima) litoral. Os primeiros povoamentos e 
as primeiras cidades ali se instalaram e com o passar do tempo, em função de diversos 
fatores (os chamados ciclos econômicos), a ocupação seguiu em direção ao interior do 
país, ficando a região Norte, como o último reduto desta ocupação.
Desta forma, as maiores áreas florestais do país “que restaram” ou resistiram 
ao processo de ocupação agropecuária e urbana se tornaram, justamente, aquelas 
disponíveis para a criação de UCs.
Embora as áreas interiores do país tenham sido ocupadas em épocas mais 
recentes, a ocupação da área litorânea não se realizou em sua totalidade, 
pois, em função da dificuldade de ocupação, algumas partes destas áreas 
vegetadas, das regiões Sul e Sudeste, se mantiveram como remanescentes de 
florestas não desmatadas. Como exemplo, podemos citar a Serra do Mar nos 
estados de São Paulo (figuras 5 e 6), Paraná e Rio de Janeiro, onde foram 
criadas UCs com o objetivo de proteger do desmatamento e da ocupação 
estes resquícios de florestas.
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UNIDADE Relação Sociedade Moderna e Natureza
Figura 5 – Mata Atlântica - Serra do Mar
Fonte: Wikimedia Commons
Figura 6 – Mata Atlântica – Serra do Mar
Fonte: Wikimedia Commons
Observe a imagem seguir. Podemos identificar a extensão que a Mata Atlântica 
apresentava em períodos remotos e o que resta hoje deste Bioma. Por se localizar 
na área de mais intensa ocupação do país esta é a floresta que mais foi reduzida 
em termos de extensão (considerando-se, ainda, a grande perda de biodiversidade 
que ocorre como consequência do desaparecimento da floresta). A exploração do 
pau-brasil em toda a costa, na época da colonização, o Ciclo da cana de açúcar 
no Nordeste, o Ciclo da Mineração, do Café e a industrialização no Sudeste, as 
frentes de colonização e a agropecuária no Sul, bem como a expansão urbana 
das últimas décadas, foram os principais motivos que levaram a Mata Atlântica a 
ocupar, atualmente, somente uma parte mínima do seu território original.
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Figura 7 – RBMA - Reserva da Biosfera da Mata Atlântica
Fonte: www.rbma.org.br
Compare a figura 7 com as figuras 3 e 4 apresentadas anteriormente. Perceba 
a relação existente entre a ocupação e o desaparecimento das florestas.
Para que partes destas florestas pudessem ser preservadas foram criadas 
legislações específicas ao longo do tempo e a Lei No 9.985, DE 18 de julho de 
2000, que em seu Art. 1º: institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação 
da Natureza – SNUC, estabeleceu critérios e normas para a criação, implantação e 
gestão das unidades de conservação.
É o que veremos a seguir.
Categorias de Unidade de Conservação (UC)
Através da legislação (citada anteriormente) foram incorporadas ao SNUC as 
unidades de conservação já existentes antes de 2000, assim, por exemplo, alguns 
Parques Nacionais enquadrados pelo SNUC no grupo de Unidades de Proteção 
Integral já possuíam comunidades em seus domínios.
Segundo o SNUC, as populações tradicionais que residem em unidades de 
conservação nas quais em sua permanência não seja permitida, devendo ser 
indenizadas ou compensadas pelas benfeitorias existentes e devidamente realocadas 
pelo Poder Público em local e em condições acordados entre ambas as partes.
O problema é que em áreas que se tornaram UC antes da lei do SNUC, a 
desapropriação das terras é na maioria das vezes problemática, seja por problemas 
burocráticos ou de interesse econômico, chegando até ao fato de algumas famílias 
não receberem o benefício.
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Após o ano 2000, as UCs, de acordo com o Sistema Nacional de Unidades de 
Conservação da Natureza – SNUC, foram agrupadas em duas categorias: Grupo 
de Proteção Integral e Grupo de Uso Sustentável.
A apresentação e a edição de normas e de padrões de gestão de Unidades de 
Conservação federais; a proposição da criação, regularização fundiária e gestão 
das Unidades de Conservação federais; e o apoio e a implementação do Sistema 
Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), são de competência do ICMBio 
– Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (criado pela Lei no. 
11.516, de 28 de agosto de 2007), do Ministério do Meio Ambiente. O ICMBio 
deve ainda contribuir para a recuperação de áreas degradadas em Unidades 
de Conservação, fiscalizar e aplicar penalidades administrativas ambientais ou 
compensatórias aos responsáveis pelo não cumprimento das medidas necessárias 
à preservação ou á correção da degradação ambiental. Cabe a este Instituto o 
acompanhamento da elaboração e da implantação dos Planos de Manejo, a 
autorização e o acompanhamento das pesquisas a serem desenvolvidas nas UCs e 
as normatizações específicas de determinadas UCs. Compete, ainda, ao Instituto 
Chico Mendes, monitorar o uso público e a exploração econômica dos recursos 
naturais nas UCs, onde isso for permitido.
Vamos conhecer um pouco mais detalhadamente quais tipos de UC integram 
estes grupos.
Grupo de Proteção Integral
Estação Ecológica
Os objetivos são a preservação da natureza e a realização de pesquisas científicas. 
É proibida a visitação pública, exceto se com objetivo educacional, conforme 
definir o Plano de Manejo ou regulamento específico desta categoria de Unidade 
de Conservação.
Reserva Biológica
Visa à preservação integral da biota e demais atributos naturais, sem interferência 
humana direta ou modificações ambientais. A exceção fica por conta de medidas de 
recuperação de seus ecossistemas alterados e de ações de manejo necessárias para 
recuperare preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e seus processos 
ecológicos naturais. A visitação pública é proibida, com exceção da de caráter 
educacional, segundo o definido em Plano de Manejo da unidade.
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Parque Nacional
É a mais popular e antiga categoria de Unidades de Conservação. Seu objetivo 
é preservar ecossistemas de grande relevância ecológica e de beleza cênica, 
possibilitando a realização de pesquisas científicas, a realização de atividades 
educacionais e de interpretação ambiental, a recreação e o turismo ecológico, por 
meio do contato com a natureza. O regime de visitação pública é definido no Plano 
de Manejo da respectiva unidade.
Monumento Natural
O objetivo básico é preservar sítios naturais raros, singulares e/ou de grande 
beleza cênica. Pode ser constituído por propriedades particulares, desde que haja 
compatibilidade entre os objetivos da unidade com a utilização da terra e dos recursos 
naturais por parte dos proprietários. Se não houver compatibilidade, a área é 
desapropriada. Existe a permanência para visitação aos monumentos naturais.
Refúgio de Vida Silvestre
O objetivo é proteger ambientes naturais onde se asseguram condições para a 
existência ou a reprodução de espécies ou comunidades da flora local e da fauna 
residente ou migratória. Eles podem ser constituídos, assim como os monumentos 
naturais, por áreas particulares, seguindo as mesmas exigências legais.
Grupo de Uso Sustentável
Área de Proteção Ambiental
Área em geral extensa, com certo grau de ocupação humana, com atributos 
bióticos, abióticos, estéticos ou culturais importantes para a qualidade de vida e o bem-
estar das populações humanas. As APAs têm como objetivo proteger a diversidade 
biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso 
dos recursos naturais.
Área de Relevante Interesse Ecológico
Área em geral de pequena extensão, com pouca ou nenhuma ocupação 
humana, com características naturais singulares ou mesmo que abrigam exemplares 
raros da biota regional. Sua criação visa a manter esses ecossistemas naturais de 
importância regional ou local, bem como regular o uso admissível destas áreas, 
compatibilizando-o com os objetivos da conservação da natureza.
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Floresta Nacional
Área com cobertura florestal de espécies predominantemente nativas, criadas 
com o objetivo básico de uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e da 
pesquisa científica, voltada para a descoberta de métodos de exploração sustentável 
destas florestas nativas. É permitida a permanência de populações tradicionais que 
habitam a área, quando de sua criação, conforme determina o plano de manejo da 
unidade. A visitação pública é permitida, mas condicionada às normas especificadas 
no plano de manejo. A pesquisa é permitida e incentivada.
Reserva Extrativista
Área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se 
no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação 
de animais de pequeno porte. Visa proteger os meios de vida e a cultura dessas 
populações, assegurando o uso sustentável dos recursos naturais da unidade. As 
populações, que vivem nessas unidades, possuem contrato de concessão de direito 
real de uso, tendo em vista que a área é de domínio público. A visitação pública 
é permitida, desde que compatível com os interesses locais e com o disposto no 
plano de manejo da unidade. A pesquisa é permitida e incentivada.
Reserva de Fauna
Área natural com populações de animais de espécies nativas, terrestres e 
aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas para estudos técnico-científicos a 
respeito do manejo econômico sustentável dos recursos faunísticos. A visitação 
pública é permitida, desde que compatível com o manejo da unidade. É proibida na 
área a prática da caça amadorística ou profissional. Mas pode haver comercialização 
dos produtos e subprodutos resultantes das pesquisas, desde que obedeçam o 
disposto na legislação brasileira sobre a fauna. O Instituto Chico Mendes ainda não 
criou nenhuma Unidade de Conservação desta categoria.
Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Área natural que abriga populações tradicionais, que vivem basicamente em 
sistemas sustentáveis de exploração dos recursos naturais, desenvolvidos ao longo 
de gerações e adaptados às condições ecológicas locais. Esta categoria desempenha 
papel fundamental na proteção da natureza, bem como na manutenção da 
diversidade biológica. Tal uso é regido, como nas Reservas Extrativistas, por 
contrato de concessão de direito real de uso, uma vez que a área da RDS é de 
domínio público.
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Reserva Particular do Patrimônio Natural
São UCs instituídas em áreas privadas, gravadas com perpetuidade, com 
o objetivo de conservar a diversidade biológica ali existente. Com isso, tem-se 
o engajamento do cidadão na proteção dos ecossistemas brasileiros, dando-
lhe incentivo à sua criação, como isenção de impostos. Uso sustentável aqui se 
subentende a realização de pesquisa científica e de visitação pública com finalidade 
turística, recreativa e educacional.
A categorização realizada pelo SNUC visa, de forma geral, a disciplinar o uso 
das Unidades de Conservação.
Mas, conforme questiona Albagli (1998), preservar para que? Preservar para quem?
Vamos discutir estas questões com um pouco mais de profundidade.
A Geopolítica da biodiversidade
De acordo com a Convenção sobre Diversidade Biológica, biodiversidade ou 
diversidade biológica é “a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, 
compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros 
ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos que fazem parte; compreendendo 
ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies de ecossistemas”.
Importante!
A Convenção sobre Diversidade Biológica é um tratado da Organização das Nações 
Unidas e um dos mais importantes instrumentos internacionais relacionados ao meio 
ambiente. A Convenção foi estabelecida durante a ECO-92 – a Conferência das Nações 
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), realizada no Rio de Janeiro 
em junho de 1992.
Trocando ideias...
A questão da biodiversidade e a necessidade de sua preservação ganhou 
um grande impulso a partir dos anos 1980, e especialmente anos 1990, após 
a realização da ECO-92, por conta de seu caráter estratégico, dos avanços da 
biotecnologia e da questão estratégica que desempenha na geopolítica mundial.
Por causa das novas formas de olhar para as áreas de biodiversidade em sua 
relação com as populações que as ocupam (e que delas dependem para sobreviver 
a centenas de anos) criou-se o termo sociobiodiversidade. Na atualidade, tem sido 
reconhecido o conhecimento que as populações nativas (locais, tradicionais) têm 
em termos de identificação de elementos da fauna e da flora e muitas de suas 
características e do papel que desempenham na conservação e no uso sustentável 
da diversidade biológica das florestas, mas, até agora, poucos benefícios têm 
resultado para as mesmas.
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UNIDADE Relação Sociedade Moderna e Natureza
Conforme Albagli (1998), vários usos têm sido dados à biodiversidade enquanto 
recurso, ao longo da história, principalmente na alimentação e agricultura e na 
saúde humana.
Em termos de agricultura e de alimentação, os seres humanos começaram 
sua jornada há, pelo menos, 6.000 anos, quando se tem registro das primeiras 
tentativas de domesticação de plantas e animais em algumas áreas do globo. 
Muitas das plantas que utilizamos em nossa alimentação resultaram de um longo 
processo de experimentação de cruzamento de diversas espécies tanto animais, 
quanto vegetais. O emprego da tecnologia na pesquisa e na experimentação é 
muito antigo (biotecnologia tradicional). Os processos que foram se tornando mais 
rápidos em função de novas tecnologias desenvolvidas (biotecnologia moderna).
Embora a variedade de espécies vegetais existentes no planetaseja da casa de 
milhões, utilizamos em nossa alimentação cotidiana menos de 20 espécies, sendo 
que as mais consumidas são o trigo, o milho, o arroz e a batata.
Em termos de saúde humana praticamente todos os remédios utilizados desde 
os primórdios da humanidade têm sua origem associada a plantas, animais ou 
microrganismos. Embora as grandes indústrias farmacêuticas dominem este 
segmento, em inúmeras áreas do planeta a população recorre a medicamentos 
tradicionais (grande parte de origem vegetal), o que pode ser designado, em muitos 
locais, como medicamentos “alternativos”.
A biodiversidade apresenta outro campo importante relativo ao seu uso 
econômico: o turismo e o lazer. O Ecoturismo tem se expandido no Brasil e no 
mundo, o que significa a importância econômica que esta atividade tem apresentado.
A medicina genética tem se ampliado significativamente ano após ano, assim 
como os segmentos químico e farmacêutico (a ela relacionado).
Atualmente, somente um pequeno grupo de empresas multinacionais dominam 
este segmento e os lucros que estas obtêm com a venda de medicamentos é imensa.
Além da aplicação nas indústrias farmacêuticas, o desenvolvimento da 
biotecnologia moderna (que emprega milhões em pesquisas e em desenvolvimento 
de produtos) está presente na agroquímica e na produção de sementes.
De acordo com um mapeamento realizado pelo Banco Mundial (em 1992), 
são apenas alguns países (no citado mapeamento constavam 12 países, somente) 
detentores de megadiversidade (México, Colômbia, Equador, Peru, Brasil, Congo, 
Madagascar, Índia, Bangladesh, China, Indonésia e Austrália). Com exceção da 
Austrália, os demais países, por conta de sua situação econômica, não investem 
grandes somas de dinheiro, em desenvolvimento de centros de pesquisas e a 
verba destinada a isso, mesmo nas universidades que mantêm centros de estudos 
e pesquisa não é suficiente para que estes países façam uso satisfatório de sua 
biodiversidade para esta finalidade.
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Assim, quem realiza a pesquisa com a biodiversidade existente neste grupo de 
países? Onde se localizam os grandes centros de desenvolvimento e de pesquisa 
com a biodiversidade visando a obter retorno econômico? Onde estão localizadas 
as grandes empresas que desenvolvem produtos com base na biotecnologia.
Em relação ao desenvolvimento e à aplicação da tecnologia transgênica, com 
exceção da nacional Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), todos 
os cultivos liberados até hoje no Brasil utilizam a tecnologia e os defensivos agrícolas 
produzidos pelas seis grandes empresas transnacionais que também lideram o setor 
em nível global (em 2009): Monsanto (Estados Unidos), Syngenta (Suíça), Dupont 
(Estados Unidos), Basf (Alemanha), Bayer (Alemanha) e Dow (Estados Unidos).
Em relação às grandes empresas farmacêuticas (e de produtos para a saúde 
em geral) as seis maiores no mercado são (em 2009): Pfizer (Estados Unidos), 
Merck (Estados Unidos), Roche (Suíça), Novartis (Suíça), Sanofi-Aventis (França) 
e GlaxoSmithKline (Grã-Bretanha), o que confirma a localização geográfica dos 
centros de pesquisa e de produção com base na biodiversidade.
Mesmo que decorridos alguns anos, a posição das indústrias tenha se modificado 
no ranking apresentado, o que precisamos observar (fato que não se alterou) é o 
local de origem destas empresas. Perceba que estas empresas estão localizadas, 
basicamente, na América do Norte (exceto no México) e Europa. Embora existam 
diversas empresas de biotecnologia em diversos ramos, em vários países do mundo, 
se trata de empresas pequenas e o que queremos discutir é a importância e a 
relação dos grandes grupos que desenvolvem e aplicam biotecnologia no mundo.
Vejamos: a biodiversidade e a tecnologia se localizam no mesmo lugar? A 
resposta, depois do que apontamos, é: não.
Vamos voltar à questão inicial de nossa discussão: preservar para que e para quem?
Com base no que foi apresentado, é inegável o interesse que as grandes 
multinacionais de biotecnologia têm na preservação da biodiversidade do planeta, 
pois a existência desta garantirá os grandes lucros que estas empresas obterão 
vendendo seus produtos.
Embora seja indiscutível a importância da diversidade animal e vegetal para a 
permanência da (nossa) vida neste planeta, é igualmente inquestionável o interesse 
que os grandes grupos de biotecnologia têm na preservação da biodiversidade, pois 
desta depende, também, sua existência no mercado (especialmente na descoberta/
produção de novos medicamentos, cosméticos entre outros).
Outra questão importante e que merece nossa atenção são as sementes modifi-
cadas em laboratórios. Tanto as sementes híbridas (aquelas que não se reproduzem) 
quanto os transgênicos (baseados em pagamento de royalties) são decorrência 
da revolução biotecnológica e apresentam aspectos negativos para os pequenos 
produtores rurais. Segundo Shiva (2001), a revolução biotecnológica rouba da 
semente sua fertilidade e capacidade auto-regenerativa, colonizando-a de duas 
maneiras principais: por meios técnicos e pelos direitos de propriedade (royalties).
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UNIDADE Relação Sociedade Moderna e Natureza
Em relação aos meios técnicos ocorre a hibridização, o que faz com que a semente 
não se reproduza. Isso obriga o produtor a comprar novas sementes toda vez que 
quiser iniciar um novo plantio. Isso para os pequenos produtores rurais e para as 
comunidades tradicionais inviabiliza, muitas vezes, a produção, pois nem sempre 
essa parcela da população dispõe de condições financeiras para efetuar tal compra.
Relativo aos direitos de propriedade, as sementes transgênicas são 
comercializadas a partir de assinaturas de contratos que garantem à empresa 
um valor a ser pago por quem adquire as sementes. Para cada novo plantio, o 
produtor rural deve assinar novo contrato e pagar pelos direitos de propriedade 
(royalties) pela utilização da semente.
Além da semente, o produtor acaba sendo obrigado a adquirir outros produtos 
(como fertilizantes, pesticidas, herbicidas) compatíveis com a semente adquirida, 
ficando assim atrelado à empresa para desenvolver seu plantio.
Os pequenos produtores, geralmente, não tem como arcar com as despesas 
necessárias para desenvolver uma produção transgênica e em muitas localidades 
do Brasil, o processo de concentração fundiária continua se intensificando, com o 
consequente êxodo rural.
Quando o acesso à biodiversidade, para diversos fins, não ocorre dentro das 
normas e das leis, ocorre a chamada biopirataria.
Biopirataria
Em termos gerais, a biopirataria consiste no ato de aceder a ou transferir 
recurso genético (animal ou vegetal) ou conhecimento tradicional associado à 
biodiversidade, sem a expressa autorização do Estado de onde fora extraído o 
recurso ou da comunidade tradicional que desenvolveu e manteve determinado 
conhecimento ao longo dos tempos. Podemos considerar ainda que a biopirataria 
pode ser conceituada como a exploração, a manipulação, a exportação de recursos 
biológicos, com fins comerciais, em contrariedade às normas da Convenção sobre 
Diversidade Biológica, de 1992.
A biopirataria está intrinsecamente ligada à ideia de contrabando de espécimes 
da flora e da fauna com apropriação de seus princípios ativos e monopolização 
desse conhecimento, por meio do sistema de patentes (registros de propriedade).
A biopirataria não é algo recente na história de nosso país (e em outros detentores 
de megabiodiversidade). Muito da nossa fauna, da flora e do conhecimento que 
detêm as comunidades tradicionais foi transferido para outras partes do mundo e 
patenteado por universidades, por laboratórios e pelas empresas que as utilizam 
em suas pesquisas e na produção industrial.
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Qual o problema disso tudo?
A biopirataria e o não investimento em pesquisas nos países detentores de 
megabiodiversidade retira deste país a possibilidade de utilização de determinada 
forma de vida em benefício das comunidades que ali vivem. Ao não investir em 
pesquisa e em desenvolvimentolocal, e não fiscalizar de forma adequada esses 
mananciais de vida, os países megadiversos estão sujeitos à pilhagem da natureza 
que temos assistido há muito tempo.
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UNIDADE Relação Sociedade Moderna e Natureza
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Vídeos
Novo Código Florestal
O vídeo aponta de que forma diversos segmentos da sociedade se posicionam sobre o Novo Código Florestal.
https://youtu.be/6uNzHUGbYSM
O que são Unidades de Conservação
Assista ao vídeo, para aprofundamento do seu conhecimento sobre Unidades de Conservação e retome a 
discussão realizada no material didático da Unidade, sobre os interesses que estão em jogo na criação das áreas 
protegidas no Brasil.
https://youtu.be/oeRJmHfcuAY
 Leitura
O Controle e a Repressão da Biopirataria no Brasil. 
O texto trata da questão da biopirataria desde os primórdios do Brasil e o que tem sido feito para reprimi-la.
http://goo.gl/mgrGNr
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Referências
ALBAGLI, S. Geopolítica da Biodiversidade. Brasília: Edições IBAMA, 1998. 
P.59-111.
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Sistema Nacional de Unidades Conservação 
– SNUC. Disponível em: http://www.mma.gov.br/areas-protegidas/sistema-
nacional-de-ucs-snuc . Acesso em 19/03/2016.
________. ICMBio - Instituto Chico Mendes. Categorias de Unidades de 
Conservação. Disponível em http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/
unidades-de-conservacao/categorias.html. Acesso em 22/04/16.
SANTOS, K. M. P.dos; TATTO, N.. Agenda socioambiental de comunidades 
quilombolas do Vale do Ribeira. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2008. 
SCHENINI, P. C.; COSTA, A. M.; CASARIN, V. W. Unidades de Conservação: 
Aspectos Históricos e sua Evolução COBRAC 2004. In: Congresso Brasileiro 
de Cadastro Técnico Multifinalitário. UFSC-Florianópolis, 10 a 14 de 
Outubro 2004, p.1-7.
SHIVA, V. Biopirataria – a pilhagem da natureza e do conhecimento. Petrópolis: 
Vozes, 2001.
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