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Direito Administrativo Aplicado

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Direito Administrativo Aplicado
CONTEÚDO:
ORDEM EM QUE OS CONTEÚDOS SERÃO MINISTRADOS:
· DOMÍNIO PÚBLICO e BENS PÚBLICOS
· INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE PRIVADA
· SERVIÇOS PÚBLICOS
· RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
· LICITAÇÕES
· CONTRATOS ADMINISTRATIVOS
· PROCESSO ADMINISTRATIVO
1. Domínio Público e Bens Públicos.
A noção de bens Domínio Público apresenta-se em dois sentidos diferenciados para a tradicional doutrina do Direito Administrativo. 
- SENTIDO AMPLO: considera-se DOMÍNIO PÚBLICO o poder exercido pelo Estado – no caso do Poder Público- sobre todos os bens pertencentes ao seu território, sejam estes públicos ou privados. Trata-se, portanto, de uma situação de soberania, exercida pelo Estado brasileiro sobre os bens inerentes a seu território. 
- SENTIDO ESTRITO: considera-se DOMÍNIO PÚBLICO o poder exercido (titularidade ou dominação) pelo Estado – no caso também o Poder Público- sobre os denominados BENS PÚBLICOS, que correspondem a BENS QUE SE SUBMETEM AO REGIME JURÍDICO PÚBLICO. 
· Mas, afinal, o que são Bens Públicos? 
Para grande parte da doutrina jurídico-administrativa tradicional, consideram-se BENS PÚBLICOS aqueles que estão inseridos no Direito como Bens de Pessoas Jurídicas de Direito Público, ou seja, que PERTENCEM ao Regime Jurídico Público (repleto de Garantias e Prerrogativas). 
Conforme alguns doutrinadores, como CELSO ANTONIO BANDEIRA DE MELLO, os BENS PÚBLICOS podem ser assim conceituados como aqueles que estão AFETADOS para sua UTILIZAÇÃO EM SERVIÇOS PÚBLICOS ou SUA PRESTAÇÃO. 	Comment by User: Ato pelo qual um bem móvel ou imóvel passa, por deliberação da Administração Pública, a ter uma finalidade pública, como, por exemplo, o prédio público onde funciona um hospital da prefeitura, que é um bem afetado à prestação desse serviço. Nessa linha, Alexandre Mazza cita os ensinamentos de José dos Santos Carvalho Filho: “afetação é o fato administrativo pelo qual se atribui ao bem público uma destinação pública especial de interesse direto ou indireto da Administração”.
São todos os bens que pertencem à Pessoa Jurídica de Direito Público OU que, embora não pertencendo a tais entes, estejam afetados (destinados) à prestação de serviço público.
 
Porém, para outros doutrinadores, a conceituação válida para BENS PÚBLICOS será aquela EXPRESSAMENTE prevista pelo artigo 98 do CC, que assim estabelece:
 Art. 98. São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem.
Nesse caso, o critério utilizado pelo CC foi o da TITULARIDADE, ou seja, se os bens pertencerem às pessoas jurídicas de direito público interno serão considerados bens públicos. Todos os demais casos, não serão bens públicos, mas PARTICULARES (Ex.: bens das Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista). Teoria defendida por José dos Santos Carvalho Filho.
OBS: Para fins de concurso, deve se atentar para o texto da questão. O mesmo valerá para fins de EXAME DE ORDEM UNIFICADO DA OAB. Se a questão solicitar a disposição do CC, a teoria da Titularidade será utilizada. Se ela nada tratar, também será TITULARIDADE. Mas em sendo uma prova subjetiva, sugere-se a menção à teoria das prerrogativas/afetação dos bens públicos. 
Há de se ressaltar, entretanto, que defende parte MARJOTÁRIA da jurisprudência dos Tribunais Superiores, que, mesmo se utilizando o critério da TITULARIDADE, caso um bem PARTICULAR esteja AFETADO para fins públicos (serviço público ou sua prestação; fins de interesse e segurança nacional, entre outros), o bem PERMANECERÁ PRIVADO/PARTICULAR, mas alcançará NATUREZA JURÍDICA PRIVADA COM PRERROGATIVAS PÚBLICAS (NATUREZA JURÍDICA HÍBRIDA, MAS COM ENFOQUE PRIVADO).
Ex: STJ, Resp. 1.070.735/RS, de 2008, em que se debateu a possibilidade de penhora de bens pertencentes a uma Empresa Pública. Decidiu o STJ pela impossibilidade de penhora em decorrência da afetação do bem. 
1.2. Para se determinarem REGRAS acerca dos BENS PÚBLICOS, deve-se tomar como referência que a COMPETÊNCIA PARA LEGISLAR sobre esses bens pertence à UNIÃO. Conforme o art. 22, inciso I da CR/88, a união detém de competência para legislar sobre o Código Civil, e os bens, ainda que públicos são considerados como bens comuns, encaixar-se-ão nessas disposições. 
Porém, os demais entes federativos (Estados, DF e Municípios) também poderão legislar sobre BENS PÚBLICOS, apenas a nível SUMPLEMENTAR E NÃO GERAL. 
Ex: leis que tratam sobre ocupação de bens públicos; sobre utilização dos bens; alienação.
1.3. CLASSIFICAÇÃO DOS BENS PÚBLICOS.
A doutrina costuma classificar os bens públicos a títulos de sistematização e didática, mas, principalmente para determinar diferenciações nas regras aplicadas a cada tipo de classificação. 
Geralmente, os bens públicos se classificam em dois critérios (que são os MESMOS dos usados para conceituação):
a) AFETAÇÃO/DESTINAÇÃO (art. 99 do CC)Art. 99. São bens públicos:
I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças;
II - os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de suas autarquias;
III - os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades.
Parágrafo único. Não dispondo a lei em contrário, consideram-se dominicais os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de direito privado.
São considerados e classificados os bens, a partir de três CLASSIFICAÇÕES PELA AFETAÇÃO:
- BENS DE USO COMUM DO POVO: são aqueles bens que podem ser utilizados livremente por todos, de forma gratuita e normal. No caso, são os bens de livre acesso, e que geralmente são associados, no cotidiano, como bens públicos gerais. 
Ex: praças, lagoas, jardins, praias.
Obs.: Entretanto, é possível que a UTILIZAÇÃO GERAL do bem possa ser modificada a depender do tipo de UTILIZAÇÃO ESPECÍFICA ou TEMPORÁRIA que se quer imprimir. Assim, mediante a cobrança de TAXAS (tributo em que, conf. art. 77 do CTN, cobra-se pela prestação de serviço público divisível específico ou pela prestação de poder de polícia administrativa. É um dos tributos VINCULADOS a um fato gerador do Estado), para que o bem possa ser utilizado por particulares de maneira restritiva. Ex.: um aniversário feito em uma praça pública; uma reunião de associação feita em um imóvel público; uma competição esportiva privada em uma lagoa da cidade. 
- Bens de USO ESPECIAL: são aqueles bens que podem ser utilizados apenas para FINS ESPECIAIS ou para SITUAÇÕES TEMPORÁRIAS ESPECÍFICAS, mas de RELEVANTE INTERESSE PÚBLICO E PARA A COLETIVIDADE. No caso, cite-se como exemplo: bens utilizados para a prestação de serviços públicos; bens conservados pelo Poder Público para utilização ou finalidade pública; uma escola pública, que ministre aulas em salas de aula ou pratique esportes em quadras. 
- Bens DOMINICAIS ou DOMINIAIS (utilizado por José dos Santos Carvalho Filho): são bens que apresentam titularidade pública, mas são DESAFETADOS a uma finalidade pública ou para uma destinação específica para interesse público ou da coletividade. Ex: um prédio desativado da Prefeitura no Centro de Fortaleza; uma escola pública que encerrou suas atividades ou mudou de espaço.
B) TITULARIDADE
O critério da TITULARIDADE condiciona a classificação do bens a depender do ENTE FEDERATIVO que possuirá sua titularidade ou domínio. No caso, divide-se em:
> FEDERAIS ou DA UNIÃO (Federal/Nacional) 
> ESTADUAIS ou DOS ESTADOS-MEMBROS (Regional) 
> MUNICIPAIS ou DOS MUNICÍPIOS (Local) 
> DISTRITAIS ou DO DISTRITO FEDERAL (DF) 
Essa classificação, por sua vez, coaduna-se com o art. 20 da CR/88, que trata dos BENS PÚBLICOS DA UNIÃO:
Art. 20. São bens da União: 
I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos; 
Acerca desse inciso, deve-se determinar que ocritério utilizado pelo texto constitucional já foi o da TITULARIDADE, o que foi confirmado posteriormente pelo Código Civil de 2002. Portanto, em teoria, pertencem à União todo e qualquer bem que lhe for atribuído (nível FEDERAL/NACIONAL). 
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei; 
As terras devolutas são aquelas que NÃO APRESENTAM QUALQUER TITULARIDADE ou DESTINAÇÃO ESPECÍFICA, mas que, por alguma razão, podem ser consideradas ESSENCIAIS. Ex.: um terreno sem titular (sem qualquer domínio) que faz fronteira com outro país; um terreno sem titular mas que pertence a uma RESERVA INDÍGENA. 
Obs1: Em se tratando de TERRAS DEVOLUTAS INDÍGENAS, há legislação específica nesse sentido (Lei de nº. 6.383/1976), que trata sobre suas disposições. A Lei prevê uma Ação Discriminatória para separação e para limitação das terras devolutas, quando não for possível fazê-lo de forma administrativa. 
Obs2: Conforme disposição da Lei de nº. 6.634/1979, consideram-se FAIXAS DE FRONTEIRA aquelas consideradas indispensáveis à Segurança Nacional, mediante faixa interna de 150 Km (cento e cinquenta quilômetros) de largura, paralela à linha divisória terrestre do território nacional. No caso, NÃO SÃO NECESSARIAMENTE BENS PÚBLICOS, mas adquirem esse caráter enquanto utilizadas para a garantia da Segurança Nacional, sejam públicas ou privadas. 
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais; 
Trata-se de medida excepcional. Em teoria, pertencem aos estados-membros e ao DF, mas, nos termos acima, serão da União. 
 
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II;         (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 2005) 
Essa disposição correlaciona-se com o art. 25 do Código das Águas, que estabelece como BENS DOMINICAIS os mencionados, SALVO se estiverem AFETADOS pelas razões acima. 
 
V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva; 
A PLATAFORMA CONTINENTAL e a ZONA ECONÔMICA EXCLUSIVA (ZEE) não pertencem à União, mas apenas os RECURSOS NATURAIS dispostos ali, conforme menciona expressamente o dispositivo. 
 
O conceito de PLATAFORMA CONTINENTAL está disposto na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, o qual defende, em seu art. 76, par. 1: "A plataforma continental de um Estado costeiro compreende o leito e o subsolo das áreas submarinas que se estendem além do seu mar territorial, em toda a extensão do prolongamento natural do seu território terrestre, até ao bordo exterior da margem continental, ou até uma distância de 200 milhas marítimas das linhas de base a partir dos quais se mede a largura do mar territorial, nos casos em que o bordo exterior da margem mcontinental não atinja essa distância". 
 
No caso brasileiro, tanto o conceito de Plataforma Continental quanto o de Zona Econômica Exclusiva (ZEE) encontram-se dispostos na Lei de nº. 8.617/1996: 
Art. 6º A zona econômica exclusiva brasileira compreende uma faixa que se estende das doze às duzentas milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que servem para medir a largura do mar territorial. 
Art. 7º Na zona econômica exclusiva, o Brasil tem direitos de soberania para fins de exploração e aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais, vivos ou não-vivos, das águas sobrejacentes ao leito do mar, do leito do mar e seu subsolo, e no que se refere a outras atividades com vistas à exploração e ao aproveitamento da zona para fins econômicos. 
Art. 11. A plataforma continental do Brasil compreende o leito e o subsolo das áreas submarinas que se estendem além do seu mar territorial, em toda a extensão do prolongamento natural de seu território terrestre, até o bordo exterior da margem continental, ou até uma distância de duzentas milhas marítimas das linhas de base, a partir das quais se mede a largura do mar territorial, nos casos em que o bordo exterior da margem continental não atinja essa distância. 
Parágrafo único. O limite exterior da plataforma continental será fixado de conformidade com os critérios estabelecidos no art. 76 da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, celebrada em Montego Bay, em 10 de dezembro de 1982. 
Art. 12. O Brasil exerce direitos de soberania sobre a plataforma continental, para efeitos de exploração dos recursos naturais. 
   
O esquema abaixo é exemplificativo e ilustrativo de ambos os institutos: 
VI - o mar territorial; 
O mar territorial encontra sua definição também na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, e corresponde a uma faixa de mar adjacente com dimensão de até 12 milhas marítimas, contadas da linha de base, conforme a imagem retromencionada. 
 
No caso brasileiro, também encontra previsão na Lei de nº. 8.617/1996: 
Art. 1º O mar territorial brasileiro compreende uma faixa de doze milhas marítima de largura, medidas a partir da linha de baixa-mar do litoral continental e insular, tal como indicada nas cartas náuticas de grande escala, reconhecidas oficialmente no Brasil. 
Parágrafo único. Nos locais em que a costa apresente recorte profundos e reentrâncias ou em que exista uma franja de ilhas ao longo da costa na sua proximidade imediata, será adotado o método das linhas de base retas, ligando pontos apropriados, para o traçado da linha de base, a partir da qual será medida a extensão do mar territorial. 
Art. 2º A soberania do Brasil estende-se ao mar territorial, ao espaço aéreo sobrejacente, bem como ao seu leito e subsolo. 
 
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos; 
Os terrenos de marinha são aqueles que, conforme disposição do Decreto-Lei de nº. 9.760/1946, encontram-se situados em uma profundida de 33 (trinta e três) metros, medidos HORIZONTALMENTE, para a parte da terra, da posição da linha da PREAMAR-MÉDIO de 1831. Portanto, TODAS as terras costeiras dentro desta faixa de terra de 33 metros ostentam essa qualidade e, assim, são pertencentes à União. 
 
Os terrenos acrescidos, por sua vez, são aqueles que o Decreto-Lei de nº. 9.760/1946 define como os formados de forma NATURAL ou ARTIFICIAL em seguimento aos terrenos de marinha. Assim, era possível a utilização desses bens por particulares, mediante ENFITEUSE, firmada entre o Poder Público e o particular, que transfere ao cidadão a qualidade de ENFITEUTA e o DOMÍNIO ÚTIL sobre o bem. Como a enfiteuse foi revogada pelo Código Civil de 2002 para efeios "ex nunc", o instituto não pode mais ser utilizado para a criação de novos domínios por particulares, mas os já existentes permanecem com seus efeitos, até a eventual extinção. 
 
Existem diversas previsões legislativas de modificação dessas disposições acerca dos terrenos de marinha, principalmente a nível de Câmara dos Deputados, mas nenhuma restou aprovada em lei definitiva. 
VIII - os potenciais de energia hidráulica; 
Mesmo que estejam localizados em RIOS ESTADUAIS, os bens potenciais de utilização de energia elétrica pertencem à União. 
 
Os pontos potenciais de energia elétrica podem ser conceituados como uma manifestação de energia natural, produzida pelo deslocamento física de massas de água, que comporta a transformação em energia elétrica por intermédio da utilização de equipamentos especializados e adequados. No aspecto do meio ambiente, o potencial de energia elétrica é indissociável da existência das águas. Mas, para o âmbito jurídico, o potencial não se confunde com a massa de água propriamente dita.
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo; 
AS MINAS e as JAZIDAS são bens pertencentesà União, e não ao proprietário do solo (ainda que ente público). Assim, conforme dispõe o art. 176 da CRFB/88, as JAZIDAS, EM LAVRA OU NÃO, E DEMAIS RECURSOS NATURAIS MINERAIS SÃO PROPRIEDADE S DISTINTAS DA DO SOLO PARA EFEITO DE EXPLORAÇÃO OU APROVEITAMENTO: 
 
Ressalte-se que permanece em vigência o art. 11 do Decreto de nº. 1.985/1940 (Código de Minas), que trata dos direitos do proprietário do solo: 
 
Art. 11. Serão respeitados na aplicação dos regimes de Autorização, Licenciamento e Concessão: (Redação dada pela Lei nº 6.403, de 1976) 
a) o direito de prioridade à obtenção da autorização de pesquisa ou de registro de licença, atribuído ao interessado cujo requerimento tenha por objeto área considerada livre, para a finalidade pretendida, à data da protocolização do pedido no Departamento Nacional da Produção Mineral (D.N.P.M), atendidos os demais requisitos cabíveis, estabelecidos neste Código; e (Redação dada pela Lei nº 6.403, de 1976) 
b) o direito à participação do proprietário do solo nos resultados da lavra. (Redação dada pela Lei nº 8.901, de 1994) 
§ 1º A participação de que trata a alínea b do caput deste artigo será de cinqüenta por cento do valor total devido aos Estados, Distrito Federal, Municípios e órgãos da administração direta da União, a título de compensação financeira pela exploração de recursos minerais, conforme previsto no caput do art. 6º da Lei nº 7.990, de 29/12/89 e no art. 2º da Lei nº 8.001, de 13/03/90. (Incluído pela Lei nº 8.901, de 1994) 
 § 2º O pagamento da participação do proprietário do solo nos resultados da lavra de recursos minerais será efetuado mensalmente, até o último dia útil do mês subseqüente ao do fato gerador, devidamente corrigido pela taxa de juros de referência, ou outro parâmetro que venha a sustituí-la. (Incluído pela Lei nº 8.901, de 1994) 
§ 3º O não cumprimento do prazo estabelecido no parágrafo anterior implicará correção do débito pela variação diária da taxa de juros de referência, ou outro parâmetro que venha a substituí-la, juros de mora de um por cento ao mês e multa de dez por cento aplicada sobre o montante apurado. (Incluído pela Lei nº 8.901, de 1994) 
  
X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos; 
A conceituação de CAVIDADES NATURAIS SUBTERRÂNEAS, bem como o de SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS, encontram-se dispostos na Lei de nº. 3.924/1961. 
 
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. 
No caso das terras destinadas aos indígenas, as quais lhes cabem usufruir do espaço, das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nela existentes, são CONSIDERADOS BENS DE USO ESPECIAL, e deve-se aplicar o art. 231, §2º da CRFB/88: 
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. 
§ 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições. 
§ 2º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes. 
 
Além das disposições previstas no art. 20, XI c/c art. 231, §§ 1º e 2º da CRFB/88, pertencem à União, por força de decisões jurisprudenciais acerca dos indígenas: 
> Súmula de nº. 480 do STF: "pertencem ao domínio e administração da União, nos termos dos arts. 4º, IV e 186 da CF/67, as terras ocupadas por silvícolas". 
Os silvícolas a quem se refere o dispositivo são os indígenas, nos termos do Estatuto do Índio (Lei 6.001/1973). 
> Súmula de nº. 650 do STF: "os incisos I e IX do art. 20 da CF não alcançam terras de aldeamentos extintos, ainda que ocupadas por indígenas de passado remoto". 
 
Para a determinação dos BENS PÚBLICOS pertencentes aos ESTADOS-MEMBROS e ao DISTRITO FEDERAL, deve-se consultar o art. 26 da CRFB/88, que diz: 
Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados: 
I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União; 
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob domínio da União, Municípios ou terceiros; 
III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União; 
IV - as terras devolutas não compreendidas entre as da União. 
 
Obs.: Os bens públicos MUNICIPAIS não encontram previsão normativa expressa na CRFB/88. Assim, entendem-se como MUNICIPAIS os bens que "sobrarem" das disposições acima. É o que ocorre, por exemplo, com praças, lagos, entre outros, sem vinculação ou titularidade expressa com a União e os Estados-membros e DF. 
 
1.4 AFETAÇÃO e DESAFETAÇÃO DE BENS 
O caráter de AFETADO ou DESAFETADO a bens públicos pode ser modificado pelo Poder Público, conforme disposições previstas em lei. 
Para alguns autores, como DIÓGENES GASPARINI a AFETAÇÃO pode ser chamada de CONSAGRAÇÃO, e a DESAFETAÇÃO de DESCONSAGRAÇÃO. 
Os processos funcionam da seguinte forma: 
> AFETAÇÃO: a posição majoritária da doutrina considera que ocorrerá de forma LIVRE, ou seja, BASTA QUE O PODER PÚBLICO UTILIZE O BEM PARA QUE POSSA VIR A SER CONSIDERADO AFETADO. 
O principal efeito da AFETAÇÃO é transformar o bem público em INALIENÁVEL (não poderá ser transferido, vendido ou desfeito enquanto perdurar a finalidade pública). 
> DESAFETAÇÃO: a posição doutrinária é DIVERGENTE. Mas, todos concordam que DEPENDERÁ DE LEI ou ATO ESPECÍFICO PREVISTO EM LEI para que possa acontecer (em decorrência do Interesse Público e da Coletividade). 	Comment by User: Obs.: Para alguns autores, que representam POSIÇÃO MINORITÁRIA, como José dos Santos Carvalho Filho e Maria Sylvia Zanella Di Pietro, sempre que o bem MUDAR DE DESTINAÇÃO (de uma afetação para a outra), terá ocorrido o seguinte: AFETAÇÃO 1 -> DESAFETOU -> AFETAÇÃO 2. Mas essa posição é minoritária, e seguida por poucos autores. Para fins de concurso público e OAB, atenção para a posição adotada pela banca examinadora. 
Para bens de USO COMUM DO POVO, é possível desafetá-los por LEI ou ATO ADMINISTRATIVO PREVIAMENTE AUTORIZADO EM LEI; 
Para bens de USO ESPECIAL, é possível desafetá-los por LEI, ATO ADMINISTRATIVO PREVIAMENTE AUTORIZADO EM LEI ou POR FORÇA DA NATUREZA (Ex.: incêndio em uma escola que inviabilizou sua utilização). 
INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE PRIVADA
Apesar das disposições previstas no art. 1.231 do CC que estabelecerem que a PROPRIEDADE, enquanto direito fundamental individual, bem como princípio da ordem econômica, será exercida de forma PLENA, EXCLUSIVA e ABSOLUTA, existem situações em que o Estado necessitará ou utilizará do seu Poder de Império para realizar INTERVENÇÕES NA PROPRIEDADE PRIVADA. 
Uma propriedade PLENA é aquela em que o particular poderá exercer o direito de propriedade com TODOS os poderes dela inerentes. Uso, gozo/fruição, direito de sequela, entre outros.	Comment by User:  é o “direito de reaver a coisa” do art. 1228. É o direito de reivindicar coisa de quem quer que injustamente a detenha. ... É um poder do titular do direito real de seguir a cosia para recuperá-la de quem injustamente a possua.
Enquanto a EXCLUSIVA indica que a propriedade será de exclusividade para com aquele que a REGISTRAR nos órgãos oficiais de registro de imóveis (Serventes de Registro de Imóveis – cartórios de Registro de Imóveis). A exclusividade, por sua vez, indica que a propriedade poderá ser oponível erga omnes. 	Comment by User: A oponibilidade Erga Omnes, de modo objetivo, significa que uma pessoa titular de direito real sobre uma coisa, é livre para exercer seu poder sobre esta, cabendo a todos os demais, o dever de respeitar o exercício de tal direito.Que se consegue opor a; que é contrário aalgo ou alguém.
Finalmente, a propriedade será ABSOLUTA quando o indivíduo poderá defende-la e mantê-la sob suas condições, salvo nas restrições previstas em lei 
Ainda que a propriedade alcance esse reconhecimento, existem situações de interesse público e da coletividade, que ensejam uma medida interventiva, que pode se dar de duas FORMAS diferentes:
· INTERVENÇÃO SUPRESSIVA: que o Estado irá transferir para si a propriedade de terceiro, suprimindo o direito de propriedade anteriormente reconhecido. Nesses casos, o direito de propriedade do particular será SUPRIMIDO em face da necessidade pública, com a devida compensação/indenização ou, excepcionalmente, sem qualquer pagamento, nos casos previstos em lei. Ex.: Desapropriação.
· INTERVENÇÃO RESTRITIVA: o Estado impõe restrições e condicionamentos ao uso da propriedade, sem, contudo, retirar o direito de propriedade do particular. Nesse caso, ainda que o particular conserve seu direito de propriedade, não poderá mais exercê-lo de forma PLENA, restando a utilização do bem limitada às sujeições imposta pelo Estado, para fim de garantir a necessidade pública e coletiva. Ex.: limitações administrativas, servidões administrativas, requisições administrativas, ocupação temporária e o tombamento. 
- INTERVENÇÃO SUPRESSIVA
1. Desapropriação 
Trata-se de um procedimento por intermédio do qual o Estado determinará a RETIRADA de um bem privado do seu proprietário, para que esse faça parte do patrimônio público, geralmente respaldado em NECESSIDADES COLETIVAS, e mediante pagamento de INDENIZAÇÃO, PRÉVIA, JUSTA e preferencialmente em DINHEIRO ao proprietário. 
Obs1: A desapropriação é uma das FORMAS ORIGINÁRIAS DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE, e, nesse aspecto, uma vez que o bem seja RETIRADO do particular, e ENTRE na esfera patrimonial do Estado, estará LIVRE DE QUAISQUER ÔNUS DE NATUREZA REAL, uma vez que, se não há negócio jurídico anterior, e se trata de uma forma originária, o bem ficará totalmente livre. 	Comment by User: Ônus Reais são obrigações que limitam o uso e o gozo da propriedade, constituindo gravames ou direitos oponíveis erga omnes.
· Mas se tiver algum credor ou algum direto real envolvido? 
Os credores e qualquer direito real existente sobre o bem irão se sub-rogar no direito à indenização a ser efetuada ao particular que sofreu a retirada do bem.
Obs2: Ainda que não seja o particular o proprietário do bem – seja, por exemplo, um mero posseiro ou até mesmo um dominador do bem – poderá ser efetuada a desapropriação pelo Estado, incluindo-se o posseiro e/ou na situação de indenização justa, prévia e preferencialmente em dinheiro. De qualquer forma, não há possibilidade de que seja pleiteado o retorno do bem ao seu domínio. 
Atenção com os doutrinadores e jurisprudências que se utilizam da expressão “TRANSFERÊNCIA”. Não ocorrerá uma transferência/transmissão da propriedade do particular para o Estado, vez que ocorrerá, de fato, uma SUPRESSÃO do direito de propriedade em decorrência de fins de interesse público e da coletividade. Ainda assim, defende a doutrina e jurisprudência que a desapropriação NÃO PODE SER A REGRA, mas deve ser aplicada de forma excepcional. 
1.1 Objeto da DESAPROPRIAÇÃO 
A desapropriação poderá recair sobre TODOS OS BENS DE VALOR ECONÔMICO, independentemente de serem MÓVEIS ou IMÓVEIS, CORPÓREOS ou INCORPÓREOS, PÚBLICOS (depende da situação e requisitos) ou PRIVADOS. 
Inclusive, por força do art. 2°, §1° do Decreto 3.365/1941, o próprio ESPAÇO AÉREO e o SUBSOLO podem ser desapropriados, quando necessário, vez que sua utilização resulta em prejuízo patrimonial ao proprietário do solo:
Art. 2° Mediante declaração de utilidade pública, todos os bens poderão ser desapropriados pela União, pelos Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios.
§ 1° A desapropriação do espaço aéreo ou do subsolo só se tornará necessária, quando de sua utilização resultar prejuízo patrimonial do proprietário do solo.
Obs.: Também é possível a desapropriação de crédito e ações referentes a cotas de sociedades empresariais, quando pessoas jurídicas. 
Como a desapropriação pode ser utilizada até em situações em que o particular não seja proprietário, é possível que o Estado realize desapropriação do DOMÍNIO ÚTIL. Ex.: Enfiteuse. No caso, o Estado seria o enfiteuta, vez que irá suprimir o domínio útil exercido pelo particular. 	Comment by User: Direito real em contrato perpétuo, alienável e transmissível para os herdeiros, pelo qual o proprietário atribui a outrem o domínio útil de imóvel, contra o pagamento de uma pensão anual certa e invariável; aforamento.
Ainda assim, doutrina e jurisprudência apontam algumas RESTRIÇÕES ao exercício da desapropriação. São elas: 
· Não cabe desapropriação de situações jurídicas que envolvem DIREITOS PERSONALISSIMOS dos particulares, uma vez que representam verdadeira extensão psíquica, física, moral e social do indivíduo, tal como previsto nos artigos 11 a 21 do CC. No caso, todo e qualquer direito personalíssimo será resguardado, enquanto representativo de um valor superior ao da desapropriação; 
· Da mesma forma, não poderá o Estado realizar a desapropriação de pessoas, físicas ou jurídicas, vez que não representam coisas, objetos, algo a ser desapropriado. A personalidade jurídica, inclusive, acompanhada dos direitos de personalidade, garantem essa proteção; 
· Não pode, ainda, sofrer desapropriação a MOEDA CORRENTE DO PAÍS, vez que o DINHEIRO (PECÚNIA) é a forma preferencial do pagamento da indenização referente à desapropriação. Se o dinheiro pudesse ser desapropriado, a indenização de nada valeria. Entretanto, vale ressaltar, cumprindo os requisitos legais, MOEDA ESTRANGEIRA PODE SER DESAPROPRIADA; 
· Os bens públicos, em teoria, enquanto permanecerem AFETADOS para um FIM ou SERVIÇO PÚBLICO pertinente ao Estado, não poderão ser desapropriados. No caso, deve-se aplicar o disposto do art. 2°, §2° do Decreto n° 3.365/1941, que assim dispõe: 
Art. 2o Mediante declaração de utilidade pública, todos os bens poderão ser desapropriados pela União, pelos Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios.
§ 2o Os bens do domínio dos Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios poderão ser desapropriados pela União, e os dos Municípios pelos Estados, mas, em qualquer caso, ao ato deverá preceder autorização legislativa.
§ 3º É vedada a desapropriação, pelos Estados, Distrito Federal, Territórios e Municípios de ações, cotas e direitos representativos do capital de instituições e empresas cujo funcionamento dependa de autorização do Governo Federal e se subordine à sua fiscalização, salvo mediante prévia autorização, por decreto do Presidente da República.        
De qualquer forma, resta estabelecido no dispositivo que os bens públicos PODEM ser desapropriados, mas, em todas as situações, exigir-se-á AUTORIZAÇÃO LEGISLATIVA para tanto. 
Reitere-se que “HIRARQUIA FEDERATIVA” tem de ser respeitada. Portanto, a União poderá desapropriar bens dos Estados, DF e dos Municípios; os Estados e DF poderão efetuar a desapropriação de bens pertencentes aos Munícipios; mas o contrário, em ambas relações, não poderá ocorrer. 
Pelo mesmo motivo, não poderão os Estados e DF, bem como os Munícipios, desapropriar bens pertencentes às Autarquias Federais e às Fundações Públicas Federais, vez que seus bens serão de natureza publica, eminentemente afetados, e, portanto, totalmente indisponíveis, inaliáveis e imprescritíveis. A mesma vedação ocorrerá para os Estados e DF, quando Munícipios tentarem desapropriar seus bens. 
Obs.: Por força do art. 2°, §3° do Decreto 3.365/1941, é VEDADA a desapropriação de ações, cotas e direitos representativos de entidades da Administração Pública indireta, no caso, das Empresas Públicas e das Sociedades de Economia Mista (que dependem de autorização do Governo Federal, para funcionar, e estão sob sua fiscalização e tutela). Por outro lado, o mesmo dispositivo elenca que essa desapropriação PODERÁ OCORRER, desde que seja AUTORIZADA, mediante DECRETO, pelo Presidente da República. 
Obs.: Seo bem pertencente às Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista não está afetado e, portanto, não está sendo utilizado para um fim público ou para a prestação de serviços públicos, poderá ser desapropriado? Os bens dessas empresas são, em teoria, BENS PRIVADOS, e, portanto, suscetíveis de desapropriação. Por outro lado, se estiverem AFETADOS, somente poderão ser desapropriados quando houver uma AUTORIZAÇÃO LEGISLATIVA para a medida. 
· Em decorrência da Súmula de n° 479 do STF, as MARGENS DOS RIOS NAVEGÁVEIS são considerados como BENS IMÓVEIS, e pertencentes ao DOMÍNIO PÚBLICO, INSUSCETÍVEIS DE EXPROPRIAÇÃO (como aquela efetuada pela Desapropriação). Portanto, são EXCLUÍDOS DE INDENIZAÇÃO. 
ATENÇÃO! Alguns doutrinadores, como José dos Santos Carvalho Filho, estabelecem uma CLASSIFICAÇÃO para as IMPOSSIBILIDADES ou LIMITAÇÕES a serem respeitadas quando da realização da desapropriação. Para o autor, existem dois tipos de impossibilidades ou limitações: 
a) Limitação Jurídica: limitação que ocorre no próprio texto da lei, como a proibição de desapropriação para fins de reforma agrária em uma propriedade produtiva, nos termos legais específicos; 
b) Limitação Material: limitações em que a natureza do bem condiciona sua impossibilidade de desapropriação. Ex.: bens públicos; direitos personalíssimos; pessoas físicas e jurídicas; moeda nacional... 
1.2 Pressupostos da Desapropriação 
Para que a desapropriação seja realizada de forma legítima, faz-se necessário que sejam alcançados ao menos um dos pressupostos inafastáveis e inerentes à sua caracterização. 
São dois os pressupostos possíveis que ensejam a desapropriação. São eles: a) INTERESSE PÚBLICO POR UTILIDADE ou NECESSIDADE PÚBLICA; e o b) INTERESSE PÚBLICO SOCIAL. 
É em decorrência desses pressupostos que surge o direito de indenização prévia, justa e em dinheiro, a justifica a supressão do direito de propriedade ou de posse e/ou domínio útil por parte do Estado, conforme dispõe o art. 5°, inciso XXIV da CRFB/88. 
 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição;
Deve – se ressaltar que tanto a UTILIDADE e a NECESSIDADE PÚBLICA, bem como o INTERESSE SOCIAL são classificados pela doutrina como CONCEITOS JURÍDICOS INDETERMINADOS. Não há, portanto, um conceito certo e definido. Há, por muito, um direcionamento a ser realizado pelo intérprete da norma quando de sua aplicação. 
De qualquer forma, pode-se compreender a UTILIDADE PÚBLICA quando o Estado terá a necessidade de utilizar o bem DIRETAMENTE, seja para a realização de uma OBRA PÚBLICA, seja para a PRESTAÇÃO DE UM SERVIÇO PÚBLICO ESPECÍFICO ou INESPECÍFICO, bem como razões correlatadas ao interesse público e da coletividade.
A regulamentação da UTILIDADE PÚBLICA está no art. 5° do Decreto n° 3.365/1941, que assim defende, por intermédio de ROL EXEMPLIFICATIVO: 
Art. 5o Consideram-se casos de utilidade pública:
a) a segurança nacional;
b) a defesa do Estado;
c) o socorro público em caso de calamidade;
d) a salubridade pública;
e) a criação e melhoramento de centros de população, seu abastecimento regular de meios de subsistência;
f) o aproveitamento industrial das minas e das jazidas minerais, das águas e da energia hidráulica;
g) a assistência pública, as obras de higiene e decoração, casas de saude, clínicas, estações de clima e fontes medicinais;
h) a exploração ou a conservação dos serviços públicos;
i) a abertura, conservação e melhoramento de vias ou logradouros públicos; a execução de planos de urbanização; o parcelamento do solo, com ou sem edificação, para sua melhor utilização econômica, higiênica ou estética; a construção ou ampliação de distritos industriais; (Redação dada pela Lei nº 9.785, de 1999)
j) o funcionamento dos meios de transporte coletivo;
k) a preservação e conservação dos monumentos históricos e artísticos, isolados ou integrados em conjuntos urbanos ou rurais, bem como as medidas necessárias a manter-lhes e realçar-lhes os aspectos mais valiosos ou característicos e, ainda, a proteção de paisagens e locais particularmente dotados pela natureza;
l) a preservação e a conservação adequada de arquivos, documentos e outros bens moveis de valor histórico ou artístico;
m) a construção de edifícios públicos, monumentos comemorativos e cemitérios;
n) a criação de estádios, aeródromos ou campos de pouso para aeronaves;
o) a reedição ou divulgação de obra ou invento de natureza científica, artística ou literária;
p) os demais casos previstos por leis especiais.
§ 1º - A construção ou ampliação de distritos industriais, de que trata a alínea i do caput deste artigo, inclui o loteamento das áreas necessárias à instalação de indústrias e atividades correlatas, bem como a revenda ou locação dos respectivos lotes a empresas previamente qualificadas                     (Incluído pela Lei nº 6.602, de 1978)
§ 2º - A efetivação da desapropriação para fins de criação ou ampliação de distritos industriais depende de aprovação, prévia e expressa, pelo Poder Público competente, do respectivo projeto de implantação.                  (Incluído pela Lei nº 6.602, de 1978)
§ 3o Ao imóvel desapropriado para implantação de parcelamento popular, destinado às classes de menor renda, não se dará outra utilização nem haverá retrocessão.                    (Incluído pela Lei nº 9.785, de 1999)
Por outro lado, a NECESSIDADE PÚBLICA pode ser elencada como hipóteses em que o Estado também necessita utilizar o bem DIRETAMENTE, mas o fará em caráter EMERGENCIAL (URGENTE) PARA RESOLVER ALGUM PROBLEMA, e com amplo prejuízo ao INTERESSE PÚBLICO e à COLETIVIDADE se não foi feita a desapropriação. 
Enquanto isso, o INTERESSE SOCIAL, que corresponde ao segundo pressuposto possível para implementação da desapropriação, ocorrerá em situações de GARANTIA, vez que a desapropriação será implementada para GARANTIR A FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE. Ex.: Desapropriação para fins de reforma agrária de propriedades rurais improdutivas. Esse tipo de desapropriação ocorre sub a tutela da Lei n° 4.132/1962. 
O art. 2° da Lei 4.132/1962 defende o que seria considerado INTERESSE SOCIAL, para fins de DESAPROPRIAÇÃO: 
Art. 2º Considera-se de interesse social: 
I - o aproveitamento de todo bem improdutivo ou explorado sem correspondência com as necessidades de habitação, trabalho e consumo dos centros de população a que deve ou possa suprir por seu destino econômico; 
II - a instalação ou a intensificação das culturas nas áreas em cuja exploração não se obedeça a plano de zoneamento agrícola, VETADO; 
III - o estabelecimento e a manutenção de colônias ou cooperativas de povoamento e trabalho agrícola: 
IV - a manutenção de posseiros em terrenos urbanos onde, com a tolerância expressa ou tácita do proprietário, tenham construído sua habilitação, formando núcleos residenciais de mais de 10 (dez) famílias; 
V - a construção de casa populares; 
VI - as terras e águas suscetíveis de valorização extraordinária, pela conclusão de obras e serviços públicos, notadamente de saneamento, portos, transporte, eletrificação armazenamento de água e irrigação, no caso em que não sejam ditas áreas socialmente aproveitadas; 
VII - a proteção do solo e a preservação de cursos e mananciais de água e de reservas florestais. 
VIII - a utilização de áreas, locais ou bens que, por suas características, sejam apropriados ao desenvolvimento de atividades turísticas. (Incluído pela Lei nº 6.513, de 20.12.77) 
§ 1º O disposto no item I deste artigo só se aplicará nos casos de bens retirados de produção ou tratando-se de imóveis rurais cuja produção, por ineficientemente explorados, seja inferior à média da região, atendidasas condições naturais do seu solo e sua situação em relação aos mercados. 
§ 2º As necessidades de habitação, trabalho e consumo serão apuradas anualmente segundo a conjuntura e condições econômicas locais, cabendo o seu estudo e verificação às autoridades encarregadas de velar pelo bem estar e pelo abastecimento das respectivas populações. 
Por outro lado, deve-se ressaltar que, apesar do art. 5°, inciso XXIV da CR/88 determinar sempre se tentará dar INDENIZAÇÃO PRÉVIA, JUSTA e PREFERENCIALMENTE EM DINHEIRO, existirão situações em que não será possível seguir esse regramento. São os casos, previstos no próprio texto constitucional (portanto, VEDADOS casos infraconstitucionais) de DESAPROPRIAÇÃO ESPECIAL. São eles: 
 
> Desapropriação ESPECIAL URBANA (art. 182 da CRFB/88); 
 
> Desapropriação ESPECIAL RURAL (art. 184 a 186, CRFB/88); 
 
> Desapropriação ESPECIAL CONFISCO/SANCIONATÓRIA (art. 243, CRFB/88). 
1.3 Espécies de Desapropriação 
As espécies de desapropriação apresentam características próprias mas, ao mesmo tempo, regulamentações distintas, o que, por muito, afetará seus pressupostos. São elas: 
a) DESAPROPRIAÇÃO COMUM (ORDINÁRIA).
A regulamentação da Desapropriação Comum está prevista no art. 5°, XXIV da CRFB/88: 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição;
Portanto, pode-se afirmar que os REQUISITOS para proceder à Desapropriação Comum são: 
· Necessidade/Utilidade Pública ou Interesse Social;
· Indenização prévia, Justa e preferencialmente em Dinheiro, ressalvados os casos previstos na CR/88 (situações de desapropriação especiais).
Fora da Constituição, a Desapropriação pro Necessidade ou Utilidade pública alcançou regulamentação por intermédio do Decreto 3.365/41, que dispõe o seguinte: 
Art. 5o Consideram-se casos de utilidade pública:
a) a segurança nacional;
b) a defesa do Estado;
c) o socorro público em caso de calamidade;
d) a salubridade pública;
e) a criação e melhoramento de centros de população, seu abastecimento regular de meios de subsistência;
f) o aproveitamento industrial das minas e das jazidas minerais, das águas e da energia hidráulica;
g) a assistência pública, as obras de higiene e decoração, casas de saúde, clínicas, estações de clima e fontes medicinais;
h) a exploração ou a conservação dos serviços públicos;
i) a abertura, conservação e melhoramento de vias ou logradouros públicos; a execução de planos de urbanização; o parcelamento do solo, com ou sem edificação, para sua melhor utilização econômica, higiênica ou estética; a construção ou ampliação de distritos industriais; (Redação dada pela Lei nº 9.785, de 1999)
j) o funcionamento dos meios de transporte coletivo;
k) a preservação e conservação dos monumentos históricos e artísticos, isolados ou integrados em conjuntos urbanos ou rurais, bem como as medidas necessárias a manter-lhes e realçar lhes os aspectos mais valiosos ou característicos e, ainda, a proteção de paisagens e locais particularmente dotados pela natureza;
l) a preservação e a conservação adequada de arquivos, documentos e outros bens moveis de valor histórico ou artístico;
m) a construção de edifícios públicos, monumentos comemorativos e cemitérios;
n) a criação de estádios, aeródromos ou campos de pouso para aeronaves;
o) a reedição ou divulgação de obra ou invento de natureza científica, artística ou literária;
p) os demais casos previstos por leis especiais.
Portanto, seguindo-se uma ou mais das razões previstas no dispositivo, é possível efetuar a Desapropriação Comum por necessidade ou Utilidade Pública. Entretanto, independentemente da razão alegada, deve-se atentar que a INDENIZAÇÃO CORRESPONDENTE deverá revestir-se de alguns requisitos:
· Deverá ocorrer de forma Prévia, antes da imissão na posse por parte do Estado, e preferencialmente em DINHEIRO; 
OBS: para José dos Santos Carvalho Filho, a indenização deverá ocorrer de forma PRÉVIA para permitir que o particular adquira um novo imóvel, com características semelhantes, se assim o quiser. 
· O montante da indenização deverá ser calculado a partir do: 
· Valor de mercado do bem (guardada a atualidade de sua avaliação);
Obs.: Deve-se atentar que o valor de mercado do bem pode receber, ainda, a inclusão de valores inerentes às benfeitorias e acessões (acréscimos), conforme previsto na legislação civil vigente. Para as benfeitorias, se forem, independente da natureza, realizadas até a imissão na posse pelo Estado, incluem-se na indenização; se, após a imissão, forem suscitadas benfeitorias, somente poderão ser indenizadas aquelas de natureza ÚTIL ou NECESSÁRIA. Para os FRUTOS, inclusive, prevalece, da mesma forma, as diretrizes civis. 
Obs.: O valor de mercado deve atentar, ainda, para situações de divergência entre o valor da área do bem e o valor da área devidamente registrada em Serventia de registro de Imóveis (Cartório). Conforme decisão do STJ, REsp. 1.075.293, PREVALECERÁ O VALOR PRESENTE NO REGISTRO, decorrência do primado da fé pública praticado pela Serventia bem como do valor probatório do Registro. 
Obs.: Se a propriedade apresentava, de alguma forma, cobertura vegetal, que era devidamente explorada para fins econômicos ou profissionais, sua indenização será calculada em apartado, em decorrência de expressa previsão legal nesse sentido. Essa disposição também foi reconhecida em nível jurisprudencial, no AgRg no REsp. 1.119.706/PR.
· Danos Emergentes, que porventura possam ocorrer;
 No caso dos Danos Emergentes, estes não se confundem com Danos Extraordinários, bem como podem ser suscitados a partir de algumas situações específicas, que dependem, exclusivamente, do caso concreto. Cite-se como exemplo, decisões emitidas pelo STJ quando havia aproveitamento do bem para fins econômicos; 
Cite-se, como uma situação reconhecida de Danos Extraordinários o que foi decidido no STF, RE 567.708/SP, com relatoria do Min. Joaquim Barbosa, em 2011. Tratava-se de uma propriedade que tinha parte de seu aproveitamento para fins profissionais: plantação de laranjas, utilização em emprego profissional na produção de larga escala. Quando da desapropriação, parte do bem foi adquirido pelo Estado, que decidiu construir 3 estações de tratamento de água e esgoto. No decorrer do tempo, o proprietário original identificou que as condições sanitárias próximas às estações estavam prejudicando a qualidade de sua safra, e, por dividirem o espaço que seria do imóvel original, os danos eram inevitáveis. Portanto, suscitou o pagamento de danos extraordinários, e conseguiu seu reconhecimento, com base na Responsabilidade Civil do Estado, conforme disposição do art. 37, §6° da CR/88.
· Lucros Cessantes, se houverem; 
Os lucros cessantes correspondem a verbas indenizatórias acerca daquilo que o proprietário do bem deixou de usufruir com este, na medida de sua atividade e conforme a localização e estruturação do bem. 
· Atualização Monetária dos valores, bem como sua correção, se for necessária, a fim de manter o valor originalmente combinado pelo Estado; 
· Em se tratando de Desapropriação Judicial, os honorários advocatícios. 
Deve-se ressaltar, ainda, que se houverem débitos discais em aberto, devidamente registrados e autuados pela Fazenda Pública correspondente àquela que promove a desapropriação, poderão ser efetuados DESCONTOS ou COMPENSAÇÕES na indenização devida, para fins de pagamento do tributo. Essa medida vale tanto para as OBRIGAÇÕES PRINCIPAIS, como para as OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS CONVERTIDAS EM OBRIGAÇÕES PRINCIPAIS (Multas Tributárias). 
b) DESAPROPRIAÇÃO ESPECIAL URBANA
Trata-se de uma forma especial de desapropriação pautada por fins de cumprimentoda FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE enquanto princípio da ordem econômica. No caso, as propriedades devem atender às suas funções sociais para aprimoramento e garantia de qualidade de vida, da justiça social e do pleno desenvolvimento de atividades econômicas. 
Em nível urbanístico, a propriedade alcançará sua função social quando atender às disposições do PLANO DIRETOR DA CIDADE. No caso, o plano diretor, que deve ser elaborado e aprovado enquanto lei municipal, determinará os requisitos essenciais que aquele município considera para o atingimento da função social da propriedade local. 
O Plano Diretor é aprovado com fito de cumprimento por intermédio de planejamento e aplicação do plano plurianual, que contém as diretrizes orçamentárias e o orçamento anual, a incorporar suas diretrizes e suas prioridades. 
Para fins de desapropriação, deve-se ressaltar que a Desapropriação especial Urbana é prevista constitucionalmente, e faz parte de uma das sanções aplicáveis ao proprietário quando do não atendimento da função social da propriedade:
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes.  
§ 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.
 § 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor.
 § 3º As desapropriações de imóveis urbanos serão feitas com prévia e justa indenização em dinheiro.
 § 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.
- INTERVENÇÃO RESTRITIVA
Existem outras formas de intervenção do Estado na propriedade privada que não são de remoção ou restrição total à sua utilização (intervenção supressiva), mas consistem em formas parciais de restrição ou, ainda, meras limitações ao direito absoluto de propriedade privada. 
São formas de intervenção com caráter RESTRITIVO da propriedade pelo Estado: 
1. Limitação Administrativa
É uma forma de intervenção do Estado na propriedade privada realizada de caráter geral, não atingindo bem específicos, mas atingindo todos os proprietários que estiverem na mesma situação descrita na norma. 
Determinadas situações exigirão, do Poder Público, a utilização do poder de polícia administrativa para a fiscalização, controle e medidas de combate a certas peculiaridades que envolvem a propriedade privada. 
A limitação administrativa não promove, em teoria, situações restritivas totais. Sendo assim, o proprietário do bem ainda poderá se utilizar dele normalmente, apenas resguardando as limitações impostas pelo Poder Público. 
Caso a limitação seja severa, ao ponto de impedir que o proprietário exerça seu direto de propriedade, ocorrerá uma desapropriação indireta, que ensejará indenização e o prosseguimento do respectivo procedimento de desapropriação. 
Em teoria, as limitações administrativas não gerarão o direito à indenização, salvo se comprovado pelo proprietário terem ocorrido danos ao exercício de propriedade que os ensejarão. Para danos, pode-se incluir, ainda, lucros cessantes, se houverem. 
Os efeitos promovidos pela limitação administrativa são de natureza ex nunc, e, portanto, não retroagirão para vincular situações anterior à limitação promovida pelo Estado. 
Uma das principais limitações administrativas exercidas pelo Poder Público consiste no Direito de Preempção, disposto no art. 25 da lei n° 10.257/2001 (Estatutos das Cidades). 	Comment by User: É a preferência que tem o Poder Público municipal para aquisição de imóvel urbano objeto de alienação onerosa entre particulares.
Art. 25. O direito de preempção confere ao Poder Público municipal preferência para aquisição de imóvel urbano objeto de alienação onerosa entre particulares.
§ 1o Lei municipal, baseada no plano diretor, delimitará as áreas em que incidirá o direito de preempção e fixará prazo de vigência, não superior a cinco anos, renovável a partir de um ano após o decurso do prazo inicial de vigência.
§ 2o O direito de preempção fica assegurado durante o prazo de vigência fixado na forma do § 1o, independentemente do número de alienações referentes ao mesmo imóvel.
O prazo previsto no §1° do art. 25, indica a forma em que haverá renovação do Direito de Preempção. Ex.: em 2005, Fortaleza coloca, no Plano Diretor da Cidade, que o Lagamar apresentará ZEIS, que exigirão Direito de Preempção. Até 2010, Fortaleza utilizará essa restrição, consubstanciada como uma Limitação Administrativa. O município de Fortaleza quer renovar a limitação. Como a anterior encerrou-se em 2010, deverá aguardar 1 ano de carência para voltar a fazê-lo. Portanto, em 2011, Fortaleza implicará nova limitação, que será vigente até 5 anos, ou seja, até 2016. 
O Direito de Preempção exercido pelo Poder Público não se confunde com o Direito de Preferência, estabelecido no Direito Privado, principalmente o Direito Civil, e que é formado por uma união de vontades, advindas da autonomia privada. O Direito de Preempção, por sua vez, é compreendido como uma imposição do Poder de Império do Estado, e, assim, efetuará limitação ao exercício de propriedade. 
Art. 26. O direito de preempção será exercido sempre que o Poder Público necessitar de áreas para:
I – regularização fundiária;
II – execução de programas e projetos habitacionais de interesse social;
III – constituição de reserva fundiária;
IV – ordenamento e direcionamento da expansão urbana;
V – implantação de equipamentos urbanos e comunitários;
VI – criação de espaços públicos de lazer e áreas verdes;
VII – criação de unidades de conservação ou proteção de outras áreas de interesse ambiental;
VIII – proteção de áreas de interesse histórico, cultural ou paisagístico;
IX – (VETADO)
Parágrafo único. A lei municipal prevista no § 1o do art. 25 desta Lei deverá enquadrar cada área em que incidirá o direito de preempção em uma ou mais das finalidades enumeradas por este artigo.
Art. 27. O proprietário deverá notificar sua intenção de alienar o imóvel, para que o Município, no prazo máximo de trinta dias, manifeste por escrito seu interesse em comprá-lo.
§ 1o À notificação mencionada no caput será anexada proposta de compra assinada por terceiro interessado na aquisição do imóvel, da qual constarão preço, condições de pagamento e prazo de validade.
§ 2o O Município fará publicar, em órgão oficial e em pelo menos um jornal local ou regional de grande circulação, edital de aviso da notificação recebida nos termos do caput e da intenção de aquisição do imóvel nas condições da proposta apresentada.
§ 3o Transcorrido o prazo mencionado no caput sem manifestação, fica o proprietário autorizado a realizar a alienação para terceiros, nas condições da proposta apresentada.
§ 4o Concretizada a venda a terceiro, o proprietário fica obrigado a apresentar ao Município, no prazo de trinta dias, cópia do instrumento público de alienação do imóvel.
§ 5o A alienação processada em condições diversas da proposta apresentada é nula de pleno direito.
§ 6o Ocorrida a hipótese prevista no § 5o o Município poderá adquirir o imóvel pelo valor da base de cálculo do IPTU ou pelo valor indicado na proposta apresentada, se este for inferior àquele.2. Requisição Administrativa 
É uma forma de intervenção na propriedade privada que tem por objetivo solucionar situações específicas de iminente perigo, por intermédio da utilização de bens privados pelo Estado, enquanto perdurar a motivação para tanto. 
 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano;
No caso, ocorrerá uma ocupação provisória do bem, enquanto perdurar a motivação para sua utilização. Sendo assim, deverá o Estado apresentar a devida justificativa e, conforme o princípio da legalidade, segundo os ditames previstos na norma. 
Conforme disposição do art. 22, III da CR/88, a competência para legislar sobre situações de perigo ou de guerras declaradas é da União, que deverá fazê-lo, e, uma vez atingidos os requisitos previstos na norma, poderão os demais entes, como Estado, DF e Municípios realizar suas requisições. Ex.: lei de n° 13.979/2020, lei ordinária federal que condicionou as medidas de combate à COVID-19. 
Existem diversos outros dispositivos normativos que tratam de situações autorizativas de requisição administrativas, é o caso, por exemplo: 
· Decreto-Lei de nº. 4.812/1942, que tratou da requisição de bens móveis ou imóveis necessários às forças armadas e à defesa passiva da população em situações de interesse público e segurança nacional. 
· Lei 7.565/1986, que tratou sobre a requisição de aeronaves para fins públicos. Ex.: aeronaves requisitadas para auxílio no transporte de vacinas ou insumos para vacinação da população diante da pandemia promovida pelo COVID-19. 
· Lei de nº. 8080/1990, que trata sobre as condições de promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços de saúde, entre outras providências. Para a realização desses serviços, pode ser necessário se utilizar de requisição administrativa, nos termos do art. 15, XIII, que assim estabelece: 
Art. 15. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios exercerão, em seu âmbito administrativo, as seguintes atribuições:
XIII - para atendimento de necessidades coletivas, urgentes e transitórias, decorrentes de situações de perigo iminente, de calamidade pública ou de irrupção de epidemias, a autoridade competente da esfera administrativa correspondente poderá requisitar bens e serviços, tanto de pessoas naturais como de jurídicas, sendo-lhes assegurada justa indenização;
Obs.: a requisição administrativa será aplicável para requerer bens consumíveis? Ex.: polícia quer do vizinho de um apartamento que teve um incêndio, roupas ou cobertas para vestuários de vítimas do incidente. A requisição é, em teoria, possível, mas se forem bens personalíssimos (roupas pessoais do indivíduo, e que não podem ser repostas – bem infungíveis), caberá indenização. 
Em regra, a requisição administrativa somente irá exigir indenização em situação de dano ocorrido ao particular. Portanto, caso sejam requeridos bens infungíveis, poderá ser solicitada a indenização por sua utilização pelo Estado. 
Entretanto, se, por acaso, não for um vizinho, mas uma loja de roupas que foi suscitada a colaborar, em decorrência do perigo iminente, os bens da loja – que não são personalizados e nem pertencem, especificamente, a um indivíduo que irá implementar sua personalização no bem, poderão ser requisitos e, posteriormente, substituídos. 
3. Ocupação Temporária
É uma forma de intervenção do Estado na propriedade privada, que consiste em quando o Estado irá se utilizar de um bem privado por prazo certo e determinado, para satisfazer as necessidades públicas e de interesse social, de forma gratuita ou renumerada, a depender do caso. Não se confunde com as demais formas de intervenção, vez que é transitória e mais simplificada. 
É o que prevê, por exemplo, o Decreto de n° 3.365/41, que trata das desapropriações, mas apresenta um dispositivo que estabelece que, para o auxílio no procedimento de desapropriação, poderá o Estado se utilizar de bens privados para tanto, enquanto perdurar a necessidade pública. 
Existem, ainda, outras situações previstas em lei:
· Lei de nº. 3.924/1961, que trata da possibilidade de ocupação temporária de bens privados para que se façam pesquisas, escavações e demais serviços, vinculados para proteger indícios de sítios arqueológicos. 
 
· Lei de nº. 8.666/1993, que trata das Licitações e Contratos Administrativos, definiu, em seu art. 58, inciso V, que, nos casos de serviços essenciais, poderá o ente público ocupar, provisoriamente, bens móveis, imóveis, pessoal e serviços vinculados ao objeto, de forma relevante, nas hipóteses de necessidade de os acautelar. Trata-se de uma cláusula exorbitante, e que deverá ser respeitada pelo particular. Conforme o dispositivo: 
Art. 58.  O regime jurídico dos contratos administrativos instituído por esta Lei confere à Administração, em relação a eles, a prerrogativa de:
V - nos casos de serviços essenciais, ocupar provisoriamente bens móveis, imóveis, pessoal e serviços vinculados ao objeto do contrato, na hipótese da necessidade de acautelar apuração administrativa de faltas contratuais pelo contratado, bem como na hipótese de rescisão do contrato administrativo.
Nos termos do art. 58, V da Lei n° 8.666/93, poderá o Estado, em situações de serviços essenciais, apenas, ocupar provisoriamente bens móveis, imóveis, se utilizar de pessoal, bem como de serviços, que estejam vinculados ao objeto do contrato. A motivação para tanto, seria a necessidade de acautelar apuração administrativas de faltas contratuais pelo contratado. Isso ocorreria, ainda, em caso de rescisão do contrato administrativo. 
Por sua vez, a Lei n° 14.133/2021, que substituirá a Lei 8.666/93, após dois anos de sua aprovação e sanção, defende que: 
Art. 104. O regime jurídico dos contratos instituído por esta Lei confere à Administração, em relação a eles, as prerrogativas de:
V - ocupar provisoriamente bens móveis e imóveis e utilizar pessoal e serviços vinculados ao objeto do contrato nas hipóteses de:
a) risco à prestação de serviços essenciais;
b) necessidade de acautelar apuração administrativa de faltas contratuais pelo contratado, inclusive após extinção do contrato.
Para a nova lei, o Estado poderá ocupar provisoriamente bens móveis, imóveis, utilizar o pessoal, bem como serviços, vinculados ao objeto do contrato, em 2 situações distintas: 
1° - Risco à Prestação de Serviços Essenciais. Anteriormente, na Lei 8.666/93, os serviços essenciais eram a única possibilidade de abrangência da prerrogativa. No entanto, na nova lei, seguem previstos, mas com o risco à prestação como elemento central; 
2° - Necessidade de Acautelar Apuração Administrativa de Faltas Contratuais pelo Contratado, inclusive em situações de Extinção do Contrato. Não mais se trata de apenas serviços essenciais. Trata-se, a alínea b do art. 104, §5° da Lei 14.133/2021, de uma cláusula geral, aplicável situações distintas e não necessariamente vinculadas aos serviços essenciais. Assim, trata-se de uma cláusula geral de aplicação do poder de polícia administrativa. Da mesma forma, tornou-se mais abrangente por não mais restringir-se para situações da rescisão contratual (que é uma das formas de extinção), mas para toda e qualquer forma de extinção do contrato. 
· Lei de n° 8.987/95, que trata da possibilidade de ocupação de bens da concessionária para evitar a paralisação dos serviços públicos prestados. Conforme disposição do art. 35, §3°
Art. 35. Extingue-se a concessão por:
        I - advento do termo contratual;
        II - encampação;
        III - caducidade;
        IV - rescisão;
        V - anulação; e
        VI - falência ou extinção da empresa concessionária e falecimento ou incapacidade do titular, no caso de empresaindividual.
§ 3o A assunção do serviço autoriza a ocupação das instalações e a utilização, pelo poder concedente, de todos os bens reversíveis.
4. Servidão Administrativa 
A servidão, que é instituto proveniente do Direito privado, particularmente do Direito Civil, determina que a característica da exclusividade da propriedade privada, seja mitigada em decorrência de certos motivos que irão condicionar o proprietário a assumir a posição de serviente de um outro prédio, que será denominado como dominante. 
Quando foi estudada a Limitação Administrativa, verificou-se que sua estruturação afetava a característica de exercício absoluto da propriedade privada, o que difere-a da Servidão, vez que, na Limitação, apenas será afetada a forma com que se utiliza o bem. Na servidão, o proprietário deverá suportar que outro se utilize do bem de uma maneira específica, determinada por Decreto ou Lei. 
Portanto, a Servidão Administrativa é um direito real, consubstanciado em uma intervenção do Estado na propriedade privada, vez que recairá sobre imóveis determinados e, necessariamente, deverá ser registrada no Cartório de Registro de Imóveis ou estar devidamente prevista em lei para a geração de efeitos ergas omnes, a partir do interesse público e social da coletividade. 
A servidão impõe uma restrição do ente estatal para bens privados, eminentemente particulares, ou, em alguns casos, bens públicos desafetados (dominicais), determinando que o seu proprietário suporte a utilização do imóvel pelo Estado, que deverá utilizar a propriedade de forma a garantir a prestação de determinado serviço público (ex.: execução de uma obra ou manutenção de um serviço público contínuo), sempre com intenção de satisfazer as necessidades públicas e coletivas. 
A servidão atua no condicionamento do direito de exclusividade da propriedade e, assim, em decorrência, primordialmente, do interesse público e social vigente, independerá da concordância do particular. No caso, o Estado poderá se utilizar da servidão por se utilizar do poder de polícia administrativa, que serve de condicionamento da utilização dos bens. 
O regramento legal acerca da Servidão Administrativa encontra-se, de forma singela, no Decreto n° 3.365/1941.
Art. 40.  O expropriante poderá constituir servidões, mediante indenização na forma desta lei. 
Em teoria, pelo dispositivo, a servidão seguirá moldes semelhantes aos da desapropriação, mesmo porque, o art. 40 menciona o termo “expropriante’. A servidão não promove qualquer expropriação. Apenas condicionará a utilização de parte do imóvel de terceiros – particulares ou entes públicos – para a utilização pelo Estado. 
Conforme o art. 40 do Decreto n° 3.365/41, o procedimento da servidão será: 
1ª fase – Fase Declaratória: Nesse âmbito, o ente público, por intermédio de um decreto ou de lei específica, informará que há interesse público na instituição de servidão sobre determinada propriedade, e, a partir deste momento, o Estado realizará uma perícia para verificar se é uma situação em que se verificará danos ao exercício da propriedade, e, mediante esta apuração, pode ocorrer indenização prévia, justa e em dinheiro a ser paga ao proprietário do imóvel serviente. 
· Obs.: inicialmente, cumpre-se que não apenas imóveis particulares serão objeto da servidão. Esta, tal como a desapropriação, poderá ocorrer em imóveis públicos, pertencentes a todos os entes da Administração Direta ou Indireta. Entretanto, deve-se ressaltar que apenas os bens desafetados a fins públicos – bens dominicais – é que estarão sujeitos a essa restrição. Um evento sobreposição de interesses públicos pode ocorrer, mas deve ser decidida em procedimento administrativo ou judicial próprio. Ainda assim, respeitar-se-á o pacto federativo, o que significa que a União poderá efetuar servidão de imóveis dos Estados, DF e Municípios e os Estados e o DF poderão fazer o mesmo para os Municípios. 
· Obs.: alguns doutrinadores divergem acerca da forma com que o Estado manifestará seu interesse na realização da servidão. Alguns, defendem que esta ocorrerá de forma Administrativa, por intermédio de ato administrativo normativo, consubstanciado em um Decreto. (Posição de José dos Santos Carvalho Filho). 
Por outro lado, alguns autores defendem que a servidão ocorra mediante Lei, ou seja, de forma legislativa, ao ponto que a edição da lei, ainda que em caráter abstrato, permitirá a restrição. Essa posição é muito criticada porque aproximaria a servidão da limitação administrativa, que ocorre de forma genérica e sem maiores distinções. O exemplo problemático dessa medida é a determinação do gabarito de edifícios ou prédios urbanos, determinada em lei, que parte entende como Limitação, e outros como Servidão. 
· Obs.: fora a disposição do art. 40 do Decreto n° 3.365/41, a servidão foi prevista no art. 18, XII da Lei n° 8.987/95, que determina que será instituída servidão pelo concessionário de serviços públicos, após a efetivação de declaração de interesse público pelo ente estatal. No caso, ocorreria procedimento semelhante, mas, em decorrência de regramento próprio para as concessões, alguns detalhes no procedimento específico de concessão – fase de execução, principalmente – podem ser modificados, mas a fase declaratória se manterá. 
Ainda na fase declaratória, o proprietário deverá permitir que o Estado que deseja implementar a servidão adentre ao imóvel para fazer as medições devidas e os cálculos necessários para se buscar os referidos valores. 
Para a indenização, deve se seguir o disposto no art. 10-A do decreto 3.3.65/41:
Art. 10-A.  O poder público deverá notificar o proprietário e apresentar-lhe oferta de indenização.            (Incluído pela Lei nº 13.867, de 2019)
§ 1º  A notificação de que trata o caput deste artigo conterá:            (Incluído pela Lei nº 13.867, de 2019)
I - cópia do ato de declaração de utilidade pública;            (Incluído pela Lei nº 13.867, de 2019)
II - planta ou descrição dos bens e suas confrontações;            (Incluído pela Lei nº 13.867, de 2019)
III - valor da oferta;            (Incluído pela Lei nº 13.867, de 2019)
IV - informação de que o prazo para aceitar ou rejeitar a oferta é de 15 (quinze) dias e de que o silêncio será considerado rejeição;            (Incluído pela Lei nº 13.867, de 2019)
V - (VETADO).            (Incluído pela Lei nº 13.867, de 2019)
§ 2º  Aceita a oferta e realizado o pagamento, será lavrado acordo, o qual será título hábil para a transcrição no registro de imóveis.            (Incluído pela Lei nº 13.867, de 2019)
§ 3º  Rejeitada a oferta, ou transcorrido o prazo sem manifestação, o poder público procederá na forma dos arts. 11 e seguintes deste Decreto-Lei.      
 
2ª fase – Fase Executória: Após a fase declaratória, com a juntada dos cálculos do valor indenizatório, será notificado o proprietário do bem potencialmente serviente para que se manifeste contrariamente ou a favor do valor da indenização estabelecida. 
Caso o proprietário do imóvel potencialmente serviente não concordar com o valor da indenização apontado será feito de forma judicial, em ação própria. 
Caso o proprietário do imóvel potencialmente serviente concordar com a indenização, ocorrerá a servidão sem maiores prejuízos e, assim, concluir-se-á o processo administrativo de instauração. 
· Obs.: é possível que as partes envolvidas – proprietário e Estado – se utilizem de meios alternativos de conflitos, conforme art. 10-B do decreto 3.3.65/41.
Art. 10-B.  Feita a opção pela mediação ou pela via arbitral, o particular indicará um dos órgãos ou instituições especializados em mediação ou arbitragem previamente cadastrados pelo órgão responsável pela desapropriação.            (Incluído pela Lei nº 13.867, de 2019)
§ 1º  A mediação seguirá as normas da Lei nº 13.140, de 26 de junho de 2015, e, subsidiariamente, os regulamentos do órgão ou instituição responsável.            (Incluído pela Lei nº 13.867, de 2019)
§ 2º  Poderá ser eleita câmara de mediação criada pelo poder público, nos termos do art. 32 da Lei nº13.140, de 26 de junho de 2015.            (Incluído pela Lei nº 13.867, de 2019)
§ 3º  (VETADO).            (Incluído pela Lei nº 13.867, de 2019)
§ 4º  A arbitragem seguirá as normas da Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996, e, subsidiariamente, os regulamentos do órgão ou instituição responsável.      
Quando a servidão ocorrer por intermédio de mediação ou arbitragem, será classificada como uma servidão decorrente de acordo. Sendo assim, a servidão será proveniente de um ato declaratório – geralmente um Decreto – no qual o Poder Público informa seu interesse na questão, e oferece uma prévia de cálculo indenizatório após a perícia. O proprietário, então, concordando com o valor ofertado, ou discordando deste, negociará novo valor ou ajuste mediante mediação e arbitragem, e formalizará um acordo. O mesmo procedimento ocorre a nível de desapropriação. 
Por outro lado, quando o proprietário discorda do valor da indenização estabelecido em perícia, e resolve discutir os termos judicialmente, vez que não entrou em acordo com a Administração Pública, a servidão será classificada como judicial, e ocorrerá mediante sentença judicial. 
· Obs.: a servidão alcançará o viés erga omnes – presunção absoluta contra terceiros – quando efetuado o Registro da intervenção no Cartório de Registro de Imóveis. Essa modificação no registro afetará o Direito de Sequela da propriedade, e, assim, mesmo em situação de alienação do bem imóvel, persistirá a servidão, bem como seu registro na serventia extrajudicial. 
· Para alguns autores, se a servidão for proveniente de lei, não haveria a necessidade de se implementar o registro da intervenção no Cartório de Registro de Imóveis, mas, trata-se de uma posição minoritária, que considera, em muito, características da Limitação na Servidão. 
É possível alegar-se uma servidão aparente? Sim, é possível que, a depender da situação concreta, ocorram intervenções do Estado na propriedade privada que ensejam uma servidão aparente, ou seja, seguir-se-ão os termos da súmula de n° 415 do STF.
Súmula de nº. 415 do STF: Servidão de trânsito não titulada, mas tornada permanente, sobretudo pela natureza das obras realizadas, considera-se aparente, conferindo direito à proteção possessória.  
Pela súmula, se a servidão não for registrada adequadamente, ou não for caracterizada, inicialmente, como uma servidão, mas se tornar permanente, principalmente em decorrência da natureza das obras realizadas ou da utilização do bem pelo Estado, considerar-se-á que é uma servidão aparente, e, assim, caberá ao proprietário a devida proteção de sua propriedade por ação possessória. 
De qualquer forma, é possível que a servidão seja extinta ou cancelada em diversas situações. São elas: 
· Perda da coisa gravada com ônus real. Ex.: demolição de um prédio pelo proprietário ou até mesmo a destruição do imóvel em decorrência de caso fortuito ou força maior, como uma enchente. 
· Se a coisa gravada perder a sua afetação pública. Ex.: imóvel vizinho estava tombado e, assim, o prédio se tornou serviente a um fim público. Com o cancelamento do tombamento ou destruição do imóvel vizinho, os fins que promoveram a servidão administrativa já não mais serão necessários e, em decorrência da desafetação, ocorrerá o cancelamento da servidão. 
· Caso o Poder Público entenda que o imóvel interessa para fins de aquisição. Ex.: poder público já estava realizando uma servidão e entendeu que o serviço público seria melhor ofertado se o imóvel fosse totalmente pertencente ao Estado. Assim, promoverá uma desapropriação e a Servidão será extinta. 
· Nas situações que o Estado perca o interesse público na manutenção da servidão. Ex.: utilizava o imóvel para adicionar uma placa com identificação de ruas ou avenidas, mas conseguiu forma alternativa de exposição sem a necessidade de se utilizar do bem serviente. 
Em qualquer dessas situações, a servidão será extinta formalmente, mediante registro da extinção no Cartório de registro de Imóveis. 
· Ressalta-se que alguns autores defenderão que, quando decorrente de lei, não há necessidade de se efetuar o registro no Cartório de Registro de Imóveis. Portanto, em algumas situações, pode não haver registro a ser modificado. 
Para a realização da servidão, em teoria, o particular ou ente público que detém o imóvel serviente, não pode ser tolhido do seu direito de propriedade, que contempla características de uso, gozo e fruição. Portanto, se a servidão impedir a utilização efetiva do bem, pode-se alegar uma situação de indenização ulterior – inclusive com cominação de perdas e danos e lucros cessantes, se houverem – ou até mesmo uma desapropriação indireta, que seguirá procedimento próprio de indenização. 
5. Tombamento 
Consiste em uma forma de intervenção em bens públicos ou privados para proteção do meio ambiente cultural, formado por elementos de patrimônio histórico, artístico ou cultural devidamente reconhecido. O tombamento trata de situações reconhecidas como de proteção ao patrimônio histórico, artístico e cultural de forma ampla, nos termos do art. 216 da CR/88: Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: 
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
§ 1º O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação.
§ 2º Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem.       
§ 3º A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais.
§ 4º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei.
§ 5º  Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos.
§ 6 º É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a fundo estadual de fomento à cultura até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida, para o financiamento de programas e projetos culturais, vedada a aplicação desses recursos no pagamento de:
I - despesas com pessoal e encargos sociais;
II - serviço da dívida; 
III - qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos investimentos ou ações apoiados.  
O rol presente no caput do art. 216 é exemplificativo, e apresenta uma série de situações que, uma vez que representem a identidade, a ação ou a memória de diferentes grupos pertencentes à sociedade brasileira, ensejam proteção enquanto patrimônio cultural. 
Sendo assim, o tombamento funcionará como meio de proteção a situações reconhecidas como patrimônio histórico, artístico, cultural, arqueológico, paleontológico, entre outros, e que constituem o patrimônio cultural brasileiro. 
No caso, a intervenção promovida pelo tombamento está no viés absoluto da propriedade privada. Assim, impor-se-ão restrições na utilização, gozo e fruição do bem, impedindo ao proprietário que se utilize dele livremente, o proprietário mantém sua autonomia no bem, mas deverá respeitar algumas restrições. 
A regulamentação do tombamento está no decreto lei n° 25/1937, que definirá o patrimônio cultural nos seguintes termos:

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