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Na clínica Como enfermeira(o) profissional em um hospital rural, você está revisando uma lâmina de microscópio de um raspado cutâneo de uma menina de 12 anos. A lâmina apresenta hifas ramificadas, nucleadas e entrelaçadas. A menina possui manchas secas, escamosas e com prurido em seus braços. Dica: leia sobre os tipos de microrganismos (pp. 3-5). O mundo microbiano e você O tema geral deste livro é a relação entre os micróbios – organismos muito pequenos, que geralmente requerem o auxílio de um microscópio para serem visualizados – e as nossas vidas. Essa relação não envolve apenas os efeitos prejudiciais de certos microrganismos, como doenças e deterioração dos alimentos, mas também seus variados efeitos benéficos. Neste capítulo, apresentaremos algumas das diversas maneiras pelas quais os micróbios afetam as nossas vidas. Iniciaremos abordando sobre como os organismos são nomeados e classificados, apresentando, em seguida, uma breve história da microbiologia, que revela o quanto aprendemos em poucas centenas de anos. Posteriormente, discutiremos a incrível diversidade dos microrganismos e a sua importância ecológica, observando como é mantido o equilíbrio no ambiente por meio da reciclagem dos elementos químicos, como carbono e nitrogênio, entre o solo, os organismos e a atmosfera. Examinaremos, também como os micróbios são utilizados em aplicações comerciais e industriais para produzir alimentos, produtos químicos e fármacos (como antibióticos), e também para o tratamento de esgoto, o controle de pestes e a limpeza de poluentes. Discutiremos os micróbios no âmbito das doenças, a causa de enfermidades, como a gripe aviária (aves), encefalite do Oeste do Nilo, doença da vaca louca, diarreia, febre hemorrágica e Aids, bem como examinaremos o crescente problema de saúde pública das bactérias resistentes a antibióticos. Bactérias Staphylococcus aureus presentes em células epiteliais nasais de seres humanos são mostradas na fotografia. Essas bactérias vivem de forma inofensiva, sem causar danos, sobre a pele ou no interior do nariz. A utilização inadequada de antibióticos permite a sobrevivência de bactérias que apresentam genes de resistência a antibióticos, como S. aureus resistente à meticilina (MRSA). Como ilustrado no Caso Clínico, uma infecção causada por essa bactéria é resistente ao tratamento antibiótico. Bactéria Staphylococcus aureus nas células epiteliais nasais de seres humanos. ASM: os microrganismos fornecem modelos essenciais que nos proporcionam conhecimentos fundamentais acerca dos processos da vida. 1 CAPÍTULO 1 O mundo microbiano e você 3 o hábitat de uma espécie. Por exemplo, considere Staphylococ- cus aureus, bactéria comumente encontrada na pele humana. Staphylo- descreve o arranjo em cacho das células desta bactéria; -coccus indica que as células têm a forma semelhante a esferas. O epíteto específico, aureus, significa ouro, em latim, a cor de muitas colônias dessa bactéria. O gênero da bactéria Escherichia coli recebeu este nome em homenagem ao cientista Theodor Escherich, ao passo que seu epíteto específico, coli, está rela- cionado ao fato de E. coli habitar o colo, ou o intestino grosso. A Tabela 1.1 contém mais exemplos. TESTE SEU CONHECIMENTO ✓ Diferencie gênero de epíteto específico. 1-2 Tipos de microrganismos Aqui é possível observar uma visão geral dos principais tipos de microrganismos. (A classificação e a identificação dos microrga- nismos são discutidas no Capítulo 10.) Jeans modernos: feitos por micróbios? Os jeans de azul Denim têm sido muito populares desde que Levi Strauss e Jacob Davis os produziram pela primeira vez para mineradores de ouro da Califórnia, em 1873. Atualmente, as empresas que fabricam o jeans azul estão recorrendo à microbiologia para o desenvolvimento de métodos de produção ambientalmente sustentáveis que minimizem resíduos tóxicos e os custos a eles associados. Jeans macio e desbotado Um denim mais macio e desbotado é produ- zido com o auxílio de enzimas, denominadas celulases, oriundas de fungos Trichoderma. Elas digerem uma parte da celulose presente no algodão. Ao contrário de muitas reações quí- micas, as enzimas, em geral, atuam em tempe- raturas e pHs seguros. Além disso, as enzimas são proteínas e, portanto, facilmente degrada- das para a remoção do esgoto industrial. Tecido A produção de algodão requer grandes extensões de terra e enormes quantidades de pesticidas e fertilizantes, e o rendimento da colheita depende do clima. Contudo, as bactérias podem produzir algodão e poliéster com menos impacto ambiental. A bactéria Gluconacetobacter xylinus produz celulose ligando unidades de glicose em cadeias sim- ples na membrana externa da parede celular bacteriana. As microfibrilas de celulose são expulsas através de poros na membrana ex- terna, e feixes de microfibrilas se entrelaçam, formando tiras. Branqueamento O peróxido é um agente branqueador mais seguro que o cloro e pode ser facilmente removido do tecido e do esgoto industrial por enzimas. Os pesquisadores da Novo Nordisk Biotech clonaram um gene de peroxidase de cogumelo em leveduras e cresceram as leveduras em condições de máquina de lavar. As leveduras que sobreviveram foram selecio- nadas como produtoras de peroxidase. Índigo A síntese química de índigo requer pH ele- vado e produz resíduos que explodem em contato com o ar. Contudo, uma companhia de biotecnologia da Califórnia, a Genencor, desenvolveu um método para produzir ín- digo utilizando bactérias. Os pesquisadores identificaram o gene de uma bactéria do solo, Pseudomonas putida, que converte o subpro- duto bacteriano indol em índigo. Esse gene foi inserido na bactéria Escherichia coli, que, por sua vez, se tornou azul. Bioplástico Os microrganismos podem até mesmo produ- zir zíperes plásticos e materiais de embalagem para os jeans. Cerca de 25 bactérias produzem grânulos de inclusão de poli-hidroxialcanoato (PHA) como reserva alimentar. Os PHAs são similares aos plásticos comuns, e por serem produzidos por bactérias, eles também são prontamente degradados por muitas bactérias. Os PHAs podem representar um material bio- degradável alternativo para substituir o plásti- co convencional, feito a partir de petróleo. Bactérias E. coli produzem índigo a partir do triptofano. TEM 0,3 �m Bactéria E. coli produtora de índigo. APLICAÇÕES DA MICROBIOLOGIA Caso clínico: uma simples picada de aranha? Andrea é uma universitária de 22 anos, geralmente saudável, que mora com a mãe e a irmã mais nova, ginasta do ensino médio. Ela está redigindo um artigo para a sua aula de psi- cologia, porém está com dificuldades devido a uma ferida avermelhada e intumescida no pulso direito, que atrapalha a digitação. “Por que esta picada de aranha não melhora?”, ela se pergunta. “Está aqui há vários dias!.” Ela, então, marca uma consulta médica para mostrar a lesão dolorida. Embora Andrea não apresente febre, ela possui contagem de leucócitos ele- vada, indicativa de infecção bacteriana. O médico de Andrea suspeita que a lesão não seja uma picada de aranha, mas sim uma infecção estafilocócica. Ele prescreve um antibiótico β-lactâmico, a cefalosporina. Aprenda mais sobre o desenvolvi- mento da doença de Andrea nas páginas seguintes. O que é estafilococo? Leia mais para descobrir. 3 15 17 18 19 4 PARTE I Fundamentos de microbiologia Bactérias Bactérias são organismos relativamente simples e de uma única cé- lula (unicelulares). Devido ao fato de seu material genético não ser envolto por uma membrana nuclear especial, as células bacterianas são chamadas de procariotos, de palavras gregas que significam pré-núcleo. Os procariotos incluem as bactérias e as arqueias. As células bacterianas apresentam uma entre várias for- mas possíveis. Bacilos (semelhantes a bastões), ilustrados na Figura 1.1a, cocos (esféricos ou ovoides) e espirais (espiralados ou curvados) estão entre as formas mais comuns,porém algumas bactérias possuem forma de estrela ou quadrado (ver Figuras 4.1 a 4.5, pp. 74-75). As bactérias individuais podem formar pares, cadeias, grupos ou outros agrupamentos; essas formações ge- ralmente são características de um gênero particular ou de uma espécie de bactéria. As bactérias são envoltas por uma parede celular que é praticamente composta por um complexo de carboidrato e proteína, chamado de peptideoglicano. (Em comparação, a celu- lose é a principal substância das paredes celulares de plantas e algas.) As bactérias geralmente se reproduzem por divisão em duas células iguais; esse processo é chamado de fissão binária. Para a sua nutrição, a maioria das bactérias usa compostos orgâ- nicos encontrados na natureza, derivados de organismos vivos ou mortos. Algumas bactérias podem fabricar o seu próprio ali- mento por fotossíntese, e algumas obtêm seu alimento a partir de compostos inorgânicos. Muitas bactérias podem “nadar” usando apêndices de movimento, chamados de flagelos. (Ver discussão completa sobre bactérias no Capítulo 11.) Arqueias Como as bactérias, as arqueias consistem em células procarióti- cas, porém, quando apresentam paredes celulares, elas carecem de peptideoglicano. As arqueias são encontradas, muitas vezes, em ambientes extremos e se dividem em três grupos principais. As metanogênicas produzem metano como produto residual da respiração. As halófilas extremas (halo, sal; fila, gosta) vivem em ambientes extremamente salgados, como o Grande Lago Salgado e o Mar Morto. As termófilas extremas (term, calor) vi- vem em águas quentes sulfurosas, como nas fontes termais do Yellowstone National Park. Não são conhecidas arqueias que causem doenças em seres humanos. Fungos Os fungos são eucariotos, organismos cujas células possuem um núcleo distinto contendo o material genético celular (DNA), circundado por um envelope especial, denominado membrana nuclear. Os organismos do Reino Fungi podem ser unicelulares ou multicelulares (ver Capítulo 12, p. 320). Grandes fungos mul- ticelulares, como os cogumelos, podem assemelhar-se a plantas, mas diferentemente da maioria destas últimas, os fungos não conseguem realizar fotossíntese. Fungos verdadeiros têm paredes celulares compostas principalmente de uma substância denomi- nada quitina. A forma unicelular dos fungos, as leveduras, são mi- crorganismos ovais maiores do que as bactérias. Os fungos mais comuns são os bolores (Figura 1.1b). Os bolores formam massas visíveis, denominadas micélios, compostas de longos filamentos (hifas) que se ramificam e se entrelaçam. Os crescimentos cotono- sos (semelhantes ao algodão), que algumas vezes são vistos sobre o pão e as frutas, são micélios de fungos. Os fungos podem se re- produzir sexuada e assexuadamente. Eles obtêm nutrientes através da absorção de soluções de materiais orgânicos do ambiente – seja do solo, da água do mar, da água doce ou de um hospedeiro ani- mal ou vegetal. Organismos chamados de micetozoários possuem características de fungos e amebas (ver Capítulo 12). Protozoários Os protozoários são micróbios unicelulares eucarióticos (ver Capítulo 12, p. 337). Os protozoários se movimentam através de pseudópodes, flagelos ou cílios. As amebas (Figura 1.1c) movem- -se através de extensões de seu citoplasma, chamadas de pseudó- podes (pés falsos). Outros protozoários possuem longos flagelos ou numerosos apêndices curtos para a locomoção, chamados de cílios. Os protozoários apresentam uma variedade de formas e vivem como entidades de vida livre ou como parasitos (organis- mos que retiram os seus nutrientes de hospedeiros vivos), absor- vendo ou ingerindo compostos orgânicos do ambiente. Alguns protozoários, como a Euglena, são fotossintéticos. Utilizam a luz como fonte de energia e dióxido de carbono como a principal Tabela 1.1 Familiarizando-se com os nomes científicos Use o guia da raiz das palavras para descobrir o que cada nome significa. O nome não parecerá tão estranho depois que você o traduzir. Quando encontrar um novo nome, treine sua pronúncia dizendo-o em voz alta (guias para pronúncias são apresentados no apêndice D). A pronúncia exa- ta não será tão importante quanto a familiaridade que você terá. A seguir, são apresentados alguns exemplos de nomes microbianos que você pode encontrar na literatura e também no laboratório. Fonte do nome do gênero Fonte do epíteto específico Salmonella enterica (bactéria) Em homenagem ao microbiologista de saúde pública Daniel Salmon Encontrada nos intestinos (entero-) Streptococcus pyogenes (bactéria) Aparência das células em cadeias (strepto-) Produz pus (pyo-) Saccharomyces cerevisiae (levedura) Fungo (-myces) que utiliza açúcar (saccharo-) Produz cerveja (cerevisia) Penicillium chrysogenum (fungo) Aparência microscópica semelhante a um pe- nacho ou pincel (penicill-) Produz pigmento amarelo (chryso-) Trypanosoma cruzi (protozoário) Espiralado- (trypano-, broca; soma-, corpo) Em homenagem ao epidemiologista Oswaldo Cruz CAPÍTULO 1 O mundo microbiano e você 5 fonte de carbono para a produção de açúcares. Os protozoários podem se reproduzir sexuada ou assexuadamente. Algas As algas são eucariotos fotossintéticos que apresentam uma ampla variedade de formas e ambas as formas reprodutivas, se- xuada e assexuada (Figura 1.1d). As algas de interesse para os microbiologistas, em geral, são unicelulares (ver Capítulo 12, p. 332). As paredes celulares de muitas algas são compostas de um carboidrato chamado de celulose. As algas são abundantes em água doce e em água salgada, no solo e em associação com plantas. Como fotossintetizadoras, as algas necessitam de luz, água e dióxido de carbono para a produção de alimento e para seu crescimento, mas geralmente não requerem compostos or- gânicos do ambiente. Como resultado da fotossíntese, as algas produzem oxigênio e carboidratos, que são, então, utilizados por outros organismos, incluindo os animais. Dessa forma, possuem um papel importante no equilíbrio da natureza. Vírus Os vírus (Figura 1.1e) são muito diferentes dos outros grupos mi- crobianos mencionados aqui. São tão pequenos que a maioria só pode ser vista com o auxílio de um microscópio eletrônico, sen- do também acelulares (não são células). A partícula viral é muito simples estruturalmente, contendo um núcleo formado somente por um tipo de ácido nucleico, DNA ou RNA. Esse núcleo é cir- cundado por uma camada proteica, que é, muitas vezes, envolta por uma membrana lipídica, chamada de envelope. Todas as cé- lulas vivas têm RNA e DNA, podem conduzir reações químicas e se reproduzir como unidades autossuficientes. Os vírus só podem se reproduzir usando a maquinaria celular de outros organismos. Assim, por um lado, os vírus são considerados como organismos vivos apenas quando se multiplicam no interior das células hospe- deiras que infectam. Nesse sentido, os vírus são parasitos de ou- tras formas de vida. Por outro lado, os vírus não são considerados organismos vivos, uma vez que são inertes fora de seus hospedei- ros vivos. (Os vírus serão discutidos em detalhes no Capítulo 13.) Parasitos multicelulares de animais Embora os parasitos multicelulares de animais não sejam ex- clusivamente microrganismos, eles têm importância médica e, portanto, serão discutidos neste texto. Os parasitos animais são eucariotos. Os dois principais grupos de vermes parasitos são os vermes chatos e os vermes redondos, coletivamente chamados de helmintos (ver Capítulo 12, p. 343). Durante alguns estágios do ciclo de vida, os helmintos têm tamanho microscópico. A identi- ficação laboratorial desses organismos inclui muitas das mesmas técnicas utilizadas para a identificação dos micróbios. TESTE SEU CONHECIMENTO ✓ Quais grupos de micróbios são procariotos? Quais são euca- riotos? 1-3 Classificação dos microrganismos Antes que a existência dos micróbios fosse conhecida, todos os organismos eram agrupados no reino animal ou no reino vege- tal. Quando organismos microscópicoscom características de animais e vegetais foram descobertos, no final do século XVII, um novo sistema de classificação se tornou necessário. Ainda assim, os biólogos não conseguiram chegar a um consenso com relação aos critérios de classificação desses novos organismos até o final de 1970. Em 1978, Carl Woese desenvolveu um sistema de classifi- cação com base na organização celular dos organismos. Todos os organismos foram agrupados em três domínios: 1. Bacteria (as paredes celulares contêm um complexo car- boidrato-proteína chamado de peptideoglicano). 2. Archaea (as paredes celulares, se presentes, não possuem peptideoglicano). 3. Eukarya, que inclui os seguintes grupos: • Protistas (micetozoários, protozoários e algas); • Fungos (leveduras unicelulares, bolores multicelulares e cogumelos); (a) (c) (d)(b) (e) Bactérias Esporângios Pseudópodes Célula CD4+ T HIVs Partícula de alimento 3 �m SEM 50 �m SEM 50 �m SEM 270 �m LM 500 nm SEM Figura 1.1 Tipos de microrganismos. (a) A bactéria em forma de bacilo, Haemophilus influenzae, uma das bactérias causadoras da pneumo- nia. (b) Mucor, bolor de pão típico, é um tipo de fungo. Quando liberados dos esporângios, os esporos que alcançam uma superfície favorável germinam, formando uma rede de hifas (filamentos) que absorvem nutrientes. (c) A ameba, um protozoário, se aproximando de uma partícula de alimento. (d) A alga Volvox, que ocorre em lagoas. (e) Vírus da imunodeficiência humana (HIV), o agente causador da Aids, brotando de uma célula T CD4�. Como bactérias, arqueias, fungos, protozoários, algas e vírus podem ser distinguidos com base nas estruturas celulares? Nota: Em todo este livro, um ícone vermelho sob uma microfotografia indica que ela foi colorida artificialmente. As escalas do MEV (mi- croscópio eletrônico de varredura) e do MO (microscópio óptico) são discutidas detalhadamente no Capítulo 3. 6 PARTE I Fundamentos de microbiologia • Plantas (musgos, samambaias, coníferas e plantas com flores); • Animais (esponjas, vermes, insetos e vertebrados). A classificação será discutida em mais detalhes nos Capítulos 10 a 12. TESTE SEU CONHECIMENTO ✓ Quais são os três domínios? 1-4 Uma breve história da microbiologia OBJETIVOS DO APRENDIZADO 1-5 Explicar a importância das observações realizadas por Hooke e van Leeuwenhoek. 1-6 Comparar geração espontânea e biogênese. 1-7 Identificar as contribuições feitas por Needham, Spallanzani, Virchow e Pasteur para a microbiologia. 1-8 Explicar como o trabalho de Pasteur influenciou Lister e Koch. 1-9 Identificar a importância dos postulados de Koch. 1-10 Identificar a importância do trabalho de Jenner. 1-11 Identificar as contribuições para a microbiologia realizadas por Ehrlich e Fleming. 1-12 Definir bacteriologia, micologia, parasitologia, imuno- logia e virologia. 1-13 Explicar a importância da genética microbiana e da biologia molecular. Os ancestrais bacterianos foram as primeiras células vivas a apa- recerem na Terra. Durante muito tempo na história humana, as pessoas sabiam pouco sobre as reais causas, mecanismo de transmissão e tratamento efetivo das doenças. Examinaremos agora alguns conhecimentos da microbiologia que impulsiona- ram o progresso desse campo para o estágio altamente tecnoló- gico atual. As primeiras observações Em 1665, após observar uma fina fatia de cortiça em um mi- croscópio rudimentar, o inglês Robert Hooke declarou que as menores unidades estruturais da vida eram “pequenas caixas” ou “células”. Posteriormente, utilizando seu microscópio aprimora- do, Hooke observou células individuais. A descoberta de Hooke marcou o início da teoria celular – a teoria de que todas as coisas vivas são compostas por células. Embora o microscópio de Hooke fosse capaz de mostrar células grandes, não tinha resolução suficiente que lhe permitisse ver claramente os micróbios. O comerciante holandês e cientista amador Anton van Leeuwenhoek foi provavelmente o primeiro a observar microrganismos vivos através das lentes de aumento dos mais de 400 microscópios que ele construiu. Entre 1673 e 1723, ele escreveu sobre os “animáculos” que visualizou através de seus microscópios simples de lente única. Van Leeuwenhoek realizou ilustrações detalhadas dos organismos que encontrou na água da chuva, nas fezes e em material de raspado de dentes. Esses desenhos foram identificados como representações de bac- térias e protozoários (Figura 1.2). TESTE SEU CONHECIMENTO ✓ O que é teoria celular? 1-5 O debate sobre a geração espontânea Após van Leeuwenhoek descobrir o mundo anteriormen- te “invisível” dos microrganismos, a comunidade científica interessou-se nas origens desses minúsculos seres vivos. Até a segunda metade do século XIX, muitos cientistas e filóso- fos acreditavam que algumas formas de vida poderiam surgir espontaneamente da matéria morta; eles chamaram esse pro- cesso hipotético de geração espontânea. Não mais do que 100 anos atrás, as pessoas comumente acreditavam que sapos, co- bras e ratos poderiam se originar do solo úmido; que as moscas poderiam surgir a partir de estrume; e que as larvas (que hoje sabemos que são larvas de moscas) poderiam se originar de cadáveres em decomposição. O médico Francesco Redi iniciou, em 1668, os trabalhos para demonstrar que as larvas não eram geradas espontanea- mente. Redi encheu duas jarras com carne em decomposição. A primeira foi deixada aberta, permitindo que as moscas pos- tassem ovos na carne, que, posteriormente, se desenvolveram em larvas. A segunda jarra foi selada e, assim, como as moscas não conseguiram atingir o interior do frasco, nenhuma larva apare- ceu. Ainda assim, os antagonistas de Redi não se convenceram; eles argumentavam que o ar fresco era necessário para ocorrer a geração espontânea. Então, Redi realizou um segundo experi- mento, no qual uma jarra foi coberta com uma fina rede, em vez de ser lacrada. Nenhuma larva apareceu na jarra coberta com a rede, embora o ar estivesse presente. Os resultados de Redi representaram um forte golpe no antigo conceito de que as formas grandes de vida poderiam sur- gir de formas não vivas. Contudo, muitos cientistas ainda acre- ditavam que organismos pequenos, como os “animáculos” de van Leeuwenhoek, eram simples o bastante para serem gerados a partir de materiais não vivos. A questão da geração espontânea dos microrganismos se reforçou em 1745, quando John Needham descobriu que mesmo após ter aquecido o caldo de galinha e o caldo de milho antes de armazená-los em frascos cobertos, as soluções resfriadas em pouco tempo ficaram repletas de microrganismos. Needham considerou que os micróbios desenvolviam-se espontaneamente a partir de caldos. Vinte anos depois, Lazzaro Spallanzani suge- riu que os microrganismos do ar provavelmente entraram nas soluções de Needham após estas serem fervidas. Spallanzani de- monstrou que os caldos nutrientes aquecidos após serem lacra- dos em um frasco não apresentavam desenvolvimento microbia- no. Needham respondeu alegando que a “força vital” necessária para a geração espontânea tinha sido destruída pelo calor e foi mantida fora dos frascos pelos lacres. As observações de Spallanzani foram criticadas com o ar- gumento de que não existia oxigênio suficiente nos frascos lacra- dos para o desenvolvimento da vida microbiana. CAPÍTULO 1 O mundo microbiano e você 7 A teoria da biogênese Em 1858, Rudolf Virchow desafiou a questão da geração espon- tânea com o conceito de biogênese, hipotetizando que células vi- vas surgiam apenas de células vivas preexistentes. Como ele não podia oferecer nenhuma prova científica, os argumentos sobre a geração espontânea continuaram até 1861, quando a questão foi, por fim, elucidada pelo cientista francês Louis Pasteur. Pasteur demonstrou que os microrganismos estão pre- sentes no ar e podem contaminar soluções estéreis, porém o ar, por si próprio, não origina micróbios. Ele encheu vários frascos, que tinham a aberturaem forma de pescoço curto, com caldo de carne e, então, ferveu o conteúdo. Alguns deles ele deixou que esfriassem abertos. Em poucos dias, esses frascos estavam contaminados com micróbios. Os outros frascos, lacrados após a fervura, estavam livres de microrganismos. A partir desses re- sultados, Pasteur fundamentou que os micróbios do ar eram os agentes responsáveis pela contaminação da matéria não viva. Pasteur, em seguida, colocou caldo em frascos de pes- coço longo, com abertura terminal, e dobrou os pescoços, for- mando curvas no formato de um S (Figura 1.3). Os conteúdos dos frascos foram então fervidos e resfriados. O meio de cultu- ra nos frascos não apodreceu e não apresentou sinais de vida, mesmo após meses. O modelo único criado por Pasteur permi- tia que o ar entrasse no frasco, mas o pescoço curvado captu- rava todos os microrganismos do ar que poderiam contaminar o meio de cultura. (Alguns desses frascos originais ainda estão em exposição no Instituto Pasteur, em Paris. Eles foram lacra- dos, mas, como o frasco mostrado na Figura 1.3, não mostram sinais de contaminação mais de 100 anos depois da realização do experimento.) Pasteur mostrou que os microrganismos podem estar presentes na matéria não viva – sobre sólidos, em líquidos e no ar. Além disso, ele demonstrou conclusivamente que a vida microbiana pode ser destruída pelo calor e que métodos po- dem ser idealizados com o objetivo de bloquear o acesso dos microrganismos do ar aos meios nutrientes. Essas descobertas formam a base das técnicas de assepsia, que previnem a con- taminação por microrganismos indesejáveis e que agora são práticas rotineiras para muitos procedimentos médicos e em laboratórios. As técnicas modernas de assepsia estão entre os primeiros e mais importantes conceitos que um iniciante em microbiologia aprende. O trabalho de Pasteur forneceu evidências de que os mi- crorganismos não podem se originar das forças místicas pre- sentes em materiais não vivos. Ao contrário, o surgimento de vida “espontânea” em soluções não vivas pode ser atribuído aos microrganismos que já estavam presentes no ar e nos próprios fluidos. Os cientistas agora acreditam que provavelmente uma forma de geração espontânea ocorreu na Terra primitiva, quan- do a primeira vida surgiu, mas concordam que isso não acontece sob as condições ambientais atuais. TESTE SEU CONHECIMENTO ✓ Qual evidência sustenta a geração espontânea? 1-6 ✓ Como a geração espontânea foi refutada? 1-7 A idade de ouro da microbiologia O período de 1857 a 1914 foi apropriadamente chamado de a Idade de Ouro da Microbiologia. Avanços rápidos, proporcio- nados principalmente por Pasteur e Robert Koch, levaram ao estabelecimento da microbiologia. As descobertas incluíram tanto os agentes causadores de muitas doenças, quanto o papel da imunidade na prevenção e na cura das enfermidades. Du- rante esse produtivo período, os microbiologistas estudaram as atividades químicas de microrganismos, melhoraram as técnicas C E N T ÍM E T R O S 1 2 3 4 5 6 7 8 9 (b) Réplica do microscópio(a) Van Leeuwenhoek utilizando o seu microscópio (c) Ilustrações de bactérias Lente Parafuso de posicionamento da amostra Controle do foco Parafuso de posicionamento do estágio Localização da amostra no pino Figura 1.2 Observações microscópicas de Anton van Leeuwenhoek. (a) Ao segurar seu microscópio próximo a uma fonte de luz, van Leeuwenhoek conseguiu observar organismos vivos que eram muito pequenos para serem vistos a olho nu. (b) A amostra foi colocada na ponta do local ajustável e observada pelo outro lado através da lente pequena, quase esférica. A maior ampliação possível com este microscópio foi de cerca de 300� (vezes). (c) Algumas das ilustrações de bactérias de van Leeuwenhoek, produzidas em 1683. As letras representam várias formas de bactérias. C-D representa a trajetória do movimento observado por ele. Por que a descoberta de van Leeuwenhoek foi tão importante? 8 PARTE I Fundamentos de microbiologia de microscopia e de cultivo de microrganismos e desenvolveram vacinas e técnicas cirúrgicas. Alguns dos principais eventos que ocorreram durante a Idade de Ouro da Microbiologia estão lis- tados na Figura 1.4. Fermentação e pasteurização Uma das etapas fundamentais que estabeleceu a relação entre microrganismos e doenças ocorreu quando um grupo de merca- dores franceses pediu a Pasteur que descobrisse por que o vinho e a cerveja azedavam. Eles esperavam desenvolver um método que impedisse a deterioração dessas bebidas quando enviadas a longas distâncias. Naquele tempo, muitos cientistas acreditavam que o ar convertia os açúcares desses fluidos em álcool. Pasteur descobriu, ao contrário, que microrganismos, chamados de leve- duras, convertiam os açúcares em álcool na ausência de ar. Esse processo, chamado de fermentação (ver Capítulo 5, p. 127), é utilizado na produção de vinho e cerveja. O azedamento e a de- terioração são causados por organismos diferentes, chamados de bactérias. Na presença de ar, bactérias transformam o álcool em vinagre (ácido acético). A solução de Pasteur para o problema da deterioração foi o aquecimento da cerveja e do vinho o suficiente para matar a maioria das bactérias que causavam o estrago. Esse processo, chamado de pasteurização, hoje é comumente utilizado, a fim de se reduzir a deterioração e de se destruir bactérias potencial- mente nocivas presentes no leite, bem como em algumas bebidas alcoólicas. A teoria do germe da doença Antes da época de Pasteur, os tratamentos eficazes para mui- tas doenças foram descobertos por tentativa e erro, mas as causas das doenças eram desconhecidas. A descoberta de que 1.3F I G U R A D E B A S E Refutando a teoria da geração espontânea Os microrganismos não estavam presentes mesmo após bastante tempo. Os microrganismos não estavam presentes no caldo após a fervura. A curvatura impediu que os micróbios entrassem no frasco. CONCEITOS-CHAVE • Pasteur demonstrou que os micróbios são responsáveis pela deterioração dos alimentos, conduzindo os pesquisadores à conexão entre micróbios e doenças. • Seus experimentos e observações forneceram as bases para as técnicas de assepsia, que são utilizadas na prevenção da contaminação microbiana, como apresentado na foto à direita. De acordo com a teoria da geração espontânea, a vida pode surgir espontaneamente a partir de matéria não viva, como cadáveres e solo. O experimento de Pasteur, descrito abaixo, demonstra que os micróbios estão presentes na matéria não viva – ar, líquidos e sólidos. Alguns destes frascos originais ainda estão em exposição no Instituto Pasteur, em Paris. Eles foram selados, mas não apresentam nenhum sinal de contaminação mais de 100 anos depois. 1 Pasteur primeiramente despejou caldo de carne bovina em um frasco de pescoço comprido. 2 Em seguida, ele aqueceu o pescoço do frasco e o curvou em formato de S; então, ele ferveu o caldo por vários minutos. 3 Os microrganismos não aparecerem na solução resfriada, mesmo após bastante tempo. Os microrganismos estavam presentes no caldo. CAPÍTULO 1 O mundo microbiano e você 9 as leveduras têm um papel fundamental na fermentação foi a primeira ligação entre a atividade de um microrganismo e as mudanças físicas e químicas nas matérias orgânicas. Essa descoberta alertou os cientistas para a possibilidade de que os microrganismos pudessem ter relações similares com plantas e animais – especificamente, que os microrganismos pudessem causar doenças. Essa ideia ficou conhecida como teoria do germe da doença. A teoria do germe encontrou grande resistência no co- meço, tendo em vista que por séculos acreditava-se que as doenças eram punições para um crime ou delito de um indiví- duo. Quando os habitantes de toda uma aldeia ficavam doentes, as pessoas frequentemente colocavam a culpa da doença em de- mônios que apareciam como odores fétidos de esgotos ou nos vapores venenosos dos pântanos. Amaioria das pessoas nas- cidas na época de Pasteur achava inconcebível que micróbios “invisíveis” pudessem viajar pelo ar e infectar plantas e animais, ou permanecer em roupas e camas para serem transmitidos de uma pessoa para outra. Apesar dessas dúvidas, os cientis- tas acumularam gradualmente as informações necessárias para sustentar a nova teoria do germe. Em 1865, Pasteur foi chamado para ajudar no combate à doença do bicho-da-seda, que estava arruinando a indústria da seda em toda a Europa. Décadas antes, o microscopista amador Agostino Bassi tinha provado que outra doença do bicho-da- -seda era causada por um fungo. Utilizando os dados fornecidos por Bassi, Pasteur descobriu que a infecção mais recente era cau- sada por um protozoário e, então, desenvolveu um método para identificar os bichos-da-seda que estavam contaminados. Em 1860, Joseph Lister, um cirurgião inglês, aplicou a teoria do germe nos procedimentos médicos. Lister estava cien- te de que, em 1840, o médico húngaro Ignaz Semmelweis tinha demonstrado que os médicos, que naquela época não faziam assepsia das mãos, transmitiam infecções rotineiramente (febre puerperal ou em crianças recém-nascidas) de uma paciente de obstetrícia para outra. Lister também tinha conhecimento sobre o trabalho de Pasteur relacionando os micróbios com as doenças em animais. Desinfetantes não eram usados naquela época, mas Lister sabia que o fenol (ácido carbólico) matava as bactérias, en- tão começou a tratar as feridas cirúrgicas com uma solução de fenol. A prática para reduzir a incidência de infecções e morte foi adotada rapidamente por outros cirurgiões. Suas descobertas provaram que os microrganismos provocam infecções em feri- das cirúrgicas. A primeira evidência de que bactérias realmente causam doenças veio de Robert Koch, em 1876. Koch, um médico ale- mão, era o jovem rival de Pasteur na corrida para descobrir a causa do antraz, doença que estava destruindo os rebanhos de gado e ovelhas na Europa. Koch descobriu bactérias em forma de bacilos, conhecidas atualmente como Bacillus anthracis, no san- Idade do Ouro da MICROBIOLOGIA 1857 1861 1864 1867 1876 1879 1881 1882 1883 1884 1887 1889 1890 1892 1898 1908 1910 1911 Pasteur – Fermentação Pasteur – Geração espontânea refutada Pasteur – Pasteurização Lister – Cirurgia asséptica Koch* – Teoria do germe da doença Neisser – Neisseria gonorrhoeae Koch* – Culturas puras Finlay – Febre amarela Koch* – Mycobacterium tuberculosis Hess – Meio ágar (sólido) Koch* – Vibrio cholerae Metchnikoff* – Fagocitose Gram – Técnica da coloração de Gram Escherich – Escherichia coli Petri – Placa de Petri Kitasato – Clostridium tetani von Bering* – Antitoxina diftérica Ehrlich* – Teoria da imunidade Winogradsky – Ciclo do enxofre Shiga – Shigella dysenteriae Ehrlich* – Tratamento da sífilis Chagas – Trypanosoma cruzi Rous* – Vírus causadores de tumores (Prêmio Nobel de 1966) Louis Pasteur (1822–1895) Demonstrou que a vida não é gerada espontaneamente a partir de matéria não viva. Robert Koch (1843–1910) Estabeleceu as etapas experimentais capazes de relacionar um micróbio específico a uma doença específica. Joseph Lister (1827–1912) Realizou cirurgia em condições assépticas utilizando fenol. Provou que os micróbios provocam infecções de feridas cirúrgicas. Figura 1.4 Marcos na Idade do Ouro da Microbiologia. Um asterisco (*) indica um vencedor do Prêmio Nobel. Por que você acredita que a Idade do Ouro da Microbiologia ocorreu neste período? 10 PARTE I Fundamentos de microbiologia gue de um rebanho que morreu de antraz. Ele cultivou a bactéria em meio de cultura e, então, injetou amostras da cultura em ani- mais saudáveis. Quando esses animais adoeceram ou morreram, Koch isolou a bactéria presente no sangue e a comparou com a bactéria originalmente isolada. Ele descobriu que as duas amos- tras continham a mesma bactéria. Dessa forma, Koch estabeleceu os Postulados de Koch, uma sequência de etapas experimentais capazes de relacionar di- retamente um micróbio específico a uma doença específica (ver Figura 14.3, p. 395). Durante os últimos 100 anos, esses mesmos critérios têm sido extremamente úteis nas investigações para provar que microrganismos específicos causam muitas doenças. Os postulados de Koch, suas limitações e suas aplicações nas doenças serão discutidos em mais detalhes no Capítulo 14. Vacinação Frequentemente um tratamento ou um procedimento pre- ventivo é desenvolvido antes que os cientistas saibam como funciona. A vacina contra a varíola é um exemplo disso. Qua- se 70 anos antes de Koch estabelecer que um microrganismo específico causava o antraz, Edward Jenner, um jovem médico inglês, iniciou um experimento para descobrir um modo de proteger as pessoas da varíola. A doença periodicamente varria a Europa, matando milhares de pessoas, e também foi respon- sável por eliminar 90% dos norte-americanos nativos da Costa Leste americana, quando os colonizadores europeus trouxeram a infecção ao Novo Mundo. Quando uma jovem que trabalhava na ordenha de vacas informou a Jenner que ela não contraía varíola porque já havia estado doente de varíola bovina* – doença mais branda que a varíola – ele decidiu testar a história da jovem. Primeiro, Jenner coletou raspados das feridas provenientes das vacas. Então, ele inoculou um voluntário de 8 anos de idade com o material reti- rado das feridas através de pequenos arranhões no braço do ga- roto com uma agulha contaminada. Os arranhões deram origem a bolhas. Em poucos dias, o voluntário estava com uma forma amena da doença, mas se recuperou e nunca mais contraiu nem a varíola bovina e nem a varíola humana. A proteção contra a doença fornecida pela vacinação (ou através da recuperação da doença em si) é chamada de imunidade. Discutiremos os meca- nismos de imunidade no Capítulo 17. Anos após o experimento de Jenner, Pasteur desvendou porque a vacinação funciona. Ele descobriu que a bactéria cau- sadora da cólera aviária perde a sua capacidade de causar doença (perde a sua virulência, ou torna-se avirulenta) após cultivo em laboratório por longos períodos. Contudo, essa bactéria e outros microrganismos com virulência diminuída eram capazes de in- duzir imunidade contra infecções subsequentes por seus compa- nheiros virulentos. A descoberta desse fenômeno forneceu a cha- ve para o sucesso do experimento de Jenner com varíola bovina. Tanto a varíola humana quanto a bovina são causadas por vírus. Mesmo que o Cowpox virus não seja um derivado produzido em laboratório do vírus causador da varíola, sua semelhança com o vírus da varíola é tão grande que ele pode induzir imunida- de contra ambas as viroses. Pasteur utilizou o termo vacina para culturas de microrganismos avirulentos utilizados para inocula- ção preventiva. (A palavra em latim vacca significa vaca – dessa forma, o termo vacina é uma homenagem ao trabalho anterior de Jenner, sobre a inoculação da varíola bovina.) O experimento de Jenner, na verdade, não foi o primeiro a utilizar um agente viral vivo – neste caso, o vírus Cowpox – para produzir imunidade. Com início em 1500, médicos chine- ses imunizavam pacientes contra a varíola através da remoção de raspados de pústulas secas de um indivíduo acometido por um quadro brando da doença, moendo os raspados até que estes se tornassem um pó fino e, após, inoculando o pó no nariz da pessoa a ser imunizada. Algumas vacinas ainda são produzidas a partir de linha- gens de microrganismos avirulentos que estimulam a imunidade contra uma linhagem virulenta relacionada. Outras vacinas são feitas a partir de micróbios virulentos mortos, de componentes isolados de microrganismos virulentos, ou por técnicas de enge- nharia genética. TESTE SEU CONHECIMENTO ✓ Resuma, com suas palavras, a teoria do germe da doença. 1-8 ✓ Qual a importância dos postulados de Koch? 1-9 ✓ Qual o significado da descoberta de Jenner? 1-10 O nascimentoda quimioterapia moderna: sonhos de uma “bala mágica” Após a relação entre microrganismos e doenças ter sido esta- belecida, os médicos microbiologistas direcionaram as novas pesquisas para a busca de substâncias que pudessem destruir o microrganismo patogênico sem causar nenhum mal à pessoa ou ao animal infectado. O tratamento de uma doença através da uti- lização de substâncias químicas é chamado de quimioterapia. (O termo se refere também ao tratamento químico de doenças não infecciosas, como o câncer.) Substâncias químicas produzi- das naturalmente por bactérias e fungos para atuar contra ou- tros microrganismos são chamadas de antibióticos. Os agentes quimioterápicos preparados a partir de compostos químicos em laboratório são chamados de medicamentos sintéticos. O suces- so da quimioterapia baseia-se no fato de que alguns compostos químicos são mais nocivos aos microrganismos do que ao hos- pedeiro infectado. A terapia antimicrobiana será discutida em detalhes no Capítulo 20. Os primeiros medicamentos sintéticos Paul Ehrlich foi o idealista que disparou o primeiro tiro na re- volução quimioterápica. Como estudante de medicina, Ehrlich especulou sobre uma “bala mágica” que pudesse combater e destruir o patógeno sem prejudicar o hospedeiro. Em 1910, após testar centenas de substâncias, ele descobriu um agente quimioterápico, chamado de salvarsan, derivado de arsênico, efetivo contra a sífilis. O agente foi chamado de salvarsan por ter sido considerado a salvação contra a sífilis e conter arsênio. Antes dessa descoberta, o único químico conhecido no arsenal médico europeu era um extrato retirado da casca de uma árvore sul-americana, o quinino, que havia sido usado pelos conquista- dores espanhóis no tratamento da malária. No final da década de 1930, os pesquisadores desenvolve- ram diversos outros medicamentos sintéticos que podiam destruir *N. de R.T. A varíola bovina é causada pelo Cowpox virus. CAPÍTULO 1 O mundo microbiano e você 11 microrganismos. A maioria desses medicamentos era derivada de corantes. Isso aconteceu porque os corantes, sintetizados e pro- duzidos para tecidos, eram rotineiramente testados em relação à atividade antimicrobiana pelos microbiologistas, que procuravam a “bala mágica”. Além disso, as sulfonamidas (medicamentos deri- vados da sulfa) foram sintetizadas no mesmo período. Um acidente afortunado: os antibióticos O primeiro antibiótico foi descoberto por acidente. Alexander Fleming, médico e bacteriologista escocês, quase descartou al- gumas placas de cultura que haviam sido contaminadas por fun- gos. Felizmente, ele percebeu um curioso padrão de crescimento nas placas – uma área clara, onde o crescimento bacteriano ha- via sido inibido, se apresentava ao redor do fungo (Figura 1.5). Fleming estava diante de um fungo que inibiu o crescimento de uma bactéria. O fungo ficou conhecido como Penicillium chrysogenum, e o inibidor ativo deste fungo foi chamado de penicilina. Assim, a penicilina é um antibiótico produzido por um fungo. A enorme utilidade da penicilina não foi notada até a década de 1940, quando foi testada clinicamente e produzida em grande escala. Desde as descobertas iniciais dos antibióticos, milhares de outros foram desenvolvidos. Infelizmente, os antibióticos e outros fármacos quimioterápicos não estão livres de problemas. Muitos fármacos antimicrobianos matam os micróbios patogê- nicos, mas também produzem danos ao hospedeiro infectado. Por razões que serão discutidas mais tarde, a toxicidade para seres humanos é um problema específico no desenvolvimento de medicamentos para o tratamento de doenças virais. O cresci- mento viral depende dos processos vitais das células hospedeiras normais. Assim, existem poucos medicamentos antivirais efe- tivos, pois um medicamento capaz de interferir na reprodução viral também pode afetar as células não infectadas do corpo. Ao longo dos anos, cada vez mais micróbios também desenvolveram resistência a antibióticos que um dia já foram bastante efetivos contra eles. A resistência aos fármacos resulta de mudanças genéticas nos micróbios, tornando-os capazes de tolerar certa quantidade de um antibiótico, que normalmente inibiria o seu crescimento (ver quadro no Capítulo 26, p. 756). Por exemplo, um micróbio pode produzir enzimas que inati- vam os antibióticos, ou um microrganismo pode sofrer altera- ções em sua superfície que impedem a ligação ou a entrada de um fármaco. O surgimento recente de Staphylococcus aureus e Enterococcus faecalis resistentes à vancomicina deixou em alerta os profissionais da saúde, uma vez que esse fato indica que al- gumas infecções bacterianas previamente tratáveis podem, em breve, se tornar impossíveis de serem tratadas com antibióticos. TESTE SEU CONHECIMENTO ✓ Em que consistia a ”bala mágica” de Ehrlich? 1-11 Progressos recentes na microbiologia A questão da solução da resistência a fármacos, a identificação de viroses e o desenvolvimento de vacinas requerem técnicas de pesquisas sofisticadas e estudos correlacionados que nunca fo- ram imaginados na época de Koch e Pasteur. A fundamentação estabelecida durante a Idade do Ouro da Microbiologia forneceu as bases para diversas conquistas ex- traordinárias nos anos seguintes (Tabela 1.2). Novos ramos da microbiologia foram desenvolvidos, incluindo a imunologia e a virologia. Mais recentemente, o desenvolvimento de uma série de novos métodos, chamados de tecnologia do DNA recombinan- te, revolucionou as pesquisas e as aplicações práticas em todas as áreas da microbiologia. Colônia bacteriana normal Área de inibição do crescimento bacteriano Colônia de Penicillium Figura 1.5 A descoberta da penicilina. Alexander Fleming docu- mentou esta fotografia em 1928. A colônia do fungo Penicillium aci- dentalmente contaminou a placa e inibiu o crescimento das bactérias adjacentes. Por que você acredita que a penicilina não é mais tão efetiva quanto antigamente? Tabela 1.2 Prêmios Nobel concedidos para descobertas em microbiologia Década Descobertas 1950 Estreptomicina Etapas químicas do ciclo de Krebs Cultivo de poliovírus em culturas celulares Controle genético de reações bioquímicas 1960 Tolerância imune adquirida 1980 Técnica para a produção de anticorpos monoclonais (único puro) Genética da produção de anticorpos Genes causadores de câncer (oncogenes) 1990 Primeiros transplantes bem-sucedidos utilizando fár- macos imunossupressores Enzimas que regulam o crescimento vegetal (proteí- nas-cinase) Separação de genes em diferentes segmentos de DNA Reações em cadeia da polimerase que amplificam (produzem múltiplas cópias de) DNA Reconhecimento de células T citotóxicas de células infectadas por vírus antes de sua destruição 2000 Canais de água e íons nas membranas plasmáticas Helicobacter pylori como a causa de úlceras pépticas Mecanismo do RNA de interferência (RNAi), ou silen- ciamento gênico pelo RNA 2010 Estrutura detalhada e função dos ribossomos 20 PARTE I Fundamentos de microbiologia Resumo para estudo Os micróbios em nossas vidas (p. 2) 1. Os seres vivos muito pequenos para serem vistos a olho nu são chamados de microrganismos. 2. Os microrganismos são importantes para a manutenção do equilí- brio ecológico da Terra. 3. Alguns microrganismos vivem associados ao ser humano e a outros animais, sendo necessários para a manutenção de uma boa saúde. 4. Alguns microrganismos são utilizados para produzir alimentos e produtos químicos. 5. Alguns microrganismos causam doenças. Nomeando e classificando os microrganismos (p. 2-6) Nomenclatura (p. 2) 1. Em um sistema de nomenclatura descrito por Carolus Linnaeus (1735), cada organismo vivo é identificado por dois nomes. 2. Os dois nomes consistem em um gênero e um epíteto específico, sendo ambos escritos em itálico ou sublinhados. Tipos de microrganismos (pp. 3-5) 3. As bactérias são organismos unicelulares. Por não terem um nú- cleo, as células são descritas como procarióticas.4. A maioria das bactérias tem parede celular de peptideoglicano; dividem-se por fissão binária e podem possuir flagelos. 5. As bactérias podem usar uma ampla variedade de compostos quí- micos para a sua nutrição. 6. As arqueias são células procarióticas, elas não possuem peptideo- glicano em suas paredes celulares. 7. As arqueias incluem as metanogênicas, as halofílicas extremas e as termofílicas extremas. 8. Os fungos (cogumelos, bolores e leveduras) possuem células euca- rióticas (células com núcleo verdadeiro). A maioria dos fungos é multicelular. 9. Os fungos obtêm os nutrientes pela absorção do material orgânico do ambiente. 10. Os protozoários são eucariotos unicelulares. 11. Os protozoários obtêm seus alimentos pela absorção ou ingestão através de estruturas especializadas. 12. As algas são eucariotos unicelulares ou multicelulares que obtêm seus alimentos através da fotossíntese. 13. As algas produzem oxigênio e carboidratos, que são utilizados por outros organismos. 14. Os vírus são entidades acelulares que são parasitos de células. 15. Os vírus consistem em um núcleo de ácido nucleico (DNA ou RNA) circundado por uma camada proteica. Um envelope pode circundar esta camada. 16. Os principais grupos de parasitos animais multicelulares são os ver- mes chatos e os redondos, coletivamente chamados de helmintos. 17. Os estágios microscópicos no ciclo de vida dos helmintos são iden- tificados por procedimentos microbiológicos tradicionais. Classificação dos microrganismos (pp. 5-6) 18. Todos os organismos são classificados em Bacteria, Archaea e Eukarya. Eukarya inclui protistas, fungos, plantas e animais. Uma breve história da microbiologia (pp. 6-13) As primeiras observações (p. 6) 1. As observações de Hooke forneceram a base para o desenvolvi- mento da teoria celular, o conceito de que todos os seres vivos são compostos de células. 2. Anton van Leeuwenhoek, usando um microscópio simples, foi o primeiro a observar os microrganismos (1673). O debate sobre a geração espontânea (pp. 6-7) 3. Até a metade da década de 1880, muitas pessoas acreditavam na geração espontânea, a ideia de que todos os organismos vivos po- deriam surgir de matéria inanimada. 4. Francesco Redi demonstrou que larvas de insetos surgiam na car- ne em decomposição somente quando moscas depositavam seus ovos sobre a carne (1668). 5. John Needham declarou que os microrganismos poderiam surgir espontaneamente em caldo nutriente fervido (1745). 6. Lazzaro Spallanzani repetiu os experimentos de Needham e su- geriu que os resultados de Needham eram devido à entrada de microrganismos presentes no ar no caldo nutriente (1765). 7. Rudolf Virchow introduziu o conceito de biogênese: células vivas somente podem surgir a partir de células preexistentes (1858). 8. Louis Pasteur demonstrou que os microrganismos estão no ar e em todos os lugares e ofereceu provas para a teoria da biogênese (1861). 9. As descobertas de Pasteur levaram ao desenvolvimento das téc- nicas de assepsia, usadas nos laboratórios e nos procedimentos médicos para prevenir a contaminação por microrganismos. A idade de ouro da microbiologia (pp. 7-10) 10. A ciência da microbiologia avançou rapidamente entre 1857 e 1914. 11. Pasteur descobriu que as leveduras fermentam açúcares a etanol e que as bactérias podem oxidar o álcool a ácido acético. 12. O processo de aquecimento, chamado de pasteurização, é usado para matar bactérias em algumas bebidas alcoólicas e no leite. 13. Agostino Bassi (1835) e Pasteur (1865) mostraram uma relação causal entre os microrganismos e as doenças. 14. Joseph Lister introduziu o uso do desinfetante para limpar feridas cirúrgicas, com o objetivo de controlar infecções em seres huma- nos (década de 1860). 15. Robert Koch provou que os microrganismos causam doenças. Ele usou uma sequência de procedimentos, hoje chamados de postulados de Koch (1876), para provar que um determinado mi- crorganismo é o causador de uma doença específica. 16. Em 1798, Edward Jenner demonstrou que a inoculação com mate- rial proveniente de lesões da varíola bovina proporciona aos seres humanos imunidade contra a varíola. 17. Por volta de 1880, Pasteur descobriu que bactérias avirulentas po- diam ser utilizadas como vacina para o cólera aviário. 18. As vacinas modernas são preparadas a partir de microrganismos vivos avirulentos ou patógenos mortos, de componentes isolados do patógeno e por técnicas de DNA recombinante. O nascimento da quimioterapia moderna: os sonhos de uma “bala mágica” (pp. 10-11) 19. Quimioterapia é o tratamento químico de uma doença. CAPÍTULO 1 O mundo microbiano e você 21 20. Dois tipos de agentes quimioterápicos são os medicamentos sinté- ticos (quimicamente preparados em laboratório) e os antibióticos (substâncias produzidas naturalmente por bactérias e fungos que inibem o crescimento de bactérias). 21. Paul Ehrlich introduziu um composto químico contendo arsênio, chamado de salvarsan, para tratar a sífilis (1910). 22. Alexander Fleming observou que os fungos Penicillium inibiam o crescimento de uma cultura bacteriana. Chamou o ingrediente ativo de penicilina (1928). 23. Os pesquisadores estão estudando o problema de microrganismos resistentes a fármacos. Progressos recentes na microbiologia (pp. 11-13) 24. Bacteriologia é o estudo das bactérias, micologia é o estudo dos fun- gos e parasitologia é o estudo dos protozoários e vermes parasitos. 25. Os microbiologistas estão utilizando a genômica, que é o estudo de todos os genes de um organismo, para classificar bactérias, fungos e protozoários. 26. O estudo da Aids, a análise da ação dos interferons e o desenvolvi- mento de novas vacinas estão entre as pesquisas de maior interesse na imunologia. 27. As novas técnicas de biologia molecular e microscopia eletrônica têm fornecido novas ferramentas para o avanço do nosso conheci- mento sobre virologia. 28. O desenvolvimento da tecnologia de DNA recombinante tem pro- movido avanços em todas as áreas da microbiologia. Os micróbios e o bem-estar humano (pp. 13-15) 1. Os microrganismos degradam plantas e animais mortos reciclando os elementos químicos para serem utilizados pelas plantas e pelos animais vivos. 2. As bactérias são usadas para decompor a matéria orgânica presen- te em esgotos. 3. O processo de biorremediação é a utilização de bactérias para lim- par resíduos tóxicos. 4. As bactérias que causam doenças em insetos estão sendo utilizadas como agentes de controle biológico de pragas. Os controles bioló- gicos são específicos para determinadas pragas e não prejudicam o meio ambiente. 5. O uso de microrganismos na produção de alimentos e compostos químicos é chamado de biotecnologia. 6. Com o auxílio de técnicas de DNA recombinante, as bactérias po- dem produzir substâncias importantes, como proteínas, vacinas e enzimas. 7. Na terapia gênica, os vírus são usados para transportar substitutos para os genes defeituosos ou ausentes em células humanas. 8. Bactérias geneticamente modificadas são utilizadas na agricultura para proteger as plantas contra insetos e contra o frio, e para pro- longar o tempo de prateleira de um produto. Os micróbios e as doenças humanas (pp. 15-19) 1. Todas as pessoas possuem microrganismos na superfície e dentro do corpo. Eles constituem a microbiota ou flora normal. 2. A capacidade de uma determinada espécie de micróbio de causar doença e a resistência do organismo hospedeiro serão fatores im- portantes para determinar se uma pessoa contrairá ou não uma doença. 3. As comunidades bacterianas que formam as camadas limosas so- bre superfícies são chamadas de biofilmes. 4. Uma doença infecciosa é aquela em que o patógeno invade um hospedeiro suscetível. 5. Uma doença infecciosa emergente (DIE) é uma doença nova ou modificada que apresenta um aumento em sua incidência em um passado recente ou um potencial para aumento em um futuro próximo. Questões paraestudo Consulte as respostas das questões de Conhecimento e compreensão no guia de Respostas, na parte final do livro-texto. Conhecimento e compreensão Revisão 1. Como surgiu a ideia da geração espontânea? 2. Discuta brevemente o papel dos microrganismos em cada uma das seguintes situações: a. controle biológico de pragas. b. reciclagem de elementos. c. microbiota normal. d. tratamento de esgoto. e. produção de insulina humana. f. produção de vacinas. g. biofilmes. 3. Dentro de qual campo da microbiologia os seguintes cientistas poderiam ser mais bem classificaados? Cientista que Campo ______ a. Estuda a biodegradação de resíduos tóxicos ______ b. Estuda o agente causador da febre hemorrágica Ebola ______ c. Estuda a produção de proteínas humanas por bactérias ______ d. Estuda os sintomas da Aids ______ e. Estuda a produção de toxina por E. coli ______ f. Estuda o ciclo de vida de Cryptosporidium ______ g. Desenvolve terapia gênica para uma doença ______ m. Estuda o fungo Candida albicans 1. Biotecnologia 2 Imunologia 3. Ecologia microbiana 4. Genética microbiana 5. Fisiologia microbiana 6. Biologia molecular 7. Micologia 8. Virologia 22 PARTE I Fundamentos de microbiologia 4. Correlacione os microrganismos da coluna A com as suas descri- ções na coluna B. Coluna A Coluna B ______ a. Archaea ______ b. Algas ______ c. Bactérias ______ d. Fungos ______ e. Helmintos ______ f. Protozoários ______ g. Vírus 1. Não são compostos por células 2. A parede celular é feita de quitina 3. A parede celular é feita de peptideoglicano 4. A parede celular é feita de celulose; fotossintética 5. Unicelular, estrutura celular complexa com ausência de uma parede celular 6. Animais multicelulares 7. Procarioto com ausência de parede celular de peptideoglicano 5. Faça a correspondência entre os cientistas na coluna A e suas con- tribuições para o avanço da microbiologia na coluna B. Coluna A Coluna B ______ a. Avery, MacLeod e McCarty 1. Desenvolvimento da vacina contra a varíola ______ b. Beadle e Tatum 2. Descoberta de como o DNA controla a síntese de proteína na célula ______ c. Berg 3. Descoberta da penicilina ______ d. Ehrlich 4. Descoberta de que o DNA pode ser transferido de uma bactéria para outra ______ e. Fleming 5. Refutação da geração espontânea ______ f. Hooke 6. Primeira caracterização de um vírus ______ g. Iwanowski 7. Primeira utilização de desinfetantes em procedimentos cirúrgicos ______ h. Jacob e Monod 8. Primeira observação de bactérias ______ i. Jenner 9. Primeira observação de células em material vegetal e a dar este nome a elas ______ j. Koch 10. Observação de que os vírus são filtráveis ______ k. Lancefield 11. Prova de que o DNA é o material hereditário ______ l. Lederberg e Tatum 12. Prova de que os microrganismos podem causar doenças ______ m. Lister 13. Preconização de que as células vivas surgem de células vivas preexistentes ______ n. Pasteur 14. Demonstração de que os genes codificam enzimas ______ o. Stanley 15. Mistura de DNA animal com DNA bacteriano ______ p. van Leeuwenhoek 16. Uso de bactérias para produzir acetona ______ q. Virchow 17. Uso do primeiro agente quimioterápico sintético ______ r. Weizmann 18. Proprosição de um sistema de classificação para os estreptococos com base nos antígenos da parede celular 6. Os seguintes microrganismos podem ser comprados em uma loja. Forneça uma razão para a compra de cada um deles. a. Bacillus thuringiensis. b. Saccharomyces. 7. NOMEIE Que tipo de microrganismo possui uma parede celular de peptideoglicano, possui DNA que não é circundado por um núcleo e possui flagelo? 8. DESENHE Mostre no desenho onde os microrganismos do ar ter- minaram no experimento de Pasteur. Múltipla escolha 1. Qual dos seguintes nomes é um nome científico? a. Mycobacterium tuberculosis. b. Bacilo da tuberculose. 2. Qual das seguintes características não é típica de bactérias? a. são procarióticas. b. possuem paredes celulares de peptideoglicano. c. possuem a mesma forma. d. crescem por fissão binária. e. possuem a habilidade de se moverem. 3. Qual das seguintes opções consiste no elemento mais importante da teoria do germe da doença de Koch? O animal apresenta sinto- mas da doença quando: a. o animal entra em contato com um animal doente. b. o animal tem uma resistência reduzida. c. um microrganismo é observado no animal. d. um microrganismo é inoculado no animal. e. microrganismos podem ser cultivados a partir de amostras do animal. 4. O DNA recombinante é: a. DNA em bactérias. b. o estudo de como os genes funcionam. c. o DNA resultante da mistura de genes de dois organismos diferentes. d. a utilização de bactérias na produção de alimentos. e. a produção de proteínas por genes. 5. Qual das seguintes opções consiste na melhor definição de biogênese? a. Matéria inanimada origina organismos vivos. b. Células vivas apenas podem surgir a partir de células preexistentes. CAPÍTULO 1 O mundo microbiano e você 23 c. Uma força vital é necessária para a vida. d. O ar é necessário para os organismos vivos. e. Microrganismos podem ser gerados a partir de matéria inanimada. 6. Qual das seguintes afirmativas é uma atividade benéfica de microrganismos? a. Alguns microrganismos são utilizados como alimento pelos seres humanos. b. Alguns microrganismos utilizam dióxido de carbono. c. Alguns microrganismos fornecem nitrogênio para o cresci- mento de plantas. d. Alguns microrganismos são utilizados em processos de trata- mento de esgoto. e. Todas as afirmativas acima. 7. Costuma-se dizer que as bactérias são essenciais para a existência de vida na Terra. Qual das seguintes opções consiste na função essencial desempenhada pelas bactérias? a. controle das populações de insetos. b. fornecimento direto de alimentos para os seres humanos. c. decomposição de matéria orgânica e reciclagem de elementos. d. provocar doença. e. produzir hormônios humanos, como a insulina. 8. Qual dos seguintes exemplos é um processo de biorremediação? a. aplicação de bactérias que degradam óleo em um derrama- mento de petróleo. b. aplicação de bactérias em uma colheita para prevenir danos causados pelo frio. c. fixação de nitrogênio gasoso em nitrogênio utilizável. d. produção pelas bactérias de uma proteína humana, como o interferon. e. Todas as alternativas acima. 9. A conclusão de Spallanzani sobre a geração espontânea foi cri- ticada porque Lavoisier havia demonstrado que o oxigênio era um componente vital do ar. Qual das afirmações a seguir é verdadeira? a. Todas as formas de vida requerem ar. b. Apenas organismos causadores de doenças requerem ar. c. Alguns micróbios não requerem ar. d. Pasteur manteve o ar ausente em seus experimentos de biogênese. e. Lavoisier estava equivocado. 10. Qual das seguintes afirmativas sobre a E. coli é falsa? a. E. coli foi a primeira bactéria causadora de doença identificada por Koch. b. E. coli é parte da microbiota normal de seres humanos. c. E. coli tem um papel benéfico nos intestinos de seres humanos. d. Uma linhagem de E. coli causadora de doença provoca diar- reia sanguinolenta. e. Nenhuma das alternativas. Análise 1. Como a teoria da biogênese abriu caminho para a teoria do germe da doença? 2. Mesmo que a teoria do germe da doença não tivesse sido demons- trada até 1876, por que Semmelweis (1840) e Lister (1867) susten- taram a utilização de técnicas assépticas? 3. O nome do gênero de uma bactéria é “Erwinia” e o epíteto especí- fico é “amylovora”. Escreva o nome científico desse microrganismo corretamente. Utilizando esse nome como exemplo, explique como os nomes científicos são escolhidos. 4. Cite pelo menos três produtos encontrados em supermercado feitos por microrganismos. (Dica: o rótulo deverá indicar o nome científico do organismo ou incluir as palavras cultura, fermentado ou infundido.)5. As pessoas antigamente acreditavam que todas as doenças micro- bianas seriam controladas no século XXI. Indique uma doença infecciosa emergente. Liste três razões para continuarmos a identi- ficar novas doenças atualmente. Aplicações clínicas e avaliação 1. A ocorrência de artrite nos Estados Unidos é de 1 entre 100 mil crianças. Contudo, 1 entre 10 crianças em Lyme, Connecticut, desenvolveu artrite entre os meses de junho e setembro de 1973. Allen Steere, reumatologista da Universidade de Yale, investigando os casos de Lyme, concluiu que 25% dos pacientes mencionaram a ocorrência de erupções cutâneas durante os episódios de artrite e que a doença fora tratada com penicilina. Steere conclui que se tratava de uma nova doença infecciosa e que não tinha causa imu- nológica, genética ou ambiental. a. Qual foi o fator que levou Steere a chegar a essa conclusão? b. Qual era a doença? c. Por que a doença foi mais prevalente entre os meses de junho e setembro? 2. Em 1864, Lister observou que os pacientes se recuperavam completamente de fraturas simples, mas que fraturas múltiplas tinham “consequências desastrosas”. Ele sabia que a aplicação de fenol (ácido carbólico) nos campos da cidade de Carlisle prevenia doenças no gado. Lister tratou as fraturas múltiplas com fenol, e os seus pacientes se recuperaram sem complicações. Como Lister foi influenciado pelo trabalho de Pasteur? Por que o trabalho de Koch ainda se faz necessário? Na clínica Como enfermeira(o) pediátrica(o), você atende uma paciente de 8 anos, Sophia, que acabou de ser diagnosticada com infecção do trato urinário (ITU). Você orienta a mãe de Sophia que ITUs são bastante comuns em crianças, sobretudo em meninas. Ao entregar à mãe uma prescrição para estreptomicina, ela questiona por que Sophia simplesmente não pode ser tratada de novo com penicilina – este foi o fármaco que ela recebeu no último inverno para tratar uma infecção no tórax. Dica: leia sobre a parede celular nas páginas 80 a 85. Anatomia funcional de células procarióticas e eucarióticas Apesar de sua complexidade e variedade, todas as células vivas podem ser classificadas em dois grupos, procarióticas e eucarióticas, com base em certas características funcionais e estruturais. Em geral, os procariotos são estruturalmente mais simples e menores que os eucariotos. O DNA (material genético) dos procariotos é arranjado em um cromossomo simples e circular, não sendo circundado por uma membrana; o DNA dos eucariotos é encontrado em cromossomos múltiplos em um núcleo circundado por uma membrana. Procariotos não têm organelas revestidas por membranas, as quais são estruturas celulares especializadas com funções específicas. Plantas e animais são inteiramente compostos por células eucarióticas. No mundo microbiano, as bactérias e as arqueias são procariotos. Outros microrganismos celulares – fungos (leveduras e bolores), protozoários e algas – são eucariotos. As células eucarióticas e procarióticas podem ser circundadas por um glicocálice viscoso. Na natureza, a maioria das bactérias encontra-se aderida a superfícies sólidas, incluindo outras células, em vez de desprendidas. O glicocálice é a “cola” que mantém as células no lugar. As bactérias Serratia, na fotografia, estão aderidas a um plástico; o glicocálice viscoso desidratou durante a preparação e análise microscópica, aparecendo na forma de filamentos. Um exemplo do problema dos biofilmes nos suprimentos de água hospitalares é descrito no Caso clínico. Bactérias Serratia aderidas a um plástico. 4 CAPÍTULO 4 Anatomia funcional de células procarióticas e eucarióticas 73 Comparando as células procarióticas e eucarióticas: visão geral OBJETIVO DO APRENDIZADO 4-1 Comparar a estrutura celular de procariotos e euca- riotos. Procariotos e eucariotos contêm ácidos nucleicos, proteínas, lipídeos e carboidratos. Eles usam os mesmos tipos de reações químicas para metabolizar o alimento, formar proteínas e arma- zenar energia. É principalmente a estrutura das paredes celulares e membranas, e a ausência de organelas (estruturas celulares es- pecializadas que possuem funções específicas) que distinguem procariotos de eucariotos. As principais características diferen- ciais dos procariotos (derivado do termo grego que significa pré-núcleo) são as seguintes: 1. Em geral, seu DNA não está envolto por membrana e con- siste em um único cromossomo, arranjado de forma circu- lar. Gemma obscuriglobus tem uma membrana dupla cir- cundando o seu núcleo. (Algumas bactérias, como Vibrio cholerae, possuem dois cromossomos, ao passo que outras possuem um cromossomo com arranjo linear.) 2. Seu DNA não está associado com histonas (proteínas cro- mossômicas especiais, encontradas em eucariotos); outras proteínas estão associadas ao DNA. 3. Em geral, não possuem organelas. Avanços na área de microscopia revelaram a existência de algumas organe- las envoltas por membrana (p. ex., algumas inclusões). No entanto, os procariotos não apresentam outras organe- las revestidas por membrana, como núcleo, mitocôndria e cloroplastos. 4. Suas paredes celulares quase sempre contêm o polissacarí- deo complexo peptideoglicano. 5. Normalmente se dividem por fissão binária, de forma que o DNA é copiado, e a célula se divide em duas. Isso envolve menos estruturas e processos do que a divisão celular eu- cariótica. Os eucariotos (do grego, núcleo verdadeiro) possuem as seguin- tes características: 1. Seu DNA é encontrado no núcleo das células, que é sepa- rado do citoplasma por uma membrana nuclear, em cro- mossomos múltiplos. 2. Seu DNA está consistentemente associado a proteínas cro- mossômicas, denominadas histonas, e a outras proteínas. 3. Eles possuem diversas organelas revestidas por membranas, incluindo mitocôndrias, retículo endoplasmático, aparelho de Golgi, lisossomos e, às vezes, cloroplastos. 4. Suas paredes celulares, quando presentes, são quimica- mente simples. 5. A divisão celular normalmente envolve a mitose, na qual os cromossomos são replicados e um conjunto idêntico é distribuído em cada um dos dois núcleos. A divisão do ci- toplasma e de outras organelas segue-se a esse processo, de modo que haverá a produção de duas células idênticas. TESTE SEU CONHECIMENTO ✓ Qual é a principal característica que diferencia procariotos de eucariotos? 4-1 Caso clínico: detectando a infecção Irene Matthews, enfermeira responsável pelo controle de infecções, vive um dilema. Três pacientes em seu hospital contraíram septicemia bacteriana pós-procedimento. Todos apresentaram febre e pressão arterial perigosamente baixa. Os pacientes estão em diferentes unidades e foram subme- tidos a procedimentos distintos. O primeiro paciente, Joe, operário de obras de 32 anos de idade, está se recuperando de uma cirurgia no manguito rotador. Ele está com saúde relativa- mente boa. A segunda paciente, Jessie, estudante de 16 anos em tratamento intensivo, está em condições críticas após um acidente de carro. Ela está sob ventilação mecânica e não con- segue respirar sem o auxílio de aparelhos. A terceira paciente, Maureen, avó de 57 anos, está se recuperando de uma cirurgia de revascularização miocárdica. Até onde Irene consegue dizer, a única coisa que esses pacientes possuem em comum é o agente infeccioso – Klebsiella pneumoniae. De que maneira três pacientes, em diferentes unidades de um hospital, contraíram Klebsiella pneumoniae? Leia mais para descobrir. 73 83 85 91 94 A célula procariótica Os procariotos compõem um vasto grupo de organismos unicelulares muito pequenos, que incluem as bactérias e as arqueias. A maioria dos procariotos faz parte do grupo das bactérias. Embora bactérias e arqueias pareçam semelhantes, a sua composição química é diferente. As milhares de espécies de bactérias são diferenciadas por muitos fatores, incluindo a morfologia (forma), composição química, necessidades nutri- cionais, atividades bioquímicas e fontes deenergia. Estima-se que 99% das bactérias na natureza existam na forma de biofil- mes (ver pp. 54 e 156-157). O tamanho, a forma e o arranjo das células bacterianas OBJETIVO DO APRENDIZADO 4-2 Identificar as três formas básicas das bactérias. A maioria das bactérias varia de 0,2 a 2 �m de diâmetro e de 2 a 8 �m de comprimento. Elas podem ter formato de esfera (cocos, que significa frutificação), de bastão (bacilos, que significa bas- tonete ou bengala) e de espiral. 74 PARTE I Fundamentos de microbiologia Os cocos geralmente são redondos, mas podem ser ovais, alongados ou achatados em uma das extremidades. Quando os co- cos se dividem para se reproduzir, as células podem permanecer ligadas umas às outras. Os cocos que permanecem em pares após a divisão são chamados de diplococos; aqueles que se dividem e permanecem ligados uns aos outros em forma de cadeia são cha- mados de estreptococos (Figura 4.1a). Aqueles que se dividem em dois planos e permanecem em grupos de quatro são conhe- cidos como tétrades (Figura 4.1b). Os que se dividem em três planos e permanecem ligados uns aos outros em grupos de oito, em forma de cubo, são chamados de sarcinas (Figura 4.1c). Aque- les que se dividem em múltiplos planos e formam agrupamentos em formato de cacho de uva ou lâminas amplas são chamados de estafilococos (Figura 4.1d). Muitas vezes, essas características do grupo são úteis na identificação de certos cocos. Os bacilos se dividem somente ao longo de seu eixo curto; portanto, existe um menor número de agrupamentos de bacilos que de cocos. A maioria dos bacilos se apresenta como bastone- tes simples, chamados de bacilo único. (Figura 4.2a). Os diplo- bacilos se apresentam em pares após a divisão (Figura 4.2b), e os estreptobacilos aparecem em cadeias (Figura 4.2c). Alguns bacilos possuem a aparência de “canudinhos”. Outros possuem extremidades cônicas, como charutos. Outros ainda são ovais e tão parecidos com os cocos que são chamados de cocobacilos (Figura 4.2d). O nome “bacilo” tem dois significados em microbiologia. Como acabamos de utilizar, a palavra bacilo se refere a uma for- ma bacteriana. Quando escrito em latim, em letra maiúscula e em itálico, refere-se a um gênero específico. Por exemplo, a bac- téria Bacillus anthracis é o agente do antraz. As células bacilares geralmente formam cadeias longas e emboladas (Figura 4.3). As bactérias espirais têm uma ou mais curvaturas; elas nunca são retas. As bactérias que se assemelham a bastões cur- vos são chamadas de vibriões (Figura 4.4a). Outras, chamadas de espirilos, possuem forma helicoidal, como um saca-rolha, e corpo bastante rígido (Figura 4.4b). Já outro grupo de espirais tem forma helicoidal e flexível; são chamados de espiroquetas (Figura 4.4c). Ao contrário dos espirilos, que utilizam um apên- dice externo para se mover, semelhante a uma hélice e chama- do de flagelo, as espiroquetas movem-se através de filamentos axiais, os quais lembram um flagelo, mas estão contidos dentro de uma bainha externa flexível. Existem também procariotos em forma de estrela e retangulares (Figura 4.5). Plano de divisão Diplococos Estreptococos (a) Tétrades(b) (c) Sarcinas Estafilococos(d) SEM 2,5 �m SEM 2,5 �m SEM 2 �m SEM 1 �m SEM 2 �m Figura 4.1 Arranjos dos cocos. (a) A divisão em um único plano produz diplococos e estreptococos. (b) A divisão em dois planos pro- duz tétrades. (c) A divisão em três planos produz sarcinas, e (d) a divi- são em múltiplos planos produz estafilococos. Como os planos de divisão determinam o arranjo celular? Bacilo único(a) Diplobacilos(b) Estreptobacilos(c) Cocobacilo(d) SEM 4 �m SEM 2 �m SEM 1 �m Figura 4.2 Bacilos. (a) Bacilo único. (b) Diplobacilos. Na microfoto- grafia superior, alguns pares de bacilos unidos servem como exemplo de diplobacilos. (c) Estreptobacilos. (d) Cocobacilo. Por que os bacilos não formam tétrades ou agrupamentos? CAPÍTULO 4 Anatomia funcional de células procarióticas e eucarióticas 75 A forma de uma bactéria é determinada pela hereditarie- dade. Geneticamente, a maioria das bactérias é monomórfica; ou seja, mantém uma forma única. No entanto, várias condi- ções ambientais podem alterar a sua forma. Se a forma é alte- rada, a identificação torna-se difícil. Além disso, algumas bac- térias, como Rhizobium e Corynebacterium, são geneticamente pleomórficas, ou seja, elas podem apresentar muitas formas, não apenas uma. A estrutura de uma célula procariótica típica é mostrada na Figura 4.6. Discutiremos seus componentes de acordo com a seguinte organização: estruturas externas à parede celular, a pa- rede celular em si e as estruturas internas a ela. TESTE SEU CONHECIMENTO ✓ Como você pode identificar os estreptococos em um micros- cópio? 4-2 Estruturas externas à parede celular OBJETIVO DO APRENDIZADO 4-3 Descrever a estrutura e a função do glicocálice. 4-4 Diferenciar flagelos, filamentos axiais, fímbrias e os pili. Entre as possíveis estruturas externas da parede extracelular dos procariotos estão o glicocálice, os flagelos, os filamentos axiais, as fímbrias e os pili. Glicocálice Muitos procariotos secretam na sua superfície uma substância denominada glicocálice. Glicocálice (que significa revestimento de açúcar) é o termo geral usado para as substâncias que envol- vem as células. O glicocálice bacteriano é um polímero viscoso e gelatinoso que está situado externamente à parede celular e é composto por polissacarídeo, polipeptídeo ou ambos. Sua com- posição química varia amplamente entre as espécies. Em grande parte, ele é produzido dentro da célula e secretado para a superfí- cie celular. Se a substância é organizada e está firmemente aderida à parede celular, o glicocálice é descrito como cápsula. A presença de uma cápsula pode ser determi- nada utilizando- -se uma coloração negativa, descrita 15 �m LM Figura 4.3 Bacillus anthracis coradas pelo método Gram. À medi- da que as células de Bacillus envelhecem, suas paredes afinam e sua reação à colocação Gram torna-se variável. Qual é a diferença entre os termos bacilo e Bacillus? (a) Vibrião (b) Espirilo (c) Espiroqueta SEM 4 �m SEM 4 �m SEM 1 �m Figura 4.4 Bactérias espirais. Qual é a característica marcante das bactérias espiroquetas? ASM: as bactérias possuem estruturas celulares únicas que são alvos para antibióticos, para a imunidade e para a infecção por fagos. Figura 4.5 Procariotos em forma de es- trela e retangulares. (a) Stella (forma de estrela). (b) Haloarcula, um gênero de ar- queia halofílica (células retangulares). Quais as formas comuns das bactérias? (a) Bactéria em formato de estrela (b) Bactéria retangular TEM 0,5 �m TEM 1 �m 76 PARTE I Fundamentos de microbiologia 4.6F I G U R A D E B A S E A estrutura de uma célula procariótica CONCEITOS-CHAVE • Esta célula procariótica apresenta as estruturas típicas que podem ser encontradas nas bactérias. As células procarióticas geralmente não possuem organelas envoltas por membranas. Todas as bactérias possuem citoplasma, ribossomos, uma membrana plasmática e um nucleoide. Quase todas as bactérias possuem parede celular. • Algumas estruturas desempenham papéis específicos, por exemplo: na virulência bacteriana (cápsula), na identificação bacteriana (parede celular ou flagelos), e como alvos de alguns agentes antimicrobianos (parede celular). • Os plasmídeos codificam informações como genes de resistência a antibióticos ou para a produção de toxinas. Pode haver troca de plasmídeos entre as bactérias. A ilustração abaixo e a microfotografia à direita mostram uma bactéria seccionada longitudinalmente, revelando a sua composição interna. Nem todas as bactérias possuem todas as estruturas mostradas; apenas as estruturas marcadas em vermelho são encontradas em todas as bactérias. Embora o nucleoide apareça seccionado na microfotografia, a espessura do “corte” não transmite a profundidade da estrutura. Cápsula Parede celular Membrana
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