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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA TEREZA SANTOS MARQUES TEREZA LIMA DA FONSECA Educação no Campo: desafios e experiências em Classes Multisseriadas GURUPÁ 2015 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA MARIA TEREZA SANTOS MARQUES TEREZA LIMA DA FONSECA Educação no Campo: desafios e experiências em Classes Multisseriadas Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia, como requisito para obtenção do grau de Licenciatura Plena em Pedagogia. Orientadora: MSc. Ana Cláudia Oliveira Machado. GURUPÁ 2015 Marques, Maria Tereza Santos Educação no campo: desafios e experiências em classes multisseriadas / Maria Tereza Marques Santos, Tereza Lima da Fonseca. – Gurupá, PA, 2015. 67 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura Plena em Pedagogia) – Plano Nacional de Formação de Professores, Universidade Federal Rural da Amazônia, 2015. Orientadora: Ana Cláudia Oliveira Machado 1. Educação do Campo 2. Classes Multisseriadas 3. Professores – ensino – método 4. Ensino Aprendizagem I. Fonseca, Tereza Lima da II.Machado, Ana Cláudia Oliveira, Orient. III.Título CDD – 372.416 MARIA TEREZA SANTOS MARQUES TEREZA LIMA DA FONSECA Educação no Campo: desafios e experiências em Classes Multisseriadas Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia, como requisito para obtenção do grau de Licenciatura Plena em Pedagogia. Data da Aprovação: Banca Examinadora: Prof.ª MSc. Ana Cláudia Oliveira Machado - Orientadora Universidade Federal Rural da Amazônia Prof.ª MSc.Vanessa Alcântara Cardoso - Membro 1 Universidade Federal Rural da Amazônia Prof. MSc. Raycleison Igor dos Reis Moraes- Membro 2 AGRADECIMENTOS Agradecemos primeiramente a Deus, que nas horas mais difíceis da construção deste trabalho esteve em nossospensamentos, ajudando-nos a superar todas as dificuldades, derramando diariamente seu eterno amor em nossas vidas, sustentando-nos nesta obra. A ele, toda honra e toda glória! Aos nossos pais, em especial nossas mães, que nosderam a vida e, nos direcionaram para que pudéssemos ter acesso a esta etapa tão importante de nossa vida. É difícil expressar em palavras a nossa eterna gratidão. Vocês foram fundamentais na realização de mais um sonho. Aos nossos filhos, pelo apoio e compreensão e por suportar a nossa longa ausência, embora confusos, nunca deixarem de nos ajudar, sempre nos impulsionaram a irmos em busca desse sonho, que sempre foi coletivo. Acreditem filhos, que esse tempo em breve será restituído em nossas vidas. Aos amigos eparentes, e todos que contribuíram direta e indiretamente na construção deste trabalho, para a realização dessa importante fase de nosso crescimento profissional. Em especial, os amigos, professor Jonas dos Santos, Edmilson A. Neves e professora Gorete L. Rodrigues, por sempre nos apoiarem, pelos incansáveis conselhos, guiando-nos no caminho da majestosa sabedoria. Vocês amigos, foram verdadeiros anjos enviados do senhor em nossa vida. Aos professores e orientadora, por terem paciência e persistência e sabedoria para uso da competência e talentos que lhes foi concedido pelo autor da vida, e nos ajudaram a superar obstáculos, vencer limites e crescer a cada dia. Aos nossos maridos, que mesmo com suas limitações, nunca deixaram de nos dar forças, para que não desistíssemos, incentivando-nos a seguirmos sempre em frente. “O processo de formação do conhecimento humano tem estreita relação com o processo de produção e reprodução das condições efetivas do trabalho humano. Grande parcela do conhecimento é gerada no exercício do trabalho, toma corpo, autonomiza-se e passa, então, a se realimentar, voltando a adequar o trabalho às necessidades e interesse de quem o produziu, o homem e a mulher. A partir daí gera-se novo ciclo de conhecimento/relações sociais e de trabalho em um movimento de realimentação sem fim”. (José Carlos Pereira Peliano) RESUMO O presente trabalho de pesquisa tem como objetivo elucidar ações relacionadas aos desafios e experiências em classes multisseriadas nas escolas do campo tendo como foco 02 escolas do Município de Gurupá-PA, que fazem parte do cenário educacional, com uma realidade que evidencia situações a serem analisadas, tendo em vista, suas peculiaridades. Esse estudo, pretende abordar as práxis pedagógicas dos profissionais que atuam com essa modalidade de ensino, com propósito de demostrar as relações entre práticas pedagógicas e identidade do campo. O estudo traz os fundamentos teóricosque sustentam a pesquisa prática aprofundada sobre a história da Educação do Campo no Brasil, evidenciada pelos autores: Miguel Arroyo; Roseli Salete Caldart e Salomão Mufarrej, com base especificamente voltada ao grupo de pesquisa Geperuaz, o qual há mais de (10) dez anos vem desenvolvendo trabalhos de pesquisa voltados exclusivamente às escolas do campo com classes multisseriadas. Palavras chave: Educação do Campo. Classes multisseriadas. Professores.Pedagógico. Ensino Aprendizagem. ABSTRACT The present research work have consume object elucidate stocks related aos challenges and backgrounds in brackets multisseriadas in the colleges of the camp have as focal point 02 colleges of him Borough of Gurupá-blade, that enter into the décor educational with a reality that evince setups at be analyse, have in eyesight, your peculiarities. That study contemplate approach the practicalpedagogic of the occupational that actuate with that modalidade of education, with design of Show the deadlines come in practical pedagogics and identity of the camp. The studies bring them fundamentalists theoretical that bolster up practical the opinion poll. Bring reflections metodológicas deepen over the history of the Education of the Camp no Brazil evince coats authors: Miguel Arroyo; Roseli Salete Caldart and Solomon Mufarrej, with bases specifically call back ao bunch exploratory Geperuaz, which there be over (10) ten years, that come advance exploratory jobs call back exclusively ace colleges of the camp with brackets multisseriadas. Key-words: Education of the Camp. Brackets multisseriadas. Masters. Pedagógico. Coach Learning. LISTA DE GRÁFICOS Gráfico1 -Categoria aluno: Ensino do Campo..........................................................39 Gráfico2- Categoria aluno: Conteúdos Aplicados.....................................................40 Gráfico3 - Categoria Família: Educação do Campo – Contribuição..........................42 Gráfico4-Categoria Família: Qualificação insuficiente do docente...........................43 Gráfico 5 - Categoria Gestor: Livros didáticos adequados........................................48 Gráfico6 - Categoria Gestor: Recursos didáticos......................................................48 Gráfico7 -Categoria Coordenador: Formação de Professores.................................50 Gráfico8-Categoria Coordenador: Participação dos Pais e Comunidade................51 LISTA DE QUADROS Quadro1 -Categoria Aluno: Aluno da Escola do Campo..........................................41 Quadro2 - Categoria Aluno: Estudo Em Classe Multisseriadas................................41Quadro3- Categoria Família: O Ensino nas Escolas do Campo...............................43 Quadro4 - Categoria Família: Escola do Campo e os Recursos Didáticos...............44 Quadro 5 - Categoria Família: Participação da Família na Escola............................44 Quadro 6 - Categoria Professor: Desenvolvimento na Aprendizagem......................45 Quadro 7 - Categoria Professor: Contribuição das Estratégias.................................46 Quadro8 - Categoria Professor: Fatores e Desafios.................................................46 Quadro9 -Categoria Professor: Modelo de Organização Escolar............................47 Quadro10 - Categoria Gestor: Classes multisseriadas.............................................49 Quadro11 - Categoria Gestor: O trabalho em classes multisseriadas......................49 Quadro 12 - Categoria Coordenador: Estratégia e organização...............................51 Quadro13- Categoria Coordenador: Tipo de estratégias..........................................52 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 12 2. OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO DO E NO CAMPO NO CONTEXTO ATUAL ... 14 2.1 Contextualização Histórica da Educação do Campo no Brasil ............................ 16 2.2 Histórias, Memórias e Movimentos ..................................................................... 18 2.3Marco Legal da Educação do Campo ................................................................. 19 2.4Concepção de Educação do Campo ................................................................... 21 3. A ESCOLA DO CAMPO ....................................................................................... 24 3.1 Os Professores na Educação do Campo: da formação a prática ....................... 27 3.2 Estruturas e Funcionamento das Escolas Multisseriadas .................................. 30 3.3 As Classes Multisseriadas e a Formação do Sujeito do Campo ........................ 33 4. CAMINHOS METODOLÓGICOS .......................................................................... 35 4.1 Contexto e delimitação da pesquisa .................................................................... 35 4.2 Quanto à natureza ............................................................................................... 35 4.3 Quanto à abordagem do problema ...................................................................... 36 4.4 Quanto aos objetivos ........................................................................................... 37 4.5 Quanto aos procedimentos técnicos ......................................................... 37 4.6 População e amostra .......................................................................................... 37 4.7 Instrumentos de coletas de dados ....................................................................... 38 5.RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................... 38 CONSIDERAÇÕESFINAIS ......................................................................... 53 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 57 APÊNDICES ..............................................................................................................58 12 1. INTRODUÇÃO Este trabalho de conclusão de cursoque tem como tema “Educação no Campo:desafios e experiências em classes multisseriadas” evidencia a concepção da prática e a formação do profissional que atua no campo, a estrutura das escolas, a relação com a comunidade e contribuições dos movimentos sociais. Aborda ações que marcam profundamente o processo educacional, a qualidade do ensino e principalmente a verdadeira face da prática do Multisseriado. Pretende-se fazer um estudo dos desafios e experiências da educação do e no campo no contexto atual, considerando a conjuntura nacional, estadual e municipal. Tendo em vista estudos e pesquisas realizadaspelo Grupo Geperuaz (2004), que nos permitiram acompanhar a realidade de escolas que vivenciam a prática do Multisseriado, nos deram a base sólida para o embasamento deste trabalho. Ascompetências de cada ente federado enquanto papel de governo e como as relações interagem nas respectivas instâncias. Com um foco na infância e juventude no meio rural, compreendendo sua real situação dentro do processo ensino aprendizagem, baseada principalmente nas ideias de Arroyo (2008). Desse modo,enfatiza-se uma contextualização histórica da educação do campo no Brasil, tendo por base os dados oficiais do governo e de institutos de pesquisa e, a partir desses dados secundários serão feitos uma série de estudos, a fim de emitir um parecer de caráter mais técnico sobre o tema. Os documentos legais analisados foram: Diretrizes Operacionais para a Educação Básica do Campo, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9394/96, A formação do profissional e a realidade da escola do campo; A Educação do Campo na Amazônia; Resoluções; Senso Escolar e Decretos como: Politica de Educação do Campo e o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA). Para dar maior compreensão, realizamos um breve histórico da Educação do Campo e das experiências em classes multisseriadas, a fim de verificarmos sua eficiência e eficácia no desenvolvimento dessas atividades, tendo em vista as ideias 13 de Caldart (2006), além de dar um recorte específico sobre o marco legal da educação do campo, onde realizamosum breve levantamento da base da legislação já estabelecido sobre a Educação do Campo no Brasil, no Pará e no município de Gurupá. As complementações dessas informações foram feitas por meio do levantamento de dados primários, através de entrevistas com o público alvo da pesquisa, que foram: os gestores, coordenadores escolares, professores alunos e familiares do polo Cojuba área I e II, o local da pesquisa possui 06 escolas no geral, mas optou-se por realizar a pesquisa em apenas duas escolas com o total de 20 pessoas entrevistadas. Uma linha de investigação foi destinada a concepção de educação do campo,a fim de estabelecer o conceito de educação em classesmultisseriadas, tendo por base fundamental as unidades familiares de produção. Como se trata de um foco central neste trabalho, experimentamosse a produção teórica foi suficiente para dar sustentação à presente pesquisa. Para tanto foi feito um confronto de toda a produção teórica com a realidade local. Aproveitando estudos realizados por Hage (2004), no que se refere às estruturas físicas das escolas do campo nos deu suporte para investigação. A perspectiva é levantar a real situação das escolas, o que dará subsidio para comparar com a real situação de nosso município. Nesta perspectiva, surge um questionamento voltado para a educação do campo, direcionada antes de tudo as questões que permeiam as classes multisseriadas, são elas:Como os profissionais da educação vêm enfrentando os principais desafios e experiências existentesna multisseriação das escolas do campo? E como hipótese: É possível que as estratégias utilizadas no processo ensino aprendizagem em classes multisseriadas não estejam atendendo satisfatoriamente aos alunos. Diante do exposto, o objetivo geral desta pesquisa é analisar os desafios e experiências de professores e alunos da educação do campo, em relação ao desenvolvimento de seu trabalho no processo de ensino aprendizagem em classes multisseriadas. 14 2. OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO DO E NO CAMPO NO CONTEXTO ATUAL Apesar de a LDB Lei de n° 9.394/96, garantir em seu artigo 28, um espaço para outra forma do ensino no campo, em que se considere adaptação e adequação necessária às peculiaridades da dinâmica do campo, tanto noespaço organizacionalcurricular, como também de propostas metodológicas, observamos que nos dias atuais, a educação dos povos do campo, ainda é regida por uma política excludente, marginalizada e neoliberal, que há décadas vem levando o homem do campo para a cidade, ao invés de lhe possibilitar melhores condições de permanência em seu meio. (GRUPO GEPERUAZ, 2002).1 Num país com as dimensões rurais como o Brasil, e com o papel que teve e tem na historia, este território é de fato impressionante a ausência e o desconhecimento sobre o que é a infância no campo; sobre a juventude; sobre a velhice no meio rural. Arroyo apud Caldart (2004), afirma que cada tempo da vida é uma síntese da condição humana. Para ele, desconhecer as características e necessidades típicas de cada tempo da vida significa também reduzir nossa capacidade como educadores, de contribuir para completa humanização desses tempos. Assim, nos fatores que marcam a Educação do Campo estão os processos de concentração fundiária e o êxodo rural que assumem a linha de frente na trajetória brasileira. O golpe militar de 1964 e o desenvolvimento de um modelo econômico concentrador evidenciam-se como entraves para a vida no campo, inclusive para o desenvolvimento da educação, isso faz com que gere o conceito de que a população do campo esteja fadada a desaparecer. Portanto, o que aconteceu de fato é que com o fim da ditadura militar, os movimentos sociais que lutavam pela reforma agrária, e as questões referentes s condições de vida e trabalho de quem vive e trabalha no campo, voltaram a assumir suas posições e dessa vez ainda mais impetuosos. Em 2001, as discussões do campo foram retomadas em novas bases governamentais e foi dado inicio a elaboração e aprovação Nacional de 1Pertence ao Centro de Educação da UFPA, é cadastradono Diretório de Pesquisa do CNPq, e desde 2002 vem realizandoestudos sobre a realidade da educação do campo no Estado do Pará e na Região Amazônica. 15 Educação,para programar políticas que sejam capazes de priorizar a reforma agrária que é o fator primordial para a promoção da inclusão social, e um dos objetivos desse plano era fomentar entre as famílias do campo, organização de cooperados, agricultura familiar, economia solidaria, segurança alimentar, entre outros. Uma forma estratégica para o enfrentamento da crise social e educacional, conforme art. 4° da LDB, Lei n°9394/96, parecer CNE/CEB n° 36/2001, resolve que: O projeto institucional das escolas do campo, expressão do trabalho compartilhado de todos os setores comprometidos com a universalização da educação escolar com a qualidade social, constituir-se-á num espaço público de investigação e articulação de experiências e estudos direcionados para o mundo do trabalho, bem como para o desenvolvimento social, economicamente justo e ecologicamente sustentável. De acordo com o que foi dito é importante afirmarque a educação do campo se coloque na luta pelos direitos; ao saber, ao conhecimento e a cultura, sendo necessário construir, reconhecer e por em práticas, politica, social e culturalmente o direito a infância; a juventude; a velhice no meio rural. (CALDART, 2004). Segundo a autora, não há possibilidade de construirmos sistemas educativos para esses tempos da vida no campo enquanto não legitimarmos seus titulares como sujeitos de direito. Esse é um dos grandes méritos do processo coletivo de produção do conhecimento e avançar na compreensão e conhecimento das especificidades desses tempos e das carências a que são submetidos os sujeitos do campo. O tempo da infância no campo está privado de todos os benefícios já produzidos pelo grande acumulo de conhecimento cientifico sobre a centralidade desse tempo nos processos de construção dos saberes e da psique humana, porque a infância no campo não é um tempo de direitos. De tal forma, um tempo central e riquíssimo de possibilidades de aprendizagem é ignorado e desperdiçado pelo Estado e por parte da sociedade que, culturalmente, ignora a existência da infância no campo. Seria por que a infância no campo seria a infância das classes trabalhadoras? (CALDART, 2006). De acordo com o que foi dito, analisa-se que a educação no e para o campo não é concretizada de fato como se prevê na lei, essa oferta é negada ou mantida de forma muito decadente, na maioria das vezes fortalecida por questões culturais que ignora a infância no campo, seja por aproveitar a mão-de-obra infantil ou por 16 acreditar que com a falta de recursos, inclusive a falta de merenda escolar reforça a ideia dos pais que dessa forma os filhos estarão melhores em casa do que na escola. 2.1 Contextualização Histórica da Educação do Campo no Brasil De acordo com dados oficiais, que buscam sistematizar alguns dados recentemente levantados pelo IBGE (2002), no que diz respeito ao senso demográfico e pelo Inep/MEC, ou seja, o Senso Escolar que mostra um raio X das escolas localizadas no meio rural, com o intuito de subsidiar as discussões e a formulação de políticas educacionais para o setor. Primeiramente encontra-se a condição socioeconômica do Brasil rural, evidencia-se a quantidade de sua população, em relação ao capital físico (rendimento), sociocultural (escolaridade e frequência na escola). Aí então se mostra o perfil do ensino no campo, em termos de dimensão, níveis de ensino, infraestrutura, recursos humanos, o desempenho escolar e o fluxo de alunos. Dados divulgados pelo Censo Demográfico de 2000 mostram que apesar da intensa urbanização ocorrida nas últimas décadas, cerca de um quinto da população do país encontra-se na zona rural.Tendo em vista os dados oficiais, os cerca de 32 milhões de pessoas que vivem na zona rural encontram-se em desvantagens, tanto em termos financeiros ou socioculturais, ou seja, escolaridade e frequência à escola, em comparação aos que residem na área urbana. Do ponto de vista sociocultural, o nível de instrução e o acesso à educação da população que reside na zona rural são importantes indicadores da secundarização histórica das políticas educacionais voltadas para o campo. Os dados mostram que a escolaridade média da população de 15 anos ou mais que vive na zona rural (3,4 anos) corresponde a quase metade da estimada para a população urbana, ficando evidente a necessidade de ações efetivas para a diminuição dessa desigualdade. O Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação do Campo na Amazônia – GEPERUAZ, (2002), afirma que: O problema não está em ofertar a educação somente, está na condição de funcionamento, já que todos reconhecem o direito garantido pela legislação, mas pouco foi feito no que se refere às condições da oferta para que as populações rurais tenham acesso à educação de qualidade. 17 Com base nessa afirmativa, Caldart entende que um dos grandes desafios das escolas do campo é a formação para recuperar as condições humanas dos povos do campo, para ela “o movimento por uma Educação do Campo defende uma educação para o povo brasileiro que trabalha e vive no e do campo”. (CALDART, 2004, p.13).Daí a importância da definição do tipo de escola que se quer e do projeto educativo que ali se desenvolve. Para tanto, faz-se necessário o resgate das experiências históricas da educação popular e das práticas educativas que supriram o histórico vazio deixado pela ausência do poder público nas regiões rurais, o qual durante décadas vem mantendo e alimentando a mesma deficiência educativa, faz se necessário conhecer um pouco mais a respeito da educação do campo e seu contexto histórico, sua organização e o tipo de formação social oportunizada por meio desta educação ao homem do campo. Pereira (2010) salienta que historicamente a educação no campo surge por meio de reinvindicações efetivas pelo MST e lutas intensas em movimentos sociais, com propósito de reconstruira democracia e reconquistar direitos do povo, contra o sistema econômico que desapropria as famílias dos trabalhadores de suas terras visando à manutenção da vida nas diferentes dimensões e necessidades. Moura (2009), ao citar Kolling afirma que: A educação deve buscar o fortalecimento da identidade do homem e do meio rural, partindo da preservação de seus valores e de sua cultura. Porem, esse resgate ético e cultural deve ocorrer à luz de novos conceitos provenientes do avanço técnico cientifico, e das novas necessidades, que assinalam o mundo contemporâneo e que, direta ou indiretamente, modificam o meio físico e cultural. Para Moura (2009, p. 13), as escolas do campo se convertem em lugar de ensino, de difusão de conhecimento, instrumento de acesso das camadas populares ao saber, aos processos de emancipação e de autonomia, cumprindo função não só de transmissão de conhecimento, mas valorizando a forma de viver de cada educando. 2.2 Histórias, Memórias e Movimentos 18 Nos últimos anos, a educação do campo vem passando por uma série de mudanças, pois o acesso à educação no meio rural vem melhorando a cada ano, graças a varias pesquisas, debates e seminários realizados por vários grupos de pesquisadores e movimentos sociais, com objetivos de sanar as históricas deficiências educativas e, possibilitar o acesso a informações relevantes, capazes de auxiliar na definição de políticas e ações efetivas para a educação no meio rural. No entanto, segundo Silva, mesmo com a diminuição das desigualdades regionais, ainda permanecem outros significantes desafios em relação ao sistema, alguns têm há ver com a realidade das escolas multisseriadas espalhadas por todo o Brasil, principalmente, em dois fatores bastante visíveis, a precariedade em termos estruturais, o que dificulta muito o trabalho do professor e a aprendizagem do aluno, a baixa qualificação docente, o isolamento, a rotatividade de profissionais e a sobrecarga de trabalho, tornando suas ações educativas difíceis de serem consolidadas. (SILVA 2006). O desenvolvimento educacional do/no campo vigente em nosso país, torna-se a cada dia uma realidade de exclusão, e expropriação. Os movimentos sociais e a busca por educação capaz de suprir as reais necessidades educativas do campo, principalmente que priorize o resgate a sua identidade de sujeito do campo, com vínculo nos seus interesses socioculturais, econômicos e que contribua para a sua permanência no campo com dignidade, ainda parece uma utopia. Tais referenciais constituem-se a base para as discussões sobre a educação do campo,ocorridas em diferentes órgãos públicos, movimentos sociais e organizações não governamentais, com vistas na formulação de políticas de educação voltadas para o desenvolvimento sustentável do campo. Na II Conferencia Nacional Por Uma Educação do Campo, ocorrida em agosto de 2004, em Luziânia/GO, segundo Arroyo (2001), a Educação do campo foi tratada como uma questão nacional que necessita de políticas públicas, a partir do diálogo entre os movimentos, as organizações sociais e sindicais, e a esfera federal, estadual e municipal. Sendo criado em 2004, a Coordenação Geral de Educação do Campo com a responsabilidade de elaborar e conduzir uma Política Publica Nacional de Educação do Campo. 19 Apesar disso, observa-se que a reação dos sujeitos do campo, frente a esse processotambémse deu de forma diferenciada, indo desde a simples reação do êxodo rural atéreações políticas. Em diferentes regiões brasileiras emergiram, sob a forma deorganização e mobilização das diferentes categorias de trabalhadores rurais, umconjunto de lutas também diferentes no conteúdo e na forma. Paralelamente e geralmente articuladas com essas grandes lutas, vão ocorrendoem vários pontos do país, experiências de mobilização e organização de pequenosagricultores em busca de alternativas educacionais que venham de encontro àsnecessidades e aos desafios colocados pelo momento histórico à agricultura familiar. São experiências que sinalizam que a luta desse segmento não é só pela educaçãoenquanto direito, enquanto conquista democrática, mas, principalmente, por umaeducação que, adequada às necessidades sociais históricas, seja também um instrumentocapaz de contribuir para a superação das atuais contradições sociais. 2.3Marco Legal da Educação do Campo As Diretrizes Operacionais para Educação Básica das escolas no Campo constituem-se como Marcos Legais que orientam a respeito das diferenças de uma política de igualdade. Na legislação brasileira a educação do campo é tratada como educação rural, cujos espaços são da floresta, da pecuária, das minas e da agricultura, no entanto, ultrapassa-os ao incorporar os espaços pesqueiros, extrativistas, ribeirinhos e caiçaras. Dessa forma, o campo passa a ser considerado um espaço de inter-relação entre os seres humanos e as práticas que constroem e reconstroem as condições específicas de sua existência social perpassada pela dimensão humana, entendendo que as diretrizes são subsídios que devem ser usados na construção de uma proposta pedagógica que de fato contemple os povos do campo. (GRUPO GEPERUAZ, 2002). A Lei de Diretrizes e Base da Educação,(LDB) Lei n° 9394/96, artigos 23, 26 e 28, tratam das especificidades e das diversidades do campo em seus aspectos: sociais, culturais, econômicos, gêneros, gerações e etnias. Em concordância com 20 essa lei, o Parecer CNE/CEB, n° 36/2001 e Resolução CNE/CEB, n°01/2002, institui as Diretrizes Operacionais para Educação Básica nas Escolas do Campo. Juntamente com a Resolução nº. 02, de 28 de abril de 2008, que estabelece Diretrizes Complementares, Normas e Princípios para o desenvolvimento de Políticas Públicas de atendimento à Educação Básica do Campo. O Decreto de n° 7.352 de 04 de novembro de 2011 dispõe de uma Política Pública de Educação do Campo e sobre o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA. Antes dasDiretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo, elaborada e aprovada pelo Conselho Nacional de Educação – CNE, por meio da Resolução CNE/CEB n° 01, de 03 de abril de 2002, com a participação dos movimentos sociais e sindicais, as Universidades, ONG’s e homologadas pelo Ministro da Educação e o Decreto 7.352, é importante sabermos a trajetória da educação brasileira nas constituições. Dentre as políticas públicas de Educação do Campo, foi criado em 1998 o já mencionado Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA, resultado das lutas dos movimentos sociais, sindicais, trabalhadores e trabalhadoras rurais, pelo direito à educação básica que suprisse as necessidades educacionais dos sujeitos do campo. Com objetivos de fortalecer o campo como território de vida em todas as dimensões: econômica, social, ambiental, política, cultural e ética, tornando-seum forte instrumento de democratização na construção do conhecimento, frente aos desafios da concretização desse projeto de educação de qualidade no e do campo. A Resolução nº 2, de 28 de Abril de 2008, foi aprovada pela Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, estabelecendo diretrizes complementares, normas e princípios para o desenvolvimento de políticas públicas de atendimento da Educação Básica do Campo. Essa Resolução dá um grande destaque à normatização quanto à política de nucleação e sua vinculação ao transporte escolar, por constituírem-se questões relevantes no tocante à efetivação das políticas educacionais a serem efetivadas no meio rural, ao impactarem em grande medida os resultados da educação oferecida às populações do campo. 21 Não obstante a identificação de marcos legais da qualidade que devem ser alcançados na educação básica nas escolas do campo, a situação de penúria ainda vivenciada pelos sujeitos que estudam nas escolas existentesno meio rural, nos leva a compreender as contradições que se materializam entre os discursos inovadores cheios de utopia, e a realidade existente no meio rural, que revela as situações de abandono, descaso e descompromisso para com a qualidade da educação ofertada às populações do e no campo em nosso país. 2.4 Concepção de Educação do Campo A concepção de educação a partir do e no campo historicamente formulado em contexto de problematização de conceitos e ideias até então arraigados na sociedade brasileira, entende campo e cidade como duas partes de uma única mesma sociedade e que não podem ser tratadas de maneira desigual. Para compreender a origem deste conceito é necessário salientar que a Educação do Campo nasceu das demandas dos movimentos camponeses na construção de uma política educacional para os assentamentos de reforma agrária (ARROYO, 2001). Este é um fato extremamente relevante na compreensão da história da Educação do Campo. Dessa demanda também nasceu o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) e a Coordenação Geral de Educação do Campo. As expressões Educação na Reforma Agrária e Educação do Campo nasceram simultaneamente, são distintas e se complementam. A Educação na Reforma Agrária refere-se às políticas educacionais voltadas para o desenvolvimento dos assentamentos rurais. Neste sentido, a Educação na Reforma Agrária é parte da Educação do Campo, compreendida como um processo em construção que contempla em sua lógica a política que pensa a educação como parte essencial para o desenvolvimento do campo. (CALDART, 2002). Hage (2004) recorda ainda que o termo “educação do campo”, que vem sendo discutido e fortalecido nos últimos anos, tem um sentido amplo e complexo, portanto, não deve ser entendido apenas como sinônimo de ensino. Este conceito fundamenta-se na prática educativa que se tem desenvolvida nos movimentos sociais, nas diferentes organizações que atuam com educação, e na LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação, n° 9.394/96, que determina em seu art.1°, que: 22 A educação deve abranger os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. Nesse contexto de educação do e no campo, é que o modelo de ensino Multisseriado ganha destaque, se constituindo como modalidade predominante de oferta, principalmente nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Assim, para se conceituar educação multisseriadas é necessário em primeiro lugar, entender sua relação com o campo, uma vez que esta modalidade de ensino é comum nos espaços rurais (FAGUNDES; MARTINI, 2003). Um dos fundamentos da Educação do Campo, é que só há sentido em construir processos pedagógicos específicos às necessidades dos sujeitos do campo vinculados a outro modelo de desenvolvimento, cuja base produtiva principal dê-se a partir das unidades familiares de produção e não do agronegócio e do latifúndio. Pois não haveria sentido desencadear esforços para produção de teorias pedagógicas para um campo sem gente, sem sujeitos, ou, para uma realidade de espaços vazios. Quando se fala de educação do/no campo não se propõe a criação de um modelo próprio de escola, e sim, de um ensino mais flexível voltado para adaptação cultural, isso quer seja no campo ou na cidade, respeitando-se a realidade do local. Hage (2004) fala que o processo de ensino do/no o campo, está voltado a alfabetização de indivíduos e não no fator educar, em seu sentido amplo, trata-se de um modelo que não prepara as crianças para a vida nem no meio urbano e nem para o campo. Modalidade que avassala, acomoda e que reproduz a ideologia do sistema capitalista, prontos para a exploração. Reforçando a ideia de sair do campo para estudar, pensamento que vêm sendo difundido até hoje. Vendo o campo apenas como local de subsistência da área urbana para a produção agrícola. A educação do campo deve ser pensada em função das necessidades e peculiaridades que a vida no campo exige. Independente de cor, raça, sexo, idade ou religião. Pois a população camponesa, assim como a urbana, também é demandante de direitos e deve ter acesso a uma educação que seja e esteja vinculada a realidade em que esta gente está inserida. 23 A base fundamental de sustentação da Educação do Campo, a qual se vincula o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária(PRONERA), é que o território do campo deve ser compreendido para muito além de um espaço de produção agrícola. (CALDART, 2006). Desde a década de 1930, vem se desenvolvendo movimentos e articulações em prol da educação do campo visando um projeto educacional com características adequadas ao contexto do meio rural. Os autores Caldart, Arroyo e Hage, (2002) afirmar que a educação do campo, surgiu a partir das necessidades educacionais dos povos do campo, em meio às reivindicações dos camponeses na busca de política educacional para os assentados da reforma agrária. O conceito de educação do/no campo, surgiu junto com a Educação na Reforma Agrária, tornando-se mais real a partir da l Conferencial Nacional Por Uma Educação Básica do Campo realizada em Luziânia (GO), em 1998. Nessa conferencia, além de se incorporar o conceito de educação do Campo, defendeu-se também o direito dos povos do campo às políticas públicas de educação com respeito às especificidades, em contraposição as políticas compensatórias da educação do campo, (HAGE, 2004). Essa conferencia foi o resultado de um longo processo de luta dos povos organizados do campo e trouxe a especificidade da educação do campo associada à produção da vida, do conhecimento e da cultura do campo, apontando ações para a escola e para a formação de educadores. Tendo a educação como direito social e não como mercado. Educação produtora de cultura,organizadora de um povo rico de cultura, a cultura do campo. Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB n. 9.394/1996) a União tem a incumbência de assegurar a assistência com recursos financeiros para os Estados e os Municípios com atendimento prioritário assim como, a referida lei assegura também, as diversidades e peculiaridades locais como forma de garantia e acesso a educação, em seu Art. 9°, inciso ll, prevê que: A União incumbir-se-á de prestar assistência técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para desenvolvimento de seus sistemas de ensino e o atendimento prioritário à escolaridade obrigatória, exercendo sua função redistributiva e supletiva. 24 Dada à flexibilidade, que permite assegurar que, nas formas de organização escolar, tão importantes para a Educação do Campo, também se encontra na LDB, no seu artigo 23: A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos alternância regular de períodos de estudos, grupos não seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomenda. Na Segunda Conferencia Nacional ocorrida em agosto de 2004, em Luziânia- GO, definiu-se novos campos de luta para a Educação do Campo, sinalizando a consolidação de um projeto histórico de educação, conduzido e organizado pelos sujeitos sociais do campo. Recolocou-se o campo e a educação na agenda política do país impulsionada pela luta, pela democratização do acesso a terra, à educação escolar, como direito de todos e dever do Estado. 3. A ESCOLA DO CAMPO A realidade vivenciada pelos sujeitos nas escolas existentes no campodenuncia grandes desafios a serem enfrentados para que seja cumpridoo marco operacional anunciado nas legislações educacionais que definem os parâmetros de qualidade do ensino público conquistados com as lutas nos movimentossociais das populações do campo. Dados oficiais do INEP2 censo escolar de 2002, mostram que no meio rural brasileiro, 28% dos jovens acima de 15, ainda não foram alfabetizados; e 3,4 anos é a média de anos de estudo nessa mesma faixa etária; a distorção idade-série atinge 65% dos estudantes matriculados nas escolas do campo; e somente 25% das crianças de 4 a 6 anos são atendidas. (GRUPO GEPERUAZ, 2002). Ainda segundo o Grupo de Pesquisa, tais reflexos deste dramático retrato das realidades das escolas do campo ficam ainda pior quando se observa que, a metade das escolas do campo possui apenas uma sala de aula e 64% são multisseriadas. 2 Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais –INEP. 25 A educação no e para o campo levando em consideração a realidade paraense e baseada no depoimento de professores, evidencia uma serie de fatores negativos.(GRUPO GEPERUAZ, 2002): Merenda escolar; Apoio dos governantes; Falta de materiais didáticos; Superlotação; Espaço físico; A falta de secretário, direção, supervisão; Deslocamento da cidade para a escola De acordo com o exposto percebe-se que o professor nem sempre desempenha somente o seu papel, acaba por acumular uma série de funções. Observado no depoimento de professores pesquisados pelo Grupo Geperuaz (2006 p.38): “É muito difícil conciliar minha prática na sala de aula, tendo uma turma superlotada, fazendo merenda, pagando fretes da merenda, as formalidades impostas pela secretaria de educação, a qual não conhece nem um pouco a realidade do professor, mas impõe suas regras sem nenhumfundamento”. Em relação aos professores, boa parte dos que ensinam no campo tem formação carente; e apenas 9% completaram o ensino superior.Para eles, asprecárias condições das estruturas físicas das escolas; as dificuldades dos professores e estudantes em relação ao transporte, às longas distâncias percorridas, a rotatividade e a oferta irregular da merenda, são fatores que provocam a infrequência a evasão e prejudicam o processo ensino-aprendizagem, fatores responsáveis em grande parte, pelo fracasso escolarevidente nasescolas do campo, principalmente as com as classes multisseriadas. De fato, estudar em condições desfavoráveis, não estimula nemprofessores e tão pouco os estudantes a permanecer na escola, nem asentir prazer em estudar na sua própria comunidade, fortalecendo ainda mais o reflexoda escolarização empobrecida que tem sido ofertada no meio rural. Nessas escolas, o trabalho docente tem pouca autonomia em face das questões políticas que envolvem o poder local e interferem na dinâmica das secretarias de educação, submetendo os professores a uma grande rotatividade em função de sua instabilidade no emprego. 26 Nos últimos anos as escolas do campo vêm sendo incluídas com mais ênfase nas políticas públicas, pode-se dizer que estamos numa nova fase de atuação com essas escolas, vivendo um momento de pensa-las vinculadas a construção de projeto de educação do e no campo, assumindo-a como um espaço de vida e de fortalecimento das identidades sociais. (CALDART, 2004). Além das diversas particularidades, professores, pais e integrantes de comunidades envolvidas com as escolas multisseriadas se ressentem do apoio que as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação deveriam dispensar as escolas do campo e afirmam serem estas discriminadas em relação às escolas da cidade, que têm prioridade em relação ao acompanhamento pedagógico e formação dos docentes. No entendimento desses sujeitos, essa situação advém do descaso dessas instancias governamentais para com as escolas multisseriadas.(GRUPO GEPERUAZ, 2002). Hage salienta que, se as escolas do campo vêm passando por constantes mudanças é porque o próprio campo está em movimento e é do campo que resultam as reinvindicações históricas mais acentuadas pela garantia do direito à vida com dignidade e valorização humana. Isso significa tratar a educação escolar como instrumento pedagógico para construir um projeto de desenvolvimento que garanta a igualdade de direitos, a justiça social e a solidariedade entre os sujeitos do campo. 3.1 Os Professores na Educação do Campo: da formação a prática Em nosso país existem mais de 40 mil escolas que possuem turmas multisseriadas, onde crianças de diferentes idades e séries/anos escolares compõem a mesma classe. Essa variedade é uma realidade que consequentemente os professores têm que levar em conta diariamente ao planejar e executar as suas atividades pedagógicas. O currículo é um espaço para o confronto de conhecimentos populares e eruditos. Nesse sentido o papel da escola será o de, primordialmente ressignificar os conhecimentos já trazidos pelos alunos e alunas e a própria comunidade, e ser capaz de produzir novos e melhores conhecimentos, garantir um espaço educativo, no qual existe de forma permanente a circularidade de saberes. 27 Conforme Garcia (2004 p.45), “a escola seria um espaço bem mais rico se acolhesse o conhecimento que os alunos (...) trazem e que são resultados das lutas pela sobrevivência e que nelas produzem conhecimentos”. Por isso, o desafio dos educadores nos processos educativos das escolas do campo, reside também na apropriação do entorno social e produtivo dos agricultores e agricultoras. A apropriação das realidades que se articulam para a organização, trabalho, saúde e desenvolvimento do campo ao serem introduzidos nos programas curriculares e Projetos Pedagógicos. Assim, contribuirão para que a Escola do Campo cumpra o seu papel de responsável pelo ensino de qualidade no campo. Esse ensino que precisa ser de qualidade, só será construído se todos os agentes do campo, inclusive a escola, assumirem a agricultura, o desenvolvimento cultural como eixo central das suas ações. (CALDART, 2004). Esses dilemas constituem-se verdadeiros entraves na vida dos professores que trabalham no campo, os quais precisam acima de tudo ter conhecimento e estratégias para realizar um trabalho múltiplo que vai desde a junção de alunos de diferentes séries e idades em espaço limitado, até o desafio de assumir outras funções, mencionadas anteriormente. Além da distância enfrentada até a escola, o isolamento, a rotatividade por questões políticas ou instabilidade no emprego. (HAGE, 2004). Segundo o autor, o resultado de todos esses obstáculos presentes na vida dos professores é a angustiados pois sentem-se pressionados e principalmente despreparados para enfrentar tamanhos desafios, por este motivo, muitos acabam organizando os seus trabalhos pedagógicos sobre a lógica da seriação ou a junção de várias séries ao mesmo tempo, buscando diferentes planos e estratégias de ensino. Hage (2008), e Arroyo (2006), destacam que, entre as estratégias mais frequentes para enfrentar essas situações, está à organização de fileiras de carteiras ou cantos seriados, com os quais os professores trabalham separadamente. Para tanto é necessário fazer vários planejamentos, fragmentar a aplicação dos conhecimentos por serie, reduzir o tempo nas aulas presenciais dos alunos, além de manter as crianças pequenas, que necessitam de atividades e recursos pedagógicos para o sua idade, sentadas durante bastante tempo. 28 Essa busca incessante por parte dos professores, em muitos casos os leva a um trabalho mecânico, com textos extraídos de livros didáticos às vezes até ultrapassados e fora da realidade do meio ao qual o aluno está inserido. (HAGE, 2004) Ainda segundo o autor, devido a todas essas situações, o que temos como resultados são professores desiludidos, desmotivados, insatisfeitos e até desesperados, por quererem desenvolver seu trabalho com qualidade e encontram- se perdidos em meio a tantas responsabilidades que lhe são impostas ao trabalharem em uma escola multisseriadas, principalmentequando esse contexto envolve muitas seriesespaços limitados entre outros. Em uma pesquisa realizada sobre a realidade das escolas com classes multisseriadas, destaca-se: Os desafios mais presentes que os educadores enfrentam em sua atuação nessas escolas é o isolamento, realidade de vários municípios no Brasil. Essas escolas são em grande parte unidocentes, impondo aos docentes uma sobrecarga de trabalho, onde os, mesmos realizam tarefas de merendeiro; diretor; servente; psicólogo; enfermeiro e vigia escolar. Observa-se que estes fatores comprometem a qualidade da educação e torna expressiva a insatisfação de muitos educadores, conforme evidencia o GrupoGEPERUAZ (2004), o qual refere-se à falta de formação especifica para trabalhar com esse público, e a existência de classes multisseriadas acaba comprometendo o trabalho do educador ao ter que desenvolver suas atividades em turmas diversificadas em termos de idades e aprendizagens, estabelecendo comparações com as turmas seriadas, manifestando expectativa que essas turmas se transformem em seriadas como alternativa para o sucesso na aprendizagem. Por outro lado, Caldart(2002), afirma que o fato de se ignorar os ricos saberes que os povos ribeirinhos já possuem ao não incorporar esses conhecimentos nas ações pedagógicas das escolas do campo, acaba contribuindo com o fracasso da mesma, pois a desvalorização de seus direitos em fazer parte da construção e reconstrução de sua própria historia, negando suas raízes, suas crenças, seus valores, modo de vida e seus padrões de referências e sociabilidade vivenciados nas relações sociais, no trabalho e nos grupos dos quais participam, é importante para a compreensão de sua história de vida. 29 Para ela, é relevante compreender que esse processo de valorização dos saberes do sujeito do campo, tem moldado a atitude das comunidades que a impulsiona a lutar pela preservação de seu meio rural, garantindo práticas e politicas educacionais que valorize as suas matrizes histórico-culturais em contato com o meio ambiente, adequando seus modos de vida às peculiaridades regionais e oportunidades oferecidas pelo meio a sua volta. A realidade dos professores frente aos desafios da educação do campo, em classes multisseriadas, tendo que cumprir currículo construído de fora para dentro de certa forma impossibilita o a inserir em sua metodologia os saberes, valores e as concepções das populações do campo, desse modo acaba diminuindo sua autoestima e descaracterizando suas identidades. (HAGE, 2004). Por outro lado, Caldart (2004), os próprios professores, juntamente com os pais, alunos e comunidade, que precisam das escolas multisseriadas, manifestam sua indignação em relação à falta de apoio por parte das secretarias de educação, sentindo-se excluídos, discriminados, sem acompanhamento pedagógico, e principalmente sem oportunidades de formação para os professores que atuam nessas escolas. Segundo a autora os descasos aos anseios dos sujeitos do camposão fomentados pelos órgãos governamentais, pois não buscam políticas públicas, ou propostas pedagógicas que contemple de fato as escolas do campo que atuam com classes multisseriadas. Como se pode observar, para os professores a dura realidade de seu trabalho, sem atenção, acompanhamento por parte da secretaria de educação entre outros, contribui para que os mesmo sintam-se abandonados desprivilegiados em relação aos demais professores. Tal sentimento talvez seja pelo fato dos mesmos desempenharem suas funções em comunidades afastadas de outras, e da sede do município, ou também pela questão de infraestrutura das escolas e dos alojamentos que os abriga, os quais nem sempre oferecem o mínimo de conforto, para que estes possam disponibilizar de mais tempo para o acompanhamento da aprendizagem de seus alunos. (HAGE, 2004). 30 Com base no depoimento de professores percebe-se claramente a preocupação em darem o máximo de si para manter os alunos na escola, o que se constata que não é fácil, pensar e fazer acontecer estratégias que ajudem reafirmar e contribuir no combate aos grandes desafios das escolas do campo frente às séries de circunstancias evidenciadas neste trabalho. 3.2 Estruturas e Funcionamento das Escolas Multisseriadas Vivemos uma realidade educacional no campo brasileiro marcada por um descaso histórico de um povo esquecido em um cenário de riquezas conflitos, lutas e muitas necessidades, principalmente em termos educacionais, reflexo visível e real fomentado pela ausência de políticas publicas que garanta ao povo do campo melhores estruturas escolares, e ensino aprendizagem de qualidade. Em uma serie de fontes de informação como jornais, revistas, telejornais, estudos e pesquisas, mostram a realidade das escolas brasileiras, principalmente as localizadas no campo, apresentam precárias condições para o seu funcionamento como, por exemplo: classes com grandes contingentes de alunos, classes multisseriadas, desvalorização dos professores, insuficiência de materiais didáticos entre outros. Por outro lado a formação específica do profissional para atuar em sala de aula, grande parte dos que atuam não dominam os conteúdos e desconhecem as metodologias. Tudo isso aliado às péssimas condições que vive o aluno, realidade que mostra uma disparidade muito grande quando se compara campo e cidade. Esses fatores indicam que há muito tempo a educação do campo tem consequências pela falta de responsabilidade e compromisso por parte dos governantes e órgãos responsáveis pelo gerenciamento da educação nos Estados e Municípios brasileiros, pois, os mesmos devem assegurar que projetos, medidas sejam tomadas e postas em prática. Nos dias atuais em alguns municípios, percebe-se que estamos caminhando em uma nova fase nas escolas do campo, organizadas em multisseriadas, sendo pensada e vinculada à construção de educação do campo que o assuma como um espaço de vida e de fortalecimento das identidades sociais. 31 Conforme Hage (2002), um dos fundamentos da Educação do Campo, é que só há sentido em construir processos pedagógicos específicos às necessidades dos sujeitos do campo, se estes estiverem vinculados à construção de outro modelo de desenvolvimento, cuja base produtiva principal dê-se a partir das unidades familiares de produção, do agronegócio e do latifúndio, e sim compreendido para muito além de um espaço de produção agrícola. Para ele, a precariedade da educação da oferecida às populações do campo, é mais visível nas escolas com turmas multisseriadas, presentes na maioria das escolas do campo, uma vez que são escolas com um pequeno número de estudantes, situadas em localidades pouco populosas. Entretanto, o contingente de estudantes nestas escolas representa uma quantidade expressiva de pessoas que merecem e tem direito ao ensino de qualidade. Segundo Hage (2004 p 45.). A escola do campo, onde se faz viva as classes multisseriadas, historicamente, sempre foram sustentadas por políticas compensatórias garantindo, quando muito, uma manutenção mínima de incentivos e recursos, oferecidos somente às primeiras letras. Entende-se que o sistema educacional sustentou ao longo do tempo uma escola, sem estruturas adequadas, ocupando residências, centros comunitários ou prédios públicos degradados. Esse tipo de tratamento, destinado as escolas com turmas multisseriadas, favorece a noção de que o campo é um lugar atrasado, onde vivem pessoas conservadoras e tradicionais com pouco conhecimento sobre seus direitos. Assim sendo, acabam menosprezados e tidos como sujeitos que não necessitam desses direitos, muitas vezes negados ou dispensados de forma decadente. Observa-se que são fatores que comprometem a qualidade da educação tornando expressiva a insatisfação de muitos educadores, fator evidenciado em uma pesquisa realizada pelo Grupo GEPERUAZ(2004). De acordo com a pesquisa do grupo já mencionado, a existência de classes multisseriadas acaba comprometendo o trabalho do educador ao ter que desenvolver suas atividades em turmas diversificadas em termos de idades e de aprendizagens, estabelecendo muitas comparações com as turmas seriadas e manifestando a expectativa que essas turmas se transformem em seriadas como alternativa para que o sucesso na aprendizagem se efetive. 32 Considera-se que se deve trabalhar com as escolas multisseriadas pensando na construção de outra identidade da escola do campo, que não. Alias o caminho para entender e definir se a escola do campo é a “escola multisseriadas” não é suficiente para garantir nova estratégia de intervenção. Deve-se, ademais, alargar os horizontes da nossa intervenção pedagógica para que seja possível investigar e expressar as potencialidades dos sujeitos que frequentam a escola do campo; definido outro tipo de identidade da escola do campo, de acordo com as condições regionais e locais dos sujeitos que a frequentam. (ARROYO, 2001). Para o autor, os vários fatores que dificultam a educação do campo, principalmente em classes multisseriadas precisam ser compreendidas e analisadas para que não se perpetue a ideia de que a educação do campo não é apenas uma extensão da educação ofertada no meio urbano. Hage (2005) adverte que, as precárias condições das escolas multisseriadas existentes no meio rural e outros fatores relevantes que merecem ser pontuados, haja vista, que são espaços destinados ao atendimento de sujeitos que necessitam e tem direito as condições mínimas de conforto para garantir educação de qualidade que garanta aos mesmos a ampliação de seus conhecimentos, são bastante evidenciadas e relevantes. A falta de recursos tecnológicos que pode se elencar como um, dos vários problemas que os professores de diversas escolas enfrentam pelo Brasil afora, que seria de suma importância para tornar as aulas mais práticas, há pesquisas que mostram escolas onde só há a lousa, o giz e alguns livros usados. Com a deficiência crônica da alimentação escolar insuficiente e de péssima qualidade. Com esses recursos os índices evidenciados hoje não poderiam ser outros. 3.3 As Classes Multisseriadas e a Formação do Sujeito do Campo Como alternativa para suprir as necessidades de alfabetização principalmente das comunidades rurais, manteve-se a política de abertura de escolas multisseriadas tendo por objetivo educar, alfabetizar e escolarizar a população do campo, procurando manter o mínimo de educação elementar nesta modalidade. Percebe-se que a criação de escolas multisseriadas tiveram objetivos muito claros e as distinguiu consideravelmente das escolas dos centros urbanos. 33 Arroyo(1999) aponta: a escola diferente que está sendo buscada nos movimentos sociais, com experiências inovadoras coladas às raízes populares e às matrizes culturais destinadas à população do campo, é, portanto, uma educação diferenciada daquela ministrada em escolas de centros urbanos. Ainda segundo o autor, hoje a escola multisseriada vem sendo objeto de disputa no campo das políticas educacionais. Quando milhares delas têm sido fechadas nas últimas duas décadas, contraditoriamente pelo estado, o Movimento Nacional da Educação do Campo, reivindica sua permanência por se constituir em uma modalidade de educação mais adequada às peculiaridades, complexidade e diversidade dos povos do campo. Cabe, porém ressaltar que, a Constituição Federal Brasileira de 1988 em seus artigos 205 e 208 consolidaram o compromisso do Estado e da sociedade brasileira em contemplar a educação para todos, garantindo o direito e a promoção do ensino em todas as modalidades e respeitando todas as particularidades e especificidade culturais e regionais. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN (Lei n° 9394/96), no seu Artigo 28, contempla a oferta da educação básica para a população rural, promovendo a sua adequação às especificidades e peculiaridades de cada local, respeitando as características, a territorialidade e a identidade dos povos do campo. Neste conjunto de normatizações estão as Resoluções de 2002 e 2008, bem como o Decreto Presidencial de 2010. Garantindo que a continuidade do ensino em escolas multisseriadas no campo é contemplada pela combinação de leis, resoluções e decretos federais. Contudo, a existência do Marco Legal nem sempre garante a operacionalização de políticas públicas que de fato garanta uma formação de qualidade como de direito, ao sujeito do campo. Para Hage (2005), uma das grandes características da educação do campo é a organização de turmas multisseriadas, devido a distancia entre moradores, baixo número de crianças em cada ciclo e variações em idade série, devido a isso é comum, encontrar em um único espaço e com um só professor, crianças desde o primeiro ano de alfabetização com alunos que já dominam a leitura e a escrita, razão segundo o autor, para o alto índice de reprovação, evasão e fracasso escolar. 34 Caldart (2004),afirma que, essa é uma das principais dificuldades enfrentadas pelos professores que trabalham em classes multisseriadas, pois percebem a necessidade de maior atenção aos pequenos, com isso acabam prejudicando os maiores, que ficam sem atividades específicas que os ajude a crescer, já que são diferentes tipos de necessidades de aprendizagem. Diante disso, a autora chama a atenção para a importânciada reflexão a cerca da educação, que vem sendo ofertada para os sujeitos do campo, pois não devemos deixar de considerar que é um processo social que contribui para as lutas e, conquistas de formação humana. Os currículos e modos de organização pedagógica devem articular princípios que se voltem a um projeto de emancipação social e política que fortaleça a cultura e os valores das comunidades do meio rural. 4. CAMINHOS METODOLÓGICOS A pesquisa de acordo com Sampiere, Colado e Lúcio (2006), surge de uma ideia, que pode surgir de experiências individuais, teorias ou observações e promove a apropriação inicial da realidade que se quer pesquisar. Permeia definições explicitas dos objetivos, das questões pesquisadas e da base teórica envolvida, além da estruturação detalhada do processo de pesquisa. 4.1 Contexto e delimitação da pesquisa Decidimos realizar a pesquisa semiestruturada pelo fato de nos proporcionar um maior aprofundamento nos sentidos analisados, além das inquietações e o trabalho com as classes multisseriadas. As entrevistas foram aplicadas com o objetivo de obter informações e detectar: Questões relacionadas à prática dos profissionais que atuam na escola do campo; A realidade do aluno que estuda no regime de classes multisseriadas; O ponto de vista dos pais com relação aos aspectos de qualidade no processo de ensino aprendizagem 35 4.2 Quanto à natureza De acordo com a natureza da pesquisa, devem-se “determinar as técnicas que serão empregadas na coleta de dados e na determinação da amostra que deverá ser representativa e suficiente para apoiar as conclusões”. (LAKATOS, p. 186.). O interesse da pesquisa de campo esta voltado para “o estudo de individuo, grupos, comunidades, instituições e outros campos, visando a compreensão de vários aspectos da sociedade Ela apresenta vantagens e desvantagens”. (LAKATOS, p.189). O propósito em elucidar questões sobre os desafios e experiências nas escolas do campo em classes multisseriadas surgiu a partir das inquietações presentes no cotidiano dos professores, pais de alunos e a comunidade em relação aos grandes desafios enfrentados por esses profissionais e que estratégias são utilizadas pelos mesmos para minimizar a constante deficiência no ensino aprendizagem nas escolas do campo, mas especificamente no município de Gurupá. Optamos pela pesquisa semiestruturadapor ser uma técnica essencial para identificar ações, incentivo e posicionamento do respondente, de acordo com a definição do ponto de partida, onde o individuo tenha a espontaneidade de expressar-se e propor esclarecimentos sobre o seu vinculo e atuação no processo educativo. Partindo do princípio de que as pesquisas com a utilização de questionários e, principalmente formulários, são bastante onerosas e, geralmente, de aplicação limitada, o confronto dos dados obtidos com as estatísticas mais extensas no espaço e no tempo, permite obter resultados mais significativos. (MARCONI; LAKATOS, 2003 p.178) 4.3 Quanto à abordagem do problema O procedimento metodológico da pesquisa é de cunho quantitativo e qualitativo para que seja investigado: os desafios e experiências com classes multisseriadas nas escolas do campo e para compreender as ações desenvolvidas pelos profissionais que atuam com essa modalidade de ensino. No que se refere a pesquisa quantitativa Pádua (2000), afirma que a mesma tem como objetivo 36 neutralizar os fatos, sendo que as opiniões e informações coletada sejam analisadas com o uso de recursos e técnicas estatísticas. Por outro lado a pesquisa qualitativa evidencia os fenômenos estudados da seguinte forma. De acordo com Tozoni-Reis (2009, p. 37): A pesquisa qualitativa diferentemente de outras modalidades que se preocupam mais com a descrição dos fenômenos, tem uma preocupação maior com a interpretação crítica e argumentativa dos fenômenos estudados. É nessa etapa que se concretiza, de forma mais elaborada, essa interpretação. O pesquisador vai problematizar os temas que, direta ou indiretamente, os autores lidos trouxeram para sua reflexão. 4.4 Quanto aos objetivos Para a realização desse trabalho utilizou-se a pesquisa exploratória a qual é definida da seguinte forma: (...) é a formulação de questões ou de um problema, com tripla finalidade: desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente, fato ou fenômeno, para a realização de uma pesquisa futura mais precisa ou modificar e clarificar conceitos. Empregam-se geralmente procedimentos sistemáticos ou para a obtenção de observações empíricas ou para as análises de dados (ou ambas, simultaneamente). Obtém-se frequentemente descrições tanto quantitativas quanto qualitativas do objeto de estudo, e o investigador deve conceituar as inter-relações entre as propriedades do fenômeno, fato ou ambiente observado. (MARCONI E LAKATOS 2003, p. 188). 4.5 Quanto aos procedimentos técnicos No que diz respeito aos procedimentos técnicos utilizou-se fontes bibliográficas Marconi; Lakatos (2003), defendem que esse procedimento tem como finalidade colocar o pesquisador em contato direto com tudo que foi pesquisado sobre o tema. E os mesmos autores asseguram que: A pesquisa bibliográfica é um apanhado geral sobre os principais trabalhos já realizados, revestidos de importância, por serem capazes de fornecer dados atuais e relevantes relacionados com o tema. O estudo da literatura pertinente pode ajudar a planificação do trabalho, evitar publicações e certos erros, e representa uma fonte indispensável de informações, podendo até orientar as indagações. (MARCONI; LAKATOS, 2003, p.183). 4.6 População e amostra 37 No que se refere à pesquisa de campo, realizamos com cinco categorias: 04 gestores, 04 coordenadores, 05 professores, 05 alunos e 05 pais, somando um total de 23 pessoas. Duas escolas do polo Cojuba área I e II da rede municipal de ensino da cidade de Gurupá as quais foram definidas como lócus desta pesquisa. As escolas pesquisadas funcionam há mais de 10 anos, em um prédio com (07) sete salas de aula e a outra com (4) quatro e de acordo com a observação percebe-se que as mesmas precisam de uma ampla reforma, tendo em vista, a demanda de alunos. As escolas atendem uma clientela de aproximadamente (400) quatrocentos alunos da Educação Infantil a 8ª series. Esses alunos moram nas comunidades de entorno da escola, são transportados em barcos para frequentarem as aulas e grande parte desses meninos e meninas são assistidos pelo programa bolsa família e fazem parte de famílias ribeirinhas de baixa renda. Dentro da realidade desse público que frequentam as escolas depara-se com alunos em situação de vulnerabilidade social, pobreza extrema pelo fato das inundações frequentes na localidade, crianças que tem como motivação para frequentar as aulas, somente a merenda escolar e outros. 4.7 Instrumentos de coletas de dados Para o processo de coleta de dados foram aplicados questionários sobre a atuação dos envolvidos no processo de ensino nas escolas multisseriadas. 38 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES Discutiremos a seguir os aspectos investigados sobre a realidade das escolas do campo e apontaremos questões que estão relacionadas diretamente ao cotidiano de professores, gestores, alunos e comunidade em geral, que vivenciam diariamente a relevante trajetória das escolas com classes multisseriadas. 5.1 Categoria: Aluno Gráfico 01 -Ensino do Campo Fonte: Dados da Pesquisa (2015) De acordo com os dados do gráfico 01, as respostas dos alunos se o ensino ofertado no campo garante formação para a vida em sua comunidade, 80% dos alunos afirmam que a escola prepara-os para que os mesmos permaneçam em suas comunidades ou em qualquer outra comunidade, mesmo essa educação sendo um pouco fragmentada, de certa os direciona para novos conhecimentos. Não houve aluno que se opusesse a esse questionamento, mas 20% dos entrevistados disseram que só às vezes, a escola assume essa postura de preparar para que o aluno permaneça em sua comunidade conhecimento capaz de se 80% 20% 0% 1) Perguntamos aos alunos se o ensino ofertado no campo garante formação para a vida não só em sua comunidade? SIM AS VEZES ALUNOS ENTREVISTADOS: 05 39 posicionar e buscar transformações para sua vida e de sua comunidade. Para eles, as escolas do campo deveriam desenvolver um ensino mais flexível e que se pudesse pensar na adaptação cultural, isso quer seja no campo ou na cidade, levando em consideração a realidade do local e a necessidade do educar em seu sentido amplo, pois a que tem não é a que precisam tem direitos. Para Caldart (2004 p.7), “essa realidade já vem sendo transformada”. Existe, de fato, uma nova prática de escola que está sendo gestada neste movimento. Aseducadoras e os educadoresdo campo vêm participando intensamente do processo de transformação que nele vem acontecendo e estão convencidos de que é preciso aprender a potencializar mais os elementos presentes nas diversas experiências, e transformá-los em “um movimento consciente de construção das escolas do campo como escolas que ajudem no processo mais amplo de humanização, e de reafirmação dos povos do campo como sujeitos de seu próprio destino, de sua própria história”. Gráfico02 - Conteúdos Aplicados Fonte: Dados da pesquisa (2015) Segundo os índices do gráfico 02, sobre a relação dos conteúdos com a realidade do educando, 20% garantem que há essa relação e 80% responderam que às vezes há, pois a maioria dos conteúdos retratam realidades distantes, quando 80% 20% 0% 2) Os conteúdos aplicados em sala de aula estão relacionados a sua realidade? AS VEZES SIM ALUNOS ENTREVISTADOS: 05 40 devem trazer práticas pedagógicas e alternativas que contribua, a partir das práticas já existentes para a formação dos sujeitos do campo. Nenhum dos entrevistados respondeu que não. Segundo os autores Junior e Netto (2011 p. 48) analisam da seguinte forma: Os problemas da educação no Brasil são muitos, mas, no meio rural, a situação é mais complexa. Os currículos dessas escolas, geralmente, têm dado ênfase aos direitos básicos da cidadania e, portanto, de uma vida digna, reduzida aos limitesgeográficos e culturais da cidade. Quando perguntamos sobre o ponto de vista do aluno sobre o ensino em turmas multisseriadas, os mesmos afirmam sentir dificuldade e acreditam que ela se estenderá ao longo das séries. Evidenciado nos relatos dos alunos a seguir:3 Quadro 01 – Aluno da Escola do Campo 3)Como aluno da escola do campo, qual sua visão sobre o ensino em turmas multisseriadas? “Em minha opinião é muito difícil porque lá na frente nós vamos ficar com muita dificuldade porque muitos conteúdos são repetidos pros alunos de 5ª e 6ª, causando a perda de muitos conteúdos de 7ª e 8ª série” (Aluno A) “Pela visão que eu posso vê é que atrapalha bastante, por que aqui nós estudamos várias séries. Então o conteúdo que é passado para a 6ª é passado para todos nós, porque eu penso assim, quando eu estiver lá no ensino médio eu vou sentir dificuldades por não ter estudado os conteúdos da 7ª e 8ª série” (Aluno B) “Em minha opinião é muito difícil, porque lá na frente vou sentir muita dificuldade para entender os conteúdos da 6ª, 7ª e 8ª série” (Aluno C) “Ao estudar em classe multisseriadas eu às vezes me prejudicava porque a professora tinha que ensinar todos em um só horário e depois ir fazer até a merenda e outras coisas, isso me prejudicou e tenho dificuldade até hoje na minha aprendizagem” (Aluno D) “Em minha escola é muito barulho e me desconcentra na minha sala de aula” (Aluno E). Fonte: Dados da pesquisa (2015) Perguntamos aos entrevistados como se sentem fazendo parte de uma classe multisseriadas. Os mesmos afirmam serem prejudicados. Percebe-se de acordo com o depoimento dos educandos: 3 O texto está digitado, de acordo com a escrita do aluno. 41 Quadro 02 – Estudo em Classe Multisseriadas 4) Ao estudar em uma classe multisseriadas, como você se sente? “Eu me sinto prejudicada, por que os conteúdos perdidos poderiam me ajudar muito, mas infelizmentemuitos não são possíveis o professor ensinar” (Aluno A) “Eu me sinto prejudicada porque os conteúdos não são ensinados por serie é a mesma coisa para todos em um mesmo horário” (Aluno B) “Sinto-me prejudicada, por que não tinha um professor só para a nossa serie, ele não tinha tempo para passar os conteúdos para nós e com isso eu não aprendi o suficiente” (Aluno C) “Sinto-me com pouco conteúdo pra enfrentar as serie seguinte. Porque assim fico prejudicada” (Aluno D) “Que eu vou perde ao estudar aquela mesma coisa que é ensinada para todos. quando estiver em outra série vou ficar com dificuldade pra desenvolver meu aprendizado” (Aluno E). Fonte: Dados da pesquisa (2015) 5.2 Categoria: Família Nos resultados relacionados à referida questão, obtivemos dos pais de alunos as seguintes respostas, evidenciadas nos relatos a seguir. Gráfico 03– Educação do Campo – Contribuição Fonte: Dados da pesquisa (2015) De acordo com o gráfico acima é possível perceber que todos os pais ou responsáveis de alunos, acreditam que mesmo com o desafio de ser vários professores ao mesmo tempo, percebem que de alguma forma a educação do campo vem contribuindo com a formação de seus filhos. As Diretrizes Operacionais, como Movimento Nacional Por uma Educação do Campo, acreditamem: ...uma educação do/no campo... sustentada no enriquecimento das experiências de vida, obviamente não em nome da permanência, nem da redução destas experiências, mas em nome de uma reconstrução dos modos de vida...(DIRETRIZES . 2003, P.43) 100% 0%0% 1) Ao questionarmos as famílias se a educação do campo está contribuindo na formação educacional de seu filho? SIM ENTREVISTADOS: 05 42 Gráfico 04 –Qualificação insuficiente do docente Fonte: Dados da pesquisa (2015) No que se refere à qualificação dos docentes o gráfico acima mostra que todos os questionados afirmam que a falta de formação adequada, contribui significativamente para o fracasso do ensino aprendizagem nas escolas do campo, ficando ainda pior quando se trata de turmas com classes multisseriadas. Para Hage(2004), os professores que atuam nas escolas do campo não estão qualificados para trabalhar com esse publico de níveis de escolaridade e ritmos diferentes, situações familiares complexas, idades variadas e possibilidades ou múltiplos empecilhos. Segundo Nóvoa (1992), “ com professores sem uma formação adequada, não há ensino de qualidade e inovação pedagógica”. Para ele, a formação consistente do professor, tanto inicial como continuada, é essencial na compreensão, de forma crítica e reflexiva, das teias de relação que fundamentam a escola. Ao questionarmos sobre a visão que os mesmos possuem em relação ao ensino em classes multisseriadas, obtivemos a seguintes respostas: 100% 0%0% 1) Perguntamos aos pais e responsáveis sobre a formação, questionando-os da seguinte forma: A qualificação insuficiente do docente atrapalha o Multisseriado na escola do campo? NÃO SIM ENTREVISTADOS: 5 43 Quadro 03 – O ensino nas escolas do campo 1) Como você vê o ensino nas escolas do campo onde há classes multisseriadas? Por quê? “muitas tarefas para uma só pessoa.” (Família A) “è que na escola o professor é tudo ele fazia até a merenda ai é por isso que ele não dava conta é muito ruim assim os alunos estudam tudo misturado.”(Família B) “O aluno não aprende quase porque é tudo junto o professor não sabe pra quem dá atenção.” (Família C) “Uns aprendem outros não porque o professor fica sobrecarregado.” (Família D) “Assim os alunos não tem um bom aproveitamento porque o professor é só um, enquanto uns estudam os outros bagunçam.” (Família E). Fonte: Dados da pesquisa (2015) Quadro 04 – Escola do campo e os recursos didáticos 04) A escola do campo disponibiliza de recursos didáticos necessários, para que os alunos desenvolvam suas potencialidades em classes multisseriadas? “Não, ela tem pouco recursos para a necessidade dos alunos.” (Família A) “Não, eu acho que não vem tudo que era pra vim porque os alunos ficam com falta de material.” (Família B) “Eu digo que não porque os alunos mesmo reclamam da falta de material.” (Família C) “Vem um pouco de material, mas não dá.” (Família D) “Não porque até a merenda que era pra vim não vem.” (Família E) Fonte: Dados da pesquisa (2015) Quadro 05 –Participação da família na escola 05)De que forma a família participa auxiliando os filhos nas atividades escolares? “Incentivando, participando de reunião não levando as crianças para trabalhar na lavoura ou na pesca.”(Família A) “Aconselhando pra não faltar na escola eu vou na reunião dos pai.”(Família B) “Eu não deixo eles fata na escola e digo pra fazer o trabalho da escola e sempre vou na reunião.”(Família C) “Quando da pra ir na reunião eu vou, eu digo pra não falta na escola mas as vez tão com preguiça não vão.”(Família D) “Nós aqui não deixa faltar na escola eu vou na reunião, quando tem, digo pra fazerem o dever de casa e quando não tão estudando é que eles ajudam em casa.”(Família E). Fonte: Dados da pesquisa (2015) 44 5.3 Categoria: Professor Quando desenvolvemos a pesquisa com os professores das escolas pesquisadas, nos deparamos com colegas que tem como formação apenas o Ensino Médio, mas já atuam na profissão há mais de (08) oito anos. Outros estão cursando o Ensino Superior através do PARFOR. Perguntamos a eles sobre os seus trabalhos nas escolas com classes multisseriadas. Na análise dos depoimentos de como é possível trabalhar com as escolas multisseriadas e alcançar um bom desenvolvimento na aprendizagem dos alunos, os profissionais afirmam que devido a sobrecarga nem sempre isso é possível, a aprendizagem do aluno fica comprometida. Para eles é inevitável que o aluno saia sem alguma dificuldade. Conforme podemos observar nos relatos a seguir: Quadro 06 –Desenvolvimento na aprendizagem 01) Como é possível trabalhar com as escolas
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