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NOTA: Estes apontamentos foram compiladas a partir de diferentes fontes bibliográficos. FUNDAMENTOS DE PEDOLOGIA 1. Introdução Ciência do Solo ou Pedologia (Pédon do Grego = solo) é uma disciplina científica no ponto de encontro das ciências (p.e. química, física), biológicas (p.e. botânica, zoologia, microbiologia), geológicas (p.e. mineralogia, geologia, geografia) e agrícolas (p.e. produção das culturas, Nutrição de plantas, tecnologia do solo). Ela abrange pesquisa, ensino, estudos e uso prático do solo. Os principais ramos da ciência do solo são: Pedologia geral compreende: descrição/morfologia do solo (inventário das propriedades e comportamento do solo); gênese do solo (origem e desenvolvimento dos solos); sistemática (classificação dos solos de acordo com aspectos pedogenéticos); ecologia do solo (interação do solo com animais, seres humanos e meio ambiente). Ciência do solo aplicada trata do uso agrícola, silvicultural e horticultural dos solos: compreensão da fertilidade do solo contribui para um melhor crescimento das culturas e torna possível o melhoramento ou manutenção da fertilidade (produtividade). Além de prover o habitat e alimento para as plantas, o solo funciona como um filtro, tampão e sistema de transformação que se contrapõe à poluição ambiental resultante da atividade humana. 1.1. História da Pedologia A ciência do solo empírica é bastante velha, tendo origem quando o homem começou a utilizar o solo para as culturas, pastoreio, jardins, videiras e florestas; o que é evidenciado pelas figuras e relíquias das antigas civilizações. Evidências etimológicas do significado do solo para o homem: Latim para “homem” Homo sapiens, Alemão antigo Gomo (homem ou humanidade) e a palavra Latina Húmus (solo) todos têm a mesma raiz; é a mesma coisa para o Hebraico: Adam (humanidade), Adamah (solo arável). O estudo do solo como uma ciência formal começou na segunda metade do século dezenove. Um pioneiro foi F.A. Fallou (“Pedologia ou Ciência do Solo Geral e Aplicada”, Dresden 1862). Fundadores da moderna ciência do solo: V.V. Dokuchaev (“O Chernozem Russo”, Petersburg 1883); E.Ramann (“Ciência do Solo Florestal”, Berlin 1893); E.W. Hilgard (“A Influência do Clima na Formação e Composição dos Solos”, Heidelberg 1893). A ciência do solo foi também relacionada com outras disciplinas, p.e. agricultura (A. Thaer), química agrícola (H. Davy, C. Sprengel, J. v. Liebig), geografia, geologia, petrologia (A. v. Humboldt, F. v. Richthofen, J. C. Hundeshagen, F. Senft), biologia (C. Darwin, P. E. Mueller). 1.2. Tópicos da Pedologia Diferentemente de minerais, plantas e animais, solos não são entidades perfeitamente distintas e não exatamente definíveis. Solos podem ser descritos como um fenômeno limite da superfície da terra. Eles pertencem à pedosfera, na qual a litosfera, a atmosfera, a hidrosfera e a biosfera se sobrepõem e interagem (Figura 1). Solo é o produto de transformação das substâncias orgânicas e minerais da superfície da terra sob a influência dos fatores ambientais que operam por um período de tempo muito longo e apresentando uma organização e morfologia definidas. É o meio de crescimento para as plantas superiores e a base da vida para os animais e seres humanos. Como um sistema de tempo-espaço o solo apresenta quatro dimensões. Os componentes do solo (mineral, orgânico, água e ar) são arranjados no espaço para formar o corpo do solo: a diferenciação do corpo do solo em horizontes dá origem ao processo da pedogênese que leva a um grande número de classes de solos (tipos de solo) que refletem diferentes propriedades e funções ecológicas no ambiente e contribuem de várias formas para suportar a humanidade. Figura 1.Processos interativos da pedosfera com a biosfera, atmosfera, hidrosfera e litosfera. Fonte: Pérez et al., 2016 (adaptado de Lal et al., 1998). Como a pedosfera (excetuando penhascos costeiros, precipícios e falhas) é constituída de uma série contínua de solos, esses últimos devem, para descrição, classificação e investigação, ser divididos em unidades muito pequenas (“pseudo-individuais”). A unidade é o pédon – uma coluna aproximadamente hexagonal, em três dimensões, através da pedosfera, indo do material de origem até a superfície. Sua seção transversal varia de 1- 10 m2 e profundidade de 0,5 a 2 m, dependendo da variabilidade do solo. É o menor volume que pode ser chamado de solo (Figura 2). Perfil de solo: Seção vertical (2 dimensões) através do pédon ou pedosfera (Figura 2). Figura 2. Arranjo hierárquico de diferentes componentes: paisagem, polipedon, pédon, perfil e horizontes do solo. Fonte: Adaptado de Brady & Weil, 1996. 2. FORMAÇÃO DO SOLO O solo é o sustentáculo da vida e todos os organismos terrestres dele dependem direta ou indiretamente. É um corpo natural que demora para nascer, não se reproduz e “morre” com facilidade. Para dar a necessária importância ao solo e protegê-lo, é fundamental conhecer a maneira como se forma e quais os elementos da natureza que participam na sua formação. O solo resulta da ação simultânea e integrada do clima e organismos que atuam sobre um material de origem (geralmente rocha), que ocupa determinada paisagem ou relevo, durante certo período de tempo. Esses elementos (rocha, clima, organismo, relevo e tempo) são chamadas de fatores de formação do solo (Figura 1). Esses fatores são parte do meio ambiente e atuam de forma conjunta (Figura 2). Durante seu desenvolvimento o solo sofre a ação de diversos processos de formação como perdas, transformações, transportes e adições. Esses processos são responsáveis pela transformação da rocha em solo, diferenciando-se desta por ser constituído de uma sucessão vertical de camadas que diferem entre si na cor, espessura, granulometria, conteúdo de matéria orgânica e nutrientes de plantas. Esses processos (adições, perdas, transformações e transportes) são responsáveis pela formação de todos os tipos de solos existentes. Considerando que todos os solos são formados pela atuação desses processos, como se explica que na natureza existam diversos tipos de solos? A explicação é que esses processos atuam com diferentes intensidades de acordo com a variação nos fatores de formação. Figura 3. Fatores de formação do solo. Figura 4. A paisagem e os fatores responsáveis pela formação do solo. Para facilitar a compreensão, pode ser feita uma analogia entre a formação do solo e o trabalho de um marceneiro para fazer uma cadeira escolar. Para fazer uma cadeira, o marceneiro necessita de fatores (matéria-prima), como madeira, pregos, tinta, mão-de-obra, energia elétrica e ferramentas. Para formar o solo, a natureza necessita de fatores, como clima, material de origem, relevo, organismos e tempo cronológico. Para fazer a cadeira, o marceneiro necessita executar processos (ações), como cortar, lixar, pregar e pintar. A CLIMA ORGANISMOS RELEVO TEMPO ROCHA SOLO natureza também executa processos para formar o solo, como adições, perdas, transformações e transportes. 2.1. Fatores de Formação do Solo A pedogênese ou formação do solo é estudada pela Pedologia, cujas noções básicas e conceitos fundamentais foram definidos em 1877, pelo cientista russo Dokuchaev. Até esta época, prevaleceu a visão geológica que considerava o solo apenas como sendo um manto de fragmentos de rocha e produtos de alteração, que reflete unicamente a composição da rocha que lhe deu origem. Com a constatação da existência de solos diferentes desenvolvidos a partir de uma mesma rocha de origem, a concepção sobre o que é o solo passou a ter uma conotação mais genética, onde o solo é identificado como um material que evolui no tempo, sob a ação dos fatores naturais ativos na superfície terrestre. Em 1898, Dokuchaev consolidou a concepção de que as propriedades do solo são resultadodos fatores de formação do solo que nele atuaram e ainda atuam, a saber: material de origem, clima, organismos, topografia (relevo) e tempo. Hans Jenny (1941), um cientista do solo suíço traduziu a teoria de Dokuchaev para uma linguagem matemática e formulou o modelo de formação do solo mais conhecido na ciência do solo, que pode ser definido pela seguinte equação: S = f (cl,o,r,p,t,...) onde S é a variável solo; cl é o clima; o são os organismos; r é o relevo; p (ou “mo”) é o material de origem e t é o tempo. As reticências significam que outros fatores não listados podem ocorrer eventualmente. 2.1.1. Material de origem O material de origem é a matéria-prima a partir da qual os solos se desenvolvem, podendo ser de natureza mineral (rochas ou sedimentos) ou orgânica (resíduos vegetais). Por ocuparem extensões consideráveis, os materiais rochosos são, sem dúvida, os mais importantes e abrangem os diversos tipos conhecidos de rochas (Quadro 1). Quadro 1. Exemplos dos principais tipos de rochas MAGMÁTICAS METAMÓRFICAS SEDIMENTARES Granito Gnaisse Arenitos Basalto Quartzito Argilitos Diabásio Xistos Calcários Dependendo do tipo de material de origem, os solos podem ser arenosos, argilosos, férteis ou pobres. É importante salientar que uma mesma rocha poderá originar solos muito diferentes, dependendo da variação dos demais fatores de formação. Por exemplo, um granito, em região de clima seco e quente, origina solos rasos e pedregosos em virtude da reduzida quantidade de chuvas. Já, em clima húmido e quente, essa mesma rocha dará origem a solos mais profundos, não-pedregosos e mais pobres. Em qualquer clima, os arenitos geralmente originam solos de textura grosseira (arenosa), têm baixa fertilidade, armazenam pouca água e são muito propensos à erosão. Rochas como o basalto originam solos de textura argilosa e com altos teores de ferro, pois são ricas nesse elemento. Solos originados a partir de argilitos apresentarão textura argilosa, isto é, com predominância de argila. Com exceção do hidrogênio, oxigênio, carbono e nitrogênio, os demais nutrientes para as plantas, como cálcio, magnésio, potássio e fósforo, provêm dos minerais presentes nas rochas que, ao se decomporem pela ação do intemperismo, liberam esses elementos para o solo para serem absorvidos pelos vegetais. Rochas com grandes quantidades de elementos nutrientes podem originar solos férteis, ao passo que solos derivados de rochas pobres serão inevitavelmente de baixa fertilidade. Solos derivados de arenito (rocha geralmente pobre em nutrientes) possuem baixa quantidade de nutrientes (cálcio, magnésio, potássio), comparativamente aos originados de basalto (rochas mais ricas em nutrientes). Rochas magmáticas ou Ígneas( do latim ignis =fogo) São as rochas formadas a partir do resfriamento do magma. Podem ser de dois tipos: i) Vulcânicas (ou extrusivas) - são formadas por meio de erupções vulcânicas, através de um rápido processo de resfriamento na superfície. Assim o magma passa bruscamente do estado líquido para o estado sólido adquirindo uma textura vítrea, pelo facto de não haver tempo para dar-se a cristalização dos minerais e por isso os minerais são invisíveis a olho nú. Alguns exemplos dessas rochas são o riolito, traquito, basalto e a pedra-pomes, cujo resfriamento dá-se na água. ii) Plutônicas (ou intrusivas) - são formadas dentro da crosta por meio de um processo lento de resfriamento. Como o resfriamento ocorre de forma lenta, os minerais tem a possibilidade de apresentar um bom desenvolvimento originando uma textura granular uniforme. Portanto, as rochas intrusivas são constituídas por minerais bem cristalizados e bem visíveis. Alguns exemplos são o granito, gabro e diorito. Rochas Sedimentares As rochas sedimentares (latim sedere = acumular) são formadas à superfície normalmente pela meteroriazação ou erosão de uma rochas preexistentes e posterior deposição. Na essência são rochas formadas através do acumulo de detritos, que podem ser orgânicos ou gerados por outras rochas, através de: transporte, que consiste na translocação dos detritos http://pt.wikipedia.org/wiki/Magma http://pt.wikipedia.org/wiki/Basalto http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedra-pomes http://pt.wikipedia.org/wiki/Crosta de um lugar para outro e de sedimentação que consiste na deposição dos materiais transportados. As rochas sedimentares classificam-se em: Detríticas - são as rochas formadas a partir de fragmentos de outras rochas. Alguns exemplos são o arenito, o argilito. Químicas - são formadas a partir de transformações de certos materiais em contacto com a água ou outro tipo de substância. Alguns exemplos são o sal gema, as estalactites e as estalagmites. Orgânicas - são rochas formadas por meio da acumulação e soterramento de matéria orgânica. Alguns exemplos são o calcário, formado através dos resíduos de conchas e corais, e o carvão mineral, formado a partir dos resíduos de vegetais. Rochas Metamórficas (latim meta = mudança, morpho = forma) São as rochas formadas através da deformação de outras rochas pree- existentes(magmáticas ou sedimentares), devido a alterações de condições ambientais, como a temperatura e a pressão. Alguns exemplos são o gnaisse, formado a partir do granito; a ardósia, formada a partir do xisto; o mármore, formado a partir do calcário, e o quartzito, formado a partir do arenito. 2.1.2. Tempo A rigor, o início da formação de um solo ocorre quando uma rocha sã começa a ser alterada, ou um evento de sedimentação se encerra, e a partir daí começam a ocorrer os processos de formação do solo. Mas como existe a erosão atuando em sentido contrário à pedogênese, é difícil precisar o início exato da formação do solo. Embora a sucessão de eventos modeladores da superfície do planeta, estudados pela geomorfologia, nos dê uma ideia de sequência temporal dos materiais de solos dispostos na paisagem, não é comum se pesquisar a idade de um Latossolo ou de um Cambissolo, até porque provavelmente esses solos já passaram por várias fases de pedogênese, considerando a dinâmica da superfície do planeta. O uso do termo tempo/idade em pedologia normalmente está relacionado à maturidade (Figura 4), ao grau de desenvolvimento de um solo, e não ao tempo cronológico. Assim, quando se diz que um solo é jovem, isto significa que a pedogênese foi pouco intensa (condições de relevo plano, clima frio ou seco), ou que a taxa de erosão foi maior que a taxa de pedogênese (relevo acidentado), formando um solo pouco espesso, podendo apresentar minerais ainda passíveis de intemperização. Ao contrário, a referência a um solo velho, indica tratar-se de um solo espesso, quimicamente pobre, com minerais profundamente intemperizados e acúmulo de óxidos. http://pt.wikipedia.org/wiki/Arenito http://pt.wikipedia.org/wiki/Argilito http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81gua http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Sal_gema&action=edit http://pt.wikipedia.org/wiki/Estalactites http://pt.wikipedia.org/wiki/Estalagmites http://pt.wikipedia.org/wiki/Calc%C3%A1rio http://pt.wikipedia.org/wiki/Carv%C3%A3o_mineral http://pt.wikipedia.org/wiki/Gnaisse http://pt.wikipedia.org/wiki/Ard%C3%B3sia http://pt.wikipedia.org/wiki/Xisto http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1rmore http://pt.wikipedia.org/wiki/Calc%C3%A1rio http://pt.wikipedia.org/wiki/Quartzito http://pt.wikipedia.org/wiki/Arenito Figura 5. Evolução da formação/maturidade do solo. Fonte: Buol et al., 1997. 2.1.3. Clima (precipitação e temperatura) O clima é o fator que, isoladamente, mais contribui para o intemperismo. Mais do que qualquer outro fator, determina o tipo e a velocidade do intemperismo em uma dada região. Os dois parâmetros climáticos mais importantes são a precipitação e a temperatura, regulando a natureza e a velocidade das reações químicas. Para que as reações químicas de intemperismo ocorram, é necessárioque exista água no sistema. Dessa forma, a água está envolvida diretamente no processo, seja como solvente, seja indiretamente, favorecendo a instalação de seres vivos que irão acelerar o intemperismo. Uma vez processadas as reações, a circulação de água exerce importante papel na remoção de partículas sólidas (erosão) e produtos solúveis (lixiviação) do intemperismo. Quanto maior a disponibilidade de água (pluviosidade total e distribuição ao longo do ano) e mais frequente for a sua renovação (drenagem), mais completas serão as reações químicas do intemperismo. A temperatura desempenha um papel duplo, condicionando a ação da água: ao mesmo tempo em que acelera as reações químicas, aumenta a evaporação, diminuindo a quantidade de água disponível para a lixiviação dos produtos solúveis. A elevação da temperatura em 10°C, aumenta de duas a três vezes a velocidade das reações químicas. 2.1.4 Organismos Compreende os vegetais, animais, bactérias, fungos, liquens, os quais têm influencias dinâmicas nos processos de formação do solo. Estes organismos exercem ações físicas e químicas sobre o material de origem e continuam a atuar no perfil do solo. Estas ações podem ser classificadas como conservadoras e transformadoras. Ações conservadoras são por exemplo, a interceptação da chuva pela parte aérea dos vegetais, o sombreamento da superfície (diminuindo a amplitude térmica), assim como a retenção de solo pelas raízes das plantas. Entre as ações transformadoras se destacam a ação dos organismos no intemperismo físico e químico das rochas, a mobilização de sólidos (minerais e orgânicos) por animais, e a reciclagem de nutrientes e incorporação de matéria orgânica pelos vegetais. 2.1.5 Topografia (relevo) Dependendo do tipo de relevo (plano, inclinado ou abaciado) (Figura 6), a água da chuva pode entrar no solo (infiltração), escoar pela superfície (ocasionando erosão) ou se acumular (formando banhados). Figura 6. Representação esquemática dos tipos de relevo que ocorrem na paisagem. Nos relevos planos, praticamente toda a água da chuva entra no solo, propiciando condições para formação de solos profundos. Em relevos inclinados, grande parte da água escorre pela superfície, favorecendo processos erosivos e dificultando a formação do solo, sendo tais áreas ocupadas, predominantemente, por solos rasos (Figura 5). As áreas com relevo abaciado, além das águas da chuva, também recebem aquelas provenientes das áreas inclinadas, tendendo a um acúmulo e favorecendo o aparecimento de banhados (várzeas), onde se formam os solos chamados de hidromórficos, ou seja, com excesso de água. Quando derivados de material de origem vegetal acumulado em áreas encharcadas, como banhados, os solos tendem a apresentar grandes quantidades de matéria orgânica (Figura 7). Em relevos planos, podem ocorrer solos rasos quando a região é muito seca, e a quantidade de chuvas não é suficiente para a formação de um solo profundo. Também podemos ter solos rasos em regiões planas, mesmo em climas muito chuvosos, quando os solos são desenvolvidos a partir de rochas muito resistentes ao intemperismo (alteração). Plano lnclinado Abaciado Rio Figura 7. Relevo inclinado favorece a formação de solos rasos (Almirante Tamandaré, PR). Figura 8. Relevo abaciado e com acúmulo de água favorece a formação de solos escuros com altos teores de matéria orgânica (Foto: Luiz Claudio de Paula Souza). 2.2. Processos Gerais de Formação do Solo São processos que produzem as modificações que ocorrem no solo devido à atuação dos fatores de formação do solo. Consistem de adição, remoção ou perda, transformação e translocação. A ação mais ou menos pronunciada de um ou mais desses processos gerais conduz aos chamados processos específicos de formação do solo. 2.2.1. Adição Tudo que é incorporado ao solo em desenvolvimento é considerado como adição. O principal constituinte adicionado é a matéria orgânica proveniente da morte dos organismos que vivem no solo, principalmente a vegetação. Por serem ricos no elemento carbono, esses compostos orgânicos imprimem cores escuras à porção superior do solo. Solo Rocha A quantidade de matéria orgânica incorporada nos solos é muito variável pois depende do tipo de clima e do relevo. Em climas com pouca chuva, a vegetação é escassa, resultando em menor adição de matéria orgânica. Em climas mais chuvosos, a vegetação é mais abundante e a quantidade de matéria adicionada é maior, fazendo com que os solos apresentem a sua parte superficial mais escura e espessa. 2.2.2. Remoção ou perda Durante o seu desenvolvimento os solos perdem materiais na forma sólida (erosão) e em solução (lixiviação). Em relevos muito inclinados os solos são mais rasos em decorrência da perda de materiais por erosão (Figura 4). A água da chuva solubiliza os minerais do solo os quais liberam elementos químicos (principalmente cálcio, magnésio, potássio e sódio) que são levados para as águas subterrâneas. Esse é um processo de perda denominado lixiviação. Em regiões com pouca chuva, as perdas desses elementos químicos são menos intensas, comparativamente àquelas com maior precipitação. Essas perdas por lixiviação explicam a ocorrência de solos muito pobres (baixa fertilidade) mesmo sendo originados a partir de rochas que contêm grande quantidade de elementos nutrientes de plantas. 2.2.3. Translocação Em decorrência da ação da gravidade e da evapotranspiração (perda de água das plantas e do solo pela ação do calor), pode ocorrer translocação de materiais orgânicos e minerais dentro do próprio solo. Essa movimentação pode se dar nos dois sentidos, ou, seja, de cima para baixo ou de baixo para cima. Em condições de clima com poucas chuvas, elementos químicos, como, por exemplo, o sódio, podem ser levados em solução para a superfície do solo e depositados na forma de sal. Em climas húmidos, ácidos orgânicos e partículas minerais de tamanho reduzido (argila) podem ser transportados pela água para os horizontes mais profundos do solo. 2.2.4. Transformação São denominadas transformações os processos que ocorrem durante a formação do solo produzindo alterações químicas, físicas e biológicas. Como exemplo de alteração química, pode-se citar a transformação dos minerais primários (que faziam parte da rocha) em novos minerais (minerais secundários). As argilas são o exemplo mais comum de minerais secundários. É o caso de muitas rochas que não contêm argila, porém esse material faz parte do solo formado. Qual seria a explicação? Nesse caso, alguns minerais primários da rocha sofreram intemperismo e se transformaram em argila. E de onde vieram as areias que os solos contêm? Essas areias são provenientes também dos minerais contidos na rocha e que ainda não foram transformados ou são muito resistentes para serem alterados. As cores vermelha, amarela ou vermelho-amarela são resultantes da formação de compostos (óxidos) a partir do elemento químico ferro liberado pela alteração das rochas. Os materiais vegetais que caem no solo (folhas, galhos, frutos e flores) e as raízes que morrem também sofrem transformações. Pela atuação de organismos do solo, transformam- se em húmus, que é um composto mais estável e responsável pela cor preta dos solos. Nesse processo, ocorre liberação de ácidos orgânicos, que também contribuem para a alteração dos componentes minerais do solo. As transformações ocorridas durante todos os estádios de desenvolvimento dos solos são mais intensas em regiões húmidas e quentes (zonas tropicais). A água é necessária para hidratar e dissolver minerais, processo que é acelerado em temperaturas mais elevadas. Na porção tropical húmida do Brasil, ocorrem solos considerados muito velhos e intemperizados por terem sido submetidos durante muito tempo a esses processos de transformação e perda, sendo, como resultado,muito profundos e muito pobres em nutrientes. 3. Formação do Perfil de Solo A formação do solo inicia-se a partir do momento em que o material de origem (rocha) é exposto na superfície terrestre, quando, então, passa a sofrer ação de agentes do clima, principalmente precipitação e temperatura, acionando processos de intemperismo ("apodrecimento" da rocha) (Figura 9-1). À medida que se intemperiza, a rocha vai desagregando e ficando mais porosa, passando a reter água e elementos químicos (cálcio, magnésio, potássio, sódio, ferro, etc) e oferecendo condições de colonização por organismos pioneiros, como musgos, liquens, algas, etc. (Figura 9-2). Com o passar do tempo, o solo vai ficando mais espesso (Figura 9-3), permitindo a instalação de plantas de maior porte. Ao morrerem, esses organismos fornecem matéria orgânica (adição), que passa a ser incorporada continuamente ao solo, além de fornecer ácidos orgânicos, que aceleram o intemperismo. Os minerais primários (oriundos da rocha) sofrem transformações, alterando-se química e fisicamente e dando origem a novos minerais (minerais secundários), tais como: minerais silicatados e óxidos de ferro e alumínio. Abaixo da camada superficial mais escura do solo, a rocha continua se intemperizando e apresenta coloração vermelha graças à presença do ferro (Figura 9-4). Parte dos nutrientes (cálcio, magnésio, potássio, etc.), liberados desses minerais, também são "lavados" do solo (perdas). Pela ação da gravidade, partículas de argila suspensas em água e compostos orgânicos podem deslocar-se pelos poros do solo, possibilitando algum acúmulo em profundidade (transporte descendente) (Figura 9.5). Em climas secos, alguns sais são trazidos à superfície do solo (transporte ascendente), graças à evaporação da água. Assim, na Figura 9-1, o solo ainda não se formou, estando em desenvolvimento nas Figuras 9-2 até 9-4, e pode ser considerado praticamente em estádio final de desenvolvimento na Figura 9-5. Figura 9,Sequência cronológica hipotética de evolução do perfil do solo. As letras A, B, C, R são os horizontes e camadas que constituem o solo Com esta ação continuada dos processos pedogenéticos (transformações, perdas, transportes e adições), a massa inicial de rocha alterada homogênea passou a adquirir propriedades e características variáveis em profundidade (diferenciação vertical), tais como: cor, porosidade, conteúdo de matéria orgânica, etc., formando os horizontes do perfil do solo. Na Figura 9-5, observa-se que: a) O solo apresenta diferentes cores em profundidade; b) A parte superficial (A) é escurecida pela matéria orgânica; c) A porção central (B) exibe cor vermelha (ou amarelada, em alguns casos) por causa do ferro; d) Logo abaixo vem a rocha alterada (C) de cor vermelha e acinzentada; e) Por último, tem-se a rocha fresca (R), que ainda não foi alterada. 4. Constituintes de um solo O solo é uma mistura variável de componentes minerais: fragmentos da rocha matriz, minerais primários e secundários, substâncias amorfas; componentes orgânicos: fauna e flora do solo, raízes de plantas, resíduos de plantas intactos e em decomposição, substâncias húmicas recentemente formadas (húmus); Água e Ar. Sendo uma mistura de substâncias sólidas, líquidas e gasosas, o solo é um sistema de 3 fases (Figura 10). 1 2 3 4 5 TEMPO Figura 10. Composição média de um solo 4.1 Fase sólida do solo Os componentes sólidos do solo são representados pela matéria mineral e pela matéria orgânica. 4.1.1. Matéria Mineral A matéria mineral do solo é representada pelos minerais constituintes do material de origem do solo, e pelos minerais formados como resultado do seu intemperismo. Tais minerais possuem dimensões variadas, sendo classificados em função desse tamanho. Os minerais que constituíam o material de origem (rochas) e que passam para o solo sem sofrer alterações são denominados minerais primários, enquanto os minerais neoformados, produtos do intemperismo, são denominados minerais secundários. Os principais minerais primário são: i) Feldespatos – Formam o grupo mais importante como constituintes dos solos, sobretudo de solos agrícolas. São translúcidos ou opacos, apresentam composição química variável. Dividem-se em feldespatos alcalinos e plagioclásios. Quanto à importância agrícola, os feldespatos, não só são importantes pela sua abundância, mas também pela facilidade com que são alterados, processo pelo qual libertam os nutrientes para as plantas. Os principais representantes destes minerais são: Ortoclásico (KAlSi3O8); albita(NaAlSi3O8) e a anortita (CaAl2SiaO8). ii) Anfibólios (e piroxínios) – São minerais quimicamente similares apresentam-se prismáticos e granulares. São representes deste grupo: a hornblenda (Ca2Na(Mg,Fe)4(Al,Fe)[(Si,Al)4O11]2[OH]2 e a augita Ca(Mg,Fe,Al)[(Si,Al)2O6]. A augita é o mineral mais rico em Ca e Mg, elementos importantes em solos agrícolas. iii) Quartzo (SiO2)n geralmente de cor branca ou incolor, por vezes apresentam diversas cores. O quartzo, como um mineral de importância agrícola, não se apresenta como um mineral fornecedor de qualquer nutriente para as plantas, pois praticamente é inalterado pelos agentes que promovem as alterações nos minerais primários. Actua como diluente para outros minerais e sua presença caracteriza solos normalmente de baixa fertilidade, com baixa capacidade de retenção de catiões e facilmente lixiviados pela água de percolação. v) Micas – Trata-se de um grupo de minerais caracterizados por uma boa elasticidade. Os representantes destes minerais quanto à importância agrícola são: (i) moscovita KAl2 [AlSi3O10][OH]2; (ii) biotita K(Mg,Fe)2[Si3AlO16][OH,F]2. Sendo a biotita aquela que mais liberta o K para as plantas, pois a força de união das suas camadas é relativamente fraca que do moscovita. 4.1.2. Minerais secundários Os minerais secundários são compostos inorgânicos de natureza cristalina, resultantes da re-síntese dos materiais, derivados da acção do intemperismo, sobre os minerais primários. Os minerais secundários dividem-se argilominerais e óxidos de ferro e óxidos de alumínio. A unidade estrutural básica dos minerais secundários consiste na combinação de dois tipos de lâminas: a tetraédrica e a octaédrica, sendo o tetraedro de silica e o octaedro de aluminio, como mostram as figuras abaixo. Figura 11. Esquema de tetraédrico e de octaédrico. Fonte: Luchese, 2002 Em função da relação entre lâminas tetraédricas e octaédricas estes minerais secundários são divididos em 1:1(TO) e 2: 1(TOT). Minerais secundários são aqueles formados em ambientes onde houve maior perda de sílica, resultando na proporção de uma lâmina de tetraedros de sílica para uma lâmina octaedros de alumínio. i) Argilas do grupo 1:1 (T-O) As argilas do grupo 1:1 bilaminados são formadas pelo arranjo de uma lâmina (T) tetraédrica contendo o silício ao centro envolvido por oxigénio, com uma lâmina (O) octaédrica contendo o alumínio ao centro envolvido por oxigénios e oxidrilas. Figura 12.Representação esquemática da argila de tipo 1:1 O principal representante dessa classe é a caulinita Al4SiO10(OH)8. A caulinita tem as suas camadas mais firmemente presas, o que não favorece a substituição do Al e Si por outros iões, isto é não é expansível; baixa plasticidade e menor capacidade de absorção de água. Esses factos reflectem- se numa menor capacidade de troca catiónica o que torna este solo de menor importância para a agricultura. ii) Argilas do tipo 2:1 (T-O-T) Esses minerais resultam da união de 2 laminas (T) tetraédricas de Si, intercaladas por uma lamina (O) octaédrica de AI, unidas pelos oxigénios apicais dos octaédricos Figura 13. Representação esquemática da argila de tipo 2:1 Os principais representantesdesse grupo são: vermiculitas (Mg,Fe2+,Fe3+)3[(Si,AI)401O][OH]24H20. A vermiculita tem a estrutura básica formada por 2 laminas tetraédricas de Si centradas por uma octaédrica de AI, e cargas permanentes derivadas de substituições isomórficas fundamentalmente da substituição de Si4+ por Al3+ nos tetraédricos. Essas cargas são balanceadas por catiões trocáveis, normalmente o Mg2+ que se apresentam nos espaços entre camadas, ligando estas camadas a partir das cargas negativas permanentes da superfície. Sendo esses catiões elos de ligação. O nível de expansão da vermiculita vai de 10Å a 15Å. montmorilonitas m{Mg3[Si40lO] [OH2]}.p{(Al,Fe)2.[Si40lO] [OH2}.nH20. A montmorilonita é uma argila de grande importância agrícola, rica em Mg, com domínio de substituição de Al3+ por Mg2+ nos octaedros. Esse facto faz com que esse mineral seja mais expansivo que a vermiculita, devido às atracções menos intensas entre as camadas, chegando a expandir-se até 18Å ou mais. Essa atracção menos efectiva deve-se ao facto de as cargas negativas das substituições isomórficas estarem localizadas em sua maior nos espaços octaédricos, portanto mais distantes da superfície do cristal. A capacidade de expandir-se, junto com o grande número de trocas isomorficas, deixa esses minerais com uma carga superficial muito grande, dando-lhes uma actuação privilegiada nos processos do solo, ou seja, uma capacidade de troca catiônica (CTC) de até 100 cmolcKg-1 iii) Argilas do tipo 2:2 (O-T-O-T) A principal representante desses minerais e a clorita, que pode ser definida como sendo um mineral 2:1, similar as micas, com uma lamina adicional octaédrica de brucita Mg(OH)2. Nas cloritas, as cargas negativas permanentes resultam da substituição parcial de Si4+ por Al3+ nos tetraedros, as quais são equilibradas por cargas positivas provenientes da substituição de Mg2+ por Al3+, ou Fe3+, na lamina de brucita. A lamina de brucita liga-se à estrutura trifórmica através de forças electrostáticas. Esses minerais são relativamente raros nos solos que as vermiculitas, ou as montmorilonitas. iv) Óxidos e hidróxidos de ferro e de alumínio Ao conjunto de óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio é denominado sesquióxidos. Estes minerais são dominantes em muitos solos de região tropical húmido, e são responsáveis pela cor vermelha ou amarela daqueles solos. As cargas destes compostos são relativamente pequenas, dependendo do PH pode ser negativas, nulas ou positivas. Se estes óxidos “embalsamarem” envolver os minerais de argila reduz a CTC da argila. Este facto, pode causar a formação de pequenos agregados (tamanhos de limo ou de areis fina), constituídas de argila e cimentadas por sesquióxidos, podendo conferir, na maioria das vezes, ao material argiloso sensação de textura média, com consequências para as propriedades físicas do solo. São comuns em solos fortemente intemperizados, a sua presença torna os solos não expansíveis, não pegajoso e não plástico. 1 angstrom (Å) é igual 10-10 m Os sesquióxidos são representados por: Gibbsita Al(OH)3, de cor branca, hematite (Fe2O3) de cor vermelha, magnetite (Fe3O4) vermelho escuro, goetita FeOOH de cor amarela. B) Matéria Orgânica Esta matéria é constituída por restos de plantas e de animais, parcial ou totalmente decompostos, e também por seres vivos. A quantidade de matéria orgânica existente no solo é muito variável e evolui ao longo do tempo. A matéria orgânica acumula-se principalmente à superfície do solo e desempenha um papel múltiplo: torna mais fáceis de trabalhar os solos pesados, facilitando a penetração das raízes; contém e armazena nutrientes fundamentais, como o azoto e o enxofre e também micronutrientes, que cede às plantas à medida que se vai mineralizando; ajuda o solo a reter a água, facilitando a circulação nos solos argilosos e aumentando a capacidade de retenção nos arenosos. A matéria orgânica incorporada de fresco no solo divide-se, em: Uma parte transforma-se em húmus estável e o restante volta a dar elementos minerais; água, gás carbónico, amoníaco. O processo de humificação pode durar cerca de 2 a 3 anos para um rendimento de 30% da matéria orgânica inicial. O húmus estável mineraliza-se, lentamente entre 1,5% a 2% cada ano. Todas as formas de matéria orgânica têm uma função importante no solo. O material não decomposto (cobertura morta, folhas) protege a superfície do solo contra erosão pelo vento e água e contra a radiação terrestre e irradiação solar, evitando flutuações extremas de temperatura e humidade. Ainda funciona como uma fonte de energia para uma grande parte de fauna do solo. Dá-se o nome de húmus à parte da matéria orgânica que sofreu intensa decomposição e atingiu um certo grau de estabilidade. O húmus tem propriedades coloidais, que se deve à existência de partículas electronegativas (por exemplo a argila) que se associam às partículas de matéria orgânica formando o complexo argilo-húmico. Este complexo é muito importante na nutrição das plantas pois fixa os iões existentes nas soluções de solo. As partículas de argila retêm os alimentos da planta: cálcio, magsésio, potássio... Ela desempenha um papel importante no poder absorvente do solo. Os coloides são partículas com superfície específica muito elevada, apresentando cargas eléctricas (iões) à sua superfície, o que lhes permite atrair, reter e trocar elementos que apresentem cargas eléctricas opostas. A argila e o húmus são principalmente de natureza negativa (aniões) pelo que os iões retidos ou trocados são predominantemente catiões, na maioria dos casos, nutrientes minerais para as plantas, como o cálcio, o magnésio e o potássio. Figura 14.Esquema de um complexo argilo-húmico O húmus "protege" a argila, estabilizando a estrutura do solo, e a argila favorece a humidificação, "protegendo" o húmus contra o ataque microbiano. A matéria orgânica existente no solo facilita a penetração das raízes, a retenção de água e o ar dos solos. Esta forma complexa com a matéria mineral, o que facilita a nutrição das plantas, fornecendo-lhe nutrientes essenciais. 4.2. Fase gasosa do solo Lembra-se que sempre que falamos do solo, dissemos que é um lugar onde é possível a vida! Imagine se no solo não circulasse o ar que seria da vida que lá existe! a tabela abaixo ilustra que existe diferença entre o ar na atmosfera e o ar no solo. As raízes precisam de oxigénio para o metabolismo e excretam o CO2. Imagine um excesso do CO2 no solo, sufocaria as plantas devido a falta de oxigénio. Este processo pode ocorrer quando o processo de difusão entre o ar no solo e o ar na atmosfera for limitado, devido a: formação de crosta superficial (má rega), ou estrutura densa ou humidade elevada do solo. Quadro 2. Comparação do ar atmosférico e do solo O ar entra na constituição do solo para preencher os espaços existentes entre as partículas sólidas que não são preenchidos pela água. O ar presente nos interstícios entre as partículas de solo resulta da combinação dos gases da atmosfera com os gases libertados durante as actividades biológicas e químicas ocorridas ao nível do solo, daí ser também chamado Elemento Ar atmosférico Ar do solo N2 79% 79% O2 20.9% < 20% CO2 0,003% >> 0.03% O humus é a parte mais importate da matéria orgânica. atmosfera do solo. Um solo pouco arejado é também pouco produtivo pois não oferece oxigénio suficiente para a respiração das raízes. A presença de ar no solo influencia não só a sua produtividade mas também a sua cor. Assim, um solo sujeito a encharcamento é, consequentemente, um solo pouco arejado, constituindo portanto, um meio redutor. Os sais de ferro permanecem aí no estado terroso. Num solo bem arejado, pelo contrário, há oxidações e o oxigénio presente facilita a formação de compostos férricos. Se esta oxidação é acompanhadapor uma hidratação, a hematite (Fe2O3), que é vermelha, dá lugar à limonite (2Fe2O3 3H2O), cuja cor é um amarelo-acastanhado. 4.3. Fase líquida do solo A água é o constituinte do solo onde se encontram substâncias dissolvidas. Desempenha uma função importante na formação de um solo e é indispensável às formas de vida dos solos. A quantidade de água no solo (humidade) depende de vários factores como o clima, a textura, estrutura e permeabilidade do solo, a acção dos seres vivos e varia com o tempo e a situação geográfica do solo considerado. A sua percentagem num solo não é constante porque se encontra sempre em movimento; pode infiltrar-se, evaporar-se ou ser absorvida pelas plantas. Na água do solo encontram-se dissolvidos os seguintes catiões: H+; Al3+ , Mg2+, Ca2+, K+ , Na+ e NH4+ e quanto aos aniões temos, SO2-4, SiO2-4, H2PO4-, H2PO42-, NO3-, Cl-, HCO- 3 e CO3 e também pode-se encontrar Micronutrientes: Fe2+, Mn2+, Cu2+, Zn2+, MoO43-, H3BO3. A água de um solo pode ser classificada da seguinte maneira: a) Água de constituição é aquela que entra na estrutura química dos minerais. Não está disponível para as plantas. b) Água higroscópica é a que esta adsorvida à superfície dos minerais; encontra-se por cima da superfície dos minerais. Não está disponível para as plantas. Figura 15. Estrutura da água higroscópica c) Água capilar forma películas em volta dos minerais. Constitui a principal fonte para as plantas. Figura 16. Estrutura da água capilar d) Água gravitacional desloca-se de poro em poro e provoca alagamento do solo se não for drenada. Figura 17. Estrutura da água gravitacional Por possuir muitas substâncias dissolvidas, a água existente no solo é também designada por solução de solo. 5. QUÍMICA DO SOLO 5.1. Superfície Específica É a superfície das partículas por unidade de peso (expresso em m2/g). As partículas coloidais caracterizam-se por apresentar uma alta superfície específica. A superfície específica determina a amplitude das reacções entre a fase sólida e as fases líquidas e gasosas. Varia em função do tamanho e tipo dos minerais. A tabela 2 ilustra o aumento da superfície específica, à medida em que um cubo de um grama é subdividido em partículas da mesma forma, com arestas menores. Quadro 3. Relação entre tamanho de partículas e superfície específica. Aresta (mm) Número de partículas Superfície específica (m2/g) Fração do solo correspondente 10 1 0,1 0,01 0,001 1 103 106 109 1012 0,0006 0,006 0,06 0,6 6,0 cascalho areia grossa areia fina silte argila Nota-se que um grama de argila poderá apresentar superfície específica cerca de mil vezes maior que um grama de areia. A superfície é inversamente proporcional ao diâmetro das partículas. No solo as diferenças são em geral maiores. Os argilominerais expansivos, como a montmorilonita, além de superfícies externas apresentam superfícies internas situadas entre as camadas desses minerais, sendo assim, sua superfície específica é maior do que os argilominerais não-expansivos, como a caulinita, que tem apenas superfícies externas. 2.2. Cargas Eléctricas Os colóides do solo podem desenvolver tanto cargas negativas quanto positivas. entretanto há o predomínio de cargas negativas, as quais podem ser permanentes ou variáveis (dependentes de pH). 5.2.1. Origem das cargas negativas dos colóides do solo As cargas negativas no solo, que em geral superam as cargas positivas, são originárias da substituição isomórfica e dissociação do grupo OH. As cargas negativas existentes no solo podem ser classificadas em: (i) cargas permanentes oriundas da substituição isomórfica e (ii) cargas dependentes do pH resultante da dissociação do grupo OH-. 5.2.2. Cargas permanentes São cargas que não aumentam ou diminuem com pH. Tem origem na substituição isomórfica existente no interior da rede cristalina dos argilominerais. Ocorrem, normalmente nas argilas de tipo 2:1, expansivas e não expansivas, como por exemplo: Montmorilonita, Vermiculita, Ilita, etc., argilas estas que apresentam alta densidade de cargas, especialmente as duas primeiras, como mostra figura abaixo. Figura 18. Representação da substituição isomórfica na estrutura dos argilominerais 2:1. Nesta figura acima representa-se a substituição isomórfica do Si+4 pelo Al+3 na camada tetraédrica e a substituição isomórfica do Al+3 pelo Mg+2 na camada octaédrica. A menor valência do Al e Mg em relação ao Si e Al, respectivamente, dão origem ao déficit de cargas positivas que se traduz no maior número de cargas negativas na partícula. Como o fenómeno ocorre no interior da rede cristalina, as cargas são permanentes, podendo ser apenas balanceadas (neutralizadas) por iões adsorvidos (ou K+ e NH4+ fixados, na Ilita) no caso dos argilominerais. 5.2.3. Cargas negativas dependentes de pH Estas cargas variam com o pH, aumentando à medida em que o mesmo aumenta e diminuindo a medida que o mesmo diminui. São as que ocorrem em maior quantidade em solos tropicais, solos estes que, em sua maioria, possuem argilas do tipo 1:1 e óxidos de Fe e Al no sistema coloidal. O aumento destas cargas com o pH tem grande importância prática tendo em vista a influência na floculação do solo que, por sua vez, influi na estruturação do mesmo. 5.3. Adsorção (≠ Absorção) E Troca De Iões Pode parecer absurdo, porque não vemos mas acontecem trocas de “bens” entre constituintes de solos. As propriedades de adsorção e troca de iões do solo resultam basicamente da interacção entre a fase líquida e a fase sólida coloidal do solo. Denomina-se adsorção e troca de iões ao processo reversível pelo qual os iões da solução do solo são adsorvidos pelas partículas coloidais, deslocando outros previamente adsorvidos e de carga eléctrica de mesmo sinal. Este fenómeno é, sem dúvida, o evento físico-químico de maior importância no solo. Graças à adsorção os nutrientes podem permanecer no solo de forma disponível às plantas; mas, ao mesmo tempo, essa retenção é suficientemente forte para impedir de serem carregados pelas águas que se infiltram no solo. As cargas eléctricas apresentadas pelos colóides do solo são responsáveis pela adsorção de iões. Os iões na fase líquida (solução do solo) estão em equilíbrio com os iões adsorvidos aos colóides. A retirada dos iões na fase líquida provocará uma reposição a partir da adsorção dos iões adsorvidos, tendendo a se refazer o equilíbrio. Também se encontram como catiões de troca, mas geralmente em quantidades diminuta como NH4+, Fe2+, Cu2+, Mn2+ e Zn2+. Em certos solos, o NH4+, de troca pode atingir valores relativamente elevados. Quanto aos factores que influem na adsorção de aniões , pode-se considerar que são os mesmos que influem na adsorção de catiãos. Abaixo apresenta-se a sequência de adsorção dos principais ânions existentes no solo: Cl- = NO3-- < SO42- < MoO42- < HPO4-2 < H2PO4- 5.4. Capacidade de troca de catiões no solo (CTC) A capacidade de troca de catiões (CTC) representa a medida do poder de adsorção e troca de catiões do solo. a CTC é a quantidade de catiões que um solo é capaz de reter por unidade de peso (Cmolc/Kg de solo). A CTC é um parâmetro indica a quantidade de iões positivos que o solo é capaz de reter em determinadas condições e permutar por quantidades estequiométricas equivalentes de outros catiões e é função da intensidade de cargas negativas que se manifesta nos colóides. A figura abaixo mostra uma visão esquemática do CTC. Os catiões de troca quantitativamente mais importante no solo são cálcio, magnésio, potássio, sódio, alumínio e hidrogénio. O cálcio, magnésio, potássio, sódio são designados de bases de troca ou bases trocáveis por conferir ao solo reacção alcalina e o alumínio ehidrogénio são catiões de troca que confere acidez ao solo. A CTC constitui-se numa propriedade fundamental para a caracterização do solo e avaliação de sua potencialidade agrícola 5.4.1. Factores que afectam a CTC a) Espécie e quantidade de argila e matéria orgânica Minerais de argila usualmente apresentam valores de CTC de 10 a 150 centimolc/kg. Os sesquióxidos de ferro e alumínio apresentam CTC entre 2 e 5 centimolc/kg. Portantos solos com sesquióxidos e caulinita apresentam CTC baixo e são solo pobres com carácter acido ( ácricos) quando comparados como outros solos que apresentam outro tipo de minerais de argila .Quanto maior for a matéria orgânica do solo num determinado solo maior será a CTC. b) Superfície específica A superfície específica é a área por unidade de peso sendo expressa em m2/g. Quanto mais subdividido for o material, maior será a sua superfície específica e maior a CTC do solo. Conceptualização A CTC é um parâmetro que mostra o nível produtividade de um solo, Solo com CTC com: 1-5 cmolc/kg são solos pobres e velhos com, mineral abundante caulinita e sesquióxido e >6 comlc/Kg são solo produtivos. c) pH A influência do pH do meio na CTC será tanto maior, quanto maiores forem as presenças de espécies de minerais de argila com dominância de cargas dependentes de pH e, ou, matéria orgânica que, praticamente, só apresenta esta característica. 5.4.2. Unidades usadas para exprimir os valores de CTC. A CTC do solo é expressa em termos de quantidade de carga que os colóides podem reter por unidade de peso ou volume, sendo este último mais frequente em análises de rotina. A CTC é expressa em termos de centimol de carga por dm3 (cmolc/dm3) ou milimol de carga por dm3 (mmolc/dm3). O termo cmolc/dm3 equivale, em valores numéricos, ao antigo miliequivalente por 100 cm3 (meq/100 cm3). Em geral, nos trabalhos de Pedologia e na descrição dos perfis de solos, a expressão dos resultados é em cmolc/kg ou mmolc/kg. Para melhor entender o conceito de CTC, preste atenção ao exemplo a seguir. Exemplo A CTC do solo do campo dum agricultor do chókwè é 15 cmol/kg. a) Interprete este resultado. Este exercício pode ser resolvida de três formas diferentes: (a) Primeira linha de interpretação: Esta linha baseia-se no princípio de equivalência químico tendo em conta as valências de cada catião trocável. Quando se diz que o campo tem uma CTC igual 15 cmol/kg, considerando a presença de iões monovalentes, estamos a dizer que em 1kg desse solo podem ser retidos estequimetricamete, isto é : - 15 cmol de H+, K+, NH4+ e Na+ - 7.5 cmol de Ca2+ ou de Mg2+ porque valência do magnésio e do cálcio é de 2, então dividimos 15 por 2 e encontramos 7.5 cmol. - 5.0 cmol de Al3+ porque a valência de alumínio é 3 por conseguinte dividimos o 15 por 3 e o resultado é 5. Se atribuir os 15cmoles aos iões bivalentes estamos a dizer que em 1kg desse solo podem ser retidos estequimetricamete: 15 cmol de Ca2+ ou de Mg2+ 30 cmol de H+, K+, NH4+ e Na+ 60 cmol de Al 3+ Portanto nessa linha de interpretação depende da nossa assunção, o mais importante é saber que existe uma relação estequiométrica que deve ser observada durante os cálculos. (b) Segunda linha de interpretação: E estamos a dizer também que o solo tem 15cmol de carga negativa por 1 kg de solo, porque, com essa quantidade de catiões , o solo não pode mais reter catiões, o que significa que todas espaços negativos estão ocupados. Conceptualização 1mol de iões monovalente 2 moles de iões divalente 1mol de iões monovalente 3 moles de iões divalente assim: 1mol H+, K+, NH4+ e Na+ 2 mloes de Ca2+ ou de Mg2+ 1mol de iões monovalente 3 Al3+ (c) A terceira linha de interpretação baseada na conversão das unidades Podemos converter os 15 cmol em unidade de massa de cada catião. Como vimos acima que os 15cmol de catiões monovalentes equivalem 7.5cmol as catiões bivalentes. A titulo de exemplo, qual é a massa (g) existente em 7.5 cmol de Ca2+ por kg sabendo que a massa atómica do Ca=40g/mol Resposta: 1mol de cálcio possui 40g e dentro do sistema métrico 1mol possui 100cmol. Assim podemos estabelecer a seguinte relação : gCacmolmol 401001 assim: Portanto, ao dizer que este solo tem 7.5 cmol de Ca2+ estamos a dizer que este solo possui 3g de Ca por Kilograma. A C.T.C de um solo é dada pela quantidade de catiões, retidos por unidade de peso ou volume de solo e representada por equivalente miligrama por 100 gramas de solo (meq/100 g ou meq/100 cm3) ou cmolc /dm3. Saiba que: 1 meq de um catião = 1mg de H+ ou seu equivalente. 1 centimolc Ca2+ = Peso atômico ÷ valência ÷ 100 = 40,08 g ÷ 2 ÷ 100 = 0,2004 g ou 200,4 mg de Ca2+ Portanto, 200 mg de Ca2+ deslocam 10 mg de H+ e 1 cmolc de Ca2+ equivale a 200 mg. Exemplo: Qual é o centimol de carga de potássio, alumínio e magnésio? Potássio = 39,102 ÷ 1 ÷ 100 = 391,02 mg Alumínio = 26,981 ÷ 3 ÷ 100 = 89,94 mg Magnésio = 24,312 ÷ 2 ÷ 100 = 121,56 mg Para as subsequentes análises químicas sobretudo na transformação de unidades recorreremos as tabelax e W. Sistema Antiga Sistema internacional % g/Kg, g/dm3, g/l ppm mg/Kg, mg/dm3, mg/l meq/100cm3 mmol/Kg, cmol/dm3 meq/100g ou meq/100ml mmol/Kg, cmol/Kg meq/l mmol/l, cmol/l gCaX cmol gCacmolx X XgcmolCa gCacmolCa 3 100 405.7 5.7 40100 Nível Al3+(cmol/dm3) Nível Saturação (Al3+ %) Não tóxico < 0.1 Muito baixa < 5 Pouco tóxico 0.11-0.5 Baixa 5.1-10.0 tóxico 0.51-1.0. Média 10.1-20.0 Muito tóxico 1.1-2.0 Alta 20.1-45.0 Altamente tóxico > 2.1 Muito alta > 45.0 5.5. Análises químicas para fim pedológicos Apesar dos conceitos básicos de acidez e capacidade de troca de cátions (CTC) serem bastante conhecidos, ainda existe muita confusão gerada pelo uso inadequado destes conceitos na solução de problemas ligados à analises de solos. Neste sentido, cabem algumas definições isoladas destes conceitos, como meta para avaliá-los em conjunto na diagnose de problemas ligados à analises de solos. a) PH em água e cloreto de potássio: mede o índice de acidez do solo. O pH em água apode ser correlacionado com pH em KCl para se saber qual é a carga líquida que predomina nos colóides (carga negativa, nula ou positiva). Calcula-se pela expressão: )()( 2OHPHKClPHPH Se ΔPH<0 o solo é negativo, ΔPH>0 o solo é positivo e ΔPH=0 estamos perante uma situação de P.C.Z (ponto de carga zero). Acidez activa: é dada pela concentração de H+ H na solução do solo, sendo expressa em termos de pH. Esse tipo de acidez seria muito fácil de ser neutralizado, se não fossem outras formas de acidez, notadamente a acidez trocável, que tende a manter, ao final de reacções no solo, altos índices de acidez activa. Acidez trocável (cmolc/dm3 ou mmolc/dm3): refere-se ao alumínio (Al3+) e hidrogênio (H+) trocáveis e adsorvidos nas superfícies dos colóides minerais ou orgânicos por forças electrostáticas. Este tipo de acidez é, nas análises de rotina, extraído com KCl 1 mol/L, não tampão. Conceptualização As análise de solo para fim pedológicos são muito importantes no maneio de fertilidade do solo, pois podem indicar o tipo de mineral presente na fracção argila, o pH do solo, possíveis problemas na sua utilização, bem como sobre o procedimento adequado a ser tomado para sua utilização óptima. Nos boletins de análise, este tipo de acidez é representado por Al trocável e expresso em cmolc/dm3 ou mmolc/dm3. A acidez trocável, também conhecida por Al trocável ou acidez nociva, apresenta efeito nocivo ao desenvolvimento normal de um grande número de culturas. Exemplo Quando se diz que um solo apresenta toxidez de alumínio,isto significa que este solo apresenta altos índices de acidez trocável ou acidez nociva. Um dos principais efeitos da calagem é eliminar este tipo de acidez. Acidez não-trocável (cmolc/dm3 ou mmolc/dm3): é a quantidade de acidez titulável que ainda permanece no solo, após a remoção da acidez trocável com uma solução de um sal neutro não- tampão, como KCl 1 mol/L. A avaliação da acidez não-trocável é feita subtraindo-se os valores da acidez trocável da acidez potencial ou total, sendo ambas expressas em cmolc/dm3 ou mmolc/dm3. Outro ponto relevante é que a acidez não-trocável é uma estimativa. Acidez potencial ou acidez total (cmolc/dm3 ou mmolc/dm3): refere-se ao total de H+ em ligação covalente mais H+e Al3+ trocáveis, sendo usada na sua determinação uma solução tampão a pH 7,0. SB = Soma de bases trocáveis (cmolc/dm3 ou mmolc/dm3): este atributo, como o próprio nome indica, reflete a soma de cálcio, magnésio,potássio e, se for o caso, também o sódio, todos na forma trocável, do complexo de troca de cátions do solo. A soma de bases dá uma indicação do número de cargas negativas dos colóides que está ocupado por bases. A sua expressão é dada por: NaKMgCaSB 22 t = CTC efetiva (cmolc/dm3 ou mmolc/dm3): reflete a capacidade efetiva de troca de catiões do solo ou, em outras palavras, a capacidade do solo em reter catiões próximo ao valor do seu pH natural. A sua expressão é dada por: 322 AlNaKMgCaaCTCefectivt m% = Percentagem de saturação por alumínio: expressa a fração ou quantos por cento da CTC efetiva estão ocupados pela acidez trocável ou Al trocável. Em termos práticos, reflete a percentagem de cargas negativas do solo, próximo ao pH natural, que está ocupada por Al trocável. É uma outra forma de expressar a toxidez de alumínio. Em geral, quanto maior ácido for um solo, maior o teor de Al trocável em valor absoluto, menores os teores de Ca, Mg e K, menor a soma de bases e maior a percentagem de saturação por alumínio. O efeito nocivo de altos teores de Al trocável e/ou, da alta percentagem de saturação por alumínio no desenvolvimento e produção de culturas sensíveis a este problema é facto amplamente comprovado pela pesquisa. A sua expressão é dada por: CTCef Alx m 100 (%) Onde : Al e CTCef ectivo em cmol/kg. se: m(%)≥ 50% temos acidez trocável. T = CTC a pH 7,0 (cmolc/dm3 ou mmolc/dm3): esta CTC, também conhecida como capacidade de troca de catiónica potencial do solo, é definida como a quantidade de cátions adsorvida a pH 7,0. Sob o ponto de vista prático, é o nível da CTC de um solo que seria atingido, caso a calagem deste solo fosse feita para elevar o pHa 7,0; ou o máximo de cargas negativas liberadas a pH 7,0 passíveis de serem ocupadas por catião. A sua expressão é dada por: T = Ca2+ + Mg2+ + K+ + (Na+) + Al3++H+, com os componentes expressos em cmolc/dm3 ou mmolc/dm3. V% = Percentagem de saturação por bases da CTC a pH 7,0: este parâmetro reflecte quantos por cento dos pontos de troca de catões potencial do complexo coloidal do solo estão ocupados por bases, ou seja, quantos porcento das cargas negativas, passíveis de troca a pH 7,0, estão ocupados por Ca, Mg, K e, às vezes, Na, em comparação com aqueles ocupados por H e Al. É um parâmetro utilizado para comparar solos, considera-se: Solo férteis quando V% >50 solos de menor fertilidade V%<50. Subtraindo-se a percentagem de saturação por bases (V%) de 100%, obtém-se a percentagem de saturação por ácidos, H + Al, (m%) da CTC a pH 7,0. A sua expressão é dada por: Onde: S é soma de bases trocáveis e CTCpot é a CTC potencial e os seus os componentes expressos em cmolc/dm3 ou mmolc/dm3. Exemplos práticos. Na tabela abaixo, são apresentados resultados de análise de solos (camada 0 20 cm). Percentagem de sódio trocável : este parâmetro indica a quantidade do sódio que existe no solo. Se ESP>15% o solo é considerado sódico. Normalmente se o solo tiver acima de 15% de sódio trocável, para além de ser tóxico, ele destrói a estrutura do solo. De todos os catiões trocável, o sódio é menos retido o solo e com isto tende a dispersar-se, aumentando deste modo a espessura da camada dupla difusa. Nessa dispersão leva consigo algumas partículas de argila, destruindo deste modo estrutura do solo. A sua expressão é dada por. E é dado por em cmolc/dm3 ou mmolc/dm3. 100(%) x CTCpot S V Solo que apresenta maior saturação por bases, apresentam pequenas racha no horizonte B. %100* )/( )/( solo solo kgcmolCTCtotal kgcmolNa ESP 5.5.1. Exemplo prático Na vida prática, as interpretações das análise laboratoriais dos solos são muito complexos. Portanto para melhor entender o comportamento químico do solo vamos tomar o seguinte exemplo: O Sr. Basílio tem uma porção de 10ha e ele pretende produzir a cultura de algodão. Análise de solos feita por técnicos do ISDB, estão apresentados na tabela abaixo. Discuta os resultados a luz agronómico. PH meq/l mg/dm3 mm/dia Kg/dm3 cm H20 KCl Al3+ H+ Mg2+ Ca K Na infiltração D.aparente PC 9.5 8,6 0,1 6 2.4 900 600 900 6,5 1,4 0-2 g/Kg mmolc/Kg cmolc/Kg ppm Argila Limo Areia P C Fe Zn Mn B Cl N03-2 Pb 600 100 300 0,02 0,3 0,15 0,6 0,8 0,0002 0,02 0,0002 0.0003 Cálculo de todos atributos químicos: i. O primeiro atributo químico será a variação do pH (ΔPH). ΔPH=PHKCl-PHH2O Segundo a tabela acima O PHKCl= 8,6 e PHH2O=9.5 então: ΔPH=PHKCl-PHH2O=8.6-9.5=-0.9 A variação é -0.9 isto significa que o solo do Sr Basílio é negativo , portanto tem cargas negativas consequentemente tem a capacidade de reter catiões. Sob ponto de vista agronómico esta é uma boa informação! ii. O segundo é calcular os restantes atributo químico é necessário a conversão de unidades. São eles: a soma de bases, o CTC, saturação por bases, alumínio trocável ou acidez trocável. Portanto, a quantidades dos catiões do solo, segundo a tabela acima são: Dados Ca2+=900 mg/dm3=0.9g/ dm3 K+=600 mg/dm3=0.6g/ dm3 Na+=900 mg/dm3=0.9g/ dm3 Mg2+=2.4 meq/ dm3 Al3+=0.1 meq/ dm3 H+=6.0 meq/ dm3 Solos com ESP>15% apresentam no horizonte B uma estrutura colunar. Assim sendo não podemos avançar , com unidades diferentes, devemos converter as unidades em cmolc/dcm3 . Transformação de unidades Transformações de grama para cmol: As massas atómicas: Ca=40g/mol K=39.1g/mol Na=23g/mol Caro (a) formando (a) recorda-se que : 1mol de 100cmol e para caso de cálcio: 1mol-40g , logo 100cmol- 40. Segundo os dados da tabela, o solo possui:0.9 de Ca, 0.6 de K e 0.9 de Na . Pretendemos converter essas unidades em cmol. Os cálculos abaixos mostram estas conversões: Para Cálcio : Para potássio : Para sódio 100 cmol 40g 100cmol 39.1g 100cmol 23g X 0.9g X 0.6g X 0.9g X=2.25 cmol X=1.53cmol X=3.91g As converções são feitas num volume de 1dm3 ou 1kg se assumirmos que a densidade do solo é de 1kg/ dm3 . Agora falta-nos converter meq/l para cmol referentes aos catiões de Mg, Al e H. Segundo a tabela Q, 1meq/l1cmol/dm3. logo temos; Mg2+=2.4 meq/ dm3 =2.4cmol/ dm3 Al 3+=0.1 meq/ dm3= 0.1 cmol/ dm3 H+=6.0 meq/ dm3 = 6.0cmol/ dm3 Assim já temos todas as unidades iguais, resumindo: Até aqui, só calculamos o PH, vamos calcular outros parâmetros químicos. i) Soma de bases trocáveis (SB) SB =Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+=2.25+2.4+1.53+3.91=10.09 cmol/dm3 Este valor de SB não nos diz muito e não podemos inferir acerca da química do solo, porém podemos ver que a CTC do solo será maior que 5 cmol/dm3,o que é bom pois o tipo de mineral de argila não é caulinita nemsesquióxidos. O valor de saturação por bases será bem reflectido noutro atributo químico que é a saturação por bases. Capacidade de troca cationica efectiva (t) Catiões Quantidades g/dm3* cmol/dm3 Ca2+ 900 mg/dm3 0.9 2.25 K+ 600 mg/dm3 0.6 1.53 Na+ 900 mg/dm3 0.9 3.91 Mg2+= 2.4 meq/ dm - 2.4 Al3+ 0.1 meq/ dm - 0.1 H+ 6.0 meq/ dm - 6 CTCefectiva= Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na++Al3+= SB + Al3+=10.09+0.1=10.19 cmol/dm3 Comparativamente ao valor de SB , podemos ver que CTCefectiva simplesmente mostra-nos o efeito do alumínio e assim sendo a contribuição do alumínio é de 0.1 na soma de bases trocável. O alumínio será bem reflectido noutro atributo que é saturação por bases. Capacidade de troca catiónica total CTC (T)= Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na++ Al3++H+= SB + Al3++ H+= 10.09+0.1+6=16.19cmol/dm3 O Valor de CTC pontencial é boa vide figura (), mostra que a argila existente com se referiu-se cima não é caulinita nem sesquióxidos contudo não é suficiente para dizer que o solo é produtivo ou fértil. iv) Saturação por bases %32.62100* 19.16 09.10 % V O valor de v que é saturação por bases é de 62.32%, está nos dizer que 62.32% as cargas negativas do solo estão ocupados por bases trocaveis nomeadmente Ca, Mg, K e Na. A percentagem que resta cabe os cargas negativas ocupadas pelo H e Al Este valor de V é bom. v) acidez trocável %9.0 19.10 %100*1.0%100* (%) CTCef Al m Segundo a tabela X, este valor de 0.9% mostra que a acidez trocável não constitui problema. As plantas podem crescer sem experimentar o nível de toxicidade limitante. Percentagem de sodio trocavel %15.24 19.16 %100*91.3%100* CTCtotal Na PST Este valor de sodio trocavel é maior que 15% ,o solo é tem excesso de sódio. O que quer dizer que apresentam um estrutura degradada apesar de possuir um bom CTC, baixo acidez trocavel. Conclusão: O solo do Sr. Basílio tem uma boa capacidade de troca catiónica (CTCpo), satutração por bases ( v(%)),e a cidez trocável baixo (m%). Contudo tem problemas de excesso de sódio por isso, tem uma estrutura degradada , neste caso apresenta um estrutura colunar. Portanto, aconselha-se que o Sr Basílio faça a lavagem do sódio e só depois disso ele pode enveredar pela pratica da cultura de algodão. Se ele ignorar está informação, ele poderá produzir algodão por um periodo curto devido a toxicidade pelo sódio ou o solo estará degradando devido ao execesso de sódio. 100(%) x CTCpot SB V Resumo Os factores de formação de solos são: material de origem, clima, organismos, relevo e tempo. O material que dá origem ao solo, pode ser constituído de rochas (magmáticas, metamórficas e sedimentares), sedimentos e material de decomposição de rochas transportados. Vários minerais constituintes do material de origem permanecem inalterados, enquanto outros sofrem decomposição, por acção química, transformando-se em minerais extremamente úteis no solo, e liberando catiões e aniões que poderão ser absorvidos pelas plantas. Materiais de origem diferentes darão origem a solos diferentes, e mesmo material de origem pode dar origem a solos iguais ou a solos diferentes, de acordo com os outros factores de formação de solos. O material de origem assume uma grande importância, visto que as propriedades e características do solo dependem, da composição do material de origem. A principal característica física do solo é a textura estando bastante relacionada com a utilização e produtividade do solo. A textura diz respeito às dimensões e características das partícula primárias do solo. Essas partículas são agrupadas em função do tamanho, porém apresentam características comuns. Os componentes sólidos do solo são representados pela Matéria Mineral e pela Matéria Orgânica. A matéria mineral do solo é representada pelos minerais constituintes do material de origem do solo, e pelos minerais formados como resultado do seu meteorização. Os minerais que constituíam o material de origem e que passam para o solo sem sofrer alterações são denominados minerais primários, enquanto que os minerais neoformados, produtos do meteorização, são denominados minerais secundários. Dentre os minerais secundários destacam-se os minerais de argila, os quais, por apresentarem cargas eléctricas na superfície, assumem uma importância muito grande no que se refere ao armazenamento de catiões e aniões nutrientes das plantas. A matéria orgânica é representada pelos restos animais (excrementos e carcaças) e restos vegetais ( folhas, galhos, raízes mortas e restos de cultura ) em todos seus estágios de decomposição, sendo que os restos vegetais tem um significado muito maior como fonte de matéria orgânica para o solo. As principais características químicas do solo: : pH ( em água, KCl e CaCl2 ), Matéria orgânica ( % ), hidrogénio (H), alumínio (Al), fósforo (P), cálcio (Ca), magnésio (Mg), potássio (K), soma de bases (S), capacidade de troca catiónica (CTC), saturação por bases (V%) e saturação por alumínio (m). Estas características são utilizadas para fins de classificação de solos; no entanto essas características químicas estão relacionadas com o uso do solo e o desenvolvimento das plantas. BERG, M. V (1995) Apontamentos de ciências do solo, Faculdade de Agronomia – Engenharia Rural, Maputo DE SILGUY, Catarhine (2004). Intrudução à Agricultura Biológica, Fundamentos e Realidades. Publicações Europa-América. Portugal. BRADY, N. C. (1983) Natureza e propriedades dos solos, Macmilan Publishing, 6ª edição, Biblioteca Freitas Bastos, Brasil ZIMBACK, V.R.L. (2003). Formação dos solos, Universidade Estadual Paulista – Faculdade de Ciências Agrárias. Brasil Camada dupla difusa (CDD) – é uma nuvém de cargas positivas equivalente ao total de cargas negativas da partícula de argila na solução do solo. Colóide – Partícula ou conjunto de partículas do solo com carga eléctrica positiva ou negativa que por isso se dispersa das partículas semelhantes e atrai à sua superfície as partículas de carga contrária. Forças electrostáticas – É a interacção entre dois corpos carregados um positiva e outro negativamente separados por uma distância (d). Ligação covalente – É uma ligação que se dá com compartilhamento de pares de electrões, causando uma atracção mútua entre elas, que mantêm a molécula resultante unida. Titulável - Substância que pode ser determinada a sua concentração através do processo de titulação. Organismos fósseis – Marcas ou vestígios preservados de animais, plantas ou outros seres vivos, que mostram evidências de ter existido vida. Bibliografia Glossário
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