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Introdução à Economia Política módulo 1

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Introdução à Economia Política
Profª. Mariana Stussi
Descrição
Modelos de competição eleitoral como forma de agregação de
preferências, o desafio da escolha coletiva e os determinantes da
decisão de votar.
Propósito
O processo eleitoral revela como as escolhas coletivas são feitas e
como preferências distintas são agregadas. Estudar Economia Política é
relevante para profissionais de Economia, uma vez que estes estão
sempre avaliando os custos e benefícios enfrentados por diferentes
agentes no processo de tomada de decisão, para melhor compreender
as perdas e os ganhos envolvidos em buscar diferentes alocações de
recursos pela sociedade.
Objetivos
Módulo 1
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Escolha coletiva e modelos de competição
eleitoral
Definir os desafios e resultados de diferentes formas de escolha
coletiva.
Módulo 2
Participação eleitoral
Identificar os determinantes do voto.
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Na Economia, muitas vezes a disciplina toma como dadas as
preferências, tecnologias e instituições, isto é, estrutura de
mercado, leis, regulação e políticas em geral. Nesse sentido,
instituições importam tanto quanto preferências. Entretanto,
instituições não são apenas leis e estruturas de ordem social que
regulam o comportamento de um grupo de indivíduos. De uma
forma mais geral, elas falam sobre como escolhas coletivas são
tomadas e como preferências conflituosas são agregadas. A
Economia Política é, portanto, uma forma de investigar,
sistematicamente, esse tipo de agregação e resolução de conflitos.
Por isso, neste conteúdo, entenderemos como preferências são
agregadas em sociedades, apresentaremos alguns modelos de
competição eleitoral e investigaremos os determinantes de uma
das decisões individuais e coletivas mais fundamentais da
democracia: o voto. Ao longo deste tema, apresentaremos a teoria
e as evidências empíricas que sustentam, na prática, os principais
resultados dos modelos apresentados.
Introdução
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1 - Escolha coletiva e modelos de competição eleitoral
Ao �nal deste módulo, você identi�cará os desa�os e resultados de diferentes formas de
escolha coletiva.
Escolha coletiva
Pode-se imaginar que, numa sociedade ideal, existe um conjunto de
regras de agregação que tome as preferências conflitantes dos
membros de um grupo e chegue a uma decisão coletiva aceitável para
todos. Mostrar que existe uma forma natural e eficiente de resolução de
conflitos seria o melhor dos mundos para questões de Economia
Política. Contudo, como veremos neste tema, isso não é possível.
Uma solução natural que poderia ocorrer em um país democrático seria
agregar as preferências por meio do voto. No entanto, o teorema da
impossibilidade de Arrow nos mostra que, exceto em algumas situações
específicas, um sistema de votação é incapaz de agregar as
preferências de forma consistente.
Particularmente, esse teorema postula que, quando eleitores têm três ou
mais alternativas distintas, nenhum sistema eleitoral ordenado
consegue converter as preferências ordenadas de indivíduos em um
ordenamento comum a todo o grupo de indivíduos na comunidade e
respeitar um conjunto específico de critérios.
Para tanto, vamos pensar em termos de funções de bem-estar social.
E o que essa função faz?
Resposta
É simples: ela atua como um agregador de preferências individuais. Ou
seja, para um determinado conjunto de preferências individuais de
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várias pessoas, ela define uma preferência social, ou seja, uma
preferência para esse grupo de pessoas.
Pense em um exemplo simples. A sociedade é formada por duas
pessoas: João e José. Ambos preferem laranjas a maçãs. A função de
bem-estar social pode associar essas preferências individuais a uma
preferência social:
“A sociedade prefere laranjas a maçãs”.
Se João prefere fortemente maçãs e José prefere apenas levemente
laranjas, a função pode, por exemplo, dizer que:
“A sociedade prefere maçãs a laranjas”.
Ou, ainda, podemos pensar que a sociedade tem três pessoas: João,
José e Paulo – enquanto João e Paulo preferem maçãs, José prefere
laranjas, e a função de bem-estar social nos diz nesse caso que:
“A sociedade prefere maçãs a laranjas porque essa é a
preferência da maioria”.
Esses são exemplos simples, mas nos levam naturalmente à ideia de
votação. Um sistema de votação permite traduzir preferências
individuais em preferências agregadas. Voltando ao nosso exemplo:
cada pessoa informa qual é sua fruta favorita, e a função de bem-estar
social (ou seja, o resultado da votação) diz que a sociedade prefere
maçãs.
Vamos agora ver os critérios que uma função de bem-estar social, e, em
particular, um sistema de votação deveria respeitar:
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 Não ditadura
A função de bem-estar social deve levar em conta
os desejos de vários eleitores, não podendo
simplesmente imitar as preferências de um único
eleitor.
 Universalidade (ou domínio)
Assumimos que todos os indivíduos têm
preferências racionais sobre todas as alternativas,
e, para qualquer conjunto de preferências
individuais do eleitor, a função de bem-estar social
deve produzir uma classificação única e completa
das escolhas sociais.
 Independência das alternativas irrelevantes
A preferência social entre “x” e “y” deve depender
apenas das preferências individuais entre “x” e “y”
(independência dos pares), ou seja, a inclusão ou
remoção de uma terceira alternativa (“z”, por
exemplo) não deve afetar a ordem das preferências
“x“ e “y”.
 E�ciência de Pareto
Se todos os indivíduos preferem “x” a “y”, então, o
mesmo deve acontecer com a ordem de preferência
social resultante.
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O teorema da impossibilidade de Arrow afirma que
nenhum sistema eleitoral de classificação projetado
pode satisfazer sempre esses critérios de “justiça”.
Vejamos um exemplo:
Suponha três eleitores (1, 2 e 3) e três alternativas de políticas (A, B, e C)
com as seguintes preferências:
Assuma um sistema de votação de regra majoritária, baseado nas
seguintes hipóteses:
Os cidadãos escolhem as políticas via voto majoritário.
Os indivíduos votam de acordo com suas preferências
verdadeiras, e não de maneira estratégica.
 Eleitor 1 : A ≻ C ≻ B
 Eleitor 2 : B ≻ A ≻ C
 Eleitor 3 : C ≻ B ≻ A
Democracia direta 
Voto sincero 
Agenda aberta 
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Os indivíduos votam sobre pares de alternativas políticas, de
modo que a alternativa vencedora é colocada para votação com
uma nova possibilidade na rodada seguinte, até que o conjunto
de alternativas possíveis se esgote.
Citemos, por exemplo, o caso de uma votação par a par que ocorra da
seguinte forma:
Votação
A x B
Dois votos para B,
que é vencedor.
Eleitores 2 e 3
votam B;
eleitor 1 vota A.
A x C
Dois votos para A,
que é vencedor.
Eleitores 1 e 2
votam A;
eleitor 3 vota C.
B x C
Dois votos para C,
que é vencedor.
Eleitores 1 e 3
votam C;
eleitor 2 vota B.
Temos então que , o que viola a hipótese de
transitividade das preferências. A hipótese de transitividade afirma que
se e , então , o que não ocorre no exemplo que
acabamos de ver.
Nesse sentido, o teorema de Arrow pode ser
interpretado como um jogo estratégico que não
resulta, necessariamente, num equilíbrio eficiente.
Assim, épossível pensar, por exemplo, numa eleição em que um
candidato seja votado por todos e eleito mesmo sem ser a escolha
preferida de nenhum dos eleitores. O problema do exemplo que
mostramos também é conhecido como o paradoxo de Condorcet. Sua
principal implicação é que as preferências coletivas podem ser cíclicas,
como no resultado exemplificado – ou seja, podem desrespeitar a
hipótese de transitividade.
B ≻ A ≻ C ≻ B
B ≻ A A ≻ C B ≻ C
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Um ciclo de Condorcet ocorre quando existe uma
violação da transitividade na ordenação de preferência
social. Se existem ciclos de Condorcet, então a ordem
em que a votação acontece faz uma grande diferença.
Agora vamos fazer duas suposições baseadas no exemplo dado acima:
Primeira suposição
Suponha que a votação primeiro ocorresse entre A e B e, depois,
entre o vencedor e C.
O que aconteceria?
B ganharia de A, e depois C ganharia de B, vencendo as eleições.
Segunda suposição
Suponha agora que a ordem de votação fosse outra: primeiro a
votação ocorre entre A e C e, depois, entre o vencedor e B.
O que aconteceria?
Agora, A ganha a primeira rodada, e depois B ganha de A, sendo B
o novo vencedor das eleições.
Esse exemplo mostra que a ordem em que se organiza a votação faz
uma grande diferença nos resultados. Esse é o poder da determinação
de agenda, isto é, decidir quais opções serão levadas em consideração e
em que ordem elas serão consideradas.
Câmara dos deputados.
Na vida real, os definidores de agenda são os presidentes das câmaras
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legislativas, como o presidente da Câmara dos Deputados e o
presidente do Senado. Embora não seja possível determinar o resultado
pela definição de agenda, é possível ver como essa posição é bastante
poderosa.
É possível evitar o paradoxo de Condorcet se houver um vencedor de
Condorcet. Um vencedor de Condorcet é uma política q* que vence
qualquer alternativa factível em disputas entre pares.
Nesse contexto, existe algum tipo de preferência ou
regra de agregação que implementa a política q* (o
vencedor de Condorcet)?
O teorema do eleitor mediano é uma proposição relacionada à votação
por preferência em que os eleitores e as políticas são distribuídos ao
longo de um espectro unidimensional, como direita e esquerda, por
exemplo. O eleitor mediano será aquele que representa a mediana da
distribuição de preferências da população ao longo desse espectro
unidimensional. Os eleitores classificam as alternativas em ordem de
proximidade à sua preferência e tomam decisões coletivas por meio de
um método de votação que elege sempre o vencedor de Condorcet, se
este existir.
Com essas hipóteses, a votação elegerá o candidato ou a política que
tiver mais proximidade do eleitor mediano. Na próxima seção,
exploraremos mais esse teorema com um exemplo de votação
majoritária entre dois candidatos.
Se as preferências são de pico único, o ponto ideal do eleitor mediano é
(fracamente) um vencedor Condorcet. É por isto que as preferências de
pico único são tão úteis: elas significam que não precisamos nos
preocupar com os ciclos de Condorcet, uma vez que garantem um
vencedor de Condorcet.
Porém, nem sempre as preferências serão de pico único.
Pico único
Se você ainda não estudou preferências de pico único, pense em um
exemplo simples. Entre candidatos que se distribuem politicamente entre
esquerda e direita, eu tenho um preferido, e quanto mais distante estão os
demais candidatos, menor a chance de votar neles.
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Isso descarta, por exemplo, que eu seja simpático a um candidato de
centro-esquerda e a outro de centro-direita, e prefira ambos a um candidato
de centro.
Voltaremos a esse exemplo mais adiante.
Assim, dado que existem ciclos de Condorcet, qual é a
forma correta para as sociedades tomarem decisões?
Existe alguma forma de agregar preferências que
sejam melhores em algum sentido?
Não existe uma resposta certa. É isso que o teorema da
impossibilidade de Arrow nos mostra. Haverá ciclos se
quisermos respeitar os quatro critérios (não ditadura;
universalidade — ou domínio; independência das alternativas
relevantes; e eficiência de Pareto). Poderíamos pensar em regras
de agregação de preferência diferentes para contornar os ciclos
de Condorcet, mas falharíamos em satisfazer os critérios
definidos por Arrow.
Para tentar achar uma resposta, poderíamos, por exemplo, pensar numa
regra alternativa à votação por maioria e definir como vencedora a
alternativa que tivesse 2/3 das preferências dos votos. O problema é
que, nesse caso, a nova regra de votação violaria o critério de domínio, e
não haveria uma classificação única e completa das escolhas sociais.
Se 60% da população preferisse A, não teríamos solução nesse caso.
Outro exemplo é a contagem de Borda. Esse método de votação
estabelece que os eleitores devem fazer um ranking das alternativas,
respeitando a ordem de suas preferências. Assim, para o eleitor 1 de
nosso exemplo, teríamos 1-A, 2-C e 3-B.
Depois, soma-se o valor dos rankings de todos os
eleitores, de modo que aquele candidato ou política
que tem a menor soma é o vencedor.
Novamente, podemos pensar em alguns problemas que esse sistema
Resposta 
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de votação possui. Por exemplo, ele desrespeita o critério da
independência das alternativas irrelevantes de Arrow. Se cada eleitor
introduzisse uma alternativa D em uma posição diferente de seu
ordenamento de preferências, isso alteraria o resultado das eleições.
O que o teorema da impossibilidade de Arrow nos mostra é que não
existe uma resposta certa para a forma como as preferências são
agregadas. Todas terão falhas, e devemos ser cuidadosos ao olhar para
regras de decisão social.
Modelos de competição eleitoral
Apresentaremos agora o modelo downsiano de competição eleitoral.
Anthony Downs (1957) foi o primeiro a introduzir o teorema do eleitor da
mediana a um modelo de democracia. Em um modelo simples de
eleições com dois partidos — interessados unicamente na maximização
dos votos —, ele derivou os resultados das políticas em uma democracia
diretamente das preferências dos eleitores. Com esse trabalho, ele
lançou as bases para a maioria dos modelos de escolha racional de
eleições.
Considere as seguintes hipóteses:
 Existem dois candidatos concorrendo a um cargo
político A e B.
 Há comprometimento pleno com as plataformas
(políticas) previamente anunciadas durante a
corrida eleitoral.
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A ordem dos eventos é tal que, em um primeiro momento, os candidatos
anunciam de forma não cooperativa suas propostas. Depois ocorre uma
eleição na qual a população deve escolher um dos candidatos, o qual,
por fim, uma vez eleito, implementa a política anunciada. Nesse sentido,
os candidatos se comprometem com suas plataformas, sem se desviar
do que foi anunciado no momento inicial.
Se os indivíduos forem racionais, cada indivíduo votará no candidato
cuja proposta lhe oferece maior utilidade. Para simplificar, vamos pensar
num contínuo de eleitores, classificados numa escala de menos
favoráveis ao candidato B para mais favoráveis a B:
 O espaço de políticas é unidimensional (por
exemplo, o eixo tradicional esquerda-direita).
 O sistema de votos é majoritário.
 Todos os eleitores participam e votam de acordo
com suas preferências.
 As funções de utilidade dos eleitores são de pico
único.
 Os candidatos sabem (ou adivinham) as
preferências dos eleitores.
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Analisemos a probabilidade do candidato A ganhar as eleições
oferecendo a proposta , contra a proposta do candidato B:
Sendo uma função de bem-estar social gerada pela proposta ,
então podemos ter três hipóteses, como veremos a seguir:
Bem-estar inferior
Se o candidato A oferecer uma proposta que gere um bem-
estar inferior à proposta oferecida por B ,
então a probabilidade de A vencer as eleições é .
Bem-estar superior
Por outro lado, se a proposta gera um bem-estar superior a ,
então a probabilidade do candidato A vencer as eleições é 
.
Bem-estar igual
Finalmente, se o bem-estar da proposta de A for igual ao da
proposta de B, a probabilidade de A vencer as eleiçôes é ,
que será igual à do candidato B.
Se a proposta de A for diferente da proposta de B, ele pode aumentar
suas chances de ser eleito se aproximando das preferências do eleitor
da mediana, . Isso ocorre porque a proposta de A já é preferida por
todos à esquerda do eleitor da mediana. Assim, igualando , o
candidato A maximiza sua probabilidade de eleição. O raciocínio
g
A
g
B
P
A
=
⎧
⎪
⎨
⎪
⎩
0 se W (g
A
) < W (g
B
)
1
2
se W (g
A
) = W (g
B
)
1 se W (g
A
) > W (g
B
)
W(g) g
g
A
(W (g
A
) < W (g
B
))
P
A
= 0
g
A
g
B
P
A
= 1
P
A
= 0.5
g
M
g
A
= g
M
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análogo é válido para o adversário B. Dessa forma, o único caso em que
nenhum dos candidatos pode aumentar sua probabilidade de eleição
com um desvio unilateral é no caso em que .
Desse modo, se os candidatos desejam ser eleitos, ambos vão convergir
no programa ou política preferida pelo eleitor mediano, e eles irão
propor a mesma plataforma.
As preferências do eleitor mediano serão pivotais, isto é,
ele tem o poder de decidir quem ganha entre A e B.
Outro modelo de competição eleitoral bastante conhecido é o modelo
de voto probabilístico. Suponha agora que o espaço de políticas seja
multidimensional, ou seja, os eleitores avaliam mais de uma
característica. Por exemplo, eles consideram tanto a política quanto a
ideologia dos candidatos (ou o histórico, ou alguma outra política, ou
qualquer outra característica). Além disso, passaremos a supor que há
incerteza no voto do eleitor, e que a população é constituída por grupos
diferentes de eleitores (por exemplo: um grupo de ricos, classe média, e
pobres).
Os dois candidatos A e B anunciam suas plataformas de maneira
simultânea e não cooperativa e . Eles conhecem as preferências
dos eleitores e a distribuição de ideologia, mas não observam os valores
realizados.
Ou seja, sabem a probabilidade de uma pessoa ser de
g
A
= g
M
= g
B
g
(g
A
g
B
)
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15 of 40 09/09/2022 15:54
esquerda ou direta, mas não sabe se, efetivamente,
qual é a ideologia política dessa pessoa.
Em um segundo momento, a votação acontece, e não há mais incerteza.
O candidato eleito então implementa a proposta anunciada, como no
modelo anterior.
Nesse modelo, o equilíbrio também levará os candidatos a escolherem a
mesma plataforma política, ou seja, haverá novamente convergência de
propostas. A razão por trás desse resultado é que ambos resolvem o
mesmo problema de otimização. Mais uma vez, a política preferida 
será determinada pela preferência dos eleitores.
Quanto mais homogêneo ideologicamente for um grupo,
mais eleitores pivotais ele possui.
Relembre o caso do eleitor mediano como voto pivotal: se um grupo é
bastante homogêneo, ele possui mais eleitores medianos ou próximos
da mediana. Em outras palavras, grupos mais neutros ideologicamente
respondem mais a políticas anunciadas e se importam menos com
ideologia. Assim, esse grupo consegue que a política implementada seja
mais próxima de sua preferência.
Eleitor mediano
Neste vídeo, será apresentado um exemplo em que o teorema do eleitor
mediano pode ser aplicado aos resultados da eleição.
g

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16 of 40 09/09/2022 15:54
Evidência empírica
Agora que apresentamos a teoria, vamos falar também sobre evidências
empíricas a respeito de algumas implicações dos modelos
apresentados. Vimos que uma das principais implicações desses
modelos é que as políticas propostas (e implementadas) são definidas
pelas preferências dos eleitores. Assim, se ocorrer uma mudança nas
preferências ou em características dos eleitores, devemos observar
mudanças nas políticas de equilíbrio.
Vamos ver dois casos em que alterações na legislação e no processo
eleitoral levaram a uma mudança na composição do eleitorado e vamos
avaliar como as previsões dos modelos são observadas empiricamente.
Miller (2008) estuda como o sufrágio feminino nos Estados Unidos,
aprovado entre o final do séc. XIX e o início do séc. XX, alterou o padrão
de voto dos legisladores no país e influenciou as políticas para maiores
gastos públicos em saúde, o que levou à diminuição da mortalidade
infantil. O autor explora a variação temporal e geográfica da adoção de
leis de sufrágio feminino pós 1900, e as relaciona às quebras de
tendência em nível estadual no comportamento eleitoral dos
legisladores, gastos públicos estaduais e locais e mortalidade
específica por idade e causa.
O artigo argumenta que a extensão do direito ao voto às mulheres norte-
americanas permitiu que crianças se beneficiassem de forma mais
ampla e rápida das descobertas científicas da revolução bacteriológica
da época, práticas higiênicas simples, como:
Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html#
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Essas práticas estavam entre as inovações mais importantes dessa
revolução no conhecimento sobre as doenças. Comunicar sua
importância ao público americano exigia campanhas de higiene de
porta a porta em grande escala. Mulheres defendiam essas políticas
primeiro por meio de organizações voluntárias civis e depois como
política pública.
A hipótese subjacente é que as escolhas (ou
preferências) das mulheres parecem enfatizar o bem-
estar infantil mais do que as dos homens.
Nesse sentido, consistente com as previsões dos modelos-padrão de
competição eleitoral, os políticos que visavam maximizar seu apoio por
parte do eleitorado responderam imediatamente às mudanças
percebidas na distribuição das preferências de política eleitoral à
medida que as mulheres ganhavam o direito ao voto. Um ano depois da
promulgação da lei de sufrágio:
Lavagem das mãos Lavagem dos alimentos
 Os padrões de votação nominal do legislativo
mudaram.
 Como consequência, os gastos com saúde pública
local aumentaram cerca de 35%.
 O aumento nos gastos com saúde pública, por sua
vez, foi fundamental para intensificar as campanhas
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Fujiwara (2015), por sua vez, apresenta evidências de que aumentar a
participação política de eleitores com menos escolaridade (e, portanto,
mais pobres) pode fazer progredir políticas dirigidas a esse público e
afetar o resultado das eleições.
O autor estima os efeitos da introdução da tecnologia de votação
eletrônica no Brasil (a urna eletrônica) na participação dos eleitores. A
eliminação de um obstáculo como a dificuldade em operar cédulas de
votação, embora pareça trivial nos dias de hoje, permitiu que eleitores
menos escolarizados aumentassem sua participação nas eleições: na
prática, eleitores mais pobres e menos escolarizados podiam até ir
votar, mas erravam na hora de preencher a cédula de votação e seu voto
contava como nulo.
intensivas de higiene porta a porta.
 Com isso, a mortalidadeinfantil diminuiu de 8 a
15% com a promulgação de leis sufragistas.
 As reduções específicas de causas de morte
ocorreram exclusivamente entre as doenças por
causas infecciosas sensíveis a condições
higiênicas (doenças diarreicas, difteria e meningite).
 Em todo o país, essas reduções se traduziram em
cerca de 20.000 mortes infantis evitadas a cada
ano, explicando cerca de 10% da redução da
mortalidade infantil entre 1900 e 1930.
Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html#
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Essa alteração na composição do eleitorado, por sua vez, alterou a
composição do poder legislativo, levando à eleição de legisladores
estaduais mais de esquerda, ao aumento dos gastos com saúde pública,
e melhorias na saúde infantil – voltaremos a esse ponto um pouco à
frente. Nesse sentido, o artigo trata de um aumento na participação em
um contexto em que o sufrágio universal já estava estabelecido.
O autor argumenta que, embora preencher uma cédula
seja uma tarefa simples para cidadãos instruídos em
países desenvolvidos, isso não se verifica no Brasil,
onde 23% dos adultos eram “incapazes de ler ou
escrever uma simples nota” até 1991 (IBGE, 1992).
No mais, as cédulas de papel brasileiras exigiam que os cidadãos
escrevessem seu voto no papel e as instruções eram apenas feitas de
maneira escrita. Isso resultava em uma grande quantidade de votos em
branco com erros de preenchimento, gerando um número elevado de
votos inválidos (não atribuídos a um candidato e descartados da
apuração dos resultados).
Em meados da década de 1990, o governo brasileiro desenvolveu uma
tecnologia de votação eletrônica para substituir o voto impresso.
Embora sua introdução visasse reduzir o tempo e os custos da
contagem de votos, outros recursos da tecnologia apresentados a
seguir facilitaram a votação de maneira geral e diminuíram a quantidade
de erros e votos computados como inválidos.

O uso de fotos de candidatos como auxílio visual.

O disparo de mensagens de erro para eleitores prestes a lançar votos
inválidos antes da confirmação.
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
A orientação do processo de votação passo a passo.
O artigo faz uso de uma descontinuidade na implementação da
tecnologia da urna eletrônica para estimar os efeitos de sua introdução
sobre as eleições. Devido ao fornecimento limitado de dispositivos na
eleição de 1998, apenas municípios com mais de 40.500 eleitores
registrados usaram a nova tecnologia, enquanto o restante usou cédulas
de papel. E qual foi o resultado?
As estimativas indicam que as urnas eletrônicas reduziram os
votos inválidos nas eleições legislativas estaduais em mais de
10%. Isso significa que milhões de cidadãos, que teriam seus
votos não contados ao usar uma cédula de papel, passaram a ter
seus votos válidos, o equivalente a uma emancipação eleitoral
dessa parcela da população.
Coerente com a hipótese de que esses eleitores tinham maior
probabilidade de ter menor escolaridade, os efeitos são maiores nos
municípios com maiores taxas de analfabetismo. Além disso, as urnas
eletrônicas aumentaram o número de votos em partidos de esquerda.
O autor verifica ainda que esses efeitos não ocorrem por conta de um
aumento na participação eleitoral — inexistente — e nem por um
movimento de entrada de candidatos diferentes, o que tampouco
ocorreu. O autor argumenta que essa emancipação da parcela da
população menos instruída de fato afetou a política de uma maneira
consistente com as teorias de economia política de redistribuição,
aumentando os gastos do governo em um serviço que beneficia
particularmente os eleitores menos instruídos e mais pobres: a saúde.
Resultado 
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Ele também encontra efeitos do aumento no número de consultas pré-
natal (consultas da gestante ao médico) e na redução do número de
partos com baixo peso para mães com menor escolaridade.
Partos com baixo peso
O peso do recém-nascido é uma das principais medidas de saúde infantil.
No entanto, o autor ressalta que, por conta de
limitações nos dados de gastos públicos, uma análise
de bem-estar completa e totalmente detalhada das
mudanças de política induzidas pela urna eletrônica
não pode ser fornecida.
Além disso, atenta para a possibilidade de que os ganhos de bem-estar
na área de saúde podem ter sido compensados negativamente por
perdas (não observáveis) em outras áreas.
Embora os efeitos estimados possam depender de um contexto
particular como o vivido pelo Brasil no momento da introdução da
votação eletrônica, o estudo exemplifica como o aumento da
participação política de grupos menos favorecidos pode mudar a
formulação de políticas e afetar os resultados das eleições, de maneira
consistente com os modelos de competição eleitoral já vistos.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Um ciclo de Condorcet ocorre quando existe uma violação de um
dos critérios da ordenação de preferência social.
Esse critério é chamado de:
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Parabéns! A alternativa E está correta.
Os ciclos de Condorcet ocorrem quando o ordenamento das
preferências sociais não é transitivo e, por isso, deixa de ser
racional. As preferências sociais devem ser racionais, assim como
as preferências individuais, isto é, completas e transitivas.
A Preferências completas.
B Monotonicidade.
C Convexidade.
D Continuidade.
E Transitividade.
Questão 2
Miller (2008) e Fujiwara (2015) apresentam evidências de como a
composição do eleitorado pode alterar as políticas públicas.
Assinale a alternativa que melhor justifica o canal pelo qual isso
ocorre:
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Parabéns! A alternativa C está correta.
Os modelos de competição eleitoral revelam que as políticas
propostas e implementadas são definidas pelas preferências dos
eleitores. Assim, políticos que visam maximizar seu apoio por parte
do eleitorado respondem às mudanças percebidas nas preferências
ou em características dos eleitores.
A
Os políticos ganham mais apoio e força no
congresso para realizar mudanças.
B
Os eleitores se sentem mais fortes e pressionam
por mudanças.
C
A distribuição de características e preferências dos
eleitores muda.
D Há mais polarização política e um grupo dominante.
E
Há mais homogeneidade no eleitorado, o que
permite realizar mudanças.
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2 - Participação eleitoral
Ao �nal deste módulo, você identi�cará os determinantes do voto.
Decisão de votar
No módulo anterior, vimos como as preferências dos eleitores e como
alterações na legislação ou no processo eleitoral podem influenciar no
resultado das eleições. Neste módulo, investigaremos o que está por
trás de uma das decisões mais fundamentais da democracia: o voto.
Mais especificamente, por que as pessoas votam?
O ponto de partida para estudarmos a decisão de votar é o paradoxo do
voto. Uma vez que adotamos a hipótese da racionalidade:
Por que as pessoas votam se elas sabem que a
probabilidade de fazer a diferença no resultado das
eleições é estatisticamente nula?
Suponha eleições simples entre dois candidatos. Um eleitor racional
tem preferências sobre esses candidatos e deve escolher entre votar ou
não.
Seja:
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• B > 0, a utilidade que esse eleitor recebe em caso de vitória de seu
candidato preferido;• C > 0, o custo de votar;
• , a probabilidade de o voto do eleitor ser pivotal para o
candidato j, ou seja, de o voto desse eleitor lhe conceder a vitória.
Assim, o eleitor que prefere j decidirá votar em j caso:
Do contrário, ele deverá preferir a abstenção.
Intuitivamente, isso significa que a probabilidade de o voto ser pivotal,
multiplicada pelo benefício da eleição do candidato j, deve ser maior que
o custo de se votar. Embora o custo de se votar em geral seja baixo, ele
não é inexistente. Vamos pensar juntos na jornada de um eleitor:
Apesar de serem contratempos pequenos, se colocados na balança
contra a probabilidade de ser um voto pivotal, parece pouco razoável
que o custo seja menor do que essa probabilidade multiplicada pelo
benefício da eleição do candidato j, uma vez que essa probabilidade é
próxima de zero. Quanto maior a população de um país, menor a
probabilidade de o voto ser pivotal. Ainda assim, em países como o
Brasil e Estados Unidos, que têm populações com centenas de milhões
Pj ∈ [0, 1]
P
j
× B > C
O eleitor precisa tirar o título de
eleitor.
Verificar a zona
eleitoral.
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de pessoas, as pessoas votam.
Como compreender esse paradoxo?
Resposta
Motivados por esse paradoxo, Gerber et al. (2008) fazem um
experimento para compreender como as normas sociais afetam a
participação política. Particularmente, os autores investigam se o dever
cívico e a pressão social são capazes de exercer algum efeito causal
sobre a participação dos eleitores.
Para fazer esse estudo, os autores enviaram quatro tipos de cartas
diferentes para domicílios de eleitores registrados durante as eleições
primárias de 2006 em Michigan, Estados Unidos. Cada uma dessas
cartas tinha um teor diferente no texto, buscando enfatizar determinado
aspecto das normas sociais.
Assim, cerca de 80.000 famílias receberam uma das quatro
correspondências, enquanto outras 100.000 foram consideradas grupo
de controle e não receberam nenhuma correspondência. Ao todo, havia
quatro grupos de tratamento, cada um com cerca de 20.000 famílias,
cada um com um tipo de correspondência diferente.
A divisão entre as correspondências do grupo de tratamento ou grupo
de controle foi aleatória. Os quatro grupos de tratamento foram
divididos da seguinte forma:
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Dever cívico
As famílias desse grupo receberam uma carta com apenas um lembrete
de que votar é um dever cívico: “Lembre-se de seus direitos e
responsabilidades como cidadão. Lembre-se de votar.”
Efeito Hawthorne
A carta continha uma mensagem em forma de pressão social que
captura o efeito de estar sendo observado por pesquisadores: “Você
está sendo estudado”. O objetivo era capturar o efeito de mudança
comportamental que ocorre apenas por um indivíduo saber que está
sendo observado ou estudado.
Pressão social intradomiciliar
Informa aos destinatários da carta que a participação eleitoral, isto é, a
informação de quem vota, é pública, e envia junto com a carta uma lista
com o registro de comparecimento recente dos eleitores do domicílio.
Além disso, ao final da carta há uma “ameaça" de enviar uma nova carta
com o comparecimento atualizado após as próximas eleições.
Pressão social de vizinhança
Semelhante à carta anterior, aumenta a pressão social listando não
apenas os registros da votação do domicílio, mas também os registros
de votação das pessoas que moram nas proximidades. Ao final, ameaça
divulgar em nova carta o comparecimento atualizado da vizinhança
após as próximas eleições.
Os autores então acompanham a taxa de participação dos quatro
grupos e comparam com a taxa de participação do grupo de controle
(ou seja, o grupo que não recebeu nenhum tipo de carta). Eles
descobrem que:
A participação aumenta marginalmente quando o dever cívico é
instigado e dramaticamente quando a pressão social é aplicada,
Resultado 
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tanto intradomiciliar quanto a de vizinhança. Para sermos mais
precisos, a taxa de participação do grupo de controle foi de
29.7%, contra 31.5% da participação do grupo de dever cívico e
32.2% do grupo do efeito Hawthorne. Os grupos de pressão
social, por outro lado, tiveram participação de 34.5%
(intradomiciliar) e 37.8% (vizinhança).
Assim, vemos que, por trás da decisão de votar, existem fatores que vão
para além dos benefícios adquiridos pela eleição de um candidato
preferido.
Contudo, a validade externa do artigo é limitada, e seus resultados
podem não ser aplicáveis a outros contextos. Por exemplo, é possível
que a pressão social seja um determinante mais fraco do voto no Brasil,
um país onde o voto é obrigatório, ao contrário do que ocorre nos
Estados Unidos. Embora seja possível faltar às eleições e justificar o
voto, um cidadão pode considerar isso mais custoso do que ir até a urna
e escolher um candidato.
Vamos entender melhor a decisão do
voto?
Neste vídeo, serão apresentados fatores que afetam a decisão de
comparecer às eleições.
Motivos para votar
Funk (2010) segue a mesma motivação do artigo anterior e busca
compreender o porquê de as pessoas votarem apesar do paradoxo do

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voto.
A autora aproveita um experimento natural que ocorreu na Suíça com a
introdução do voto por correio, como alternativa ao voto presencial.
Embora o voto opcional por correio possa ser considerado uma política
de incentivo ao voto, a facilitação do voto pode ter efeitos contraditórios
sobre a participação dos eleitores.
O motivo são os efeitos opostos que o voto por correspondência tem
sobre os incentivos econômicos e sociais ao voto.
Incentivos econômicos
Por um lado, há o efeito
sobre os incentivos
econômicos de uma
redução nos custos de
votação, o que pode
gerar um efeito positivo
na participação.
Incentivos sociais
Por outro lado, do ponto
de vista dos incentivos
sociais, a votação pelo
correio ou pela Internet
torna o ato de votação
inobservável, o que
pode gerar um efeito
negativo na
participação.
Se a pressão social é um fator importante na decisão de votar, então a
opção de voto pelo correio oferece uma oportunidade para escapar
dessa pressão. Consequentemente, quanto mais questões sociais
importarem para as decisões de voto, maior o trade-off entre a redução
de custos e a redução nos incentivos sociais.
A autora explora também variações nos tamanhos de população dos
cantões suíços. A hipótese que fundamenta essa estratégia é que um
grande número de estudos antropológicos documenta que o controle
social é particularmente forte em comunidades pequenas e estreitas.

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Pessoas se conhecem mais e conversam sobre quem cumpre seu dever
cívico e quem não o faz. Nesse sentido, é esperado que, com o alívio da
pressão social, o efeito social negativo sobre a participação seja maior
em pequenas comunidades.
A experiência suíça é um exemplo particularmente vantajoso para
estudar essa questão, uma vez que a votação presencial nunca foi
substituída pela votação pelo correio e nem foram fechadas as
assembleias de voto durante o período de investigação. Isso permitiu
que a autora identificasse o efeito da pressão social.
Como ir às urnas sempre foi uma opção, o principal
efeito social do voto por correspondência foi a
remoção da pressão social, e não a remoção dos
benefícios decorrentes do voto.
O artigo mostra que o efeito esperado do aumento da participação dos
eleitores pelo incentivo econômico de redução dos custosnão ocorreu.
A introdução do voto opcional pelo correio aumentou a participação
agregada dos cantões nas eleições parlamentares em 2,2 pontos
percentuais, mas o efeito não foi estatisticamente significante. Por outro
lado, a autora encontra efeitos heterogêneos em cantões com estruturas
diferentes:
 Em cantões cujas comunidades são maiores que
1.000 habitantes, há um aumento 6,5 pontos
percentuais na participação.
 Em contraste, a participação diminuiu 7 pontos
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A autora justifica os resultados como uma mudança nos incentivos
sociais, provavelmente nos benefícios externos da adesão às normas.
Sob o sistema de votação presencial, havia pressão social para votar,
que era particularmente forte em comunidades pequenas. Com a opção
do voto por correspondência, um eleitor por correspondência e um não
eleitor tornaram-se equivalentes em termos de observação, o que
removeu a pressão social para votar nas comunidades menores.
Outros tipos de pressão social podem estar em jogo também, como:

Estereótipos culturais

Segurança

Mobilidade limitada

Diversos outros custos potenciais para votar
Gine e Mansuri (2012) estudam o papel da informação sobre a
participação eleitoral feminina no Paquistão, onde há consideráveis
barreiras culturais à participação das mulheres.
percentuais no cantão com a maior proporção
(36%) de cidadãos vivendo em pequenas
comunidades.
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Sabemos que, apesar de as mulheres corresponderem à metade da
população mundial, há um atraso histórico em relação à conquista de
seus direitos políticos. Embora tenha ocorrido um movimento pelo
sufrágio feminino na maioria das democracias ocidentais no último
século, ainda há enormes diferenças na participação política entre
homens e mulheres, tanto como eleitoras quanto como candidatas ou
políticas eleitas.
Os autores listam uma série de barreiras à participação feminina que
podem afetar, particularmente, mulheres em países em
desenvolvimento. Por exemplo:
• Os custos à participação podem ser demasiadamente elevados
devido a tradições ou estereótipos culturais que desencorajem o
exercício das preferências das mulheres;
• Restrições à mobilidade que limitem a participação.
Além disso, se houver questões de segurança, como intimidação ou
violência, as preocupações com a segurança pessoal também podem
ser maiores entre as mulheres.
Outro fator cultural que pode limitar a participação das mulheres é a
estrutura domiciliar, na qual homens podem não querer que suas
mulheres votem ou podem tentar controlar seu voto, buscando manter
seu poder de barganha dentro do domicílio.
Ademais, mulheres podem ter acesso a menos fontes de informação
sobre a importância da participação política ou sobre o processo de
votação, possivelmente por conta do analfabetismo e mobilidade
limitada, que em muitos países incidem de maneira mais relevante entre
elas (esses são apenas dois entre os muitos impactos negativos da
desigualdade de gênero).
A falta de informação pode também reforçar estereótipos
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que afastam mulheres ainda mais da vida pública.
Nesse sentido, os autores indagam se a falta de informação sobre
processo eleitoral é barreira relevante para participação política de
eleitoras, e até que ponto interações sociais entre mulheres podem
incentivar a participação eleitoral em forma de spillover (externalidade).
Eles testam essas ideias conduzindo um experimento de campo que
forneceu informações às mulheres sobre o processo de votação e a
importância do voto, por meio de uma campanha eleitoral apartidária de
porta em porta pouco antes das eleições nacionais de 2008, no
Paquistão.
Como as taxas de alfabetização eram baixas entre as mulheres do meio
rural, a campanha foi desenvolvida na forma de visitas porta a porta,
composta por recursos visuais simples e um roteiro limitado com duas
mensagens:
Um grupo de mulheres-alvo recebeu apenas a primeira mensagem, e
outro grupo recebeu ambas, permitindo que os autores testassem se o
conhecimento sobre o processo de votação aumenta a participação
feminina e a independência na escolha de um candidato.
O experimento foi conduzido numa área rural do Paquistão. Os
pesquisadores dividiram as aldeias em grupos geográficos, de modo
que cada grupo estava inteiramente dentro da área de influência de uma
assembleia de voto. Os grupos de aldeias foram divididos
aleatoriamente entre:
 A importância do voto
Que focava na relação entre o processo eleitoral e
as políticas públicas.
 O signi�cado do voto secreto
Que explicava o processo de votação real para
essas mulheres.
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Um dos dois tratamentos
Apenas uma mensagem, ou ambas as mensagens.
Grupo de controle
Não recebia nenhuma intervenção (ou seja, nenhuma mensagem).
Dado que a votação provavelmente sofre influência do comportamento
de pessoas em determinado grupo ou rede social, a medida de
externalidades (spillover) de informação foi um aspecto-chave do
estudo. Como resultado, apenas um subconjunto da amostra de
domicílios dentro do grupo de aldeias de tratamento foi alvo da
campanha de informação.
Isso permitiu que os autores pudessem medir os spillovers
de informação.
Como os grupos de aldeias foram definidos inteiramente por critérios
geográficos, há uma variação aleatória no número de mulheres-alvo da
campanha de informação em qualquer assembleia de voto. Os autores
usaram essa variação para estudar o impacto da campanha de
informação na participação e nas votações nos partidos, por gênero.
Vamos ver agora o resultado:
Os resultados mostraram que a participação aumenta entre 9 e
13% para mulheres-alvo nos grupos de tratamento em
comparação com mulheres nos grupos de controle, com efeitos
mais fortes para mulheres expostas a ambas as mensagens da
campanha de informação. Além disso, os autores encontraram
taxas de participação semelhantes para mulheres que não foram
alvo da campanha de informação nos grupos de tratamento,
indicando que houve efeitos de spillover geográficos
substanciais.
Em contraste, os autores não encontraram nenhum efeito sobre
Resultado 
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a participação masculina, sugerindo que o fornecimento de
informações sobre o processo eleitoral e de votação é menos
importante para os homens, ou que os homens simplesmente
não são influenciados pelas informações fornecidas às
mulheres.
Os autores também encontraram evidências de que a campanha
influenciou a escolha do candidato e do partido. As mulheres-
alvo da campanha apresentaram uma probabilidade menor de
votar no partido vencedor, o que também se verifica para as
mulheres não alvo.
Os resultados sugeriram que a campanha poderia ter influenciado o
eleitorado de maneira geral e, portanto, a agenda política, se tivesse sido
implementada em uma escala maior. As mulheres do grupo de
tratamento também se mostraram mais propensas do que as mulheres
nos grupos de controle a selecionar um candidato diferente do
candidato escolhido pelo “chefe da família”, do sexo masculino.
Falta pouco para atingir seus objetivos.
Vamos praticar alguns conceitos?
Questão 1
Sobre Gerber et al. (2008), responda: qual das alternativas a seguir
não representa um dos quatro grupos de tratamento estudados
pelos autores?
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Parabéns! A alternativa A está correta.
Osautores queriam investigar se o dever cívico e a pressão social
seriam capazes de exercer algum efeito causal sobre a participação
dos eleitores. Assim, eles enviaram quatro tipos de cartas
diferentes, enfatizando determinado aspecto de normas sociais. A
única norma social que não representa um dos grupos estudados é
'dever identitário'.
A Dever identitário.
B Pressão social intradomiciliar.
C Pressão social da vizinhança.
D Efeito Hawthorne.
E Dever cívico.
Questão 2
Segundo o estudo de Gine e Mansuri (2012), há custos associados
à participação das mulheres em países em desenvolvimento.
Nesse contexto é correto afirmar que, nesses países, as mulheres
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Considerações �nais
Como vimos, não existe uma única resposta correta para a agregação
de preferências. Escolhas coletivas apresentam muitos desafios e
diferentes regras adotadas podem levar a diferentes resultados. A
ordem das alternativas importa, a composição do eleitorado importa, e
Parabéns! A alternativa B está correta.
Os autores investigam a hipótese de que mulheres podem ter
acesso a menos fontes de informação sobre a importância da
participação política ou sobre o processo de votação,
possivelmente por conta do analfabetismo e mobilidade limitada
desse grupo de pessoas. Isso representaria custos de participação
para as mulheres, os quais poderiam ser reduzidos com uma
campanha de informação, que é a intervenção realizada pelos
autores.
A são proibidas de votar por lei.
B
podem ser menos escolarizadas e ter menos
acesso a fontes de informação.
C precisam sair para trabalhar.
D precisam ficar em casa cuidando dos filhos.
E não gostam de votar.
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os incentivos também importam.
Por isso, economistas e formuladores de políticas públicas devem levar
em consideração diversos fatores na hora da tomada de decisão,
atentando-se para as perdas e os ganhos dos diversos agentes
envolvidos.
Além disso, apresentamos também o paradoxo do voto e os diversos
fatores que determinam a escolha de votar. Aprendemos que existem
custos e benefícios envolvidos nessa decisão e que a mudança de
regras ou do processo eleitoral pode afetar os resultados das eleições,
às vezes até de maneira inesperada.
Podcast
Neste podcast, será feita uma revisão do conteúdo visto até aqui.

Referências
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Journal of Political Economy, v. 65, n.2, p. 135-150, 1957.
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MILLER, G. Women’s suffrage, political responsiveness, and child
survival in American history. Quarterly Journal of Economics, v. 123, n.
3, p. 1287-1327, 2008. Consultado na internet em: 9 nov. 2021.
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Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html#
40 of 40 09/09/2022 15:54

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