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Introdução à Economia Política Profª. Mariana Stussi Descrição Modelos de competição eleitoral como forma de agregação de preferências, o desafio da escolha coletiva e os determinantes da decisão de votar. Propósito O processo eleitoral revela como as escolhas coletivas são feitas e como preferências distintas são agregadas. Estudar Economia Política é relevante para profissionais de Economia, uma vez que estes estão sempre avaliando os custos e benefícios enfrentados por diferentes agentes no processo de tomada de decisão, para melhor compreender as perdas e os ganhos envolvidos em buscar diferentes alocações de recursos pela sociedade. Objetivos Módulo 1 Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 1 of 40 09/09/2022 15:54 Escolha coletiva e modelos de competição eleitoral Definir os desafios e resultados de diferentes formas de escolha coletiva. Módulo 2 Participação eleitoral Identificar os determinantes do voto. Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 2 of 40 09/09/2022 15:54 Na Economia, muitas vezes a disciplina toma como dadas as preferências, tecnologias e instituições, isto é, estrutura de mercado, leis, regulação e políticas em geral. Nesse sentido, instituições importam tanto quanto preferências. Entretanto, instituições não são apenas leis e estruturas de ordem social que regulam o comportamento de um grupo de indivíduos. De uma forma mais geral, elas falam sobre como escolhas coletivas são tomadas e como preferências conflituosas são agregadas. A Economia Política é, portanto, uma forma de investigar, sistematicamente, esse tipo de agregação e resolução de conflitos. Por isso, neste conteúdo, entenderemos como preferências são agregadas em sociedades, apresentaremos alguns modelos de competição eleitoral e investigaremos os determinantes de uma das decisões individuais e coletivas mais fundamentais da democracia: o voto. Ao longo deste tema, apresentaremos a teoria e as evidências empíricas que sustentam, na prática, os principais resultados dos modelos apresentados. Introdução Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 3 of 40 09/09/2022 15:54 1 - Escolha coletiva e modelos de competição eleitoral Ao �nal deste módulo, você identi�cará os desa�os e resultados de diferentes formas de escolha coletiva. Escolha coletiva Pode-se imaginar que, numa sociedade ideal, existe um conjunto de regras de agregação que tome as preferências conflitantes dos membros de um grupo e chegue a uma decisão coletiva aceitável para todos. Mostrar que existe uma forma natural e eficiente de resolução de conflitos seria o melhor dos mundos para questões de Economia Política. Contudo, como veremos neste tema, isso não é possível. Uma solução natural que poderia ocorrer em um país democrático seria agregar as preferências por meio do voto. No entanto, o teorema da impossibilidade de Arrow nos mostra que, exceto em algumas situações específicas, um sistema de votação é incapaz de agregar as preferências de forma consistente. Particularmente, esse teorema postula que, quando eleitores têm três ou mais alternativas distintas, nenhum sistema eleitoral ordenado consegue converter as preferências ordenadas de indivíduos em um ordenamento comum a todo o grupo de indivíduos na comunidade e respeitar um conjunto específico de critérios. Para tanto, vamos pensar em termos de funções de bem-estar social. E o que essa função faz? Resposta É simples: ela atua como um agregador de preferências individuais. Ou seja, para um determinado conjunto de preferências individuais de Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 4 of 40 09/09/2022 15:54 várias pessoas, ela define uma preferência social, ou seja, uma preferência para esse grupo de pessoas. Pense em um exemplo simples. A sociedade é formada por duas pessoas: João e José. Ambos preferem laranjas a maçãs. A função de bem-estar social pode associar essas preferências individuais a uma preferência social: “A sociedade prefere laranjas a maçãs”. Se João prefere fortemente maçãs e José prefere apenas levemente laranjas, a função pode, por exemplo, dizer que: “A sociedade prefere maçãs a laranjas”. Ou, ainda, podemos pensar que a sociedade tem três pessoas: João, José e Paulo – enquanto João e Paulo preferem maçãs, José prefere laranjas, e a função de bem-estar social nos diz nesse caso que: “A sociedade prefere maçãs a laranjas porque essa é a preferência da maioria”. Esses são exemplos simples, mas nos levam naturalmente à ideia de votação. Um sistema de votação permite traduzir preferências individuais em preferências agregadas. Voltando ao nosso exemplo: cada pessoa informa qual é sua fruta favorita, e a função de bem-estar social (ou seja, o resultado da votação) diz que a sociedade prefere maçãs. Vamos agora ver os critérios que uma função de bem-estar social, e, em particular, um sistema de votação deveria respeitar: Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 5 of 40 09/09/2022 15:54 Não ditadura A função de bem-estar social deve levar em conta os desejos de vários eleitores, não podendo simplesmente imitar as preferências de um único eleitor. Universalidade (ou domínio) Assumimos que todos os indivíduos têm preferências racionais sobre todas as alternativas, e, para qualquer conjunto de preferências individuais do eleitor, a função de bem-estar social deve produzir uma classificação única e completa das escolhas sociais. Independência das alternativas irrelevantes A preferência social entre “x” e “y” deve depender apenas das preferências individuais entre “x” e “y” (independência dos pares), ou seja, a inclusão ou remoção de uma terceira alternativa (“z”, por exemplo) não deve afetar a ordem das preferências “x“ e “y”. E�ciência de Pareto Se todos os indivíduos preferem “x” a “y”, então, o mesmo deve acontecer com a ordem de preferência social resultante. Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 6 of 40 09/09/2022 15:54 O teorema da impossibilidade de Arrow afirma que nenhum sistema eleitoral de classificação projetado pode satisfazer sempre esses critérios de “justiça”. Vejamos um exemplo: Suponha três eleitores (1, 2 e 3) e três alternativas de políticas (A, B, e C) com as seguintes preferências: Assuma um sistema de votação de regra majoritária, baseado nas seguintes hipóteses: Os cidadãos escolhem as políticas via voto majoritário. Os indivíduos votam de acordo com suas preferências verdadeiras, e não de maneira estratégica. Eleitor 1 : A ≻ C ≻ B Eleitor 2 : B ≻ A ≻ C Eleitor 3 : C ≻ B ≻ A Democracia direta Voto sincero Agenda aberta Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 7 of 40 09/09/2022 15:54 Os indivíduos votam sobre pares de alternativas políticas, de modo que a alternativa vencedora é colocada para votação com uma nova possibilidade na rodada seguinte, até que o conjunto de alternativas possíveis se esgote. Citemos, por exemplo, o caso de uma votação par a par que ocorra da seguinte forma: Votação A x B Dois votos para B, que é vencedor. Eleitores 2 e 3 votam B; eleitor 1 vota A. A x C Dois votos para A, que é vencedor. Eleitores 1 e 2 votam A; eleitor 3 vota C. B x C Dois votos para C, que é vencedor. Eleitores 1 e 3 votam C; eleitor 2 vota B. Temos então que , o que viola a hipótese de transitividade das preferências. A hipótese de transitividade afirma que se e , então , o que não ocorre no exemplo que acabamos de ver. Nesse sentido, o teorema de Arrow pode ser interpretado como um jogo estratégico que não resulta, necessariamente, num equilíbrio eficiente. Assim, épossível pensar, por exemplo, numa eleição em que um candidato seja votado por todos e eleito mesmo sem ser a escolha preferida de nenhum dos eleitores. O problema do exemplo que mostramos também é conhecido como o paradoxo de Condorcet. Sua principal implicação é que as preferências coletivas podem ser cíclicas, como no resultado exemplificado – ou seja, podem desrespeitar a hipótese de transitividade. B ≻ A ≻ C ≻ B B ≻ A A ≻ C B ≻ C Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 8 of 40 09/09/2022 15:54 Um ciclo de Condorcet ocorre quando existe uma violação da transitividade na ordenação de preferência social. Se existem ciclos de Condorcet, então a ordem em que a votação acontece faz uma grande diferença. Agora vamos fazer duas suposições baseadas no exemplo dado acima: Primeira suposição Suponha que a votação primeiro ocorresse entre A e B e, depois, entre o vencedor e C. O que aconteceria? B ganharia de A, e depois C ganharia de B, vencendo as eleições. Segunda suposição Suponha agora que a ordem de votação fosse outra: primeiro a votação ocorre entre A e C e, depois, entre o vencedor e B. O que aconteceria? Agora, A ganha a primeira rodada, e depois B ganha de A, sendo B o novo vencedor das eleições. Esse exemplo mostra que a ordem em que se organiza a votação faz uma grande diferença nos resultados. Esse é o poder da determinação de agenda, isto é, decidir quais opções serão levadas em consideração e em que ordem elas serão consideradas. Câmara dos deputados. Na vida real, os definidores de agenda são os presidentes das câmaras Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 9 of 40 09/09/2022 15:54 legislativas, como o presidente da Câmara dos Deputados e o presidente do Senado. Embora não seja possível determinar o resultado pela definição de agenda, é possível ver como essa posição é bastante poderosa. É possível evitar o paradoxo de Condorcet se houver um vencedor de Condorcet. Um vencedor de Condorcet é uma política q* que vence qualquer alternativa factível em disputas entre pares. Nesse contexto, existe algum tipo de preferência ou regra de agregação que implementa a política q* (o vencedor de Condorcet)? O teorema do eleitor mediano é uma proposição relacionada à votação por preferência em que os eleitores e as políticas são distribuídos ao longo de um espectro unidimensional, como direita e esquerda, por exemplo. O eleitor mediano será aquele que representa a mediana da distribuição de preferências da população ao longo desse espectro unidimensional. Os eleitores classificam as alternativas em ordem de proximidade à sua preferência e tomam decisões coletivas por meio de um método de votação que elege sempre o vencedor de Condorcet, se este existir. Com essas hipóteses, a votação elegerá o candidato ou a política que tiver mais proximidade do eleitor mediano. Na próxima seção, exploraremos mais esse teorema com um exemplo de votação majoritária entre dois candidatos. Se as preferências são de pico único, o ponto ideal do eleitor mediano é (fracamente) um vencedor Condorcet. É por isto que as preferências de pico único são tão úteis: elas significam que não precisamos nos preocupar com os ciclos de Condorcet, uma vez que garantem um vencedor de Condorcet. Porém, nem sempre as preferências serão de pico único. Pico único Se você ainda não estudou preferências de pico único, pense em um exemplo simples. Entre candidatos que se distribuem politicamente entre esquerda e direita, eu tenho um preferido, e quanto mais distante estão os demais candidatos, menor a chance de votar neles. Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 10 of 40 09/09/2022 15:54 Isso descarta, por exemplo, que eu seja simpático a um candidato de centro-esquerda e a outro de centro-direita, e prefira ambos a um candidato de centro. Voltaremos a esse exemplo mais adiante. Assim, dado que existem ciclos de Condorcet, qual é a forma correta para as sociedades tomarem decisões? Existe alguma forma de agregar preferências que sejam melhores em algum sentido? Não existe uma resposta certa. É isso que o teorema da impossibilidade de Arrow nos mostra. Haverá ciclos se quisermos respeitar os quatro critérios (não ditadura; universalidade — ou domínio; independência das alternativas relevantes; e eficiência de Pareto). Poderíamos pensar em regras de agregação de preferência diferentes para contornar os ciclos de Condorcet, mas falharíamos em satisfazer os critérios definidos por Arrow. Para tentar achar uma resposta, poderíamos, por exemplo, pensar numa regra alternativa à votação por maioria e definir como vencedora a alternativa que tivesse 2/3 das preferências dos votos. O problema é que, nesse caso, a nova regra de votação violaria o critério de domínio, e não haveria uma classificação única e completa das escolhas sociais. Se 60% da população preferisse A, não teríamos solução nesse caso. Outro exemplo é a contagem de Borda. Esse método de votação estabelece que os eleitores devem fazer um ranking das alternativas, respeitando a ordem de suas preferências. Assim, para o eleitor 1 de nosso exemplo, teríamos 1-A, 2-C e 3-B. Depois, soma-se o valor dos rankings de todos os eleitores, de modo que aquele candidato ou política que tem a menor soma é o vencedor. Novamente, podemos pensar em alguns problemas que esse sistema Resposta Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 11 of 40 09/09/2022 15:54 de votação possui. Por exemplo, ele desrespeita o critério da independência das alternativas irrelevantes de Arrow. Se cada eleitor introduzisse uma alternativa D em uma posição diferente de seu ordenamento de preferências, isso alteraria o resultado das eleições. O que o teorema da impossibilidade de Arrow nos mostra é que não existe uma resposta certa para a forma como as preferências são agregadas. Todas terão falhas, e devemos ser cuidadosos ao olhar para regras de decisão social. Modelos de competição eleitoral Apresentaremos agora o modelo downsiano de competição eleitoral. Anthony Downs (1957) foi o primeiro a introduzir o teorema do eleitor da mediana a um modelo de democracia. Em um modelo simples de eleições com dois partidos — interessados unicamente na maximização dos votos —, ele derivou os resultados das políticas em uma democracia diretamente das preferências dos eleitores. Com esse trabalho, ele lançou as bases para a maioria dos modelos de escolha racional de eleições. Considere as seguintes hipóteses: Existem dois candidatos concorrendo a um cargo político A e B. Há comprometimento pleno com as plataformas (políticas) previamente anunciadas durante a corrida eleitoral. Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 12 of 40 09/09/2022 15:54 A ordem dos eventos é tal que, em um primeiro momento, os candidatos anunciam de forma não cooperativa suas propostas. Depois ocorre uma eleição na qual a população deve escolher um dos candidatos, o qual, por fim, uma vez eleito, implementa a política anunciada. Nesse sentido, os candidatos se comprometem com suas plataformas, sem se desviar do que foi anunciado no momento inicial. Se os indivíduos forem racionais, cada indivíduo votará no candidato cuja proposta lhe oferece maior utilidade. Para simplificar, vamos pensar num contínuo de eleitores, classificados numa escala de menos favoráveis ao candidato B para mais favoráveis a B: O espaço de políticas é unidimensional (por exemplo, o eixo tradicional esquerda-direita). O sistema de votos é majoritário. Todos os eleitores participam e votam de acordo com suas preferências. As funções de utilidade dos eleitores são de pico único. Os candidatos sabem (ou adivinham) as preferências dos eleitores. Introduçãoà Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 13 of 40 09/09/2022 15:54 Analisemos a probabilidade do candidato A ganhar as eleições oferecendo a proposta , contra a proposta do candidato B: Sendo uma função de bem-estar social gerada pela proposta , então podemos ter três hipóteses, como veremos a seguir: Bem-estar inferior Se o candidato A oferecer uma proposta que gere um bem- estar inferior à proposta oferecida por B , então a probabilidade de A vencer as eleições é . Bem-estar superior Por outro lado, se a proposta gera um bem-estar superior a , então a probabilidade do candidato A vencer as eleições é . Bem-estar igual Finalmente, se o bem-estar da proposta de A for igual ao da proposta de B, a probabilidade de A vencer as eleiçôes é , que será igual à do candidato B. Se a proposta de A for diferente da proposta de B, ele pode aumentar suas chances de ser eleito se aproximando das preferências do eleitor da mediana, . Isso ocorre porque a proposta de A já é preferida por todos à esquerda do eleitor da mediana. Assim, igualando , o candidato A maximiza sua probabilidade de eleição. O raciocínio g A g B P A = ⎧ ⎪ ⎨ ⎪ ⎩ 0 se W (g A ) < W (g B ) 1 2 se W (g A ) = W (g B ) 1 se W (g A ) > W (g B ) W(g) g g A (W (g A ) < W (g B )) P A = 0 g A g B P A = 1 P A = 0.5 g M g A = g M Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 14 of 40 09/09/2022 15:54 análogo é válido para o adversário B. Dessa forma, o único caso em que nenhum dos candidatos pode aumentar sua probabilidade de eleição com um desvio unilateral é no caso em que . Desse modo, se os candidatos desejam ser eleitos, ambos vão convergir no programa ou política preferida pelo eleitor mediano, e eles irão propor a mesma plataforma. As preferências do eleitor mediano serão pivotais, isto é, ele tem o poder de decidir quem ganha entre A e B. Outro modelo de competição eleitoral bastante conhecido é o modelo de voto probabilístico. Suponha agora que o espaço de políticas seja multidimensional, ou seja, os eleitores avaliam mais de uma característica. Por exemplo, eles consideram tanto a política quanto a ideologia dos candidatos (ou o histórico, ou alguma outra política, ou qualquer outra característica). Além disso, passaremos a supor que há incerteza no voto do eleitor, e que a população é constituída por grupos diferentes de eleitores (por exemplo: um grupo de ricos, classe média, e pobres). Os dois candidatos A e B anunciam suas plataformas de maneira simultânea e não cooperativa e . Eles conhecem as preferências dos eleitores e a distribuição de ideologia, mas não observam os valores realizados. Ou seja, sabem a probabilidade de uma pessoa ser de g A = g M = g B g (g A g B ) Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 15 of 40 09/09/2022 15:54 esquerda ou direta, mas não sabe se, efetivamente, qual é a ideologia política dessa pessoa. Em um segundo momento, a votação acontece, e não há mais incerteza. O candidato eleito então implementa a proposta anunciada, como no modelo anterior. Nesse modelo, o equilíbrio também levará os candidatos a escolherem a mesma plataforma política, ou seja, haverá novamente convergência de propostas. A razão por trás desse resultado é que ambos resolvem o mesmo problema de otimização. Mais uma vez, a política preferida será determinada pela preferência dos eleitores. Quanto mais homogêneo ideologicamente for um grupo, mais eleitores pivotais ele possui. Relembre o caso do eleitor mediano como voto pivotal: se um grupo é bastante homogêneo, ele possui mais eleitores medianos ou próximos da mediana. Em outras palavras, grupos mais neutros ideologicamente respondem mais a políticas anunciadas e se importam menos com ideologia. Assim, esse grupo consegue que a política implementada seja mais próxima de sua preferência. Eleitor mediano Neste vídeo, será apresentado um exemplo em que o teorema do eleitor mediano pode ser aplicado aos resultados da eleição. g Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 16 of 40 09/09/2022 15:54 Evidência empírica Agora que apresentamos a teoria, vamos falar também sobre evidências empíricas a respeito de algumas implicações dos modelos apresentados. Vimos que uma das principais implicações desses modelos é que as políticas propostas (e implementadas) são definidas pelas preferências dos eleitores. Assim, se ocorrer uma mudança nas preferências ou em características dos eleitores, devemos observar mudanças nas políticas de equilíbrio. Vamos ver dois casos em que alterações na legislação e no processo eleitoral levaram a uma mudança na composição do eleitorado e vamos avaliar como as previsões dos modelos são observadas empiricamente. Miller (2008) estuda como o sufrágio feminino nos Estados Unidos, aprovado entre o final do séc. XIX e o início do séc. XX, alterou o padrão de voto dos legisladores no país e influenciou as políticas para maiores gastos públicos em saúde, o que levou à diminuição da mortalidade infantil. O autor explora a variação temporal e geográfica da adoção de leis de sufrágio feminino pós 1900, e as relaciona às quebras de tendência em nível estadual no comportamento eleitoral dos legisladores, gastos públicos estaduais e locais e mortalidade específica por idade e causa. O artigo argumenta que a extensão do direito ao voto às mulheres norte- americanas permitiu que crianças se beneficiassem de forma mais ampla e rápida das descobertas científicas da revolução bacteriológica da época, práticas higiênicas simples, como: Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 17 of 40 09/09/2022 15:54 Essas práticas estavam entre as inovações mais importantes dessa revolução no conhecimento sobre as doenças. Comunicar sua importância ao público americano exigia campanhas de higiene de porta a porta em grande escala. Mulheres defendiam essas políticas primeiro por meio de organizações voluntárias civis e depois como política pública. A hipótese subjacente é que as escolhas (ou preferências) das mulheres parecem enfatizar o bem- estar infantil mais do que as dos homens. Nesse sentido, consistente com as previsões dos modelos-padrão de competição eleitoral, os políticos que visavam maximizar seu apoio por parte do eleitorado responderam imediatamente às mudanças percebidas na distribuição das preferências de política eleitoral à medida que as mulheres ganhavam o direito ao voto. Um ano depois da promulgação da lei de sufrágio: Lavagem das mãos Lavagem dos alimentos Os padrões de votação nominal do legislativo mudaram. Como consequência, os gastos com saúde pública local aumentaram cerca de 35%. O aumento nos gastos com saúde pública, por sua vez, foi fundamental para intensificar as campanhas Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 18 of 40 09/09/2022 15:54 Fujiwara (2015), por sua vez, apresenta evidências de que aumentar a participação política de eleitores com menos escolaridade (e, portanto, mais pobres) pode fazer progredir políticas dirigidas a esse público e afetar o resultado das eleições. O autor estima os efeitos da introdução da tecnologia de votação eletrônica no Brasil (a urna eletrônica) na participação dos eleitores. A eliminação de um obstáculo como a dificuldade em operar cédulas de votação, embora pareça trivial nos dias de hoje, permitiu que eleitores menos escolarizados aumentassem sua participação nas eleições: na prática, eleitores mais pobres e menos escolarizados podiam até ir votar, mas erravam na hora de preencher a cédula de votação e seu voto contava como nulo. intensivas de higiene porta a porta. Com isso, a mortalidadeinfantil diminuiu de 8 a 15% com a promulgação de leis sufragistas. As reduções específicas de causas de morte ocorreram exclusivamente entre as doenças por causas infecciosas sensíveis a condições higiênicas (doenças diarreicas, difteria e meningite). Em todo o país, essas reduções se traduziram em cerca de 20.000 mortes infantis evitadas a cada ano, explicando cerca de 10% da redução da mortalidade infantil entre 1900 e 1930. Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 19 of 40 09/09/2022 15:54 Essa alteração na composição do eleitorado, por sua vez, alterou a composição do poder legislativo, levando à eleição de legisladores estaduais mais de esquerda, ao aumento dos gastos com saúde pública, e melhorias na saúde infantil – voltaremos a esse ponto um pouco à frente. Nesse sentido, o artigo trata de um aumento na participação em um contexto em que o sufrágio universal já estava estabelecido. O autor argumenta que, embora preencher uma cédula seja uma tarefa simples para cidadãos instruídos em países desenvolvidos, isso não se verifica no Brasil, onde 23% dos adultos eram “incapazes de ler ou escrever uma simples nota” até 1991 (IBGE, 1992). No mais, as cédulas de papel brasileiras exigiam que os cidadãos escrevessem seu voto no papel e as instruções eram apenas feitas de maneira escrita. Isso resultava em uma grande quantidade de votos em branco com erros de preenchimento, gerando um número elevado de votos inválidos (não atribuídos a um candidato e descartados da apuração dos resultados). Em meados da década de 1990, o governo brasileiro desenvolveu uma tecnologia de votação eletrônica para substituir o voto impresso. Embora sua introdução visasse reduzir o tempo e os custos da contagem de votos, outros recursos da tecnologia apresentados a seguir facilitaram a votação de maneira geral e diminuíram a quantidade de erros e votos computados como inválidos. O uso de fotos de candidatos como auxílio visual. O disparo de mensagens de erro para eleitores prestes a lançar votos inválidos antes da confirmação. Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 20 of 40 09/09/2022 15:54 A orientação do processo de votação passo a passo. O artigo faz uso de uma descontinuidade na implementação da tecnologia da urna eletrônica para estimar os efeitos de sua introdução sobre as eleições. Devido ao fornecimento limitado de dispositivos na eleição de 1998, apenas municípios com mais de 40.500 eleitores registrados usaram a nova tecnologia, enquanto o restante usou cédulas de papel. E qual foi o resultado? As estimativas indicam que as urnas eletrônicas reduziram os votos inválidos nas eleições legislativas estaduais em mais de 10%. Isso significa que milhões de cidadãos, que teriam seus votos não contados ao usar uma cédula de papel, passaram a ter seus votos válidos, o equivalente a uma emancipação eleitoral dessa parcela da população. Coerente com a hipótese de que esses eleitores tinham maior probabilidade de ter menor escolaridade, os efeitos são maiores nos municípios com maiores taxas de analfabetismo. Além disso, as urnas eletrônicas aumentaram o número de votos em partidos de esquerda. O autor verifica ainda que esses efeitos não ocorrem por conta de um aumento na participação eleitoral — inexistente — e nem por um movimento de entrada de candidatos diferentes, o que tampouco ocorreu. O autor argumenta que essa emancipação da parcela da população menos instruída de fato afetou a política de uma maneira consistente com as teorias de economia política de redistribuição, aumentando os gastos do governo em um serviço que beneficia particularmente os eleitores menos instruídos e mais pobres: a saúde. Resultado Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 21 of 40 09/09/2022 15:54 Ele também encontra efeitos do aumento no número de consultas pré- natal (consultas da gestante ao médico) e na redução do número de partos com baixo peso para mães com menor escolaridade. Partos com baixo peso O peso do recém-nascido é uma das principais medidas de saúde infantil. No entanto, o autor ressalta que, por conta de limitações nos dados de gastos públicos, uma análise de bem-estar completa e totalmente detalhada das mudanças de política induzidas pela urna eletrônica não pode ser fornecida. Além disso, atenta para a possibilidade de que os ganhos de bem-estar na área de saúde podem ter sido compensados negativamente por perdas (não observáveis) em outras áreas. Embora os efeitos estimados possam depender de um contexto particular como o vivido pelo Brasil no momento da introdução da votação eletrônica, o estudo exemplifica como o aumento da participação política de grupos menos favorecidos pode mudar a formulação de políticas e afetar os resultados das eleições, de maneira consistente com os modelos de competição eleitoral já vistos. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Um ciclo de Condorcet ocorre quando existe uma violação de um dos critérios da ordenação de preferência social. Esse critério é chamado de: Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 22 of 40 09/09/2022 15:54 Parabéns! A alternativa E está correta. Os ciclos de Condorcet ocorrem quando o ordenamento das preferências sociais não é transitivo e, por isso, deixa de ser racional. As preferências sociais devem ser racionais, assim como as preferências individuais, isto é, completas e transitivas. A Preferências completas. B Monotonicidade. C Convexidade. D Continuidade. E Transitividade. Questão 2 Miller (2008) e Fujiwara (2015) apresentam evidências de como a composição do eleitorado pode alterar as políticas públicas. Assinale a alternativa que melhor justifica o canal pelo qual isso ocorre: Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 23 of 40 09/09/2022 15:54 Parabéns! A alternativa C está correta. Os modelos de competição eleitoral revelam que as políticas propostas e implementadas são definidas pelas preferências dos eleitores. Assim, políticos que visam maximizar seu apoio por parte do eleitorado respondem às mudanças percebidas nas preferências ou em características dos eleitores. A Os políticos ganham mais apoio e força no congresso para realizar mudanças. B Os eleitores se sentem mais fortes e pressionam por mudanças. C A distribuição de características e preferências dos eleitores muda. D Há mais polarização política e um grupo dominante. E Há mais homogeneidade no eleitorado, o que permite realizar mudanças. Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 24 of 40 09/09/2022 15:54 2 - Participação eleitoral Ao �nal deste módulo, você identi�cará os determinantes do voto. Decisão de votar No módulo anterior, vimos como as preferências dos eleitores e como alterações na legislação ou no processo eleitoral podem influenciar no resultado das eleições. Neste módulo, investigaremos o que está por trás de uma das decisões mais fundamentais da democracia: o voto. Mais especificamente, por que as pessoas votam? O ponto de partida para estudarmos a decisão de votar é o paradoxo do voto. Uma vez que adotamos a hipótese da racionalidade: Por que as pessoas votam se elas sabem que a probabilidade de fazer a diferença no resultado das eleições é estatisticamente nula? Suponha eleições simples entre dois candidatos. Um eleitor racional tem preferências sobre esses candidatos e deve escolher entre votar ou não. Seja: Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 25 of 40 09/09/2022 15:54 • B > 0, a utilidade que esse eleitor recebe em caso de vitória de seu candidato preferido;• C > 0, o custo de votar; • , a probabilidade de o voto do eleitor ser pivotal para o candidato j, ou seja, de o voto desse eleitor lhe conceder a vitória. Assim, o eleitor que prefere j decidirá votar em j caso: Do contrário, ele deverá preferir a abstenção. Intuitivamente, isso significa que a probabilidade de o voto ser pivotal, multiplicada pelo benefício da eleição do candidato j, deve ser maior que o custo de se votar. Embora o custo de se votar em geral seja baixo, ele não é inexistente. Vamos pensar juntos na jornada de um eleitor: Apesar de serem contratempos pequenos, se colocados na balança contra a probabilidade de ser um voto pivotal, parece pouco razoável que o custo seja menor do que essa probabilidade multiplicada pelo benefício da eleição do candidato j, uma vez que essa probabilidade é próxima de zero. Quanto maior a população de um país, menor a probabilidade de o voto ser pivotal. Ainda assim, em países como o Brasil e Estados Unidos, que têm populações com centenas de milhões Pj ∈ [0, 1] P j × B > C O eleitor precisa tirar o título de eleitor. Verificar a zona eleitoral. Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 26 of 40 09/09/2022 15:54 de pessoas, as pessoas votam. Como compreender esse paradoxo? Resposta Motivados por esse paradoxo, Gerber et al. (2008) fazem um experimento para compreender como as normas sociais afetam a participação política. Particularmente, os autores investigam se o dever cívico e a pressão social são capazes de exercer algum efeito causal sobre a participação dos eleitores. Para fazer esse estudo, os autores enviaram quatro tipos de cartas diferentes para domicílios de eleitores registrados durante as eleições primárias de 2006 em Michigan, Estados Unidos. Cada uma dessas cartas tinha um teor diferente no texto, buscando enfatizar determinado aspecto das normas sociais. Assim, cerca de 80.000 famílias receberam uma das quatro correspondências, enquanto outras 100.000 foram consideradas grupo de controle e não receberam nenhuma correspondência. Ao todo, havia quatro grupos de tratamento, cada um com cerca de 20.000 famílias, cada um com um tipo de correspondência diferente. A divisão entre as correspondências do grupo de tratamento ou grupo de controle foi aleatória. Os quatro grupos de tratamento foram divididos da seguinte forma: Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 27 of 40 09/09/2022 15:54 Dever cívico As famílias desse grupo receberam uma carta com apenas um lembrete de que votar é um dever cívico: “Lembre-se de seus direitos e responsabilidades como cidadão. Lembre-se de votar.” Efeito Hawthorne A carta continha uma mensagem em forma de pressão social que captura o efeito de estar sendo observado por pesquisadores: “Você está sendo estudado”. O objetivo era capturar o efeito de mudança comportamental que ocorre apenas por um indivíduo saber que está sendo observado ou estudado. Pressão social intradomiciliar Informa aos destinatários da carta que a participação eleitoral, isto é, a informação de quem vota, é pública, e envia junto com a carta uma lista com o registro de comparecimento recente dos eleitores do domicílio. Além disso, ao final da carta há uma “ameaça" de enviar uma nova carta com o comparecimento atualizado após as próximas eleições. Pressão social de vizinhança Semelhante à carta anterior, aumenta a pressão social listando não apenas os registros da votação do domicílio, mas também os registros de votação das pessoas que moram nas proximidades. Ao final, ameaça divulgar em nova carta o comparecimento atualizado da vizinhança após as próximas eleições. Os autores então acompanham a taxa de participação dos quatro grupos e comparam com a taxa de participação do grupo de controle (ou seja, o grupo que não recebeu nenhum tipo de carta). Eles descobrem que: A participação aumenta marginalmente quando o dever cívico é instigado e dramaticamente quando a pressão social é aplicada, Resultado Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 28 of 40 09/09/2022 15:54 tanto intradomiciliar quanto a de vizinhança. Para sermos mais precisos, a taxa de participação do grupo de controle foi de 29.7%, contra 31.5% da participação do grupo de dever cívico e 32.2% do grupo do efeito Hawthorne. Os grupos de pressão social, por outro lado, tiveram participação de 34.5% (intradomiciliar) e 37.8% (vizinhança). Assim, vemos que, por trás da decisão de votar, existem fatores que vão para além dos benefícios adquiridos pela eleição de um candidato preferido. Contudo, a validade externa do artigo é limitada, e seus resultados podem não ser aplicáveis a outros contextos. Por exemplo, é possível que a pressão social seja um determinante mais fraco do voto no Brasil, um país onde o voto é obrigatório, ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos. Embora seja possível faltar às eleições e justificar o voto, um cidadão pode considerar isso mais custoso do que ir até a urna e escolher um candidato. Vamos entender melhor a decisão do voto? Neste vídeo, serão apresentados fatores que afetam a decisão de comparecer às eleições. Motivos para votar Funk (2010) segue a mesma motivação do artigo anterior e busca compreender o porquê de as pessoas votarem apesar do paradoxo do Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 29 of 40 09/09/2022 15:54 voto. A autora aproveita um experimento natural que ocorreu na Suíça com a introdução do voto por correio, como alternativa ao voto presencial. Embora o voto opcional por correio possa ser considerado uma política de incentivo ao voto, a facilitação do voto pode ter efeitos contraditórios sobre a participação dos eleitores. O motivo são os efeitos opostos que o voto por correspondência tem sobre os incentivos econômicos e sociais ao voto. Incentivos econômicos Por um lado, há o efeito sobre os incentivos econômicos de uma redução nos custos de votação, o que pode gerar um efeito positivo na participação. Incentivos sociais Por outro lado, do ponto de vista dos incentivos sociais, a votação pelo correio ou pela Internet torna o ato de votação inobservável, o que pode gerar um efeito negativo na participação. Se a pressão social é um fator importante na decisão de votar, então a opção de voto pelo correio oferece uma oportunidade para escapar dessa pressão. Consequentemente, quanto mais questões sociais importarem para as decisões de voto, maior o trade-off entre a redução de custos e a redução nos incentivos sociais. A autora explora também variações nos tamanhos de população dos cantões suíços. A hipótese que fundamenta essa estratégia é que um grande número de estudos antropológicos documenta que o controle social é particularmente forte em comunidades pequenas e estreitas. Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 30 of 40 09/09/2022 15:54 Pessoas se conhecem mais e conversam sobre quem cumpre seu dever cívico e quem não o faz. Nesse sentido, é esperado que, com o alívio da pressão social, o efeito social negativo sobre a participação seja maior em pequenas comunidades. A experiência suíça é um exemplo particularmente vantajoso para estudar essa questão, uma vez que a votação presencial nunca foi substituída pela votação pelo correio e nem foram fechadas as assembleias de voto durante o período de investigação. Isso permitiu que a autora identificasse o efeito da pressão social. Como ir às urnas sempre foi uma opção, o principal efeito social do voto por correspondência foi a remoção da pressão social, e não a remoção dos benefícios decorrentes do voto. O artigo mostra que o efeito esperado do aumento da participação dos eleitores pelo incentivo econômico de redução dos custosnão ocorreu. A introdução do voto opcional pelo correio aumentou a participação agregada dos cantões nas eleições parlamentares em 2,2 pontos percentuais, mas o efeito não foi estatisticamente significante. Por outro lado, a autora encontra efeitos heterogêneos em cantões com estruturas diferentes: Em cantões cujas comunidades são maiores que 1.000 habitantes, há um aumento 6,5 pontos percentuais na participação. Em contraste, a participação diminuiu 7 pontos Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 31 of 40 09/09/2022 15:54 A autora justifica os resultados como uma mudança nos incentivos sociais, provavelmente nos benefícios externos da adesão às normas. Sob o sistema de votação presencial, havia pressão social para votar, que era particularmente forte em comunidades pequenas. Com a opção do voto por correspondência, um eleitor por correspondência e um não eleitor tornaram-se equivalentes em termos de observação, o que removeu a pressão social para votar nas comunidades menores. Outros tipos de pressão social podem estar em jogo também, como: Estereótipos culturais Segurança Mobilidade limitada Diversos outros custos potenciais para votar Gine e Mansuri (2012) estudam o papel da informação sobre a participação eleitoral feminina no Paquistão, onde há consideráveis barreiras culturais à participação das mulheres. percentuais no cantão com a maior proporção (36%) de cidadãos vivendo em pequenas comunidades. Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 32 of 40 09/09/2022 15:54 Sabemos que, apesar de as mulheres corresponderem à metade da população mundial, há um atraso histórico em relação à conquista de seus direitos políticos. Embora tenha ocorrido um movimento pelo sufrágio feminino na maioria das democracias ocidentais no último século, ainda há enormes diferenças na participação política entre homens e mulheres, tanto como eleitoras quanto como candidatas ou políticas eleitas. Os autores listam uma série de barreiras à participação feminina que podem afetar, particularmente, mulheres em países em desenvolvimento. Por exemplo: • Os custos à participação podem ser demasiadamente elevados devido a tradições ou estereótipos culturais que desencorajem o exercício das preferências das mulheres; • Restrições à mobilidade que limitem a participação. Além disso, se houver questões de segurança, como intimidação ou violência, as preocupações com a segurança pessoal também podem ser maiores entre as mulheres. Outro fator cultural que pode limitar a participação das mulheres é a estrutura domiciliar, na qual homens podem não querer que suas mulheres votem ou podem tentar controlar seu voto, buscando manter seu poder de barganha dentro do domicílio. Ademais, mulheres podem ter acesso a menos fontes de informação sobre a importância da participação política ou sobre o processo de votação, possivelmente por conta do analfabetismo e mobilidade limitada, que em muitos países incidem de maneira mais relevante entre elas (esses são apenas dois entre os muitos impactos negativos da desigualdade de gênero). A falta de informação pode também reforçar estereótipos Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 33 of 40 09/09/2022 15:54 que afastam mulheres ainda mais da vida pública. Nesse sentido, os autores indagam se a falta de informação sobre processo eleitoral é barreira relevante para participação política de eleitoras, e até que ponto interações sociais entre mulheres podem incentivar a participação eleitoral em forma de spillover (externalidade). Eles testam essas ideias conduzindo um experimento de campo que forneceu informações às mulheres sobre o processo de votação e a importância do voto, por meio de uma campanha eleitoral apartidária de porta em porta pouco antes das eleições nacionais de 2008, no Paquistão. Como as taxas de alfabetização eram baixas entre as mulheres do meio rural, a campanha foi desenvolvida na forma de visitas porta a porta, composta por recursos visuais simples e um roteiro limitado com duas mensagens: Um grupo de mulheres-alvo recebeu apenas a primeira mensagem, e outro grupo recebeu ambas, permitindo que os autores testassem se o conhecimento sobre o processo de votação aumenta a participação feminina e a independência na escolha de um candidato. O experimento foi conduzido numa área rural do Paquistão. Os pesquisadores dividiram as aldeias em grupos geográficos, de modo que cada grupo estava inteiramente dentro da área de influência de uma assembleia de voto. Os grupos de aldeias foram divididos aleatoriamente entre: A importância do voto Que focava na relação entre o processo eleitoral e as políticas públicas. O signi�cado do voto secreto Que explicava o processo de votação real para essas mulheres. Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 34 of 40 09/09/2022 15:54 Um dos dois tratamentos Apenas uma mensagem, ou ambas as mensagens. Grupo de controle Não recebia nenhuma intervenção (ou seja, nenhuma mensagem). Dado que a votação provavelmente sofre influência do comportamento de pessoas em determinado grupo ou rede social, a medida de externalidades (spillover) de informação foi um aspecto-chave do estudo. Como resultado, apenas um subconjunto da amostra de domicílios dentro do grupo de aldeias de tratamento foi alvo da campanha de informação. Isso permitiu que os autores pudessem medir os spillovers de informação. Como os grupos de aldeias foram definidos inteiramente por critérios geográficos, há uma variação aleatória no número de mulheres-alvo da campanha de informação em qualquer assembleia de voto. Os autores usaram essa variação para estudar o impacto da campanha de informação na participação e nas votações nos partidos, por gênero. Vamos ver agora o resultado: Os resultados mostraram que a participação aumenta entre 9 e 13% para mulheres-alvo nos grupos de tratamento em comparação com mulheres nos grupos de controle, com efeitos mais fortes para mulheres expostas a ambas as mensagens da campanha de informação. Além disso, os autores encontraram taxas de participação semelhantes para mulheres que não foram alvo da campanha de informação nos grupos de tratamento, indicando que houve efeitos de spillover geográficos substanciais. Em contraste, os autores não encontraram nenhum efeito sobre Resultado Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 35 of 40 09/09/2022 15:54 a participação masculina, sugerindo que o fornecimento de informações sobre o processo eleitoral e de votação é menos importante para os homens, ou que os homens simplesmente não são influenciados pelas informações fornecidas às mulheres. Os autores também encontraram evidências de que a campanha influenciou a escolha do candidato e do partido. As mulheres- alvo da campanha apresentaram uma probabilidade menor de votar no partido vencedor, o que também se verifica para as mulheres não alvo. Os resultados sugeriram que a campanha poderia ter influenciado o eleitorado de maneira geral e, portanto, a agenda política, se tivesse sido implementada em uma escala maior. As mulheres do grupo de tratamento também se mostraram mais propensas do que as mulheres nos grupos de controle a selecionar um candidato diferente do candidato escolhido pelo “chefe da família”, do sexo masculino. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Sobre Gerber et al. (2008), responda: qual das alternativas a seguir não representa um dos quatro grupos de tratamento estudados pelos autores? Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 36 of 40 09/09/2022 15:54 Parabéns! A alternativa A está correta. Osautores queriam investigar se o dever cívico e a pressão social seriam capazes de exercer algum efeito causal sobre a participação dos eleitores. Assim, eles enviaram quatro tipos de cartas diferentes, enfatizando determinado aspecto de normas sociais. A única norma social que não representa um dos grupos estudados é 'dever identitário'. A Dever identitário. B Pressão social intradomiciliar. C Pressão social da vizinhança. D Efeito Hawthorne. E Dever cívico. Questão 2 Segundo o estudo de Gine e Mansuri (2012), há custos associados à participação das mulheres em países em desenvolvimento. Nesse contexto é correto afirmar que, nesses países, as mulheres Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 37 of 40 09/09/2022 15:54 Considerações �nais Como vimos, não existe uma única resposta correta para a agregação de preferências. Escolhas coletivas apresentam muitos desafios e diferentes regras adotadas podem levar a diferentes resultados. A ordem das alternativas importa, a composição do eleitorado importa, e Parabéns! A alternativa B está correta. Os autores investigam a hipótese de que mulheres podem ter acesso a menos fontes de informação sobre a importância da participação política ou sobre o processo de votação, possivelmente por conta do analfabetismo e mobilidade limitada desse grupo de pessoas. Isso representaria custos de participação para as mulheres, os quais poderiam ser reduzidos com uma campanha de informação, que é a intervenção realizada pelos autores. A são proibidas de votar por lei. B podem ser menos escolarizadas e ter menos acesso a fontes de informação. C precisam sair para trabalhar. D precisam ficar em casa cuidando dos filhos. E não gostam de votar. Introdução à Economia Política https://stecine.azureedge.net/repositorio/00212ge/02285/index.html# 38 of 40 09/09/2022 15:54 os incentivos também importam. Por isso, economistas e formuladores de políticas públicas devem levar em consideração diversos fatores na hora da tomada de decisão, atentando-se para as perdas e os ganhos dos diversos agentes envolvidos. Além disso, apresentamos também o paradoxo do voto e os diversos fatores que determinam a escolha de votar. Aprendemos que existem custos e benefícios envolvidos nessa decisão e que a mudança de regras ou do processo eleitoral pode afetar os resultados das eleições, às vezes até de maneira inesperada. Podcast Neste podcast, será feita uma revisão do conteúdo visto até aqui. Referências DOWNS, A. An economic theory of political action in a democracy. Journal of Political Economy, v. 65, n.2, p. 135-150, 1957. FUJIWARA, T. Voting technology, political responsiveness, and infant health: evidence from Brazil. Econometrica, v. 83, n. 2, p. 423-464, 2015. Consultado na internet em: 9 nov. 2021. FUNK, P. 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