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SERVIÇOS EM SAÚDE E DEONTOLOGIA EM ENFERMAGEM 2 2 Sumário NOSSA HISTÓRIA........................................................................................... 3 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 4 ÉTICA E DEONTOLOGIA EM SAÚDE ............................................................ 6 CONCEITUAÇÃO DE BIOÉTICA ................................................................. 8 CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO ...................................................14 HISTÓRICO DO CÓDIGO DE ÉTICA DE ENFERMAGEM .........................16 PONTOS IMPORTANTES DO ATUAL CÓDIGO DE ÉTICA DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM ......................................................................21 DEONTOLOGIA E O ABORTAMENTO ..........................................................25 DEONTOLOGIA E EUTANÁSIA .....................................................................27 TRANSFUSÃO SANGUÍNEA .........................................................................28 IMPLICAÇÕES LEGAIS NA PRÁTICA DE ENFERMAGEM ...........................29 SIGILO PROFISSIONAL .................................................................................31 REMOÇÃO DE ÓRGÃOS, TECIDOS E PARTES DO CORPO HUMANO PARA FINS DE TRANSPLANTE E TERAPÊUTICOS: ASPECTOS LEGAIS E DEONTOLÓGICOS ...................................................................................................33 REFERÊNCIAS ..............................................................................................44 3 3 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós- Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 4 4 Vídeos de Apoio Com o intuito de contribuir mais um pouco para a apreensão do seu conhecimento acadêmico, de forma didática e também prática, alguns links de vídeos serão disponibilizados no decorrer desta apostila. Assim, antes de iniciar a leitura deste material didático, será necessário acessar e assisti-los. Para tanto, tenha toda sua atenção voltada para esse momento e, se sentir necessidade, retome a leitura ou mesmo assista novamente ao vídeo. Vídeo 1: A Abordagem Deontológica – Bioética Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=EDVgUmECp0A > Sinopse: o vídeo aborda sobre as origens da deontologia, sua teoria, a teoria de Kant, . Vídeo 2: 01 Ética, bioética e deontologia. FUNCARJ Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=0Sn0KD8YG_E > Sinopse: o vídeo vem tratar de alguns conceitos chave de forma objetiva, visto que não é muito cobrado, mas é importante conhece-los pois encontra-se no conteúdo programático do edital da FUNCARJ no concurso em Macururé-BA, para o cargo de enfermeiro. INTRODUÇÃO O termo “Ética” diz respeito ao comportamento certo e errado. Em enfermagem, o código de ética aprovisiona as diretrizes para uma assistência segura. A ética consiste no estudo da boa conduta, do caráter e dos motivos, estando relacionada com a determinação do que é valioso para os indivíduos. Os atos éticos geralmente retratam um compromisso com padrões além das preferências pessoais. Estes com os quais os indivíduos, as profissões e as sociedades concordam. https://www.youtube.com/watch?v=EDVgUmECp0A https://www.youtube.com/watch?v=0Sn0KD8YG_E 5 5 A Deontologia é a ciência que estuda os deveres de um grupo de profissionais. Todo profissional possui seus deveres e seus direitos, assim como na área da enfermagem. Esse conjunto de regras e condutas deve ser seguido pelos profissionais de enfermagem. 6 6 ÉTICA E DEONTOLOGIA EM SAÚDE Diferenciando moral de ética temos que a primeira baseia-se em todo contexto que envolve a obediência aos bons hábitos e costumes. Já a ética fundamenta-se em ações exclusivas morais de forma racional. Na filosofia clássica a ética não era pautada apenas no que diz respeito à moral, ela procurava embasamento em fundamentos teóricos para compreender uma forma melhor de se viver e conviver, ou seja, buscando o ideal estilo de vida no âmbito privado e público. Neste contexto, a ética concentrava os campos de conhecimento que hoje em dia são descritas como Antropologia, Psicologia, Política e Educação, por exemplo. A Revolução Industrial teve importante papel na forma de pensar da sociedade. Atualmente a ética é uma disciplina independente de outras, desse modo, pode-se afirmar que esta é uma área da filosofia focada no estudo das normas morais da sociedade. A ética procura justificar e explicar certos costumes de determinado grupo ou população, auxiliando também a encontrar a solução dos questionamentos mais comuns existentes. Não pode-se confundir lei com ética, contudo estas devem sempre estarem associadas. Diferenciando as duas, lei diz respeito às normas e direitos, já a ética pauta conduta e ações. Infringir à ética não representa que o indivíduo cometeu um ato de infração ou um crime, dessa forma, geralmente este ato não indica que este receberá alguma penalidade ou sanção por algum motivo. A palavra “Moral” se origina do termo latino Morales, isto significa “relativo aos costumes”. A moral determina regras que são assumidas pelo indivíduo, como maneira de assegurar o seu bem-viver. Esta não depende de fronteiras geográficas e certifica uma identidade entre pessoas utilizam um mesmo referencial moral comum, e nem mesmo se conhecem. 7 7 Na filosofia contemporânea a Deontologia é uma das teorias na qual as escolhas são moralmente necessárias, proibidas ou permitidas. A deontologia pode ser aplicada quando está ligada a profissão, sendo denominado deontologia profissional. Baseia-se no regimento do direito, dever e proibição do que se pode ou não ser feito no campo em que o indivíduo atua. Por isso a entendemos como um conjunto de atitudes que norteiam o que pode, deve ou não ser feito de maneira descritiva e prescritiva. Cada profissão possui uma normativa deontológica própria que regula e forma o que chama-se de código de conduta e ética profissional. O código de ética profissional é uma ferramenta que contém as obrigações, os deveres e as normas que devem ser seguidas à risca, sendo os indivíduos que não as segue sujeitos a sanções e punições quando determinadas. 8 8 CONCEITUAÇÃO DE BIOÉTICA MORI (1994) destaca: A bioética como a conhecemos hoje nasceu nos Estados Unidos entre o final dos anos 1960 e o começo dos anos 1970, quando uma sériede fatores histórico culturais chamaram a atenção para a ética aplicada. Enquanto anteriormente os filósofos tinham sobretudo interesse “meta-ética” (estudo da linguagem moral) ou, no máximo, na “ética normativa” (estudo das várias teorias normativas), no decorrer de poucos anos tem se acentuado o interesse para com as questões práticas. Os fatores que têm contribuído para esse processo são muitos e vale a pena lembrar alguns escândalos relativos à experimentação clínica; o transplante do coração (1967); os problemas levantados pela impossibilidade de generalizar a diálise; assim como questões mais gerais como aquelas relativas à desobediência civil dos jovens que deviam ir à guerra do Vietnã. Contudo, é indubitável o papel central e decisivo assumido antes pela questão do aborto, em seguida, ainda nos anos de 1970, pelas questões que dizem respeito à morte e que foram levantadas pelo célebre casa de Karen Ann Quinlan. MORI (p. 332- 341,1994) O palavra bioética é um neologismo criado pelo médico Van Rensslaer Potter no ano de1970, este chama a atenção sobre a exigência de um novo relacionamento entre o homem e a natureza. Potter analisou que o homem estava se tornando para a natureza aquilo que o câncer é para o homem. Dessa forma, colocou como crucial a mudança a relação entre homem e natureza, devendo a bioética ofertar as indicações adequadas, Para Potter, a bioética é baseada na biologia, estendendo o seu âmbito para afora da sua área descritiva tradicional, que veio a inserir no próprio campo de indagação, normas e valores. Desse modo, a bioética tornou-se um tipo de ‘ética científica” que possui como intuito a garantia da sobrevivência humana e da qualidade da vida. Exposta de outra maneira, se constitui uma nova e geral “visão científica” do mundo que, ao fixar principalmente a atenção sobre os problemas do desenvolvimento e da população, considera os problemas emergentes no campo sanitário. O termo “bioética” tem-se imposto de forma fascinante à atenção pública e tem certamente oferecido uma contribuição efetiva à afirmação do movimento cultural e à 9 9 disciplina correspondente. Com efeito, tem servido como catalisador para coordenação de inúmeras reflexões ante dispersas, possibilitando identificar um ponto de vista que lhe garantisse uma nova dignidade intelectual. A bioética se preocupa com as questões pertinentes à vida humana, do seu início ao seu fim, à pesquisa com seres humanos, à engenharia genética, métodos de fecundação, transplante de órgãos, manutenção da vida, pacientes terminais, dentre outros temas. Desta forma, pensar em bioética pode significar refletir o cotidiano profissional, as relações estabelecidas com os colegas de trabalho, com os pacientes, com a instituição de saúde. Por outro lado, mesmo que não se tenha consciência, todos tomam decisões morais, como ao priorizar o nosso fazer, o uso qualitativo do tempo, ao delegar tarefas a diferentes membros da equipe, ao selecionar e aceitarmos determinados materiais para assistir os pacientes, ao prescrever cuidados, ao se relacionar com os outros como um todo. Valéria Lerch Lunardi, destaca: Há as normas de comportamento e os modos pelos quais os indivíduos decidem conduzir-se e constituir-se a si mesmos como sujeitos morais das suas ações frente aos códigos prescritivos e as normas morais, de modo a que não atuem apenas como agentes e objetos, mas como sujeitos morais do seu agir. Para ser sujeito moral das nossas ações, não é compatível apenas obedece r a uma moral imposta, o que, muitas vezes, é realizado de um modo automático, mecânico e, quem sabe, rotineiro; para ser sujeito moral nas relações com o outro, é preciso ser um sujeito autônomo e agir, voluntariamente, frente a certos valores. É preciso pensar, decidir, refletir e questionar o nosso fazer, a nossa situação no mundo, enfim, é preciso problematizar as nossas práticas e perguntarmos se o que é, o que existe e se o que se faz, necessariamente, deve continuar acontecendo e se fazendo deste modo. LUNARDI (p. 655-664, 1998) No cotidiano profissional, podem ser muitas as vivências em que o paciente não possui sua condição de pessoa reconhecida, visto que diversas vezes ele não recebe o direito de decidir, de optar, de consentir ou recusar um tratamento proposto pela equipe de saúde. 10 10 Os pacientes devem ser esclarecidos acerca das diversas perspectivas de tratamento existentes em uma instituição de saúde ou em outras, bem como suas vantagens e desvantagens, implicações, responsabilidades, de forma que livremente consigam refletir e decidir o que desejam para si, reconhecendo sua condição de responsável e participante direto nas questões de sua saúde. A Bioética surgiu em meados do século XX, em razão do grande desenvolvimento da Medicina e das ciências, que caminharam gradativamente mais para a transformação da vida humana e a promoção do conforto, assim como para a utilização de cobaias vivas. Com intuito de evitar situações deprimentes, como aquelas visualizadas nos campos de concentração nazistas e de técnicas médicas que abalassem os princípios vitais dos indivíduos, mostrou-se como meio de problematizar o que está inexplorado na pesquisa científica ou na técnica médica quando elas envolvem a vida. A importância social da Bioética baseia-se, diretamente, no fato de que ela busca impedir que a vida seja impactada ou que algumas formas de vida sejam considerados inferiores a outras. A Bioética debate, por exemplo, o uso de células- tronco embrionárias em diversas situações, assim como a questão do aborto para retirar tais células e pelos benefícios que os tratamentos obtidos por esse recurso podem promover para as pessoas. Em relação aos princípios da bioética foram estabelecidos quatro considerados básicos que devem orientar o trabalho das ciências que utilizam cobaias, assim como as técnicas biomédicas e médicas que atuam de forma direta com a vida. Estes possuem ligação com as teorias éticas conhecidas e ganham um novo contorno em suas formulações voltadas para a vida animal. O Princípio da não maleficência, diz respeito a proibição de causar qualquer dano intencional ao paciente ou às cobaias de testes científicos. O Princípio da beneficência visa provocar o maior benefício para o maior número possível de pessoas. O Princípio da autonomia trata-se do respeito à autonomia do indivíduo, pois 11 11 esse é o responsável por si, e é ele que decide se quer ser tratado ou se quer participar de um estudo científico. Já o Princípio da justiça visa a criação de um mecanismo regulador da relação entre paciente e médico, a qual não deve ficar submetida mais apenas à autoridade médica. As raízes da bioética situam-se historicamente pautadas na evolução das ciências médicas. O uso indiscriminado de antibióticos e técnicas artificiais de respiração, popularizado nos anos 50 e 60, abrem perspectivas novas de prolongar a vida humana. Com a primeira transferência renal realizada com êxito, no ano de 1954, parâmetros até então hegemonicamente considerados em relação a morte cerebral tornaram-se contestáveis e moralmente controversos. A introdução da pílula anticoncepcional no mercado incitou uma mudança extrema na prática sexual, o que trouxe também possibilidades de planejamento familiar e profissional inimagináveis até a década de 60 do século XX. A criação de métodos mais seguros e legalmente disponíveis de interrupção da gravidez levou a uma reavaliação das práticas usuais do aborto. HECK (2005), destaca: A bioética trabalha com evidências fatuais que têm por objeto um próximo existente e/ou próximos ausentes. A disciplina trata de temas específicos como nascer/não nascer (aborto), morrer/não morrer (eutanásia), saúde/doença (ética biomédica),bem-estar/mal-estar (ética biopsicológicas) e se ocupa de novos campos de atuação do conhecimento, como clonagem (ética genética), irresponsabilidade perante os pósteros (ética de gerações), depredação da natureza extra-humana circundante e agressões ao equilíbrio sistêmico das espécies (ecoética), e assim por diante. HECK (p.123-139, 2005) No meio das diversas práticas da bioética ressalta-se atividades terapêuticas em sentido vasto. Todo e qualquer exercício das relações profissionais de médicos, enfermeiros, dentistas, e demais trabalhadores especialistas em saúde e doença, assim como os usuários das novas técnicas biomédicas e farmacológicas tornaram- se alvos do discurso bioético. 12 12 A ética acompanha a sociedade há vários séculos, promovendo momentos de reflexão, e, trazendo para sociedade novas formas de pensar as ações humanas. Como uma ciência prática que trata de atos práticos e por isso ela possibilita a promoção de reflexões filosóficas sobre a conduta do ser humano. À medida que surgiam questões e situações que escapavam à esfera dos princípios, buscavam-se mecanismos para o seu enquadramento como por exemplo a redução da problemática de vulnerabilidade apenas à questão da justiça distributiva, ou a desqualificação da problemática. Dessa forma, notou-se que aos poucos a “teoria dos princípios” era insuficiente, para permitir a reflexão filosófica, e vale dizer ética, de modo profundo e abrangente. Figura 1: Princípios Bioéticas A teoria dos princípios é necessária, no entanto, insuficiente, passando a se encarar a bioética como um campo restrito à aplicação dos 4 princípios, de modo simplista e superficial, estes que estão destacados na figura acima. É necessário destacar, que estes há bastante tempo possuíam sua presença e importância já dispostas na prática e na teoria médica. 13 13 A não maleficência já era expressada no Juramento Hipocrático há cerca de 25 séculos. Da mesma maneira, a beneficência, ainda que focalizada de forma paternalista, à semelhança da proposição de Platão na “República”. Atualmente, a beneficência diz respeito a avaliação crítica de benefícios frente aos riscos. A autonomia concretizada na sociedade ocidental a partir dos séculos XVII e XVIII (com as Revoluções democráticas e com filósofos como Spinozas, Kant, John Locke) já fora incorporada aos Códigos de Ética, refletindo-se nos direitos do sujeito (paciente). A justiça e a equidade já eram amplamente discutidas desde o tempo de Sócrates, Platão e Aristóteles. Deve-se reconhecer que a bioética está vinculada a uma intensa mudança de caráter de época e que a referência a princípios é indispensável. De fato, a adesão de um princípio em lugar de outro requisita a definição de uma direção, e desse ponto de vista o essencial é compreender se o pensamento proposto ampara ou não a presença de deveres absolutos. Dessa forma têm-se a ideia que quem insiste na centralidade da virtude, ou do caso clínico, queira evitar tomar uma posição sobre as escolhas de fundo acerca da direção geral da pesquisa. Maurizio Mori, leciona: Por isso, às vezes parece que o apelo a tais noções mais amplas e genéricas seja nada mais do que um expediente habilitado para recolocar as posições tradicionais com roupa nova. Com efeito, não se deve esquecer que nem sempre é fácil dar o “salto gestáltico” requerido pelo abandono de um princípio, devido aos profundos sentimentos propostos pela ética tradicional, razão pela qual pode acontecer que no caso concreto tais sentimentos enraizados prevaleçam e venham a afirmar soluções tradicionais que do ponto de vista teórico (após ampla reflexão) são reconhecidos como insustentáveis. Parece-me que a bioética deve ser referir a princípios porque, assim, se esclarece imediatamente o rumo tomado em direção às escolhas de fundo que as grandes transformações históricas da medicina contemporânea impõem à humanidade. MORI (p. 332-341,1994) 14 14 CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO O indivíduo, quando considerado autônomo, tem o direito de consentir ou não sobre o tratamento ao qual será submetido; seja ele de caráter diagnóstico, para prevenção, ou mesmo de caráter terapêutico que afetem de maneira direta ou indireta a sua integridade biopsicossocial e física. O consentimento requerido pelas autoridades de saúde para a realização de procedimentos ou mesmo participação em estudos científicos é advindo de algumas posições filosóficas que consideram a autonomia do ser humano como soberana e relativa podendo ser questionada em tribunais por uma corte superior. Todo consentimento deve ser dado de maneira espontânea e consciente e nunca obtido sob ameaça física, psicológica ou moral. Também não deve ser obtido de forma enganosa mediante manipulação de familiares, amigos e muito menos por profissionais de saúde. O profissional de saúde pode valer de argumentos que convençam o indivíduo a aceitar o tratamento, sempre feito de forma persuasiva que apelem para a razão, mas não admitindo coação em nenhuma hipótese. Todo procedimento e tratamento devem ser informados de como será feito e o que será executado ou estudado. A informação é a base decisória para que o paciente aceite ou recuse. Todo esclarecimento deve ser feito da maneira mais clara e objetiva possível, com uma linguagem simples, respeitosa e dentro dos padrões culturais que o paciente apresente. É preciso que seja relatado ao paciente sobre a natureza e os objetivos dos procedimentos diagnósticos, preventivos ou terapêuticos; duração dos tratamentos, dos benefícios, prováveis desconfortos, inconvenientes e possíveis riscos físicos, psíquicos, econômicos e sociais que possa ter. A pessoa deve ser informada da eficácia das medidas propostas, sobre as probabilidades de alteração das condições de dor, sofrimento e de suas condições patológicas, ou seja, deve ser esclarecido em tudo aquilo que possa fundamentar suas decisões. Quanto aos riscos, devem 15 15 compreender sua natureza, magnitude, probabilidade e a iminência de sua materialização. Embora a pessoa deva ser informada sobre tudo que lhe acontece no tratamento ao qual está sendo sujeitada, ela pode fazer a escolha de não ser informada, pois ser informado é um direito e não uma obrigação para o paciente. Ele tem o direito de recusar-se ser informado. Nesses casos, os profissionais de saúde devem questioná- lo sobre quais parentes ou amigos quer que sirvam como canais das informações. Para validar-se tal direito o paciente deve ter clara compreensão que é dever do profissional de saúde informá-lo sobre os procedimentos propostos e que tem o direito moral e legal de tomar decisões sobre seu próprio tratamento. Deve também compreender que os profissionais não podem iniciar um procedimento sem sua autorização, exceto nos casos de iminente perigo de vida. Uma vez dado o consentimento, este não é imutável. O consentimento pode ser dissolvido a qualquer momento em interesse do paciente, um acidente automobilístico independe de assinatura de termo de consentimento para que o paciente seja tratado. O termo de consentimento é um documento legal, assinado pelo paciente ou por seus responsáveis com o intuito de respaldar juridicamente a ação dos profissionais e dos estabelecimentos hospitalares. A ação dos profissionais de saúde nas situações de emergência, em que os indivíduos não conseguem expor seus desejos ou dar seu consentimento, fundamenta-se no princípio da beneficência, assumindo o papel de protetor natural do paciente por meio de ações positivas em favor da vida e da saúde. Nas situações de emergência aceita-se a noção da existência de consentimento presumido ou implícito, pelo qual supõe-se que a pessoa, seestivesse de posse de sua real autonomia e capacidade, se manifestaria favorável às tentativas de resolver causas e/ou consequências de suas condições de saúde. 16 16 HISTÓRICO DO CÓDIGO DE ÉTICA DE ENFERMAGEM O Código de Ética Profissional é caracterizado como uma série de normas, direitos e princípios morais que fundamentam a orientação do exercício de dada profissão, por meio de padrões de condutas que descrevem o que se espera dos profissionais. Cada profissão elabora um código com intuito de fornecer recursos para prática profissional, além de prover informações que visam à proteção do trabalhador, assim como todos que dependem deste. Em alguns Códigos de Ética Profissional estão elencadas as infrações e penalidades que devem ser realizadas à aqueles que não cumprirem os preceitos éticos e legais no âmbito de sua atuação. O Código de Ética Profissional de Enfermagem (CEPE) possui como intuito o estabelecimento de parâmetros relativos aos direitos, proibições, deveres e responsabilidades para o exercício da profissão frente às relações profissionais no contexto do cuidado com a pessoa, família e comunidade, as relações com a equipe interdisciplinar, com as organizações da categoria e organização empregadora, o sigilo profissional, o ensino, a pesquisa e a produção técnico-científica e a publicidade, além de estabelecer as infrações e penalidades, independentemente da atuação, na assistência, no ensino, na pesquisa ou no gerenciamento, sendo necessário que todos os profissionais de enfermagem conheçam e façam cumprir os preceitos éticos contidos no CEPE. Analisando o curso dos códigos de ética na área da enfermagem ao longo dos anos, nota-se que o primeiro código de ética da enfermagem em nível internacional recebeu a denominação de Código de Ética para Enfermeiras e foi aprovado pelo Conselho Internacional de Enfermeiras (CIE) em 1953, num evento ocorrido no Brasil, em reunião durante o Congresso Quadrienal de Enfermagem do CIE. Através deste, líderes da enfermagem brasileira deram os primeiros passos para a elaboração do Código de Ética em contexto nacional. As primeiras pesquisas para a criação de um código de ética de enfermagem brasileira foram realizados pela Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn). A 17 17 versão de código proposto possuía 16 artigos, sustentando os preceitos éticos relacionados às outras áreas da saúde, no entanto, oferecia ênfase a expressões como dedicação, discrição, lealdade e confiança, considerando as peculiaridades da enfermagem. No ano de 1975 sofreu uma reformulação, passando a dispor de 18 artigos, sem alteração nos seus fundamentos. DA SILVA et. al (2012), destaca: A lei 5905/73 que cria o Sistema Conselho Federal e Conselhos Regionais de enfermagem (COFEN E COREN) diz, em seu art. 8° – inciso III, que compete ao Conselho Federal a elaboração do Código de Deontologia de Enfermagem e a realização de suas alterações, quando se fizer necessário, ouvindo os Conselhos Regionais, competência essa que já foi exercida por quatro vezes, considerando que o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem se encontra atualmente em sua quarta versão. Dessa forma, com a criação do Sistema Conselho Federal e Conselhos Regionais de enfermagem, deu-se continuidade a estudos realizados por profissionais de enfermagem que integravam a ABEn acerca do código de ética e, em conjunto com o Conselho Federal de Enfermagem, o qual dispõe de competência legislativa, aprovou em 1975, através da resolução COFEN n° 09/1975, o primeiro código que recebeu o nome de Código de Deontologia de Enfermagem. Vale ressaltar que essa resolução só foi publicada no Diário Oficial da União um ano depois, em 29 de março de 1976, motivo pelo qual é comum encontrar publicações citando 1975 e outras 1976 como o ano da criação do primeiro Código de Deontologia de Enfermagem. Esse código já passou por três reformulações, sendo a última aprovada pelo COFEN pela resolução 311/2007, com data de 12 de maio de 2007. DA SILVA et. al (p. 62-66. 2012) O COFEN como órgão fiscalizador do exercício profissional da enfermagem, passou a exigir a execução do que está definido no presente Código de Deontologia de Enfermagem, possuindo competência para determinar penalidades cabíveis frente à não execução. O primeiro código de ética de enfermagem, foi descrito como Código de Deontologia de Enfermagem – resolução COFEN 09/1975, possuía 28 artigos divididos em cinco capítulos, sendo: responsabilidades fundamentais; o exercício profissional; o enfermeiro perante a classe; o enfermeiro perante os colegas e demais membros da equipe de saúde; e um último capítulo acerca das disposições gerais. 18 18 O primeiro capítulo dizia respeito somente as atribuições e o papel do enfermeiro, priorizando uma assistência de enfermagem pautada no indivíduo, na família e na comunidade, possuindo medidas referentes a promoção, proteção, recuperação da saúde, prevenção de doenças, visando o alívio do sofrimento e o desenvolvimento de um ambiente terapêutico. O segundo capítulo abordava os deveres e proibições relativos ao enfermeiro. Possuindo, ainda, algumas afirmativas sobre o que se esperava do profissional. É necessário destacar que naquele contexto já ocorria uma preocupação com o processo de cuidar sistematizado, considerando a presença de artigos que abordavam as atribuições do enfermeiro na realização dos diagnósticos das necessidades de enfermagem do paciente, a fim de elaborar o plano de cuidados e a execução das prescrições de enfermagem. No ano de 1993, o Código de Deontologia de Enfermagem sofreu uma alteração, através da aprovação da resolução COFEN 160, de 12 de maio de 1993, passando a ser chamado de Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (CEPE). Ocorreram ainda mudanças estruturais, inclusive a exclusão do preâmbulo, e aumento do número de artigos para 100, repartidos em nove capítulos: princípios fundamentais; direitos; responsabilidades; deveres; proibições; deveres disciplinares; infrações e penalidades; aplicação das penalidades; e um último capítulo acerca das disposições gerais. No ano 2000, o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem passou por outra reformulação, sendo excluído um artigo entre os 100 da edição anterior. Essa alteração foi determinada pela resolução COFEN 240/2000. A estrutura do CEPE permaneceu a mesma, contando apenas com a supressão do artigo 69, este dizia respeito a publicidade de medicamentos, Provavelmente, devido a ampliação do campo de atuação do profissional de enfermagem na propagação de produtos de uso hospitalar, a plenária do COFEN tenha revisado e excluído o artigo que proibia aos profissionais de enfermagem realizar publicidade de medicamentos ou outro produto 19 19 farmacêutico, instrumental, equipamento hospitalar, valendo-se de sua profissão, considerando-se que atualmente esse é um campo promissor de atuação. No ano de 2007, foi publicada a resolução COFEN nº 311/2007, que aprovava a nova reformulação do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. No entanto, essa resolução só se tornou válida em 12 de maio do mesmo ano, data em que se iniciam as comemorações da Semana de Enfermagem no Brasil. Nessa última alteração, as modificações foram bem maiores, começando pelo número de artigos, que passaram para 132, divididos em sete capítulos: princípios fundamentais; das relações profissionais; do sigilo profissional; do ensino, da pesquisa e da produção técnico-científica; da publicidade; das infrações e penalidades; aplicação das penalidades; e um último capítulo acerca das disposições gerais. É necessário destacar que cada capítulo se subdivide em quatro seções, sendo elas: das relações coma pessoa, família e coletividade; das relações com os trabalhadores de enfermagem, saúde e outros; das relações com as organizações da categoria; das relações com as organizações empregadoras O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem torna flexível a prática profissional no exercício das diversas áreas de atuação da enfermagem, no ensino, na pesquisa, na gerência ou na assistência, de forma que todos os profissionais devem conhecer e fazer cumprir os fundamentos e princípios norteadores de uma prática profissional ética, contidos no Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. Tendo como guia na orientação e segurança para o exercício da enfermagem com qualidade e dignidade humana. Dessa forma, o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem atualmente, representa uma série de normas a serem realizadas pelo profissional de enfermagem, priorizando e valorizando o cuidado de enfermagem com a pessoa, a família e a comunidade numa perspectiva multidimensional. Isso apontando para o dever do empenho do profissional na melhoria da qualidade da assistência prestada ao 20 20 paciente, dentro dos preceitos legais, de forma a assegurar o bem-estar do mesmo, partindo de uma visão integral do ser humano. 21 21 PONTOS IMPORTANTES DO ATUAL CÓDIGO DE ÉTICA DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, no que diz respeito às responsabilidades e deveres afirma: Art. 17 - Prestar adequadas informações à pessoa, família e coletividade a respeito dos direitos, riscos, benefícios e intercorrências acerca da assistência de enfermagem. Art. 18 - Respeitar, reconhecer e realizar ações que garantam o direito da pessoa ou de seu representante legal, de tomar decisões sobre sua saúde, tratamento, conforto e bem estar. COFEN (p.3, 2007) O profissional de enfermagem deve buscar condições que garantam uma assistência livre de riscos, como estabelecido no Código de Ética de Enfermagem em seu décimo segundo artigo: Art. 12 - Assegurar à pessoa, família e coletividade assistência de enfermagem livre de danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência. COFEN (p. 3, 2007) O Código de Ética determina a manutenção do sigilo profissional, cabendo destacar que as ocorrências devem ser registradas pela enfermagem, considerando que erros podem acontecer, no entanto silenciá-los é crime. SCHMIDT (1993), leciona: São considerados crimes: deixar de alertar sobre a periculosidade do serviço a ser prestado; fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre a natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço e garantia de produtos ou serviços; impedir ou dificultar o acesso do consumidor às informações que sobre ele constem em cadastros, bancos de dados, fichas e registros (prontuários)”. SCHMIDT (p.78-79, 1993). Os crimes capitulados no supracitado Código de Defesa do Consumidor, podem ser culposos, quando realizados por imprudência, negligência ou imperícia, ou dolosos, quando são cometidos com a intenção de causar danos. Em relação ao ponto de vista ético e legal, tanto o enfermeiro possui o dever de registrar claramente 22 22 as ocorrências no prontuário do paciente, sendo este confidencial possuindo duas finalidades: 1 - Assegurar uma imagem do registro continuado fornecendo assim aos serviços (ou ao tribunal) o desenrolar das tendências e o curso do processo terapêutico. 2 - Assegurar uma ficha semelhante para cuidados posteriores de saúde. Como tal, é obrigatório fornecer todos os fatos pertinentes a respostas adversas da conduta terapêutica, com descrição real dos fatos. O respaldo legal para o exercício da enfermagem, nestas circunstâncias, encontra-se no Código de Ética de Enfermagem que estabelece como Princípios Fundamentais: A enfermagem é uma profissão comprometida com a saúde e a qualidade de vida da pessoa, família e coletividade. O profissional de enfermagem atua na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde, com autonomia e em consonância com os preceitos éticos e legais. O profissional de enfermagem participa, como integrante da equipe de saúde, das ações que visem satisfazer as necessidades de saúde da população e da defesa dos princípios das políticas públicas de saúde e ambientais, que garantam a universalidade de acesso aos 23 23 serviços de saúde, integralidade da assistência, resolutividade, preservação da autonomia das pessoas, participação da comunidade, hierarquização e descentralização político- administrativa dos serviços de saúde. O profissional de enfermagem respeita a vida, a dignidade e os direitos humanos, em todas as suas dimensões. O profissional de enfermagem exerce suas atividades com competência para a promoção do ser humano na sua integralidade, de acordo com os princípios da ética e da bioética. COFEN (p. 1-2, 2007) Nota-se que a prática da enfermagem procura se basear no princípio da totalidade, considerando sempre o Código de Ética, tanto como os Princípios da sacralidade, o da responsabilidade e o Princípio das virtudes, em particular a justiça. CORREIA (1995), destaca que: O “princípio da totalidade ou princípio terapêutico: é na verdade, o que rege toda liceidade e obrigatoriedade da terapia médica e cirúrgica. (...) Entre as condições para sua aplicação, exige-se: “que não haja outros modos ou meios para deter a doença; que haja uma boa possibilidade e proporcionalmente alta para o êxito”. O princípio da liberdade e da responsabilidade regem que: o assumir a própria vida é condição indispensável para o exercício da liberdade “(...) Médico e paciente ‘são responsáveis pela vida e pela saúde, seja como bem pessoal, seja como que se trate de intervenção sobre a parte doente ou que é causa direta bem social” CORREIA (p.78-80, 1995) A Lei 7.498 de 25 de junho de 1986, dispõe sobre o exercício profissional da enfermagem e seu Decreto, publicado em 8 de junho de 1987, atribuem, respectivamente entre as responsabilidades do enfermeiro: Prevenção e controle sistemático da infecção hospitalar e de doenças transmissíveis em geral;” (art.11, inc.2, al. e). A prevenção e controle sistemático de danos que possam ser causados à clientela durante a assistência de enfermagem” (art. 11, inc. 2, al. f.) Já o Código de Ética de Enfermagem destaca como responsabilidade e dever do enfermeiro: Art. 21 - Proteger a pessoa, família e coletividade contra danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência por parte de qualquer membro da equipe de saúde. 24 24 Art. 38 - Responsabilizar-se por falta cometida em suas atividades profissionais, independente de ter sido praticada individualmente ou em equipe. COFEN (p. 3-5, 2007) A assistência de enfermagem requer assertividade e uma comunicação empática, no entanto, nota-se que a comunicação não verbal possui maior importância, e não há tempo para amplos pensamentos. De outra forma, o relacionamento interprofissional entre os constituintes da equipe de enfermagem, tende a propiciar atitudes causadoras de conflitos, assim como possibilidade de erros por negligência, imprudência ou imperícia, os quais podem levar ao homicídio culposo ou não intencional. Os atos danosos à vida, como por exemplo, a instigação ao suicídio podem ocorrer em consequência de comentários estéticos relativos ao paciente, conversas paralelas da equipe e discussões de problemas profissionais no momento em que o paciente encontra-se anestesiado São atos de perigo à saúde, por exemplo, o perigo de contágio de doenças graves, ao não serem assegurados osprincípios da técnica asséptica, o abandono do paciente anestesiado na sala de operações, a omissão de socorro e maus tratos quando o paciente apresenta alterações hemodinâmicas e estas são pouco valorizadas pela equipe. O enfermeiro, deve reconhecer que a sua pratica profissional não está desvinculada do agir do homem comum reforçado pelo Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. Os conflitos surgem quando os princípios éticos não são considerados, sendo estes compreendidos como tudo aquilo que colide com o que é correto. Para sua resolução é preciso ocorrer a harmonização da equipe de enfermagem para a elaboração de princípios que a contemplem e o paciente, podendo influenciar positivamente a organização do trabalho e favorecer a construção de objetivos comuns, intensificando a articulação entre os profissionais e a atuação da equipe multiprofissional. 25 25 DEONTOLOGIA E O ABORTAMENTO O abortamento indica um grave problema de saúde pública, sendo uma das principais causas de mortalidade materna no mundo. Sua discussão envolve uma diversos aspectos legais, morais, religiosos, sociais e culturais. A realização de aborto inseguro ocorre devido inúmeras causas, pode-se citas como exemplos: normas culturais e religiosas, falta de recursos econômicos e desigualdade de acesso à educação. O abortamento espontâneo acontece em cerca de 10 a 15% das gestações, englobando sensações de culpa e perda, além de gerar complicações para o sistema reprodutivo, demandando uma atenção técnica adequada, segura e humanizada. Outros 10% dos abortamentos são ocasionados por distintas maneiras, em razão de uma parcela das mulheres possuírem dificuldades de acesso à métodos contraceptivos e falta de informação sobre sua utilização. ́ ´E necessário destacar que em alguns casos, o motivo da realização do aborto é devido violência sexual, seja esta executada por desconhecidos. Parceiro ou outro membro de seu contexto sócio familiar. Aspectos culturais, religiosos, morais e legais são responsáveis pela falta de declaração da realização de abortamentos, fato que dificulta a calcular sua magnitude. Independentemente disto, sabe-se que esta prática é realizada através de inúmeras formas, na maioria das vezes sendo induzida pela mulher ou executados em condições inseguras, geralmente provocando más consequências à saúde, levando inclusive ao óbito. A legislação brasileira incorpora os direitos humanos internacionais e prevê princípios e normas éticas e jurídicas relacionadas à prevenção da gestação indesejada e ao abortamento, em relação ao Código Penal, Doutrina e Jurisprudência: Não é crime e não se pune: o abortamento praticado por médico(a), se: a) não há outro meio de salvar a vida da mulher (Art. 128, I); 26 26 b) a gravidez é resultante de estupro (ou outra forma de violência sexual), com o consentimento da mulher ou, se incapaz, de seu representante legal (Art. 128, II). A jurisprudência brasileira tem autorizado a interrupção de gravidez nos casos de malformação fetal com inviabilidade de vida extrauterina, com o consentimento da mulher. Nesses casos, o abortamento é um direito da mulher (BRASIL,2011). Diante de abortamento espontâneo ou provocado, o profissional de saúde não pode comunicar o fato à autoridade policial, judicial, nem ao Ministério Público, devido ao sigilo na prática profissional da assistência à saúde ser um dever legal e ético, exceto para proteção da usuária e com o seu consentimento. O não cumprimento da norma legal pode ensejar procedimento criminal, civil e ético-profissional contra quem revelou a informação, respondendo por todos os danos causados à mulher (BRASIL,2011). O Ministério da Saúde destaca ainda com base no Código Penal Brasileiro e na Constituição Federal: É crime: “revelar alguém, sem justa causa, segredo de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem” (Código Penal, art. 154). Constituição Federal: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização material ou moral decorrente de sua violação” (Art. 5º, X). O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem destaca como proibições do profissional nesse caso: Art. 73 Provocar aborto, ou cooperar em prática destinada a interromper a gestação, exceto nos casos permitidos pela legislação vigente. Parágrafo único. Nos casos permitidos pela legislação, o profissional deverá decidir de acordo com a sua consciência sobre sua participação, desde que seja garantida a continuidade da assistência. COFEN (p. 32-33, 2017) As gestantes que se enquadrarem em uma dessas três situações tem respaldo do governo para obter gratuitamente o aborto legal através do SUS (Sistema Único de Saúde). 27 27 DEONTOLOGIA E EUTANÁSIA EUTANÁSIA Prática em que a morte de um indivíduo é antecipada, sem dor ou sofrimento, atualmente representando uma questão de bioética. Independentemente de legalizada ou não, a eutanásia é apontada como assunto delicado, que envolve prós e contras. Sendo eutanásia um conceito muito vasto, distinguem-se seus tipos em: eutanásia, distanásia e ortotanásia. A distanásia defende que devem ser utilizadas todas as possibilidades para prolongar a vida de um ser humano, ainda que a cura não seja uma possibilidade e o sofrimento se torne demasiadamente penoso. A ortotanásia, defende que se reconheça o momento natural da morte de um indivíduo, não se procedendo a qualquer tipo de meio para manter ou prolongar a sua vida. Significa que se deve deixar o ser humano morrer em paz, sem que se promova e acelere esse processo de deixar a vida. O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem destaca como proibições do profissional nesse caso: Art. 74 Promover ou participar de prática destinada a antecipar a morte da pessoa COFEN (p. 32-33, 2017) 28 28 TRANSFUSÃO SANGUÍNEA Uma transfusão é a transferência de sangue total, ou de componentes sanguíneos para a corrente sanguínea. Esta normalmente é realizada para reposição sanguínea, após um quadro de hemorragia grave, por exemplo. Em diversas situações o profissional se depara com a recusa de realização do procedimento em pacientes e familiares que pertencem à religião Testemunhas de Jeová, cuja a transfusão é considerada proibida pela Bíblia. Neste contexto, a Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia expressou-se oficialmente em um documento cujas conclusões foram: • Adulto consciente: devem ser respeitadas suas convicções, no entanto exige-se que ele assine uma declaração isentando de responsabilidade à instituição e a equipe de saúde que prestar assistência a ele. • O adulto inconsciente: o documento admite que o sangue possa ser aplicado, desde que nem o cliente nem seus familiares saibam, sendo evitado o trauma psicológico e espiritual, enquanto a vida é salva; • A criança menor de idade, o incapaz: a orientação do documento é de que se respeite a decisão dos pais, mas deve-se exigir deles a assinatura do termo de responsabilidade. 29 29 IMPLICAÇÕES LEGAIS NA PRÁTICA DE ENFERMAGEM A prática de enfermagem segura inclui uma compreensão dos limites legais dentro dos quais a equipe de enfermagem deve atuar. Crime: qualquer fato do homem, por ação ou omissão, que possa comprometer as condições de existência, de conservação e de desenvolvimento da sociedade. O comportamento humano pode estar descrito na lei penal de um país como crime, enquanto que em outro país, não é considerado crime; Crime doloso: ocorre sempre que o agente quer o resultadoou assume o risco de causar dano ou lesão. O indivíduo sabe que sua conduta é contrária à lei e, mesmo assim, pratica o ato; Crime culposo: é uma conduta voluntária, decorrente de ação ou omissão, que produz um resultado contrário à lei, e não desejado, mas que, com a devida atenção poderia ser evitado; DELITOS DOLOSOS SÃO ATOS VOLUNTÁRIOS QUE VIOLAM OS DIREITOS DE OUTROS Agressão: É qualquer ameaça intencional de provocar o contato lesivo ou ofensivo. Ex: ameaçar dar injeção no cliente. Agressão Física: É qualquer contato intencional sem consentimento do cliente. O contato pode causar lesão, ou ser apenas ofensivo à dignidade pessoal do cliente. Invasão de Privacidade: O cliente tem o direito de ficar livre de intrusos em situações particulares, têm direito ao cuidado de saúde confidencial. Ex: Liberação de informação médica do cliente para a pessoa não autorizada. 30 30 Difamação do caráter: Consiste em informações falsas que resultem em dano à reputação de uma pessoa. Quando é realizada por meio verbais, é denomina- se calúnia. Sendo a afirmação feita por escrito, denomina-se difamação. DELITOS CULPOSOS Negligência: conduta que se situa abaixo do padrão de cuidado, a falha em utilizar determinado grau de cuidado que uma pessoa comumente cuidadosa e prudente empreenderia sob circunstâncias iguais; Imprudência: É um agir sem cautela necessária, com precipitação; Imperícia: É a incapacidade, a falta de conhecimentos técnicos no exercício da arte ou da profissão. Mesmo sem intenção de lesionar o cliente, a enfermagem presta cuidado que não satisfaz aos padrões apropriados. Ex.: erro de medicação. 31 31 SIGILO PROFISSIONAL Para a equipe de saúde, o conteúdo do sigilo é tudo o que se refere ao cliente, à família, aos funcionários sob seu comando, à empresa, ao hospital ou campo de atividade. A responsabilidade jurídica e deontológica do profissional não diminuem, mesmo sendo a revelação feita de forma indireta, ou seja, oferecer indicativo para o conhecimento do sigilo ou do seu dono. Cessa a obrigação de conservar o sigilo, quando o bem da pessoa que o confia ou o bem de terceiras pessoas ou da coletividade o exijam, assim como caso sua revelação seja necessária para evitar um grave dano próprio, mesmo que isto possa acarretar o perigo de morte a quem pertence o sigilo. ASPECTOS JURÍDICOS Para que haja caracterização do “delito de quebra de sigilo”, faz-se necessário: • Existência de um segredo; • Ser conhecido em razão de função, ofício, ministério ou profissão; • Existir a possibilidade de dano a outros; • Ausência de justa causa; • Estar presente o dolo; O Código Penal Brasileiro refere-se ao segredo profissional nos artigos 153 e 154: Art. 154 - Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem. Artigo 153 - Divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo de documento particular ou de correspondência confidencial, de que é destinatário ou detentor, e cuja divulgação possa produzir dano a outrem: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. BRASIL (1940) 32 32 ASPECTOS DEONTOLÓGICOS Envolvem o respeito à pessoa, à justiça, ao direito individual e comunitário. Ao se revelar, indevidamente um segredo profissional, desrespeita-se a confiança depositada e pode-se ocasionar grave prejuízo ao bom nome, à honra ou à profissão. Por outro lado, ocultar um fato que deveria ser revelado pode da mesma forma, violar a justiça e o direito comunitário. Assim, evidencia-se a importância de se saber decidir quando revelar ou guardar um segredo e ter consciência de que ao violar um segredo, desobedecem as leis, mas principalmente, violam-se aspectos fundamentais ao ser humano: o respeito, a justiça, a confiança e a confidência. 33 33 REMOÇÃO DE ÓRGÃOS, TECIDOS E PARTES DO CORPO HUMANO PARA FINS DE TRANSPLANTE E TERAPÊUTICOS: ASPECTOS LEGAIS E DEONTOLÓGICOS Transplantes de órgãos e tecidos com finalidade de prolongarem a vida, solucionar graves problemas de saúde ou mesmo por estética sempre fizeram parte das preocupações humanas. No que se refere à remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para transplante e tratamento, foram, no Brasil, aprovadas e revogadas pelo Congresso Nacional. A Lei dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante, terapêuticos e científicos. A Lei afirma que a disposição gratuita de uma ou de várias partes do corpo em vida ou post mortem para fins terapêuticos e científicos é permitida com exceção de sangue, esperma e o óvulo. A realização de transplantes só poderá ocorrer em estabelecimentos de saúde, públicos ou privados e por equipe médico-cirúrgico de remoção e transplantes previamente autorizados pelo órgão de gestão nacional do Sistema Único de Saúde. A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinado a transplantes ou tratamento será precedida de diagnóstico de morte encefálica constatada e registrada por 2 médicos que não pertencem às equipes de remoção e transplante. A análise deontológica da retirada de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento envolve questões importantes como o tipo e a procedência dos órgãos, a situação do doador e do receptor, o aspecto técnico da equipe e da instituição. O problema deontológico fundamental dos transplantes de órgãos vitais únicos diz respeito à morte do doador ou de sua manutenção em estado de mecanicamente vivo, isto porque, como a Lei, a ética também não poderá aceitar que se tire a vida de uma pessoa (doador), a fim de que outra (o receptor) sobreviva. O transplante de órgãos, tecidos ou partes de cadáver para ser humano vivo não apresenta problemas deontológicos nem jurídicos, desde que seja respeitada a 34 34 vontade expressa em vida, quando houver, ou de familiares, após a morte, e desde que seja também observado o respeito ao cadáver. 35 35 TEXTO DE APOIO 36 36 37 37 38 38 39 39 40 40 41 41 42 42 43 43 44 44 REFERÊNCIAS AFFONSO, C. (2014). Ética no Setor de Saúde. 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