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2013 Maria do Socorro Lima Marques França Isabel Maria Sabino de Farias Ivoneide Pinheiro de Lima Didática Geral Noções Básicas para o Professor de Física Copyright © 2010. Todos os direitos reservados desta edição à SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA (SEAD/UECE). Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, dos autores. EXPEDIENTE Design instrucional Antonio Germano Magalhães Junior Igor Lima Rodrigues Pedro Luiz Furquim Jeangros Projeto gráfico Rafael Straus Timbó Vasconcelos Marcos Paulo Rodrigues Nobre Coordenador Editorial Rafael Straus Timbó Vasconcelos Diagramação Marcus Lafaiete da Silva Melo Ilustração Marcos Paulo Rodrigues Nobre Capa Manoel Neto PRESIDENTE DA REPÚBLICA Luiz Inácio Lula da Silva MINISTRO DA EDUCAÇÃO Fernando Haddad SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Carlos Eduardo Bielschowsky DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – DPEAD Hélio Chaves Filho SISTEMA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL Celso Costa GOVERNADOR DO ESTADO DO CEARÁ Cid Ferreira Gomes REITOR DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ Francisco de Assis Moura Araripe VICE-REITOR Antônio de Oliveira Gomes Neto PRÓ-REITORA DE GRADUAÇÃO Josefa Lineuda da Costa Murta COORDENADOR DA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Antonio Germano Magalhães Junior COORDENADOR GERAL UAB/UECE Francisco Fábio Castelo Branco COORDENADORA ADJUNTA UAB/UECE Josete de Oliveira Castelo Branco Sales COORDENADOR DA LICENCIATURA EM FÍSICA Carlos Jacinto de Oliveira COORDENADOR DE TUTORIA E DOCÊNCIA DA LICENCIATURA EM FÍSICA Emerson Mariano UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ SECRETARIA ESPECIAL DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS FACULDADE DE FÍSICA REITOR Prof. Dr. Carlos Edilson de Almeida Maneschy VICE-REITOR Prof. Dr. Horacio Schneider PRÓ-REITORA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO Profa. Dra. Marlene Rodrigues Medeiros Freitas COORDENADOR GERAL DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Prof. Dr. José Miguel Veloso DIRETOR DO INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS Prof. Dr. Mauro de Lima Santos COORDENADORA DO CURSO DE FÍSICA À DISTÂNCIA Profa. Dra. Fátima Nazaré Baraúna Magno E Este material foi gentilmente cedido pela UEM Universidade stadual do Ceará, para o uso restrito da Licenciatura em Física na modalidade a distância sem ônus para a UFPA. Apresentação ....................................................................................................................... 7 Unidade 1 O licenciando em Física face ao ensino: noções introdutórias ............................................... 9 1.1. Iniciando o diálogo ...................................................................................................... 11 1.2. O ensino vivido: um exercício de memória ................................................................. 11 1.3. Didáti ca: aprendendo com sua história ...................................................................... 14 1.4. O professor de Física e a Didáti ca: tecendo relações .................................................. 20 1.5. O ensino de Física pelo fi o da história da educação brasileira .................................... 23 Unidade 2 Ensino e aprendizagem: do planejamento à avaliação .......................................................... 33 2.1. Puxando o fi o da meada. ............................................................................................ 35 2.2. Concepções de planejamento de ensino ................................................................... 35 2.3. O plano: um esboço do planejamento ........................................................................ 39 2.4. O processo de planejamento – quais os elementos consti tuintes de um plano? ....... 40 2.4.1. Objeti vos educacionais ..............................................................................................41 2.4.2 Conteúdos ..................................................................................................................43 2.4.3. Procedimentos metodológicos e recursos didáti cos ...................................................50 2.4.4. Avaliação da aprendizagem ...................................................................................... 51 2.5. Aula - existe um modelo a ser seguido? ...................................................................... 55 2.6. Conhecer melhor para planejar bem ......................................................................... 58 Unidade 3 Estratégias de ensino em Física: algumas possibilidades ....................................................... 65 3.1. Começando a conversa ............................................................................................... 67 3.2. Escolher ferramentas para ensinar: uma decisão com signifi cados ............................ 68 3.3. Estratégias para o ensino de Física: algumas possibilidades ...................................... 72 3.3.1. Aula expositi va ............................................................................................................72 3.3.2. Aula expositi va dialogada ............................................................................................74 3.3.3. Enfoque CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade) ..........................................................77 3.3.4. História e Filosofi a da Física ........................................................................................79 3.3.5 Resolução de problema ................................................................................................81 3.3.6. Uso da Informáti ca educati va .....................................................................................84 3.3.6. Uso da internet ...........................................................................................................86 3.3.7. Laboratório de Ensino de Física (LEF) ..........................................................................88 Unidade 4 Tópicos emergentes sobre o fazer docente ............................................................................ 91 4.1. Situando a temática .................................................................................................... 93 4.2. Transposição didática – principais discussões ............................................................. 93 4.3. Pesquisa como princípio formativo – que conversa é essa? ....................................... 97 4.3.1. A pesquisa como ferramenta de ensino ......................................................................99 4.3.2. A pesquisa como conteúdo de aprendizagem na formação .......................................101 4.4. Pedagogia de projetos – fundamentos e contribuições para a aprendizagem ........... 103 4.4.1. Os conteúdos das disciplinas ......................................................................................104 4.4.2. Ação docente ..............................................................................................................104 4.4.3. Aprendizagem .............................................................................................................105 4.4.4. Planejamento ..............................................................................................................106 4.4.5. Avaliação .....................................................................................................................1074.4.6. Organização escrita do projeto de trabalho ................................................................108 4.5. Temas Transversais – significado curricular e operacionalização ................................ 112 Dados dos Autores ............................................................................................................... 118 Por que tratar do ensino para graduandos em Física? São muitas as razões que justifi cam a produção desse módulo de Didática para você, estudante de graduação do curso à distância de Física, ofertado pela Universida- de Aberta do Brasil (UAB) em parceria com a Universidade Estadual do Ceará (UECE). O argumento mais óbvio certamente reside no fato de se tratar de uma licenciatura, formação inicial destinada a preparar futuros professores. Gostaríamos de convidá-lo a receber este material como uma contribuição para sua vida profi ssional. As questões nele abordadas visam oferecer subsídios que possam orientar suas decisões quando em efetivo exercício docente. Nesse sentido, as ideias e práticas nele socializadas, oriundas de nossa vivência como professores na escola bási- ca e na universidade, afastam-se de qualquer pretensão de mostrar a melhor maneira de fazer e portar-se. Antes, pretendem apresentar elementos que despertem a refl exão sobre várias situações que um docente enfrenta em seu cotidiano de trabalho. Assim nos colocamos por acreditar que o “chão da sala de aula” nos ensina; nele e com ele fabricamos nosso modo de ser e estar na profi ssão professor. Uma formulação, diríamos, artesanal, mas que nada tem de improvisada. Como autores desse módulo, nosso desejo é que ele instigue em cada um de vocês a vontade de perguntar que alimenta a fome de pensar e de aprender da qual nos fala Madalena Freire (2008). Em suas palavras: A pergunta é um dos sintomas do saber. Só pergunta quem tem consciência do que sabe e quer aprender. Ninguém pergunta no vazio. Pergunta porque constata que, do que sabe, algo não sabe e só a pergunta desvelará caminho possível a ser seguido. O que não se sabe, quem sabe é o outro. O outro que, de algum outro lugar, aponta, retrata e alimenta o que nos falta. Toda pergunta revela o nível da hipótese em que se encontra o pensamento e a construção do novo conhecimento. Revela também a inten- sidade da chama do desejo, da curiosidade de vida (MADALENA FREIRE, 2008, p. 85). Quiçá os temas abordados nesse módulo possam fomentar a compreensão da Didática como substrato pedagógico central a aprendizagem da docência e, sobretudo, ao nosso progressivo e contínuo desenvolvimento como profi ssional do ensino numa perspectiva transformadora. Este foi o propósito que nos moveu! Com esta intencionalidade, o módulo Didática: noções básicas para o professor de Física foi organizado contemplando tanto assuntos chaves desse campo disci- plinar da teoria pedagógica quanto questões emergentes com as quais o professor hoje precisa lidar. São quatro sessões que, mesmo com conteúdo distinto, mantêm interface, complementando-se. O texto inicia abordando as várias concepções de didática, examinando na sequência os fundamentos da Didática articulados ao movimento histórico de sua constituição. Este percurso nos leva a fazer um paralelo entre a história da Didática e as suas impli- cações no Ensino de Física. Este passeio é entremeado por exercícios de memória, utili- zados como mote para retomar as lembranças dos tempos de escola, dos conteúdos, das aulas teóricas e práticas e, sobretudo, dos professores. Discute também os elementos que compõem o ciclo didático da ação do professor, abrangendo desde o planejamento até a avaliação da aprendizagem. Além de abordar as concepções de planejamento de ensino, busca fomentar a reflexão sobre as teorias pedagógicas que dão sustentação a esta prática no contexto educativo. Ao detalhar os elementos do processo de ensino – objetivos, conteúdo, procedimento, recursos didáticos e avaliação – apresenta argumentos em torno da importância do plano para a ação do- cente. Esta parte do texto encerra caracterizando a aula com base nas diferentes tendên- cias pedagógicas e suas implicações para a ação do professor e a aprendizagem discente. As estratégias de ensino são alvo de atenção da terceira sessão, momento em que se procurou mostrar que as possibilidades existentes ganham sentido à luz dos referenciais que norteiam a prática pedagógica do professor (relação entre metodologia e estratégias de ensino e sua interface com os objetivos educativos). A ênfase da análise recai sobre as estratégias de ensino mais recorrentes no ensino de Física na escola básica, tecendo-se considerações sobre seu papel no desenvolvimento de oportunidades de aprendizagem significativas para o aluno. Temáticas emergentes na cena educativa contemporânea são abordadas na quarta sessão do módulo, incluídas em reconhecimento à visibilidade e interesse que despertam entre iniciantes e iniciados na docência. A transposição didática, a pesquisa como prin- cípio formativo, os projetos de trabalho e os temas transversais constituem os tópicos contemplados nessa parte. As análises envidadas procuram elucidar dúvidas recorren- tes e apresentar subsídios para a aproximação entre os fundamentos teóricos em torno desses tópicos e a prática escolar. A imagem de trilhas nos parece pertinente para associar aos conhecimentos con- densados nesse módulo que, nem de longe, pretenderam esgotar as informações exis- tentes acerca de cada um dos temas. Trilhas, porque traz a idéia de pistas, as quais ajudam a caminhar, a reinventar cotidianamente os percursos a serem seguidos. O importante, a nosso ver, é não perder de vista aonde se quer chegar, os fins da nossa ação educativa como docentes. Desejamos uma leitura instigante, um aprendizado duradouro. As Autoras Unidade Objetivos: • Conhecer o conceito de Didática, considerando o contexto histórico de sua evolução e o seu papel no fazer docente. • Analisar as concepções de homem, educação e sociedade que norteiam as diferentes tendências pedagógicas, visando a construção de uma prática pedagógica comprometida com o processo de transformação social. • Refletir sobre o tornar-se professor de Física e sua relação com a produção do conhecimento científico. • Compreender o desenvolvimento do ensino de Física com base na história da educação brasileira e nas ideias pedagógicas dominantes nesse percurso. 1 O licenciando em Física face ao ensino: noções introdutórias 11DIDÁTICA GERAL 1.1. Iniciando o diálogo A temática central de discussão desta unidade de estudo é a Didática e o ensino de Ciências e de Física. Pretende-se, por meio desse texto, conhe- cer as questões relacionadas ao seu conceito, à sua origem e ao próprio en- tendimento que – normalmente – as pessoas ligadas à educação têm sobre essa disciplina. Além disso, intenciona-se destacar a importância desses conhecimentos para o fazer docente do professor, exercício que tem como mote a evolução do ensino de Física. O texto está dividido em duas partes. Na primeira, apresentamos as concepções existentes sobre didática e procuramos fazer a relação entre suas partes com a atividade pedagógica da docência nas escolas. Para isso, começamos fazendo uma provocação a que chamamos de exercício de me- mória, no sentido de retomar as lembranças dos tempos de escola, para se retomar o conceito de cultura escolar e iniciarmos os estudos relativos aos fundamentos da Didática e sua história. A segunda parte segue às mesmas provocações, estimulando a pensar nas aulas de Ciências (ensino fundamental) e Física (ensino médio), bus- cando lembranças dos conteúdos, das aulas teóricas e práticas e, sobretu- do, dos professores. Seguiremos traçando um paralelo entre a história da Didática e as suas implicações no Ensino de Ciências e Física, remontando esse recente caminho. 1.2. O ensino vivido: um exercício de memória Iniciar um estudo propondo uma atividade relativa à memóriajustifi- ca-se por acreditarmos que todas as experiências que vivemos representam sempre mais do que valores, crenças e compreensões subjetivas, pois estão sempre mediadas por ideologias e marcas das culturas de que fazemos par- te. Dessa forma, a educação que vivemos nas escolas pelas quais passamos durante tenra infância, na adolescência ou mesmo na idade adulta, por exemplo, pode ser traduzida de diversas formas, pelo comportamento que adotávamos, pelos conteúdos que estudávamos, pela forma como as aulas se organizavam, enfim, por uma multiplicidade de fatores que corroboram para a constituição dessa cultura educativa. O exercício de pensar sobre esses momentos, de reconstituir as situa- ções e de procurar contar como foram essas experiências é o desafio dessa conversa, pois uma pessoa ao relatar os fatos vividos por si reconstrói a trajetória percorrida, dando-lhe novos significados. Assim, embora enten- dendo que a narrativa “não é a verdade literal dos fatos, mas, antes, é a re- presentação que deles faz o sujeito e, dessa forma, pode ser transformadora 12 DIDÁTICA GERAL da própria realidade” (CUNHA, 1997), acreditamos que essa reconstituição possibilitará uma refl exão sobre a cultura escolar vivida pelo grupo, aspec- to importante a ser considerado quando se pretende estudar os fundamen- tos da Didática. A intenção é traçar uma trajetória das vidas escolares de cada um, de tal forma que se consiga vislumbrar alguns acontecimentos, situações e comportamentos característicos de cada um dos espaços educativos em que se esteve. Com isso, acreditamos que será facilitado o entendimento a res- peito da disciplina que constitui o foco de discussão neste livro: a Didática. Inicie o seu relato descrevendo a escola em que você estudou quando era criança. Para facilitar, segue uma lista de perguntas. Que tal guiar seu escrito por ela? • Como era a organização do tempo escolar? • Existiam muitas regras a serem seguidas na escola? • E as aulas, como aconteciam? • Como era o comportamento dos alunos? • E o trabalho dos professores? • De que disciplinas você mais gostava? Por quê? • E as disciplinas você menos gostava? Por quê? • Algum professor fi cou guardado na sua memória? Por que motivo você não o esqueceu? Produza um texto livre, de caráter narrativo. O importante nesse momento é o ato da relembrança. Ao terminar, socialize na rede e procure identifi car aspectos comuns e diferenciados das experiências relatadas. Foi possível perceber que muitas das histórias contadas guardaram algumas semelhanças entre si? Que alguns ‘tipos’ de professores também se aproximaram de um ‘modelo’? Que as escolas adotavam regras e permis- sões bem parecidas? Mas por que isso acontece? Poderíamos afi rmar que isso é possível quando o momento histórico em que elas aconteceram é o mesmo, pois, a escola como parte integrante da sociedade, valida as ações e comportamentos adequados ao espaço social em que está inserida, confor- me o tempo em que se manifesta. Como a escola foi idealizada para servir à sociedade como mantenedo- ra da cultura e produtora de conhecimentos necessários ao seu desenvolvi- mento, é plausível que os sujeitos que dela participam, como os professores, por exemplo, adotem uma conduta coerente com os valores vigentes, com base nos quais sistematizam seu trabalho, que é intencional e se relaciona às demandas da sociedade. Partindo desse princípio, cumpre ressaltar que se a escola é o lugar – por excelência – em que as pessoas são preparadas para a vida social, é ne- cessário que os seus integrantes ‘pensem’ no tipo de produção que se quer edifi car e em que sujeitos poderão trabalhar nessa construção, pois cada uma delas faz parte desse processo, logo, suas relações, suas histórias, seus contextos de vida precisam ser considerados. Dessa forma, a escola reproduz a ideologia dominante e volta-se para o aprimoramento da força de trabalho, transformando-se em um espaço, Gramsci adota a ideia de “contra-hegemonia”, em que a escola como instituição pode iniciar um movimento contra- hegemônico, assumindo um papel estratégico de mudança. Segundo Gra- msci, o Estado, não sendo autoritário, permite que a sociedade seja um campo aberto para circulação de ideologias. Logo, se existe uma ideologia dominan- te, também pode existir uma contra-ideologia que venha combater e ser- vir para a libertação das classes subjugadas. Se a escola reproduz uma educação que se identi- fi ca e justifi ca uma certa relação de dominação, ela também pode criar condi- ções de libertação ou ao menos estabelecer a crí- tica, livrando o indivíduo dos descaminhos do sen- so-comum e da fragmen- tação que deformam o de- senvolvimento cognitivo, afetivo, social e cultural dos alunos. Fonte: MOTTA, Carlos Eduardo de Souza. In- dústria cultural e o sis- tema apostilado: a lógi- ca do capitalismo. Cad. CEDES, Campinas, v. 21, n. 54, Aug. 2001. <http://www.scielo.br/ scie lo .php?scr ipt=sci_ a r t t e x t & p i d = S 0 1 0 1 - 32622001000200009&ln g=en&nrm=iso>. access on 08 Sept. 2010 13DIDÁTICA GERAL por vezes, mais preocupado com a preparação para o trabalho que com a produção do conhecimento, desconsiderando o indivíduo e validando as exigências do mercado. Para desenvolver esse trabalho educativo a escola organiza-se pedagogicamente nos conteúdos a serem ensinados, nas meto- dologias desenvolvidas, nos recursos utilizados e nas avaliações do proces- so de ensino e de aprendizagem. É neste contexto que a Didática entra em cena, como disciplina peda- gógica que organiza o processo de ensino e de aprendizagem escolar. Não é a toa, portanto, que muitos associam essa disciplina de forma direta ao processo de ensino. Dessa forma, expressões do tipo: “Gosto do professor X porque ele tem didática”, ou ainda, “O professor Z sabe o conteúdo, mas não tem didática”, são constantes nos espaços escolares. Todos, em algum momento, afirmamos algo do gênero ao nos referir- mos à prática profissional de um professor. De igual modo, torna-se bas- tante comum que ao perguntarmos a um aluno num curso de formação de professores em nível superior, na disciplina de Didática, o seu entendimento sobre a disciplina, ouçamos definições do tipo: “Didática é a disciplina que nos ensina a dar aulas.” “A didática é a parte do curso que nos ensina a organizar as aulas, a preencher os diários e a fazer os planos;” “A didática cuida dos planos, da relação entre o professor e o aluno e dos conteúdos a serem ensinados e avaliados.” “É estudando didática que podemos aprender tudo sobre a escola e sobre o processo de ensino-aprendizagem, pois essa disciplina é que ensina as técnicas de ensinar os conteúdos na escola.” Observa-se que as informações primeiras sobre o que se estuda na dis- ciplina aproximam-se, de fato, ao seu objeto de estudo. Entretanto, não po- demos reduzi-la aos aspectos técnicos como ocorreu durante muito tempo. Sendo uma disciplina ligada à Pedagogia, ciência da educação, é a didática que organiza o processo educativo de ensino e de aprendizagem, desde os objetivos pedagógicos, os conteúdos escolares, os métodos de ensino, a apli- cação de técnicas e de recursos, até a avaliação da aprendizagem. Este conhecimento pedagógico, que caracteriza a Didática, é funda- mental ao exercício da docência, pois a escola, como instituição que promove as ações educativas, precisa saber o que, como e para que ensinar. Dessa forma, embora concordemos com Nilson José Machado (2002, p. 29) de que chega a ser “quase um truísmo afirmar-se que toda ação docente com um mínimo de consistência articula-se simbioticamente com um discurso pe- dagógico, sendo ambos – ação e discurso – tributários de uma concepção de conhecimento”, é válido reiterar que esse discurso veicula-se ao momento histórico em que se concretiza, logo, a Didática tem assumido diversos para- digmas ao longo de sua história, assunto que será tratado no tópico seguinte. 1.3. Didática: aprendendocom sua história Castro (1991, p. 15), ao refletir sobre a trajetória histórica da Didática afirma que “como adjetivo - didático, didática - o termo é conhecido desde a Grécia antiga, com significação muito semelhante à atual”. Portanto, a situação didática antes de ser sistematizada e constituída como referen- 14 DIDÁTICA GERAL cial pedagógico, já era vivida e pensada. Nessa fase que a autora classifi ca como “didática difusa”, o ensino era marcado pela intuição. Assim, Sócra- tes, quando exercia a maiêutica, já era didático. Como disciplina pedagógica, a Didática foi sistematizada primeira- mente por Comênius, que escreveu a Didática Magna, instituindo-a como “arte de ensinar tudo a todos”. Guiado por ideais éticos e religiosos, Comê- nius propôs um método de ensino inovador, pois naquela época em que o latim era a língua dominante, ele defendeu que o ensino deveria ser iniciado desde a mais tenra idade e pela língua materna, com uso de livros ilustra- dos. Conforme assinala Cambi (1999, p. 286), A concepção pedagógica de Comenius baseia-se num profundo ideal reli- gioso que concebe o homem e a natureza como manifestações de um pre- ciso desígnio divino. Para Comenius, Deus está no centro do mundo e da própria vida do homem. (... Toda a construção pedagógica de Comenius é, de fato, caracterizada por uma forte tensão mística que sublinha seu caráter ético-religioso e a decidida conotação utópica: a educação neste quadro é a criação de um modelo universal do “homem virtuoso”, ao qual é confi ada a reforma geral da sociedade e dos costumes. A segunda revolução relativa à disciplina de Didática somente acon- teceu com Rousseau. Ele não chega a sistematizar nenhum compêndio di- dático, mas sua obra origina um novo conceito de infância. Dando pros- seguimento às ideias dos didatas, Rousseau ultrapassa as suas doutrinas quando destaca a natureza da criança e “transforma o método num proce- dimento natural, exercido sem pressa e sem livros” (CASTRO, 1991, p.17). Suas ideias, fundamentadas no Iluminismo, trouxeram renovações para a escola que, no século XVIII “vai se laicizando, já que se estatiza, já que visa a formar o homem também e sobretudo como cidadão” (CAMBI, 1999, p.327- 328) modifi cando-se tanto no nível da organização, como nos programas de ensino. Também a didática assume outras conotações, que segundo o autor, tornaram-se científi cos, empíricos ou mais práticos. O pensamento pedagógico de Rousseau aparece em suas obras Emílio e Contrato. Na primeira, aparecem “as noções de educação negativa e de educação indireta, como também o papel particular que assume o educador” (CAMBI, 1999, p.344); na segunda, são discutidas ideias sobre uma educa- ção socializada e regulada pela intervenção do Estado. As suas ideias con- trárias as de Comênius, defendiam a bondade natural do homem, corrom- pido pela sociedade, mas somente passam a ser adotadas um século depois. A primeira metade do século XIX é marcada pelo pensamento cientí- fi co de Herbart, que idealiza uma Pedagogia Científi ca, da educação pela instrução, em que o aspecto metodológico ganha destaque. Seu método dos passos formais, para ele próprio a toda e qualquer situação de ensino, se- guia cinco passos em ordem e sequência invariáveis: preparação, apresen- tação, associação, generalização e aplicação. No século XX as ideias renovadoras da educação, inspiradas nos prin- cípios de Rousseau, começam a tomar forma. Sob a denominação de Peda- gogia Renovada ou Escola Nova foi disseminada a pedagogia ativa e os mé- todos ativos, buscando criar outros princípios para a educação escolar. No Brasil, essas ideias começaram a ser difundidas a partir dos anos 20 do Sé- culo XX e ganharam destaque com o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. A Escola Nova propõe modifi cações profundas nas atividades escola- res, determinando: “o abandono do autoritarismo, em favor da liberdade; a Comênius (Jan Amós Komensky) Autor de didática Magna, Comenius é o primeiro educador, no mundo oci- dental, a interessar-se na relação de ensino e apren- dizagem, levando em con- ta haver diferença entre o ensinar e o aprender. Acreditava que a reforma do sistema educacional haveria de requerer pri- meiro uma revolução nos métodos de ensino de modo que o aprendizado pudesse ser rápido, agra- dável, e completo. Os pro- fessores deveriam "seguir os passos da natureza", signifi cando que eles de- veriam prestar atenção à mente das crianças e ao modo como os estudantes aprendem. Foi o iniciador da didática moderna. Nas- ceu na Morávia em 1592 e faleceu em Amsterdã, Ho- landa, em 1670. Fonte: http://www.con- teudoescola.com.br 15DIDÁTICA GERAL afi rmação da autoridade interna sobre a externa; a afi rmação de uma nova fi nalidade da escola, traduzida no objetivo de preparar o indivíduo para se dirigir a si mesmo numa sociedade mutável” (SAVIANI, 2005, p. 10). John Dewey defende a educação pela ação, como resultado da intera- ção entre o organismo e o meio pela experiência. Para ele, a função da edu- cação é a de dar condições para promover e estimular a atividade própria da criança para que atinja seu objetivo de crescimento e desenvolvimento. Sob essa lógica, acredita que a atividade escolar deve estar centrada nas experiências das crianças a fi m de desenvolver as suas potencialidades, capacidades, necessidades e interesses naturais. Em 1939 a Didática foi instituída como curso de licenciatura no Bra- sil e em 1946 transformada em uma disciplina dos cursos de formação de professores. Seguindo a lógica da escola da época, prevaleceu na disciplina o enfoque técnico, baseado na prescrição, na norma e no caráter instru- mental de como ensinar. Seu estudo consistia na transmissão de normas e regras de como fazer bem, visando a padronização das ações didáticas dos professores e a inculcação da ideologia do pensamento liberal e pragmático, que concebem como neutra a educação e percebem a competência como uma qualifi cação rigorosamente técnica, advinda do domínio de métodos e procedimentos para uso em aula, desobrigada de valores ideológicos e dis- tante dos projetos políticos e culturais da sociedade. A confi guração da Didática como disciplina prescritiva tem sua razão de ser no predomínio das práticas pedagógicas tradicionais, cuja tônica foi a transmissão das verdades incontestáveis da Igreja e da Ciência positi- vista, e, a assimilação acrítica e passiva da cultura do dominador pelos dominados através dos exercícios de repetição (FARIAS, SALES, BRAGA e FRANÇA, 2008, p. 8). Os anos 50 e 60 do século XX no Brasil trouxeram a concepção pro- dutivista de educação a qual, conforme Saviani (2005, p. 19), infl uenciaram a primeira Lei de Diretrizes e Bases da nossa educação, a Lei nº 4.024/61 e ainda hoje interferem no pensamento educacional e político do país. Na década de 1960 a “teoria do capital humano” (SCHULTZ, 1973) foi desenvolvida e divulgada positivamente, sendo saudada como a cabal de- monstração do “valor econômico da educação” (SCHULTZ, 1967). Em con- seqüência, a educação passou a ser entendida como algo não meramente ornamental, um mero bem de consumo, mas como algo decisivo do ponto de vista do desenvolvimento econômico, um bem de produção, portanto. Esse pensamento trouxe modifi cações para o ensino no país que ado- tou, de forma mais evidente, a lógica do ensino como técnica, reforçando as práticas positivistas e tradicionalistas na sala de aula. Os anos 1960 fi cam marcados pela crise da Pedagogia Nova e pela articulação do tecni- cismo, obedecendo a lógica do pensamento do grupo militar que passou a governar o país durante os 20 anos subsequentes. Nesse período, no âmbito da educação, defende-se a neutralidade científi ca, acentua-se a divisão do trabalho sob a égide da produtividade, a fragmentação do currículo e dos conteúdos de ensino se torna mais evidente, bem como a separação entre quem planeja e quem executa. A Didática, nessa perspectiva, aponta para avalorização da técnica supostamente neutra. Os cursos de formação de professores passam a di- fundir a organização racional do processo de ensino, do planejamento for- Jean-Jacques Rousseau é o fi lósofo iluminista pre- cursor do romantismo do século XIX. Sua obra ins- pirou reformas políticas e educacionais. Formou, com Montesquieu e os li- berais ingleses, o grupo de brilhantes pensadores pais da ciência política moderna. Em fi losofi a da educação, enalteceu a "educação natural" con- forme um acordo livre entre o mestre e o aluno, levando assim o pensa- mento de Montaigne a uma reformulação que se tornou a diretriz das cor- rentes pedagógicas nos séculos seguintes. Foi um dos fi lósofos da doutrina que ele mesmo chamou "materialismo dos sensa- tos", ou "teísmo", ou "reli- gião civil". Fonte: http://www.cultu- rabrasil.pro.br/rousseau. htm 16 DIDÁTICA GERAL mal na elaboração de materiais instrucionais e os livros didáticos passam a ser adotados como roteiros para o currículo e para as aulas. Evidencia-se a dicotomia entre a teoria e a prática, e o professor passa a ser percebido como executor de técnicas voltadas para a operacionalidade dos objetivos de ensino e de avaliação. Para que a escola fosse realmente produtiva, era preciso que racionali- zasse o seu trabalho pedagógico, tornando-o mais “científi co” - o que im- plicava torná-lo observável e quantifi cável. É claro que os treinamentos de educadores nos anos 70 refl etiram, e muito, esta tendência que valo- rizava fundamentalmente os meios, as tecnologias e os procedimentos de ensino apresentados sempre como “neutros”, “efi cientes” e “efi cazes”. E isto teve conseqüências negativas na educação escolar brasileira que perduram até o presente momento (FUSARI, 1988, p. 20). Contrárias a essa lógica, surgem no cenário educacional, as críticas à educação dominante, trazendo para o debate as funções da política educa- cional escamoteadas pelo discurso político pedagógico ofi cial. Esses estudos são denominados por Saviani (2005) como teorias crítico-reprodutivistas, as quais percebem os aspectos sociais da educação e atestam sua função re- produtora. As três teorias destacadas pelo autor são as seguintes: • Teoria do sistema de ensino enquanto violência simbólica, de Bourdieu e Passeron, que entendem ser a escola o organismo re- forçador, por dissimulação, das relações de força material. Para eles, a escola promove a dominação cultural e explicita a ação pedagógica como imposição arbitrária da cultura dos grupos do- minantes aos dominados; • Teoria da escola enquanto aparelho ideológico do Estado, difundi- da por Louis Althusser, cujos princípios percebem a escola como o instrumento de reprodução das relações de produção de tipo capitalista. • Teoria da escola dualista, advogada por Establet, percebe a escola dividida em duas: a burguesia e o proletariado. Nessa teoria, a instituição escolar é a responsável pela formação da força de tra- balho e inculcação da ideologia burguesa, ao qualifi car o trabalho intelectual e desqualifi car o manual (SAVIANI, 1983). O autor destaca que nesse contexto a Didática adotou o discurso re- produtivista, ideológico e colocou em segundo plano a sua especifi cidade. Esse período de ‘negação’ pedagógica deu lugar a uma disciplina com um discurso sociológico, fi losófi co e histórico, tornando secundária a discussão e orientação para a prática pedagógica do futuro professor. O pessimismo que circunda a teoria, ainda que crítico, dá um novo caráter ao trabalho pedagógico do professor nos anos seguintes, que torna o trabalho educativo mais voltado para a realidade sócio-cultural do país. As teorias crítico-reprodutivistas, por não se preocuparem com ques- tões relacionadas ao problema da relação entre o professor e o aluno, ou ao processo de ensino e aprendizagem, não se constituem como pedagógicas, pois “analisam a educação pelo aspecto de sua relação com a sociedade e não têm como objetivo formular diretrizes que orientem a atividade edu- cativa”. Para Saviani, “a ambição dessa concepção, como teoria científi ca, é explicar os mecanismos sociais que compelem a educação a exercer ne- cessariamente a função de reprodução das relações sociais dominantes, independentemente do tipo de prática pedagógica que venha a ser imple- mentada” (2007, p. 18). John Dewey nasceu em 1859 em Burlington. Foi professor secundário por três anos antes de cur- sar a Universidade Johns Hopkins, em Baltimore. Estudou artes e fi losofi a e tornou-se professor da Universidade de Minne- sota. Escreveu sobre fi lo- sofi a e educação, além de arte, religião, moral, teo- ria do conhecimento, psi- cologia e política. O fi lóso- fo norte-americano sofreu forte infl uência tanto do evolucionismo das ciên- cias naturais quanto do positivismo das ciências humanas. Defendia a uti- lização, diante dos proble- mas sociais, dos métodos e atitudes experimentais que foram bem-sucedidos nas ciências naturais. Ele próprio procurou aplicar essa abordagem em rela- ção à investigação fi losófi - ca e à didática.Morreu em 1952, aos 93 anos. Fonte: Revista Nova Esco- la. (2008) Paulo Freire nasceu em 1921 em Recife, numa família de classe média. Formou-se em direito, mas não seguiu carrei- ra, encaminhando a vida profi ssional para o ma- gistério. Em 1963, em Angicos (RN), chefi ou um programa que alfabetizou 300 pessoas em um mês. Em 1991, foi secretário municipal de Educação de São Paulo. Foi nome- ado doutor honoris causa de 28 universidades em vários países e teve obras traduzidas em mais de 20 idiomas. Morreu em 1997, de enfarte. Fonte: http://revistaesco- la.abril.com.br 17DIDÁTICA GERAL Surgem novos rumos para o pensamento educacional a partir dessas teorias que mesmo considerando impossível que haja uma transformação na escola, terminam por implementar outras concepções, mais otimistas e, ainda assim, críticas. As teorias críticas da educação, no Brasil, ganham lugar de destaque no fi nal dos anos 1980, coincidindo com o período de luta pela reabertura política do país. Caracterizam-se por considerar a dialética da educação e defendem o princípio educativo iniciado pela refl exão da re- alidade imediata para se chegar à realidade pensada. Saviani (2007) atesta que nas teorias críticas “a prática pedagógica, em lugar de aparecer como um momento de aplicação da teoria da educação, é entendida como ponto de partida e ponto de chegada, cuja coerência e efi cácia são garantidas pela mediação da fi losofi a e da teoria educacional.” Saviani, na obra Escola e democracia (1983), e Libâneo, em Democratização da escola pública (2002), caracterizam como críticas as propostas pedagógicas libertadora, libertária e a histórico-crítica. A Pedagogia Progressista Libertadora, iniciada por Paulo Freire nos anos 1960, parte de uma análise crítica das realidades sociais e difun- de os fi ns sócio-políticos educacionais, defendendo a revolução social pela educação. Indicava a transformação da sociedade, logo, tratava-se de uma perspectiva otimista e esperançosa, mas também crítica, por entender que a educação, por si só, não faria essa revolução, embora tivesse papel fun- damental nessa luta. A teoria advoga o princípio da conscientização como um processo que pode ser conquistado pelo homem, pela problematização de sua própria realidade. Paulo Freire entendia que embora estivéssemos oprimidos pela sub- missão aos papeis pré-determinados de uma sociedade de classes, pode- ríamos nos libertar pela educação baseada no método dialógico, via pos- sível para a conscientização de estar no mundo e saber-se nele, pois “não é possível estar no mundo, com o mundo e com os outros, sem estarmos tocados por uma certa compreensão de nossa própria presença no mundo” (FREIRE, 2000, p. 57). A Pedagogia Progressista Libertária defende modifi cações institucio- nais na escola que deve rejeitar qualquer forma de poder ou autoridade. Essa ideia foi se confi gurandono início dos anos 1980, com o retorno dos exilados políticos e o início da liberdade de expressão nos espaços acadê- micos, políticos e culturais do Brasil. A proposta defendia o projeto político pedagógico da escola como forma de identifi cação política para atender aos interesses locais e regionais de cada unidade escolar. Baseada no princípio da participação, defendia novas propostas para a direção da escola, para os grêmios de estudantes e apresentava proposta de outras formas de gestão participativa. No Brasil, os adeptos da Pedagogia Libertária são infl uenciados por Celestin Freinet, cuja proposta pedagógica defendia técnicas nas quais os próprios alunos organizavam os seus planos de trabalho. O método de en- sino baseado na autogestão vincula o interesse pedagógico às necessidades individuais ou do próprio grupo. Freinet foi um inovador do trabalho pedagógico, criou as aulas-pas- seio, os estudos de campo, os cantinhos pedagógicos e a troca de correspon- dência entre escolas. Idealizador da Pedagogia do Trabalho, dentre outras coisas, defendia que o professor deveria colaborar para o êxito de todos os alunos, mas não via valor didático no erro, considerava que o fracasso era fator de desequilíbrio e desmotivação do aluno, portanto, caberia ao profes- sor ajudar o aluno a superar o erro. Célestin Freinet nasceu em 1896 em Gars, povoa- do na região da Provença, sul da França. Foi pastor de rebanhos antes de co- meçar a cursar o magis- tério. Em 1920, começou a lecionar na aldeia de Bar-sur-Loup, onde pôs em prática alguns de seus principais experimentos, como a aula-passeio e o li- vro da vida. Em 1935, o ca- sal Freinet construiu uma escola própria em Vence. Durante a Segunda Guer- ra, o educador foi preso e adoeceu num campo de concentração. Recobrada a paz, Freinet reorganizou a escola e a cooperativa em Vence. Em 1956, lide- rou a vitoriosa campanha 25 Alunos por Classe. No ano seguinte, os seguido- res de Freinet fundaram a Federação Internacional dos Movimentos da Esco- la Moderna (Fimem), que hoje reúne educadores de cerca de 40 países. Freinet morreu em 1966. Fonte: http://revistaesco- la.abril.com.br 18 DIDÁTICA GERAL Não foi por acaso que Freinet criou uma pedagogia do trabalho. Para ele, a atividade é o que orienta a prática escolar e o objetivo final da educação é formar cidadãos para o trabalho livre e criativo, capaz de dominar e transformar o meio e emancipar quem o exerce. Um dos deveres do pro- fessor, segundo Freinet, é criar uma atmosfera laboriosa na escola, de modo a estimular as crianças a fazer experiências, procurar respostas para suas necessidades e inquietações, ajudando e sendo ajudadas por seus colegas e buscando no professor alguém que organize o trabalho (FERRARI, 2008, p. 1). A Pedagogia Histórico -Crítica surgiu, segundo Libâneo (1994), como uma proposta crítica otimista, pois “não se satisfazendo com as teorias crítico -reprodutivistas postulam a possibilidade de uma teoria crítica da educação que capte criticamente a escola como instrumento coadjuvante no projeto de transformação social”. Para Saviani (2007, p. 18) o que dis- tingue a concepção pedagógica dialética ou histórico-crítica, das demais concepções é o modo de entender a educação, pois nessa perspectiva, a prática pedagógica, em lugar de aparecer como um momento de aplicação da teoria da educação, é vista como ponto de partida e ponto de chegada. Essa teoria defende que a educação é um campo político e transfor- mador das consciências pelo conhecimento. Advoga que a emancipação das pessoas pode acontecer pelo domínio dos conhecimentos escolares, requisito primeiro para a compreensão da prática social. Nas palavras de Libâneo (2002, p. 76), Ao fazer da experiência social concreta dos alunos a própria trama do trabalho pedagógico, sobre a qual se introduz o conhecimento científico das matérias, está-se concebendo o conhecimento como uma ativida- de inseparável da prática social. A atividade teórica é o processo que, partindo da prática, leva a “aprender” a realidade objetiva para, em seguida, transformá-la. A ênfase nos conhecimentos não visa, portan- to, o acúmulo de informações, mas uma reelaboração mental que se traduzirá em comportamentos práticos, numa nova perspectiva de ação sobre o mundo social. Esse movimento de partir da prática social inicial para alimentado pelo conhecimento retornar à própria prática e transformá-la, sugere um movimento de continuidade do que já foi experimentado e vivido pelo su- jeito, mas “a continuidade é reavaliada criticamente por meio da ruptura, propiciada pelo saber organizado trazido pelo professor, o que alimentará novamente a prática e assim por diante” (LIBÂNEO, 2002, p. 76). Para a realização desse trabalho, o professor precisará – primeira- mente – conhecer a vida social do aluno, suas condições sociais e culturais, seus conhecimentos e experiências, bem como as relações que estabele- ce com seu mundo social. Além disso, é importante que sistematize o seu trabalho de ensino com base nessas informações, de forma a garantir que o seu aluno aprenda os conteúdos sistematizados e difundidos na escola, numa ação mediatizada pelo diálogo e pela problematização. Para isso, é fundamental, portanto, que o professor domine os conteúdos que ensina e os meios para fazê-lo, de forma que os articule à experiência social e con- creta dos seus alunos. Pela intencionalidade que possui o ato educativo, cabe ao professor ter compromisso para garantir o ensino dos conteúdos mais representativos para 19DIDÁTICA GERAL o aluno, para garantir a boa qualidade de sua formação, o que pode significar uma verdadeira batalha para que essas situações pedagógicas desenvolvidas na escola estimulem o encontro do aluno com a cultura socialmente constru- ída e difundida pela instituição escolar. Nessa dialeticidade é que acontece o processo educativo que visa a unidade entre o desenvolvimento subjetivo e o mundo objetivo, entre o cultural e o social (LIBÂNEO, 2002). Nos tempos atuais essas perspectivas críticas perderam o lugar para discursos evasivos. Saviani (2007, p. 20) considera que os anos de 1990 são “marcados pelo abandono daquela expectativa há décadas acalentada. E a ciência passará de objeto do desejo dos educadores a motivo de suspeita.” Para o autor, o atual pensamento pedagógico brasileiro é marcado pela des- centralização e pela desconstrução das ideias dos anos 80; para nominá-los, usa os termos neoprodutivismo, neo-escolanovismo e neoconstrutuvismo. Neoprodutivismo é a perspectiva que entende a educação como um investimento em capital humano individual. Assim, o acesso a diferentes graus de escolaridade passa a significar a ampliação das condições de em- pregabilidade do indivíduo, embora não lhe garanta emprego, pois não há emprego para todos. Vive-se a lógica do crescimento excludente, no lugar do desenvolvimento inclusivo idealizado no período keynesiano. Segundo Saviani (2007, p.20) “a teoria do capital humano foi, pois, refuncionalizada e, é nessa condição que ela alimenta a busca de produtividade na educação, justificando-se a denominação de neoprodutivismo”. Acena-se para a peda- gogia da exclusão, embora negada, mas prevalece a lógica de que é preciso estar preparado, justificando-se a necessidade de serem feitos sucessivos cursos, dos mais diferentes tipos, para se tornar apto a assumir um posto de trabalho cada vez mais difuso ou a responsabilidade individual por não ter conseguido o emprego formal. O que é chamado de neo-escolanovismo é marcado pela retomada do lema aprender a aprender, pela qual se concebe a gestão do imprevisível, pela aceitação de que não se deve contar com um emprego seguro, pois todos devem desenvolver a capacidade de adaptação e de aprender a aprender e a reaprender, em face da redução dos postos de trabalho. O lema volta com toda força aos discursos dos professores, trazendo de volta as ideias do escolano- vismo, teoriapedagógica cuja ação mais importante é aprender a aprender, sob a premissa de que o papel do é o de auxiliar o aluno em seu próprio pro- cesso de aprendizagem. Essa perspectiva é evidenciada nos documentos da década de 1990, a exemplo do “Relatório Jacques Delors”, publicado pela UNESCO em 1996, que apresenta as linhas orientadoras da educação mundial no século XXI. Essa orientação é incorporada como política de Estado por meio dos Parâ- metros Curriculares Nacionais (PCN), elaborados pelo MEC para servir de referência à montagem dos currículos de todas as escolas do país. Nestes dois documentos nota-se a utilização da mesma justificativa em defesa do aprender a aprender: “novas relações entre conhecimento e trabalho exi- gem capacidade de iniciativa e inovação e, mais do que nunca, a máxima “aprender a aprender” parece se impor à máxima “aprender determinados conteúdos” (BRASIL, 1997). O neoconstrutivismo é uma espécie de metamorfose do construtivis- mo, que buscava compreender pelo método científico o desenvolvimento da inteligência e hoje, em sua nova versão, cede lugar a uma retórica reformista de competência. Assim, a pedagogia das competências se apresenta como outra face da pedagogia do aprender a aprender, cujo objetivo é o de tornar o comportamento dos indivíduos flexíveis para que se ajustem às condições 20 DIDÁTICA GERAL da sociedade do não emprego, logo, segue a mesma lógica de responsabili- zação individual pelo sucesso ou fracasso. Toda essa lógica chega a escola e impacta sobre o trabalho docente que, nos tempos atuais, precisa ser efi ciente e produtivo, mas sem a ne- cessidade de seguir um planejamento rígido com objetivos predefi nidos ou regras preestabelecidas. Os professores são convidados a se aperfeiçoarem continuamente num eterno processo de aprender a aprender, com cursos de atualização referentes a aspectos particulares e fragmentários da ativi- dade docente e às questões cotidianas. Exige-se um professor fl exível que, a partir de uma formação de curta duração, prossiga sua qualifi cação na refl exão sobre sua prática, apoiado eventualmente por cursos rápidos, a exemplo de ofi cinas, que transmitiriam as habilidades para torná-lo compe- tente nas pedagogias da inclusão excludente, do aprender a aprender e da qualidade total. Além das aulas, também devem os professores participar da elaboração do projeto político pedagógico das escolas, da vida da comu- nidade, da gestão da escola e do acompanhamento dos estudos dos alunos. As novas ideias atraem, mas a descrença no saber científi co e a pro- cura por soluções mágicas do tipo relações prazerosas, pedagogia do afe- to, transversalidade dos conhecimentos e fórmulas semelhantes vêm ga- nhando as cabeças dos professores que encontram-se aturdidos com tantas novidades. O caráter utilitarista e imediatista que perpassa o sentido da educação nos últimos tempos esvazia o sentido da escola, provocando des- contentamento e a estranha sensação de que essa instituição não consegue mais cumprir sua função precípua: ensinar. O professor, sobrecarregado de trabalho nas escolas, pressionado por melhoria no desempenho dos alunos e cansado por ter que assumir vários empregos para completar seu orçamento familiar, sente-se vitimado e des- motivado. Nesse contexto, a "sociedade do conhecimento", acaba se esva- ziando do seu sentido e converte-se em um aglomerado de informações que chegam à escola e saem dela sem terem sido entendidas com profundidade. Diante do real, não cabe simplesmente ignorar essas novas formas de fazer educação na pós-modernidade e romanticamente desejar uma con- cepção moderna de ciência. É preciso retomar o fi o da meada, considerar o contexto histórico atual e, com base nisso, vislumbrar a existência de uma educação crítica, transformadora e emancipadora, sem perder de vista o conhecimento científi co. 1.4. O professor de Física e a Didáti ca: tecendo relações Para discutir o papel da didática na formação do professor de Física é preciso inicialmente compreender o signifi cado da palavra Física, seu objetivo e seu campo de atuação. Para tanto, é necessário que você pense nas seguin- tes questões: o que, como e por que ensinar Física no contexto escolar? A palavra Física provém do termo physiké, que tem origem grega e signifi ca “natureza”. Ao mencionarmos este termo, nos reportamos tam- bém ao termo grego episteme que representa conhecimento, isto é, ciência. Nesse sentido, Física é a ciência que desvenda e descreve os fenômenos relacionados à natureza. Para Chaves e Shellard (2005), dados recentes sugerem que um terço da composição do universo se encontra na forma de matéria (estrelas, pla- A Sociedade Brasileira de Física (SBF) foi criada na XVII Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em 1966, na ci- dade de Blumenau, San- ta Catarina. Estiveram presentes pesquisadores, professores do Ensino Mé- dio e alunos de física. A SBF tem por objetivo o desenvolvimento da Físi- ca e do seu ensino aqui no nosso País. Ela publi- ca quatro periódicos que estão disponíveis no seu sitio: o Brazilian Journal of Physics, a Revista de Física Aplicada e Instru- mentação, a Revista Bra- sileira de Ensino de Física e Física na Escola, sendo esta última dedicada a professores da Educação Básica. Fonte: http://www.sbfi si- ca.org.br/v1/ 21DIDÁTICA GERAL netas, gases interestelares, poeira, partículas elementares, corpos celestes), enquanto o restante como energia escura. Assim, descobrir a natureza de ambas representa um dos grandes desafios para a Física contemporânea. Desde as suas origens, a Física vem sofrendo mudanças significati- vas no seu percurso de acordo com as necessidades e interesses sociais e da comunidade científica, suscitando a ampliação de novas entidades, das perspectivas de apreciação e representações acerca do Universo, de tal modo que diferentes formas de investigação e de abordagens são desenvolvidas e renovadas continuamente. No dia-a-dia, mesmo que passem despercebidos, estamos rodeados por diferentes fenômenos físicos, como por exemplo: empurrar um carro (terceira Lei de Newton: ação e reação), água fervendo no fogão (ebulição), ventilador ligado (movimento circular uniforme), folhas caindo de uma ár- vore (ação da gravidade), dentre outras situações. Com as novas possibili- dades que vêm surgindo nos últimos anos, fica difícil definirmos a área de abrangência da Física, tendo em vista que ela gemina em distintas áreas do conhecimento que, muitas vezes, não fazem parte da seara desta Ciên- cia, como por exemplo, na medicina, na indústria, nas demais Ciências, na guerra, dentre outros. O que podemos afirmar é que a Física tem uma integração efetiva com as outras áreas da ciência com a finalidade de explicar muitos fenômenos fí- sicos. Como ciência organizada, a Física vem contribuindo para o desenvol- vimento do pensamento hipotético-dedutivo do indivíduo. É primordial que os alunos notem que a Física está intensamente inserida no mundo atual. E que seu progresso recente transcorre dos avanços alcançados entre o di- namismo de dois aspectos: teoria e experimento. Esse pensamento é mais bem esclarecido por Chaves e Shellard (2005, p. 15) quando nos comunica que as “previsões teóricas motivam novos experimentos que, por sua vez, iluminam novas abordagens para explicar os fenômenos naturais”. A Física ensinada na escola é diferente da que é produzida no meio acadêmico, ainda que ambas estejam fortemente relacionadas, ou seja, a disciplina de Física não é o conhecimento científico, embora seja inerente a ele. A inserção dessa disciplina no currículo do Ensino Médio possibi- lita aos alunos uma melhor descrição e interpretação dos fenômenos que ocorre na natureza e do dinamismo tecnológico dela originada no domí- nio da realidade histórica e social desenvolvida individual e coletivamente (NARDI, 2004). A física é parte fundamental da base científica na qual seapóia a tec- nologia contemporânea. As invenções derivadas das descobertas de fenômenos físicos tiveram um impacto tão abrangente e complexo no desenvolvimento tecnológico que, com freqüência, perde-se a visão das interconexões (CHAVES e SHELLARD, 2005, p. 15). O ensino da Física, de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacio- nais para o Ensino Médio – DCNEM (BRASIL, 2005), está inserido no qua- dro de disciplinas da Base Nacional Comum do Currículo do Ensino Médio, cujo objetivo principal é desenvolver nos alunos um conjunto de habilida- des e competências necessárias para interpretar os fenômenos naturais e resolver problemas. A ideia central é possibilitar que o aluno, como sujeito epistêmico, mobilize os conhecimentos apreendidos em situações distintas não previstas no contexto de ensino, para poder interagir com o mundo na perspectiva de cidadão consciente do seu papel na sociedade. 22 DIDÁTICA GERAL Para isso, se faz necessário colocar a relação didática em foco, bus- cando evitar que os conteúdos escolares, no nosso caso a Física, sejam fundamentados na oratória, na memorização e na repetição como os prin- cipais instrumentos de aprendizagem, de pouca utilidade fora dos muros da escola. A relação didática é dinâmica e complexa, representando uma referência de ensino com a intenção de aprendizagem. As componentes envolvidas nesse processo são aluno, professor e saber (o conhecimento a ser ensinado). Nesse sentido, a função central da Didática da Física, como área de conhecimento, é a busca da legitimação das especifi cidades da aprendiza- gem de Física, bem como o estudo de abordagens de ensino mais efi cazes, com o objetivo principal de “formular problemas abordáveis sobre o ensino e a aprendizagem de Física, os seus contextos, os ambientes em que ocor- rem e sobre a sua relevância social. Obviamente que também deve procurar responder-lhes” (LOPES, 2004, p. 26-27). Na Educação Básica, a iniciação do estudante aos conceitos físicos começa no nono ano do Ensino Fundamental e se estende por todos os anos do Ensino Médio. Os conceitos explorados, nesses quatro anos de es- colarização, envolvem estudos de Mecânica, Termodinâmica, Eletromag- netismo, Ótica e Física Moderna. Para uma ação mais efetiva do ensino de Física no âmbito escolar, falando em termos didáticos, é preciso que o conjunto de conteúdos curriculares, que tem como procedência o saber científi co, passe essencialmente por transformações (transposição didáti- ca), e que priorize a assimilação qualitativa de conceitos em detrimento de aplicação direta de fórmulas. O termo transposição didática foi desenvolvido pelo sociólogo francês Michel Varret, em 1975, e aprimorada por Chevallard, em 1991. A transpo- sição didática descreve o conjunto de modifi cações e adaptações ocorridas do saber científi co que determinam à produção do saber a ensinar. É o pro- cesso de simplifi cação do saber científi co para o saber escolar a ser ensina- do, conforme explicita Chevallard: Um conteúdo de conhecimento, tendo sido designado como saber a en- sinar, sofre então um conjunto de transformações adaptativas que vão torná-lo apto a tomar lugar entre os objetos de ensino. O trabalho que, de um objeto de saber a ensinar faz um objeto de ensino, é chamado de transposição didática (CHEVALLARD, 1991, p. 39). Este é o papel de vocês, como futuros professores de Física: garantir que esta disciplina escolar seja desenvolvida de modo que os conceitos e fenômenos sejam compreendidos satisfatoriamente pelos os alunos. Porém, além da modifi cação do conhecimento científi co para ser aplicada no es- paço escolar, se faz necessário também o estabelecimento de uma série de procedimentos pedagógicos. Contudo, antes de prosseguirmos a nossa discussão, vamos retornar ao exercício anterior proposto e fazer uma breve refl exão sobre o ensino da Física que vocês tiveram nos últimos quatro anos de escolarização da Educação Básica. A seguir, faremos breve descrição dos aspectos históricos do ensino de Física no Brasil, com o intuito de compreender o modelo de ensino que existe hoje nas escolas e determinadas atitudes que os professores expres- sam em sala de aula. Yves Chevallard É um didata francês que desenvolveu seus estudos direcionados para o ensi- no da Matemática. Lecio- na atualmente no Institut Universitaire de Formation dês Maîtres de l’Académie d’Aix-Marseille. No Brasil, sua obra mais divulgada é La Transpo- sition Didactique, que signifi ca “A Transposição Didática”. Já encontramos no nosso país a publica- ção do seu livro traduzido para o português. Fonte: http://yves.che- vallard.free.fr/ 23DIDÁTICA GERAL 1.5. O ensino de Física pelo fio da história da educação brasileira O ensino de Física no Brasil, como atividade institucional, inaugura com a implantação das primeiras licenciaturas em 1934, com o curso de Sciencias Physicas, na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras – FFCL, em São Paulo, que tinha como meta formar bacharéis e licenciados em Física. Esta ação contribuiu para que a Física fosse vista como campo de pesquisa e de educação. O corpo docente era constituído basicamente por mestres estrangei- ros – italianos e franceses. O italiano Gleb Wataguin foi um dos primeiros docentes convidados, orientando três alunos de engenharia cujos trabalhos eram direcionados a Física: Mário Schenberg, Marcelo Damy e Paulus Pom- péia. Logo depois, se juntou ao grupo Cesar Lattes, Oscar Sala e o italiano Giuseppe Ochialini (MENEZES, 1988). Nesse mesmo período, acontecia na cidade do Rio de Janeiro sob a direção de Bernard Gross, que recebeu o convite do Instituto Nacional de Tecnologia, as primeiras iniciativas para o ensino de Física, sendo segui- do posteriormente por José Costa Ribeiro. Ainda nessa cidade, em outro espaço físico, foram desenvolvidos trabalhos nessa área sob a supervisão de Jayme Timo e José Leite. O recinto era a Universidade Nacional (ME- NEZES, 1988). O modelo de ensino adotado era denominado “3 + 1”, três anos des- tinado à formação específica e mais um ano voltado para formação peda- gógica (VALENTE, 2002). O curso tinha como filosofia a idéia de que, para formar um bom profissional para o magistério, era essencial trabalhar o conhecimento disciplinar específico, ficando a formação pedagógica voltada para a Didática e esta, por sua vez, se resumia, segundo Moreira e David (2005), a um conjunto de técnicas úteis para a transmissão do saber adqui- rido nos três anos iniciais. Os antigos mestres tinham a concepção de que, para se tornar um bom professor, a condição necessária e suficiente era saber o conteúdo es- pecífico. Em virtude disso, os professores não incentivavam os alunos a cursarem, após o término do bacharelado, um ano de estudos de formação pedagógica que os habilitariam como licenciados (SILVA DA SILVA, 2002). A esse respeito Lopes (2004, p.23) adverte “ter uma boa formação de Físi- ca é, no actual contexto, insustentável”. As disciplinas específicas ficavam na responsabilidade dos institutos básicos, enquanto as pedagógicas eram ministradas pelos pedagogos vinculadas à Faculdade de Educação. Em re- lação à licenciatura em Física, a falta de integração entre os docentes dos conteúdos específicos e os da pedagogia contribuiu para um grande afas- tamento da Física produzida na academia com a Física ensinada na escola. A Física escolar nessa ocasião, segundo Menezes (1988), praticamen- te desapareceu do ensino de primeiro grau (hoje chamado de ensino fun- damental), devido às restrições na formação dos professores desse grau de escolaridade. A prática educativa e o currículo muito contribuíram para essa situação, pois abordava a Física de uma forma episódica e fragmen- tada, cujos conteúdos não se relacionavam entre si. Os alunos recebiam uma formação muito pobre e limitada em conteúdos, ocasionando assim, um efeito formativo nulo ou desprezível. Em relação ao segundo grau, que representa nos tempos atuais o ensinomédio, o curso era muito formal e abstrato, com pouquíssima fenomenologia e com uma metodologia que 24 DIDÁTICA GERAL não preparava o aluno para o seu pleno exercício da vida prática e pro- fissional, e nem tampouco para uma carreira acadêmica. Nessa direção, Menezes (1988, p. 53) assinala: Na realidade, considerável parcela dos professores de Física no Brasil não possui preparo específico (não são licenciados nem bacharéis em Fí- sica) e mesmo os que possuem esses títulos muitas vezes estão científica ou pedagogicamente despreparados. Como consequencia, só raramente se cumprem os programas, que acabam se reduzindo a uma lamentável e interminável ladainha de “cinemática do ponto material”, de “eletrostá- tica da carga pontual” etc. Com certeza, não só o despreparo do professor leva a essa situação; além das condições de trabalho serem geralmente desfavoráveis, a própria ideia do que deve ser a Física na escola média merece ser vista. Nas três décadas seguintes, o crescimento industrial modificou os pa- drões de produção e consumo do povo brasileiro, o que provocou uma ampla migração de indivíduos que moravam no campo para as cidades, processo denominado de êxodo rural. A política do governo de Getulio Vargas era a substituição da mão-de-obra imigrante pela nacional. Com isso, houve uma enorme demanda por pessoas tecnicamente qualificadas, tanto para o tra- balho industrial como para funções administrativas. Todavia, a educação brasileira não acompanhou o mesmo ritmo dessa modernização, mesmo com o aumento quantitativo de escolas públicas de primeiro e segundo grau e a grande procura por cursos de nível superior. O sistema educacional apresentava grandes deficiências para atender as exigências educacionais da época, com escolas antiquadas tanto em estrutura como em organização (ROMANELLI, 1984). Por volta de 1956, o ensino de Física recebeu uma forte influencia dos Estados Unidos por meio do material didático denominado Physical Science Study Committee (PSSC), baseado na vivência do conhecimento científico. A elaboração do PSSC foi uma resposta ao grande descontenta- mento que professores universitários e físicos estavam em relação ao ensi- no de Física nas escolas secundárias norte-americanas. O material tinha a intenção de apresentar a Física como disciplina atual e completa, mos- trando aos alunos como os físicos analisavam e pesquisavam no campo da Física. Para a efetivação dessa proposta nas escolas, os professores foram treinados pelos Centros de Ciências, criados especialmente pelo Ministério da Educação para esse fim. A tradução do PSSC para o português foi realizado pela Universidade de Brasília, em 1963, seguida por muitos exemplares posteriores. O livro continha um conjunto de orientações para o trabalho em sala de aula enfocando tanto os procedimentos físicos como a estrutura da Física, e eram constituídos por testes padronizados, filmes instrucionais, orienta- ções para realização de experimentos de baixo custo, guias, dentre outros. Esse pensamento é reforçado por Moreira (2000) quando assegura que ainda prevalecia o que ele chama de paradigma do livro. Isso significa que o ensino era referendado pelo livro-texto direcionando o nível e o desenvolvi- mento do curso, expresso na ementa, no programa e no plano de ensino da disciplina. Os livros utilizados nesse tempo, segundo o autor, era “Introdu- ção a Física, de autoria de Maiztegui e Sabato - 1951; Física na Escola Se- cundária, de Blackwood, Herron & Kelly - 1958 e Introdução a Eletricidade, ao Magnetismo e a Ótica, de R. A. Salmeron - 1961” (MOREIRA, 2000, p. 1). 25DIDÁTICA GERAL No final da década de 1970, o Governo Federal autoriza o setor privado a ofertar cursos universitários, de tal modo que, diversas faculdades foram abertas em todo território nacional. Mas, não ofertavam com um padrão de qualidade os seus cursos. A esse respeito Menezes (1988) afirma que, essas faculdades não estavam aptas para formar profissionais de nível superior, embora tenha sido todas autorizadas. Para o autor o ensino de Física foi muito prejudicado, pois os antigos professores de segundo grau foram os professores dessas faculdades e, conseqüentemente, seus alunos se torna- ram docentes das escolas públicas. Em suas próprias palavras temos: O ensino de Física, que tradicionalmente já era formal e por demais ma- temático, tornou-se intragável quando lecionado por professores que (não por própria culpa) estavam precariamente preparados. Isso fica ain- da mais complicado quando a clientela de alunos, muitos de origem pro- letária, está pouco habituada ao uso de linguagem abstrata. O assunto passa a ser odioso e a escolarização científica passa a ter um resultado oposto ao pretendido: acaba convencendo o estudante de que ciência é tão difícil que não foi feita para ele (MENEZES, 1988, p. 54). Logo após, ainda nesse mesmo período, de acordo com Moreira (2000), o paradigma do livro já não atendia às necessidades do ensino de Física, emergindo outro denominado paradigma dos projetos. Este era direcionado para a aprendizagem e enfatizava a elaboração de projetos curriculares para o nível de ensino que hoje chamamos de Ensino Médio. Como exemplos dos projetos o autor cita: Nuffield, na Inglaterra; o Harvard Physics Project, nos Estados Unidos; e, no Brasil, na universidade de São Paulo, o Projeto de En- sino de Física. Este paradigma teve uma passagem efêmera e um dos motivos foi a falta de concepção do que era a aprendizagem abordada nestes projetos. No início dessa década, em 1970, aconteceu o Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF. Dois anos após, foram defendidas as primeiras dissertações e teses voltadas para os problemas de aprendizagem no ensino de Física. Em 1979, foi criada a Revista de Ensino de Física, que passou a ser chamada, a partir de 1992, de Revista Brasileira de Ensino de Física – RBEF, tornando-se uma referência até os dias atuais para a divulgação e a publicação de trabalhos científicos relativos ao ensino e aprendizagem nessa área (PENA, 2004). Em 1980, os cursos de formação de educadores passaram por mudan- ças estruturais, influenciadas pela I Conferência Brasileira de Educação, em São Paulo, pelo Comitê Nacional Pró-Formação do Educador. O currí- culo de Pedagogia foi o curso pioneiro nas discussões, tendo mais tarde se estendido às demais licenciaturas. Nas licenciaturas, as discussões bus- cavam contornar os problemas enfrentados pelos cursos no que se refere à dicotomia teoria e prática, ao distanciamento entre ensino e pesquisa, ao excesso de valorização do bacharelado sobre o licenciado, à desarticulação das disciplinas específicas com as pedagógicas e à desvinculação entre a formação acadêmica e a prática docente na escola (DINIZ PEREIRA, 2000). Este movimento teve repercussão no ensino de Física no espaço esco- lar, no qual o processo de construção do conhecimento científico pelo aluno foi palco de grandes discussões, valorizando disciplinas, até então pouco lembradas, como História e Filosofia da Ciência para o processo educacio- nal. O ponto central desses estudos era mostrar a Ciência, no nosso caso a Física, como uma construção humana e não como uma verdade natural. 26 DIDÁTICA GERAL Esse movimente foi fortemente influenciado pelas pesquisas realiza- das anteriormente na década de 1970 e que Moreira (2000) nomeia de pa- radigma da pesquisa. As pesquisas eram sobre as chamadas concepções alternativas e traziam a tona discussões sobre resolução de problemas, concepções epistemológica do conhecimento, representações mentais dos alunos e o processo formativo de professor, tanto inicial como permanente. Em 1983, o Encontro Nacional de Reformulação dos Cursos de For- mação de Educadores propõe que os professores da área específica com os da área pedagógica trabalhassem conjuntamente na formação do profes- sor, incorporando à grade curricular dos cursos as chamadas disciplinas integradoras – Prática de Ensino, Instrumentaçãopara o Ensino, Didática Especial e outras. Assim, no currículo das licenciaturas, deveriam ser in- cluídas disciplinas de conteúdo específico, pedagógicos e integradoras. Apesar das mudanças, este “novo” modelo de ensino não alcançou o resultado esperado, pois as disciplinas integradoras foram concentradas no último ano letivo do curso, desvinculando da formação específica de conte- údo a formação pedagógica, continuando assim, o distanciamento entre o saber acadêmico e o conhecimento abordado em sala de aula. Ainda na década de 1980, segundo Pena (2004), nasce outra litera- tura especializada para as pesquisas em ensino de Física, conhecida como Caderno Catarinense de Ensino de Física (1984), atualmente denominada como Caderno Brasileiro de Ensino de Física – CBEF. Em 1986, foi realizado o I Encontro de Pesquisa em Ensino de Física – EPEF. Na década de 1990, com o intuito de subsidiar as ações educativas no Ensino de Física nas unidades escolares e superiores, diversas intervenções educacionais aconteceram no nosso País, entre elas, citamos como marco principal os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio e as Diretrizes Curriculares para Cursos de Graduação em Física, ambos di- vulgados no ano de 1999 pelo Ministério da Educação e do Desporto. Esses documentos apresentam novas perspectivas para os dois níveis de ensino, em que evidenciam a interdisciplinaridade, enfatizando a realidade do edu- cando e promove-o como um ser político, crítico e criativo. No entanto, ain- da hoje são poucos os professores que conhecem essas propostas. Em meados de 1995, foi criada a Revista Ciência & Educação. Um ano depois, foi lançada a Revista Investigações em Ensino de Ciências. Em 1997, realizou-se o Encontro Nacional em Educação em Ciências – ENPEC. As revistas Ensaio – Pesquisa em educação em Ciências, Física na Escola e ABRAPEC foram lançadas, respectivamente, em 1999, 2000 e 2001, acres- centando as referências especializadas na reflexão sobre o ensino de Física. Recentemente, no início desse século XXI, com a expansão das Tec- nologias de Informação e Comunicação (TIC) e com o apoio do Governo Federal, a educação brasileira ganhou um novo desenho. Com a criação no Ministério da Educação do Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) fo- ram ofertados diferentes cursos e programas de nível médio e superior por meio de Instituições públicas de ensino superior. Nessa empreitada, o ensino de Física é ofertado atualmente tanto na modalidade presencial como na semi-presencial por diferentes Universida- des brasileiras em todo o território nacional. Um exemplo claro disso é esse curso que vocês fazem - Licenciatura em Física - que abarca essa filosofia e é oferecido gratuitamente por uma instituição pública de Ensino Superior. Nos dias atuais, existem algumas tendências que propõem um traba- lho pedagógico em sala de aula para o desenvolvimento do ensino de Física 27DIDÁTICA GERAL no contexto escolar e que possibilitam desenvolver os conteúdos específi cos ao mesmo tempo em que concretizam as habilidades e competências reco- mendadas para essa disciplina. Nesta expectativa, o ensino de Física deve ser apresentado tomando como base a discussão de fatos cotidianos e demonstrações práticas reali- zadas no cenário da sala de aula - ao contrário do que normalmente acon- tece - de forma complexa e pronta, jamais construída. O livro didático ado- tado, as exposições orais e grandes listas de exercícios direcionadas apenas para aplicação direta de fórmulas são ainda as formas mais utilizadas no ensino desta disciplina, o que não favorece o desenvolvimento do pensamen- to dedutivo e a capacidade de generalização dos conhecimentos adquiridos por parte do aluno. É relevante também, conforme advertem Aguiar, Gama e Costa (2005), que a Física não seja apresentada aos alunos como um conhecimento sim- plesmente introdutório, que só ganhará signifi cado e utilidade mais tarde após seu ingresso em cursos universitários, caso algum aluno chegue. É importante que a prática educativa seja modifi cada e que o professor entenda que para uma sólida aprendizagem em Física não basta apenas que os conceitos sejam transmitidos, devem ainda serem elaborados e testados ao longo do processo. Um ponto crucial neste aspecto é ter consciência que os alunos se apropriam de forma mais efi ciente dos conceitos se estes es- tiverem relacionados com o que eles já conhecem sobre o mundo natural, tanto nas experiências das práticas sociais como na convivência escolar. A conexão da Física com as áreas de Matemática, Química e a Biologia é também um aspecto fundamental a ser abordado no ensino, por propiciar que o aluno construa uma visão integrada dessas disciplinas. A utilização de laboratório e simulações em computador contribui para auxiliar os alu- nos na construção de modelos mentais, além de ajudar na visualização dos fenômenos. Apresentar uma perspectiva histórica do desenvolvimento da Física pontuando os seus aspectos sociais, econômicos e culturais ao longo da história é também um caminho a ser seguido. Além disso, é necessário propulsionar ao aluno uma formação interdisciplinar e que também con- temple a habilidade para o trabalho em grupo. As atividades a seguir têm a intenção de proporcionar uma recons- trução da trajetória estudantil de vocês, descrevendo um pouco da sua es- cola, das aulas e dos seus professores. Quando recordarmos experiências do passado, fatos signifi cativos nos vêm à mente favorecendo o pensamen- to refl exivo destes acontecimentos, de modo a confi gurar novos olhares ao nosso presente, induzindo assim, uma mudança cultural no modo de agir e pensar. O foco crucial dessa atividade é a compreensão de quais os fatores que infl uenciaram e marcaram sua cultura educativa. 1. O fi lme “Uma mente Brilhante” retrata a vida de Jonh Nash, ganhador do Prêmio Nobel em Economia, em 1994, e do prêmio Leroy P. Steele da American Mathematical Society, em 1999. O fi lme mostra vários aspec- tos da vida de Nash. É um drama e foi baseado no livro de Sylvia Nasar, lançado nos Estados Unidos, em 2001. Tem como título original “A Be- autiful Mind” (www.abeautifulmind.com). 28 DIDÁTICA GERAL Retome o exercício e faça uma refl exão sistematizando sobre a problemá- tica apresentada no fi lme, descritas abaixo, relacionando com sua vida escolar da Educação Básica, especialmente no ensino de Física: a) O professor John Nash, para justifi car sua ausência das aulas, disse que “as aulas driblam a mente e destroem toda criatividade autêntica”. Qual a sua opinião sobre esse comentário? b) Em sala de aula, como professor do Massachusetts Institute of Te- chnology, John Nash fez o seguinte comentário para um aluno que solicitava que ele abrisse as janelas do ambiente, por causa do calor: “seu conforto vem depois da sua necessidade de escutar a minha voz”. Em outra situação, de acordo com o fi lme, Nash esquece seu horário de aula com os alunos. Qual a sua opinião no que concerne à ação de Nash como professor? c) Quais os sentimentos e lembranças que os dois primeiros itens desper- tam em você na perspectiva do ensino de Física da Educação Básica que você vivenciou? d) Que atrelamentos você faz desses três primeiros itens com as discussões propostas até o presente momento? e) Faça uma introspecção e procure trazer à memória suas vivencias como estudante da Educação Básica e Superior. O que é ser um bom professor? Enumere as características do que, para você, seria um bom professor. Cultura educativa – A cultura é um elemento que permite relacionar sis- temas simbólicos, códigos, normas e práticas, que interagem a partir da reapropriação e reinterpretação daquilo que constitui a memória social (TEI- XEIRA, 1998, p.153). A escola, por sua função social de produção e reno- vação do saber e da cultura, destaca-se como espaço privilegiado para que esses dois processos aconteçam mediante a relativização e adaptação, à sua realidade,
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