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1 METODOLOGIA DA CIÊNCIA DA RELIGIÃO 1 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 2 SUMÁRIO NOSSA HISTÓRIA ...................................................................................................... 1 Metodologia da Ciência da Religião .............................................................................. 3 1 - Campo religioso brasileiro, Cultura e Sociedade ...................................................... 3 2 - Tradição e Experiências Religiosas, Cultura e Sociedade ......................................... 3 3 - Ciência da religião ................................................................................................... 4 4 - RELIGIÃO, CIÊNCIA E MÉTODO ........................................................................ 8 5. A teologia no Brasil e o fenômeno religioso .............................................................. 9 5.1 - A busca do método e a cientificidade da religião ................................................. 10 5.2 - A disputa pelo método e o papel da religião ........................................................ 13 6 – Conclusão ............................................................................................................. 15 Referências ................................................................................................................. 16 3 Metodologia da Ciência da Religião 1 - Campo religioso brasileiro, Cultura e Sociedade A linha de pesquisa “Campo Religioso Brasileiro, Cultura e Sociedade” baseia-se no pressuposto de que a prática coletiva da religião ou sua negação constitui-se um fenômeno social cujo estudo crítico e sistemático, com o aporte multidisciplinar das diversas ciências, é essencial para a compreensão da cultura brasileira. Buscando produzir estudos histórica e socialmente significativos, diante da amplidão do campo religioso no Brasil, a linha definiu para os próximos anos, a partir das pesquisas desenvolvidas atualmente, três blocos temáticos nos quais ela se concentra: Religião e Práticas Políticas e Sociais, Identidade e Religião, e Identidade e Sincretismos Religiosos. 2 - Tradição e Experiências Religiosas, Cultura e Sociedade A linha estabelece, por meio de princípios metodológicos hermenêuticos, uma relação dialogal entre os desafios sociais da atualidade e os conteúdos simbólicos das religiões, tal como consignados em suas tradições orais, nos seus textos sagrados e nos desdobramentos culturais ao longo da história, através de múltiplas tradições que se institucionalizaram e das experiências dos sujeitos que nelas têm suas experiências. Entre as matrizes da religiosidade brasileira e continental, a tradição cristã ocupa um lugar de grande influência e coube à teologia desenvolver um discurso racional e, por vezes, apologético, dessa tradição. No mundo acadêmico da nossa cultura pluralista, e ligada ao campo transdisciplinar das Ciências da Religião, a linha de pesquisa coopera para uma nova interpretação dos símbolos da tradição cristã, pelo realismo que se impõe a quem dialoga com a história comparada das religiões e a crítica filosófica do fenômeno religioso. 4 3 - Ciência da religião O autor define o papel e o objeto de estudo da "ciência da religião", ao utilizar, didaticamente, uma metodologia científica da religião e uma linguagem simplificada. Sua intenção é levar os iniciantes da ciência da religião a uma reflexão mais abstrata e, para isso, parte de uma abordagem indutiva. Torna, assim, mais fácil e agradável a leitura da obra. Sua intenção supera as expectativas, pois vai além da simples explicação de como se processam os estudos metodológicos no campo da ciência da religião e orienta à prática científica, a pôr a "mão na massa", ou seja, trilhar os verdadeiros passos para a realização da pesquisa, identificar seu objeto e a forma de abordá-lo. Hans- Jürgen Greschat é, atualmente, professor emérito de História da Religião na Universidade de Marburgo, na Alemanha. Sua obra Was ist religionswissenschaft?, escrita em 1988, fruto de 25 anos de pesquisa, resulta de alguns questionamentos de estudantes acerca dos objetivos e do objeto da ciência da religião. É por isso que ela nasceu como um estímulo ao labor científico. Trata-se, portanto, de um livro introdutório da coleção Repensando a religião, da Editora Paulinas, que vai além da simples expectativa da explicação de como desenvolver pesquisas no campo da ciência da religião. Ele convoca a refletir a discussão que perpassa também pela convergência (compreensão e interpretação do mundo) entre a ciência e a religião que, muitas vezes, têm sido vistas como campos opostos de conhecimento. A obra está dividida em cinco capítulos: a apresentação de o que é ciência e o objeto da religião; como desenvolver ou produzir, passo a passo, conhecimentos; a história da religião; a teoria da ciência sistemática da religião; até a definição de personalização da ciência da religião e sua distinção da teologia. O livro pode ser tanto usado por alunos iniciantes ou por profissionais da área, uma vez que ele abre a discussão para o que, de imediato, se evidencia: algumas diferenciações e contradições entre o que se entende por pesquisa científica e como elas se processam no campo da religião na Alemanha e, de fato, no Brasil. Em algumas obras brasileiras, a exemplo de autores, tais como Faustino Teixeira (2001), o termo ciência vem pluralizado. Nesse sentido, 5 percebe-se distância de entendimento entre italianos, brasileiros e alemães no tocante à(s) ciência(s) da religião. Nesse assunto, Brandt (2006), em seu artigo As ciências da religião numa perspectiva oposta da fenomenologia da religião no Brasil e na Alemanha, apresenta as discussões mais atuais de como é vista a fenomenologia da religião pela(s) ciência(s) da religião. De antemão, o título O que é ciência da religião já é provocativo. Ao singularizar o termo ciências, já habitual para nossos cientistas da religião, o autor dá a entender que há, notadamente, "possíveis" diferenciações quanto a sua aplicabilidade, abrangência e delimitações. Nota-se que a singularização do termo, diferentemente de seu uso corrente em nosso país, não deve ser, portanto, falha de tradução ou edição original, como se percebe em algumas orações com expressões adverbiais antecipadas e outras sem as devidas pontuações que, a nosso ver, passaram por "vistas grossas". O livro é esclarecedor e vai além de uma simples introdução à temática proposta. Aliás, ele torna-se instrutor e provocador, principalmente, porque faz refletir sobre as situações atuais de como se praticam os estudos da(s) ciência(s) da religião. Por exemplo, quando o autor compara, define e distingueas atividades dos especialistas em teologia e seu campo de estudo, quer, na verdade, mostrar que deve haver "certa" neutralidade entre a religião pesquisada e o cientista pesquisador. Metodologicamente, as religiões pesquisadas são vistas como "sistemas" de sentido formalmente idênticos. Isso quer dizer que não se deve questionar a "verdade" ou a "qualidade" de uma religião. Greschat (2005) alerta sobre os perigos hermenêuticos dos estudos empíricos, pelo fato de, quando um teólogo da ciência da religião, ao analisar sua crença ou a crença alheia, correr o risco de estar comprometido confessional e institucionalmente com sua profissão de fé. Essa discussão epistemológica pretende, dessa forma, ser uma contribuição às experiências e às práticas desenvolvidas no Brasil, até porque, em nosso caso, os departamentos de Teologia e de Ciências da Religião estiveram sempre juntos e muitos cientistas da religião descenderam da teologia. Nossa realidade talvez não coincida com a realidade da Alemanha, pois esta, tradicionalmente, focou-se nas filologias e nas religiões orientais, enquanto, no Brasil, a(s) ciência(s) da religião ainda é uma realidade nova. 6 A ênfase do pensamento de Greschat (2005) evidencia-se, quando diz que o cientista de religião, ao estudar seu objeto de pesquisa, deve não apenas partir das implicações epistemológicas, mas, sobretudo, da observação e análise do campo de pesquisa, uma vez que o sagrado, em qualquer religião, está aberto à experiência. Resumidamente, é, a partir da experiência in loco, segundo o autor, que se torna possível uma personalização da ciência da religião. Para Greschat (2005), a personalização trata de um novo paradigma, pois [..] ela nos obriga a levar a sério também os fiéis de outras religiões e não somente usá-los como instrumentos ou estudá-los de um ponto de vista distante, como o de biólogos que observam um grupo de chimpanzés. Nossas conclusões sobre determinada religiosidade alheia estão corretas? (GRESCHA7; 2005, p. 160). Segundo o autor, não há ninguém melhor do que os próprios fiéis para avaliar isso. Em sendo assim, em vez de privilegiar os textos religiosos como principais referências bibliográficas, o autor convida a cultivar nossa sensibilidade, como teóricos da religião, para "uma compreensão mais autêntica possível do olhar do fiel da religião em questão" (Idem, p. 10). A proposta de Greschat é um tanto desafiadora, pois convida também o pesquisador, em sua análise empírica, até mesmo a "vivenciar", de forma empática, "a religião alheia". Aqui está, pois, o mérito do autor. A fim de exemplificar seu método, Greschat cita Rudolf Otto, sua obra O sagrado e sua receptividade, como pesquisador, às impressões da vida religiosa alheia. Para Greschat (2005), torna-se preciso sair de seu âmbito costumeiro — tendencioso a observar de longe —, para ser capaz de "ver, ouvir, cheirar, tocar e saborear [...] a totalidade de uma religião alheia" (p. 91). Além do autor supracitado, em sua obra, encontramos Max Muller, considerado o pai da ciência da religião, que iniciou seus estudos filológicos com base em textos sagrados. Cari Rogers, psicólogo norte-americano, também é citado, quando Greschat sugere a produção, e não a reprodução do material das obras clássicas. Seguindo a abordagem criativa de Cari Rogers e sua aplicabilidade, Greschat anuncia que uma "futura Ciência da Religião não deverá padecer da falta de pesquisadores criativos" (2005, p. 163-64). Essa experiência comentada por Greschat não pode, portanto, confundir-se com as observações e análises teológicas, mesmo porque, para o autor, há, entre a teologia e a 7 ciência da religião, evidências de incompatibilidade, uma vez que a última tem, per si, independência e autonomia disciplinar. No intuito de estimular a "prática" cientifica, o autor procura mostrar, a partir das explicações de sua própria experiência acadêmica, como se pratica a ciência da religião. Entretanto, deixa transparecer que, no tocante às práticas, a fenomenologia da religião é encarada com certo ceticismo, por conta de sua abordagem clássica e das influências sofridas por parte do conceito de sagrado. Por conta dessa concepção, esse talvez seja um dos motivos do interesse de Usarski pela tradução da obra de Greschat por e tomá-lo conhecido do público brasileiro. Segundo Usarski apud GRESCHAT (2005,p. 7), a leitura de O que é ciência da religião confirmou sua abordagem "relativista" (tese de doutorado), antes rejeitada na Alemanha pelos representantes da Igreja Luterana. Talvez seja por isso que o terceiro volume da coleção Religião e Cultura tenha sido de sua autoria, cuja proposta é dizer como deveriam ser os Constituintes da ciência da religião (título da obra) como disciplina autônoma. O leitor, ao fazer uso dessa obra, observará que, para Greschat (2005), os cientistas da religião não podem perder de vista a totalidade da religião pesquisada, embora não estejam preocupados com atestar sua verdade ou falsidade. "A curiosidade de um cientista da religião para a solução de um problema intelectual deveria ocupá-lo 8 mais ardentemente do que qualquer interesse cotidiano em alguma coisa, uma vez que seu fervor cientifico tem de perdurar semanas ou, até mesmo, meses" (GRESCHAT, 2005, p. 34). Os cientistas da religião devem, pois, ser capazes de trazer à luz aspectos de uma religião alheia ao conversar com o crente que melhor poderá responder à questão de como algo religioso funciona, e não meramente explicar o fenômeno da religião. Todavia, eles devem partir, exclusivamente, Sélcio de Souza Silva do fenômeno religioso, e examiná-lo, não do ponto de vista da fé, mas da ciência. Em outras palavras, examinam não a verdade do discurso, mas a validade científica do argumento do pesquisador. Dessa forma, há uma ponte, talvez estreita, entre os labores dos especialistas em religião (científica da religião), cuja tarefa é a descrição e análise do fenômeno religioso. Cabe, pois, aos especialistas religiosos (teólogos) não só a análise, mas, sobretudo, a interpretação e a veracidade do fenômeno. Os filósofos baseiam-se, por sua vez, em estruturas racionais e tendem "a ignorar os elementos específicos das experiências religiosas" (OTTO, 1985, p. 10). Enfim, convidamos o leitor a enveredar pelo caminho da ciência da religião, por onde toda a reflexão centra-se no papel do cientista da religião e em sua maneira de lidar com seu objeto de estudo. Esses são os direcionamentos de Greschat (2005). Quem assim o fizer perceberá que há uma enorme ponte entre os labores dos especialistas em religião (cientistas da religião, cuja tarefa é descrever o fenômeno religioso) e os especialistas religiosos (teólogos, cuja tarefa é a análise, interpretação e veracidade do fenômeno), e, certamente, deixará de cometer alguns equívocos ao lidar com essa disciplina e seu campo de estudo. 4 - RELIGIÃO, CIÊNCIA E MÉTODO Na primeira parte abordamos a relação entre teologia e o fenômeno religioso, tendo em vista as dificuldades do tema na modernidade onde a religião não passava de um subterfúgio da ideologia. No segundo momento apresentamos o trabalho epistemológico de Clodovis Boff, como uma experiência concreta de unir método e teologia, ciências do social e religião. 9 Enfim, na terceira parte (que será publicada na próxima edição) demonstraremos que as disputas entre teologia e método proporcionaram o uso das ciências sociais na teologia e a valorização do aspecto teológico-religioso da fé na vida de cada indivíduo, nas Igrejas e na sociedade, possibilitando o desenvolvimento da teologia e das ciências da religião. A presente comunicação é fruto das pesquisas referentes ao método teológico no Brasil, na qual as ciências da religião têm um papel interdisciplinar e favorece a pertinênciae a diversidade de objeto do tema dos demais campos que lidam com a religião, a saber, a teologia, a filosofia da religião e a ciências da religião. O presente trabalho se fundamenta na tese Ver-Julgar-Agir: o debate sobre o método da Teologia da Libertação no Brasil. Palavras Chaves: Religião – Teologia – Ciência – Metodologia teológica – Relação entre Teologia-Filosofia- Ciências – Teologia e Pós-Modernidade. 5. A teologia no Brasil e o fenômeno religioso O contexto do nascimento da teologia da libertação no Brasil está ligado ao fenômeno religioso brasileiro. Pois a teologia da libertação no Brasil nasceu de uma resposta de um povo extremamente religioso e extremamente oprimido. Estas duas vertentes queriam superar a distância entre a religião e o racionalismo. Pois a modernidade criticava abertamente a religião e a totalidade dos seus fenômenos, acusada de ideologia e falsidade. Por isso, a religião busca aproximar-se da luta pela libertação. Esta busca fazia com que a Igreja estivesse aberta ao mundo e procurasse inserir-se nas atividades humanas. Neste contexto as ciências da religião ainda não são valorizadas pela modernidade, mas exige de seu objeto uma mudança substancial para que se aproxime da pessoa humana e do seu próprio contexto. Assim, a teologia da libertação buscou na religiosidade popular, nas manifestações religiosas a presença de Deus Libertador e exigiu dos cristãos uma mudança de atitude. 10 Esta atitude pastoral partia de uma reflexão baseada na religião e na busca de Deus, que fomentava a leitura orante da Palavra de Deus e dos documentos eclesiais para que depois promovesse uma ação eficaz em prol da libertação dos oprimidos, como foi a atitude de Cristo. Isto demonstra o valor e a necessidade da epistemologia para definir a pertinência de cada campo de estudo da religião, com a definição do seu objeto e sua metodologia. Assim, se por um lado as ciências humanas viam na religião somente um fenômeno, por outro a teologia tentava uma abertura para o homem e o mundo. A primeira atitude de base estruturalista somente via a religião como mais uma atividade humana e social. Portanto, esta era concebida como uma ideologia ou como uma atividade subjetiva, que somente deveria chamar atenção devido sua implicação social e cultural. A outra atitude procurava responder a modernidade e mostrava a sua prática e sua importância no contexto social. No entanto, a tentativa de modernidade por parte das religiões valorizou a situação pastoral, porém, a experiência pastoral do Brasil não permitiu a construção de um método acadêmico, nem possibilitou uma disputa intelectual como posse do saber. Mas pelo contrário, fizeram emergir a necessidade de uma articulação eclesial e pastoral, que se efetivou na organização da Igreja do Brasil, com a fundação da CNBB e seus primeiros planos pastorais e a irradiação de diversos movimentos religiosos e sociais que possibilitaram a formação de comunidades e uma “nova maneira de ser Igreja”. Enfim, constata-se a dificuldade de fontes propriamente teológicas para definição do papel da religião e nota-se uma ausência das ciências das religiões, uma vez que havia durante os anos 70 uma oposição entre modernidade e religião e a impossibilidade de uma ciência baseada no fenômeno religioso. 5.1 - A busca do método e a cientificidade da religião Em razão da oposição da modernidade com a religião e da lacuna epistemológica sobre a teologia, a religião e a ciência e suas relações há a necessidade de se buscar um método capaz de dar sustentáculo a teologia e 11 que favorecesse a prática religiosa. Neste contexto, Leonardo Boff já tinha elaborado de modo simples e popular uma teologia que tentava valorizar o aspecto “sacramental” da realidade, partindo da realidade humana para propor uma teologia que estabeleceria uma relação dialética entre teologia e libertação. Mas sua teologia absorvia uma série de afirmações e generalidades, precisando de uma definição mais coesa e forte. Esta proposta de uma metodologia própria que desse valor acadêmico e oportunidade à religião é a tentativa de Clodovis Boff. O seu método procurava dar uma resposta aos imperativos científicos e propunha a teologia como práxis, na qual o elemento religioso trabalharia com um dado não-teológico. Embora sua tese doutoral fosse valorizada e popularizada no ambiente latino-americano sua demonstração e valorização acadêmica foi mais comentada nos países ricos e gerou por parte da autoridade eclesial uma perplexidade devido a mudança do auditus fidei. Para Clodovis, a teologia deveria definir seu novo estatuto partindo do conceito de Práxis e instaurando a Teologia do Político. É a tentativa de abordar um elemento não-teológico a partir de sua própria pertinência, enriquecendo com a racionalidade moderna e levando a um aprofundamento da práxis cristã. Este processo baseia-se no processo de prática teórica de L. Althusser dando condições epistemológicas para elaborar diversas teologias particulares sobre determinados assuntos. Isto também possibilitou a mediação das ciências sociais de modo que a religião respondesse às necessidades da atualidade tal como foi realizada por Jesus no seu tempo, para que a teologia e a religião fossem também pertinentes diante da nossa situação de opressão. Como a Práxis, é o «lugar» teológico fundamental, é necessário o uso da Mediação Sócio-Analítica e da Mediação Hermenêutica. A Mediação Sócio- Analítica permite a distinção do elemento não-teológico da religião, a demonstração dos obstáculos teológicos para construção de uma teologia particular e a definição dos dois regimes da prática teológica, isto é, a autonomia e a dependência, dando lugar à teologia no contexto científico e demonstrando o objeto da religião e da teologia. 12 Assim, Clodovis ressalta o caráter propriamente teológico-religioso da fé demonstrada pela Mediação Hermenêutica, por se tratar do «recurso teórico obrigatório e constitutivo de todo processo teológico», uma vez que a teologia tem a sua própria pertinência, o seu fundamento é o real da Salvação, enquanto o seu conhecimento se dá a partir da Revelação, porém distinguindo a transcendência da Fé e a imanência da Teologia, e porque não dizer das Religiões e com seus diversos modos de compreensão científica, doutrinal, celebrativa e mística. Porém, a tese de Clodovis sofre uma mudança mais popular e pastoral no qual mais que a elaboração de uma meta-teoria sobre a teologia foi preciso retornar à concepção de ver a realidade como uma atitude de encarnação valorizando o aspecto existencial, lúdico e simbólico. Enfim, a religião e a teologia deveriam levar a uma busca do Transcendente, retornando a uma experiência unitotalizadora da pessoa para que seja capaz de encontrar-se consigo, com Deus com os outros e com o mundo, no qual a fé forneceria as condições necessárias para ver o mundo . Por isso, tem-se uma reviravolta na atitude metodológica de Clodovis na qual o elemento místico-religioso passa a ser um elemento preponderante do método teológico e elemento fundamental a ser considerado pela teologia e que depois é desenvolvido de forma ampla pelas ciências da religião e suas manifestações. Isso também demonstra a necessidade que a teologia da libertação no Brasil retomasse a uma visão mais religiosa enquanto manifestação profética, fiducial e transformadora a partir da própria fé. Deste modo, a religião seria valorizada como uma atitude de conversão que transforma a vida das pessoas e provoca uma mudança estrutural na sociedade para manifestar a presença de Deus entre os homens e do cumprimento do mandamento do amor. Porém, de modo prático a tentativa desta metodologia não favoreceu um discurso acadêmico do tema, mas de certa forma propiciou uma abertura para o valor da religião nos diversos campospela valorização da práxis. 13 5.2 - A disputa pelo método e o papel da religião As disputas no campo teológico demonstrado pelo interesse pela teologia da libertação no Brasil promoveram diversos debates sobre a religião, não mais como um simples fenômeno social ou como uma busca de metodológica para a afirmação do espiritual e transcendente, mas a afirmação explícita do papel da religião. Isto acontece particularmente pelo debate do uso da sociologia na teologia da libertação e, consequentemente, na religião e da valorização do aspecto religioso-teológico da realidade. A preocupação com o uso das ciências sociais na teologia tinha em vista reconhecer o valor da realidade social como ponto de partida para a ação evangelizadora da Igreja. A razão disso é a necessidade de que a religião e, particularmente, a teologia tenha como ponto de partida o concreto da realidade, precisando fazer uma análise social e discorrer sobre o papel da religião e da teologia. Esta discussão favorece a busca de um instrumental teórico sociológico para a constatação do elemento religioso e seu significado, ou seja, há a necessidade da definição epistemológica e da pertinência de cada ciência da religião e de modo que possa demonstrar a validade da doutrina cristã e de sua prática, onde há a necessidade de um “certo” pluralismo de opiniões, em razão da possibilidade de interpretação diversa da analogia entre os dados da ciência e a fé, mas ao mesmo tempo, para evitar a equivocidade e identificação objetiva entre sociedade e teologia e, por que não dizer, levar a própria religião a uma concepção intimista e subjetivista, fugindo da sua própria finalidade, desviando- se do seu conceito e, consequentemente, tornando um simples material ideológico. Portanto, esta atitude favorece a busca de outras interpretações científicas da religião nas diferentes matizes das ciências humanas. Com isso se estabelece uma relação entre fé, teologia e ciências . Nesta relação se define o caráter próprio da teologia e da religião e procura um “modelo” científico de interpretação, mas afirmando o caráter próprio de cada um destes campos que não pode ser confundido. Segundo P.F. Carneiro de Andrade, este é um modelo complexo, que envolvendo relações equidistantes entre os objetos apresentados, não pode correr o risco de delimitação e nem provocar uma 14 confusão de pertinências. Esta relação é necessária e interdisciplinar por propiciar o caráter imanente de qualquer ciência e demonstrar a amplitude do objeto, quer seja da teologia ou da religião, que sempre escapam da mediação fenomenológica e social e abrem espaço para o além, o Metafísico e o Transcendente. Porém, o fundamento desta relação entre a teologia, a religião, a filosofia e as ciências deve ser o valor da pessoa humana e a construção do bem-comum, de modo que se percebam na fé cristã os elementos de verdade e validade para a vida e para a sociedade, na qual a prática religiosa deve ser expressão enquanto celebração, doutrina e ciência, no qual o Transcendente e o Santo se manifeste na história e na prática religiosa e confirme sua manifestação e presença na verdade da Revelação cristã onde o Deus Criador e Providente, que vem ao encontro do homem definitivamente em Jesus Cristo dando-nos o seu Espírito e convocando o povo para a sua Igreja, seja a verdade religiosa inerente a todos. Por sua vez, o aspecto religioso-teológico da realidade é importante, pois determina o «lugar» em que se elabora a teologia e se vive a religião. Por isso, se busca «um novo modo de fazer teologia» e uma «nova maneira de ser Igreja». No entanto, a mudança da sociedade nos anos 90 fazem aparecer novos paradigmas que se distanciam da concepção sócio-econômica-política dando espaço para novos sujeitos emergentes – mulher, índios, excluídos – como também aparecem novos problemas como a ecologia, o futuro das próximas gerações e a subjetividade. Enfim, a concepção sócio-econômica-política é enriquecida por outras dimensões da subjetividade e da realidade. A influência destes novos paradigmas é confirmada pela necessidade uma nova interpretação da religião por parte das ciências humanas e da importância do diálogo interdisciplinar entre a teologia, religião e ciências, devido ao pluralismo cultural e a complexidade da pós-modernidade. Esta interdisciplinaridade deve favorecer uma interpretação da vida humana em todos os seus aspectos, no qual é importante definir o valor e o significado da religião e das instituições religiosas, de tal modo que se possa estabelecer o seu papel e sua importância na sociedade. Enfim, se tem a aprovação a nível 15 governamental da ciência teológica e do valor de suas instituições e a divulgação e abertura de tantas áreas de pesquisas para as ciências da religião. 6 – Conclusão O crescimento dos trabalhos acadêmicos a respeito da religião e da teologia aparece por todo o território nacional. Por isso, é preciso aprofundar o desenvolvimento da teologia e das ciências da religião ao longo destes quarenta anos e verificar o valor e o significado da religião para a sociedade. Mas é preciso definir os seguintes conceitos: teologia – religião – ciência e determinar o objeto de cada uma destas instâncias. Portanto, o campo da epistemologia é fundamental. É preciso determinar a metodologia do trabalho para estabelecer 16 as relações entre estes campos que envolvem o tema religioso. Precisaria dar continuidade à metodologia tal como foi feita por Clodovis Boff, nas suas pesquisas e como tem demonstrado as últimas pesquisas nesta área. Pois, somente com uma epistemologia apropriada é possível definir a cientificidade da teologia e da religião e das suas ciências conexas. Isto favorecerá não somente uma resposta no campo acadêmico, mas permitirá que a teologia e a religião tenham a sua importância na sociedade, principalmente, numa sociedade em constantes mudanças e com alterações rápidas de paradigmas. Referências BRANDT, H. As ciências da religião numa perspectiva intercultural. A percepção oposta da fenomenologia da religião no Brasil e na Alemanha. Disponível em: Acesso em: 17 jun. 2007. GRESCHAT, Hans-Jürgen. O que é ciência da religião? São Paulo: Paulinas, 2005. TEIXEIRA, F. (Org.). A(s) ciências(s) da religião no Brasil: afirmação de uma área acadêmica. São Paulo: Ed. Paulinas, 2001. USARSKI, F. Constituintes da religião. Cinco ensaios em prol de uma disciplina autônoma. São Paulo: Paulinas, 2006. http://www.cienciaefe.org.br/jornal/ed118/mt1.html-acessoem13/06/2016 - Prof. José Carlos Veloso 17
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