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� � � � � METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA 1 2 MARIA DAS GRAÇAS VILLELA RODRIGUES � METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA ELABORAÇÃO DE PROJETOS, TRABALHOS ACADÊMICOS E DISSERTAÇÕES EM CIÊNCIAS MILITARES 3ª Edição Colaboração e ampliação José Fernando Chagas Madeira Luiz Eduardo Possídio Santos Clayton Amaral Domingues Rio de Janeiro EsAO 2006 3 © 2004 Maria das Graças Villela Rodrigues Reservados todos os direitos de publicação à Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO). É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, gravação, fotocópia, distribuição na Web e outros), sem permissão expressa da Escola. Diagramação: José Fernando Chagas Madeira – Maj Com Luiz Eduardo Possídio Santos – Cap MB Clayton Amaral Domingues – Cap Art Revisão: Manoel Márcio Gastão – Cel Inf R1 Marco Aurélio de Trindade Braga – Cel Inf R1 Luiz Carlos Enes de Oliveira – Cel Com R1 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais Avenida Duque de Caxias, 2071 Rio de Janeiro / RJ - CEP 21.615-220 Fone (21) 2450-8500 (R 8075 e 8027) - e-mail: spg@esao.ensino.eb.br R 696 Rodrigues, Maria das Graças Villela. Metodologia da pesquisa: elaboração de projetos, trabalhos acadêmicos e dissertações em ciências militares/Maria das Graças Villela Rodrigues. colaboração e ampliação José Fernando Chagas Madeira, Luiz Eduardo Possídio Santos, Clayton Amaral Domingues. 3. ed-Rio de Janeiro: EsAO, 2005. 130 p.; il. ; 30 cm. ISBN 85 - 98116 - 01 - 7 1. Pesquisa – Metodologia.I Título. CDD 001.4 4 SUMÁRIO PREFÁCIO............................................................................................. 10 INTRODUÇÃO....................................................................................... 12 UD I – TÉCNICAS DE ESTUDO............................................................ 14 1 METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA..................................... 15 1.1 A METODOLOGIA E O ENSINO SUPERIOR....................................... 15 1.2 A DINÂMICA DE ESTUDO.................................................................... 16 1.3 A LEITURA............................................................................................. 17 1.4 O ESTUDO DO TEXTO......................................................................... 18 1.5 A TRANSPOSIÇÃO DA LEITURA......................................................... 20 1.6 A PRÁTICA DO FICHAMENTO............................................................. 21 UD II – A CIÊNCIA COMO FORMA DE CONHECIMENTO.................. 24 2 CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO................................................ 25 2.1 A CIÊNCIA............................................................................................. 25 2.2 MÉTODOS CIENTÍFICOS..................................................................... 27 2.2.1 Os métodos de abordagem................................................................. 28 2.2.1.1 O método dedutivo................................................................................. 29 2.2.1.2 O método indutivo.................................................................................. 29 2.2.1.3 O método hipotético - dedutivo.............................................................. 30 2.2.1.4 O método dialético................................................................................. 31 2.2.1.5 O método fenomenológico..................................................................... 31 2.2.2 Os métodos de procedimentos.......................................................... 31 2.2.1.1 O método histórico................................................................................. 32 2.2.1.2 O método comparativo........................................................................... 32 2.2.1.3 O método estatístico.............................................................................. 32 2.2.1.4 O método de estudo de caso................................................................. 33 2.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................... 33 5 UD III - PRODUÇÃO E TRANSMISSÃO DO CONHECIMENTO POR MEIO DA PESQUISA CIENTÍFICA....................................................... 34 3 PESQUISA CIENTÍFICA....................................................................... 35 3.1 CLASSIFICAÇÃO ................................................................................. 35 3.1.1 Quanto à natureza................................................................................ 36 3.1.2 Quanto à forma de abordagem do problema.................................... 36 3.1.3 Quanto aos objetivos gerais.............................................................. 36 3.1.4 Quanto aos procedimentos técnicos................................................. 37 3.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................... 40 3.2.1 Pesquisa científica versus metodologia científica........................... 40 3.2.2 Níveis de pós-graduação na EsAO.................................................... 40 3.2.2.1 Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu.......................................... 41 3.2.2.2 Programa de Pós-Graduação Lato Sensu............................................. 41 UD IV - PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU...... 44 4 PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU................................................ 45 4 1 INTRODUÇÃO....................................................................................... 45 4.2 AS ETAPAS DA PESQUISA.................................................................. 45 4.3 A ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO.......................... 48 1 INTRODUÇÃO................................................................................... 48 2 REFERENCIAL CONCEITUAL......................................................... 49 2.1 TEMA............................................................................................... 49 2.2 PROBLEMA..................................................................................... 50 2.2.1 Antecedentes do problema........................................................ 52 2.2.2 Formulação do problema........................................................... 52 2.2.2.1 Regras básicas para a formulação de um problema científico.. 53 2.2.3 Alcances e limites....................................................................... 55 2.3 JUSTIFICATIVA............................................................................... 55 2.4 CONTRIBUIÇÃO.............................................................................. 56 3 REFERENCIAL TEÓRICO................................................................ 56 6 3.1 REVISÃO DE LITERATURA............................................................ 57 3.2 ENTREVISTAS EXPLORATÓRIAS................................................. 57 4 REFERENCIAL METODOLÓGICO................................................... 58 4.1 OBJETIVO....................................................................................... 59 4.1.1 Objetivo geral.............................................................................. 59 4.1.2 Objetivos específicos................................................................. 61 4.2 HIPÓTESE....................................................................................... 61 4.3 VARIÁVEIS...................................................................................... 64 4.3.1 Definição conceitual das variáveis............................................ 64 4.3.1.1 Relacionamentoentre variáveis................................................. 66 4.3.1.2 Correlação entre variáveis......................................................... 67 4.3.2 Definição operacional das variáveis......................................... 68 4.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS........................................ 69 4.4.1 População.................................................................................... 70 4.4.2 Amostra........................................................................................ 70 4.4.3 Método de pesquisa.................................................................... 71 4.4.4 Tipo de pesquisa......................................................................... 72 4.4.5 Técnica de pesquisa................................................................... 73 4.4.5.1 Coleta documental..................................................................... 73 4.4.5.2 Questionário............................................................................... 74 4.4.5.3 Entrevistas................................................................................. 78 4.4.5.4 Observação................................................................................ 79 4.4.5.5 Análise de conteúdo................................................................... 80 4.4.6 Instrumentos............................................................................... 81 4.4.6.1 Escalas para medir atitudes....................................................... 82 4.4.6.2. Pré-teste dos instrumentos....................................................... 86 4.4.7 Análise dos dados...................................................................... 87 5 REFERENCIAL OPERATIVO (Projeto)............................................ 88 7 5.1 PLANILHA DE CUSTOS (Projeto)................................................... 88 5.2 CRONOGRAMA (Projeto)................................................................ 88 5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS...................... 89 5.1 APRESENTAÇÃO DOS DADOS .................................................... 89 6.1.1 Categorização dos dados........................................................... 90 5.1.2 Codificação dos dados............................................................... 90 5.1.3 Tabulação dos dados................................................................. 92 5.1.3.1 Tabulação de perguntas fechadas............................................. 92 5.1.3.2 Tabulação de perguntas abertas............................................... 93 5.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS ....................................................... 94 5.2.1 Análise estatística....................................................................... 94 5.2.2 Avaliação das generalizações................................................... 95 5.2.3 Interpretação dos dados............................................................ 96 6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES............................................ 96 4.4 MONTAGEM DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO.............................. 98 4.4.1 Quanto ao estilo de redação............................................................... 98 4.4.2 Considerações finais........................................................................... 100 UD V - PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU........................................... 102 5 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU.......................... 103 5.1 INTRODUÇÃO....................................................................................... 103 5.2 AS ETAPAS DA PESQUISA.................................................................. 103 5.3 A ESTRUTURA DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO......... 105 1 INTRODUÇÃO................................................................................... 106 2 CONCEITOS E MÉTODOS............................................................... 106 2.1 TEMA............................................................................................... 106 2.2 PROBLEMA..................................................................................... 107 2.2.1 Antecedentes do problema ....................................................... 108 2.2.2 Formulação do problema........................................................... 108 2.2.3 Alcances e limites....................................................................... 109 8 2.3 QUESTÕES DE ESTUDO............................................................... 110 2.4.OBJETIVOS..................................................................................... 110 2.4.1 Objetivo geral.............................................................................. 111 2.4.2 Objetivos específicos................................................................. 111 2.5 JUSTIFICATIVA............................................................................... 112 2.6 CONTRIBUIÇÃO.............................................................................. 113 3 REFERENCIAL OPERATIVO........................................................... 113 3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS...................... 113 4 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES............................................ 114 5.4 MONTAGEM DO TCC........................................................................... 115 5.4.1 Considerações finais........................................................................... 116 REFERÊNCIAS..................................................................................... 118 Apêndice A - Elementos constitutivos do projeto de pesquisa e DM.. 122 Apêndice B - Elementos textuais obrigatórios da DM........................ 123 Apêndice C - Elementos constitutivos do projeto de pesquisa e TCC.. 124 Apêndice D - Elementos textuais obrigatórios do TCC....................... 125 Apêndice E - Exemplo de planilha de recursos humanos, materiais e serviços 126 Apêndice F - Exemplo de cronograma de execução do projeto de pesquisa 127 Apêndice G - Modelo de ficha............................................................... 128 9 10 PREFÁCIO À TERCEIRA EDIÇÃO A primeira e segunda edições deste livro receberam boa acolhida dos estudantes de pós-graduação no âmbito da EsAO. É com prazer que publicamos esta terceira edição, a fim de atualizar algumas partes, em resposta aos estímulos dos leitores e tendo em vista novas práticas e conceitos em metodologia da pesquisa científica no âmbito das Ciências Militares e no meio acadêmico civil. Neste sentido, aproveitando os modernos conceitos abordados pela autora, coube aos colaboradores redistribuir os conteúdos da Unidade Didática I, e adequar o item “A prática do fichamento” aos aspectos relevantes aos Programas de Pós- Graduação em Operações Militares. Na Unidade Didática II foram destacados e ampliados conceitos relativos à ciência, e aos métodos científicos, incluindo-se exemplos inerentes às Ciências Militares. Na Unidade Didática III foram definidos os diversos conceitos de pesquisa científica, segundo suas classificações quanto à natureza, à forma de abordagem do problema, aos objetivos gerais e aos procedimentos técnicos, procurando-se destacar, por meio de conceitos e exemplos, as principais diferenças entre os programas de pós-graduação lato sensu e stricto sensu. A partir desse momento, o leitor passa a ser incentivado a optar por um dos programas, os quais foram bem definidos nas Unidades Didáticas IV e V. A Unidade Didática IV foi remodelada pelos colaboradores, de forma que o leitor possa acompanhar o processo de produção científica por meio da dissertação de mestrado. Nesse sentido a estrutura da dissertação, com seus referenciais, foi inicialmente apresentada em forma de fluxograma, passando-sea definir detalhadamente cada etapa de pesquisa, e seu(s) referencial(ais) afeto(s). O mesmo processo foi apresentado na Unidade Didática V, onde os conceitos relativos à produção do trabalho de conclusão de curso foram apresentados. Foram ainda revisados os apêndices ao livro, de forma que o leitor possa verificar as partes obrigatórias a serem apresentadas nos projetos de pesquisa e nos relatórios finais de pesquisa, bem como apresentados, em forma de mídia digital (CD), exemplos didáticos de trabalhos acadêmicos em suas respectivas fases. BRAGA, M. A. de T; DOMINGUES, C. A.; GASTÃO, M. M; MADEIRA, J. F. C.; OLIVEIRA, L. C. E e SANTOS, L. E. P. 11 12 INTRODUÇÃO Os programas de pós-graduação, conduzidos pelas instituições de ensino de nível superior, exigem a apresentação de trabalhos acadêmicos, dissertação ou tese como requisito parcial para a obtenção dos certificados e títulos correspondentes. Estes trabalhos são desenvolvidos mediante pesquisa sobre tema relevante de determinada área, obedecendo à metodologia própria para iniciação científica, preceitos da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e regras ortográficas e gramaticais da língua portuguesa. Este manual foi elaborado com a intenção de proporcionar ao postulante dos Programas de Pós-Graduação em Operações Militares ferramentas que viabilizem a elaboração de projetos de pesquisa, trabalhos acadêmicos e dissertações, facilitando o estudo de problemas inerentes a esta área do conhecimento. Inicialmente desenvolver-se-ão algumas idéias e conceitos relativos à metodologia da pesquisa, seguindo orientações de renomados autores brasileiros que descrevem claramente o assunto, inferindo conceitos próprios da metodologia e adaptando-os às Ciências Militares. A seguir, serão abordadas noções inerentes aos métodos e tipos de pesquisa científica afetos às Ciências Militares, passando à apresentação de um raciocínio lógico e coerente, necessário à construção de projetos de pesquisa nos níveis stricto sensu e lato sensu. Finalmente, este manual esclarece que o resultado final da pesquisa, realizada por meio das ações propostas no projeto de pesquisa, será descrito em forma de trabalho de conclusão de curso (no nível lato sensu) ou de dissertação de mestrado (no nível stricto sensu). 13 14 TÉCNICAS DE ESTUDO 1 METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA 1.1 A METODOLOGIA E O ENSINO SUPERIOR 1.2 A DINÂMICA DE ESTUDO 1.3 A LEITURA 1.4 O ESTUDO DO TEXTO 1.5 A TRANSPOSIÇÃO DA LEITURA 1.6 A PRÁTICA DO FICHAMENTO 15 1 METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA A palavra metodologia vem do grego: meta que significa ao largo; odos, caminho; logos, discurso, estudo. Consiste em estudar e avaliar os vários métodos disponíveis e suas utilizações. Corresponde a um conjunto de procedimentos que auxiliam na obtenção do conhecimento. De acordo com Minayo (1999), entende-se por metodologia o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade. Neste sentido, a metodologia ocupa um lugar central no interior das teorias e está referida a elas. Já a pesquisa é entendida como a atividade básica da ciência, buscando questionar e construir a realidade. É a pesquisa que alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à realidade do mundo. Embora seja uma prática teórica, a pesquisa vincula pensamento e ação. Ou seja, nada pode ser intelectualmente um problema, se não tiver sido, em primeiro lugar, um problema da vida prática. As questões da investigação estão, portanto, relacionadas a interesses e circunstâncias socialmente condicionadas. 1.1 A METODOLOGIA E O ENSINO SUPERIOR A importância da metodologia reside no fato de ser uma disciplina que possui características investigativas, relacionadas com a busca de caminhos necessários à obtenção de conhecimentos, auxiliando o aluno no aprendizado da pesquisa e na sistematização dos conteúdos. Esta instrumentação é importante para o trabalho científico, porque colabora com o crescimento intelectual do postulante e com a formação de um compromisso científico frente à realidade empírica, buscando o conhecimento da verdade e a formação de um espírito crítico para a análise e para a reflexão científica. Desenvolver o conhecimento científico é fundamental para a educação superior que tem como objetivo ensinar e divulgar procedimentos científicos, levando em conta o estímulo ao pensamento produtivo, ao conhecimento sistemático, à criatividade e ao desenvolvimento do espírito crítico. A metodologia estrutura-se, 16 portanto, de forma a contribuir para que o ensino superior desenvolva as funções que lhe são impostas frente às necessidades culturais e econômicas emergentes. 1.2 A DINÂMICA DE ESTUDO O ensino superior deve propiciar o desenvolvimento do espírito científico aliado à prática de trabalhos acadêmicos de qualidade. Para tanto, é importante que os alunos adquiram hábitos de estudo, buscando informações a respeito de procedimentos que possam auxiliá-los na execução de tarefas acadêmicas. A atividade do estudo compõe-se de alguns elementos que são considerados muito importantes para o aprendizado. Severino (2000) destaca, como elementos principais a leitura e a escrita, pois, para aprender, é necessário ler ou ouvir as mensagens que nos são transmitidas; como, também, é necessário registrar por escrito o conteúdo para, posteriormente, retornar a essa mensagem, pensá-la e/ou reescrevê-la. Adverte, ainda, que o ensino superior exige dos alunos maior autonomia no processo de aprendizagem e postura de auto-atividade didática rigorosa, crítica e criativa, bem como um projeto de trabalho intelectual individualizado, apoiado em material didático e científico que se constitui basicamente na bibliografia especializada. Com estas afirmações, o autor citado nos leva a refletir sobre a necessidade de preparação do aluno, por meio da consulta bibliográfica afim, com as suas necessidades de aprendizagem. É necessário que ele utilize, com a devida freqüência, as bibliotecas disponíveis. A leitura de livros indicados na bibliografia do curso, de revistas especializadas, de periódicos e de outras fontes de consulta facilita a apreensão dos conteúdos e permite uma visão ampliada do assunto, oferecendo outras referências que ajudam a ampliar seu horizonte. A autonomia do processo de aprendizagem requer do aluno um esforço disciplinar intenso e constante, uma programação das atividades de estudo criteriosa e uma divisão adequada do tempo que propiciem uma permanente atividade de leituras, a participação em seminários, palestras etc. O ensino superior requer, além do estudo habitual, a participação em eventos e acontecimentos que promovam a reflexão e ampliação dos conhecimentos. A auto-atividade de aprendizagem é, 17 portanto, imprescindível e deve estar presente na vida do aluno preocupado com a sua performance. Um dos objetivos de um curso de pós–graduação é formar nos alunos o espírito científico que busca a obtenção de conhecimentos novos, aprimorando-os como seres ativos e participantes da história. A proposta deve ser a de aprender, isto é, não adianta apenas uma série de informações, é preciso aprender a fazer e aprender fazendo. As atividades de estudo como a leitura analítica, o estudo da documentação e a elaboração de trabalhos científicos têm de ser efetivamente praticadas. Essas atividades são desenvolvidas com o auxílio do instrumental de trabalho, utilizando técnicas de leitura, condensação de textos etc. 1.3 A LEITURA Ler é assimilar idéias, interagir com o autor, absorvendo o sentido da mensagem, conhecer, interpretar, decifrar, ampliar os conhecimentos e aprofundar o saber em determinado campo cultural ou científico. Segundo Salvador (1980), leré "distinguir os elementos mais importantes daqueles que não o são e, depois, optar pelos mais representativos e mais sugestivos”. Numerosas idéias são transmitidas em diferentes obras, sendo necessário que o leitor compreenda a idéia-mestra do texto, que é aquela que corresponde a tudo aquilo que o autor quer comunicar. Para tanto, a utilização de técnicas de sublinhamento, resumo e esquematização facilitam o entendimento do sentido do texto através das idéias de cada parágrafo, auxiliando o leitor no entendimento do pensamento do autor no contexto da obra. Ao ler um texto devemos primeiro prestar atenção em seu conteúdo informativo fundamental, ao qual se subordinam, de modo articulado, vários enunciados. A maioria das frases possui uma palavra-chave, que pode ser percebida diretamente ou com a ajuda de outras palavras que a substituem. Posteriormente, devemos identificar, nos diversos parágrafos, as idéias secundárias que articulam o entendimento final do texto. É importante fazer boas leituras porque esta prática enriquece o vocabulário, possibilitando ao leitor progredir cientificamente: adquirir experiência, melhorar a 18 comunicação e, principalmente, a redação. A leitura amplia e desperta a inteligência para um aprofundamento cada vez maior no conhecimento, clareando as idéias, permitindo uma abordagem do tema sob diferentes perspectivas, e fornecendo opções de soluções para os problemas de pesquisa, de acordo com os modelos teóricos de outros autores/pesquisadores. A leitura é imprescindível na elaboração de trabalhos de investigação científica. É importante consultar os autores, os livros e as revistas, que possam fornecer as informações necessárias. Devemos examinar, sumariamente, os componentes físicos dos livros cujos títulos nos interessam. Verificar o nome do autor, seu currículo, ler a orelha do livro, o sumário, a documentação ou as citações ao pé das páginas. Investigar a referência, assim como verificar a editora, a data, a edição e ler rapidamente o prefácio. A convergência desses vários elementos nos ajuda a identificar o texto e a selecionar as obras de interesse. 1.4 O ESTUDO DO TEXTO Segundo Galliano (1986), há várias maneiras de se estudar um texto, mas todas dependem sempre do propósito do estudo. Assim, um estudo profundo segue sempre um processo semelhante, um método. Devemos recordar que não se estuda um texto como quem lê um romance, por puro entretenimento. Os textos de estudo, mormente aqueles de cunho científico ou filosófico, requerem sempre o emprego da razão reflexiva por parte de quem estuda. E isso pressupõe uma certa disciplina intelectual, um método de abordagem para o objeto do estudo. Assim, o estudo do texto deve ser realizado em várias etapas, sendo necessário para o desenvolvimento deste, o domínio de algumas técnicas que vão contribuir para o entendimento do autor e da obra, quais sejam: sublinhar, resumir e esquematizar. Sublinhar é a arte que ajuda a colocar em destaque a idéia-mestra, as palavras-chaves e os pormenores importantes de um texto. Dentre as normas para sublinhar, é importante destacar que o leitor deve "marcar” apenas as idéias principais e os detalhes importantes. O leitor deve reconstruir o parágrafo a partir das palavras sublinhadas para depois formar um texto com as idéias-chave. Ao final, 19 deve ser possível ler o texto sublinhado com continuidade e plenitude de sentido. O texto fica condensado como em um telegrama, mas continua com o mesmo sentido. É interessante sublinhar com dois traços as palavras-chave da idéia principal e com um único traço os pormenores importantes. Assinalar com linha vertical, à margem do texto, as passagens mais significativas ou fazer um retângulo. Os pontos de discordância devem ser assinalados com um ponto de interrogação à margem do texto. Há autores que ainda aconselham o uso de cores diferentes para sublinhar. Após sublinhar o texto, é necessário condensar as idéias destacadas. O leitor deve escolher a maneira mais adequada de se condensar o texto, a que mais se identifique com o propósito de sua leitura. De acordo com a forma de apresentação do conteúdo sublinhado, o leitor pode integrar as idéias por meio de um resumo ou esquema. O resumo é a condensação de um texto capaz de reduzir seus elementos. É a apresentação concisa e, freqüentemente, seletiva do texto, destacando-se os elementos de maior interesse e importância, isto é, as principais idéias do autor da obra. É útil quando se necessita, em rápida leitura, recordar o essencial do que se estudou e a conclusão a que se chegou. Segundo Galliano (1986), resumir por escrito a leitura é conveniente quando se coleta material de obra rara e de difícil consulta, quando se prepara um trabalho de maior fôlego e profundidade, como a defesa de uma tese ou a elaboração de uma monografia ou dissertação, e quando se necessita fazer exercícios de redação clara e concisa. Para tanto, é necessário observar algumas normas para se fazer um bom resumo, tais como: não pretender resumir antes de ler o texto todo; esclarecer os pontos obscuros; sublinhar as palavras desconhecidas; ser breve, porém compreensível; e percorrer especialmente as palavras sublinhadas e anotações à margem do texto. Nos casos de transcrição textual (“ao pé da letra”), usar aspas e fazer referência completa à fonte. Juntar, principalmente ao final, idéias integradoras, referências bibliográficas e críticas, pertinentes e oportunas, de caráter pessoal. O esquema é a linha mestra seguida pelo autor no desenvolvimento de seu escrito. Para Galliano (1986), o esquema é a representação gráfica e sintética do que se leu. A elaboração de um esquema fundamenta-se numa seqüência lógica que ordene claramente as principais partes do conteúdo e que, mediante divisões e subdivisões, represente a hierarquia das palavras, frases, parágrafos-chave que, 20 destacados após várias leituras, devem apresentar ligações entre as idéias sucessivas para evidenciar o raciocínio desenvolvido. Algumas normas se fazem necessárias para a elaboração de um bom esquema. Uma delas é a fidelidade ao texto, captando e compreendendo o tema do autor e destacando títulos e subtítulos que o guiaram ao escrever o texto. Por fim, o esquema deve: a) ser claro, simples e distribuído organicamente; b) subordinar as idéias e fatos; c) ter estrutura lógica, mantendo um sistema uniforme; d) ser flexível e funcional para o uso; e e) destacar o propósito da leitura, facilitando a captação do conteúdo e permitindo melhor reflexão sobre o texto. 1.5 A TRANSPOSIÇÃO DA LEITURA Para auxiliar a transposição da leitura, é necessário que o leitor faça uma análise do texto. O estudo e a interpretação do texto vão depender dos objetivos do leitor e do fim a que se destina. Os textos de estudo de caráter científico, por exemplo, requerem, por parte de quem analisa, um método de abordagem e certa disciplina intelectual. Galliano (1986) e Severino (2000) elaboraram modelos de análise que abrangem alguns itens comuns aos dois autores que são chamados de análise textual, análise temática e análise interpretativa. A análise textual é a primeira forma de aproximação com o texto e tem a finalidade de apresentar o texto e o pensamento do autor. O leitor deve assinalar os vocábulos desconhecidos, os pontos que requerem posterior esclarecimento e as dúvidas que possam interferir na captação do pensamento do autor. É importante esclarecer as dúvidas por meio de consulta aos dicionários, enciclopédias, manuais, enfim, às obras de referência que se façam necessárias. Ao terminar essa análise, o leitor passa a ler com o objetivo de compreender profundamente o texto. Inicia-se então a análise temática onde o leitor vai processar a leitura para apreender o conteúdo, sem discutir com o texto, sem debateros conceitos ou idéias; a intenção é a descoberta e a reflexão da idéia 21 central. É necessário captar, na exposição do tema, o problema que motivou o autor, as idéias secundárias, os temas complementares, enfim, a estrutura de sustentação do texto. A análise temática é considerada completa quando o leitor estabelece, com segurança, o esquema do pensamento do autor, apreendendo o conteúdo do texto. A terceira etapa da leitura visa à interpretação do texto. O leitor passa a inferir e interpretar o que foi apreendido. Ao iniciar a análise interpretativa, o leitor deve relacionar as idéias expostas pelo autor com o contexto da cultura científica e/ou filosófica, recorrendo, se necessário, a outras fontes, complementando-as sempre que o estudo assim exigir. Ao terminar a análise interpretativa, o nível de conhecimento do leitor ter-se- á consolidado e ampliado. E para continuar desenvolvendo este conhecimento, Galiano (1986) aconselha ao leitor levar sua posição pessoal, seu juízo crítico, ao confronto da discussão em seminários, grupos de estudo, ou reuniões com colegas. Para ele, o debate é importante porque algumas conclusões, tidas como sólidas e inabaláveis, podem revelar sua fragilidade, enquanto outras ganharão maior vigor, estimulando novas reflexões e abrindo um novo ciclo de aprofundamento de análises. Concluindo adequadamente a leitura de um texto, o leitor mais experiente passa a produzir conhecimento e/ou a fazer proposições. São nessas condições que ocorre a transposição da leitura. É por meio da ampliação dos aspectos que a análise do texto suscitou e das proposições apoiadas na retomada de pontos relevantes que o leitor pode ir além, ultrapassar a leitura e produzir o conhecimento. Isso é muito importante, na medida em que o leitor/pesquisador necessite transmitir significados ou fazer alguma comunicação a respeito de determinadas conclusões. 1.6 A PRÁTICA DO FICHAMENTO Em face da necessidade de realização de um trabalho de pesquisa é preciso que o estudioso execute um levantamento bibliográfico que lhe permita: a) conhecer a origem do problema; b) identificar o que já foi pesquisado acerca do problema; 22 c) avaliar as soluções já experimentadas; d) colher opiniões de especialistas e participantes do processo; e e) compreender tudo aquilo que irá embasar a formulação de uma possível solução para o problema pesquisado. Segundo Eco (1989), a situação ideal seria dispor de todos os livros de que se tem necessidade. Entretanto, verifica-se que essa condição ideal é muito rara, mesmo para um estudioso profissional. Assim, o armazenamento das informações coletadas em bibliotecas, repartições públicas, centros culturais, sites de busca na Internet, etc, poderá ser realizado por meio de um arquivo de fichas ou um arquivo de computador. É oportuno destacar que os fichamentos são extremamente importantes na fase de coleta de informações, pois auxiliam no registro de resumos, opiniões, citações, enfim, tudo o que possa servir como embasamento para a redação do texto do trabalho de pesquisa. Tem-se em mente que os esforços empreendidos durante a elaboração dos fichamentos serão altamente recompensados no momento da redação final da pesquisa, revertendo em ganho de tempo. A EsAO adotou um modelo básico de ficha (Apêndice G), que deverá ser preenchida e apresentada na 2ª Fase do CAO, de acordo com calendário específico. A ficha é composta pelas seguintes partes: cabeçalho, referência, resumo da obra, citações, contribuições em relação ao tema e recursos ilustrativos de interesse. O campo destinado ao cabeçalho solicita informações que facilitarão a identificação futura do seu trabalho: a linha de pesquisa, o tema, o nome do postulante, a data do fichamento e a numeração da ficha. O campo destinado à referência deve ser preenchido conforme as normas da ABNT, descritas no Manual de Apresentação de Trabalhos Acadêmicos e Dissertações (MATAD) pois isso facilitará a composição do trabalho no momento da redação. O campo destinado ao resumo da obra, embora simples, deve permitir ao pesquisador identificar quais são os assuntos tratados, bem como as principais conclusões do autor. O campo destinado às citações poderá ser preenchido com citações diretas ou indiretas, tendo por finalidade destacar as idéias que irão sustentar o seu 23 raciocínio lógico, durante a confecção do referencial teórico (capítulo que traduz tudo aquilo que já foi publicado sobre o tema em estudo) de sua pesquisa. As citações não devem aparecer no seu trabalho como uma simples cópia do pensamento de outros autores, pois elas devem conter subsídios que permitirão a sustentação de hipóteses (DM) ou a discussão de questões de estudo (TCC). O campo destinado às contribuições em relação ao tema deve conter o seu parecer acerca do pensamento do autor, visando facilitar a construção do seu raciocínio lógico durante a confecção do trabalho; anote quantas idéias puder acerca do que foi lido e estudado, pois esse é o melhor momento para apreender idéias que contribuam para a sustentação da sua posição em relação ao problema de estudo. O campo destinado aos recursos ilustrativos de interesse deve conter tabelas, gráficos, figuras ou outros recursos que enriqueçam e/ou facilitem o entendimento do leitor acerca do seu trabalho. 24 A CIÊNCIA COMO FORMA DE CONHECIMENTO 2 A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO 2.1 A CIÊNCIA 2.2 MÉTODOS CIENTÍFICOS 2.2.1 Os métodos de abordagem 2.2.1.1 O método dedutivo 2.2.1.2 O método indutivo 2.2.1.3 O método hipotético-dedutivo 2.2.1.4 O método dialético 2.2.1.5 O método fenomenológico 2.2.2 Os métodos de procedimentos 2.2.1.1 O método histórico 2.2.1.2 O método comparativo 2.2.1.3 O método estatístico 2.2.1.4 O método de estudo de caso 2.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS 25 2 A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO Os consideráveis progressos nos meios de comunicação têm permitido que os avanços científicos se expandam rapidamente nas distintas comunidades mundiais e estejam ao alcance de um número cada vez maior de pessoas. O processo do conhecimento necessita da presença de três elementos: o objeto, o sujeito e uma relação entre os dois. O conhecimento se dá quando o sujeito apreende o objeto e, relacionando-se com ele, forma uma imagem. Independentemente das distintas teorias existentes para explicar o processo do conhecimento, faremos referência a dois tipos especiais que são: o conhecimento ordinário ou vulgar (senso comum) e o conhecimento científico. Segundo Galliano (1986), o conhecimento vulgar (senso comum) também denominado “empírico” é o que todas as pessoas adquirem na vida cotidiana, ao acaso, baseado apenas na experiência vivida ou transmitida por alguém. Em geral, resulta de repetidas experiências casuais de erro e acerto, sem observação metódica ou verificação sistemática e, por isso, carece de caráter científico. Pode, também, resultar de simples transmissão de geração para geração ou fazer parte das tradições de uma coletividade. Ao contrário, o conhecimento científico é uma aquisição intencional, consciente e sistemática; é um processo que chegou ao máximo de seu desenvolvimento com a aplicação do método científico. De acordo com Galliano (1986), o conhecimento científico resulta de investigação metódica e sistemática da realidade. Ele transcende os fatos e os fenômenos em si mesmos, analisa-os para descobrir suas causas e concluir as leis gerais que os regem. 2.1 A CIÊNCIA Variados autores apresentam o que entendem por ciência, elaborando conceitos que são permanentemente ampliados, uma vez que suas idéias não são definitivas. 26 O conceito, apresentado por Ander-Egg (1978), define ciência como um conjunto de conhecimentos racionais, certos ou prováveis, obtidos metodicamente,sistematizados e verificáveis, que fazem referência a objetos de uma mesma natureza. Para Trujillo (1974), ciência é uma sistematização de conhecimentos, um conjunto de proposições logicamente correlacionadas sobre o comportamento de certos fenômenos que se deseja estudar. Um conjunto de atitudes e atividades racionais dirigidas ao sistemático conhecimento com objetivo limitado, capaz de ser submetido à verificação. Pode-se considerar a ciência como uma forma de conhecimento que tem por objetivo formular, mediante linguagem rigorosa e apropriada (se possível com o auxílio da linguagem matemática), leis que regem os fenômenos. Neste sentido, o conhecimento deve ser: a) objetivo, porque descreve a realidade independente dos caprichos do pesquisador; b) racional, porque se vale, sobretudo, da razão e não da sensação ou impressões, para chegar a seus resultados; c) sistemático, porque se preocupa em construir sistemas de idéias organizadas racionalmente e em incluir os conhecimentos parciais em totalidades cada vez mais amplas; d) geral, porque seu interesse se dirige fundamentalmente à elaboração de leis e normas gerais, que explicam todos os fenômenos de certo tipo; e) verificável, porque sempre possibilita demonstrar a veracidade das informações; e f) falível, porque ao contrário de outros sistemas de conhecimento elaborados pelo homem, reconhece sua própria capacidade de errar. Segundo Gil (1999), há conhecimentos que não pertencem à ciência, tais como: o conhecimento vulgar, o religioso e, em certa acepção, o filosófico. A partir dessas características torna-se possível, em boa parte dos casos, distinguir entre o que é ciência e o que não é. Segundo Lakatos e Marconi (2000), não existe um consenso na apresentação da classificação das ciências; o que é ciência para alguns autores, ainda permanece 27 como ramo de estudo para outros, e vice-versa. Mas, baseando-se em Bunge (1976), as autoras adotam a seguinte classificação: ciências formais e ciências factuais. As ciências formais se encarregam do estudo das idéias, dividindo-se em lógica e matemática. Por não terem relação com algo encontrado na realidade, não podem valer-se dos contatos com essa realidade para convalidar suas fórmulas, utilizando a lógica para demonstrar rigorosamente seus teoremas. Os resultados alcançados pelas ciências formais demonstram ou provam hipóteses. As ciências factuais se encarregam do estudo dos fatos, dividindo-se em naturais e sociais. Referem-se a fatos que supostamente ocorrem no mundo e, em conseqüência, recorrem às observações e às experimentações para comprovar ou refutar suas hipóteses. Os resultados alcançados pelas ciências factuais verificam, comprovam ou refutam hipóteses que, em sua maioria, são provisórias. A grande diferença entre as ciências formais e factuais é que a demonstração (formal) é completa e final, ao passo que a verificação (factual) é incompleta e, por esse motivo, ela é temporária. Parra Filho (2000), ao referir-se à classificação atual dos vários campos da ciência, ressalta que as classificações da ciência devem ser provisórias, devido a sua constante evolução. A classificação é importante porque mostra a unidade e, ao mesmo tempo, a variedade do conhecimento humano, assinala o domínio próprio de cada ciência, patenteia as relações lógicas que as unem entre si e revelam a ordem em que as ciências devem ser estudadas. De acordo com este autor, ciência militar e defesa estão no campo das ciências sociais. 2.2 MÉTODOS CIENTÍFICOS Para que um conhecimento possa ser considerado científico, faz-se necessário identificar as operações mentais e as técnicas que permitam a sua verificação, ou seja, determinar o método que possibilite chegar ao conhecimento. Assim, Gil (1999) define método científico como um conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adotados para se atingir o conhecimento. 28 Lakatos e Marconi (2000) descrevem o desenvolvimento histórico do método, relatando que a preocupação em descobrir e explicar a natureza existe desde os primórdios da humanidade. Nas ciências militares, assim como em outras ciências, o método é fundamental para o desenvolvimento de uma pesquisa e sua escolha se dá de acordo com a proposta de trabalho do pesquisador. A adoção de um ou de outro método depende, portanto: a) da natureza do objeto de pesquisa; b) dos recursos materiais disponíveis; c) do nível de abrangência do estudo; e d) sobretudo, do pesquisador. Nesse sentido, vários sistemas de classificação podem ser adotados. Segundo Gil (1999), que apresenta uma classificação semelhante a outros autores como Trujillo, Ferrari (1982) e Lakatos (1992), há dois grandes grupos: os métodos de abordagem que proporcionam as bases lógicas da investigação científica; e os métodos de procedimentos que esclarecem acerca dos procedimentos técnicos a serem empregados. 2.2.1 Os métodos de abordagem Os métodos de abordagem esclarecem acerca dos procedimentos lógicos que deverão ser seguidos no processo de investigação científica dos fatos da natureza e da sociedade; são métodos desenvolvidos a partir de elevado grau de abstração, que possibilitam ao pesquisador decidir acerca do alcance de sua investigação, das regras de explicação dos fatos e da validade de suas generalizações. Podem ser incluídos neste grupo os métodos: dedutivo, indutivo, hipotético-dedutivo, dialético e fenomenológico. Cada um deles vincula-se a uma das correntes filosóficas que se propõem a explicar como se processa o conhecimento da realidade. O método dedutivo relaciona-se ao racionalismo, o 29 indutivo ao empirismo, o hipotético-dedutivo ao neopositivismo, o dialético ao materialismo dialético e o fenomenológico à fenomenologia. 2.2.1.1 O método dedutivo Método proposto pelos racionalistas Descartes, Spinoza e Leibniz que pressupõe que só a razão é capaz de levar ao conhecimento verdadeiro. O raciocínio dedutivo tem o objetivo de explicar o conteúdo das premissas, por intermédio de uma cadeia de raciocínio em ordem descendente (análise do geral para o particular) para chegar a uma conclusão. Usa o silogismo, construção lógica para, a partir de duas premissas, retirar uma terceira, logicamente decorrente das duas primeiras, denominada de conclusão (GIL, 1999; LAKATOS; MARCONI, 1993). Veja um exemplo de raciocínio dedutivo: Premissa maior As unidades de uma Bda CMec têm grande mobilidade. Premissa menor O 121° R C Mec faz parte da 1ª Bda C Mec. Conclusão O 121° R C Mec tem grande mobilidade QUADRO 1 - Exemplo de raciocínio dedutivo. Fonte: o autor A dedução pressupõe o aparecimento, em primeiro lugar, do problema e da conjectura, que serão testados pela observação e/ou experimentação. 2.2.1.2 O método indutivo Método proposto pelos empiristas Bacon, Hobbes, Locke e Hume. Considera que o conhecimento é fundamentado na experiência, não levando em conta os princípios preestabelecidos. No raciocínio indutivo a generalização deriva de observações de casos da realidade concreta. As constatações particulares levam à elaboração de generalizações (GIL, 1999; LAKATOS; MARCONI, 1993). Veja um exemplo de raciocínio indutivo: 30 Observação 1 O 121° R C Mec tem grande mobilidade. Observação 2 O 122° R C Mec tem grande mobilidade. ... ... Observação n O 123° R C Mec tem grande mobilidade. Premissa menor O 121°, 122°,... e o 123° R C Mec fazem parte da 1ª Bda C Mec. Conclusão A 1ª Bda C Mec tem grande mobilidade. QUADRO 2 – Exemplo de raciocínio indutivo. Fonte: o autor Segundo Wricht (apud HEGENBERG, 1976, p. 174), a indução pode ser caracterizada da seguinte forma: o fato de que algo é verdade, relativamente a certo número de elementos de uma dada classe, permite concluir que o mesmo será verdade, relativamente a elementos desconhecidosda mesma classe. Se, em especial, a conclusão se aplica a um número ilimitado de elementos não examinados, diz-se que a indução leva a uma generalização. O método indutivo propõe que, em primeiro lugar, está a observação dos fatos particulares e depois a hipótese a confirmar. Há, portanto, uma inversão de procedimentos em relação ao método dedutivo. 2.2.1.3 O método hipotético-dedutivo Proposto por Popper, o método hipotético-dedutivo consiste na adoção da seguinte linha de raciocínio: “quando os conhecimentos disponíveis sobre determinado assunto são insuficientes para a explicação de um fenômeno, surge o problema. Para tentar explicar as dificuldades expressas no problema, são formuladas conjecturas ou hipóteses. Das hipóteses formuladas, deduzem-se conseqüências que deverão ser testadas ou falseadas. Falsear significa tornar falsas as conseqüências deduzidas das hipóteses. Enquanto no método dedutivo se procura a todo custo confirmar a hipótese, no método hipotético-dedutivo, ao contrário, procuram-se evidências empíricas para derrubá-la” (GIL, 1999, p.30). O método hipotético-dedutivo se inicia pela percepção de uma lacuna nos conhecimentos, acerca da qual se formulam hipóteses e, pelo processo de influência dedutiva, testa-se a predição da ocorrência dos fenômenos abrangidos pela hipótese. 31 2.2.1.4 O método dialético Fundamenta-se na dialética proposta por Hegel, na qual as contradições se transcendem, dando origem a novas contradições que passam a requerer solução. É um método de interpretação dinâmica e totalizante da realidade. Admite que os fatos não podem ser considerados fora de um contexto social, político, econômico etc. O método dialético penetra o mundo dos fenômenos através de sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno e da mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade. O conceito de dialética equivale a uma argumentação que faz a distinção dos conceitos envolvidos na discussão. 2.2.1.5 O método fenomenológico Preconizado por Husserl, o método fenomenológico não é dedutivo nem indutivo. Preocupa-se com a descrição direta da experiência, tal como ela é. A realidade é construída e entendida como o compreendido, o interpretado, o comunicado pelo resultado da pesquisa. Então, a realidade não é única: existem tantas quantas forem as suas interpretações e comunicações. O sujeito/ator é reconhecidamente importante no processo de construção do conhecimento (GIL, 1999; TRIVIÑOS, 1996). 2.2.2 Os métodos de procedimentos Segundo Lakatos (2000), os métodos de procedimentos seriam etapas mais concretas da investigação, com a finalidade mais restrita em termos de explicação geral dos fenômenos menos abstratos. Pressupõem uma atitude mais concreta em relação ao fenômeno e estão limitados a um domínio particular. Gil (1999) expõe que os métodos que esclarecem acerca dos procedimentos técnicos a serem utilizados proporcionariam, ao investigador, os meios adequados para garantir a objetividade e a precisão no estudo de ciências sociais. Este manual reforça a conceituação adotada por Gil (1999), referindo-se à conceituação de método, enquanto conjunto de procedimentos suficientemente gerais, para possibilitar o desenvolvimento de uma investigação científica. 32 Assim, os principais métodos de procedimentos utilizados nas ciências sociais são: histórico, comparativo, estatístico e estudo de caso. 2.2.2.1 O método histórico O método histórico se dá a partir do estudo dos conhecimentos, processos e intuições passadas, procurando identificar e explicar as origens contemporâneas. Muitos dos problemas contemporâneos podem ser analisados e entendidos a partir de uma perspectiva histórica e, a partir da sua análise, evolução e comparação, se podem traçar perspectivas. 2.2.2.2 O método comparativo O método comparativo desenvolve-se pela investigação de indivíduos, classes, fenômenos ou fatos, com vistas a ressaltar as diferenças e similaridades entre eles. Sua utilização nas ciências sociais deve-se ao fato de possibilitar o estudo comparativo de grandes grupamentos separados pelo espaço e pelo tempo. O método comparativo tem como objetivo estabelecer leis e correlações entre os vários grupos e fenômenos sociais, mediante a comparação que irá estabelecer as semelhanças e/ou as diferenças. 2.2.2.3 O método estatístico Segundo Gil (1999), o método estatístico fundamenta-se na aplicação da teoria estatística da probabilidade e constitui importante auxílio para a investigação em ciências sociais. As explicações obtidas mediante a utilização do método estatístico não podem ser consideradas absolutamente verdadeiras, mas dotadas de boa probabilidade de serem verdadeiras. Mediante a utilização de testes estatísticos, torna-se possível determinar, em termos numéricos, a probabilidade de acerto de determinada conclusão, bem como a margem de erro de um valor obtido. O método estatístico, apesar das dificuldades para medir os fenômenos, auxilia o pesquisador no que diz respeito à quantificação matemática dos numerosos fatos que, reduzidos a números, permitem o estabelecimento de relações e correlações existentes entre eles, prestando-se tanto para que sejam inferidas como 33 para que sejam deduzidas as conseqüências dos fatos analisados. É também utilizado quando, pela variedade e complexidade dos fenômenos, torna-se impossível um conhecimento mais profundo dos fenômenos e de suas relações sem uma quantificação. Em ciências sociais não se entende a estatística como uma simples coleção de dados, mas sim, como define Fisher, a estatística é a matemática aplicada à análise dos dados numéricos de observação, pois, tão importante quanto o aspecto qualitativo do fenômeno é o seu aspecto quantitativo, com as suas possíveis utilizações; daí ser um importante instrumento utilizado pelas ciências sociais. Quando, a partir de uma amostragem ou de um caso particular, são definidas algumas generalizações, tem-se a probabilidade, e não a certeza, da ocorrência de tal fenômeno. 2.2.2.4 O método de estudo de caso O método de estudo de caso ou método monográfico permite, mediante a análise de casos isolados ou de pequenos grupos, entender determinados fatos. De acordo com Gil (1999), este método parte do princípio de que o estudo de um caso em profundidade pode ser considerado representativo de muitos outros, ou mesmo de todos os casos semelhantes. Esses casos podem ser indivíduos, instituições, grupos, comunidades etc. 2.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Conforme o método escolhido pelo pesquisador, utiliza-se um ou outro procedimento de coleta de dados. O procedimento de coleta de dados requer do pesquisador uma definição do delineamento da pesquisa, ou seja, como irá proceder para obter as informações necessárias à resolução do problema investigado. O delineamento da pesquisa exige do pesquisador uma definição prévia do ambiente e das circunstâncias em que serão coletados os dados, e as formas de controle das variáveis envolvidas no problema. 34 PRODUÇÃO E TRANSMISSÃO DO CONHECIMENTO POR MEIO DA PESQUISA CIENTÍFICA 3 PESQUISA CIENTÍFICA 3.1 CLASSIFICAÇÃO 3.1.1 Quanto à natureza 3.1.2 Quanto à forma de abordagem do problema 3.1.3 Quanto aos objetivos gerais 3.1.4 Quanto aos procedimentos técnicos 3.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS 3.2.1 Pesquisa científica versus metodologia científica 3.2.2 Níveis de pós-graduação na EsAO 35 3 PESQUISA CIENTÍFICA Pesquisa, num sentido amplo, é um conjunto de atividades voltadas para a busca de um determinado conhecimento. Nesse sentido, qualquer trabalho escolar que o aluno busque adquirir e/ou ampliar os conhecimentos passa a ser considerado um trabalho de pesquisa. Segundo Gil (1999), pode-se definir pesquisa como um processo formale sistemático de desenvolvimento do método científico. A pesquisa tem um caráter pragmático; é um “processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico. O objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos”. De acordo com Barros e Lehfeld (2000), a pesquisa científica é o produto de uma investigação, cujo objetivo é resolver problemas e solucionar dúvidas mediante a utilização de procedimentos científicos. Consiste em investigar a realidade, utilizando processos (métodos) e técnicas específicas. Aplicar atentamente os sentidos a um objeto para dele adquirir um conhecimento claro e preciso. Observar e examinar atentamente, sondar, inquirir, ouvir com atenção, ler e analisar documentos. Para a EsAO, a pesquisa científica é um conjunto de ações metodicamente organizadas, baseadas em procedimentos racionais e sistemáticos, realizada com o objetivo de solucionar um problema de cunho doutrinário, administrativo ou de instrução e relatada por meio de um discurso autêntico, coerente, lógico e ausente de contradições. 3.1 CLASSIFICAÇÃO Existem várias formas de classificar as pesquisas. As formas clássicas de classificação serão apresentadas a seguir, levando-se em consideração: a natureza, a forma de abordagem do problema, os objetivos gerais e os procedimentos técnicos. 36 3.1.1 Quanto à natureza Pesquisa básica (ou pura): objetiva a produção de novos conhecimentos, úteis para o avanço da ciência, sem uma aplicação prática prevista inicialmente. Envolve verdades e interesses universais. Pesquisa aplicada: objetiva a produção de conhecimentos que tenham aplicação prática e dirigidos à solução de problemas reais específicos. Envolve verdades e interesses locais. 3.1.2 Quanto à forma de abordagem do problema Pesquisa quantitativa: admite que de tudo pode ser quantificável, isto é, que é possível traduzir em números as opiniões e as informações para, posteriormente, classificá-las e analisá-las. Requer o uso de recursos e de técnicas estatísticas (percentagem, média, moda, mediana, desvio-padrão, coeficiente de correlação, análise de regressão etc.). Pesquisa qualitativa: considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. É descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. 3.1.3 Quanto aos objetivos gerais Pesquisa exploratória: visa proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses. É usada para conhecer variáveis que são desconhecidas completamente e cuja informação será básica para poder desenhar uma investigação mais específica e profunda, que alcance o verdadeiro conhecimento da variável. A pesquisa exploratória tem como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para 37 estudos posteriores. Este tipo de pesquisa é realizado especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado e torna-se difícil sobre ele formular hipóteses precisas e operacionalizáveis. Muitas vezes as pesquisas exploratórias constituem a primeira etapa de uma investigação mais ampla (Selltiz et al., 1967). Pesquisa descritiva: visa descrever as características de determinada população/fenômeno, ou o estabelecimento de relações entre variáveis. É utilizada para aumentar os conhecimentos sobre as características e magnitude de um problema, obtendo desta maneira uma visão mais completa. Para este tipo de pesquisa é necessário que o pesquisador detenha algum conhecimento da variável ou das variáveis que influenciam o problema. Algumas pesquisas descritivas vão além da simples identificação da existência de relações entre variáveis, pretendendo determinar a natureza dessa relação (Selltiz et al., 1967). Pesquisa explicativa: visa identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos fenômenos, aprofundando o conhecimento da realidade por explicar a razão, o “porquê” das coisas. Uma pesquisa explicativa pode ser a continuação de outra descritiva, posto que a identificação dos fatores que determinam um fenômeno exige que este esteja suficientemente descrito e/ou detalhado. Nem sempre é possível a realização de pesquisas rigidamente explicativas em ciências sociais. 3.1.4 Quanto aos procedimentos técnicos Pesquisa bibliográfica: quando elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente de livros, artigos de periódicos e, atualmente, de material disponibilizado na Internet. Dependendo da pesquisa, percebe-se que muitas são desenvolvidas quase que exclusivamente a partir de fontes bibliográficas, tais como: livros de leitura corrente, livros de referência, dicionários, enciclopédias, impressos diversos, publicações periódicas, revistas e jornais etc. A pesquisa bibliográfica permite ao pesquisador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente, principalmente quando o problema de pesquisa requer dados muito dispersos pelo espaço. A pesquisa bibliográfica é indispensável nos estudos históricos, pois não há 38 outra maneira de conhecer os fatos passados se não com base em dados bibliográficos. Pesquisa documental: quando elaborada a partir de materiais que não receberam tratamento analítico. As fontes, consideradas documentais, podem ser documentos conservados em arquivos de órgãos públicos e instituições privadas, tais como: associações científicas, igrejas, sindicatos etc. Incluem-se outros inúmeros documentos como cartas pessoais, diários, fotografias, gravações, memorandos, regulamentos, ofícios, boletins etc. Há documentos também que, de alguma forma, já foram analisados, tais como relatórios de pesquisa, relatórios de empresas, tabelas estatísticas etc, que podem ser incluídos no rol da pesquisa, em face da sua importância documental. Pesquisa experimental: consiste em determinar um objeto de estudo, selecionar as variáveis que seriam capazes de influenciá-lo e definir as formas de controle e de observação dos efeitos que a variável pode produzir no objeto. De modo geral, o experimento representa um excelente exemplo de pesquisa científica em determinados campos do conhecimento. Contudo, em boa parte dos casos, a pesquisa experimental torna-se inviável, quando se trata de objetos sociais, por exigir previsão de relações e controle das variáveis a serem estudadas. Quando os objetos em estudo são entidades físicas, tais como porções de líquidos, bactérias ou ratos, não se identificam grandes limitações quanto à possibilidade de experimentação. Quando, porém, se trata de experimentar com objetos sociais, ou seja, com pessoas, grupos ou instituições, as limitações tornam- se bastante evidentes. Considerações éticas e humanas impedem que a experimentação se faça eficientemente nas ciências sociais, razão pela qual os procedimentos experimentais se mostram adequados apenas a um reduzido número de situações. Levantamento: caracteriza-se pela interrogação direta das pessoas que possam estar envolvidas com o objeto cujo comportamento se deseja conhecer. Basicamente, procede-se à solicitação de informações a um grupo significativo de pessoas acerca do problema estudado para, em seguida, mediante análise quantitativa, obterem-se as conclusões correspondentes aos dados coletados. Na maioria dos levantamentos,não são pesquisados todos os integrantes da população estudada. Antes da pesquisa de campo seleciona-se, mediante procedimentos, uma amostra significativa de todo o universo tomado como objeto de 39 investigação. As conclusões obtidas a partir dessa amostra são projetadas para a totalidade do universo, levando-se em consideração a margem de erro, que é obtida por meio de cálculos matemáticos (verifique o Anexo II do Manual de Estatística, v.1). Os levantamentos gozam de grande popularidade entre os pesquisadores sociais, pois proporcionam: conhecimento direto da realidade, economia e rapidez na obtenção de grande quantidade de dados num curto espaço de tempo, permite que os dados sejam agrupados em tabelas, possibilitando a sua visualização e análise por quantificação. Estudo de caso: caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira que permita o seu amplo e detalhado conhecimento. É recomendável nas fases iniciais de uma investigação sobre temas complexos, auxiliando a construção de hipóteses ou reformulação do problema. Também se aplica, com pertinência, nas situações em que o objeto de estudo já é suficientemente conhecido, a ponto de ser enquadrado como um tipo ideal, possibilitando avançar na pesquisa. Pesquisa ex-post-facto: quando o “experimento” se realiza depois dos fatos ocorridos. A pesquisa ex-post-facto é a que se realiza depois que fatos ou situações se desenvolveram espontaneamente. Não se trata rigorosamente de um experimento, posto que o pesquisador não tem controle das variáveis. Todavia, os procedimentos lógicos de delineamento desta pesquisa são semelhantes aos dos experimentos propriamente ditos. Nesse tipo de pesquisa são tomadas como experimentais as situações que se desenvolveram naturalmente e trabalha-se sobre elas como se estivessem submetidas a controle. Pesquisa-ação: exige o envolvimento ativo do pesquisador e ação por parte das pessoas ou grupos envolvidos no problema. Segundo Thiollent (1985), esta pesquisa é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo, no qual os pesquisadores e participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo. Pesquisa participante: quando se desenvolve a partir da interação entre pesquisadores e membros das situações investigadas. A pesquisa participante, segundo Thiollent (1985), assim como a pesquisa-ação, caracteriza-se pela interação entre pesquisadores e membros das situações investigativas. Há autores que empregam as duas expressões como sinônimas. Todavia, a pesquisa-ação 40 geralmente supõe uma forma de ação planejada, de caráter social, educacional, técnico ou outro. A pesquisa participante, por sua vez, envolve a distinção entre ciência popular e ciência dominante. 3.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS Pesquisa é a construção de conhecimento original de acordo com certas exigências científicas. Para que seu estudo seja considerado científico, deve-se obedecer aos critérios de coerência, consistência, originalidade e objetividade. É desejável que uma pesquisa científica preencha os seguintes requisitos: a) a existência de uma pergunta que se deseja responder; b) a elaboração de um conjunto de passos que permitam chegar à resposta; e c) a indicação do grau de confiabilidade na resposta obtida. 3.2.1 Pesquisa científica versus metodologia científica Pesquisa científica é a realização concreta de uma investigação planejada e desenvolvida de acordo com as normas consagradas pela metodologia científica. Metodologia científica é um conjunto de etapas ordenadamente dispostas que devem ser executadas na investigação de um fenômeno, que inclui a escolha do tema; a exploração do problema; a construção de um modelo de análise e solução do problema; a coleta e a tabulação de dados; a apresentação dos resultados; a análise e discussão dos resultados; a elaboração das conclusões e recomendações; e a divulgação de resultados. 3.2.2 Níveis de pós-graduação na EsAO Após compreender os conceitos de metodologia, ciência, métodos de pesquisa e tipos de pesquisa científica, é importante que o discente entenda alguns princípios que regem os programas de pós-graduação. Ao término desta unidade didática, espera-se que o postulante esteja em condições de optar pelo programa de pós-graduação que melhor lhe convier. Para tanto, serão apresentados alguns conceitos importantes acerca das modalidades stricto sensu e lato sensu. 41 3.2.2.1 Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu O nível stricto sensu refere-se a um conhecimento particular e aprofundado acerca de determinado tema, exigindo uma visão detalhada e específica do mesmo. Ao término do programa, o postulante deverá apresentar uma dissertação de mestrado como relatório final de sua pesquisa científica, fazendo jus, caso aprovado, ao grau de Mestre em Operações Militares. Como veículo da execução do programa de mestrado, a apresentação de dissertação busca contribuir na qualificação de pessoal para o exercício de atividades ligadas ao Sistema de Ensino Militar Bélico e para a execução das atividades de pesquisa no campo das operações militares. Ao pretendente do titulo de mestrado será exigida a apresentação de um nível maior de conhecimento a respeito do tema, de tal forma que seja possível o levantamento de hipóteses para a solução do problema científico proposto. 3.2.2.2 Programa de Pós-Graduação Lato Sensu O nível lato sensu refere-se a um conhecimento geral acerca de determinado tema, exigindo um aprofundamento relativo e uma abordagem mais genérica em relação ao mesmo. Ao término do programa, o postulante deverá apresentar um trabalho de conclusão de curso (TCC) como relatório final de sua pesquisa científica, fazendo jus, caso aprovado, ao grau de Aperfeiçoamento em Operações Militares. Ao pretendente ao grau de aperfeiçoamento, será exigida a apresentação de um conhecimento compatível com o tema em estudo, de tal forma que seja possível descrevê-lo sem a necessidade de uma investigação mais detalhada das relações de causas ou conseqüências do problema analisado. O trabalho deverá constituir-se em aprofundamento dos estudos realizados ao longo da carreira e aprimorados durante o Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais (CAO), evidenciando pesquisa científica. Observe que o TCC pode ser elaborado sem necessariamente apresentar algo novo sobre o tema pesquisado. O Quadro 3 apresenta, de maneira geral, as principais diferenças entre os níveis de pós-graduação, por meio de uma abordagem lato e stricto sensu de um mesmo tema. 42 Nível Lato Sensu Stricto Sensu Tema Treinamento cardiopulmonar e performance de militares Treinamento cardiopulmonar e performance de militares Delimitação do tema Sessões cardiopulmonares de treinamento físico militar na preparação do Sd EV para o TAF. Uma comparação entre os efeitos fisiológicos produzidos pela corrida intervalada e pela corrida contínua, voltados para a performance de Sd EV no TAF. Antecedentes do problema O pesquisador sente a necessidade de pesquisar acerca de como os diversos tipos de treinamento cardiopulmonar poderiam otimizar a performance cardiopulmonar do Sd EV. Estudos comparativos têm indicado que a corrida intervalada provoca mudanças fisiológicas que a corrida contínua não é capaz de realizar. Problema Como melhorar a performance cardiopulmonar de Sd EV, visando uma preparação para o TAF? Que método de treinamento produz maiores benefícios fisiológicos voltados para o TAF? Aprofundamento exigido Abordagem genérica de todas as sessões de treinamento cardiopulmonar, capazes de melhorar a performance do militar, concluindo acerca de suas vantagens e desvantagens. Abordagem profunda e detalhada da fisiologiado exercício, para comparar os efeitos dos treinamentos, concluindo acerca de qual produz maiores benefícios fisiológicos voltados para o TAF. QUADRO 3 – Diferenças entre os níveis de aprofundamento da pesquisa científica. Fonte: o autor A Tabela 1 apresenta algumas características que, genericamente, permitem distinguir as principais diferenças e semelhanças entre uma dissertação de mestrado (DM) e um trabalho de conclusão de curso (TCC). Tabela 1- Principais diferenças entre a DM e o TCC Características DM TCC Quanto ao programa de pós-graduação stricto sensu lato sensu Formulação do problema sim sim Referencial teórico (nível de abrangência) maior menor Formulação de questões de estudo não sim Formulação de hipóteses sim não Variáveis duas ou mais pelo menos uma Testes de variáveis sim não Aprofundamento do conhecimento. maior menor Pesquisa de campo sim não Análise estatística sim não Defesa perante banca examinadora sim não Fonte: o autor A partir deste momento, o postulante deve decidir acerca do nível de aprofundamento que pretende empreender em seu trabalho. Caso opte pelo programa stricto sensu (Mestrado), siga para a Unidade Didática IV. Se optar pelo programa lato sensu (Aperfeiçoamento), siga para a Unidade Didática V. 43 44 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU 4 PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU 4 1 INTRODUÇÃO 4.2 AS ETAPAS DA PESQUISA 4.3 A ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 1 INTRODUÇÃO 2 REFERENCIAL CONCEITUAL 2.1 TEMA 2.2 PROBLEMA 2.3 JUSTIFICATIVA 2.4 CONTRIBUIÇÃO 3 REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 REVISÃO DE LITERATURA 3.2 ENTREVISTAS EXPLORATÓRIAS 4 REFERENCIAL METODOLÓGICO 4.1 OBJETIVO 4.2 HIPÓTESE 4.3 VARIÁVEIS 4.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 5 REFERENCIAL OPERATIVO (somente no projeto de pesquisa) 5.1 PLANILHA DE CUSTOS 5.2 CRONOGRAMA 6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 4.4 MONTAGEM DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 45 4 PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU 4.1 INTRODUÇÃO O programa de pós-graduação stricto sensu exige a apresentação de dissertações conforme as orientações do Conselho Federal de Educação e a normalização da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), por meio da NBR 14724:2002. É importante compreender, neste momento, que a dissertação é o relatório final de uma pesquisa científica, e que essa pesquisa deve ser criteriosamente planejada e aprovada, antes de ser realizada. Tais providências têm por finalidade traduzir um perfeito sincronismo, entre o postulante e o seu orientador, e entre ambos e a linha de pesquisa a qual estão vinculados, visando atender aos interesses do postulante e da Escola, bem como economizar tempo e recursos preciosos. Para que o postulante, o orientador e a linha de pesquisa estejam perfeitamente alinhados, o programa exige o cumprimento das fases progressivas a seguir relacionadas: a) escolha do tema; b) apresentação do projeto de pesquisa; c) qualificação dos capítulos iniciais da dissertação de mestrado; d) depósito da dissertação de mestrado; e e) defesa da dissertação de mestrado perante Banca Examinadora. Essas fases estão perfeitamente definidas nas Instruções de Pós-Graduação da EsAO e, devido ao caráter progressivo do estudo (Apêndice A), não será difícil perceber que o projeto de pesquisa evolui para a dissertação de mestrado, que é o relatório do que foi planejado e executado, apresentando ainda os resultados, as análises e as conclusões acerca do que foi pesquisado. O CD anexo apresenta os modelos correspondentes a cada fase. 4.2 AS ETAPAS DA PESQUISA. O planejamento e a execução de uma pesquisa científica fazem parte de um processo sistematizado que normalmente compreende sete etapas distintas, que 46 são traduzidas em referenciais, cujos elementos constitutivos formam as seções do relatório final da pesquisa científica, a dissertação de mestrado. DISSERTAÇÃO DE MESTRADO AS SETE ETAPAS DA PESQUISA CIENTÍFICA SEÇÕES DA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 1ª etapa Seção 1 Introdução - Visão geral Seção 2 - Tema - Problema - Justificativa A pergunta de partida Referencial conceitual - Contribuição 2ª etapa Seção 3 A exploração do problema Revisão de literatura Entrevistas exploratórias Referencial teórico Apresentação dos pressupostos teóricos que irão contribuir para a solução do problema formulado 3ª etapa Seção 4 - Objetivos - Hipóteses - Variáveis Referencial metodológico - Procedimentos metodológicos - Cronograma A construção de um modelo de análise e solução do problema Referencial operativo* - Planilha de custos 4ª etapa Seção 5 A coleta dos dados 5ª etapa Análise dos dados Apresentação e análise dos resultados 6ª etapa Seção 6 Conclusões Conclusões e recomendações 7ª etapa Redação do relatório final de pesquisa (montagem da dissertação de mestrado) DEFESA PERANTE A BANCA EXAMINADORA *O referencial operativo faz parte apenas do projeto de pesquisa (ver os Apêndices A e B) Figura 1 – As sete etapas da construção de uma dissertação de mestrado. A pesquisa se inicia com a definição do tema. A partir daí, é formulada uma pergunta de partida (1ª etapa), procurando destacar os aspectos do tema que serão abordados na pesquisa. A pergunta de partida irá desencadear uma breve 47 revisão de literatura e uma série de raciocínios lógicos que culminarão com apontamentos acerca de um problema que se queira solucionar, das justificativas para se empreender um estudo científico para resolvê-lo, e das contribuições que esta pesquisa poderá produzir. Depois de reunidos, o tema, o problema, as justificativas e as contribuições constituirão o chamado referencial conceitual. Durante a 1ª etapa o pesquisador poderá chegar às seguintes conclusões: a) a pergunta de partida está bem elaborada, prosseguindo no estudo; ou b) a pergunta de partida deve ser reformulada. Na seqüência, o pesquisador deve realizar a exploração do problema (2ª etapa), por meio de uma revisão de literatura, bem mais aprofundada, e de entrevistas exploratórias, com o objetivo de colher subsídios que permitam formular possíveis soluções para o problema, as chamadas hipóteses de estudo, bem como uma maneira de se testar, metodologicamente, essas soluções (referencial metodológico). Após serem convenientemente organizados, os resultados da exploração do problema constituirão o chamado referencial teórico. Concluída a elaboração do referencial teórico, o pesquisador passará à construção de um modelo de análise e solução do problema (3ª etapa), onde serão definidos o(s) objetivo(s) de estudo, a(s) hipótese(s), as variáveis, e os procedimentos metodológicos adotados para testar (comprovar ou rejeitar) a solução formulada. Estando definida a hipótese, o postulante passa: a estabelecer os objetivos da pesquisa, que apresentam os passos a serem dados para aceitação ou rejeição da hipótese; a definir as suas variáveis; a estabelecer os procedimentos metodológicos a serem seguidos; e, somente durante a elaboração do projeto de pesquisa, a criar um cronograma de trabalho e a apresentar uma planilha de custos. Após convenientemente organizados, o(s) objetivo(s) de estudo, a(s) hipótese(s), as variáveis, e os procedimentos metodológicos constituirão o chamado referencial metodológico. O cronograma de trabalho e a planilha de custos constituirão o referencial operativo a ser apresentado no projeto de pesquisa. Definida a forma como será(ão) testada(s) a(s) hipótese(s), deve-se realizar a coleta de dados (4ª etapa), que consiste na execução do que foi planejado no referencial metodológico. Segue-se a esta, a análise dos dados (5ª etapa), que culminará com a redação da seção Apresentação e análise dos resultados, onde
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