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ALUNA: LARA LOUISE MEDRADO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO – 4º SEMESTRE THIAGO CARVALHO BORGES 06/08/2021 Disciplina Irmanadas: Direito Internacional Privado Direito Comparado – é uma técnica muito importante para pesquisa *fato multiconectado: quando há vários países em meio a fatos jurídicos (direito internacional privado) SOCIEDADE MUNDIAL E SOCIEDADE INTERNACIONAL - início filosófico: mundo designa o ambiente onde tudo acontece, só não está no mundo aquilo que não acontece. Acontecer – tudo e qualquer coisa que aconteça. Ou seja, não só a terra, mas o universo. Mundo é o lugar onde tudo acontece, não só no campo material. Essa é a primeira perspectiva. No entanto, nem tudo que acontece no mundo é conhecido pela humanidade, a humanidade lida com uma série de desconhecimentos, é mais provável que a humanidade conheça menos do que desconheça sobre o mundo. O mistério é um dado existencial da humanidade, o não saber. Além disso, quando falamos em uma sociedade mundial, esta é muito mais limitada do que a noção de mundo. Porque a sociedade mundial é aquilo que o homem consegue comunicar do mundo. Então entra na sociedade mundial tudo aquilo que é objeto da comunicação e o homem só comunica o que ele sabe, então sociedade mundial se refere ao hipercomplexo de tudo aquilo que o homem comunica sobre o que ele sabe do mundo, logo, a sociedade mundial se refere a todos os campos de conhecimento. Obviamente que a humanidade quando pensa no mundo, pensa a partir de si, das suas próprias perspectivas e possibilidades. A séculos atrás, antes das grandes navegações, antes de Galileu Galilei, havia uma perspectiva de sociedade mundial muito mais limitada, o homem tinha medo de ir além do mar por ser desconhecido, e como o conhecido não é dado, não faz parte da sociedade, ele é fruto da imaginação. A partir do momento em que temos as grandes navegações e a percepção de que o mundo em que vivemos, a Terra, é um espaço único, finito, nós temos uma outra compreensão desse nosso espaço existencial e uma outra compreensão da nossa unidade como espécie. O ser humano modifica essa sua relação com o mundo do desconhecido, porque a partir do momento que ele tem conhecimento sobre o globo, ele ganha segurança sobre o lugar em que ele vive. A economia é mundial, porque a lei da oferta e da procura é mundial. Não existe diferença nessa lei entre o Brasil e a Austrália. A economia é uma ciência que lida com a escassez de recursos e as necessidades limitadas da humanidade, por isso precisamos administrar esses recursos, para priorizar o atendimento de certas necessidades. Arte – pode ser desfrutada em todo lugar, independente da sua origem. Coronavírus sempre esteve no mundo, mas como ele nunca havia afetado a humanidade de nenhuma maneira, ele era desconhecido. A partir do momento em que começou a afetar a humanidade e exigiu um conhecimento sobre ele, uma identificação dele e das consequências das contaminações que ele causa, passamos a integrá-lo na nossa sociedade mundial, e ele vai passar a mobilizar como conhecimento saúde, educação, direito... Os ALUNA: LARA LOUISE MEDRADO conhecimentos humanos de um modo geral são mundiais, a ciência é mundial, a tecnologia. Política e Direito se organizam territorialmente, isso decorre de uma contingência. O que significa contingência? Na sociologia essa expressão tem a ver com o seguinte: determinadas coisas são de uma forma, mas poderiam ser de outra. A lua gira em torno da Terra e a Terra em torno do sol: isso não é uma contingência. É assim e não poderia ser diferente. Tudo que é lançado cai: isso não é uma contingência. Isso é assim e não poderia ser diferente. Qual a contingência que torna o direito e a política organizados territorialmente? è A prevalência dos Estados como forma de organização política da sociedade: contingência, pois poderia ser diferente. Quando os primeiros Estados Soberanos Modernos surgiram, eles rivalizavam com várias outras formas de organização política da sociedade. Os primeiros Estados com Portugal, Espanha, França que surgiram por volta do séc. 13, 14, os reinos que se insurgiram contra o império e igreja, e fundaram Estados Territoriais e entraram em confronto com Igreja, com Sacro Império Romano Germânico, com as nobrezas e foram prevalecendo como forma de organização da sociedade, mas quando esses Estados surgiram, nas Américas, no Oriente, na África, não existiam Estados, existiam outras formas de organização da sociedade, as tribos, os grandes impérios: mongol, chinês, inca, asteca, eram outras formas de organização da sociedade que não eram estatais. Só que essa forma estatal de organização foi se expandindo. Isso é uma contingência, um fato histórico. Poderia ter sido diferente, os primeiros estados que surgiram poderiam ter sido derrotados nas Guerras, a gente podia estar vivendo hoje um Grande Império da Igreja, ou Otomano, Mulçumano, Chinês, até porque Impérios têm perspectivas expansivas. Então nós aqui na América Latina, vivenciamos a lógica dos Estados porque fomos colonizados por países europeus. Caso fosse outro país ou caso não fossemos colonizados, talvez essa região tivesse outra forma de se organizar, distinta de Estado. O fato é que por uma contingência, os Estados prevaleceram e hoje nós olhamos ao redor de nós mesmos e isso é tão consolidado que nos parece eterno, a gente olha para o mundo e a gente já pensa na Terra dividida em Estados, está na nossa consciência e no nosso subconsciente a ideia de que o mundo é organizado em forma de Estado. Isso é tão da modernidade e nós somos tão modernos nesse sentido que nós assistimos aos jogos olímpicos e torcemos desesperadamente por um cara só porque ele tem a bandeira do Brasil na roupa dele. A gente nem sabe direito se é ele que merece mais, se ele foi quem treinou mais, se ele foi quem passou por mais adversidade, se ele está dopado. Mas mesmo assim torcemos desesperadamente porque é Brasil, e essa é a única explicação, porque no fundo nós somos conectados com essa única premissa de pertencimento a um Estado. E o Estado é absolutamente uma forma de organização territorial. Isso se manifesta na política e no direito. De um modo em que nós não temos, ao contrário dos outros campos do saber, um Direito Mundial. Nós não temos um direito mundial, porque o direito se estrutura de maneira sedimentada territorialmente. Então o que significa essa prevalência dos Estados? Essa prevalência significa que os Estados conseguiram conquistar a legitimidade do uso da força na sociedade mundial. Então, em qualquer lugar que você vá no mundo, quem tem legitimidade de usar a força para impor as suas decisões? O ALUNA: LARA LOUISE MEDRADO Estado. Outras formas de organização da sociedade não têm essa legitimidade. As empresas não têm essa legitimidade, a família não tem essa legitimidade, nem as ONGs, Igreja (como era antes por meio da inquisição), nenhuma outra forma de organização da sociedade pode impor suas decisões mediante a força. Vai ser assim para sempre? Provavelmente não. O império romano durou quase mil anos. POLÍTICA: é um sistema social de tomada de decisões baseado no binômio poder/não poder – quem pode decidir, decide. Quem não pode quer tomar o poder para decidir. Toda disputa política se baseia nisso: em poder decidir; reunir as condições para tomar decisões. DIREITO: é um sistema social de expectativas de comportamento para estabilizar as relações sociais, com base no binômio lícito/ilícito. Obviamente o direito e a política estão muito conectados, porque o direito se reproduz a partir da política, mas limita a política. Então notadamente o direito e a política estão conectados. O direito se reproduz a partir do ato político, sendo que o próprio direito limita a política, porque o poder não pode ser exercido sem a inobservância do direito. Por isso chamamos de “estado de direito”. O que existia antes do Estado de Direito, já que o estado de direito é uma conquista evolutiva? O Absolutismo. O que é o Absolutismo? Poder Absoluto – poder que não é limitado pelo direito.Por isso que no Absolutismo há frases como: “The king can do no wrong” – o rei não pode errar. Porque se o rei não tem limitações de direito, tudo que ele faz é lícito, logo não há erro, tudo que ele fizer é de direito, porque como ele tem o domínio total do direito, ele pode tudo; por isso o nome absolutismo, ou seja, sem limite. Quando a burguesia estabelece por meio de acordos na Inglaterra ou por meio de Revolução na França, limites ao poder do rei. Por isso que o estado de direito é uma conquista evolutiva. Internet acaba sendo um desafio para os Estado pois não tem como se delimitar fronteiras, eles não têm como impor as suas perspectivas. Essa forma de organização da sociedade em Estados cria ruídos na sociedade mundial, cria conflitos, irritações, exige modificações de racionalidades e isso tudo precisa ser equacionado, porque há demandas da sociedade mundial que não podem ser resolvidas de maneira fragmentada. O direito reflete as demandas da sociedade na criação das expectativas de comportamento. Qual o sistema social que ouve a comunicação que vem da sociedade e transmite para o Direito? É a política que media. O Congresso Nacional reflete uma miscelânea de interesses que entram em choque para desenvolver, por meio do jogo da política, o que vai se tornar de direito e o que não vai. De modo geral, então a política faz esse jogo de receber a comunicação da sociedade, trabalhar a partir das regras da própria política sobre as rédeas para a tomada de decisão, pela lógica do poder e do não poder e ao fim das contas tomam decisões que se convertem em direito. Só que há demandas da sociedade que extrapolam a lógica de um Estado. Ex: extradição; extraditar alguém é pegar alguém que cometeu um crime aqui no Brasil, que sofreu uma condenação penal aqui e está na Colombia e pedir que a Colômbia me entregue essa pessoa. O Brasil não pode fazer isso sozinho. Precisa negociar com a Colômbia, ele tem que extrapolar o limite da sua própria política, por isso que tem tudo a ver com a diplomacia, o direito internacional, porque a diplomacia é esse canal de comunicação para o externo, ou seja, é o canal da política externa das relações internacionais que vão culminar na formação do direito internacional. Então se o Brasil e a Colômbia em um debate político chegarem a um acordo e firmarem ALUNA: LARA LOUISE MEDRADO um tratado, eis o direito internacional, que reflete uma demanda da sociedade por punir pessoas que cometem crimes, não estando no território do Estado. Essa é a demanda da sociedade, não aceita que alguém seja condenado criminalmente e não seja preso por não estar no Brasil. A sociedade quer que essa pessoa volta para cá e pague pelo que fez. Essa demanda será resolvida por meio da política e consequentemente, pela construção de uma norma jurídica que vai resolver esse problema. Então há inúmeras demandas da sociedade que extrapolam os limites do Estado. Isso obriga os Estados a se relacionarem. A sociedade internacional é o ambiente em que os Estados se relacionam, de onde emerge o direito internacional. Os Estados desenvolveram o direito internacional como uma necessidade. Primeira vez na vida que ouvimos falar em um tratado internacional: Tratado de Tordesilhas É da natureza humanas o estabelecimento de regras para viabilizar relações, para estabilizar relações. Então o direito internacional surge junto com os Estados como uma decorrência natural, como uma necessidade dos Estados estabelecerem entre eles algum nível de estabilidade. O direito internacional tem um potencial comunicativo muito maior para a sociedade mundial do que um Estado isolado. Então a tendência é que as demandas que extrapolam os Estados cheguem primeiro e de uma maneira mais elaborada na ordem internacional para depois chegar nos Estados. Imagine se não existem a OMS, a doença teve início na China, ninguém sabia o que era, ninguém iria ter adotado nenhuma medida de contenção, o vírus iria se propagar de maneira irrestrita, até que cada país fizesse sua própria pesquisa para descobrir do que se tratava, o desastre serie indiscutivelmente maior. Logo, a ordem internacional acelera e aumenta a precisão técnica da comunicação. Por isso a ordem internacional se formou, se estabeleceu. Se estabeleceu com resistência, já que os Estados são ainda pautados na lógica da soberania. Por isso é difícil para certos Estados se adaptarem a lógica que existe uma ordem global e que traz ali algumas questões que muitas vezes vão encontrar resistência na política interna. Vide: Brasil e EUA que tomaram posições contrárias às recomendações da OMS. Logo, o direito internacional existe, pois existia uma necessidade dele existir. Isso implica também no direito internacional privado, porque o fato de vários Estados terem cada um a sua própria ordem jurídica, faz com que haja impasses quanto a indivíduos que vão mantendo relações jurídicas em vários países diferentes: “fato multiconectado”. Não há dúvidas que tanto o direito internacional público, quanto o direito internacional privado surgiram da necessidade de resolução de problemas; não foi algo que se quis criar, ele simplesmente foi necessário, pois os estados não podiam se fechar para o mundo, essa perspectiva não existe. Não dá para dizer por exemplo que o poder constituinte é um poder absoluto, porque o Estado a partir do seu poder constituinte não vai poder criar um Estado que não seja condizente com a existência dos demais. Por isso o mar é legislado pelo direito internacional. *A ONU não é superior aos Estados, ela está hierarquicamente ao lado deles. Então falta a ordem internacional uma autoridade superior, como é o Estado em relação a todos nós. O direito internacional parte do Estado, mas não de uma autoridade estatal. O direito internacional se adapta às suas condições, não tem como prender um Estado ou bombardear um país. Então a sanção internacional passa as vezes para um campo não tão observado do direito, da política, da economia; bloqueios econômicos, perda de espaço político. No âmbito internacional, não ocorre o ALUNA: LARA LOUISE MEDRADO mesmo que no cenário nacional: O Estado sobre o indivíduo. Nós não temos uma polícia do mundo. Sociedade Internacional – ambiente onde se relacionam os Estados: Toda vez que os Estados entram em contato, seja bilateralmente, seja um com o outro, seja de maneira global, seja de maneira regional, só nas Américas, só na África, ou seja de maneira global, a sociedade internacional está acontecendo, então a sociedade internacional está ocorrendo sempre que houver um processo comunicativo envolvendo os Estados. Sobre Complexidade: A sociedade internacional é hiper-complexa. Uma complexidade é tudo aquilo que pode ser explicado validamente de mais de uma forma, cada pessoa é complexa, porque A pode descrever C de uma forma, B descrever C de outra forma e ambas estarem certas mesmo com explicações diferentes. Hiper complexo significa que ele pode ser descrito de maneira amplificada, de maneira diminuída, de maneira transversa, ou seja inúmeras explicações. A hipercomplexidade não é administrável pela mente humana. Não tem como dar uma conclusão sobre algo hipercomplexo, não há uma definição cabal final de uma pessoa. Um Estado é hipercomplexo; uma sociedade internacional é hipercomplexa. Essa hipercomplexidade decorre dentre outras coisas da sua composição. Hipercomplexa: sujeitos de direito: Estados e as OIs (Organizações Internacionais); atores da sociedade internacional: interagem com os sujeitos, mas não chegam a se configurar como um deles. OIs são instituições criadas pelos Estados que são os Estados membros para acelerar a comunicação entre eles e melhorar o apuro técnico dessa comunicação. OIs: ONU; OMS; UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura); OIT (Organização Internacional do Trabalho); OMC (Organização Mundial de Comércio); Mercosul; UE (união europeia), OEA (Organização dos Estados Americanos), etc. – são consideradas como infraestrutura da sociedade internacional. Empresas transnacionais:ex: Ford – afeta o cenário econômico. ONGs: Greenpiece; Human Rights Watch; Anistia Internacional; WWF; Cruz Vermelha; COI (Comitê Olímpico Internacional – não governamental); Entidades Paraestatais (ilícitas) – entidades que entram em colisão com o Estado. O primeiro grupo terrorista que surgiu foi o próprio Estado, a expressão “terror” surgiu na guilhotina Francesa: “Era do Terror” – guilhotina como forma de controle social. O Estado tem como terrorista, toda e qualquer organização que ameace o poder do Estado, que a prevalecer comprometeria o funcionamento do Estado. Então uma organização que pretende derrubar o governo; uma organização que pretende romper o território do Estado pelo separatismo; implementar uma doutrina religiosa incompatível com o domínio territorial – Estado Islâmico – tem um nome péssimo, nem deveria se chamar “Estado”, porque tudo que o Estado Islâmico não quer é ser um Estado, eles não querem um território, eles querem propagar um dogma religioso segundo o qual ou as pessoas se alinham a esse dogma, ou elas devem ser punidas, e eles querem que esse dogma se propaguem por acreditarem ser o dogma de Deus, e a palavra de Deus, segundo eles, determine que se aja até o limite para buscar que os homens entendam que a preservação desses valores está acima de qualquer outro valor, até mesmo dos valores de Estado, território, sociedade... Estados não querem movimentos separatistas porque a integridade territorial tem um valor que mantem o poder do estados. Esses grupos são refratários. Ex: FARC (acrônimo para Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia); HEZBOLLAH (é um partido político no Líbano que tem um braço armado militar. é uma organização política e paramilitar fundamentalista islâmica xiita transnacional – conflito direto com Israel – ALUNA: LARA LOUISE MEDRADO Hezbollah é uma entidade paraestatal, a qual é reconhecida na sociedade internacional, se não, não tinha cessar fogo com Israel). Então as entidades paraestatais causam crises na ordem das coisas e por causarem crises na ordem das coisas, são simbolicamente constituídas como ilícitas, criminosas. *Amazon quer comprar um país e a UE está em pavorosa. - Habermas o futuro da natureza humana – manipulação genética. 13/08/2021 HISTÓRIA DO DIREITO INTERNACIONAL → VISÃO MAIS ABRANGENTE - A quem se refira ao direito internacional para explicar todo e qualquer direito que emerge da comunicação e da interação social entre povos – noção mais abrangente. – Essa perspectiva, direito internacional já existe desde a Antiguidade porque das relação entre as cidades gregas havia um direito. Ex: obrigatoriedade da declaração de guerra, como um direito natural. O que queria dizer essa obrigatoriedade da declaração de Guerra? Quer dizer que um líder quando vence a guerra, quer dizer que ele é melhor, e não porque ele pegou o outro de surpresa, tanto que tem a história do cavalo de tróia, que é uma subversão da regra da obrigação de declarar guerra e os deuses vêm e punem quem viola essa regra. Então o cavalo de Tróia é uma mitologia em torno de uma regra no sentido de que o líder vencedor daquela guerra deveria mostrar alguma ética no conflito. Asilo – vem do grego “acolhimento aos derrotados”, aquelas pessoas que fugiam do conflito. → VISÃO MAIS RESTRITA – do direito internacional moderno, ou seja do direito internacional que se aplica a relação entre Estados soberanos, o que faz com que a história do direito internacional se coincida apenas com o surgimento dos Estados Modernos, então em uma visão mais abrangente, segundo a história, o direito internacional vem desde sempre. Em uma visão mais restrita, o direito internacional só aparece quando os Estados Modernos surgem. Visão mais restrita é a adotada por Thiago Borges. FASES HISTÓRICAS 1ª fase: Antiguidade até os Tratados de Westfallen (1648) 2ª fase: De Westfallen (1648) até o Congresso de Viena (1815) 3ª fase: Do Congresso de Viena (1815) - 1ª GM (1914) 4ª fase : Direito Internacional do século XX 5ª fase: século XXI: uma nova realidade ANTIGUIDADE: Quais foram as condições históricas que levaram a criação do direito internacional? A proteção do mensageiro... Aquele cara que chega para avisar que no outro dia o seu país vai atacar e ainda sai ileso... isso sim é uma sociedade diplomática. O diplomata goza de imunidade, não pode ser preso em ALUNA: LARA LOUISE MEDRADO outro Estado, tem tudo a ver com a história, porque o diplomata é o canal de comunicação, é o mensageiro. ius civile– direito aplicável ao cidadão romano e ius gentium – direito aplicado aos estrangeiros. Essa distinção é muito importante para a noção de nacionalidade, que é uma noção muito posterior que só aparece na modernidade, e aí você vai ter a condição jurídica do estrangeiro - um direito distinto aplicado ao estrangeiro. Com a queda do Império Romano do Ocidente, considera-se esse episódio histórico como o FIM da Antiguidade e o início da Idade Média. O que caracteriza esse processo? O Império Romano ruiu pelas invasões bárbaras. E então, o que acontece? Como havia uma concentração do poder político, com o fim do Império, o que acontece? O poder se difunde, se dilui, se dissipa, e ele passa a se localizar em várias localidades, e esse poder que se dissipa, ele passa a reproduzir pequenas concentrações por meio de acordos privados. É interessante perceber que a noção de esfera pública que existia na Antiguidade do Império Romano deixa de existir na idade média, porque as relações são evidentemente privadas e são relações contratuais de poder que vão culminar naquela formatação de suserania e vassalagem, ou seja, quanto mais esses acordos eram feitos, mais poderosos ficavam os suseranos que tinham um número maior de vassalos, esses vassalos eram pessoas que tinham os seus pequenos exércitos e que prometiam aos suseranos proteção em troca de proteção, então ficava ali uma rede de comunicação, fazendo com que existissem reinos mais fortes, reinos mais fracos, uns tentando dominar os outros como forma de concentrar cada vez mais poder. Essa dissipação de poder, feita de forma totalmente desorganizada, tem um ponto que mantém esses centros de poder conectados – a IGREJA CATÓLICA. Porque a Igreja Católica é a herdeira do Império. Primeiro Cristo foi perseguido pelo Império Romano, mas depois acaba que o cristianismo se torna a religião oficial do Império. O Império Romano criou a Igreja Católica como uma Institucionalização Espiritual, além do seu poder material. Com o tempo, acaba que esse poder terreno material se dissipa como dito anteriormente, mas o poder espiritual permanece concentrado, da Igreja Católica. Então esses senhores feudais, todos eles buscam legitimidade espiritual para a sua posição na Igreja. Então a Igreja herda, assume o legado do Império. Um Império como o Império Romano, muito rico, muito extenso, não some como pó, então ele deixa posses, propriedades, castelos, fortes, estradas, tesouros e tudo isso é herdado pela Igreja. Então a Igreja sai desse processo e entra na Idade Média muito fortalecida porque sai enriquecida e sai como única fonte de legitimidade espiritual de todo o poder da Europa Ocidental. E é assim que se constrói, é assim que se forma um sistema feudal, no que a gente convencionou chamar de alta idade média, que vai do séc. V até o séc. X. Chama-se de Alta Idade Média, porque é o auge desse sistema. Um sistema totalmente estamental, baseado no poder que se controla essencialmente pelo uso da força e que é legitimado espiritualmente pela Igreja. À medida que isso vai se consolidando e o poder da Igreja aumenta cada vez mais, a Igreja resolve no ano 800 tomar uma decisão muito importante, que consiste na refundação do Império – a partir disso então, a Igreja funda o Sacro Império Romano Germânico. O sacro império era uma refundação do Império feita pela Igreja, só que agora as posições mudaram, se antes existia o Império, e a Igreja era uma instituição do Império, aqui é o contrário. O Sacro Império é uma instituição da ALUNA: LARA LOUISE MEDRADO Igreja,tanto que o Imperador era ungido pelo papa, ou seja, ele era abençoado pelo papa. O Imperador era eleito numa formatação de eleição de pequenos grupos de poder, e ao fim, ele só subia ao poder quando o papa lhe dava a benção, então, era um Sacro Império, submetido à Igreja, por que a Igreja fez isso? Porque por meio do Império, a Igreja controlaria, centralizaria, o Poder Temporal, o poder Material; A Igreja já tinha a centralização do poder espiritual, agora ela queria do poder material, terreno, sobre os reinos. Como se o Império fosse um grande suserano, que iria reunir todos os reinos para si como vassalos. Isso evidentemente nunca foi fácil, porque havia reinos muito fortes, muito bem construídos que resistiam a esse tipo de domínio, então o Império nunca teve vida fácil na relação com os reinos, muitos reinos lutaram contra o Império, sobretudo por causa das Dinastias, e isso, obviamente, produzia inúmeros conflitos. Porém os conflitos não existiam somente entre o Império e os reinos, também acontecia entre a Igreja e o Império, porque em um dado momento histórico, como era de se esperar, acontecia de Imperadores fortes conviverem com Papas Fracos, então o Império era submetido ao papado, só que naquele processo de escolha do papa, de repente escolhiam um papa que não era bem articulado politicamente, não era carismático, não conseguia exercer as suas atividades a contento, e, por outro lado, o Imperador era um sujeito sagaz, bem informado, altamente capaz e isso faz com que as vezes o Império se sobreponha a Igreja em determinados momentos históricos; o Império se descola desse controle da Igreja e chega ao ponto máximo do Império chegar a sequestrar o Papa e deslocar o papado de Roma para Avignon na França, durante 70 anos o papado foi em Avignon e quem nomeava o papa, apesar de toda a ideia da fumacinha, a rigor, politicamente, todos sabiam que o papa era escolhido pelo Imperador, então isso mostra que mesmo entra a Igreja e o Império nem sempre as coisas caminharam de um jeito estável. Dentro desse contexto, se desenvolvem nas cidades a prática do mercantilismo, prática de atos comerciais, que vão se espalhando pela Europa, inclusive com a formação da liga das cidades, que são acordos entre as cidades que permitia que os mercadores saíssem de uma cidade, fossem a outra, sem serem saqueados, sem serem mortos e aí forma se estabelecendo estalagens no meio do caminho para que eles pudessem dormir. Esses acordos eram chamados de Tratados, que é o mesmo nome que o Direito Internacional vai incorporar como norma das relações internacionais. Esses acordos entre as cidades viabilizaram o desenvolvimento do mercantilismo, o que gerava o enriquecimento das cidades, que eram burgos, dando origem à figura dos burgueses – aquelas pessoas da plebe que enriqueceram por meio do comércio, do mercantilismo durante a Idade Média. Diante desses conflitos intensos entre reinos, Império e Igreja, que são contingências históricas, ou seja, aconteceram assim por acaso. Na baixa idade média (séc. X – XV), os conflitos entre a Igreja, o Império e os reinos se intensificam por inúmeros e diversificados fatores – causas econômicas, sociais, religiosas, familiares, nem sempre eram os mesmos motivos que ensejaram esses conflitos, mas o fato é que os conflitos se intensificaram. Séc. 13, em um contexto de um grande conflito entre a Igreja e o Império, a igreja resolve se valer de um reino católico, o reino de Castelo e Aragão, que tinham se casado, que tinham se fortalecido, era o maior reino da Península Ibérica, extremamente Católico, a Igreja resolve se valer desse reino para, fortalecendo esse reino, ALUNA: LARA LOUISE MEDRADO entrar em conflito com o Império que havia se sedimentado da Igreja, então a Igreja queria derrotar o Império e para isso, fortalece o reino da Espanha, investe no reino de Castelo e Aragão, esses passam a invadir outros lugares da Península Ibérica, passam a se expandir, invade a Catalunha, País Basco, Galícia... Quando vai invadir o Condado Portucalense, que fica no extremo ocidente da Península Ibérica, o exército é derrotado, e aí o Reino de Portugal se forma, porque o Dom Afonso Henrique declara que ali naquele território, há uma única soberania que não se submete a nenhum outro império. Isso é conhecido como: Exceptio Imperii – é uma declaração que aquele reino não se submete e não se submeterá a nenhum império, e é interessante porque ele também não se declara Império de ninguém, ele é apenas um Estado Soberano – o poder máximo a ser exercido naquele território é o Poder do Reino de Portugal. Não era o Reino do Rei, era o reino do povo representado pelo rei. Isso é o que muda o rumo da história, porque essa constituição de organização societal, não existia. Por isso, para alguns historiadores, Portugal é o primeiro Estado soberano. A partir desse episódio, ele se declara poder máximo e absoluto do território, representante do povo português. Então não é mais a ideia feudal de um reino familiar, proprietário da terra... ele reinstaura aí a esfera pública. A esfera pública volta a existir, a ideia de que existe um poder público e que aquilo ali não é mais algo privado, de pertencimento de alguém, que é, na verdade, uma esfera pública. A Espanha vai pelo mesmo caminho – o reino de Castelo e Aragão, 60 anos depois vai pelo mesmo caminho. Caminho que acaba sendo seguido pela França, Países Baixos, Inglaterra. – esse modelo correspondia a uma resistência ao domínio do Império e da Igreja. Ou seja, eu não tenho que buscar a proteção de nenhum Império. Eu posso me proteger, porque eu vou ter o meu próprio exército para isso, eu vou constituir o meu exército, e a partir dele, me proteger de qualquer invasão. – séc. 13 – muito bem descrito por Jean Bodin, o qual vai dizer que a soberania é um poder que está acima de qualquer outro, e que por isso, não pode estar submetido a nenhum tipo de julgamento, não pode ser subjugado. O rei que representa uma soberania, ele está acima de qualquer poder naquele território. Então o Estado surge em um contexto muito adverso, mas ele nasce com um discurso muito apropriado para viabilizar a resistência, as invasões, aos ataques, que sofreria muitas vezes no seu processo de consolidação, o Império atacou inúmeros Estados, várias Guerras aconteceram entre o Sacro Império Romano Germânico e os Estados. O não reconhecimento dessa figura, era uma forma de fragilizar, e o Estado, se manteve, batendo pé firme, reafirmando que existia e que ia continuar se mantendo, porque não iria se submeter a nenhum outro poder. E então, como não eram raros os conflitos entre a Igreja e o Império, acontecia de a própria Igreja, às vezes, vir ao Estado, e se agregar ao Estado, reconhecer a figura do Estado, e se juntar com o Estado para fazer frente ao Império. E alguns Estados sempre caminharam junto com a Igreja, a exemplo da Espanha, que sempre caminhou ladeado com a Igreja Católica. Já outros Estados, que tinham dificuldade com a Igreja Católica, por vezes, se valeram da ruptura espiritual: Protestantismo. O exemplo mais claro disso é a Inglaterra, o Anglicanismo. Diante de um ataque iminente da Espanha, com o apoio da Igreja, o reino da Inglaterra rompe com a Igreja, só que como naquela época, como um reino não poderia existir sem um fundamento espiritual, eles fundam a própria igreja, a igreja anglicana, para ter um fundamento ALUNA: LARA LOUISE MEDRADO espiritual que legitimasse o seu poder. Era uma estratégia de sobrevivência, eu preciso ter a minha própria igreja, se não, eu não vou ter o meu fundamento espiritual. Como o meu povo vai me apoiar em um conflito se Deus não me apoia? Veja que são contextos históricos que viabilizaram a continuação dos Estados, viabilizaram para que os Estados resistissem a investidas externas, muitas vezes por rupturas do Império, muitas vezes por rupturas com a Igreja, mas de qualquer maneira, os Estados foram ali se estabelecendo. Nesse contexto, os Estados já tinham entre eles uma comunicação. Aqui eu já posso falar de uma sociedadeinternacional. Um ambiente público externo em que os Estados se comunicam. Um início incipiente de uma diplomacia, representantes dos Estados e até eventuais encontros. Essa sociedade internacional de então, é uma pequena confraria de Reinos Absolutistas. Então, muitas vezes esses encontros, não eram propriamente encontros articulados politicamente. Eram encontros que aconteciam em razão do casamento da filha de um rei com um barão, e aí convidavam todos esses chefes de Estado, reis, e eles mandavam representantes ou iam eles próprios, o que viabilizava essa comunicação, quase em caráter de confraria, mas esses encontros produziam resultados políticos. E nesse contexto, havia um fortalecimento da posição do Estado, da ideia de soberania, porque os Estados então, usavam desse direito internacional incipiente, que são esses costumes que vão sendo desenvolvidos, reconhecidos, aplicados na prática, da relação entre eles, esse direito internacional que vai surgindo, ele tem um papel fundamental de emancipação. Então o direito internacional tem um caráter emancipatório dos Estados frente as outras formas de organização da sociedade que eram rivais: Igreja, Império, cidades... Então o Estado passa a sustentar um discurso a partir de um direito internacional que lhe permite prevalecer a ideia de soberania, de integridade territorial, a ideia de proteção das fronteiras, o direito do uso da força, possibilidade de constituir exército... Tudo isso era fundamentado na relação entre eles, uns defendiam os direitos dos outros de protegerem os seus territórios, de terem o seu próprio exército, de se considerarem soberanos. Veja que discursivamente, o direito internacional favoreceu a consolidação dos Estados como forma de organização das sociedades, mas também, o direito internacional favoreceu o processo de expansão dos Estados, notadamente, o processo de colonização, porque é o período que se segue, é o período das grandes navegações e o direito internacional também fundamenta o uso da força pelos Estados contra os povos colonizados/invadidos. Ou seja, as invasões portuguesas em terras americanas, as invasões espanholas em terras americanas, invasões inglesas em terras americanas, são todas elas fundamentadas no direito internacional. E a relação de domínio que se estabelece sobre os povos ameríndios, é uma relação fundamentada no direito internacional. Então, o direito internacional, ao mesmo tempo que tem uma face emancipatória, tem uma face de dominação, ele fundamenta um processo de dominação nas colônias, a relação metrópole e colônia é uma relação jurídica fundada internacional, legitimada pelo direito internacional. *Tratado de Tordesilhas - são manifestações incipientes do direito internacional. É claro que o tratado de Tordesilhas carecia de uma base mais forte, porque ele não tratava com igualdade jurídica os Estados. Aquilo consistiam em um acordo particular entre dois reinos que ignorava a existência de todos os outros. É claro que a Holanda, França e Inglaterra não respeitaram, ALUNA: LARA LOUISE MEDRADO o que lhes dizia a respeito? Nada. A Espanha e Portugal não lhes obrigam. Obriga a eles. Se o direito internacional lhes permitia entrar naquelas terras e eles não fizeram acordo com ninguém que me proíba, posso tomá-las. O tratado de Tordesilhas carece de uma base jurídica para se impor, mas o fato é que o direito internacional tem um papel importante na história dos Estados, na medida em que garante a sua continuidade, garante discursivamente a sua legitimidade para usar a força, se defender e se impor, dominar e enriquecer, porque o processo de colonização se reproduz na forma de um enriquecimento progressivo e acelerado dos Estados, essa exploração das colônias faz com que os Estados se tornem cada vez mais fortes e, com isso, cada vez mais capazes de se sobrepor as outras formas de organização da sociedade. Quando os Estados foram criados, já existiam algumas cidade-estados que com o tempo foram sendo incorporadas aos Estados, ainda hoje temos resquícios de alguns para contar a história como San Marino, Mônaco, Liechtenstein, mas fora esses principados que por fatores históricos conseguiram prevalecer, foram sendo absorvidas e se tornaram partes dos Estados. Como os Estados começam a ter exércitos próprios, os reinos medievais, tinham um exército baseado nas relações de suserania e vassalagem, então ele tinha aqueles cavaleiros, que era um título, o título de nobre: cavaleiro do rei; e esse cavaleiro tinha lá um pequeno exército que se incorporava ao exército do rei. Até hoje a coroa britânica concede o título de cavaleiro da rainha: Knight – não mais no sentido histórico de exército. Como a partir dos Estados o reino passa a ter o seu próprio exército, ele passa a não depender mais desses nobres, o que ele faz? Ele traz os nobres para a corte e os nobres passam a transitar, viver a vida da corte, o que vai levar a construção daqueles castelos maravilhosos. Os castelos dos nobres que deixaram de exercer uma função militar e passa a exercer uma função de cortesão, verdadeiros bajuladores do poder do rei que davam uma sustentação política precária. Então o que o reino da França fez para domesticar os nobres? Os nobres eram caros, então o que o reino da frança fez? Vendeu cargos públicos vitalícios para esses nobres. O nobre comprava um cargo de juiz, comprava o cargo de coletor de imposto, comprava o cargo de advogado do Estado, e esses cargos comprados aumentavam o Estado, entravam com o recurso no Estado, mas também gerava um custo para o Estado, que é o que se chamou na França de BUROCRACIA. O tamanho do Estado vai crescendo cada vez mais, porque os nobres vão sendo trazidos para dentro do Estado, aumentando o custo do Estado. Com o aumento do custo do Estado, tributos mais altos precisam ser cobrados pelo povo para custear isso. Estamos tratando aqui do Estado Absolutista, que se caracteriza essencialmente pela Instrumentalização do Direito pelo poder político. No Estado Absolutista, o poder político dita o direito, sem limites, por isso absolutista, o que leva a expressão no Reino Unido: “The king can do no wrong”. Porque se ele não tem limites jurídicos sobre o que ele pode fazer, ele não pode errar. Tudo que o rei faz é lícito. Expressão de Luís 14: “LÉtat cést moi” – O Estado sou eu. O ápice do Absolutismo são essas expressões. Quem tinha que arcar com os custos era quem trabalhava, povo e os comerciantes, que a partir das grandes navegações tinham enriquecido muito, sendo que cada vez mais eles eram esfoliados pelo Estado, quem bancava era a burguesia. Obviamente que a burguesia não tolerava mais esse tipo de situação – período pós idade média, passamos pelo ALUNA: LARA LOUISE MEDRADO renascentismo, Iluminismo começa a aparecer, uma reafirmação do humanismo, o individualismo – todos esses discursos aparecem da sociedade por uma demanda cada vez maior de quererem fazer parte do processo político. Esse sistema absolutista bloqueava isso, só decidia quem estava no poder. Com o tempo, o próprio Império Sacro-Germânico se tornou no Estado Austro-Húngaro, houve inclusive uma ruptura interna que deu origem a Prússia e também o Império Austro-Húngaro que também passa a se relacionar como se Estado fosse nas relações internacionais, apesar do nome Império, já era na sua conjuntura um Estado. Nesse período altamente conflituoso, o início da Idade Moderna, ele vai se interromper pelo Tratado de Westfallen, 1648, que pôs fim à Guerra de 30 anos – uma guerra religiosa entre protestantes e Católicos, que acabou com um acordo que favoreceu muito os interesses dos protestantes que constaram o direito de manifestação pública do seu culto e adquiriram o direito de ocupar determinados espaços da sociedade. É um Tratado que tem a participação direta de Hugo Grócio, que era um teólogo, pensador da época, diplomata, que já tinha nessa altura escrito uma das suas principais obras Das Origens do Direito Internacional: “Sobre o direito da Guerra e da Paz” e esse Tratado é considerado um marco histórico,porque nele fica positivado o PRINCÍPIO DA IGUALDADE JURÍDICA ENTRE OS ESTADOS – que é um princípio central do direito internacional. – é um princípio que se baseia em uma noção fundamental de coexistència pacífica. – Se inicia então, na metade do século 17, o período chamado de Paz de Westfallen ou Equilíbrio Europeu. Não quer dizer que não houve guerras nesse período, não houve propriamente dito um período de paz total, mas aquelas guerras que se multiplicavam antes desse período, realmente houve uma diminuição. Esse período foi muito importante para que os Estados crescessem e se fortalecessem, mas conjuntamente com os Estados se fortaleceu a burguesia. Isso tem uma razão muito clara, é que a burguesia era quem mais sofria com as guerras, porque as Guerras eram financiadas pela Burguesia, quem bancava as Guerras, a tributação para montar um exército vinha da burguesia. Quem bancava as armas era a burguesia, quem bancava a alimentação dos exércitos era a burguesia, ou seja, a burguesia era muito prejudicada pelos conflitos, quando houve uma redução dos conflitos, a burguesia se beneficiou, a partir disso, ela começou a colocar pressões para participar da sociedade, porque até então, a sociedade era limitada a participação da nobreza e do clero. A plebe e a burguesia permaneciam excluídas e ainda estavam sob o comando do rei. O fim dos conflitos deram poder à burguesia para que essa pudesse confrontar os poderes do rei, para poderem ter participação na sociedade. Na Inglaterra esses acordos com a burguesia forma mais efetivos; - magna carta 1215; Habeas Corpus; Bill of Rights 1686 – influencia muitos outros países, representa notadamente a instauração do princípio da legalidade, ou seja, o poder do Estado começava a ser limitado pela lei, mas isso vinha conjugado com uma participação direta da burguesia no processo legislativo, porque foi criada a Câmara dos Comuns, então os burgueses passaram a integrar o Parlamento Britânico, de modo que o Parlamento Britânico passava-se a limitar pela força da lei que tinha participação na produção das leis, isso vai se tornar no Rule of Law – Estado de Direito - Direito e Política passar a coexistir em um acoplamento estrutural – o direito legitima a política e limita o poder político. Ponto crucial para a burguesia: o ALUNA: LARA LOUISE MEDRADO Estado só pode tributar nos limites da lei, e a lei precisa ser estabelecida com anterioridade, de modo que isso também limita o poder do Estado e essa limitação no poder do Estado se reflete em um fortalecimento ainda maior da burguesia, porque o que fragilizava a burguesia era o poder desenfreado do Estado. A Constituição é a representação maior desse acoplamento estrutural, é uma carta e uma norma jurídica. A paz de Westfallen é encerrada com as invasões Napoleônicas. Napoleão Bonaparte passa a invadir vários outros Estados e a depor reinos absolutistas, visando impor um dogma libertário em favor da burguesia – ao invés da França se preocupar com apenas se própria, ela passa a impor um processo autoritário, impositivo de uma forma de pensar sobre os outros Estados – isso rompe com a lógica jurídica de igualdade entre os Estados, rompe a lógica de um respeito mútuo, de uma coexistência pacífica. Com isso a Coroa Portuguesa foge para o Brasil; a Espanha é derrotada pela França. Início do século XIX começa uma onda avassaladora de Independência, começando com os Estados Unidos – muito disso em razão da desestruturação da Europa durante as Invasões Napoleônicas. Napoleão só vai ser derrotado quando tenta invadir a Rússia e no Congresso de Viena, em 1815, é decretada a sua derrota e Napoleão é exilado na ilha de Elba e, no Congresso de Viena estabelece uma nova ordem nas relações internacionais. Nessa nova ordem, traz novos princípios que vão se agregar. Essa nova ordem estabelece estes princípios: - não intervenção; (E SE HOUVER CRIME CONTRA A HUMANIDADE – transgredindo os direitos humanos? - questionamento) - autodeterminação dos povos - liberdade de navegação (garantiu o direito de passagem inocente pelo Mar Territorial) - classificação dos agentes diplomáticos - proibição do tráfico de pessoas – o que teve um impacto grande aqui no Brasil, estamos falando em 1815 e pouco tempo depois o Brasil caminhou para o seu processo de independência e grande parte desse processo de independência brasileira passa pela necessidade do reconhecimento internacional dessa soberania e o fato do Brasil ser um país em que mantinha ainda lícito o tráfico de pessoas era motivo de dificuldades para que o Brasil tivesse um apoio internacional ao seu processo de independência. Então a Inglaterra pressionava muito politicamente o Brasil para que proibisse o tráfico de pessoas, condicionava o apoio a independência do Brasil a adoção de lei que proibisse o tráfico de pessoas. Somente em 1850 o Brasil torna ilícita a prática de tráfico de pessoas. E depois que começa um processo muito lento e gradativo de redução progressiva da escravidão – Lei Aurea em 13 de março de 1888. Deve-se ressaltar como parte do contexto da mudança do direito internacional, o processo de independência das colônias americanas, que começa com os Estados Unidos em 1776, antes da Revolução Francesa. Assistir a série John Adams – HBO (papel político muito importante no processo de independência dos Estados Unidos. A independência das colônias americanas traz uma mudança fundamental par ao direito internacional, que é exatamente o - reconhecimento da soberania como forma de inclusão na sociedade internacional. Porque até então a sociedade internacional se limitava aos Estados Europeus, de repente os EUA se tornam independentes e a França reconhece a sua independência. Esse ALUNA: LARA LOUISE MEDRADO reconhecimento do ponto de vista jurídico é um ato de inclusão dos Estados Unidos na sociedade internacional, é como se de uma hora para a outra a França reconhecesse aquela colônia como um igual. Logo, aquela antiga colônia pode validamente participar das relações internacionais porque detém uma soberania como Estado. A onda de independência expande a sociedade internacional que passa a ter então novos sujeitos que passam a figurar das intervenções internacionais, que passam a participar dos acordos internacionais. Também integra esse momento histórico a positivação do direito internacional por influência do POSITIVISMO JURÍDICO – Escola da Exegese, é bem nesse período, Código de Napoleão, esse positivismo jurídico que era uma doutrina muito difundida a essa altura, influencia também o direito internacional, que passa a positivar o direito costumeiro na forma de tratados multilaterais, é um processo inicial, mas que começa no século 19. A adoção formal por escrito de normas internacionais na forma de Tratados colocando, portanto, costumes internacionais em instrumentos formais. Isso enriquece muito o direito internacional porque um costume internacional é uma prática que obriga, não está escrito em lugar algum, você só vai alegar no momento do conflito, já quando você vai fazer um Tratado Internacional para positivar um costume internacional, você precisa transformar em palavras aquela prática, e ao transformar em palavras aquela prática, por si só você já está enriquecendo a cultura jurídica daquela área. Além disso, quando você coloca em palavras, na prática, você abre uma discussão natural para as consequências, porque se você está negociando para vários países a positivação de uma norma internacional costumeira, ali é o momento em que as partes podem dizer o que acham daquela consequência, se deve ser ela ou outra; quais as variedades de práticas vão ser consideradas como obrigatórias? Só esse processo já é um enriquecimento cultural enorme do direito internacional enquanto ramo do direito. Então a positivação do direito internacional se integra nesse contexto do séc. 19 – período de consolidação do direito internacional. Marcado pela obra do Emer de Vattel – SUIÇO nascido em Neuchâtel/Neuenburg – cidade suiça perto da França - que escreveu uma obra em FRANCÊS sobreo direito internacional da época. O tratado é do final do século 18 – ficou muito famoso porque a maior parte das obras sobre direito internacional eram escritas em latim e latim era naquela altura uma língua muito erudita, uma língua pouco acessível, somente as pessoas que tinham a vivência acadêmica conheciam o latim, o povo em geral não sabia latim. Aí surge Emer de Vattel e escreve a sua obra em francês que era uma língua comum, do povo. Tornou-se conselheiro da corte do Frederico Augusto III da Saxônia – estado alemão. Essa opção por escrever em francês popularizou o direito internacional, inclusive nas faculdades do mundo inteiro. *11 de AGOSTO é uma data importante porque é o dia que simboliza a criação das faculdades de direito aqui no Brasil, tanto em OLINDA, quanto no LARGO SÃO FRANCISCO (São Paulo) e lá na grade curricular das duas faculdades tinha a matéria Direito Internacional e Direito Diplomático e a obra obrigatória era a obra de Vattel – ou bem você entendia francês ou você não passava em direito. Muitos conflitos entre os Estados passaram a ser resolvidos por arbitragem internacional – ex. conflitos territoriais – a Gran-Colômbia quando se tornou independente da Espanha – Equador, Peru, Colômbia e Venezuela – com essa divisão, vários conflitos surgiram que foram resolvidos pelo direito internacional. Ex: Conflito da Bolívia com o Chile para o acesso ao mar – recentemente foi objeto de sentença da corte internacional de justiça. O direito internacional do século 19 se estabelece dessa forma, nessas bases, garantir algum nível de estabilidade. Formação tardia de Estados na Europa como a Alemanha e a Itália. E esse processo de relativo de ALUNA: LARA LOUISE MEDRADO estabilidade nas relações internacionais só vai ser interrompido de maneira grave no séc. 20 com a primeira guerra mundial. Esse período de 1815 vai ser interrompido com a primeira guerra mundial em 1914. A Primeira Guerra Mundial é fruto de um processo silencioso que se iniciou lá atrás na Revolução Francesa e que foi ganhando corpo no século 19 e não se deu muita importância a isso, que foi o NACIONALISMO. Antes da Revolução Francesa não existia esse sentimento Nacional, este começa a surgir na Revolução Francesa a partir de um conceito que foi estabelecido na Revolução Francesa: CIDADANIA, tanto é que existe a declaração dos direitos do homem e do cidadão. A ideia de cidadania como direito de participar dos processos políticos é atribuída à cidadania pela NACIONALIDADE. Então esse critério que se estabeleceu de que cidadão é a pessoa que é nacional do país, a nacionalidade dá direito a cidadania, essa relação entre cidadania e nacionalidade fortalece um conceito de nacionalidade que é o conceito identitário, algo muito ligado aos costumes, aos hábitos, aos valores, às marcas, aos hinos, a bandeira, o brasão, a ideia de pátria, Estado como pai e, portanto, se o Estado é o meu pai, os cidadãos são meus irmãos – isso tudo é um discurso que fortalece esse sentimento de pertencimento da pessoa ao Estado, então o nacionalismo vai se incrustando na mente humana e isso causa profundas divergências entre os povos porque as rivalidades começam a se ressaltar, baseadas nesse sentimento de nacionalidade, de vínculo com o Estado, de disputa pela preservação do Estado, não é a toa que até hoje nós temos esse apego pela soberania do Estado, como se isso fosse uma questão pessoal nossa. O nosso símbolo de nacionalidade se ressalta nas Olimpíadas como vimos aí agora, torcendo para o brasileiro, veja como a sua nacionalidade faz parte da sua identificação como sujeito na sociedade. Então esse movimento da nacionalidade vai se fortalecendo e gerando rivalidades, então em grande parte, a Primeira Guerra Mundial acontece por conta do alto grau de rivalidade que a nacionalidade vinha proporcionando entre alguns Estados. Margareth MacMiller fala das condições sociais, históricas que antecedem a primeira guerra “Na virada do século 19, entrada do século 20, acontece a expo de Paris no ano de 1900, nessa expo foram apresentadas várias tecnologias, energia elétrica, tentativas de aviação, automóveis, certos equipamentos domésticos, geladeira... um avanço muito grande da tecnologia, fruto da Revolução Industrial, também é um período em que o nível de racionalidade foi exaltado: Kant, Sartre, Freud, o nível de conhecimento da racionalidade humana é muito admirado, e isso fazia com que a humanidade tivesse criado uma certa soberba, tinham alguns autores da época que diziam que as guerras nunca mais voltariam. Havia também certos países insatisfeitos e guardaram essa mágoa com a Conferência de Berlim – 1890 – a que fez o fatiamento da África; a Alemanha, a Bélgica mesmo ficaram muito insatisfeita – Essa divisão da África é uma das principais causas para que a África continue com as suas mazelas até hoje, essa divisão totalmente aleatória baseada nos interesses europeus colocou dentro do mesmo país etnias totalmente rivais, o que resultou hoje em Guerras Civis como em Ruanda (Tutsi e Hutus). Então essa mágoas históricas que foram guardadas e reproduzidas na forma de nacionalismo se eclodiram na primeira guerra mundial, os ânimos já estavam exaltados e qualquer fagulha levaria ao conflito, então a Guerra já estava pronta, apenas esperando uma desculpa para iniciar. 1917 – filme. Nova ordem após a primeira guerra mundial: materializado pelo Tratado de Versalhes – visa estabelecer novas bases para um convívio saudável nas relações internacionais entre os Estados. O Tratado de Versalhes cria a Liga das Nações, que é uma organização internacional política para fazer ali uma gestão, um espaço público de discussão das relações entre os Estados – primeira tentativa que não deu tão certo, mas que serviu como uma experiência histórica importante para os acertos da Carta das Nações Unidas. Então os erros cometidos na Liga das Nações foram ALUNA: LARA LOUISE MEDRADO úteis para alguns dos acertos da Carta das Nações Unidas. O grande problema da Liga das Nações é que ela adotou essa organização o critério da unanimidade na tomada de decisões, isso jamais daria certo, pois a unanimidade entre Estados é muito difícil e isso engessou a Liga das Nações, porque toda decisão tinha alguém para dizer que era contra e nessa, as relações não podiam avançar, então a Liga das Nações foi uma entidade bem pensada, de muito boa vontade, com princípios muito bons, bastante idealista, mas idealista demais e, talvez, o idealismo, o excesso de idealismo esteja justamente na regra da unanimidade, eles precisavam do realpolitik (em alemão refere-se à política ou diplomacia baseada principalmente em considerações práticas, em detrimento de noções ideológicas). Até o crescimento da liga foi difícil, já que muitos países que queriam entrar, não entravam porque alguém votava contra, tratados eram propostos, mas nunca iam adiante. A prova de que a Liga das Nações não foi efetiva, foi o acontecimento da II Guerra Mundial não muito tempo depois. Além da Liga das Nações, criaram a OIT (Organização Internacional do Trabalho), que foi criada em um contexto pós Revolução Russa, o objetivo era justamente evitar que as demandas sociais dos trabalhadores que já se encontravam organizados e fortalecidos em sindicatos, em entidades sindicais e até em partidos comunistas a tomar o poder e viessem a instaurar o regime socialista comunista em Estados Ocidentais, então ao criar a OIT, que era um sistema tripartite: representação dos trabalhadores, representação dos empregadores e representação do Estado. A OIT foi uma resposta a essas demandas para estabelecer patamares mínimos de condições de trabalho e com isso diminuir a pressão social que os trabalhadores exerciam e que poderiam colocar em causa a continuidade do próprio sistema capitalista que se instaurava entre os estados europeus. Também foi criado nesse contexto a Corte Permanente de Justiça Internacional para resolver os litígios entre os Estados pela via do direito, Estatuto da Corte Permanente de Justiça Internacional, assinado em1920. Após a 1ª Guerra Mundial, se tentou estabelecer uma Nova Ordem Mundial, o que foi insuficiente, mas houve a tentativa. Para não dizer que a Liga das Nações não serviu para nada, houve o Pacto Briand-Kellogg de 1928 – tratado de proscrição do uso da força. Proscrever é adiar, postergar, então era o tratado em que os Estados concordavam com duas coisas essenciais: o primeiro é que os Estados não adotariam o uso da força, a Guerra como política de Estado, então nenhum Estado adotaria Guerra como política nacional e segundo, nenhum Estado resolveria suas questões por meio da Guerra sem antes se esgotar todas as hipóteses de solução pacífica – ideia de ultima ratio, veja que não é ainda a proibição da guerra, mas sim a ideia de que os Estados deviam postergar a Guerra a último plano. As duas coisas a Alemanha violou, sendo que ela fazia parte da Liga das Nações. Esse tratado serviu para aplicar as sanções à Alemanha, e a Alemanha foi dividida por causa desse tratado, no final da II Guerra Mundial. O tratado de Versalhes aplicou sanções sobre a Alemanha, basicamente essa tomou a culpa pela Primeira Guerra, a Alemanha teve que pagar indenizações altíssimas aos Estados vencedores e a Alemanha ficou proibida de estabelecer um exército pelo período de 20 anos. A Alemanha logo depois instituiu a República de Weimar, entrou em uma profunda crise econômica, porque a Alemanha ficou sem lastro para o marco e o marco entrou em uma hiperinflação, já que não tinha lastro que fundamentasse o seu valor de mercado e não há dúvidas que essa crise política, social e econômica em que a Alemanha foi lançada junto com o nacionalismo que já vinha como uma mazela das relações internas, foram, sem dúvidas as razões para que tenhamos caminhado para a II Guerra Mundial. Isso se deve, em grande parte, ao ultranacionalismo nazista que se estabeleceu na Alemanha de maneira relativamente silenciosa e Hitler. Documentário: Hitler: uma carreira – mostra claramente como Hitler se fez. ALUNA: LARA LOUISE MEDRADO Aula 3 FIM DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E NOVA CONJUNTURA Contexto da Guerra Fria – EUA X URSS – GUERRA DO VIETNÃ; Guerra das Coreias; Guerra do Afeganistão; Crises dos mísseis de Cuba; - conflitos fomentados pela guerra fria – fatores: corrida armamentista; espacial e com o fim da guerra fria, a ONU entrou em um processo mais crítico. - Multiplicação Progressivas das OIs – várias organizações internacionais mais técnicas: OMS; UNESCO; OMC; OMI – Organização Marítima Internacional; OPEP; OACI - organização da aviação civil internacional; OMM - organização meteorológica mundial; UPU – união postal universal; FAO - food agriculture organization - Expansão Material do Direito Internacional; - Expansão subjetiva da sociedade internacional – descolonização * ONU começa em 1945 com 51 Estados-membros, hoje a ONU tem 194 – isso dá uma dimensão de como a sociedade internacional expandiu, não só numericamente, mais territorialmente. - Convivência do direito internacional de coexistência com um novo modelo de norma internacional, de cooperação – a ideia de que os Estados devem respeitar a existência do outro e estabelecer entre eles normas de convivência. Ex: tratado de extradição – eu te entrego alguém, se você também me entregar. – reciprocidade. A proteção da humanidade, meio ambiente, perspectivas, interesses globais que reconhecidos, mobilizam esforços para uma ordem cooperativa, e esse direito de cooperação também repercute em ordem regional na criação dos blocos econômicos: MERCOSUL, UNIÃO EUROPÉIA, NAFTA (américa do norte) que vai para uma cooperação econômica de desenvolvimento coletivo. Todo esse contexto obriga uma revisitação do próprio conceito de soberania – o conceito de soberania é um conceito vivo, é um daqueles conceitos que já tiveram muitas acepções, o conceito de soberania mudou substancialmente de quando ele foi cunhado para hoje. A soberania foi descrita por Jean Bodin – séc. 16 – definiu a soberania como soberania absolutista – o poder que não tinha limites – sentido disso era não se submeter a igreja, ao império. Então havia a necessidade da construção de um conceito que justificasse aquele poder de estado e a resistência dos estados frente a outras formas de organização da sociedade e a imposição dos Estados na colonização modelos. A soberania de Jean Bodin ficou para trás, ela sucumbiu com o Estado de direito, porque com esse passamos a falar da soberania popular, que vai culminar no constitucionalismo, o poder emana do povo e em nome dele será exercido, ou seja, o poder não é do rei, como era o de Jean Bodin, o poder é do povo e é exercido por representação ou mandato, isso é uma evolução, uma conquista evolutiva, e a soberania continua lá na ordem internacional, ela continua sendo um poder que não se submete a nenhum outro. Mas ele sofre limitações. A soberania pode ser limitada por uma manifestação do Estado, a teoria da autolimitação do Estado, sofrer limitações que viabilizam essa coexistência porque eles vão se auto limitando por meio de acordos. Isso parte da interdependência – em que os Estados dependem uns dos outros e dependem da sociedade internacional, e, portanto, a soberania não é um poder que pode tudo, porque a necessidade de se relacionar na ordem internacional é um dado da realidade, isso reflete, entre outras coisas, no poder constituinte. O Chile vai passar agora por um processo de nova Constituição, mas o poder constituinte chileno vai encontrar algumas questões que estão pré-definidas, por exemplo, as fronteiras do Chile não podem ser modificadas pelo ALUNA: LARA LOUISE MEDRADO poder constituinte, e o que impede que o Chile mude? O direito internacional. O Chile não pode estabelecer um regime de controle sobre o seu mar que destoe da convenção das Nações Unidas sobre direito do mar que o Chile assinou em 1982, pois esse se comprometeu a limitar o seu mar territorial em 12 milhas náuticas. O direito internacional aparece como limitador da soberania dos países. Os direitos dos Estados devem coexistir com o direito internacional, não quer dizer que haja uma hierarquia. A soberania não permite aos países impor nada, permite apenas participar e de proteger, se defender, tanto que a carta da ONU fala em legítima defesa em caso de uso da força. O objetivo de uma Declaração de Independência é muito mais permitir a participação, cooperar – implica deveres e direitos; Esse sistema passa por uma crise – os sistemas passam por crises entre 100 e 150 anos, são ciclos. *A ONU se deparou, logo após a sua criação com a Guerra Fria, então ela se estruturou 45 anos para resolver questões de um mundo bipolar, com o fim da Guerra Fria a coisa empenou, os EUA se destacaram como uma grande potência, a União Soviética se desmontou, a Rússia entrou em crise – isso teve um grande impacto político mundial, basta ver que em todos os países do leste europeu viraram países ocidentais capitalistas e entraram na União Europeia – a influência dos EUA sobre o mundo chegou ao ápice na virada do milênio, e aí veio a queda das Torres, no que veio a queda das torres, os EUA avançaram para o Afeganistão – esse movimento dos EUA foi um movimento com um cunho político interno muito ressaltado porque o George W. Bush vinha passando por dificuldades políticas no seu governo, a queda das torres foi um mote para que ele alavancasse uma nova onda política a seu favor, ele vai e invade o Afeganistão sobre um argumento certamente muito ideológico. Torres Gêmeas foram derrubadas, manchete: USA in WAR. Mas como assim, que Estado atacou os EUA? Eles se utilizaram desse argumento para receber benefícios de Guerra, além de ter ajudado o presidente estadunidense da época a se manter no poder. Para ser Guerra, algum Estado deveria estar tentando derruba o governo, o que aconteceu não foi Guerra, foi um crime gravíssimo depois assumido por um grupo fundamentalista, mas não teve ali uma participação do Estado. Guerra é um Estado de exceção, na Guerra, os direitos são suspensos. Quando se usa a palavra Guerra, você está dizendo quecertos direitos não serão respeitados – mesma logica de guerra contra o tráfico – pressupõe que certos direitos sejam cessados. Guerra do Afeganistão 2001-2002 – o Afeganistão não tinha a ver com o grupo terrorista – Guerra do Iraque 2003. Legitima defesa prévia, Portugal. ONU não teve forças sobre os ilícitos provocados pelos eua – nacionalismo vivenciados pelo mundo, fragilizou a ordem internacional que se mostra dominada – crise econômica de 2008 que afeta os EUA – fez com que o EUA tirasse seu dinheiro de vários lugares do mundo e a China acaba entrando onde os EUA deixou espaço, dominando economicamente. Vivenciando uma Guerra Fria 2.0 sem o sentido militar. Reformar a ONU, dar mais legitimidade, reajustar a realpolitik, apostar em algo novo, criar uma nova organização social. A legitimidade da ONU foi perdida quando essa não aplicou sanções aos Estados unidos por ter agido de forma ilícita no início do séc. XXI. - Poderia haver uma Reforma da carta que reestruturasse o conselho de segurança, que fizesse uma mexida que colocasse a Alemanha e o Japão como membros permanentes, India, um país latino-americano, Africa do Sul – isso daria uma maior legitimidade da ONU para decidir a partir de novos ares. Vemos ainda um resquício do poderio da I guerra mundial, como que a Alemanha é o principal país da União Europeia e não faz parte do Conselho de Segurança? A Alemanha de hoje é uma Alemanha completamente diferente de uma Alemanha de 75 anos atrás. ALUNA: LARA LOUISE MEDRADO FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL - quando falamos em fontes do direito, nos referimos de onde emana o direito – logo, FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL é onde eu encontro o direito internacional, de onde vem, onde está. Fontes do Direito Internacional não são as mesmas do direito interno - Hart – conceito de direito: normas de reconhecimento – normas de segunda ordem que fazem reconhecer normas de ordem primária, ou seja, normas que dizem quais são as normas do ordenamento. As normas de reconhecimento são normas dessa natureza, ou seja, são normas sobre normas, normas que indicam quais são as normas de um dado ordenamento, então Hart aponta que toda norma jurídica tem normas de reconhecimento. O direito internacional não tem normas de reconhecimento. Ele foi pouco cuidadoso quando analisou o direito internacional, porque ele deixou de observar uma norma do direito internacional que já existia quando ele escreveu seu livro em 1960. Estatuto da Corte Internacional de Justiça art. 38 – ECIJ: Tratado assinado na década de 20, assinado depois da I Guerra Mundial e após a II Guerra Mundial foi anexado à Carta da ONU, então esse Estatuto hoje é um anexo da carta da ONU, logo todos os Estados membros da ONU se vinculam a esse estatuto. Este traz no art. 38 que a corte internacional de justiça decidirá as questões que para lá forem lavadas com base em: ESSAS ENTÃO SÃO AS FONTES. Logo, Hart podia ter observado o art. 38 e dito ora, a ordem internacional traz uma norma de reconhecimento e ela é utilizada pela doutrina de maneira generalizada, estabelecendo um rol de fontes: a) As convenções internacionais; b) O costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como sendo o direito; c) Os princípios gerais de direito reconhecidos pelas Nações civilizadas; d) As decisões judiciárias e a doutrina dos publicistas mais qualificados das diferentes Nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de direito. 2. A presente disposição não prejudicará a faculdade da Côrte de decidir uma questão ex aequo et bono, se as partes concordarem com isto. (equidade) A Corte Internacional de Justiça, no decorrer da segunda metade do século 20, reconheceu outras fontes, que também vamos trabalhar complementares a essas do rol do art. 38. COSTUMES INTERNACIONAIS Elemento Material – prática reiterada dos Estados na sociedade internacional Elemento Psicológico – “opinio iuris” – ideia de que os costumes são práticas aceitas como sendo o direito. Costume se refere a uma prática estatal que não é prática de um Estado, mas sim de vários Estados. E essa prática é adotada não porque o Estado resolva agir daquele jeito, mas porque ele se sente obrigado a agir daquele jeito. Então o costume tem esse traço, que obviamente estamos fazendo uma analogia, já que o Estado não tem psique. É um elemento psicológico na medida em que o Estado age daquela forma porque ele simplesmente se sente obrigado a agir desse jeito. ÔNUS DA PROVA - Quem alega o costume tem uma causa, tem um litígio, alega o costume pretendendo deduzir dele alguma pretensão tem o ônus da prova da ALUNA: LARA LOUISE MEDRADO existência do costume e do seu conteúdo. Então quem alega que certo costume existe na ordem internacional como norma deve provar que o costume existe e deve provar qual o conteúdo, ou seja, qual é realmente o direito que se pode extrair desse costume. Então o primeiro grande desafio é provar que o costume existe. Na real não é tão difícil provar o elemento material, porque o elemento material desrespeito às práticas estatais, e essas normalmente são atos formais. O Estado não pratica atos informais. Normalmente o Estado pratica atos por decreto, portaria, lei, por atos que são públicos, publicações, as decisões tomadas no plano estatal geralmente são públicas e formalizadas, materializadas em documento, então não é difícil provar uma determinada prática estatal, pode acontecer, haver uma prática estatal sigilosa? Pode, mas convenhamos que isso dificilmente vai ser aceito como um costume, um costume é algo que todos os Estados praticam, é uma prática adotada pelos Estados, pela coletividade dos Estados. Então se eu quero mostrar que um costume existe, eu tenho que provar que vários Estados agem daquela forma. Às vezes o mais difícil é provar o elemento psicológico, o opinio iuris, depende só das circunstâncias. Pense que a sociedade internacional é o ambiente em que os Estados se relacionam. Na ordem internacional o costume tem tanto poder quanto os Tratados. Costumes Universais – ex: proteção diplomática – é um instituto que não tem nenhum tratado sobre isso, mas ele é amplamente aceito nas relações internacionais, é o instituto pelo qual o Estado pode internacionalizar um conflito nacional seu com um Estado estrangeiro. Circunstância prática: Nacional de um Estado situado em um Estado estrangeiro sofre algum tipo de arbitrariedade, de ilegalidade, lá no Estado estrangeiro praticado pelo Estado estrangeiro e ele obviamente tenta resistir a essa arbitrariedade usando os meio jurídicos do Estado estrangeiro, mas como ele está se valendo dos meios jurídicos do Estado estrangeiro, ele tem uma fragilidade. Então o Estado de origem dele pode endossar esse conflito e levar o conflito para a ordem internacional, que aí não vai ser mais um conflito Estado – pessoa e sim Estado – Estado. Caso de Jean Charles – brasileiro morto em um metrô de Londres. Costumes regionais – ex: asilo diplomático Costume se formam com o tempo, sobre a prática, se pegam a prática e colocam no tratado, o posterior prevalece sobre o anterior PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO - não há hierarquia entre os princípios, assim como também, para muitos autores, não há hierarquia entre as FONTES: COSTUMES; TRATADOS e PRINCÍPIOS. Porém, a ordem internacional evoluiu no sentido de reconhecer o JUS COGENS. CVDT/69, art. 53. É nulo um tratado que, no momento de sua conclusão, conflite com uma norma imperativa de Direito Internacional geral (jus cogens). Para os fins da presente convenção, uma norma imperativa de Direito Internacional geral é uma norma aceita e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados como um todo, como norma da qual nenhuma derrogação é permitida e que só pode ser modificada por norma ulterior de Direito Internacional geral da mesma natureza. Jus Cogens acima de tratados, é o Tratado dos tratados. Proibição da tortura, da escravidão – jus cogens. IGUALDADE ENTRE HOMEM E MULHER NÃO é jus cogens, porque nem todos os países concordam, a ex. dos islâmicos – Afeganistão, Arábia Saudita...Jus cogens – não comporta exceção. Não é porque o cara é terrorista que pode ser torturado vide Guantánamo. ALUNA: LARA LOUISE MEDRADO Fontes auxiliares: doutrina e jurisprudência da jurisdição internacional Art. 38, parágrafo 2º - Equidade: se os Estados concordarem, a corte poderá decidir “ex aequo et bono” – traduzido como equidade no português, porém tem mais a ver com * Fairness – “justeza” – relativo ao justo – ou seja, decisões baseadas no senso de justiça dos tribunais e não em alguma fonte, isso é muito raro, mas ocorre quando não há uma fonte. Atos de Organizações Internacionais – resoluções do conselho de segurança são fontes internacionais. NÃO COGENTES – “SOFT LAW” – são leis que não tem punição dentro do direito, não obriga os países a seguir, mas implica em outros tipos de consequências vide a econômica
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