Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Elisa Figueiredo APG S6p2 - Cirrose Anatomia e fisiologia do fígado - O fígado encontra-se inferiormente ao diafragma e ocupa a maior parte do hipocôndrio direito e parte das regiões epigástricas da cavidade abdominopélvica - O fígado é quase totalmente recoberto pelo peritônio visceral e é completamente coberto por uma camada de tecido conjuntivo denso irregular que se encontra profundamente ao peritônio - É dividido em dois lobos principais: lobo hepático direito grande e um lobo hepático esquerdo menor – pelo ligamento falciforme, uma prega do mesentério - Na margem livre do ligamento falciforme está o ligamento redondo, um remanescente da veia umbilical do feto -> se estende do fígado até o umbigo - Na margem livre do ligamento falciforme está o ligamento redondo, um remanescente da veia umbilical do feto - Os hepatócitos secretam diariamente 1 litro de bile -> líquido amarelo, pH entre 7,6 e 8,6 e é constituído por água, sais biliares, colesterol, fosfolipídio lecitina, pigmentos biliares - bilirrubina - e vários íons - A fagocitose dos eritrócitos envelhecidos libera ferro, globina e bilirrubina -> o ferro e a globina são reciclados; a bilirrubina é secretada na bile e decomposta no intestino - A bile é parcialmente um produto de excreção e parcialmente uma secreção digestória. Os sais de sódio e de potássio dos ácidos biliares emulsificam - O fígado desempenha funções vitais: * metabolismo de carboidratos: cliva o glicogênio em glicose e libera glicose para a corrente sanguínea, converte a glicose em glicogênio e triglicerídios para armazenamento * metabolismo de lipídeos: clivam ácidos graxos para gerar ATP; sintetizam lipoproteínas, que transportam ácidos graxos, triglicerídios e colesterol de e para as células do corpo; sintetizam colesterol; e utilizam o colesterol para produzir sais biliares * metabolismo de proteínas: desaminam dos aminoácidos, de modo que eles possam ser utilizados para a produção de ATP ou ser convertidos em carboidratos ou gorduras -> amônia é convertida em ureia * metabolismo de fármacos e hormônios: desintoxica substâncias, excreta medicamentos como a penici l ina, a er i tromicina e as sulfonamidas na bile, excreta hormônios tireóideos e esteroides * excreção de bilirrubina: a bilirrubina, derivada do grupo heme de eritrócitos envelhecidos, é absorvida pelo fígado a partir do sangue e secretada na bile * síntese de sais biliares: são utilizados no intestino delgado durante a emulsificação e absorção de lipídios * armazenamento de glicogênio, de vitaminas (K, A, D, E e B12) e minerais (ferro e cobre) * fagocitose: células estreladas do fígado fagocitam eritrócitos envelhecidos, leucócitos e algumas bactérias * ativação da vitamina D Etiofisiopatologia da cirrose - É caracterizada pela desorganização da arqui tetura lobular do f ígado, def in ida histologicamente por fibrose e formação de nódulos regenerativos - É c l a s s i f i c a d a d e a c o r d o c o m s u a s c a r a c t e r í s t i c a s m o r f o l ó g i c a s e s u a s manifestações clínicas * Morfologicamente, a cirrose é classificada em macronodular, quando formada por nódulos com diâmetro maior ou igual a 3 mm; micronodular, quando constituída por nódulos menores que 3 mm; mista, presença de nódulos de tamanhos variados Elisa Figueiredo - O parênquima hepático está organizado em lóbulos circundados por espaços portais formados por estroma conjuntivo frouxo, veia porta terminal, arteríola hepática e canalículo biliar, com centro constituído por veia hepática central - Na cirrose, ocorre colapso dos lóbulos hepáticos por agressão hepatocelular e reparo com formação de septos fibro-sos e nódulos regenerativos - Células do sistema imune, vírus, álcool, endotoxinas, ferro, cobre e hipóxia, são capazes de induzir lesão hepatocelular e morte celular por apoptose ou necrose -> provocar lesão hepática por ação direta ou por ativação de uma série de mediadores intra e extracelulares e ativação e proliferação de células hepáticas, tais como células de Kupffer, células estrelares e endoteliais - Células de Ito (células estrelares) depositam matriz extracelular constituída por colágeno, proteoaminoglicanos e glicoproteínas -> fibrose - Na presença de lesão hepato-celular, são ativadas em resposta à consequente produção de citocinas e quimiocinas como fator de crescimento de plaquetas e de endotélio, TGF- beta-1 e fator de necrose tumoral - A ativação de células estrelares induz a sua prol i feração, o aumento na síntese de c o m p o n e n t e s d a m a t r i z e x t r a c e l u l a r, particularmente colágeno do tipo I, o aumento na sua contratilidade, a secreção de citocinas e qui miocinas e a perda dos depósitos intracelulares de vitamina A Hipertensão Portal - A cirrose manifesta-se como insuficiência hepática e/ou hipertensão portal associada ou não à disfunção circulatória -> aparecimento de asci te, edema de membros infer iores, encefalopatia hepática (EH), infecções, hemorragia digestiva varicosa, síndrome hepa topu lmonar (SHP) e h ipe r tensão portopulmonar - A hipertensão portal clinicamente relevante é definida hemodinamicamente pelo achado de pressão venosa portal superior a 10 mmHg, sendo secundária ao aumento da resistência intra-hepática do fluxo portal atribuído à cirrose e ao aumento no fluxo sanguíneo por-tal, decorrente da vasodilatação da circulação esplâncnica característica da cirrose - O principal mediador da vasodi latação esplâncnica e sistêmica observada em modelos experimentais de cirrose é o óxido nítrico (ON), potente vasodilatador, cuja síntese é elevada em células endoteliais desses territórios vasculares - A cirrose é denominada compensada na ausência de complicações relacionadas à insuficiência hepática, à hipertensão portal e/ou à disfunção circulatória - Ocorre redução da síntese de fatores pró- coagulantes e anticoagulantes e diminuição da depuração de fatores de coagulação ativados Elisa Figueiredo Fatores de risco - Homem - Alcoolismo - Infecção por hepatite - Maus hábitos alimentares - Hipercolesterolemia - Obesidade - Uso crônico de medicamentos - Antecedentes familiares de cirrose, doenças autoimunes e consanguinidade Manifestações clínicas - As manifestações clínicas da cirrose são variáveis, a depender da causa subjacente da doença crônica parenquimatosa de fígado e da descompensação da doença - Pacientes com cirrose compensada podem a p r e s e n t a r q u a d r o a s s i n t o m á t i c o o u oligossintomático - Fadiga, anorexia e perda de massa muscular podem ser manifestações da desnutrição - Cirrose descompensada -> complicações da insuficiência hepática e/ou da hipertensão portal, tais como aumento de volume abdominal, ou peritonite bacteriana espontânea; hematêmese, melena ou enterorragia em decorrência da hemorragia por varizes gastroesofágicas ou por gastropatia hipertensiva; infecções do líquido ascítico, urinária e respiratória; dispneia e ortopneia secundárias à ascite volumosa; presença de hidrotórax ou síndrome hepatopulmonar e oligúria associada ou não a sinais de uremia por causa da síndrome hepatorrenal Diagnóstico - Pode ser baseado em parâmetros clínicos e laboratoriais, corroborados por resultados de exames de bioimagem e pela endoscopia digestiva - O diagnóstico clínico da DCPF baseia-se na presença de sinais periféricos de hepatopatia crônica -> eritema palmar, telangiectasias e ginecomastia - Evidências clínicas de hipertensão portal, como esplenomegalia e circulação colateral abdominal em pacientes com DCPF, apontam a presença de cirrose - Os métodos de imagem convencionais podem sugerir a presença de cirrose se houver irregularidade no contorno do fígado; a alteração na ecotextura desse órgão e evidências de hipertensão portal por aumento de calibre de veia porta ou por alterações no fluxoportal ao exame de ultrassonografia abdominal - Os principais testes laboratoriais, atualmente d i s p o n í v e i s , q u e e m p r e g a m e s t e s Elisa Figueiredo b iomarcado res são : o F i b ro - t es t® , o Fibrometre® Forns® o APRI®, o Hepascore ® e o escore Forns - A contagem de plaquetas, tempo de protombina, n í v e i s d e a m i n o t r a n s f e r a s e s , gamaglutamiltransferase, bilirrubina, colesterol, glicemia, ureia, ácido hialurônico, alfa-2- macroglobulina, haptoglobina e apolipoproteína A1 - O Fibroscan é o método mais empregado atualmente no Brasil, podendo substituir a biópsia hepática para avaliação de prognóstico e tratamento das hepatites virais Tratamento - O tratamento da cirrose será abordado de acordo com a descompensação da doença - Orientação sobre estilo de vida, tratamento de comorbidades, suporte nutricional - Tratamento para doenças subjacentes e sintomas associados - Transplante de fígado - O tratamento inicial indicado é a dieta hipossódica com 2 g de NaCl/dia e o uso de diuréticos -> doses escalonadas de antagonistas da aldosterona (espironolactona 100-400 mg) EPidemiologia - A prevalência mundial de CH é estimada em cerca de 3 a 5%, em adultos, em estudos de necropsia e em homens - No Brasil, a taxa de mortalidade por CH e outras hepatopatias crônicas é de 15,6 a cada 100 mil habitantes. A CH afeta os indivíduos nos anos de maior produtividade laboral Referências Clínica Médica, Volume 4: Doenças do Aparelho Digestivo, Nutrição e Doenças Nutricionais
Compartilhar