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Radiações APRESENTAÇÃO Você já percebeu que estamos expostos diariamente à radiação? Quando se fala em radiação, as pessoas geralmente associam esta palavra com algo perigoso. No entanto, radiação nada mais é do que a emissão e propagação de energia de um ponto a outro, seja no vácuo, seja num meio material. Isto pode ocorrer por meio de fenômenos ondulatórios ou por partículas com energia cinética. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender essencialmente sobre o tema radiação, além dos conceitos sobre o assunto, vai entender de que forma essa energia nuclear atua no meio ambiente, no nosso corpo, sua importância, bem como os cuidados que devemos ter ao lidar com a radiação devido aos seus efeitos físicos. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os conceitos básicos relacionados à radiação.• Caracterizar as distintas aplicações acerca de radiação.• Definir os efeitos biológicos da radiação.• DESAFIO Imagine-se concursado pela prefeitura para atuar com radiologia diagnóstica em um hospital local. Você e seus colegas, então, resolvem escrever um comunicado ao hospital, justificando tecnicamente a importância do equipamento e seus efeitos na saúde humana, e solicitando providências urgentes. Diante desta necessidade, como você justificaria? INFOGRÁFICO Neste infográfico, você poderá observar as partículas radioativas existentes e os tipos de radiação que existem. Poderá ver que estamos cercados por radiação não ionizante todo tempo, onde a energia é mais baixa, como nas ondas de radio, ou quando você cozinha algo em seu micro-ondas em casa, em comparação com a radiação ionizante onde ocorre uma mudança na estrutura do átomo, ou seja, molecular e dando origem a radiação ionizante que exige um nível de energia mais alta e, por isso, também pode ser mais perigosa. CONTEÚDO DO LIVRO Radiação é a proliferação de energia, sob diversas formas. Acompanhe o capítulo Radiação para saber mais acerca dos distintos tipos de radiação e suas características, bem como sua aplicação na Biologia e Medicina, na obra Biofísica. Boa leitura. BIOFÍSICA Vanessa de Souza Machado Radiação Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Identificar os conceitos básicos relacionados à radiação. � Caracterizar as distintas aplicações acerca de radiação. � Definir os efeitos biológicos da radiação. Introdução Você já percebeu que estamos expostos diariamente à radiação? Quando se fala em radiação, as pessoas geralmente associam esta palavra com algo perigoso. No entanto, radiação nada mais é do que a emissão e propagação de energia de um ponto a outro, seja no vácuo, seja num meio material. Isto pode ocorrer por meio de fenô- menos ondulatórios ou por partículas com energia cinética. Neste texto, você vai estudar essencialmente sobre o tema radia- ção, além dos conceitos sobre o assunto, vai entender de que forma essa energia nuclear atua no meio ambiente, no nosso corpo, sua im- portância, bem como os cuidados que devemos ter ao lidar com a radiação devido aos seus efeitos físicos. Identificar os conceitos básicos relacionados à radiação Radiação é a proliferação de energia, sob diversas formas, originada nos ajustes que ocorrem no núcleo atômico ou nas camadas eletrônicas do átomo, ou, ainda, por meio da relação de outras radiações ou partículas com o núcleo ou átomo. Em geral, as radiações são divididas em dois grupos: Radiação Cor- puscular e Radiação Eletromagnética: � Radiação Corpuscular: possui um feixe de partículas elementares ou núcleos atômicos, tais como prótons, nêutrons, elétrons, dêuterons, partículas alfa, entre outras. � Radiação Eletromagnética: possuem campos elétricos e magnéticos os- cilantes e se proliferam com velocidade constante no vácuo, tais como: raios X, raios gama, ondas de rádio, luz visível, raios infravermelhos, raios ultravioletas, etc. Criada por Max Planck em 1900, a Teoria dos Quanta assegura que a radiação eletromagnética é emitida e se propaga descontinuamente em pe- quenos pulsos de energia, chamados pacotes de energia, quanta ou fótons, (Caráter Corpuscular) esta teoria está na base de toda a física moderna. A dualidade onda-partícula constitui uma propriedade fundamental da mecânica quântica e consiste na aptidão das partículas subatômicas de se comportarem ou terem atributos tanto de partículas como de ondas. Foi rela- tada pela primeira vez pelo físico francês Louis-Victor de Broglie em 1924, que divulgou que os elétrons apresentavam características tanto corpuscu- lares como ondulatórias, comportando-se de um ou outro modo dependendo do experimento específico. Tipos de radiações Veja agora um pouco sobre os tipos de radiação alfa, beta, gama, raios X e os tipos de radiação ultravioleta (UVA, UVB e UVC) � Radiação Alfa: as partículas desta radiação são compostas por 2 nêu- trons e 2 prótons. As partículas Alfa, por terem carga elétrica e massa relativamente maior, podem ser detidas com facilidade, até mesmo por uma folha de papel. Partículas Alfa são consideradas inócuas, pois não têm capacidade de ultrapassar as camadas externas de células da pele. Contudo, podem penetrar no organismo através da aspiração ou por um ferimento aberto provocando lesões graves. � Radiação Beta: as partículas dessa radiação são elétrons emitidos pelo núcleo de um átomo instável. Ao emitir uma partícula Beta, ocorre o aumento de um próton no núcleo e a diminuição de um nêutron, con- servando constante a massa. Essas partículas são capazes de penetrar nos tecidos humanos e ocasionar danos à pele. � Radiação Gama: esta radiação é formada por ondas eletromagnéticas emitidas por núcleos instáveis. A emissão da radiação gama estabiliza um núcleo instável. Radiação Gama é extraordinariamente penetrante, sendo detida somente por uma parede de metal ou concreto. � Raios X: os raios X são capazes de obterem fotografias dos órgãos internos de humanos e de animais. Nestas fotografias, é possível di- ferenciar os ossos do esqueleto e detectar diferentes deformações dos tecidos. Para obter raios-X, um aparelho acelera elétrons e os faz colidir contra uma placa de chumbo, ou outro material. Na colisão, os elétrons perdem a energia cinética, ocorrendo uma transformação em calor e um pouco de raios-X. � Radiação ultravioleta (UV): esta radiação faz parte da luz solar que atinge a Terra e está diretamente associada ao câncer de pele e ao en- velhecimento da pele. Ela penetra profundamente na pele, atingindo a derme e desencadeando reações como vermelhidão na pele, bronzea- mento e tumores. Ela pode ser dividida em três tipos: UVA, que penetra profundamente na pele, uma das principais responsáveis pelo fotoen- velhecimento e pelo câncer de pele; UVB, que penetra mais superfi- cialmente na pele e é a radiação responsável pela vermelhidão na pele e pelas queimaduras solares; e a radiação UVC, que não atinge a terra. A redução da camada de ozônio, considerada um filtro da radiação UV, faz com que os raios solares cheguem ao nosso planeta com maior intensidade. Além disso, o Brasil está situado em uma região com alta incidência de raios ultravioleta, o que aumenta o risco de problemas. Estrutura atômica: modelos atômicos Diferentes experimentos no século XIX confirmaram a existência do átomo, tornando a hipótese em teoria e essa ficou conhecida como a Teoria Atômica de Dalton. Esta teoria indicou um modelo científico sobre o átomo, que ficou conhecido como o Átomo de Dalton. O modelo do Átomo de Dalton sugere que o átomo é indivisível e este modelo serviu como base para diversos traba- lhos por muitos anos. Contudo, novas observações e experimentos demons- traram que o átomo não era indivisível. O modelo de Dalton não permitia justificar o motivo que em algumas so- luções passavam corrente elétrica e outras não. Assim, para elucidar este fato,Arrhenius imaginou que as soluções por onde não passava a corrente eram formadas por moléculas eletricamente neutras, enquanto que as soluções con- dutoras possuíam algumas moléculas que estariam divididas em partículas menores, chamadas íons, alguns com carga elétrica positiva, cátions, e outros com carga negativa, ânions. Estes íons eram responsáveis pelo transporte da corrente elétrica. Thomson propôs em 1904 um novo modelo de átomo, formado com carga elétrica positiva recheada pelos elétrons, com carga elétrica negativa. O mo- delo considera que o número de cargas negativas era igual ao da positiva, garantindo a neutralidade. O modelo de Thomson admite a divisibilidade do átomo e a natureza elétrica da matéria, mas algumas questões ainda não eram claramente explicadas. Por exemplo, como era possível a retirada de um elétron do átomo formando um íon positivo ou como um átomo poderia de unir-se a outro átomo e formar uma molécula. Assim, os cientistas deram con- tinuidade na procura de novos modelos de átomos. A descoberta da radioativi- dade foi um passo fundamental para a criação de um modelo mais completo, sendo Rutherford o cientista responsável pelo desenvolvimento deste modelo. Ernest Rutherford, no início do século XX, utilizando a radioatividade descobriu que o átomo não era uma esfera maciça, como sugeria Dalton. O modelo atômico de Rutherford concluiu que o átomo era composto por um pequeno núcleo com carga positiva neutralizada por uma região negativa, de- nominada eletrosfera, onde os elétrons giravam ao redor do núcleo. O movimento de rotação dos elétrons ao redor do núcleo acabou trazendo outro conflito com relação à mecânica clássica, que diz que toda a partícula elétrica em movimento emite energia na forma de ondas eletromagnéticas. De acordo com a mecânica clássica, o movimento do elétron iria consumir energia e sua velocidade de rotação diminuiria até cair sobre o núcleo. Este fenômeno só pode ser mais bem compreendido com o uso da mecânica quântica. O cientista Niels Bohr aperfeiçoou o modelo proposto por Rutherford, for- mulando sua teoria sobre distribuição e movimento dos elétrons. Baseado na Teoria Quântica proposta por Plank, Bohr elaborou os seguintes postulados: I- Os elétrons descrevem ao redor do núcleo órbitas circulares, chamadas de camadas eletrônicas, com energia constante e determinada. Cada órbita permitida para os elétrons possui energia diferente. II- Os elétrons ao se movimentarem numa camada não absorvem nem emitem energia espontaneamente. III- Ao receber energia, o elétron pode saltar para outra órbita mais ener- gética. Dessa forma, o átomo fica instável, pois o elétron tende a voltar à sua órbita original. Quando o átomo volta à sua órbita original, ele devolve a energia que foi recebida em forma de luz ou calor. O modelo Rutherford-Bohr não explica por que o elétron apresenta energia constante, não explica as reações químicas, descreve órbitas circulares ou elípticas, quando na verdade os elétrons não descrevem essa trajetória, dentre outras restrições. Ao longo dos anos, foram realizados muitos estudos com relação à estrutura do átomo, levando à criação de outros modelos, porém o modelo Rutherford-Bohr ainda é o mais difundido no ensino médio. A Figura 1 compara os diferentes modelos descritos anteriormente. Figura 1. Modelos atômicos. Fonte: http://portalacademico.cch.unam.mx/ alumno/quimica1/unidad2/modelos_atomicos/introduccion Espectros atômicos Sabe-se que cada elemento químico, em determinadas condições, emite um espectro característico. Tal espectro é exclusivo de cada elemento. Com isso foi possível desenvolver a Espectroscopia, um método de análise baseado nestas emissões. Quando se fornece energia a um elétron em um átomo de um determinado elemento, tal elétron pode “saltar” para um nível superior de energia e, ao retornar ao seu estado inicial, emite radiação eletromagnética. Toda a radiação eletromagnética possui uma frequência e com isto pode-se determinar seu comprimento de onda. Cada átomo é capaz de emitir ou ab- sorver radiação eletromagnética, somente em algumas frequências especí- ficas o que torna a emissão característica de cada material. Para fornecermos energia aos elétrons de um determinado material, uma das formas de fazer é aquecê-lo em sua forma gasosa. Assim, este elemento pode emitir radiação em certas frequências do visível, o que constitui seu espectro de emissão. Saiba Mais Para saber mais sobre a radiação solar e a proteção contra os raios UV, leia o texto “Proteção à radiação ultravioleta: recursos disponíveis na atualidade em fotoproteção” (BALOGH et al., 2011). Aplicações das radiações em biologia e medicina Esterilização de materiais cirúrgicos A irradiação por raios gama pode ser utilizada para esterilização de produtos nos segmentos de medicina, alimentação, embalagens, fármacos, cosméticos, produtos veterinários, etc. A tecnologia é alternativa a métodos tradicionais como, por exemplo, o tradicional uso de óxido de etileno. A esterilização por energia ionizante através de raios gama consiste na exposição dos produtos à ação de ondas eletromagnéticas curtas, geradas a partir de fontes de Cobalto 60 em um ambiente especialmente preparado para esse procedimento. As ondas eletromagnéticas possuem grande poder de pe- netração, os germes podem ser alcançados onde quer que estejam, inclusive se estiverem na embalagem lacrada. No decorrer do processo, os produtos já embalados são encaminhados em uma esteira para a sala de esterilização. Nesse ambiente protegido por es- pessas paredes de concreto (bunker), encontra-se a fonte de Cobalto 60, que emite os raios gama responsáveis pela quebra de DNA dos microrganismos. O processo pode ser considerado similar ao de um micro-ondas, ou seja, o produto é tratado e pode ser consumido/ utilizado imediatamente após o tra- tamento. O processo de esterilização de materiais na medicina tem várias utilidades como, por exemplo, irradiação de produtos destinados a transplantes e im- plantes, esterilização de materiais descartáveis, como luvas, seringas, agu- lhas, gaze, máscaras cirúrgicas, entre outros. Radiologia diagnóstica A radiologia diagnóstica consiste na utilização de um feixe de raios X para a obtenção de imagens do interior do corpo. O médico, ao examinar as imagens, pode verificar as estruturas anatômicas do paciente e descobrir a existência de anormalidades. Essas imagens podem ser tanto estáticas quanto dinâmicas, vistas na TV em exames, por exemplo, de cateterismo para verificar o funcio- namento cardíaco. Radiografias A radiografia baseia-se no fato de que o feixe de raios catódicos emitidos por uma ampola de raios X pode atravessar de modo diferente os diversos tecidos orgânicos e atingirem uma película a eles anteposta, gerando imagens. Como esses raios atravessam com mais facilidade as partes aeradas e os tecidos moles do corpo, chegam ao filme com maior intensidade e o impressionam mais fortemente na projeção desses órgãos, gerando registros mais escuros. Os tecidos mais densos, como os ossos, por exemplo, os retém mais e eles chegam ao filme com menor intensidade e geram, na projeção desses órgãos, registros mais claros. Assim, depois de revelados, os filmes mostram imagens dos órgãos em diferentes tons de cinza. Na verdade, as imagens projetadas correspondem a áreas de sombra dos raios X emitidos. Medicina nuclear A Medicina Nuclear é uma especialidade médica que realiza diagnóstico por imagem, tratamento radionuclídico e cirurgia radioguiada. Seus exames uti- lizam métodos seguros, praticamente indolores e não invasivos para fornecer informações que outros exames diagnósticos não conseguem. Normalmente, os materiais radioativos são administrados por via venosa, oral, inalatória ou subcutânea, e apresentam distribuição para órgãos ou tipos celulares especí- ficos, não havendo risco de reações alérgicas. Esta especialidade estuda a fisiologia do nosso organismode acordo com a distribuição de alguns elementos radioativos (radionuclídio) ou, outras vezes, do radiofármaco (radionuclídio + fármaco), de acordo com sua afinidade por determinados tecidos. A medicina nuclear estuda então a distribuição desses radiofármacos no organismo, determinando, assim, seu estudo fisiológico. Podemos afirmar, então, que a principal diferença dos outros exames diag- nósticos radiológicos para a medicina nuclear é que enquanto a radiologia estuda a morfologia, a medicina nuclear estuda a fisiologia. Radioterapia A radioterapia é um método capaz de destruir células tumorais, empregando feixe de radiações ionizantes. Uma dose pré-calculada de radiação é aplicada, em um determinado tempo, a um volume de tecido que engloba o tumor, buscando erradicar todas as células tumorais, com o menor dano possível às células normais circunvizinhas, à custa das quais se fará a regeneração da área irradiada. As radiações ionizantes são eletromagnéticas ou corpusculares e car- regam energia. Ao interagirem com os tecidos, dão origem a elétrons rápidos que ionizam o meio e criam efeitos químicos como a hidrólise da água e a ruptura das cadeias de ADN. A morte celular pode ocorrer então por variados mecanismos, desde a inativação de sistemas vitais para a célula até sua inca- pacidade de reprodução. A resposta dos tecidos às radiações depende de diversos fatores, tais como a sensibilidade do tumor à radiação, sua localização e oxigenação, assim como a qualidade e a quantidade da radiação e o tempo total em que ela é administrada. Para que o efeito biológico atinja maior número de células neoplásicas e a tolerância dos tecidos normais seja respeitada, a dose total de radiação a ser administrada é habitualmente fracionada em doses diárias iguais, quando se usa a terapia externa. Radiossensibilidade e radiocurabilidade A velocidade da regressão tumoral representa o grau de sensibilidade que o tumor apresenta às radiações. Depende fundamentalmente da sua origem celular, do seu grau de diferenciação, da oxigenação e da forma clínica de apresentação. A maioria dos tumores radiossensíveis são radiocuráveis. En- tretanto, alguns se disseminam independentemente do controle local; outros apresentam sensibilidade tão próxima a dos tecidos normais, que esta impede a aplicação da dose de erradicação. A curabilidade local só é atingida quando a dose de radiação aplicada é letal para todas as células tumorais, mas não ultrapassa a tolerância dos tecidos normais. Proteção radiológica: unidades de radiação A Proteção Radiológica pode ser definida como um conjunto de medidas que visam proteger o homem e o ecossistema de possíveis efeitos indesejáveis cau- sados pelas radiações ionizantes. Para isso, são analisados os diferentes tipos de fontes de radiação, as diferentes radiações e modos de interação com a matéria viva ou inerte, as possíveis consequências e sequelas à saúde e riscos associados. Para avaliar quantitativa e qualitativamente tais possíveis efeitos, necessita definir as grandezas radiológicas, suas unidades, os instrumentos de medição e detalhar os diversos procedimentos do uso das radiações ioni- zantes. O estabelecimento de normas regulatórias, os limites permissíveis e um plano de proteção radiológica para as instalações que executam práticas com radiação ionizante têm por objetivo garantir o seu uso correto e seguro. Procedimentos para situações de emergência também devem ser definidos para o caso do desvio da normalidade de funcionamento de uma instalação ou prática radiológica. Efeitos biológicos da radiação Frequentemente ficamos expostos a fontes de radiação como, por exemplo, em radiografias e exames médicos que envolvem radioisótopos. O próprio corpo humano é fonte de radiação, em razão dos radioisótopos naturais do organismo, como o carbono-14. Portanto, o efeito biológico que essas radiações podem trazer ao orga- nismo dos seres vivos depende de muitos fatores. Entre eles, os principais são: o tipo de radiação, a intensidade da fonte radioativa, o tipo de tecido vivo atingido e o tempo de exposição. Analisemos os fatores: � Tipo de radiação: as radiações naturais são três: alfa, beta e gama. Dentre essas, a menos nociva aos seres vivos é a radiação alfa, pois ela tem um baixo poder de penetração, isto é, uma capacidade muito pequena de atravessar os materiais. A própria pele pode reter essas partículas e praticamente não se produz nenhum efeito ao organismo. Entretanto, as radiações beta e gama, em virtude das altas energias que apresentam, podem interagir com as células do organismo. Isso pode fazer com que as moléculas do corpo percam elétrons, formando íons, ou, ainda, podem fazer com que tenham as suas ligações rompidas, originando radicais livres, que são espécies com elétrons desempare- lhados. Esses radicais livres podem degradar as células, causando até reações químicas nocivas que causam uma divisão celular acelerada, que, com o tempo, pode gerar a formação de tumores, anemias e muta- ções genéticas. Exames de raios-X podem, em excesso, causar efeitos biológicos também. � Tipo de tecido vivo atingido: alguns tecidos são mais sensíveis que outros, como os da medula óssea, dos órgãos reprodutores, do tecido linfático, das membranas mucosas intestinais, das gônadas, do cris- talino dos olhos e das células responsáveis pelo desenvolvimento em crianças. Quanto mais jovem for o paciente, maior é o risco de ele so- frer alterações genéticas ao se submeter a exames, como raios-X. É por isso que se aconselha que mulheres em idade fértil somente realizem exames, como radiografias, quando estiverem menstruadas. Do con- trário, é necessário proteger a região que envolve os órgãos sexuais com um avental de chumbo, pois pode haver uma gravidez ainda não conhecida. Mulheres grávidas não devem fazer radiografias na bacia ou no abdome. Além disso, a relação entre dosagem da radiação e efeitos biológicos varia com a espécie de ser vivo. Por exemplo, espécies mais simples, como as bactérias, são mais resistentes que os mamíferos. � Tempo de exposição: esse fator é especialmente importante para pes- soas que trabalham com isótopos radioativos, pois a radiação recebida é cumulativa e os danos eventualmente provocados são irreparáveis. Esses profissionais usam um avental de chumbo e se mantêm afastados do equipamento no momento do disparo. Além disso, eles realizam exames periódicos para verificar se o nível de radiação recebida pode ou não pôr em risco a saúde da pessoa. Pessoas que realizam esses exames somente quando necessário não precisam se preocupar. � Intensidade da fonte radioativa: em casos de acidentes com vazamento em usinas nucleares e de explosões de bombas atômicas, é liberada uma grande quantidade de isótopos radioativos. A maioria desses isótopos possui tempo de meia-vida curto, não causando prejuízos. Porém, os isótopos que possuem uma meia-vida muito longa podem se fixar no solo, na vegetação ou nas águas, permanecendo por anos no ambiente e contaminando os organismos vivos. Efeitos somáticos Os efeitos somáticos classificam-se em imediatos e retardados com base num limite, adotado por convenção, de 60 dias. O mais importante dos efeitos ime- diatos das radiações após exposição do corpo inteiro a doses relativamente elevadas é a Síndrome Aguda de Radiação (SAR). O efeito retardado de maior relevância é a cancerização radioinduzida, que só aparece vários anos após a irradiação. O quadro clínico apresentado por um irradiado em todo o corpo depende da dose de radiação absorvida. A unidade para expressar a dose da radiação absorvida pela matéria é o Gray (Gy), definido como a quantidade de radiação absorvida, correspondente a 1 Joule por quilograma de matéria. Doses muito elevadas, da ordem de centenas de grays, provocam a morte em poucos minutos, possivelmente em decorrência da destruição de macro- moléculas e de estruturas celulares indispensáveis à manutenção de processosvitais. Doses da ordem de 100 Gy produzem falência do sistema nervoso central, que resultam em: desorientação espaço-temporal, perda de coorde- nação motora, distúrbios respiratórios, convulsões, estado de coma e, final- mente, morte, que ocorre algumas horas após a exposição ou, no máximo, um ou dois dias mais tarde. Quando a dose absorvida numa exposição de corpo inteiro é de dezenas de grays, observa-se síndrome gastrointestinal, caracterizada por náuseas, vômito, perda de apetite, diarreia intensa e apatia. Em seguida, surgem desidratação, perda de peso e infecções graves. A morte ocorre poucos dias mais tarde. Doses da ordem de alguns grays acarretam a síndrome hematopoiética, decorrente da inativação das células sanguíneas (hemácias, leucócitos e plaquetas) e, principalmente, dos tecidos responsáveis pela produção dessas células (medula). Para doses inferiores a 10 Gy, as pos- sibilidades de uma assistência médica eficiente são maiores. Saiba Mais Saiba mais sobre os efeitos biológicos da radiação entrando no link abaixo: https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/8044/8044_4.PDF Referência ABCMED, 2013. Radiografia: como é feita? Para que serve? Quais são as vantagens e as desvantagens médicas? Disponível em: <http://www.abc.med.br/p/exames-e-proce- dimentos/ 347409/radiografia-como-e-feita-para-que-serve-quais-sao-as-vantagens- -e-as-desvantagens-medicas.htm>. Acesso em: 2 abr. 2017. BALOGH, Tatiana Santana et al. Proteção à radiação ultravioleta: recursos disponí- veis na atualidade em fotoproteção. An. Bras. Dermatol., Rio de Janeiro , v. 86, n. 4, p. 732-742, Ago. 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex- t&pid=S0365-05962011000400016&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 03 abr. 2017. BUSHONG, S. C. Manual de radiología para técnicos – Física, biología y protección radiológica. Tradução de Diorki Servicios Integrales de Edición. 1. ed. Madri: Mosby/ Doyma Libros, 1993. 710p. Título original: Radiologic Science for Technologists, 5th edi- tion. EISBERG, R.; RESNICK, R. Física Quântica – Átomos, Moléculas, Sólidos, Núcleos e Par- tículas. Tradução de Paulo Costa Ribeiro, Enio Frota da Silveira e Marta Feijó Barroso. 13. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1979. 928 p. Título original: Quantum Physics of Atoms, Molecules, Solids, Nuclei and Particles. GARCIA, José H.R. – Biofísica Fundamentos e Aplicações – São Paulo: Pearson Edu- cation, 2003. HALLIDAY, D.; RESNICK, R; WALKER, J. Fundamentos de Física 4 – Ótica e Física Mo- derna. Tradução de Denise Helena da Silva Sotero, Gerson Bazo Costamilan, Luciano Videira Monteiro e Ronaldo Sérgio de Biasi. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1995. 355p. Título original: Fundamentals of Physics, 4th edition, Extended Version. HENEINE, I.F. – Biofísica Básica – São Paulo: Atheneu, 2002. JUHL, J.H & CRUMMY, A.B – Interpretação Radiológica – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996. OKUNO, E; CALDAS, I.L; CHOW, C.- Física para Ciências Biológicas e Biomédicas – São Paulo: Harbra, 1996. RAMALHO JÚNIOR, Francisco; GILBERTO FERRARO, Nicolau e SOARES, Paulo Antônio de Toledo. Os Fundamentos da Física - 8ª ed. rev. e ampl. - São Paulo: Moderna, 2003. FIOCRUZ. Radiação. Disponível em: <http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/lab_ virtual/radia cao.html> Acesso em: 28 de mar. 2017. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA DERMATOLÓGICA. Radiação UV. Disponível em: <https://www.sbcd.org.br/pagina/1715> Acesso em: 28 de mar. 2017. Leituras recomendadas DICA DO PROFESSOR Confira na Dica do Professor algumas dicas importantes sobre radiações, e sua interferência no planeta e nos seres vivos. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Com relação aos conceitos básicos sobre radiações, podemos afirmar que: A) A radiação pode ser corpuscular ou ionizante. B) A radiação é a proliferação de energia que se origina nos ajustes que ocorrem no núcleo atômico ou nas camadas eletrônicas. C) Como exemplo de radiação eletromagnética, podemos citar aquelas que possuem um feixe de partículas elementares como partículas alfa. D) A dualidade onda-partícula constitui uma propriedade fundamental da mecânica quântica e consiste na aptidão das partículas subatômicas de se propagarem em pacotes de energia. E) A Teoria dos Quanta assegura que a radiação eletromagnética é emitida e se propaga continuamente em pequenos pulsos de energia. 2) Sobre a radiação alfa, beta, gama, raios-x e ultravioleta, podemos afirmar que: A) A radiação ultravioleta (UV) é proveniente do sol e pode causar tanto vermelhidão na pele quanto câncer. Ela pode ser UVA, associada à vermelhidão, UVB, associada ao câncer de pele e UVC que não penetra na pele. B) A radiação gama é formada por ondas eletromagnéticas emitidas por núcleos estáveis e não possui carga, nem massa. C) Os raios-X são obtidos a partir da aceleração de elétrons que colidem contra uma placa de chumbo, ou outro material. D) Radiação beta é formada por partículas pesadas com carga elétrica positiva e massa desprezível. E) A radiação alfa é formada por partículas leves que podem ser detidas com facilidade. 3) Entre os usos da radiação para medicina e biologia podemos citar: A) A radioterapia atinge apenas as células neoplásicas. B) A radiologia diagnóstica é a utilização de um radionuclídeo para obtenção de imagens do interior do corpo para detectar principalmente fraturas e tumores. C) A medicina nuclear, assim como a radiologia diagnóstica, pode realizar um diagnóstico por imagem, para isso ela utiliza os raios-x. D) A radiação gama pode ser utilizada para esterilizar materiais, mas não alimentos. E) A radioterapia utiliza feixes de radiação ionizante para destruir células tumorais. 4) Sobre o efeito biológico que as radiações podem trazer ao organismo, podemos afirmar que: A) Dependendo do tipo de radiação, o efeito pode ser mais prejudicial, como, por exemplo, a radiação alfa que é a mais nociva pois tem alto poder de penetração. B) Todos os tecidos vivos reagem da mesma maneira à radiação. C) O tempo de exposição é um fator muito importante, pois quanto maior a exposição às radiações maior o risco de sofrer alguma alteração, porém esta alteração não é cumulativa bastando ficar afastado por um tempo das radiações. D) O efeito biológico das radiações depende de vários fatores como o tipo de radiação, o tipo de tecido atingido, o tempo de exposição e a intensidade da fonte radioativa. E) Os isótopos radioativos podem possuir meia-vida longa ou curta determinando intensidade da fonte radioativa como, por exemplo, isótopos com meia vida curta que se fixam no solo, vegetação e água. 5) Marque a alternativa correta com respeito aos efeitos somáticos da radiação: A) Os efeitos somáticos da radiação podem ser imediatos ou retardados, e dependem da dose de radiação absorvida, que é medida em Gray (Gy). B) Apenas doses inferiores a 1 Gy são passíveis de atendimento médico eficiente. C) Doses da ordem de 100 Gy provocam morte instantânea. D) A radiação atinge apenas o indivíduo irradiado. E) Centenas de Gy provocam morte lenta e desativam os sistemas vitais. NA PRÁTICA Observe na prática, um estudo de como os índices de radiação afetam a nossa saúde. André é formado em ciências biológicas e atua no serviço público municipal, na secretaria de saúde, e soube que houve um grande aumento dos casos de câncer de pele registrados nos três hospitais da região. Então, André decide relatar esses dados em ofício para o seu superior. Em nota, afirmou que, em um ano, os casos de câncer de pele triplicaram e sugeriu a realização de um monitoramento relativo aos níveis de radiação ultravioleta em distintos pontos da cidade. O chefe elogiou o trabalho de André e solicitou a elaboração de um projeto justificando o método e o investimento. André, então, elabora um resumo para apresentação ao departamento de saúde pública, conforme segue: SAIBA + Para ampliar o seu conhecimento a respeitodesse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Hora Zero - O Desastre de Chernobyl Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Apostila educativa Radioatividade Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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