Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AULA 2 POLÍTICAS DE PROTEÇÃO À INFÂNCIA, ADOLESCÊNCIA E JUVENTUDE Prof.ª Neiva Silvana Hack 2 INTRODUÇÃO Caros alunos, vamos dar início a mais uma temática dentro de nossa disciplina de “Políticas de Proteção à Infância, Adolescência e Juventude”. Nesta etapa vamos tratar do Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA. Trata-se de uma das mais importantes legislações no campo da proteção integral às crianças e adolescentes. Nosso objetivo será ampliar nosso conhecimento sobre os principais aspectos que fundamentam esta legislação, bem como reconhecer quais os principais direitos da infância e adolescência que ela assegura. Para isso, vamos abordar as principais características do ECA e seus princípios. Veremos também os cinco direitos fundamentais previstos neste Estatuto e ainda abordaremos aspectos relacionados aos Conselhos Tutelares e Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente e às medidas socioeducativas estabelecidas para aplicação em casos de adolescentes que estejam em situação de conflito com a Lei. O ECA nos permite acesso a um amplo e rico universo de conteúdos na temática da defesa de direitos da criança e do adolescente e na perspectiva da promoção de políticas públicas para sua efetividade. Tenham todos um excelente aproveitamento! (vídeo disponível no material on-line) PROBLEMATIZAÇÃO A equipe técnica de uma escola de ensino fundamental realizou uma reunião com os familiares dos alunos dos primeiros anos. Nesta reunião, a Assistente Social que compõe a equipe propôs uma fala sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente. No início, solicitou que os presentes apontassem suas principais dúvidas. Em resumo, os questionamentos resumiram-se em três pontos: 1. O ECA não deveria tirar dos pais o direito de educar. 2. Por que o ECA protege adolescentes criminosos? 3. Qual o suporte que o governo dá para o ECA sair do papel? 3 Diante dessas questões, qual a forma mais adequada de esclarecer as dúvidas, ao longo da fala da Assistente Social, para cada um dos três pontos? Não precisa responder agora! Vamos voltar ao conteúdo teórico do nosso tema e, ao final, retomaremos a nossa história e apresentaremos as possibilidades de solução para o problema. APRESENTAÇÃO DO ECA O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi aprovado pela Lei Federal 8.069, de 13 de julho de 1990. Esse documento representa um dos maiores (se não o maior) avanços na legislação de proteção às crianças e adolescentes no Brasil. O ECA é reconhecido internacionalmente como uma das mais bem elaboradas e avançadas leis na área (PARANÁ, 2013; DIGIÁCOMO; DIGIÁCOMO, 2013). Algumas características fundamentais fazem do ECA esta legislação de tão grande importância, dentre as quais podemos elencar as seguintes: Universalidade: suas prerrogativas compreendem todas as crianças e adolescentes do Brasil. Segundo o ECA, são crianças aquelas de 0 a 11 anos e adolescentes entre 12 e 18 anos incompletos. Princípios: supera as antigas legislações de cunho controlador e pauta-se nos princípios da Proteção Integral, da Prioridade Absoluta e do Melhor Interesse da Criança. Direitos fundamentais: estabelece cinco direitos fundamentais, de direitos da criança e do adolescente e de dever do Estado em colaboração com as famílias e toda a sociedade. Reconhecimento da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento: reconhece, assim como nas normas internacionais, não somente a igualdade entre crianças, adolescentes e adultos, no que se refere aos direitos, mas também a condição peculiar de pessoa em desenvolvimento até os 18 anos. Dessa forma, crianças e adolescentes devem receber atenção diferenciada e todos os investimentos necessários para crescerem e se desenvolverem com saúde e qualidade de vida. Enfrentamento às violências contra crianças e adolescentes: o ECA chama a atenção para as diferentes práticas de violência contra crianças e 4 adolescentes na cultura brasileira, tais como a negligência, as violências físicas e psicológicas, o abuso e a exploração sexual, a exploração do trabalho infantil, entre outros. E não apenas destaca sua ilegalidade como aponta as penalidades aplicáveis aos agressores. Estabelecimento de medidas protetivas: estão dispostas no ECA, as medidas adequadas a cada situação em que se identifique o risco pessoal e social de crianças e adolescentes ou situações de violação de direitos. Importante diferenciar que a adoção de medidas protetivas tem como pressuposto promover a proteção integral, e não culpabilizar ou mesmo revitimizar crianças que já tiveram negados e violados seus direitos fundamentais. Assista ao vídeo a seguir, que tratará da importância do ECA, bem como abordará as concepções populares que atribuem equivocadamente a esta Lei um papel de desmonte da autoridade familiar e educacional. (Vídeo disponível no material on-line) Evidentemente, a leitura fundamental neste tema é do próprio Estatuto da Criança e do Adolescente, na íntegra. Segue o link. Boa leitura! <www2.camara.leg.br/responsabilidade-social/acessibilidade/legislacao- pdf/estatuto-da-crianca-e-do-adolescente> PRINCÍPIOS DO ECA Pelo valor que representa enquanto legislação, o ECA é alvo de estudos frequentes do campo jurídico. Tais estudos diferenciam-se na caracterização e classificação dos principais princípios que sustentam esta Lei. Destacamos para esta unidade três princípios que estão presentes de forma quase unânime nos estudos sobre o tema: a proteção integral; a prioridade absoluta e o melhor interesse da criança. Proteção integral: quando tratamos, anteriormente, da Doutrina da Proteção Integral, nos aproximamos deste princípio. A proteção integral à criança e ao adolescente compreende um conjunto de ações interligadas, de diferentes setores, tais como a saúde, a educação, a habitação, a segurança pública, a assistência social, entre outros, com um foco único no 5 desenvolvimento saudável, digno e com qualidade de vida de crianças e adolescentes. É voltado para todas as crianças e adolescentes e para as crianças e adolescentes como um todo! São responsáveis pela efetivação da proteção integral o Estado, as famílias e a sociedade. Prioridade absoluta: este princípio prevê que todos os atendimentos ao público, principalmente aqueles realizados pelo poder público, deem atenção prioritária e preferencial às crianças e adolescentes. Isso materializa-se em atendimentos com menor ou nenhum tempo de espera, com destaque para os casos de emergência. A prioridade absoluta cabe também nas ações que referem-se ao planejamento de políticas públicas e na tomada de decisões sobre o orçamento, sendo que em ambos deve-se ter um olhar prioritário à infância e adolescência. Melhor interesse da criança/adolescente: esta premissa deve ser considerada sempre que as autoridades sobre a criança tenham que tomar decisões graves sobre seu futuro, tais como situações de acolhimento, destituição do poder familiar, encaminhamento para família substituta, determinação de medida protetiva ou socioeducativa, dentre outras. Nesses casos, não deve ser tomada a decisão mais simples, de mais fácil encaminhamento pelo estado ou mais confortável para terceiros. Deve-se, sempre, decidir pelo melhor interesse da criança ou do adolescente. Destaque-se que, respeitadas as condições de expressão de sua opinião e de participação segundo a sua idade e maturidade, nem sempre a decisão pelo melhor interesse da criança/adolescente corresponde à sua própria vontade. DIREITOS FUNDAMENTAIS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE O ECA estabelece cinco direitos fundamentais para as crianças e adolescentes: 1. Direito à Vida e à Saúde. 2. Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade. 3. Direito à Convivência Familiar e Comunitária. 4. Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer.5. Direito à Profissionalização e à Proteção no Trabalho. 6 Veremos a seguir, detalhadamente, cada um desses direitos. DIREITO À VIDA E À SAÚDE Art. 7º A criança e o adolescente têm direito à proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. O direito à vida e à saúde compreende a atenção integral em saúde à criança, desde o acompanhamento pré-natal, ao longo de todo seu crescimento, durante a adolescência, até chegar à idade adulta. Fazem parte dessa atenção medidas como o acompanhamento das gestantes; incentivo ao aleitamento materno; acompanhamento do crescimento, especialmente no primeiro ano de vida; vacinação; atendimento odontológico; ações de educação em saúde e atendimentos específicos relacionados à adolescência, tais como a prevenção de Doenças Sexualmente Transmissíveis e da gravidez indesejada. A cobertura em saúde deverá ser prestada de forma gratuita pelo Estado, sendo que no Brasil sua operacionalização se dá por meio do Sistema Único de Saúde, o SUS. O SUS deve ofertar, com prioridade absoluta, atendimentos no campo da prevenção, promoção e recuperação em saúde para crianças e adolescentes, compreendendo assistência médica, diagnóstica e de medicamentos, sempre que necessário. Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis. Ao tratar do direito à liberdade, o ECA pretende assegurar às crianças e adolescentes as oportunidades de ir e vir; de manifestar sua opinião; de vivenciar crenças e práticas religiosas; de participar da vida social, sem discriminação; de buscar auxílio e orientação. E ainda, um dos direitos bastante específico: o direito de brincar! 7 O brincar não deve ser uma prática privilegiada, mas é entendido como direito e ainda compreendido como essencial ao desenvolvimento da criança. Quando o ECA aborda os direitos ao respeito e à liberdade, defende que nenhuma criança deve ser exposta a situações humilhantes, vexatórias ou afins, bem como deve ter preservada sua integridade física, psíquica e moral. Neste ponto fica estabelecido o posicionamento legal contrário a todo e qualquer tipo de violência contra crianças e adolescentes. Destaque-se ainda que, no seu artigo 18-A, o ECA dispõe que crianças e adolescentes têm o direito de serem cuidadas e educadas sem o uso de violência. Embora muitas vezes a violência seja culturalmente aceita como estratégia de disciplina, imposição de limites e de educação, tais afirmativas são contestadas pela Lei. Importante: O ECA não impede que pais eduquem seus filhos. Pelo contrário, exige isso. O que fica impedido é o uso da violência como estratégia de educação! Para aprofundar essa discussão, assista ao vídeo da professora, que trata do enfrentamento às violências contra crianças e adolescentes. Confira! (Vídeo disponível no material on-line) Também pode contribuir com seus estudos a leitura do material disponibilizado pelo Ministério da Saúde, chamado “Linha de Cuidado para a Atenção Integral à Saúde de Crianças, Adolescentes e suas Famílias em Situação de Violência”, que você pode acessar através do link a seguir. <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/linha_cuidado_criancas_familias_vio lencias.pdf> Dentre as violências comumente praticadas contra crianças e adolescentes no Brasil, infelizmente constam ainda muitos casos de abuso e exploração sexual. Diante disso, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA) propôs o Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes. Para conhecer melhor essa proposta, acesse o documento na íntegra no link a seguir: 8 <www.sdh.gov.br/assuntos/bibliotecavirtual/criancas-e-adolescentes/pub licacoes-2013/pdfs/plano-nacional-de-enfrentamento-da-violencia-sexual-contra -crianca-e-adolescentes> Desde o ano 2000, adotou-se o dia 18 de maio como o “Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes”. A data foi escolhida para memorar o caso da menina Araceli, de 8 anos, que no dia 18 de maio de 1973 foi sequestrada, violentada e assassinada. Contudo, embora conhecidos seus agressores, não houve responsabilização, sustentando-se mais um caso de impunidade. Saiba mais sobre as Campanhas do dia 18 de Maio nos links a seguir. <www.acolhida.org.br/18-de-maio-dia-nacional-de-combate-a-exploracao -sexual-de-criancas/> <http://facabonitocampanha.blogspot.com.br/p/o-slogan-faca-bonito-pro teja-nossas.html> Dica: Não é correto, de acordo com os pressupostos do ECA, utilizar a expressão “prostituição infantil”. Deve-se adotar a terminologia “exploração sexual contra crianças e adolescentes”. Direito à Convivência Familiar e Comunitária Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes. Embora pareça um direito bastante natural, o direito à convivência familiar e comunitária compreende uma das premissas mais transformadoras na condução de políticas públicas voltadas a crianças e adolescentes no Brasil. Conforme vimos quando abordamos o Código de Menores, quando esta era a legislação vigente, a prática mais comum frente às crianças e adolescentes “em situação irregular” era o abrigamento. Dessa forma, ficou estabelecida uma prática em que uma medida que deveria caracterizar proteção à infância e adolescência acabava implicando em um conjunto de outras violações, tais como a segregação social, a privação do convívio com a família, a inibição do direito de ir e vir, a supressão das individualidades, entre outras. 9 Ao prever a defesa do direito à convivência familiar e comunitária, são reestruturadas as medidas de proteção e o acolhimento passa a ser entendido como uma alternativa breve e excepcional. A opção pelo acolhimento deve ser feita quando esgotadas todas as demais possibilidades de proteção da criança, mantendo-a em seu seio familiar e em suas relações de convívio na vizinhança. E quando esta for considerada a melhor medida, deve ser caracterizada por sua brevidade e intenso esforço para o retorno familiar em menor tempo, sempre que possível. Para sustentar essa nova concepção, faz-se necessário investimento em diversos serviços de proteção no próprio território, tais como Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS), Unidades Básicas de Saúde (UBS), Conselhos Tutelares (CT), entre outros. Mais elementos para essa discussão com relação a medidas protetivas e o direito à convivência familiar e comunitária podem ser obtidos ao assistir ao vídeo a seguir. Confira! (Vídeo disponível no material on-line) Para aprofundar o conhecimento no assunto, recomendamos ainda a leitura dos seguintes materiais: Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária: <www.sdh.gov.br/assuntos/criancas-e-adolescentes/pdf/plano-nacional-de- convivencia-familiar-e.pdf/view> Orientações técnicas: serviços de acolhimento para crianças e adolescentes: <http://www.mp.rn.gov.br/portal/files/Reordenamento_implantacao_servicos_acol himento_criancas_adolescentes.pdf> Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho [...] Art. 59. Os municípios, com apoio dosestados e da União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e a juventude. 10 A matrícula e frequência na escola é obrigatória dos 4 aos 17 anos, segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), que regulamenta a educação no Brasil. Segundo o ECA, é direito de todas as crianças, sem exceção, o acesso à educação, bem como é dever dos pais providenciarem suas matrículas e zelarem por sua frequência e, ainda, dever do Estado oportunizar o acesso a escolas públicas, gratuitas, próximas de sua residência, bem como condições para sua permanência na escola. O direito à educação compreende o ensino fundamental (obrigatório), o ensino médio, a educação infantil, bem como o atendimento educacional especializado às crianças com deficiência. As metodologias e estruturas curriculares devem obedecer a diretrizes nacionais, mas considerar a valorização de aspectos regionais dos locais onde vivem as crianças e adolescentes. Cabe ainda a união de esforços dos diferentes entes federados na oportunização de ações no campo da cultura, do esporte e do lazer. Lembrando sempre que todas as crianças têm direitos iguais e devem ter tais acessos assegurados por políticas públicas, bem como deve-se promover uma superação da cultura de que crianças e adolescentes pobres devem trabalhar, enquanto o acesso à cultura, ao esporte e ao lazer são elementos supérfluos limitados. Direito à Profissionalização e à Proteção no Trabalho Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz. Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é regulada por legislação especial, sem prejuízo do disposto nesta Lei. Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação técnico-profissional ministrada segundo as diretrizes e bases da legislação de educação em vigor. Da mesma forma que o ECA se opõe ao trabalho infantil, imprime o direito ao preparo dos adolescentes para adentrar ao mundo do trabalho, por meio da profissionalização adequada, bem como prevê a participação destes como trabalhadores na condição de aprendizes, a partir dos 14 anos. A aprendizagem 11 segue legislações específicas dos campos da Educação e do Trabalho, sempre respeitando as prerrogativas do ECA. Como forma de intervenção frente aos casos de trabalho infantil existentes no Brasil, foi consolidado o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI). E, além das ações contínuas realizadas na área, no dia 12 de junho o Brasil se une na Campanha do Dia Mundial e Nacional contra o Trabalho Infantil. Saiba mais informações nos links a seguir: <www.fnpeti.org.br/12dejunho> <http://www.turminha.mpf.mp.br/direitos-das-criancas/trabalho-infantil/12-de- maio-dia-mundial-contra-o-trabalho-infantil> CONSELHO TUTELAR E CONSELHO DE DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE O ECA trata de dois diferentes tipos de conselhos que devem atuar na proteção integral de crianças e adolescentes: os conselhos tutelares e os conselhos de direitos das crianças e dos adolescentes. Os conselhos tutelares são de âmbito municipal e tem como pressuposto a defesa da implementação e respeito às previsões legais do ECA. Os conselheiros tutelares são eleitos pela comunidade e têm a função de esclarecer sobre os direitos; orientar crianças, adolescentes, familiares e profissionais sobre o ECA; atuar diretamente junto a crianças e adolescentes que tenham seus direitos violados, agindo sempre em consonância com a rede de proteção do município e com as instâncias judiciais competentes na área da infância e adolescência. Os conselhos de defesa de direitos são compostos por representantes governamentais e da sociedade civil, vinculados a ações voltadas à proteção integral das crianças e adolescentes. Existem conselhos de direitos nas três esferas de gestão, ou seja, de abrangência municipal, estadual e nacional. O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente é conhecido também como CONANDA e possui sede em Brasília. Os conselhos de direitos deliberam sobre políticas públicas de atenção à criança e ao adolescente em sua abrangência. Também são os responsáveis pela gestão dos Fundos Municipais, Estaduais e Nacionais para a Infância e Adolescência (FIAs). 12 Ambos devem possuir suficiente articulação para tornar efetiva a garantia de direitos de crianças e adolescentes. ATOS INFRACIONAIS E MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS Outro aspecto de decisiva importância para compreensão do ECA diz respeito às novas normativas a respeito do cometimento de atos infracionais por adolescentes. Quando se trata de adolescente, as práticas em conflito com a Lei não são caracterizadas como crimes, mas como atos infracionais. Os adolescentes que as tenham cometido passam por julgamento em instância específica e, caso confirmado o envolvimento e responsabilidade pelo ato, cumprem medidas socioeducativas definidas pelo juiz, que podem ser em meio aberto ou fechado. As medidas em meio aberto são a Advertência, a Obrigação de Reparar o Dano, a Prestação de Serviços à Comunidade (PSC) e a Liberdade Assistida (LA), que são acompanhadas por profissionais especializados, no CREAS. As medidas de privação de liberdade podem ser de Semiliberdade, com permissão para sair para estudar e trabalhar, e Internação. O diferencial entre uma medida socioeducativa e a prisão atribuída ao adulto encontra-se no compromisso que deve ser estabelecido ao longo do cumprimento de qualquer uma das medidas, de promoção da reinserção dos adolescentes na sociedade, tendo como fundamento o reconhecimento do adolescente como em condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. Portanto, o aspecto dito sancionatório, em que o adolescente precisa responsabilizar-se pelo ato praticado, é somado a um aspecto socioeducativo, que pretende reaver perdas sucessivas de direitos ao longo de sua história de vida e prepará-lo para assumir novos projetos de futuro, evitando a reincidência em práticas contrárias à Lei. Partindo-se do pressuposto de que o adolescente ainda está em desenvolvimento, acredita-se que são grandes as possibilidades de influenciar mudanças, a partir da oferta de novas possibilidades de escolha. Atenção: segundo o ECA, não se usa mais o termo “menor infrator”, sendo adotado a terminologia “adolescente em conflito com a Lei”. 13 Para operacionalizar de forma efetiva os pressupostos do ECA a respeito das medidas socioeducativas, foi estabelecido o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), cuja lei de instituição é a de nº 12.594, aprovada em 18 de janeiro de 2012. Faça a leitura do texto desta lei acessando o link a seguir. <www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12594.htm> 14 REVENDO A PROBLEMATIZAÇÃO Agora que conhecemos mais profundamente o Estatuto da Criança e do Adolescente, vamos retomar o problema apresentado no início de nossos estudos. Diante das questões colocadas pelo grupo de familiares, durante a reunião na escola, qual a forma mais adequada de esclarecer as dúvidas, ao longo da fala da Assistente Social, para cada um dos três pontos? a. Esclarecer que: 1) todas as crianças e adolescentes têm o direito de serem educados sem o uso da violência; 2) todas as crianças e adolescentes estão em fase de desenvolvimento, mesmo aquelas que cometeram atos infracionais e que a estas se aplicam medidas socioeducativas; 3) o Estado deve assegurar os direitos por meio do Sistema de Garantia de Direitos (SGD), com o investimento e a articulação de diferentes políticas públicas de promoção e proteção da infância e adolescência. b. Reforçar que: 1) os pais têm o direito de educar seus filhos como quiserem, porque isso também é seu dever; 2) o ECA nãoprotege adolescentes criminosos, mas protege as crianças e adolescentes que cumprem seus deveres e aplica punições aos adolescentes infratores; 3) cada governo decide quais projetos para as crianças e adolescentes que pretende oferecer, sendo que alguns governos dão mais prioridade à criança e ao adolescente, e outros nem tanto. c. Esclarecer que: 1) segundo o ECA a prioridade é a criança e o adolescente e que a educação é de responsabilidade das escolas; 2) o ECA ainda precisa rever com mais rigor a forma de tratar os adolescentes em conflito com a lei, pois não precisam de proteção, mas de punição; 3) o governo deve oferecer ações nas escolas, que são os principais lugares onde as crianças e adolescentes desenvolvem-se. 15 SÍNTESE Estamos finalizando mais um tema! Neste percurso, pudemos aprofundar nossos conhecimentos sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente. Conhecemos melhor pontos de destaque desta Lei, essenciais à prática cotidiana do Serviço Social na atuação com crianças e adolescentes. Dentro deste tema, foram trabalhados os seguintes subtemas: princípios do ECA; os cinco direitos fundamentais; os conselhos Tutelares e os Conselhos de Defesa de Direitos da Criança e do Adolescente; medidas socioeducativas. Ao longo do desenvolvimento do conteúdo e provocados pela problematização, pudemos refletir e tratar dos mitos que envolvem o conhecimento do ECA e mesmo atrapalham a sua apropriação e defesa pela sociedade. Chegamos ao final de mais esta etapa com um bom acúmulo de conhecimentos e a clareza de que é fundamental aprofundar, cada dia mais, a nossa compreensão sobre o ECA, de forma a qualificar nossas ações enquanto Assistentes Sociais. Até a próxima aula! (Vídeo disponível no material on-line) 16 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. ______. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei Federal 8.069, de 13 de julho de 1990. Ministério da Justiça, Brasília, DF. 1990. ______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília: Casa Civil, 1996. COSTA, A. C. G. da. O novo direito da criança e do adolescente no Brasil: o conteúdo e o processo das mudanças no panorama legal. In: Municipalização: possibilidade ou realidade. Cadernos CBIA, Rio de Janeiro, n. 2, jan./fev. 1992, p. 12. DIGIÁCOMO, M. J.; DIGIÁCOMO, I. A. Estatuto da criança e do adolescente: anotado e interpretado. Curitiba: SEDS, 2013. MARTINS, J. S. (Org.). O massacre dos inocentes: a criança sem infância no Brasil. 2 ed. São Paulo: Editora Hucitec, 1993. PARANÁ. Plano decenal dos direitos da criança e do adolescente do estado do Paraná: 2014-2023. Curitiba: SECS, 2013. PLANO Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária. Brasília, Distrito Federal: 2006. VERONESE, J. R. P. Os direitos da criança e do adolescente. São Paulo: LTr, 1999. p. 11. Introdução Problematização Apresentação do ECA Princípios do ECA Direitos fundamentais da criança e do adolescente Direito à Vida e à Saúde Conselho Tutelar e Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente Atos infracionais e medidas socioeducativas Revendo a problematização Síntese Referências
Compartilhar