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CRIMINOLOGIA: CRIME COMO FATO SOCIAL 2 CRIMINOLOGIA: CRIME COMO FATO SOCIAL 1.1 TERMINOLOGIA A expressão criminologia decorre da derivação de dois termos: do latim crimen (crime/ delito) + o grego logos (tratado/estudo). Portanto, trata do estudo/tratado do crime ou estudo da criminalidade. A expressão criminologia foi inaugurada, ou seja, utilizada pela primeira vez por Paul Topinard (1830-1911), mas difundida no cenário internacional por Raffaele Garofalo (1851-1934). CUIDADO: Na prova, é importante lembrar do nome dos autores. Constantemente, relaciona-se o nome do autor com suas principais ideias teóricas. 1.2 CIÊNCIAS CRIMINAIS (DIREITO PENAL, CRIMINOLOGIA E POLÍTICA CRIMINAL) A criminologia é uma ciência e integra as ciências criminais. Fazem parte das ciências criminais três ramos do saber: o direito penal, a criminologia e a política criminal. Cai muito em prova a diferença entre o direito penal, a criminologia e a política criminal. Vamos fazer um quadro para ilustrar, de forma pormenorizada cada um dos elementos. Direito Penal Criminologia Política Criminal É ciência autônoma. Ciência do dever-ser; Ciência normativa; Ciência axiológica/valorativa; É ciência autônoma. Ciência do ser; Ciência empírica; Ciência naturalística; NÃO É ciência (para a maioria da doutrina). É a ponte eficaz entre a criminologia e o direi- to penal. Para saber o que é crime – análise jurídica. Subsunção (enquadramento) do tipo penal (norma penal incrimina- dora) ao fato da vida. A intervenção estatal tem por imperativo o princípio da legalidade. Olha para a realidade para explicar e compreender o crime/desvio, pretendendo transformá-lo. Reclama do investigador uma análise totalizadora do crime. Estuda as estratégias de pre- venção criminal. Constitui a sistematização de estratégias, táticas e meios de controle social da criminalidade, com o propósito de sugerir e ori- entar reformas na legislação positivada. Ocupa-se do crime enquanto norma (lei). Ocupa-se do crime enquanto fato. Ocupa-se do crime enquanto valor. Método dedutivo. Método jurídico-dogmático. Método dedutivo-sistemático. Método indutivo. Método indutivo-empírico; Método causal-explicativo; Análise interdisciplinar. Ciências políticas. Análise crítica (metajurídica) do direito posto, no senti- do de ajustá-lo aos ideais jurídico-penais. CRIMINOLOGIA: CRIME COMO FATO SOCIAL 3 Cunho operativo. Cunho opinativo. Cunho decisório. Momento normativo ou instrumental; Momento explicativo-empírico; Momento decisional ou programacional; Exemplo: É crime a prática do tráfico de drogas – art. 33 da Lei nº 11.343/06; Exemplo: Quais fatores contribuem para o tráfico de drogas? Razões biológicas? Pobreza? Meio social? Inad- aptação dos meios institucio- nais e necessidade de atingi- mento de metas sociais? Ânsia por lucro a todo custo? Exemplo: Estuda como diminuir o tráfico de drogas – promulgação de leis incrim- inadoras, descriminalização das drogas, políticas públicas (iluminação, instalação de câmeras) ou até mesmo trata- mento de saúde nos usuários de drogas. A Criminologia e o Direito Penal são disciplinas autônomas e interdependentes, e pos- suem o mesmo objetivo, com meios diversos. A Criminologia, na atualidade, erige-se em estudos críticos do próprio Direito Penal, o que evita qualquer ideia de subordinação de uma ciência em cotejo com a outra. A criminologia reclama do investigador – uma análise totalizadora do delito, sem mediações formais ou valorativas que limitem o seu diagnóstico. CAI MUITO EM PROVA: A Criminologia é um fenômeno individual e social. Obs.: PEGADINHAS DE PROVA. A CRIMINOLOGIA NÃO É: ͫ NÃO É CIÊNCIA NORMATIVA; ͫ NÃO É CIÊNCIA LÓGICA; ͫ NÃO É CIÊNCIA ABSTRATA; ͫ NÃO É CIÊNCIA DEDUTIVA; ͫ NÃO É CIÊNCIA EXATA; ͫ NÃO É CIÊNCIA AUXILIAR; ͫ NÃO É TEORÉTICA; ͫ NÃO É CONDICIONANTE E MOLDURA DO DIREITO PENAL; ͫ NÃO É METAFÍSICA. CRIMINOLOGIA – CONCEITO: É uma ciência empírica e interdisciplinar, que se ocupa do estudo do crime, da pessoa do infrator, da vítima e do controle social do comportamento delitivo e que trata de subministrar uma informação válida, contrastada, sob a gênese, dinâmica e variáveis principais do crime – contemplado este como um problema individual e social – assim como os programas de prevenção eficaz desse e as técnicas de intervenção positiva no homem delinquente. (GARCIA PABLOS DE MOLINA E LUIZ FLAVIO GOMES) CRIMINOLOGIA COMO CIÊNCIA É fundamental compreender qual foi o marco científico da criminologia, ou seja: em qual momento histórico começou a se tratar a criminologia como ciência própria. 4 A doutrina majoritária entende que o marco científico se deu com o médico italiano Cesare Lombroso, principalmente com a edição da sua obra: “O homem delinquente”, em 1876, final do século XIX. E por que Lombroso inaugura o saber científico? Porque começa a utilizar de métodos e objetos próprios, separados da ciência do direito penal. Baseando-se nos métodos empírico (ex.: análise laboratorial) e indutivo (partindo de casos específicos para um exame geral). Veremos adiante que Lombroso – pai da criminologia – compõe a etapa positiva da criminologia. Mas cuidado: alguns doutrinadores – de forma minoritária – entendem que a criminologia, como ciência, se desenvolve em um período anterior, com o filósofo Cesare Beccaria, na obra “Dos delitos e das penas” (1764). Veremos adiante que Beccaria compõe a escola clássica da criminologia, etapa pré-científica da criminologia. Essa doutrina é minoritária. 1.4 MÉTODOS DA CRIMINOLOGIA Metodologia é uma análise sistemática dos procedimentos, hipóteses e meios de explicação com o que nos deparamos em uma investigação empírica. A criminologia é uma ciência que se vale de três métodos: empírico, indutivo e interdisciplinar. CRIMINOLOGIA E MÉTODO EMPÍRICO É uma ciência empírica – Desenvolve-se por meio de análise e observação da realidade. Exemplo: Há uma grande incidência do crime de estupro em determinado local. O criminólogo vai até o local verifica fatores sociais, culturais, psicológicos do autor e da vítima para entender o problema. Atenção: método empírico nem sempre será necessariamente experimental. CRIMINOLOGIA E MÉTODO INTERDISCIPLINAR É uma ciência interdisciplinar – diversos ramos do saber vão se dialogar para enfrentar os problemas da criminologia. Utiliza-se da sociologia, biologia, antropologia, medicina, psicologia, estatística e até mesmo a arquitetura. Atenção: A criminologia é interdisciplinar e não multidisciplinar. (na multidisciplinariedade os ramos do saber são autônomos e não se interconectam ou dialogam). Portanto, a interdisciplinaridade apresenta maior grau de influxo (conexão/diálogo) entre as outras ciências e a multidisciplinariedade de menor grau de conexão. OBS.: Falar que a Criminologia utiliza de diversos ramos do saber não significa dizer que ela não tem um conhecimento próprio, pois cria seu conhecimento científico com a contribuição dessas diversas áreas. CRIMINOLOGIA E MÉTODO INDUTIVO A criminologia se vale do método indutivo: Análise de casos particulares – mundo dos fatos – para chegar a uma análise geral. O criminólogo parte de dados (verificáveis no mundo real, por isso, uma ciência do ser, para se chegar a um problema). CRIMINOLOGIA: CRIME COMO FATO SOCIAL 5 O direito penal parte de análise geral (conhecimento/estudo da norma posta) para depois ir ao particular (verificar que, em um fato da vida, um indivíduo praticou uma conduta que se amolda a um tipo legal previsto em norma penal incriminadora, por exemplo), utilizando-se, portanto, do método dedutivo. A criminologia analisa dados e induz as correspondentes conclusões, porém suas hipó- teses se verificam – e se reforçam – sempre por força dos fatos que prevalecem sobre os argumentos puramente subjetivos. Lembrando que o direito penal se utiliza dos métodos jurídico, dedutivo e sistemático. Olha uma questão da banca VUNESPE sobreo tema, considerada correta: a CRIMINOLO- GIA é uma ciência do ser, empírica e experimental, que se utiliza de métodos biológicos e sociológicos. INSTITUIÇÕES SOCIAIS RELACIONADAS COM O CRIME 2 INSTITUIÇÕES SOCIAIS RELACIONADAS COM O CRIME 1. OBJETOS DA CRIMINOLOGIA A Criminologia se vale de quatro objetos: ͫ Crime. ͫ Criminoso. ͫ Vítima. ͫ Controle social. Atenção: Na etapa pré-científica da criminologia (Século XVIII), por intermédio da escola clás- sica, e na etapa científica da criminologia (século XIX e XX), por intermédio da escola positiva, havia a preocupação do estudo apenas do crime e do criminoso. Com o giro sociológico (estudo da sociologia criminal) nos meados do século XX, começou a se estudar também a vítima e controle social. Portanto, os objetos vítima e controle social são relativamente novos, permeiam sua existência pós século XX. CRIME (DELITO) Para a criminologia, crime tem algumas características que nada têm a ver com crime do direito penal (ideia de ciência autônoma). Para o direito penal, sob aspecto analítico, crime é fato típico, ilícito e culpável. Sob o aspecto formal, é a contradição entre o fato e a norma penal incriminadora. No aspecto material, crime é a lesão ou o perigo de lesão bem jurídico protegido. No entanto, para a criminologia, todo o crime deve ter: incidência massiva, incidência aflitiva, persistência espaço-temporal e consciência sobre sua etiologia e tendência para intervenção eficaz. Vejamos cada um desses elementos do crime para a criminologia: ͫ Incidência massiva – o crime deve acontecer frequentemente na sociedade. O exemplo clássico da doutrina (Salomão Shecaira) de crime sem incidência massiva é a con- duta de molestar cetáceo, algo que não ocorre com frequência no País (art. 1° da Lei nº 7.643.87). ͫ Incidência aflitiva – o crime causa dor, medo, temor, repulsa na sociedade. O exemplo clássico da doutrina é a falta de consenso sobre a lesividade do crime de utilização da expressão couro sintético para denominar produtos que não sejam couro, de fato, vindo do animal (Lei nº 4.888/65). ͫ Persistência espaço temporal – a conduta deve distribuir-se por todo o território nacional e ser reiterada, constante, ao longo do tempo. ͫ Inequívoco consenso a respeito de sua etiologia e técnicas para intervenção mais eficazes para seu combate – é a consciência da sociedade que aquele fato deva ser criminalizado. ͫ Consciência geral sobre a sua negatividade O exemplo citado por Shecaira é o uso do álcool. Verifica-se que o uso indiscriminado do álcool possui consequências danosas à sociedade: há uma incidência massiva, aflitiva e persistência espa- ço-temporal. Mas será que hoje em dia alguém defenderia a criminalização do uso ou contrabando INSTITUIÇÕES SOCIAIS RELACIONADAS COM O CRIME 3 de álcool? Portanto a solução do problema do álcool não gira em torno da criminalização para a maioria, de tal forma que não há consenso sobre a técnica de criminalizar ser a mais adequada para combater o seu mal. CRIME (DIREITO PENAL) CRIME (CRIMINOLOGIA) Tem conceitos diferentes nas perspectivas: Conceito formal: Contradição entre o fato e a norma penal incriminadora. Conceito analítico: Crime é fato típico, ilícito e culpável. Conceito material: Crime é lesão ou perigo de lesão a bem jurídico. Crime precisa ter os seguintes elementos: Incidência massiva. Incidência aflitiva. Persistência espaço-temporal. Inequívoco consenso a respeito de sua etiolo- gia e técnicas para intervenção mais eficazes para seu combate ou Consciência geral sobre a sua negatividade. OBS.: Alguns fatos que são penalmente irrelevantes para o direito penal são objetos de preocupação da criminologia. Ex.: suicídio e prostituição. Portanto, o crime tem um objeto muito maior na criminologia do que o direito penal. O crime para as escolas/teorias penais ou escolas/teorias criminológicas apresenta diferentes perspectivas: » Para a escola clássica (etapa pré-científica da criminologia) o crime é um ente jurí- dico – violação de uma norma (norma do direito natural) – expressão de Francesco Carrara. » Para a escola positiva (etapa científica da criminologia) o crime é algo natural. Nessa escola há uma preocupação com o criminoso (ser atrasado biologicamente). Garófalo trouxe o conceito natural de crime: conduta que viola os sentimentos de probidade e piedade da sociedade. » Nas teorias sociológicas, o crime acontece pela desorganização social, perda das raízes, fluxo migratório. Cidades se estruturam de forma desorganizada. » Para a teoria crítica, crime é rotulação. Os detentores do poder para a dominação inventam o crime que buscam indivíduos para serem criminalizados. » Atualmente, não há como verificar uma causa para o crime. Portanto é um fenômeno multifatorial, real e dinâmico. É um problema individual e social. CRIMINOSO/DELINQUENTE A depender da escola criminal, o criminoso apresenta algumas características: ͫ Para a escola clássica, criminoso é um pecador que optou mal. O criminoso para a escola clássica tem livre arbítrio. Optou pelo mal quando podia optar pelo bem. Há um indeter- minismo, não há nenhuma causa que leva o indivíduo a praticar o crime. ͫ Para a escola positiva (etapa científica da criminologia), criminoso é um ser atávico, um ser biologicamente atrasado. Há um determinismo (causa para o crime), ou seja: de razão genética – biológica – para a prática do crime. ͫ Para a escola correcionalista, criminoso é um ser débil, inferior. Portanto, merece proteção do Estado, o qual tem função paternalista e possui funções de proteção e orientação. 4 ͫ Para as escolas sociológicos, há a preocupação inédita com o controle social e com a vítima. O estudo do criminoso é deixado em segundo plano, mas não é esquecido. Cui- dado nas provas. ͫ Para a teoria marxista – teoria crítica – o criminoso é vítima das estruturas econômicas de dominação. ͫ Atualmente, o “criminoso” é examinado como uma unidade biopsicossocial (determi- nantes biológicos, psicológicos e sociais). VÍTIMA É importante verificar inicialmente as etapas históricas em que se desenvolveu o estudo da vítima: ͫ 1° FASE DO PROTAGONISMO/IDADE DE OURO: Surge na antiguidade até a alta idade média. O crime era um problema particular, resolvido pela vítima. Vingança era privada. Lei de talião: olho por olho, dente por dente. Não havia participação do estado. ͫ 2° FASE DA NEUTRALIZAÇÃO/ ESQUECIMENTO: O estado se apropria do conflito, assu- mindo o direito de punir. A vítima é esquecida. O Código de Processo Penal originário, de 1941, só tinha um artigo para a vítima. ͫ 3° FASE DO REDESCOBRIMENTO/FASE DA REVALORIZAÇÃO: O marco histórico é o pós-se- gunda guerra mundial. Depois de 1945. Exemplo: Lei nº 9.099/95 – O instituto da com- posição civil dos danos é exemplo de redescobrimento da vítima. Outro exemplo é a Lei Maria da penha, Lei nº 11.340/06, que traz mecanismos de proteção à vítima de violência doméstica e familiar contra a mulher. A Lei nº 9.807/99 protege vítimas e testemunhas ameaçadas. A criminologia tradicional/positiva desconsiderou o estudo da vítima por considerá-la mero objeto neutro e passivo, tendo polarizado em torno do delinquente as investigações sobre o delito, sua etiologia e prevenção. D) CONTROLE SOCIAL É estudado na sociologia criminal, principalmente na obra “Controle Social”, de Edward A. Ross (1866-1951). O termo designa a capacidade de uma sociedade de se autorregular socialmente. Conceito de Controle Social (Shecaira): É o conjunto de mecanismos e sanções sociais que pretendem submeter o indivíduo aos modelos e às normas comunitárias. A sociedade possui instrumentos, mecanismos e processos por meio dos quais é possível supe- rar os inevitáveis conflitos decorrentes da convivência social, e com isso alcançar o comportamento conforme. O controle é múltiplo, exercido por várias agências. São de duas espécies: INSTITUIÇÕES SOCIAIS RELACIONADAS COM O CRIME 5 Controle socialformal/controle regulativo: Controle social informal: Exercido pelo estado: polícia, ministério públi- co, judiciário, administração penitenciária. Exercido por mecanismos da sociedade não estatais: Família, igreja, escola, vizinhança, conselhos de comunidade, associação de moradores. Atua, via de regra, quando há a falha do con- trole social informal. Existe de forma contínua, a todo momen- to. Decorre do processo de socialização do indivíduo. Atua de forma coercitiva, estabelecendo, por exemplo, sanções criminais, sanções adminis- trativas (multa). As estratégias são premiações, sanções sociais. Tem menor efetividade, se comparado ao con- trole social informal. Tem maior efetividade, pois é contínuo/difuso. O controle social informal acompanha o indivíduo desde sua infância até sua vida adulta e transmite, por meio de um processo de socialização, valores morais e éticos sobre determinadas ações, conduzindo-o a um conformismo. Para cada uma dessas normas sociais há uma sanção: palmada, reprovação, olhar de censura, reclamação. O controle social informal pode constituir excelente barreira à prevenção do com- portamento desviante, seja porque atua, em regra, de modo preventivo, seja porque é capaz de impactar sobre a estruturação do controle interno do indivíduo, daí ser extraordinário o papel que podem desempenhar no controle da criminalidade a família, a escola, a educação, por exemplo. É normal que ocorra um controle social meramente situacional, no sentido de prevenir crimes. Ex.: iluminação pública,. Conforme se perdem os laços comunitários, fica comprometida a naturalidade e as forças das instâncias de controle social informal. Quando as instâncias informais de controle social falham ou são ausentes, entram em ação as agências de controles formais impondo sanções qualitativamente distintas das reprovações do controle informal – atuam, via de regra, de maneira coercitiva. A efetividade do controle social formal é muito menor do que a do informal. A polícia comunitária resulta da articulação entre essas duas esferas. Shecaira traz um alerta que costuma cair em prova: a eficaz prevenção do crime não depende tanto da maior efetividade do controle formal, senão da melhor integração ou sincronização do controle social formal e informal. A efetividade do controle social formal é relativa, a doutrina costuma citar a célebre frase de Jeffery: “Mais leis, mais penas, mais policiais, mais juízes, mais prisões significam mais presos, porém, não necessariamente, menos delitos.” Quando estudarmos a teoria do labelling approach/etiquetamento/rotulação perceberemos uma ênfase crítica no controle social formal, apresentando e carreiras criminais. A EXTENSÃO DA CRIMINALIDADE NO MUNDO E NO BRASIL 2 A EXTENSÃO DA CRIMINALIDADE NO MUNDO E NO BRASIL No contexto das teorias criminológicas, durante algum tempo na escola positiva focou-se a atenção no criminoso, como se o crime fosse um problema tão somente individual, relacionado a questões atávicas. Tais ideias do positivismo criminológico italiano foram recepcionadas no Brasil por João Vieira de Araújo, Viveiros de Castro, Cândido Mota e, principalmente ,Raimundo Nina Rodrigues, o qual, baseado em Lombroso, afirmou que a raça negra no Brasil constitui em fator de inferioridade do povo, na obra Raças Humanas e a responsabilidade penal no Brasil, 1894. Posteriormente, Nelson Hungria se opõe as teses Lombrosianas, deixando claro que o limite do direito penal é a lei e posteriormente adepto a teoria da defesa social afirmando que a recuperação do criminoso era o fim preponderamente da pena. Mas, o que leva uma pessoa a cometer crimes? O crime é um problema individual e social, sendo cometido por causas multifatoriais – pobreza, habitação, cultura, falta de oportunidades, ausência de políticas sociais, dentre outras. Atualmente, estima-se que há aproximadamente mais de 1000 tipos penais no Brasil. No entanto, a população carcerária concentra-se em poucos números de crimes e atingem, sobretudo, a população negra, pobre, jovem e do sexo masculino. Os dados do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias – INFOPEN apontam quase meio milhão de detentos respondendo por crimes contra o patrimônio e o tráfico de drogas. Da totalidade dos presos, todos os detidos do sistema penal em âmbito nacional, 51% mal concluiu os primeiros anos do primário, sendo que apenas 9% concluíram o ensino médio e vivem em condição de desemprego ou subemprego. A teoria da rotulação ou etiquetamento, surge nos anos 60, Século XX, no EUA, marco da teoria do conflito. A questão central do pensamento criminológico é que deixa de se referir ao crime e ao criminoso, passando a voltar sua base de reflexão ao sistema de controle social e suas consequên- cias, bem como ao papel exercido pela vítima na sua relação delituosa. A consideração inicial é que não se pode compreender a criminalidade se não se estuda a ação do sistema penal que a define e rege contra ela, começando pelas normas abstratas até a ação das instâncias oficiais. Há uma inversão do estudo da criminologia: deixa de se pesquisar as causas do crime (etiolo- gia) para focar nos processos de criminalização. Por que o Estado escolhe alguns crimes e algumas pessoas para serem criminalizadas? Nos anos 50, Edwin Lemert traz os conceitos de CRIMINALIZAÇÃO PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA, este último advindo da adoção do estereótipo pelo agente do delito. o DESVIO PRIMÁRIO (cometimento do crime pela primeira vez) é poligenético, advinda de uma grande variedade social, cultural, econômica ou racial. o DESVIO SECUNDÁRIO refere a uma especial classe de pessoas cujos problemas são criados pela reação social a desviação. Uma das consequências do processo de desviação é o agente ser capturado pelo papel des- viante. Este mergulho interativo será chamado pelos teóricos de ROLE ENGULFMENT. a extensão da criminalidade no mundo e no brasil 3 ROLE ENGULFMENT (mergulho no papel desviado): dois pontos de referência: como os outros definem o autor e como ele se define. À medida que o mergulho no papel desviado cresce, há uma tendência para que o autor do delito defina-se como os outros o definem. A personalidade do agente se referenciará no papel desviado ainda que ele se defina como não desviado. CERIMÔNIAS DEGRADANTES: São os processos ritualizados a que se submetem os envolvi- dos com o processo criminal, em que um indivíduo é condenado e despejoado de sua identidade, recebendo uma outra degradada. A pessoa começa a se comportar a partir das expectativas dos gestores da moral. INSTITUIÇÃO TOTAL: Goffman. Simbolizado pela barreira à relação com o mundo externo e proibições de saída. Todos os aspectos da vida do condenado são realizados no mesmo local e sob uma única autoridade. Em segundo lugar, todos os atos da atividade cotidiana são executados diante de um grupo de pessoas razoavelmente grandes, sendo tratadas de uma maneira padrão. Atividades rigorosamente estabelecidas em horário e sequenciadas. As atividades obrigatórias são projetadas para atender os objetivos oficiais da instituição. Gera a mortificação do eu. Processo gradativo de desculturamento. PROFÉCIA AUTOREALIZÁVEL: O estigma molda a pessoa a partir da identidade social virtual. Ex: esse menino vai ser bandido. MODELO EXPLICATIVO DAS CARREIRAS CRIMINAIS Delinquência primária (multifatorial) → Resposta ritualizada e estigmatizante → distância social e redução das oportunidades → surgimento de uma subcultura delinquente com reflexo na autoimagem → estigma decorrente da institucionalização → carreira criminal → Delinquência secundária. A grande dúvida dos teóricos é como que se poderia quebrar a inexorável consequência pro- duzida pela delinquência primária? Há algum elo da cadeia que poderia ser retirado para impedir a delinquência secundária? É impossível eliminar a delinquência primária. A resposta ritualizada pode ser rompido. Garantias protetivas para não divulgação da reação estataljunto aos orgãos de imprensa. Solução pela diversão ou diversificação - constitui uma maneira de desviar os agentes de delito do sistema estigmatizante da justiça criminal, o que projeta a discussão para soluções informais e não institucionais. O terceiro seria eliminar todas as marcas de um processo, como FAC, para que tais pessoas não encontrassem dificuldades no processo de reinserção social. Evitar subcultura com reflexos na autoimagem significa investir em uma terapia social eman- cipadora que atue sobre o ego do acusado. Difícil pelo custo alto. Para acabar com a institucionalização decorrente do recolhimento prisional só com seu fim. A solução é diminuir o encarceramento. Para a diminuição da carreira criminal se faz necessário criar um mecanismo de facilitação da transição entre a prisão fechada e a sociedade aberta, proporcionando, ainda, condições ao egresso para concretização dessa transição por ofertas de emprego, atividades remuneradas etc. O CRIME COMO FENÔMENO DE MASSA: CRIME ORGANIZADO, NARCOTRÁFICO E TERRORISMO 2 O CRIME COMO FENÔMENO DE MASSA: CRIME ORGANIZADO, NARCOTRÁFICO E TERRORISMO Hoje em dia é muito difícil entender o que leva uma pessoa a praticar um crime. Ao longo da história, tentou se examinar diferentes causas para o crime e a criminalidade. Trata-se da etiologia criminal – buscar as causas do crime. Atualmente, o crime é um problema social e comunitário e o “criminoso” é examinado como uma unidade biopsicossocial (determinantes biológicos, psicológicos e sociais). Vários estudos indicam que a população carcerária brasileira é formada essencialmente por jovens negros e pardos, com baixa escolaridade e processados por delitos patrimoniais e relacio- nados ao tráfico de drogas. CRIME ORGANIZADO A Lei 12.850/2013 avança na temática, trazendo um conceito de organização criminosa: Art. 1º Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal a ser aplicado. § 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estru- turalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional. A doutrina cita três espécies de organizações criminosas: Organizações Criminosas Tradicionais - Também são chamadas de clássicas, sendo o principal exemplo as máfias. Estas apresentam estrutura hierárquico-piramidal, possuem rituais de inicia- lização para a investidura de seus membros, impera a omertà (lei do silêncio), são quase sempre baseadas no etnocentrismo, há o controle de dado território por cada família. Também existem as Redes (Network – Rete Criminale – Netzstruktur) – Surge entre os anos 80 do século XX e início do século XXI, decorrente principalmente do fenômeno da globalização. Diferentemente do que ocorre com as máfias, não possui uma hierarquia bem definida, nem rituais, nem uma estrutura permanente. Organizações Criminosas Empresariais - É constituída nos moldes de uma empresa lícita, porém para a prática de atividades ilegais. Ou seja, atividades legais são desenvolvidas por meio de lucros obtidos através de negócios escusos. Organizações criminosas Endógenas - É aquela organização criminosa que atua dentro das próprias instituições públicas, atingindo todas as esferas estatais de poder. É formada principal- mente por funcionários públicos que praticam, portanto, delitos contra a Administração Pública. Para Penteado Filho, existe a criminalidade organizada do tipo mafiosa e a criminalidade orga- nizada do tipo empresarial. O conceito de milícia, segundo a doutrina, pode ser resumido pela confluência de cinco traços centrais: ͫ Domínio territorial e populacional de áreas reduzidas por parte de grupos armados irregulares. O CRIME COMO fENôMENO DE MAssA: CRIME ORGANIZADO, NARCOtRáfICO E tERRORIsMO 3 ͫ Coação, em alguma medida, contra os moradores e os comerciantes. ͫ Motivação de lucro individual como elemento central, para além das justificativas retóri- cas oferecidas. ͫ Discurso de legitimação relativo à libertação do tráfico e à instauração de uma ordem protetora. Diferentemente do tráfico, por exemplo, que se impõe simplesmente pela violência (ver Machado da Silva, 20044 ), as milícias pretendiam se apresentar como uma alternativa positiva. ͫ Participação pública de agentes armados do Estado em posições de comando. NARCOtRáfICO No plano internacional, em meados de 1910, surgem diversos tratados com foco na política de guerra as drogas. A lei 11.343/06 institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências. Lembrando que, nos termos do art. 5°, XLIII da CF: XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; Com relação ao usuário, a Lei começa a encará-lo como problema de saúde pública, extinguin- do-se a pena privativa de liberdade. Art. 28, Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. § 1º Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica. § 2º Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente. Por outro lado, se comparada a antiga lei, houve um incremento significativo na pena privativa de liberdade para o tráfico de drogas – reclusão de 05 a 15 anos. Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: 4 Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. § 1º Nas mesmas penas incorre quem: I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, for- nece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas; II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas; III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administra- ção, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas. IV - vende ou entrega drogas ou matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparaçãode drogas, sem autorização ou em desacordo com a determinação legal ou regu- lamentar, a agente policial disfarçado, quando presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 2º Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga: (Vide ADI nº 4.274) Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-multa. § 3º Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28. § 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos , desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. (Vide Resolução nº 5, de 2012) As estatísticas evidenciam que entre 2005 a 2015, houve um aumento de 447% de encarce- ramento de delitos relacionados ao tráfico de drogas. tERRORIsMO Lembrando que, nos termos do art. 5°, XLIII da CF: XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; A lei 13.260/2016, depois de algum tempo, disciplinou no Brasil os atos de terrorismo, vejamos: Art. 2º O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos neste artigo, por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, O CRIME COMO fENôMENO DE MAssA: CRIME ORGANIZADO, NARCOtRáfICO E tERRORIsMO 5 quando cometidos com a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública. § 1º São atos de terrorismo: I - usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, portar ou trazer consigo explosivos, gases tóxicos, venenos, conteúdos biológicos, químicos, nucleares ou outros meios capazes de causar danos ou promover destruição em massa; II – (VETADO); III - (VETADO); IV - sabotar o funcionamento ou apoderar-se, com violência, grave ameaça a pessoa ou servindo-se de mecanismos cibernéticos, do controle total ou parcial, ainda que de modo temporário, de meio de comunicação ou de transporte, de portos, aeroportos, estações fer- roviárias ou rodoviárias, hospitais, casas de saúde, escolas, estádios esportivos, instalações públicas ou locais onde funcionem serviços públicos essenciais, instalações de geração ou transmissão de energia, instalações militares, instalações de exploração, refino e processa- mento de petróleo e gás e instituições bancárias e sua rede de atendimento; V - atentar contra a vida ou a integridade física de pessoa: Pena - reclusão, de doze a trinta anos, além das sanções correspondentes à ameaça ou à violência. § 2º O disposto neste artigo não se aplica à conduta individual ou coletiva de pessoas em manifestações políticas, movimentos sociais, sindicais, religiosos, de classe ou de categoria profissional, direcionados por propósitos sociais ou reivindicatórios, visando a contestar, criticar, protestar ou apoiar, com o objetivo de defender direitos, garantias e liberdades constitucionais, sem prejuízo da tipificação penal contida em lei. Art. 3º Promover, constituir, integrar ou prestar auxílio, pessoalmente ou por interposta pessoa, a organização terrorista: Pena - reclusão, de cinco a oito anos, e multa. Art. 5º Realizar atos preparatórios de terrorismo com o propósito inequívoco de consumar tal delito: Pena - a correspondente ao delito consumado, diminuída de um quarto até a metade. ESTUDO DO HOMICÍDIO 2 ESTUDO DO HOMICÍDIO Quem é o autor do homicídio? Na maioria dos casos, jovens adultos (de 18 a 30 anos), do sexo masculino e de baixa escola- ridade (até ensino fundamental completo). Quem é a vítima desse crime? Mesmo que o autor - São jovens adultos (de 18 a 30 anos), do sexo masculino e de baixa escolaridade (até ensino fundamental completo). estudo do homicídio 3 Quais são os motivos do crime de homicídio? ͫ Envolvimento com tráfico de drogas; ͫ Consumo álcool/drogas; ͫ Circunstâncias passionais; ͫ Relações interpessoais; ͫ Grupos de extermínio/organizações criminosas. Neste sentido, pode-se dizer que o homicídio não se trata de um fenômeno unívoco. Diferen- tes etiologias caracterizam os homicídios, tais como as mortes passionais, causadas pelo uso de álcool ou drogas, motivados pelo preconceito racial ou sexual, ou o envolvimento com o tráfico de drogas ou com organizações criminosas. As variáveis que compõem os crimes são mais complexas, e a construção de políticas públicas de prevenção deve considerar a multiplicidades de fatores para obter sucesso na redução de mortes Como medida de prevenção, parece ser apropriada a difusão de campanhas veiculadas na televisão e outros meios para prevenção de crimes provocados por motivos fúteis ou de caráter passional. Quanto aos crimes de homicídio motivados por vingança ou violência doméstica, fatos comuns nas cidades de Belém e Guarulhos, respectivamente, sugere-se o acompanhamento mais apurado dos envolvidos em registros de ocorrências de crimes sexuais, ameaça, lesão corporal ou crime contra a honra (ainda que sem a representação da vítima), a fim de evitar retaliações pelo autor do crime que levem à morte da vítima. Em caráter preventivo, é importante verificar se os envolvidos na ocorrência criminal têm acesso a armas de fogo e, em caso positivo, restringi-lo, a exemplo do previsto na Lei Maria da Penha. O alto percentual de crimes praticados com armas de fogo em situações cotidianas (brigas entre vizinhos, violência doméstica etc.) evidencia a necessidade de intensificação de campanhas de desarmamento de armas de fogo e armas brancas. Além disso, o registro de ocorrências de porte ilegal de arma deveria contemplar investigações mais amplas sobre a origem da arma apreendida, de forma a localizar focos de compra e venda de armamento ilegal. Muitos dos inquéritos da cidade de Guarulhos apontaram como motivação para o crime de homicídio o tráfico de drogas, seja por conta de mortes cometidas por pessoas sob efeito de dro- gas, dívidas de usuários com traficantes e conflitos entre traficantes. Como medida preventiva de outros crimes relacionados ao tráfico, é imprescindível criar e fortalecer programas especializados no tratamento e recuperação de dependentes químicos, assim como identificar as principais rotas de tráfico em bairros nos quais as mortes por este motivo sejam mais frequentes. Quanto aos crimes praticados por gangues, relatados por inúmeras testemunhas da cidade de Belém e em menor número em Maceió, sugere-se a intensificação do policiamento preventivo nestas áreas, além da formulação de políticas sociais na região. No âmbito social, sugere-se a criação de espaços comunitários, como o funcionamento de escolas e parques em horários estendidos e nos finais de semana, oferecendo alternativas de lazer CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMINOSOS 2 CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMINOSOS Quando o edital da FGV cobra a classificação dos criminosos, de uma maneira geral, pode rela- cionar qualquer uma das escolas criminológicas, razão pela qual é necessário o seu estudo. Vejamos. ESCOLA CLÁSSICA DA CRIMINOLOGIA – ETAPA PRÉ-CIENTÍFI- CA DA CRIMINOLOGIA RESUMO ͫ Período: Século XVIII ao XIX. ͫ Contexto Histórico: Iluminismo – busca pela limitação do poder e humanização das penas. ͫ Principais autores: CBF Carrara, Beccaria e Feubercah + Romagnosi. ͫ Bases filosóficas: Jusnaturalismo, contrato social, utilitarismo (ideia de livre arbítrio), limitação do poder e humanização das penas. ͫ Métododedutivo, de lógica abstrata. Partia-se da norma (direito positivo) para o concreto, ou seja, as questões jurídico-penais. ͫ Principais ideias: O indivíduo é um ser livre e racional e opta por praticar o crime segundo seu livre-arbítrio. Humanização do sistema de justiça criminal. A responsabilidade é moral pelas suas ações, as penas devem ser baseadas na necessidade e utilidade. A pena é retribuição. ͫ Pontos positivos da teoria: Luta contra limitação do poder. ͫ Pontos negativos da teoria: Não cria uma teoria criminológica. É só um aporte crítico ao direito penal da época. B) PERÍODO ILUMINISTA E CONTEXTO HISTÓRICO Nesse período do séc. XVIII, as normas penais eram caóticas. Havia, inclusive, com a concep- ção teocêntrica do tempo, uma associação entre delito e pecado. Os procedimentos judiciais eram inseguros e havia a chamada tortura judicial. O sistema era pouco humano e racional. C) BASES FILOSÓFICAS O jusnaturalismo é uma corrente do pensamento no direito em que reconhece direitos natu- rais. Tais direitos são inerentes ao ser humano e independem de positivação (previsão legal). Como exemplo: o direito à vida. São anteriores ao estado, superiores, universais e irrenunciáveis. Por contrato social, em síntese, o cidadão transfere parcela da autonomia para o Estado que vai organizar a sociedade por meio de um contrato. O homem era livre (LIVRE ARBÍTRIO) e racional, capaz de refletir, tomar decisões e atuar em consequência. Em suas decisões, basicamente, realiza um cálculo racional de vantagens e inconve- nientes que pode proporcionar sua ação, e atua ou não, caso prevaleça umas ou outras. (TEORIA ULITIRARISTA). CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMINOSOS 3 D) PRINCIPAIS IDEIAS DA ESCOLA CLÁSSICA A escola liberal clássica não considerava o delinquente como um ser diferente dos outros. CUIDADO: Essa característica vai ser essencial para diferenciar a escola clássica da escola positiva. O homem era livre (LIVRE ARBÍTRIO) e racional, capaz de refletir, tomar decisões e atuar em consequência. Em suas decisões, basicamente, realiza um cálculo racional de vantagens e inconve- nientes que pode proporcionar sua ação, e atua ou não, caso prevaleça umas ou outras (utilitarismo na ação). A pena tem caráter retributivo – retribuir o mal causado do crime pelo mal da pena. E) PRINCIPAIS AUTORES DA ESCOLA CLÁSSICA Chamada de época dos pioneiros. Os principais autores são: Jeremy Bentham, na Inglaterra, Anselm Von Feuerbach, na Alemanha, Beccaria, Filangieri, Carrara e Romagnosi, na Itália. Na sua prova costumam cair três autores específicos. Vamos gravá-los com o mnemônico: CBF. Carrara, Beccaria e Feuerbach. O clássico é CBF. CESARE BECCARIA/CESARE BONESANA/MARQUÊS DE BONESANA (1738- 1794) – PRINCIPAL AUTOR DA ESCOLA CLÁSSICA Beccaria tinha formação econômica e participava de reuniões de intelectuais que acontecia em torno dos irmãos VERRI, na cidade de Bolonha, na Itália. Obra mais importante: Dos delitos e das penas (1764): É uma síntese de toda uma filosofia política do Iluminismo europeu e, especialmente, o francês. O livro tinha por finalidade promover a reforma do desastroso sistema de direito penal e da administração da justiça de sua época. Foi, portanto, um manifesto (reunião de ideias) contra a indeterminação e a crueldade das leis, crítica à tortura e corrupção e os princípios para reformar o direito penal. Não foi criada teoria criminológica sobre o delito, mas uma tentativa de humanizar o sistema penal. A base da justiça humana é a utilidade comum. A ideia de utilidade comum emerge da neces- sidade de manter unidos os interesses particulares, superando a colisão e oposição entre eles, o que caracteriza o hipotético estado de natureza. Ideias principais do autor: ͫ Fundamentação filosófica: Limitação ou humanização do direito de punir. Busca a racion- alização das penas. ͫ O crime é uma quebra do pacto social. ͫ As penas devem ser proporcionais. ͫ Prevenção dos crimes é mais útil que a repressão. ͫ A pena deve ser prevista em lei Princípio da legalidade. ͫ Não admite a tortura como técnica de busca da confissão e da verdade real. ͫ Admite a pena de morte tão somente para casos excepcionais, em momentos de insta- bilidade política ou quando for o único meio para dissuasão. 4 OBS.: A exclusão da pena de morte é contrastada na ideia de contrato social. É impensável que os indivíduos, espontaneamente, coloquem em depósito público não só uma parte da própria liberdade, mas sua própria existência. ͫ Juiz obediente à lei, negação da justiça de gabinete próprio do sistema inquisitório e da tortura. ͫ Acusação deve ser pública e não secreta. ͫ Necessidade de funcionamento de uma justiça livre de corrupção. ͫ As leis e sanções devem ser conhecidas pelo maior número de pessoas. ͫ As sanções devem ser certas, rápidas e severas. ͫ O temor das leis pelo homem é saudável. ͫ O mais seguro meio de prevenir os delitos é aperfeiçoar a educação. ͫ Dano social e defesa social constituem elementos fundamentais, da teoria do delito e da pena, respectivamente. FRANCESCO CARRARA – AUTOR DA ESCOLA CLÁSSICA A principal obra é o Programa do Curso de Direito Criminal, 1859. Delito é um ente jurídico pela violação da norma. Essa norma é universal e será ela que dará lugar à criação da lei penal, tarefa do Estado que deve ser regida por uma razão absoluta para não ir mais do que a defesa dos direitos naturais. Delito é um ente jurídico, não é um ente de fato, ou seja, o delito é uma violação de uma lei/ norma. Sua essência nada mais é do que uma relação contraditória entre o fato do homem e a lei. Por isso é uma infração. “É infração da Lei do Estado, promulgada para proteger a segurança dos cidadãos, resultante de um ato externo de poder, positivo ou negativo, moralmente imputável e politicamente danoso.” Para Carrara, o fim da pena é a eliminação do perigo social. A vingança, correção, reeducação podem ser acessórios, mas nunca razão ou medida do castigo. O fim último da pena é o bem social. GIANDOMENICO ROMAGNOSI O princípio essencial do direito natural é a conservação da espécie humana e a obtenção da máxima utilidade. Desse princípio, derivam três relações ético-jurídicas: ͫ o direito e dever de cada um de conservar a própria existência; ͫ o dever recíproco dos homens de não atentar contra sua própria existência; ͫ o direito de cada um de não ser ofendido por outro. O fim da pena é a defesa social, a conservação da sociedade. A pena constitui em relação ao impulso criminoso um contraestimulo. “Se depois do primeiro delito existisse uma certeza moral de que não ocorreria nenhum outro, a sociedade não teria direito algum de puni-lo.” FEUERBACH (1775-1833) Representante tanto do liberalismo penal contratualista e da defesa social. Segundo o autor, não apenas existem direitos prévios ao contrato social e que subsistem a ele e que são inalienáveis da condição humana, mas também é possível saber quais são esses direitos mediante a razão. CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMINOSOS 5 O Estado só se justifica se não se danifica e, além disso, protege os indivíduos também do desrespeito a seus direitos, produzidos por outros indivíduos. A pena é justificada como uma coação psicológica – as pessoas desistem de cometer delitos pelo temor de serem castigados no futuro. 2. ESCOLA POSITIVA DA CRIMINOLOGIA RESUMO ͫ Etapa científica da criminologia. ͫ LFG – Lombroso (fase bioantropológica), Ferri (fase sociológica) e Garófalo (fase jurídica ou psicológica). ͫ Método empírico e indutivo. ͫ Século XIX. Ênfase nas ciências naturais, positivismo, darwinismo, medicina, biologia, antropologia, frenologia. ͫ Ênfase no criminoso como sujeito portador de uma anomalia. ͫ Criminoso nato tem deformidades biológicas que se diferenciam dos demais e poderia ser reconhecido por características físicas distintas. ͫ Classificação dos criminosos. ͫ Ferri critica livre arbítrio. Fala em substitutivos penais, trinômio do delito: fatores antropológicos,sociais e físicos. ͫ Crime natural de Garófalo que fere sentimentos de piedade e probidade segundo padrões médios que se encontram as raças humanas superiores, temibilidade e pena de morte e deportação. ͫ Pena com caráter preventivo por tempo indeterminado. CESARE LOMBROSO (1836-1909): FASE ANTROPOLÓGICA Médico e antropólogo considerado o fundador da criminologia. Principal obra: O homem delinquente (1876). Alistou-se no exército (os soldados seriam homens normais em contraposição aos delinquentes). Análises empíricas advindas da frenologia, psiquiatria, anatomia, fisiologia. Em 1871, fez uma pesquisa e encontrou uma característica anatômica própria no crânio do famoso criminoso calabrês Vilela referente a hominídeos não desenvolvidos. Fissura occipital média. Conclui: As características do homem primitivo e dos animais inferiores se reproduzem em nosso tempo. O homem criminoso é uma variável da espécie humana. O delinquente era um salto para trás na evolução humana de Darwin. (Origem das espécies – 1859). No manicômio de Pésaro, em 1871, começaram a identificar os criminosos. Havia possibilidade de reconhecimento desses criminosos. O criminoso nato tem as seguintes características: 6 ͫ Características físicas identificáveis: Fronte fugidia, crânio assimétrico, cara larga e chata, grandes maçãs no rosto, lábios finos, canhotismo (na maioria dos casos), barba rala, olhar errante ou duro, tatuagem. ͫ Características anatômicas identificáveis: Particularidades da calota craniana, particu- laridades no desenvolvimento do cérebro, fissura na fosseta occipital média. ͫ Características psíquicas identificáveis: Anagelsia (sensibilidade dolorosa diminuída), crueldade, aversão ao trabalho, tendência a superstição, hedonismo (jogo, sexo, álcool), vingança e crueldade. A tipologia dos delinquentes surge na terceira edição do livro: ͫ Criminoso nato. ͫ Louco moral. ͫ Epilético. ͫ Ocasional. ͫ Por paixão. Escreveu a mulher delinquente com Ferrero (1895): ideias de inferioridade da mulher, mulher ocupava um lugar inferior na escala evolutiva, não sente pena e tem uma falta de refinamento, típico do homem atávico, mas todos esses defeitos são neutralizados pela piedade, maternidade, necessidade de paixão… mas ao mesmo tempo pela frieza sexual, frigidez, debilidade, infantilismo e inteligência menos desenvolvida. Traça um paralelo entre prostituição e delinquência. Curiosidade do anjo do crime (Charlotte Cordey). Topinard e Lombroso descreveram o crânio desse famoso criminoso com características diferentes. Anos mais tarde, descobriu-se que o crânio não pertencia a charlotte. Três teses centrais de Lombroso: ͫ Criminoso possui sinais físicos e psíquicos distintos dos não criminosos. ͫ Criminoso é uma variante da espécie humana – ser atávico (degeneração). ͫ Essa variação pode ser transmitida hereditariamente. Obs.: Lombroso não negava fatores exógenos, apenas afirmava que esses só servem como desencadeadores de fatores clínicos. O mundo circundante era motivo desencadeador de uma predisposição inata, própria do sujeito em referência. Posteriormente, influenciado por Ferri, Lom- broso também acopla em sua teoria um determinismo social. Pontos positivos da teoria de Lombroso: ͫ Rompe com o dualismo metafísico da escola clássica (individuo-estado) por lentes que compreendem o delito como um fenômeno natural e ancorando-se nas ciências que compreendem o homem a partir da lente sensível. ͫ Marca movimento cientifico. Influências da teoria de Lombroso: ͫ Tem influências político-criminais: penas preventivas à proteção da sociedade por meio da prisão perpétua ou pena de morte. ͫ Tem influência política às leis raciais de Mussolini, em 1938, que excluíam os judeus das escolas públicas e o privavam de possuir propriedades. ͫ No Brasil, o autor Nina Rodrigues realiza os experimentos de Lombroso, na Bahia, e dirige a lógica do crime nato ao negro. CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMINOSOS 7 ͫ O pensamento de Lombroso já era preconceituoso e, no Brasil, seu preconceito foi reforçado pelo racismo, por meio do qual a população negra, predominantemente de pessoas pobres, será principalmente vitimada pela visão determinista dessa criminologia positivista, para a qual a descendência, a herança genética ou o ambiente eram determi- nantes para a formação da mente criminosa. ENRICO FERRI – FASE SOCIOLÓGICA Era um socialista de cátedra no começo, mas depois atuou no fascismo italiano de Mussolini. Livre arbítrio era ficção. Foi ele que inventou a terminologia da escola clássica com tom crítico. A pena era necessária para defender o organismo social, contra o estado perigoso de alguns indivíduos. A defesa social é objetivo central da Justiça Criminal. Obra Sociologia criminal, 1892. Princípios do direito criminal, 1928: Sintetizou suas ideias: ͫ Negação do livre arbítrio. ͫ Defesa social é o propósito da justiça criminal. ͫ Três fatores influenciam para o crime (trinômio do delito). ͫ Classificação dos criminosos. ͫ Substitutos penais como meio de defesa indireta: Colônias agrícolas substituindo isola- mento celular durante o dia, ênfase no uso da indenização pecuniária como sanção a favor da vítima e, por fim, o princípio de que o crime deve ser utilizado a favor do delinquente. Há uma compreensão mais alargada da criminalidade – Fatores sociológicos também influen- ciam no criminoso nato. Os substitutivos penais eram bem variáveis, mas entre os quais cabe mencionar a prevenção do alcoolismo, melhora das condições econômicas dos cidadãos, multas e escolas profissionais e de reforma para jovens. Fala em reparação dos danos às vítimas. Trinômio do delito: O crime acontece por três fatores: Fatores antropológicos: A constituição orgânica e psíquica do indivíduo (criminoso nato de Lombroso); Fatores sociais: O meio social influencia no crime, meio social, religião, família; Fatores físicos: O clima, as estações do ano influenciam no crime. Lei de saturação criminal: Em determinadas condições sociais acontecem determinados delitos. O nível de criminalidade está determinado a cada ano pelas diferentes condições do meio físico e social, combinadas com tendência congênitas e impulsos ocasionais dos indivíduos. Também fala em sobressaturação criminal, com analogia na química, ocorrendo um excepcional aumento nas taxas de criminalidade. Ferri também classifica os criminosos: ͫ Nato: São as características atávicas de Lombroso. Maior grau de periculosidade e maior chance de reincidir. ͫ Louco: Atrofia do senso moral. Sua periculosidade e reincidência são variáveis. ͫ Habitual: Tem fisionomia biopsíquica própria. Recai obstinadamente no crime. ͫ Ocasional: É influenciado pelo meio social. Periculosidade menor e mais readaptação. 8 ͫ Passional: Movido pela paixão social. RAFFAELE GAROFALO (1852-1934) – FASE JURÍDICA OU PSICOLÓ- GICA Aristocrata autoritário, chegou a ser procurador do reino e perseguiu socialistas. Obra Criminologia, publicada em Napoles, 1885. A ausência ou inoperância de sentimentos básicos universais está ligada à explicação do crime fator psicológico. Concentrou suas atenções na personalidade do criminoso. Delinquentes naturais são aqueles violadores do delito natural. A periculosidade seria a medida da pena, em que a pena não deveria ser proporcional ao dano, mas a periculosidade do agente. Defendeu pena de morte e de banimento. ͫ Crime natural: O crime é compreendido como uma lesão daquela parte do sentimento moral que consiste nos sentimentos altruístas fundamentais de piedade e probidade, segundo o padrão em que se encontram as raças humanas superiores, cuja medida é necessária para adaptação do indivíduo à sociedade. ͫ O crime está no indivíduo. É uma revelação de sua natureza degenerativa. ͫ Temibilidade: Perversidade constante e ativa do delinquente e quantidade do mal que se pode temer do indivíduo. A perversidade constante e ativa que será a medida de proporcionalidade de aplicaçãoda pena e não o dano causado. A defesa social era a luta contra seus inimigos naturais carecedores dos sentimentos de pie- dade e probidade. Garófalo, recorrendo à metáfora da guerra contra o delito, sustentou a possibilidade de aplica- ção das penas de deportação ou expulsão da comunidade para aqueles que carecessem do sentido de justiça ou o tivessem aviltado. Prevenção especial como fim da pena. Pena de morte é meio idôneo para combater o crime, assim como deportação. Também classificou os criminosos: ͫ Assassinos: são instintivos, egoístas, aproximando-se dos seres selvagens e das crianças. ͫ Enérgicos ou violentos: Possuem senso moral, mas falta compaixão. ͫ Ladrões ou neurastênicos: Têm senso moral, mas não têm honestidade, probidade. CRÍTICAS À ESCOLA POSITIVA ͫ Patologização do fenômeno delituoso. ͫ Subvalorização do entorno social, que era visto como mero fator desencadeante daquilo que já existia na personalidade (apenas desencadearia a criminalidade e não constituiria um fator determinante). ͫ volta suas pesquisas apenas para os indivíduos já encarcerados, ou seja, para os indivíduos já selecionados pelo complexo sistema de filtros sucessivos que é o sistema penal: erro metodológico profundo: a grande falha é a falta de um grupo de controle (grupo de criminosos que não foram presos). ͫ Acaba por legitimar a violência e a seletividade racista do sistema penal. CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMINOSOS 9 2.1 DIFERENÇAS ENTRE A ESCOLA CLÁSSICA E ESCOLA POSI- TIVA Luta de escolas: Foi a denominação dada pela doutrina para relacionar as diferenças teóricas entre as escolas clássica e positiva. OBS.: A diferença decisiva entre as escolas está no método: dedutivo, de lógica abstrata para a escola Clássica e indutivo, de observação dos fatos para a escola Positiva. Para Ferri: Os clássicos só necessitam de papel, caneta e lápis, e o resto sai de um cérebro repleto de leituras de livros. Para os positivistas, a ciência exige que muito tempo seja investido, examinando e avaliando um a um os feitos, reduzindo-os a um denominador comum e extraindo-lhes a ideia nuclear. Escola Clássica Escola positiva Fase pré-científica da criminologia. Fase científica da criminologia. Método dedutivo, lógico e abstrato. Método indutivo/experimental. Crime é um ente jurídico (Carrara). Ênfase no crime como objeto de estudo. O crime é um ente natural. Ênfase no crimi- noso como objeto de estudo. Garófalo cria o conceito de delito natural. O criminoso tem livre arbítrio. Há responsabil- idade moral. Criminoso é influenciado pela sua carga genética hereditária (Lombroso) e também por fatores causais alheios (Ferri e Garófalo). Há responsabilidade social. Busca a limitação do poder e a humanização das penas (Beccaria). Fatores etiológicos – busca a causa da criminalidade. Ideias filosóficas: Jusnaturalismo e contrato social. Ideias interdisciplinares: Darwinismo, antropo- logia, medicina, frenologia, sociologia. Olhar para o fato e para o passado. Olhar para o criminoso e para frente – ideia de periculosidade. A pena deve ter nítido caráter de retribuição pela culpa moral do delinquente (maldade), de modo a prevenir o delito com certeza, rapidez e severidade e a restaurar a ordem externa social. A pena também, por prevenção, é uma me- dida de defesa social. A pena pode se dar por tempo indeterminado – para curar/tratar o criminoso. Autores: CBF – CARRARA, BECCARIA E FEUERBACH. CARMIGNANI, BENTHAM. Autores: LFG – LOMBROSO, FERRI E GAROFALO. GABRIEL TARDE, VON LISZT. CLASSIFICAÇÃO: CONTINUAÇÃO DA CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMINOSOS 2 CLASSIFICAÇÃO: CONTINUAÇÃO DA CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMINOSOS INTRODUÇÃO O que se entende por giro sociológico (Alessandro Baratta): Principalmente no século XX a criminologia tem uma virada teórica, no Estados Unidos. Começa a deixar de lado (mas não há o abandono por completo) o estudo do crime e do cri- minoso para se preocupar com o controle social. Inversão do pêndulo da biologia para sociologia. As teorias sociológicas elevam a sociedade ao patamar de fator criminógeno. A sociologia criminal divide-se no estudo das teorias do consenso e do conflito. Vejamos o quadro: TEORIAS DO CONSENSO TEORIAS DO CONFLITO Tem natureza funcionalista. Tem natureza argumentativa A sociedade se estrutura em um consenso entre os indivíduos, por meio da livre vontade. A sociedade é estruturada na coerção. Há uma relação de dominantes (quem detém o poder) e dominados. Paradigma etiológico: buscar as causas do crime. Busca entender os processos de crimi- nalização. Por que as leis, a polícia (o Esta- do), seleciona algumas pessoas para serem criminalizadas?! A sociedade é autopoiética; capaz de se auto- produzir por critérios, programas e códigos de seu próprio ambiente. A sociedade está constantemente em proces- so de mudança. Exibindo dissenso e o conflito social é ubíquo. Teoria conservadora (de direita). Teoria Progressiva (de esquerda) Escolas de Chicago, Anomia, Subcultura delin- quente, Associação diferencial. MNEMÔNICO: QUEM CASA TEM CONSENSO. Teorias críticas (marxista) Teoria do labelling approach (teoria da rotu- lação social/etiquetamento). TEORIAS DO CONSENSO B.1) ESCOLA DE CHICAGO ͫ Cidade produz a criminalidade. ͫ Robert Park, Ernest W. Burguess, Mackenzie, Clifford Shaw (1896-1957), Henry Mckay. ͫ Início do Séc. XX. Desorganização social, Crescimento urbano desordenado e explosão demográfica que gera enfraquecimento do controle social informal. ͫ Ênfase no controle social e utilização de métodos qualitativos de pesquisa (inquéritos sociais, observação participante, estudos biográficos). ͫ Desorganização social pela mobilidade das grandes cidades, perda das raízes, anonimato, déficit de vínculos resultando em baixo controle social informal que é fator potencializa- dor da criminalidade. CLASSIFICAÇÃO: CONTINUAÇÃO DA CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMINOSOS 3 ͫ Cidade se desenvolve em círculos, de forma radial. Do centro para a periferia. A zona de transição, mais perto dos grandes centros, ocorrem a maior parte dos crimes. ͫ Trouxe programas comunitários e estudo de propostas preventivas para a melhoria da cidade. ͫ A crítica é que sai de um determinismo biológico da escola positiva para um determinismo ecológico. Liga pobreza à criminalidade. B.2) ESCOLA DA ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL ͫ Quebra do paradigma etiológico binário: crime x pobreza. As camadas sociais mais altas também podem delinquir. ͫ Edwin Sutherland – criador da expressão crimes de colarinho branco. ͫ Século XX – queda da bolsa de valores, 1929. Política americana intervencionista no setor econômico. ͫ O crime decorre de aprendizagem, por meio de um processo de comunicação. Quanto maior, mais frequente e intensa a aprendizagem em grupos sociais, maior a possibilidade de cometer crimes. ͫ A conversão do indivíduo em criminoso ocorre quando as definições favoráveis à violação da norma superam as definições desfavoráveis. B.3) TEORIA DA SUBCULTURA DELINQUENTE ͫ Subcultura é entendida como ato de rebeldia contra normas e valores estabelecidos pela classe média. ͫ É uma reação dos jovens mais pobres pela frustração da impossibilidade de se ascender ao status da cultura dominante. ͫ Século XX. ͫ Albert Cohen, dleinquent boys, 1955. ͫ A subcultura revela uma conduta não utilitarista, maldosa, hedonista, negativista, flexível e reforçadora de grupo. B.4) TEORIA DA ANOMIA ͫ Anomia de Durkheim ͫ Anomia é a desintegração das normas sociais de referência que acarreta uma ruptura dos padrões sociais de conduta, produzindo uma situação de pouca coesão social. ͫ A consciência coletiva é o conjunto de crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros da comunidade. ͫ Crime é um fenômeno normal, útil e necessário na coletividade. ͫ A finalidade da pena é manter a coesão social. ͫ Anomia para Robert Merton 4 ͫ Comportamento criminoso é sintoma de dissociação entre as aspirações culturalmente previstas(american dream) e os meios institucionais aptos a alcançar as metas. ͫ Do desajuste ou ajuste entre metas culturais e meios institucionais são criados cinco tipos de adaptação individual: conformismo, ritualismo, inovação, retraimento e rebeldia. ͫ A anomia é caracterizada por uma distribuição seletiva das estruturas sociais que permite que apenas alguns indivíduos possam alcançar as metas culturais. C) TEORIAS SOCIOLÓGICAS DO CONFLITO C.1) TEORIA DO ETIQUETAMENTO/ROTULAÇÃO/LABELLING APPROACH ͫ Não se pode compreender a criminalidade se não se estuda a ação do sistema penal que seleciona pessoas para serem criminalizadas. ͫ Mudança de paradigma: não estuda mais as causas do crime (etiologia criminal), mas os processos de criminalização. ͫ Séc. XX, movimento de contracultura no Eua. ͫ Howard Becker. ͫ A reação estatal produz a delinquência secundária por meio de cerimônias degradantes que vão gerar uma estigmatização do criminoso e um mergulho nesse papel que lhe foi atribuído. C.2) TEORIA CRÍTICA ͫ Origem no livro punição e estrutura social de Georg Rusce e Otto Kirchemeier, 1938. ͫ A prisão é relacionada com o surgimento do capitalismo. ͫ Base marxista. ͫ A solução para o problema do crime depende da eliminação da exploração econômica e da opressão política de classe. ATIVIDADES REPRESSIVAS, PREVENTIVAS E EDUCACIONAIS PARA DIMINUIR OS ÍNDICES DE CRIMINALIDADE 2 ATIVIDADES REPRESSIVAS, PREVENTIVAS E EDUCACIONAIS PARA DIMINUIR OS ÍNDICES DE CRIMINALIDADE FUNÇÕES DA CRIMINOLOGIA A criminologia tem as seguintes funções: ͫ Explicar o crime – etiologia do crime. ͫ Prevenir o crime. ͫ Intervir na pessoa do infrator. ͫ Avaliar as diferentes formas de resposta ao crime. Vejamos cada uma delas: Explicar o crime (etiologia do crime): Análise diagnóstica do problema criminal por saberes interdisciplinares – sociologia, psicologia, arquitetura, medicina, biologia, dentre outras. Atenção: Etiologia (buscar as causas e origem de um certo fenômeno) é diferente de etimologia (origem, significado das palavras). Prevenir/controlar o crime: Reduzir o crime e a criminalidade. Vejamos as etapas de prevenção: primária, secundária e terciária. PREVENÇÃO PRIMÁRIA PREVENÇÃO SECUNDÁRIA PREVENÇÃO TERCIÁRIA Atua nas raízes do problema. Medidas indiretas de prevenção. Atua onde ocorre o crime. Prevenção situacional. Tem um destinatário específi- co: o preso/detento. Destina-se à ressocialização. Atua antes que o crime aconteça. A médio e longo prazo. Atua no momento em que o crime está acontecendo. O crime já ocorreu. Atua no âmbito penitenciário. Destina-se a todos os ci- dadãos, principalmente àqueles que mais precisam de direitos sociais: trabalho, educação, assistência social, moradia. Atuam seletivamente: Onde o crime acontece ou acabou de acontecer. Atuam nas chamadas zonas quentes de criminalidade. Destina-se ao preso, pessoa reclusa, quem sofreu uma sanção pelo Estado. Instrumentaliza-se por políti- cas sociais – art. 6° da Consti- tuição Federal. São exemplos: - Instalação de câmeras de segurança. - Operações policiais. - Iluminação pública. - Políticas legislativas. Instrumentos de ressocialização: Exemplo: trabalho no presídio ou fora dele, liberdade assisti- da (já foi questão de prova). ATIVIDADES REPRESSIVAS, PREVENTIVAS E EDUCACIONAIS PARA DIMINUIR OS ÍNDICES DE CRIMINALIDADE 3 A finalidade é neutralizar as causas do crime e da criminalidade. A finalidade é trazer um efeito dissuasório indireto: desvan- tagens ao cometimento do crime. Ideia de que o “crime não compensa”. A finalidade é evitar a reincidência. Intervir na pessoa do infrator: De acordo com a doutrina, a função de intervir na pessoa do infrator possui três metas. Vejamos: a) Impacto real da pena em quem a cumpre e os seus efeitos. b) Desenhar e avaliar programas de reinserção. Não de forma individualizada, mas de forma funcional. c) Fazer a sociedade perceber que o crime é um problema de todos. Trata o crime como um problema social. Avaliar as diferentes formas de resposta ao crime: Há três modelos de reação ao crime, segundo a doutrina. Atualmente também podemos falar no modelo consensual ou negocial. I. Modelo clássico, dissuasório ou retributivo: Fundamenta-se na punição do criminoso. A pena possui caráter retributivo, existe para reparar o mal causado pelo criminoso. A vítima e a sociedade não participam do conflito. Os protagonistas: estado X réu. O modelo dissuasório clássico reconhece o efeito da intimidação ao crime pela pena, pela perfeita perseguição penal dos órgãos responsáveis e pela eficaz aplicação da lei, o que inibe a atuação desviante do indivíduo. II. Modelo ressocializador: Fundamenta-se na reinserção social do delinquente. O prota- gonista é a sociedade. III. Modelo restaurador, integrador ou de Justiça Restaurativa: Fundamenta-se na reparação do dano à vítima, a qual exerce um papel central. A Lei nº 9.099/95 é um exemplo de Justiça Restaurativa. Protagonista é a vítima. IV. Modelo consensual/negocial: Fundamenta-se na negociação entre Estado e criminoso. Atualmente é aplicada no direito processual penal com o instituto do acordo de não persecução penal (art. 28-A do CPP) ou até mesmo pelo instituto da delação premiada. Olha a questão da VUNESP, considerada correta: Uma das finalidades da Criminologia, no seu atual estágio de desenvolvimento, é questionar a própria existência de alguns tipos de crimes. ATIVIDADES REPRESSIVAS, PREVENTIVAS E EDUCACIONAIS PARA DIMINUIR OS ÍNDICES DE CRIMINALIDADE 2 ATIVIDADES REPRESSIVAS, PREVENTIVAS E EDUCACIONAIS PARA DIMINUIR OS ÍNDICES DE CRIMINALIDADE FATORES SOCIAIS DA CRIMINALIDADE Diante disso, pergunta-se: Por que uma pessoa comete um crime? Quais podem ser os fatores dentro da sociedade que podem influenciar para a sua ocorrência? A doutrina aponta os seguintes elementos: ͫ Sistema econômico: desigualdade social, má distribuição de renda. ͫ Pobreza e miséria: podem gerar sentimento de exclusão social e revolta. ͫ Fome e desnutrição: Inclusive com a ocorrência do denominado furto famélico, aquele cometido em estado de necessidade (art. 24 do Código Penal). ͫ Habitação: Comunidades e favelas onde há a ausência do estado. ͫ Educação: Permite acesso à diversidade cultural e possibilita o acesso ao mercado de trabalho. ͫ Mal vivência: formação de vida ruim, culturalmente inadequeado. PROGRAMAS DE PREVENÇÃO DO DELITO Já foi visto que a criminologia tem as seguintes funções: ͫ Explicar o crime – etiologia do crime; ͫ Prevenir o crime; ͫ Intervir na pessoa do infrator; ͫ Avaliar as diferentes formas de resposta ao crime A doutrina aponta alguns programas eficazes de prevenção, vejamos: ͫ Programas de prevenção espacial ou geográfica: derivado da denominada Escola de Chicago, teoria sociológica do consenso, considerando que o crime pode derivar da des- organização social, espaços urbanos deteriorados e baixo controle social informal. Como forma de prevenção, adota-se políticas públicas relacionadas a melhoria da infraestrutura, reordenação e saneamento urbano. ͫ Programa de remodelação da convivência urbana: Também deriva da escola de chicago e consiste na instalação de barreiras para aumentar o risco ao criminoso e também aumento do controle social informal. Ex: Whatsapp com grupo de rede de vizinhos, alarme, muro alto. ATIVIDADES REPRESSIVAS, PREVENTIVAS E EDUCACIONAIS PARA DIMINUIR OS ÍNDICES DE CRIMINALIDADE 3 ͫ Programas de prevenção vitimaria: Analisar que em determinados contextos, há vítimas em potencial. Exemplo: idosos suscetíveis a serem vítimas de crimes de estelionato, como o golpe do bilhete. A política seria de realizar campanhas de conscientização. ͫ Programas de prevenção da reincidência: Relaciona-se a prevenção terciária. Atuar no sentido de buscar a ressocialização do preso. Ex: remição pelo trabalho (laborterapia). 1.1 - O crime como fato social. 1.2 - Instituiçõessociais relacionadas com o crime 1.3 - A extensão da criminalidade no mundo e no Brasil. 1.4 - O crime como fenômeno de massa 1.5 - O crime como fenômeno isolado 1.6 - Classificação de tipos criminosos: 1.7 - Classificação de tipos criminosos: 1.8 - As atividades repressivas, preventivas e educacionais para diminuir os índices de criminalidade. 1.9 - As atividades repressivas, preventivas e educacionais para diminuir os índices de criminalidade.
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