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O Trabalho de Palhaços em Hospitais

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Riso:
Profissão ou Brincadeira?
A essência do trabalho de palhaços em hospitais
por Mariana León
2005
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Riso: profissão ou brincadeira? A essência do trabalho de
palhaços em hospitais. LEÓN, Mariana. São José dos Campos:
UNIVAP, 2005
Ao grupo Mandacarinho e a todos os beneficiados por
esse maravilhoso trabalho, que infelizmente não foi renovado
para o ano de 2006 e estará a mercê de novos patrocinadores
para dar continuidade a uma nova ponta de esperança dentro
dos hospitais.
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Sumário
Prefácio - O Sorriso........................................................................07
O riso levado a sério.....................................................................09
Significados, uma missão quase impossível!...........................09
Com a palavra, os estudiosos!.................................................12
O que o riso provoca no corpo humano?................................14
Um pouco de história............................................................16
Palhaço, uma fábrica de risos......................................................19
Circo, o começo de tudo.........................................................19
E o palhaço, o que é?...............................................................22
Dos picadeiros para os hospitais............................................26
Grupo Mandacarinho, Jacareí / SP..............................................33
De atores dramáticos a palhaços em hospitais.......................33
Pé na Estrada........................................................................36
Profissão de riso....................................................................38
Dia-a-dia do hospital.............................................................42
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Com vocês, os palhaços!...............................................................47
Diário de bordo.............................................................................53
O paciente.............................................................................53
A família ...............................................................................55
Ambiente de trabalho ............................................................57
O palhaço ................................................................................58
A morte..................................................................................61
A vida......................................................................................63
Álbum de fotos..............................................................................67
Bibliografia....................................................................................71
Prefácio
Um Sorriso
Um sorriso não custa nada, mas dá muito...
Enriquece aqueles que o dão...
Ninguém é tão poderoso que possa viver sem sorrir, e ninguém é tão
pobre que não possa se enriquecer com um sorriso...
Um sorriso acaba com o cansaço, anima o desanimado, ilumina o
abatido, e é naturalmente o melhor antídoto contra problemas...
Um sorriso não pode ser comprado, implorado, pedido ou roubado,
porque só tem valor quando é espontâneo...
Quando alguém estiver muito cansado para lhe dar um sorriso, dê-lhe
um sorriso seu...
Ninguém necessita mais de um sorriso do que aquele que não tem
nenhum para dar...
Um sorriso levanta o espírito!
Um sorriso cria uma energia de luz em torno de você!
Um sorriso mostra a alguém que você sentiu saudades!
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? Um sorriso mostra a alguém que você se importa...
Um sorriso valoriza tudo para aqueles que amam!
Assim sorria e deixe os outros sorrirem com você!!!
Ao sorrirmos, nossa aura se expande, tornando-nos mais atrativos e
receptivos...
Sorri quem está em harmonia com a vida, com as forças do mundo
exterior e interior...
O sorriso é contagioso!
Não espere mais !
Espalhe essa doença e dê a alguém um SORRISO...
Flávio Cesnik,
 bacharel em direito e fundador do SOS Alegria, um grupo de
volutários que atua como palhaço no Pronto Socorro da Vila Industrial,
em São José dos Campos, SP.
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O riso levado a sério
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Significados, uma missão quase impossível!
Falar sobre alegria, felicidade e bom humor é, em principio, uma missão
um tanto complicada. Isso porque estamos falando de sensações,
sentimentos e, conseqüentemente suas reações, o que torna o tema um
tanto subjetivo, visto que cada pessoa pensa de uma maneira, sente de um
jeito, e por aí vai. Mas, quando analisados, esses termos se tornam mais
concretos e fáceis de serem entendidos.
Antes de mais nada é preciso entender o significado de cada palavra.
No impulso, o dicionário aparece como primeira opção. Buscando palavra
por palavra, suas definições são pouco proveitosas e descrevem nada muito
além do que já se sabe.
Riso: ação ou efeito de rir, risada;
Alegria: estado de viva satisfação, de vivo contentamento;
Felicidade: qualidade ou estado de feliz, de consciência plenamente
satisfeita, contentamento, bem-estar
Humor: estado de espírito ou de ânimo; disposição, temperamento
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A maioria das pessoas almeja ser alegre e feliz. E, como pôde ser visto
no dicionário, estas qualidades estão diretamente ligadas à satisfação e
contentamento pela vida. Para o The World Database Of Happiness,
felicidade é o grau com o qual um indivíduo julga a qualidade geral de sua
vida como um todo favorável. Ou seja, aparentemente, pode ser definida
como um estado no qual não temos vontade de mexer em nada, visto que
tudo já está do jeito que queremos.
Para Axt (2005), o termo pode ser claramente exemplificado por uma
cenoura pendurada em uma vara de pescar e amarrada em nosso corpo.
Como tal, às vezes conseguimos morde-la após certo esforço. Mas ela sempre
está lá, nos impulsionando para frente, como um truque para não
estacionarmos no tempo.
Uma coisa é praticamente certa, o humor está estampado em nossas
faces. Seja quando triste ou feliz a maioria se faz notar. Ainda mais nos
dias de hoje, quando todos reclamam de falta de tempo, onde tudo vira
motivo para um pequeno estress no trânsito ou mal humor depois de uma
discussão com o chefe.
O indiano Shree Rajneesh acredita que o senso de humor é um dos
Ou seja, Banco de Dados Mundial sobre Alegria,
que é um registro de pesquisas científicas do
professor Ruut Veenhoven, da Erasmus University
Rotterdam, Holanda. (DEL BIANCO; NEDER, 2004)
Rajneesh, popularmente conhecido como OSHO,
escreveu entre outras obras Vida – Amor – Riso
(1998). Trecho extraído do livro A Essência do
Riso, a arte de viver (CLARET, 1998)
10
próprios fundamentos da inteligência. Para ele, quanto mais senso de
humor a pessoa tiver, mais inteligente ela será. Já Leila Navarro, autora do
livro “Talento para ser feliz”, acredita que quem não ri, não pensa, não cria,
não ousa, não vive.
Isto tem sido levado tão a sério, que impulsionou a criação das
conhecidas “Terapias do riso”, no qual é recomendado rir pelo menos 30
vezes ao dia. O beneficio é tanto para quem doa como para quem recebe. É
como um círculo vicioso, que quanto mais se ri, mas razões aparecem para
continuar sorrindo e fazendo quem está ao redor, sorrir.
Segundo Jayro Motta, o segredo está no fato da terapia funcionar na
moral das pessoas. “Nada mais é do que encarar as coisas e lidar melhor
com seus problemas”.
Preocupadas com isso, muitas empresas procuram por palestras e
consultorias especializadas em animar equipes e trazer o bom humor aos
funcionários. É fazer com que cada um seja capaz de rir de suas próprias
desgraças, sem deixar de lado suas responsabilidades. As pessoas passam
a sentir em suas mãos a capacidade de decidir serem ou não felizes.
Para o comediante Bill Cosby, consideradoum dos mais bem sucedidos
Jayro Motta é professor titular do curso de psicologia da Universidade de Guarulhos e um dos pioneiros
do estudo do riso no Brasil. Conceito extraído do artigo Ah, ah, ah, ah, ah, ah, Eu to rindo à toa, de
Christiane Ferreira.
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comediantes americanos, o humor pode suavizar algumas das maiores
“bofetadas” que a vida nos dá. E, uma vez que o riso aparece, por pior que
seja a situação, ela poderá ser ultrapassada.
Com a palavra, os estudiosos!
O ato de rir provoca inúmeros efeitos no corpo, melhorando o estado
emocional e orgânico de qualquer pessoa. O tema atingiu tamanha dimensão
que instigou inúmeras pesquisas na área. De 1946 a 2000, foram feitos
cerca de 2000 estudos empíricos, em 112 nações diferentes (Del Bianco;
Neder, 2004).
Por se tratar de uma reação que mexe com quase todo o organismo,
cada vez mais especialistas fazem do riso seu principal objeto de estudo. A
psicobióloga Silvia Helena Cardoso, da Unicamp, dedica boa parte de seu
tempo a estudar as faces do riso e sua origem. Sua inquietação gira em
torno de conseguir descobrir se há um fator genético e se o riso é inato e
instintivo. Além do trabalho específico com animais, ela também investiga
características do riso em pessoas cegas. A intenção é investigar se existem
alterações em relação às crianças normais. “Se eles também riem, já é uma
evidência de que é genético.”
Em uma pesquisa feita pelo Centro de Neuroimunologia da Universidade
12
de Loma Linda, na Califórnia, a equipe médica verificou os benefícios gerados
pelo bom humor no tratamento de pacientes com problemas no coração.
Cem homens que já haviam infartado foram divididos em dois grupos e
cada um foi sugestionado a trinta minutos diários de dois tipos diferentes
de filmes, sendo um deles de comédia.
 Durante um ano, foram monitoradas diariamente as pressões arteriais,
taxas de adrenalina e doses de medicamentos. Depois deste período, os
médicos se surpreenderam com os resultados. O grupo sugestionado pelas
sessões de risadas teve menos arritmia, baixou a pressão arterial e os
remédios foram reduzidos. Isso significou que os homens submetidos ao
humor e risos tiveram somente 8% de recorrência de infarto, enquanto o
outro grupo, 42%.
Em uma de suas teorias, Raymond Moody fala da capacidade que o
homem tem de rir como indicador de saúde, tornando-se tão válido quanto
os outros pontos examinados pelos médicos. Na verdade, Dr. Moody não
propõe a troca de papéis, transformando os doutores em humoristas, muito
menos a substituição das técnicas tradicionalmente usadas. Ele
simplesmente sugere que o riso e humor sejam utilizados como
Raymon Moody é um conhecido médico da Geórgia que escreveu, entre outras obras, Laugh after
Laugh: The Healing Power of Humor (Riso após Riso: O poder Curativo do Humor)
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complementos, pois provocar o riso em alguém pode eqüivaler-se a
incrementar diretamente a qualidade de vida.
O clínico geral e homeopata Eduardo Lambert é autor do livro Terapia
do Riso – A cura pela Alegria. Para ele, as pessoas inconscientemente já
conhecem as melhorias geradas pelo riso. “Elas já sabem deste fato, tanto
que dizem que uma pessoa está melhorando, pois já está até rindo”.
Ainda segundo Dr. Lambert, quanto mais intenso o riso melhor. Mesmo
um simples sorriso, uma graça, pensamentos positivos ou boas lembranças
já são fatores importantes para o processo gerado pela risada. Em encontro
a esta idéia, alguns especialistas teorizam que o riso é contagioso. Isso
pode ser facilmente verificado nas produções de cinema e programas de
humor, que fazem usos de gargalhadas falsas para tentar estimular o riso
do telespectador.
O que o riso provoca no corpo humano?
Uma boa gargalhada movimenta 400 músculos em todo o corpo. A
simples expressão de felicidade melhora os sistemas cardiovascular,
respiratório, imunológico, muscular, nervoso central e endócrino, entre
outros. Quando rimos, ativamos a circulação do sangue e a oxigenação
geral do organismo, enviando ao cérebro ordens que produzem substâncias
analgésicas similares à morfina, porém com potência cem vezes maior.
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Após uma única gargalhada, há um processo que se inicia no corpo
todo.
Cérebro: é liberada uma ordem para a produção de
endorfina, com propriedades analgésicas e calmantes;
Coração: o ritmo cardíaco acelera. Aumenta a circulação
do sangue, causando uma sensação de bem estar;
Pulmões: aumenta a absorção de oxigênio. Com maior
ventilação, o excesso de dióxido de carbono e vapores residuais são
eliminados, fazendo uma “fachina” nos pulmões;
Músculos abdominais: os movimentos gerados funcionam
como uma massagem para o sistema gastrointestinal, facilitando a digestão
e o funcionamento do aparelho intestinal.
Sistema imunológico: a produção de células de defesa
aumenta e elas se tornam mais ativas. Há a diminuição do estress, causado
pela alta circulação dos hormônios.
Pernas e pés: os músculos relaxam e a pessoas se curva
de tanto rir. Até os dedos dos pés se agitam.
Fontes: Revista Isto É - 1998 e www.cyberdiet.com.br
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Um pouco de história
Séculos antes de Cristo, os gregos antigos já haviam descoberto que o
humor beneficiava as pessoas. Tanto que, na cidade de Athenas, foi erguido
o Santuário do Deus Asclépio, considerado o primeiro hospital da
humanidade a utilizar nutrição, exercícios físicos, música, arte, filosofia,
teatro, dança e humor em prol da recuperação de pacientes.
A idéia de usar a alegria foi levada tão a sério, que o tratamento incluída
uma casa de comediantes, onde os pacientes passavam por sessões de
piadas, quase sempre regadas à boa música. Os sábios da época acreditavam
que a alegria dilatava e aquecia o coração; a tristeza, porém, provocava
contração e esfriava o corpo. Era a Grécia antiga se rendendo ao bom humor.
Hipócrates, conhecido como o pai da medicina, já fazia uso de animações
e brincadeiras na recuperação de pacientes no século IV A. C. Já no século
XVI, não era estranho ver os médicos receitarem aos seus enfermos que
lessem ou ouvissem histórias engraçadas.
Uma história que ficou bastante conhecida na década de 70 foi a do
americano Norman Cousins. Desacreditado pelos médicos devido a um
câncer que ataca a coluna vertebral, Cousins pediu para morrer em casa,
junto de seus parentes. Ao sentir o estágio da doença avançando, Normam
decidiu assistir a seriados cômicos e fitas de humor para passar o tempo.
Sem perceber, as sessões de gargalhadas e bom humor promoveram
16
uma significativa melhora em seu quadro clínico e, com apenas dez minutos
de boas gargalhadas, ele garantia duas horas de sono sem dor. Com isso,
Norman Cousins conseguiu transformar seu estado quase terminal em
mais 15 anos de sobrevida.
Nestes anos a mais de vida que ganhou, Cousins escreveu, entre outros,
o livro Anatomia de uma doença e teve um artigo publicado em 1976, pela
New England Journal of Medicine. Seu intuito maior ao relatar sua doença
e os resultados que obteve foi tentar corrigir a idéia errônea dos jornais da
época que afirmavam que o riso seria um substituto para o tratamento
médico. Para ele, o tratamento das doenças precisa ser cuidadosamente
elaborado para cada paciente em particular.
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Palhaço, uma fábrica de risos
Circo, o começo de tudo
Respeitável público!!!! Orgulhosamente apresento: o começo de tudo!
A história do circo e do surgimento do palhaço são tão semelhantes,
que chegam a se confundir em alguns momentos. Falar do palhaço sem
sequer pensar no circo é praticamente impossível. Como dizia Antolin Garcia,
“o circo sem palhaços é um homemsem muletas”.
Informações desencontradas e imprecisas tentam revelar como tudo
começou. Entre uma e outra idéia, Antonio Torres (1998, pág.12) encontrou
uma boa versão. “Tudo pode ter começado mesmo com o primeiro homem a
fazer uma brincadeira engraçada, o que hoje chamamos de palhaçada. Não é
à toa que o palhaço é a alma do circo”.
O fato é que o circo, tal como estamos acostumados, com lona, mastros,
trapézio, desfiles, animais exóticos e suas jaulas, sem esquecermos, é claro,
Garcia foi um dos mais célebres empresários circenses do Brasil.
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da pipoca e o algodão doce, não passa de uma forma moderna do
entretenimento de diversos povos e culturas passados. (Castro, apud Torres,
1998, pág. 16)
Tudo indica que o circo começou por volta de 1770, a partir da idéia de
um suboficial e perito cavaleiro, o inglês Philip Astley (1742-1814). Naquela
época, Astley resolveu montar uma exibição de estrutura militar, com muita
ordem e rigidez. Porém percebeu que, para prender a atenção do público,
precisaria mais do que isso. Resolveu então acrescentar alguns números
de variedades, colocando em cena o palhaço do batalhão. Como não sabia
montar, ele entrava no picadeiro montando o cavalo ao contrário, o que
virou um verdadeiro sucesso.
Tal como o próprio circo, a expansão da arte cômica se deve às iniciativas
dos britânicos e franceses do século XVII e XIX. No começo, não se tratavam
de palhaços, tais como vemos hoje. Segundo Bolognesi (2003), até meados
do século XIX, o clown tinha uma participação exclusivamente para parodiar
as próprias atrações circenses. Isso veio a quebrar a monotonia dos
espetáculos eqüestres. Nesta época, os interlúdios cômicos se firmaram.
Inicialmente secundário, aos poucos o palhaço foi se definindo como peça
Termo inglês também utilizado para se referir ao palhaço.
20
importante, passando a ser personagem obrigatória.
A partir daí, em um espaço de 50 anos, o circo conquistou o mundo.
Em meados do século XIX, o Brasil passou a fazer parte do calendário
artístico das grandes companhias européias, tornando-se um espetáculo
assistido até mesmo pelos imperadores.
Por aqui, as atrações não deixaram de ganhar um toque tropicalizado.
O palhaço brasileiro passou a desenvolver características próprias, como
falar muito, diferentemente do europeu, cuja essência era a mímica. A
diversidade de elementos expressivos transparecia nas performances
nacionais, onde o artista era autor e ator de suas cenas.
Alguns nomes fizeram sucesso em nosso país.
Carequinha, criado por George Savalla Gomes, foi o
primeiro artista circense do país a entrar na televisão,
encantando gerações inteiras de crianças.
Para Torres (1998), o “Rei dos palhaços” de São
Paulo foi, sem dúvida, Abelardo Pinto, ou melhor,
Piolin. Apelidado pelos espanhóis, devido à sua
magreza incomparável, Piolin era considerado um
criador incrível.
E, se Piolin era tido como o destaque paulista, o
Brasil já tinha um rei nacional: Benjamim de Oliveira, o palhaço
negro. Um tipo marcante e inesquecível, o “Mestre de Gerações”, como
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 Procópio Ferreira (1898 – 1979) foi um dos mais populares atores brasileiros. É considerado o ator
que popularizou o teatro nos anos 40 e 50.
costumava intitular Procópio Ferreira, fez um sucesso esplendoroso. Porém,
sua emocionante história e anos de alegrias proporcionadas não tiveram
um final tão bom assim. Benjamim morrera aos 84 anos, praticamente na
miséria.
E o palhaço, o que é?
Analisando desde sua origem, a palavra “palhaço” se prende ao radical
italiano paglia (palha) e tem a mesma expressão do material que é usado
para o revestimento de colchões.
Para Maria Augusta Fonseca, autora do livro Palhaço da Burguesia
(1979), isso explicaria a utilização de tal pano para a primitiva roupa deste
cômico: um tecido grosso e listrado que, ainda por cima, era afofado nas
partes mais salientes do corpo, fazendo de quem as vestia, um verdadeiro
“colchão ambulante”, em condições de proteger o corpo das constantes
quedas.
As calças largas escondiam objetos cênicos e os chapéus bicudos
serviam de mastros para jogos de argolas. Estes artifícios, associados às
22
perucas encrespadas e volumosas, ajudavam a caracterizar a roupa do
palhaço, inspirada principalmente no arlequim. Os sapatos também
exageradamente desproporcionais, impõem ao personagem, inclusive, a
necessidade de um andar especial.
Esta desproporcionalidade, segundo Mario Fernando Bolognesi (2003),
denuncia, de um lado, a incompatibilidade e as desmedidas entre
o corpo e a roupa do ator e, de outro, a aberração da
vestimenta como indicador da “imbecilidade” de quem
a usa. Estavam criados alguns dos fatores essenciais
para o ar cômico que faria grande sucesso
posteriormente.
Os franceses foram os responsáveis pelo uso
da maquilagem branca. Esse efeito surgiu com a
simples aplicação de farinha de trigo, que,
posteriormente, passou a ser realmente feito
com uma “invenção” própria, à base de banha de
porco, óxido de zinco e uma tintura de resina, porém que causava
grande irritação.
Arlequim foi um dos personagens do famoso teatro cômico italiano Commedia Dell’Arte, cuja função,
no início, restringia-se a apenas divertir o público durante os intervalos. Sua importância foi
gradativamente afirmando-se, e o seu traje, feito de retalhos multicoloridos geralmente em forma de
losango, davam um destaque ainda maior em cena.
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Mas, não há como negar que a característica principal do palhaço é o
nariz vermelho. Considerado a menor máscara do mundo,
por esconder apenas o nariz da pessoa que o usa, esta
tradição teria surgido na Alemanha, no século XIX. Um
palhaço, ao entrar em cena bêbado, tropeçou e caiu de
rosto no chão, o que deixou ainda mais seu nariz já
avermelhado pela bebedeira. Como todo mundo caiu na
risada, esta cena passou a ser repetida, agora com um
nariz vermelho postiço.
Em cena, os palhaços desenvolvem esquetes,
também chamados de entradas, ou seja, participações
rápidas dentro de um espetáculo. Essas entradas são feitas normalmente
em duplas com perfis distintos, permitindo que um jogo de conflitos se
inicie.
Bolognesi relata bem essa relação de
contrapontos em esquetes deste tipo. Para ele, os
conflitos são explorados, principalmente em
duplas, de forma a se extrair o melhor de seu
potencial cômico.
Essa oposição de tipos de palhaços se
perpetuou por todo o país durante o século XX, com
Foottit e Chocolat. George Foottit (1864-1921) era filho de diretor de circo
P
icolino (R
oger Avanzi), fundador da
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eira escola brasileira de circo:
a Piolin, 1980.
Jogo de opostos travado por
Chicharrão e Pimentão
24
e criou um clown todo enfarinhado. Ao conhecer Raphael Padilla (1868 –
1917), um cubano, encontrou seu oposto cômico, o negro Chocolat.
A dupla explorou um jogo de forças, propiciando a junção de diversos
elementos circenses e clownesco, até então usados separadamente. Com
isso, os clowns viram um novo caminho a se trabalhar, permitindo a
concepção de novos esquetes, o que fez de Foottit um
inovador e criador de entradas originais.
A trilha aberta pela dupla se expandiu de tal forma,
que o trabalho até então feito por dois atores, passou
a ser feito em trios ou mesmo trupes inteiras,
geralmente da mesma família.
Foottit e Chocolat abrem espaço para a
discussão de dois tipos clássicos de palhaços,
sempre citadosno meio artístico: o Branco e o
Augusto.
O primeiro é caracterizado pela boa educação, demonstrada na firmeza
de seus gestos e na elegância de seus trajes e movimentos. Seu rosto é
mantido sob uma maquiagem branca, lábios totalmente vermelhos e
pequenos traços negros, geralmente usados para evidenciar as
sobrancelhas.
Já o Augusto, é o palhaço de nariz avermelhado, que não cobre toda
sua face com maquiagem. Seu principal atributo é a estupidez espontânea
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e o modo desajeitado de ser, às vezes um tanto rude e indelicado,
freqüentemente livre e sem as formalidades dos clowns anteriores.
Segundo relata Fellini (1970), o clown Branco e o Augusto, são como a
professora e o aluno, a mãe e o filho arteiro. São, em suma, duas atitudes
psicológicas do homem, como se fosse um impulso para cima e para baixo,
ao mesmo tempo divididos e separados.
No Brasil, é mais apropriado dizer que o termo palhaço equivale-se ao
tipo Augusto, fruto direto da sociedade industrial e de suas contradições.
A dupla de clowns veio para solidificar as máscaras cômicas da sociedade
de classes, fazendo do Branco a voz de ordem e, do Augusto, o marginal,
que não se encaixa no progresso gerado pela revolução industrial.
Nesta linha, encontramos tipos conhecidos no mundo todo, como o
Chaplin, considerado o principal desta época e um clássico hoje em dia.
Este veio por associar a arte clownesca às lutas políticas, surgindo um
novo tipo de palhaço: o clown-tributo, revolucionário, participante de
marchas populares e militares.
Dos picadeiros para os hospitais
Com o tempo, o circo se tornou cada vez mais popular e passou a ser
requisitado por áreas nunca antes cogitadas. Para Antonio Torres (1998), o
circo adaptou-se aos novos tempos da mass media, tornando-se
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performático. Mas isso, sem esquecer a maioria das atrações de antigamente.
O cinema e a televisão transportam o circo para as salas especializadas
e, mais tarde, para as casas de cada um, não sendo mais necessário esperar
que o circo apareça na cidade. Com um apelo muito mais visual do que
verbal, a atuação dos palhaços ultrapassam as barreiras culturais e a
diversidade de línguas, tornando-se popular não só nas telonas como
também na tv.
 Prova disso aconteceu nos Estados Unidos,
durante a década de 50, fazendo da televisão um
novo palco. O Palhaço Bozo, personagem
televisiva que posteriormente virou febre em
vários países, começou a se tornar famoso
como artista de estúdio da Capitol Record,
em 1949.
Pouco tempo depois, embalada pela tv,
a publicidade descobre que é possível
ganhar dinheiro com o palhaço. Eis que surge, em
1954, Ronald MacDonald, um ícone do mercado de “fast-food”,
atualmente conhecido no mundo inteiro.
No entanto, tamanha expansão não deixa de ser preocupante. Seria
este o fim do circo tradicional, cheio de crianças, comendo algodão-doce e
pipoca?
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 “Para muita gente da minha geração, (...) o circo era parte
da história de nossa infância. Mas o mundo foi rolando e hoje,
tendo tudo em casa – rádio, televisão, vídeo, som, computador –
a meninada já não parece ter por ele o mesmo entusiasmo.
Entretanto, o circo não pode morrer, não morrerá.”
(Gilberto Villar, apud Torres, 1998, contra-capa)
Muitos especialistas e profissionais acreditam que nem tudo está
perdido. Quando questionado sobre tal possibilidade, o palhaço Carequinha
foi categórico ao afirmar que o circo nunca morrerá. “Enquanto existir
criança, o circo estará sempre de pé”.
Omar Eliott, diretora da escola Nacional de Circo também segue o mesmo
discurso. Para ela, a vantagem do circo está no fato dele ser o único segmento
cultural que consegue ir aonde quiser, independente de incentivos,
orçamentos e colaborações. “A arte circense é muito independente e acredita
no que faz. Se uma praça não rende satisfatoriamente, ele sai de lá e vai
embora”. (Elliot, apud Torres, 1998, pág. 47)
E é nesta busca por novos lugares que chegamos a um ponto importante
Gilberto Villar Torres foi diretor da Funarte, Fundação Nacional de Arte.
28
deste livro: os hospitais.
Wellington Nogueira, um dos pioneiros do trabalho de palhaços em
hospitais no Brasil, acredita que essa mudança de espaços não se trata de
acabar com o teatro, e sim, de descobrir novos palcos. Para ele, os hospitais
são só o princípio de uma série de novas possibilidades, somando para
poder dividir, o que faz desta a sina do palhaço: “singrar mares nunca dantes
navegados, para que possamos ver com olhos novos e por eles errar sem
culpa.”
O trabalho de palhaços em hospitais surgiu a partir da luta de ideais
travada por Hunter Adams, durante a década de 70. Imortalizado pela
interpretação de Robin Williams, no filme “Patch Adams, o amor é
contagioso”, Dr. Hunter usou seus métodos nada convencionais, cheios de
surpresas e improvisação, para tentar provar que amor, risadas e
palhaçadas auxiliam no tratamento de doentes, melhorando
significativamente seus quadros clínicos.
Patch, como também conhecido, fundou em 1972 o Instituto
Gesundheit, o primeiro hospital a unir todas as formas de terapias, onde
os médicos se vestem de palhaços e tratam todos os pacientes como
Novos Tempos. Clown News. São Paulo, novembro de 2003, ano VIII, nº36, pág. 03
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membros da família. O instituto, que já atendeu mais de 15 mil pacientes,
é tido como modelo e referência para todo o
mundo. Sua repercussão foi tamanha, que hoje
em dia há uma fila com milhares de profissionais
esperando por uma chance de ajudar a difundir
a filosofia de Adams, a “arte do cuidar”.
Atualmente, o Dr. Adams realiza cerca
de 50 palestra por ano em todo o mundo,
para divulgar seu trabalho e passar a diante
sua idéia, tanto para jovens estudantes de medicina, como
profissionais formados e demais interessados no assunto.
A partir desta iniciativa pioneira, o tratamento médico passou a ser
visto como algo mais humano, voltado para o que as pessoas realmente
são. A luta de Patch Adams também estimulou o surgimento de inúmeros
projetos pelo mundo, voltados para este tipo de abordagem. E no Brasil
não foi diferente.
Depois de passar quase 3 anos integrando o grupo americano Clown
Care Unit, Wellington Nogueira voltou ao Brasil, em 1991, disposto a tentar
P
atch,durante palestra em
São P
aulo(2005)
Criada em 1986, por Michael Christensen, diretor do Big Apple Circus de Nova Iorque, a Clown Care
Unit atua hoje com uma equipe de 50 artistas em 10 dos mais importantes Hospitais de Nova Iorque,
Washington, Boston e Seattle.
30
fazer com que esse tipo de projeto também desse certo em solo nacional.
Era o começo da primeira organização brasileira que se tem notícia a utilizar
a arte do palhaço em ambientes hospitalares: os Doutores da Alegria.
Inicialmente, uma dupla de atores visitava os pacientes no Hospital da
Criança, na capital paulista. Hoje em dia, o grupo atua em 10 hospitais,
divididos entre São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, com uma trupe de cerca
de 40 atores, o que significa cerca de 50 mil visitas por ano.
Este tipo de abordagem aumenta a cada ano que passa. Ainda são
poucos os dados exatos referentes a quantas iniciativas como esta existem
em todo mundo. De acordo com o Centro de Estudo Doutores da Alegria,
existem cerca de 180 organizações voltadas para a interação da figura do
clown em hospitais no Brasil e 136 no exterior. O crescimento desta atividade
foi atribuído, principalmente,à influência dos conceitos e movimento de
humanização em hospitais, valorização da filantropia, participação popular
e do trabalho das ONGs em diferentes âmbitos da Sociedade civil.
Por isso, respeitável público: o espetáculo não pode parar!
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Dados obtidos no Relatório de Atividades Doutores da Alegria 2004 (pág. 10)
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De atores dramáticos a palhaços em hospitais
Se Patch Adams serviu de exemplo para o mundo, os Doutores da
Alegria também deram um empurrãozinho para muita gente por aqui.
 Quando pensaram em participar do festival de teatro de Londrina, em
1997, os atores Andréia Lopez e Feu de Andrade mal podiam imaginar
como aquela viagem mudaria seus caminhos. Um dos pacotes oferecidos
durante a programação do evento era visitar um hospital da cidade para
acompanhar o trabalho desempenhado pelo Plantão Sorriso, grupo
inspirado no trabalho de Wellington Nogueira.
Após presenciar transfusões de milk shake e tratamentos à base de
pílulas da alegria, Feu e Andréia deixaram o hospital apaixonados e
decididos a também realizarem aquela atividade. Estava dado o pontapé
inicial para a criação do primeiro grupo de atores-palhaços que se tem
Grupo Mandacarinho, Jacareí/SP
Este tipo de abordagem é típico de “doutores besteirologistas”, cuja técnica é utilizada pelos Doutores
da Alegria de São Paulo e seus seguidores.
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notícia a atuar na região do Vale do Paraíba: o Mandacarinho, de Jacareí/
SP.
Mas como muitas idéias novas precisam passar por várias fases de
adaptações e dificuldades, levar o trabalho de clowns em hospitais do Vale
não foi tão fácil assim. Cada um tinha sua companhia de teatro e peças em
andamento. Sem falar no fato de que nenhum dos dois tinha experiências
anteriores em atuações clownescas.
Para Andréia, eles se apaixonaram tanto pelo trabalho, que se quer
pensaram em não saírem bem como palhaços. “De cara apostamos nessa
possibilidade. Seria um desafio novo, já que não havia nada deste tipo na
nossa região, sem falar que estaríamos ajudando as pessoas nos hospitais”.
Ao voltarem de Londrina, o primeiro passo foi desenvolver um projeto e
encaminhá-lo para a Lei de Incentivo à Cultura (LIC) de São José dos
Campos, já que em Jacareí a lei não havia sido implantada ainda. Além
disto, a única maneira de viabilizar o trabalho na época seria com patrocínio.
Porém a novidade ainda era muito grande e o projeto não foi aceito. O
motivo alegado? A idéia foi classificada de cunho social e não cultural.
Com isso, o trabalho teve de ser engavetado momentaneamente e cada um
A LIC é uma lei de incentivo fiscal para a realização de projetos culturais, pertencente às secretarias de
cultura das administrações municipais.
34
resolveu tocar seus trabalhos pessoais.
Mas a intenção de realizar este trabalho não ficou esquecida. Em 1998,
a LIC foi implantada em Jacareí e, no ano seguinte, Andréia apostou em
mandar o mesmo projeto, que desta vez não foi negado.
Neste momento a dupla de atores teve e fazer uma escolha: seguir
como atores profissionais, ou ser um palhaço em hospital? O desafio falou
mais alto e ambos optaram pelo clown.
A partir daí, começou o processo seletivo para a escolha de novos
membros. Os inscritos participaram de um treinamento de teatro e
improvisação, através da linguagem do clown, dado por Cristiane Paoli-
Quito, considerada uma das responsáveis pelo início da ebulição do clown
em São Paulo. Após passarem, inclusive, por um teste psicológico, 6 atores
foram escolhidos. Entre eles, Feu e Andréia.
Passada a etapa de preparação, que durou cerca de 1 mês, era chegada
a hora de começar a atividade no verdadeiro local ao qual se destina. No
dia 5 de julho de 1999, o Mandacarinho iniciou sua primeira visita. E o
hospital escolhido foi o Policlin, patrocinador oficial da época.
A experiência, que inicialmente abordaria somente a área pediátrica,
resultou em uma visita a todos os tipos de pacientes. “A enfermeira vinha
nos perguntar que música era aquela, da onde estava vindo. E não teve como,
nos chamavam e quando vimos, já tínhamos passado pelo hospital inteiro”,
disse Lopez, lembrando que foi exatamente naquele momento que eles
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perceberam que o projeto não seria só para crianças, e sim para todos os
tipos de pacientes.
Foi nesta época também que o nome do grupo teve de ser mudado para
poder atender a todos os novos propósitos. Primeiramente com uma
nomenclatura ligada à medicina, Andréia e Feu folhearam o dicionário,
trocaram algumas idéias e assim surgiu o nome que hoje é conhecido em
toda região: Mandacarinho.
Segundo Andréia, o nome reflete bem a intenção da equipe de clowns.
“O mais importante não é o riso da pessoa. Queremos dar atenção, carinho,
ou apenas deixar a pessoa falar”.
Pé na Estrada
Após um ano de abordagem contínua nos hospitais públicos de Jacareí,
o projeto foi cortado por problemas financeiros por parte da prefeitura,
deixando o grupo a ver navios. Sem terem patrocínio para continuar, não
restaram muitas alternativas: ou cada um tocava sua vida e retornavam ao
teatro, ou eles davam um jeito de arrecadar fundos para tentar voltar aos
hospitais.
A segunda foi a melhor alternativa. Com isso, 3 dos 6 atores tiveram de
ser dispensados, porém deixando claro que assim que houvesse condições,
eles seriam chamados de volta. Sendo assim, ficaram Andréia, Feu e
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Guarahna Ramos.
O dilema então virou outro. E agora? O que fazer para não deixar o
projeto morrer? E como bons atores que são, uma nova proposta logo surgiu:
montar uma peça de teatro, utilizando a linguagem do clown.
Dito e feito. Como estavam com tempo disponível, dia após dia eles se
encontravam, deixavam a improvisação rolar solta e, com isso, o roteiro foi
se estruturando. Guarahna foi eleito o diretor, porém os três atuariam na
peça.
Estava montada a peça Pé na Estrada, que conta a história de Godofredo,
um músico picareta que, em suas andanças, encontra Maneco Lambreta,
um fracassado fotógrafo lambe-lambe. Com fome e sem perspectivas, os
dois ficam à espera de uma oportunidade e, eis que de repente, surge
Cacilda, uma motoqueira. A história se desenrola a partir do momento em
que a moto se quebra. Então os três personagens
passam pelas mais inusitadas situações e, de
situações simples, criam as maiores confusões.
Por mais de um ano os atores viajaram
pelo Brasil. Neste tempo, eles receberam
prêmios e fizeram temporadas em locais
renomados, como o Centro Cultural de São
Paulo e em várias unidades do Sesc.
Mesmo longe do Vale do Paraíba, esta não poderia ter M
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sido a melhor opção. Além de continuarem atuando como palhaços, a cada
cidade onde era apresentada a peça, um hospital era visitado, gratuitamente.
Foi uma maneira de divulgar o nome do grupo e também falar sobre o
projeto.
Pé na Estrada fez tanto sucesso, que até hoje é requisitada por escolas,
instituições, entre outros. Além disso, foi um meio de manter vivo o projeto.
Tanto que, assim que foi regulamentada a LIC em Jacareí, no ano de 2001,
a proposta foi encaminhada novamente e aprovada, permitindo que o grupo
voltasse aos hospitais da cidade.
Profissão de riso
Ser palhaço não é uma profissão muito fácil. Na arte do riso, a criação
e a técnica andam juntas e só assim é possível realizar esse trabalho com
muito esforço e verdadeiro comprometimento.
A contradição entre o certo e o errado deste tipo de atividade começa já
em um dos conceitos básicos acerca do palhaço. “A maioria das pessoas
busca a perfeição no que faz,o acerto em tudo. E nós palhaços, vamos na
contramão. Nossos acertos estão justamente em cima dos erros. Não que não
queremos acertar, não é isso. Mas fazemos com que o erro vire um acerto”,
afirmou Guarahna Ramos, diretor e ator do grupo.
A grande sacada está em perder em um momento, reconhecer, levantar
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a cabeça e seguir em frente. Por isso, trabalhar para aceitar uma situação
de falha humana é um dos pontos mais conflitantes. Justamente porque a
essência do palhaço gira em torno da essência do ator que o encara. Uma
maneira mais fácil de visualizar isso é o conceito citado por Guarahna, que
foi um dos temas trabalhado em um encontro de palhaças, que aconteceu
no Rio de Janeiro, ainda em 2005. Segundo ele, o palhaço é o ator elevado
a 5ª potência, ou seja, se você tem uma qualidade ou um defeito, isso
também será ampliado. “No fundo, se as pessoas gostam do meu palhaço, o
Godofredo, elas também gostam de mim, que estou ali, porém ao avesso”.
Como nos picadeiros, o trabalho de palhaços em hospitais também é
feito em duplas, freqüentemente com um homem e uma mulher. Isso se
deve, principalmente, ao fato de que cada um gera
a identificação de um tipo de paciente,
contribuindo para a aceitação do outro
aparentemente rejeitado. Porém, o ponto
principal deste tipo de abordagem é o jogo que
se inicia. Um acaba por se tornar o elemento
provocador do outro, como se fosse um bate-
bola.
É exatamente aí também que entra a figura do
protagonista da cena: o paciente. No jogo, ele é a pessoa quem dita as
regras, que determina o que pode ou não acontecer. Essa posição tem se
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mostrado de grande importância, visto que em um ambiente hospitalar, a
pessoa internada, seja ela criança, adulto ou idoso, pouco tem controle
sobre a situação. Sendo assim, quando a figura do palhaço surge em cena,
ele vira o ditador das regras, mandando e desmandando no casal de atores.
A abordagem nunca é feita em cima do que a pessoa tem, e sim, no que
a pessoa é. Muitas vezes, a sintonia entre os palhaços e o paciente é tão
grande, que o foco da doença é totalmente esquecido. Uma visita ao hospital
pode virar uma excursão ao museu, onde algumas pessoas, imobilizadas
por fraturas, viram peças raras e esculturas de gesso; onde salas de espera
viram sessões de cinema e SPA, e os quartos transformam-se em praias,
hotéis 5 estrelas, entre outros lugares.
“Tem uma história muito engraçado, de um senhor, o
seu. João. Ele vivia reclamando com dor de cabeça, e
acabava sempre atazanando as enfermeira. Aí, no nosso
dia de estréia, na Policlin, a gente chegou e, depois de
um tempo, ele já estava lá, no meio da moçada, dos
palhaços, com um chapéu, um guarda-sol de neném,
tocando e cantando. A enfermeira quando viu,
perguntou: Seu João. E a dor de cabeça? E ele olhou:
Ah, passou. Passou.”
Guarahna Ramos
Seu João com
 cacilda e M
aneco
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No caso de pacientes da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), a abordagem
requer um cuidado redobrado dos atores, porém não menos importante.
Nesses casos, os palhaços não dispensam a visita,
fazendo questão de manter contato, seja pelo toque
ou por uma conversa, mesmo que o paciente esteja
desacordado ou em coma. “Foi uma briga falar que
nós íamos entrar lá. No início eles se questionavam
o porquê de visitarmos pacientes na maioria
inconscientes”, disse Rosalina Oliveira, a
psicóloga do grupo. Segundo ela, há relatos, dos
próprios pacientes, que se recordam de ouvirem o
Mandacarinho passar por eles, quando os tocavam e que, inclusive,
confirmaram que sabiam tudo o que estava acontecendo.
Por trabalhar em uma linha tão tênue, entre a vida e a morte, é que a
atuação de clowns em hospitais requer um mínimo de treinamento. E, por
mais que eles trabalhem em cima da improvisação, o hospital gera um
clima de incertezas e inseguranças.
Imagine a situação: um dia a dupla de atores entra em uma área de
internação, interagindo com uma pessoa que está muito bem. Como o
trabalho é contínuo, duas vezes por semana, é feito o acompanhamento
passo a passo, etapa por etapa da doença. Com o passar do tempo, o paciente
vai para a UTI e, no dia seguinte, ela não está mais lá. E aí, como reagir?
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Essa é uma das situações trabalhadas nas reuniões semanais do grupo,
com apoio da psicóloga Rosalina. Isto contribui, principalmente, para dar
sustentabilidade a cada ator, permitindo com que ele troca idéias com os
demais e fale sobre o que o afligiu. O trabalho psicológico entra como fator
de extrema importância, para ajudar o profissional a lidar com seus
mecanismos internos. “Por detrás daquele nariz de palhaço há uma pessoa
como outra qualquer, e não há uma mágica que o faça esquecer o que
aconteceu”, ressaltou Oliveira.
Este tipo de trabalho também requer um contínuo
treinamento de palhaçaria e improvisação. Por mais que as
abordagens no hospital sejam baseadas no
inusitado, sem qualquer tipo de atuação pré-
esquematizada, encontros semanais
contribuem para o desenvolvimento dos
palhaços, suas características e o
relacionamento com o parceiro de cena,
visto que os atores terão pela frente um palco,
aonde a vida e a morte dividem o mesmo espaço.
Dia-a-dia do hospital
Trabalhar como palhaço em hospital é ainda, segundo Andréia Lopez,
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uma atividade de conquista. Cada dia, uma nova pessoa é abordada, um
novo médico cativado, ou uma família ajudada. No momento em que o ator
encara o palhaço, nada tem peso, a preocupação fica menor e a angústia
se esconde. Esse é um dos fatores que dá maior credibilidade para esse
tipo de iniciativa. É uma ação de responsabilidade, exteriorizada de uma
maneira descontraída e cativante.
Hoje em dia, o hospital não é mais um local intocável. Já foi criada
uma rotina de trabalho, sem que o dia-a-dia dos profissionais da saúde
seja alterado, tanto que a maioria dos médicos e enfermeiros aguarda
ansiosamente a visita do grupo. Muitas vezes, o
contato é tão grande, que muitos médicos pedem
o apoio dos palhaços para realizarem suas
consultas. “Tem um ortopedista que nos chama
e pede que a gente atenda o paciente no lugar
dele. É interessante porque ele entra totalmente
na nossa brincadeira”, lembrou Adriano
Laureano, um dos atores do Mandacarinho.
A coordenadora do grupo, Andréia Lopez, ressalta ainda um
ponto bem interessante desta interação. “Na verdade, o palhaço não foi
criado para a criança e, sim, para o adulto. Ele é quem perdeu a essência que
a criança ainda tem, de fazer as coisas sem receios, de forma descontraída”.
Como o palhaço é o adulto com alma de criança, muitas vezes os atores
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são interpretados como perturbadores da ordem natural do hospital. Isso
leva alguns médicos ou outros profissionais envolvidos a não darem a devida
atenção para a inserção do palhaço neste ambiente. De
acordo com Andréia, hoje eles aceitam mais, mas já
houve muita resistência. Neste caso, a tática é ter
paciência, não provocar nem insistir demais, que uma
hora o entrosamento flui.
Há ainda a contribuição para o lado humano
do ator. Ao serem entrevistados, todos os atores
do grupo Mandacarinho fizeram questão de
mencionar o fato de que este trabalho alterou de alguma
maneira suas percepções em relação ao tratamento do próximo, à aceitação
de falhas e perdas e do quanto a vida é efêmera
e frágil.
O profissional, quando trabalha com a
linguagem do palhaço, mais do que nunca
precisa deixar de ladosua vida pessoal e
crédulos, para poder incorporar seu
clown. Afinal, se o palhaço é o humano
sem máscaras, sem preconceitos e de alma
lavada, ele não poderá fazê-lo preocupado com as contas do
mês, se determinada atitude irá constrangê-lo diante de todos ou se
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alguém o julgará um tolo.
Por isso, para tentar minimizar situações deste tipo,
cada ator cria seu próprio ritual de iniciação do dia de
trabalho. Ações simples como chegar
mais cedo, ouvir uma música ou fazer
um relaxamento auxiliam, e muito,
neste processo de desligamento do
“mundo real”.
Na verdade, ser palhaço no
hospital é isso. É como se o palhaço
estivesse transitando em meio a tanta dor.
E, ainda sim, ele é capaz de imprimir cores em tudo, brincando
com quem passa, sugerindo novas possibilidades e alterando tudo ao seu
redor. “A gente entra no imaginário das pessoas. Temos a alquimia de
transformar os lugares, por isso a maioria das pessoas se encanta muito
com a gente”, reforçou o diretor, Guarahna Ramos.
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Grupo Mandacarinho, se preparando para entrar
em cena
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Com vocês, os palhaços!
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Andréia Lopez – 34 anos,
coordenadora e fundadora do grupo.
Andréia fez magistério e queria ser
professora de educação física. No
ultimo ano do curso, conheceu o
teatro e, desde então, não largou
mais.
Cacilda – um tanto impaciente e
durona, detesta que a faça de boba.
Sempre com o seu jeito feminino de
ser, com um toque masculinizado, é
tida como a comilona oficial do grupo.
Por isso, pacientes: não deixem seus
lanches à vista!
Guarahna Ramos – 40 anos,
diretor. Formado em agropecuária,
pesquisador em botânica e professor
de filosofia, Guarahna trabalhou
inclusive com paisagismo. Porém, a
veia artística falou mais alto e houve
um momento em que foi preciso
optar: escolheu o teatro.
Godofredo – encantador e
romântico, é muito esperto, apesar
de todos o acharem tolo. Músico por
natureza, adora tocar sua flauta para
agradar as pessoas. Sem falar que ele
é super vaidoso. E ai de quem o
chame de Godô. lanches à vista!
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Feu de Andrade – 37 anos, um
dos criadores do grupo. Técnico
mecânico, Feu trabalhou 15 anos em
indústria, porém sem deixar de lado
sua paixão, o teatro. Especialista em
peças dramáticas, descobriu com o
Mandacarinho seu talento cômico.
Maneco Lambreta – preguiçoso
e malandro, é o galanteador da
turma. Com sua viola sempre a mão,
vive fazendo serenatas por onde
passa. Além disto, tem como uma de
suas maiores características
infernizar a vida do parceiro, sempre
colocando-o em uma fria.
Ivani Melo – 27 anos, atriz. Ivani
pertenceu a alguns grupos de teatro
e estudou massoterapia. Após
estudar por curiosidade um pouco da
linguagem do clown, decidiu
participar de uma das triagens, na
qual foi selecionada, em 2003.
Almira – sofre do efeito contrário
de nascimento. Quanto mais o tempo
passa, mais nova ela fica. Sempre
agitada e estressada, fala até pelos
cotovelos. Além disso, adora
contrariar os outros. Não pode ver
uma porta fechada, que logo quer
abrir e descobrir o que há por trás.
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Olívia Prado – 25 anos.
Fonoaudióloga, Olívia tem experiência
em hospitais e com orientação
vocacional para teatro. Mesmo não
conhecendo o grupo anteriormente,
ao saber da oficina de clown, há 4
meses, decidiu participar e, para sua
surpresa, foi selecionada.
Etelvina – meio perua, porém
muito meiga, ela é a mais tímida do
grupo. Entrando na onda musical de
Godofredo, está sempre acompa-
nhada de seu violão e sua cader-neta
de música. Porém não adianta muito
insistir, ela só canta quando quer.
Adriano Laureano – 21 anos,
ator. Além do ensino médio normal,
Adriano fez apenas alguns cursos de
teatro. Ficou sabendo do curso do
Mandacarinho por mero acaso, devido
à insistência de um amigo, resolveu
participar e foi selecionado há 4
meses.
Zacarias – curioso e desengon-
çado como só ele, adora transformar
os objetos do hospital em seus
brinquedos. Adora fazer mágica,
apesar de ter apenas dois números.
Porém ele diz que é só por enquanto!
O jeito é esperar.
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Paola Gonçalves – 22 anos, atriz.
Mesmo sem experiências teatrais, Paola
começou a fazer um dos primeiros cursos
do grupo, porém não conseguiu terminá-
lo. Há 4 meses, teve uma nova chance de
terminar o que havia começado. E, assim
como Olívia, foi uma das selecionadas.
Tereza – curiosíssima, acaba se
empolgando com seus passeios e, quando
vê, já perdeu seu parceiro de vista. Com
um jeito encantador, adora o contato
humano. Alias, possui uma estranha
particularidade: aparenta sempre temer
que as paredes caiam e, por isso, se apóia
em tudo por onde passa.
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Diário de Bordo
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* As histórias foram adaptadas, de acordo com o depoimento do ator. Além disto, todos os nomes foram
trocados para que as pessoas envolvidas fossem preservadas.
O paciente
“Estávamos eu e o Adriano, lá na Santa Casa, quando paramos em
uma porta e pedimos permissão para entrar. Vimos que tinham 2 senhoras
internadas e a filha de uma delas visitando e, na brincadeira de ‘pode
entrar ou não pode’ vimos que uma delas não queria. Como não queríamos
desistir, continuamos na porta, tentando, mas a Joana* estava muito
desconfiada. A todas as nossas perguntas, ela dizia que não podia responder
e, com isso, entramos na onda de que tudo era segredo: ‘ih, segredo, não
vamos falar também!’. E assim foi. A outra senhorinha achava tudo muito
engraçado e, quando vimos, já estávamos dentro do quarto. Na hora gritamos
‘Nossa, estamos dentro!’, mas depois ficou aquele silêncio, que achei que
íamos botar tudo por água abaixo. Aí eu lembrei da mágica que o Zaca
sempre leva, mas nunca faz, e logo o coloquei pra fora do quarto. Conversei
com as 3, dizendo que ele nos faria uma apresentação, mas eu o esculachei
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um pouquinho. ‘Por favor, aplaudam ele, coitado, mesmo que vocês não
gostem, só para o menino ficar contente’.
Ao abrir a porta, eu o apresentei como o Gran Mágico Zacarias e virei
sua assistente. Ele tentou fazer a mágica com a Joana, mas ela ‘não, não,
não’, então ele partiu para outra. Foi uma coisa tão boba, tão simplesinha,
que as três desembestaram a rir. Depois disso, parece que até o quarto
ficou mais claro. Nisso, a gente disse que ia embora e a Joana falou ‘olha,
vou ficar aqui mais uns dias, vocês vão ser muito bem vindos se quiserem
voltar amanhã’.
Depois a gente não encontrou mais ela, nem sabemos bem o que
aconteceu, mas a gente saiu por aquela porta, olhou um pro outro e disse
‘YESSS. Que legal, que beleza’. Foi uma conquista. E a gente tentando uma
aberturinha, não virar as costas e sair. Foi muito bom a gente ter
conseguido.”
Ivani de Melo
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A família
“Tinha uma criança na pediatria, que nos marcou muito, o João. Acho
que quase todos do grupo já o visitou. Infelizmente ele tinha uma doença
degenerativa, que pouco a pouco ele ia indo embora. Mesmo estando sempre
desacordado, a gente não deixava de brincava com ele, o tocávamos, porque
os médicos diziam que ele tinha uma sensibilidade muito grande. E o que
mais me impressionava era a mãe dele. Ela praticamente vivia no hospital.
No fundo, ela acreditava que ele iria melhorar, mesmo desenganada pelos
médicos. Todas as vezes que nos esbarrávamos pelo corredor, ela estava
sempre de bom humor, dizia que ele tinha perguntado pela gente e pedia
para passarmos para ver o João,pois ele gostava muito de bolinha de
sabão e de música. Aquela mulher tinha uma força, uma garra, que confesso
ter ficado muito preocupada com ela. Eu pensava ‘o João não sente dor,
pode até sentir solidão, né? Mas dor ele não sente. Agora a mãe dele, era
muito sofrido’.
Um dia, estávamos em um outro hospital, e a enfermeira, chegou e
veio nos contar que ele havia falecido. Contou com um jeitinho, como se
tivesse contando para um parente. Teve todo um cuidado, porque ela sabia
que a gente o acompanhava há muito tempo. E tinha sido aniversário dele,
uns dias antes, ele fez 3 aninhos, 2 dos quais passou no hospital. Foi ruim
saber que ele morreu, mas ao mesmo tempo foi um alívio saber que aquela
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mãe, que também tinha marido e outros filhos, poderia agora relaxar.”
Olívia Prado
“Eu estava com o Feu, no São Francisco, visitando sempre o Seu
Francisco. Ele ficou muito tempo no hospital, então todas as duplas o
conheceram, só que cada um em um processo. E a gente o pegou mais na
parte final, mas ele conversava um pouco ainda.
Um certo dia, batemos na porta e a filha abriu. Vimos que estava cheio
de gente e que era um momento delicado. Estava sendo dada a extrema-
unção e, na hora, falamos que voltávamos depois. Mas a filha, que nos
adorava, insistiu, pedindo que nós ficássemos lá. Não teve como falar não.
Nos olhamos e ‘tá bom, a gente fica!’.
O Seu Francisco estava semi-inconsciente. Foi barra porque a gente
ficou lá, mas sem ter o que fazer, não podíamos subverter nada. A gente
ficou de nariz, mas paralisados, quietos, só esperando. Foi muito difícil.
Quando acabou, a filha dele disse que nós estávamos lá e perguntou se
ele queria que cantássemos uma música, e ele respondeu que sim.
Ai todas aquelas pessoas saíram e a gente ficou lá, cantou pra eles e
tudo voltou ao normal. Foi difícil segurar o estado, ficamos até de mãos
dadas com todo mundo. Mas percebemos que a nossa figura era importante
pra eles também.”
Andréia Lopez
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Ambiente de trabalho
“Um dia, estávamos no São Francisco, e eu vi uma porta fechada. Na
hora falei ‘eu vou entrar nessa sala aqui’. A enfermeira ficou desesperada e
disse que eu não podia, pois estava tendo uma reunião. Na hora eu falei
‘ah é, dúvida que eu vá entrar e falar umas boas verdades?’ e entrei com
tudo. Quando vi, estava reunida toda a cúpula do hospital. Olhei para
todos, falei: ‘Boa tarde, vocês estão todas lindas, gostosas e maravilhosas.’
e fechei. Todo mundo ficou com aquela cara, sem saber o que estava
acontecendo. Depois só fique ouvindo as risadas.”
Feu de Andrade
“Na Santa casa tem uma enfermeira, a Paula, que adora infernizar a
Tereza. O jogo dela é me provocar. Me xinga, briga, põe defeito, mas todas
as vezes que a gente passa, ela gruda e quer nos levar para todos lugares.
E a Tereza não tem preconceitos nenhum, gosta de ver até onde as pessoas
vão. A enfermeira começava a falar da minha barriga, meu batom, meus
defeitos. E a Tereza acha ela linda mesmo assim, e manda beijos. Nossa,
como ela fica nervosa por isso. Mas esse é o jogo dela. Não que ela não
goste. Na verdade ela não quer que a gente vá embora sabe? È muito
engraçado essa relação.”
Paola Gonçalves
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O palhaço
.“Estávamos pelo corredor quando a Paula, aquela enfermeira, veio nos
pedir para ir a um quarto onde havia uma sra querendo se matar. Batemos
no quarto e o Romão, inspirado, falou ‘é aqui?’ e abriu uma frestinha. A
sra. foi logo dizendo ‘não, não é aqui não tá?’. Ela foi super grossa e fechou
a porta. Nós olhamos um pra cara do outro e decidimos andar.
Novamente encontramos com a Paula, que perguntou se tínhamos ido
ao quarto e explicamos que ela não quis nos atender. Não é que ela grudou
no meu braço, pegou o Romão pela gravata e bateu na porta, dizendo ‘olha
o que eu trouxe pra você’.
De novo ela disse que não queria. ‘Vai procurar sua turma’. A gente já
havia dito que tentamos. Foi até bom para ela perceber que nós sabemos a
hora certa de chegar e de sair, sabemos o que estamos fazendo.
Já que era para procurarmos a nossa turma, a gente foi né? Andamos
pelos outros quartos e, na hora de ir embora, a porta dela estava aberta e
ela estava sentada na cama penteando o cabelo. Ao passarmos, o Romão
deu tchau, como quem não quer nada. Foi um gesto gentil, tanto que ela
nos chamou. Quando entramos, perguntamos o nome dela e ela disse que
era Maria. Não era, mas tudo bem, isso não importa. O Romão foi logo
elogiando seus cabelos, que eram longos e negros, fazendo lembrar de uma
índia. Ela começou a falar que tinha operado da perna, mas nós nem ligamos
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e continuamos a falar dos cabelos. Nisso, começamos a cantar Índia, de
Roberto Carlos. Como ela sabia a letra, também cantou e ficou toda feliz,
penteando ainda mais seu cabelo.
Foi muito lindo, porque ela tava ali, com depressão, com vontade de
não querer mais viver e, de repente, a gente chegou e nem ligou para o
problema dela. Acho que foi isso que deu certo. E a partir dali, ela se
encantou pelo palhaço, viu que a gente só queria conversar também, que
era uma troca.
Quando ela soube que estávamos com fome, procurando tomar um
café, ela ficou toda preocupada. Pediu logo para a enfermeira nos dar comida,
pois isso não se nega a ninguém.
E a gente ficou ‘todo todo’. A pessoa que estava nos rejeitando, virou
nossa defensora. E ela fez questão de nos arrumar o que comer.
Foi uma conquista, porque não foi quando a gente quis e sim quando
ela quis.”
Paola Gonçalves
“A pouco tempo, eu estava na UTI do hospital e, quando olhei uma
mulher, se parecia muito com a minha tia. Fiquei naquele conflito, se era
ou não era. Ai, quando eu vi a minha prima, confirmei. Eu praticamente
fui criado com os filhos dela, mas conforme fomos crescendo, cada um foi
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para seu lado e fazia muito tempo que não a via. E ela estava ali, em coma
na UTI.
O interessante é que minha prima olhou, e ficou na duvida se era eu.
Eu acabei acompanhando minha tia na UTI, até praticamente o dia da
morte dela. E não tem como não dizer que mexe né? Na verdade, o que foi
muito legal, é que eu consegui confortar meus primos. Eles entraram na
viagem na boa, bacana, e inclusive começaram a sacar como era importante
pra eles ali entrar nessa viagem. Quando ela faleceu, eles fizeram questão
de que eu fosse uma das primeiras pessoas a serem avisadas. E agradecer
até por ter aliviado o sofrimento da familia, porque a familia toda acabou
passando por lá, e eu fui um palhaço pra eles, que alegrei e de repente
desfoquei aquele momento de dor.
Mas quando eu tirava o nariz, eu me questionava como será que estava
a situação. Às vezes eu até pensava em visitá-la sem o nariz, mas eu pensava
que, naquele momento, o que eu tinha de melhor para oferecer pra ela, que
estava desacordada, era o meu estado, minha qualidade de presença. Então
eu não a visitei à paisana. Sempre a visitei com o nariz, sempre com o
Godofredo. Tocava, cantava música pra ela, e o interessante é que mesmo
em coma, ela piscava, procurava o som. Então foi muito interessante. Para
a minha própria familia acabou sendo utilizada a minha arte do palhaço.”
Guarahna Ramos
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“Havia uma menina, a Juliana, que no começo chorava muito com a
gente. Um belo dia fizemos aviãozinho de bolacha, porque ela não queria
comer, e deu certo. Ela foi gostando e comendo com a gente, já que com a
enfermeira ela não queria. Com isso, ela passou a brincar e não deixava a
gente sair. Dávamos tchau, saíamos e ela começava a gritar. Ela tinha só
alguns meses, mas de longe sabia quando a gente chegava e logo começava
a gritar, como se nos chamando. E era difícil sair do berço dela. Aí, um dia,
vimos que tinha um menino do lado, chorandomuito, e que não gostava da
gente. E fomos lá, mas ela não deixava. Chorava, e a gente voltava. Nós
fomos e ela começou a gritar. Quando olhamos para trás, ela estava de
pezinho, no berço, pulando para nos chamar e as calças dela caíram. Todo
mundo começou a rir. Na hora corremos no berço dela ‘Oh Juliana, que
isso... só para chamar nossa atenção?’. Nossa, como ela ria.
Acompanhamos a Juliana mais de um mês, direto. Outro dia, estávamos
nos corredores e nos avisaram que ela tinha saído da UTI, ficamos super
felizes. Mas estava difícil nos desapegar dela. Uma semana depois, comentei
dela, super feliz, no hospital e a enfermeira veio me dizer que ela morreu.
Na hora, eu não acreditei e a enfermeira brigou comigo, achando que eu
estava brincando. Foi triste, porque ela aparentava estar bem. Mas é ai,
com a ajuda da parceira de trabalho, eu consegui levar aquele dia.”
Adriano Laureano
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“Tinha um cantor seresteiro, famoso na cidade, que estava internado.
Eu o visitava sempre. No natal, fizemos uma visita especial e levei meu
violão. Cheguei lá e joguei na mão dele. Ele falou que não sabia tocar,
enrolou um pouquinho e depois disse que só tocava se eu cantasse junto.
Ele tocou e eu cantei. Foi bem bacana.
Aí, um mês depois, ele se matou, morreu enforcado no hospital. Eu só
estou contando isso, porque eu tava ali com ele, que aparentemente estava
muito bem. E fica a pergunta: como é que se joga com isso? É o aprendizado
humano. Mas é a vida né? Uma coisa que está inerente ao nosso trabalho.”
Feu de Andrade
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“Em um dia de Natal, estava com a Taís, no São Francisco. Nós entramos
na UTI e fomos abordar uma mulher. Ela estava meio um pouco grogue,
mas olhava para a gente. ‘Nossa, como a senhora é bonita’, eu disse. E a
Tais, como era psicóloga no hospital e já conhecia alguns pacientes, começou
a falar sobre a família dela, a filha. Nós conversamos bastante com ela e ela
piscava de vez em quando, respondendo com bastante dificuldade.
Alguns meses depois, eu precisei substituir um dos palhaços, e voltei
lá, com a Ivani. Quando entramos em um quarto, uma mulher estava com
a filha adolescente. Ela olhou pra mim e disse ‘você voltou!’ E eu falei ‘eu
voltei? Voltei!’ Mas eu não estava reconhecendo. Ela percebeu que eu não
lembrava e disse ‘eu me lembro de você! Você me visitou na UTI, em um dia
que eu tava muito mal, no dia de Natal. Eu fiquei dois meses lá e amanhã
eu to tendo alta’. Nossa, eu fiquei assim super surpresa. E ela continuou
‘você não sabe o bem que vocês me fizeram naquele dia na UTI. O olhar, o
sorriso de vocês fez com que eu me apegasse à vida’. Ela falou um monte de
coisas assim, que eu fiquei besta! Fiquei tão feliz, fiquei tão bem de
presenciar isso. Ela ficou praticamente dois meses na UTI. E aqueles
minutinhos que a gente ficou ali, fizeram tão bem pra ela, que ela guardou
a minha imagem, dois meses depois. Ela lembrou e tava tão feliz porque ia
ter alta.”
Andréia Lopez
A vida
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“Fomos visitar o setor de oncologia e tinha uma pessoa acamada, fazendo
quimioterapia. Ela era alemã, e branca, branca. Como tinha feito quimio,
tinham caído todos os cabelos e estava mais pálida ainda. Eu achei
interessante porque ela estava com um gorro vermelho sangue na cabeça,
que mais parecia um grande nariz de palhaço. Com aquele rosto branco,
que parecia que tinha passado maquiagem, e aquele gorro, não deu outra.
O Godofredo olhou aquilo, e foi show. Chegou conversando e acabou criando
uma grande amizade, ele ficou vários dias seguidos. Eu ensinei uma música
pra ela, em um dia que ela estava muito mal, devido aos efeitos da quimio:
‘Menina vou te ensinar, como é que se melhorar. Põe a alma no sorriso, e o
sorriso põem pra fora.’ E ela gostou tanto, que queria aprender e eu a
ensinei. Ela, com aquele sotaque, disse ‘então como você me ensinou a
música, vou te ensinar alemão’. Com isso, a cada dia que eu ia lá, ela me
ensinava alguma palavra em alemão, e eu ensinava mais uma música. Ela
me fazia pronunciar e eu a fazia cantar, e ficou um jogo maluco. Eu com
meu alemanhês portunhol engraçado, e ela cantando com aquele sotaque
as músicas que eu ensinei.
No dia que estava para ela ir embora pra casa, eu a encontrei e ela
falou ‘poxa, vou sentir saudades de você. Vou sentir saudades dos palhaços
e até do hospital, pelos nossos encontros e as músicas que a gente cantava’.
Aí eu contei a ela que havia uma fórmula. Como eu sempre andava com
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um nariz a mais, pedia que ela fechasse os olhos e coloquei o nariz nela.
Foi muito interessante, porque ela estava sempre com aquele gorrinho
vermelho, aquela cara branca, com o nariz de palhaço, virou o próprio
clown né?
Aí eu completei. ‘Toda vez que você tiver saudades de mim, você põe o
nariz, e quando eu tiver saudades de você, eu falo alemão. Então tá resolvido’.
E ela foi embora.
Como não transformar, como não se transformar por essas histórias e
pessoas como essa senhora. Talvez nós nunca tivéssemos nos encontrado,
se não fosse meu nariz vermelho.”
Guarahna Ramos
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Álbum de Fotos
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Primeira fase do grupo, no hospital Policlin
Foto de divulgação da peça Pé na Estrada
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Hospital São Francisco, dia 18 de julho de 2005
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Hospital Santa Casa, dia 20 de julho de 2005
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Unidade de Pronto Atendimento Infantil (UPA), dia 18 de julho de 2005
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- DUARTE JUNIOR, João-Francisco. O que é Realidade? São Paulo:
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Bibliografia
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Filme
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1998
Cursos e Palestras
- A importância de uma medicina mais humana, ministrada por Hunter
“Patch” Adams, MD.
Local: Centro de Convenções do Rebouças, São Paulo
Data: 13 de junho de 2005
Período: 3 horas
- Curso de Clown, ministrada pela equipe Mandacarinho da Cooperativa
Paulista de Teatro.
Local: Casa da Juventude, Jacareí
Data: 08 a 15 de abril de 2005
Período: 36 horas
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Rua Marcolino José Maria, 46 - Bela Vista - Jacareí/SP
CEP 12.390-180 Tel: (12) 3962.4283 - 9764.9974
mandacarinho@zipmail.com.br

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