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FILOSOFIA – 1º SÉRIE DO ENSINO MÉDIO 1 CAPÍTULO 1 – COTIDIANO, SENSO COMUM E FILOSOFIA AULA 1 - “COTIDIANO” Texto 1: “Cotidiano” – Chico Buarque Todo dia ela faz tudo sempre igual Me sacode às seis horas da manhã Me sorri um sorriso pontual E me beija com a boca de hortelã Todo dia ela diz que é prá eu me cuidar E essas coisas que diz toda mulher Diz que está me esperando pro jantar E me beija com a boca de café Todo dia eu só penso em poder parar Meio-dia eu só penso em dizer não Depois penso na vida prá levar E me calo com a boca de feijão Seis da tarde, como era de se esperar Ela pega e me espera no portão Diz que está muito louca prá beijar E me beija com a boca de paixão Toda noite ela diz pra eu não me afastar Meia-noite ela jura eterno amor E me aperta pra eu quase sufocar E me morde com a boca de pavor Atividade 1: Após a audição da música, comente sobre a compreensão que você teve da música, descrevendo suas próprias rotinas cotidianas. No seu texto, procure fazer relações com o conhecimento do senso comum, com o conjunto de opiniões e ideias vigentes na sociedade e que são aceitas como coisas naturais e necessárias, sem questionamento e reflexão. AULA 2 – “A PERGUNTA FILOSÓFICA” Texto 2: “A pergunta filosófica” – Martin Heidegger A filosofia distingue-se pelo tipo de perguntas que faz. Uma pergunta eminentemente filosófica seria, por exemplo, a seguinte: Que é uma coisa? A nossa pergunta refere-se às coisas que estão em volta de nós no mundo. Trata-se de determinar o que elas são. Ora, tal questão parece evidentemente supérflua. De fato, as coisas que nos cercam já foram todas estudadas e definidas e, se não, há sempre métodos científicos ou processos de produção que manifestam o que são as coisas. Se perguntarmos o que é uma rosa ou um arbusto, a Botânica responde; um sapo ou um mosquito, a Zoologia responde; um relógio, o relojoeiro; uma fechadura, o ferreiro. Parece, portanto, que o filósofo já chega tarde com sua pergunta: Que é uma coisa? Na verdade, porém, a pergunta do filósofo não se confunde com as que já foram feitas e respondidas pelas ciências. Não se trata de saber o que é granito, mármore ou basalto, mas de saber o que é a pedra como coisa. Nem se pergunta como se definem e diferenciam mutuamente as várias espécies botânicas e zoológicas, mas considera-se a planta e o animal simplesmente como coisa. Não interessa saber o que distingue a enxada da picareta, ou o motor de explosão do motor de reação, mas sim o que constitui estes instrumentos e aparelhos como coisas. Portanto, o filósofo pergunta não o que constitui uma coisa como pedra, como planta, etc., mas sim o que a constitui simplesmente como coisa. Com esta pergunta ele mira algo que engloba não só as diversas pedras e espécies de pedra, as diversas plantas e animais e as suas espécies, os diversos utensílios e instrumentos, mas também toda a região dos vivos e dos não-vivos, dos produtos da natureza e da atividade humana. Saber o que as coisas são é sem dúvida uma questão inteiramente justificada: ela é respondida pelas ciências através da observação dos dados experimentais. Mas perguntar “Que é uma coisa?” parece ridículo e vão. Que haverá para saber sobre um bloco de granito, além de sua constituição físico-química, determinada pela ciência? A pergunta “Que é uma coisa?” é tão geral que só pode receber uma resposta vazia ou tautológica: coisa é tudo o que nós conhecemos no mundo. Na verdade, esta pergunta não modificará em nada os nossos conhecimentos científicos. Respondendo-a não nos tornaremos melhores físicos, biólogos ou historiadores. Não se trata nem de substituir as ciências, nem de aperfeiçoá-las. Apesar disso, o filósofo pergunta: Que é uma coisa? Entretanto, apesar de todo o cuidado que tivemos para circunscrever nossa pergunta, ela permanece ainda embaraçosa. De fato, de que coisa se trata na nossa investigação: da coisa da experiência cotidiana ou da coisa vista pelo cientista? O caipira sentado à porta da sua casa vê o Sol como um disco de fogo de menos de ½ metro de diâmetro desaparecer no poente. Ele o vê e pensa: amanhã quando o Sol despontar no nascente eu já devo estar no trabalho. Todavia o Sol real já tinha desaparecido alguns minutos antes no horizonte. O que vemos é apenas uma aparência provocada por certas propriedades dos raios luminosos. Mas também esta aparência é apenas uma aparência, pois na realidade o Sol não se põe, ele não se move em torno da Terra; é a Terra que gira em torno do Sol. Seu diâmetro é milhares de vezes maior do que o da Terra, etc., etc. Qual é o verdadeiro Sol: o do caipira ou o do astrofísico? Outro exemplo: cada um dos objetos que nos é familiar é na verdade um binário. A mesa nº 1 é aquela que conhecemos desde criança. A mesa nº 2 é a mesa científica. Esta mesa, segundo a Física atômica, não é de madeira: ela é formada em grande parte por espaço vazio; neste vazio encontram-se dispersas cargas elétricas, que se agitam a grande velocidade. Qual é a mesa verdadeira: nº 1 ou nº 2? Não adianta dizer que o que os cientistas dizem do Sol ou da mesa são apenas construções teóricas, que não correspondem à realidade. Pois à base desta Física estão construídas as barragens, os aviões e os aparelhos de televisão. Se as equações não são aplicadas corretamente, as barragens desmoronam, os aviões não voam, os aparelhos não funcionam. Mas quem diria que o movimento diurno do Sol no céu, que regula toda a vida do homem, e a superfície lisa da mesa, sobre a qual estou escrevendo, são apenas uma ilusão? Nem o caipira, nem o cientista pode decidir qual é a verdadeira coisa. Só a questão “Que é uma coisa?” pode resolver esta dificuldade. (HEIDEGGER, Martin. Die frage nasch dem ding. Trad. livre de Pe. João Mac Dowell, S. J. Tübingen, Max Niemeyer, 1962. – In Piletti, Claudino. Filosofia e história da educação – São Paulo : Ática, 1985) FILOSOFIA – 1º SÉRIE DO ENSINO MÉDIO 2 Atividade 2: a) Faça leitura do texto e sublinhe as palavras que você não conhece. b) Em grupos de 5 alunos, responda: Em que sentido a visão cotidiana, rotineira e familiar do mundo constitui um obstáculo à reflexão filosófica? c) Cada grupo escolhe um representante, que vai expor a resposta ao grupo. As respostas serão debatidas e complementadas pelo professor. O QUE É FILOSOFIA? Immanuel Kant, filósofo alemão que viveu no século XVIII, certa vez afirmou que “não se aprende filosofia, mas sim a filosofar”. Desse modo, o mais importante é aprender a filosofar, e não decorar uma série de definições e teorias. Dentre as disciplinas que você entrará em contato a partir deste ano, a Filosofia será a mais diferente. Isso porque, para a Filosofia, não importa muito a “resposta certa”. Importa muito mais o modo como você chegou a esta resposta. Você vai perceber isto com mais clareza assim que entrarmos em contato com as diversas teorias enunciadas pelos filósofos que iremos estudar. A Filosofia não é uma “ciência”, no sentido em que estamos acostumados a lidar. A própria etimologia da palavra “filosofia” nos mostra isso. Originária do grego (filos = amizade, amor) e sofía = sabedoria), a palavra “filosofia” significa, portanto, amizade ou amor ao saber. O filósofo é, por definição, um amante, um grande amigo da sabedoria. Mas você já deve ter passado pela situação de gostar e admirar muito alguém e não ser correspondido. E é exatamente esta a situação em que normalmente o filósofo se encontra: buscando sempre a sabedoria, mesmo que a cada novo estudo ela se distancie mais ainda. “Amar a sabedoria” não significa “possuir a sabedoria”. Segundo o filósofo grego Pitágoras, que viveu no século V a.C., só os deuses possuem a sabedoria. O homem pode, no máximo, ser um “filósofo”, um “amante do saber”. Pitágoras explicava que a vida era como as competições olímpicas: muitas pessoasiam para os jogos para competir, em busca de honras, fama e glória; outras, iam para fazer comércio e ganhar dinheiro; e há também aquelas que vão apenas para sentar nas arquibancadas e apreciar os jogos. Este terceiro tipo é como o filósofo: não busca honras, nem fama, nem dinheiro: seu interesse está em contemplar a vida e apreciar seus detalhes e vicissitudes. Esta passagem é interessante por revelar aspectos da atitude filosófica. Em primeiro lugar, mostra que o filósofo não é a pessoa que detém uma grande sabedoria. Ao contrário, filósofo é quem reconhece que sabe pouco (ou nada), e está em contínua busca pelo saber. Sócrates, outro filósofo grego, que viveu no século IV a.C., afirmava: “só sei que nada sei”. Com isso, Sócrates quer dizer que todo conhecimento que os homens tem sobre o mundo ainda é ínfimo perto de tudo aquilo que desconhecemos. 1 TRANSCENDENTE: o que está além do conhecimento sensível, dos sentidos. 2 DOGMATISMO: pensamento, ideia ou opinião inquestionável. Característica das religiões em geral. Quer dizer também que cotidianamente as pessoas dão como certas coisas que não sabemos com certeza. De certo modo, filósofos como Pitágoras e Sócrates, parecem sempre desconfiados, como se perguntassem: “será que não estamos sendo enganados?” ou ainda: “quem está a nos enganar?”. O surpreendente é que, na maioria das vezes, somos nós mesmos que nos enganamos, ao confiar cegamente no que a tradição, os outros, os amigos, os vizinhos nos dizem. Outro aspecto interessante dessa anedota é o caráter divino do conhecimento. Para Pitágoras, “a sabedoria pertence aos deuses”. Que poderia isto significar? De certo modo, que a consciência humana não é capaz de conhecer ou de saber tudo. Somos limitados. Parece que há algo de transcendente1 no conhecimento, algo que supera nossa capacidade de conhecer a verdade. Ora, uma das grandes perguntas filosóficas de todos os tempos é “O que é a verdade?”. E, afinal, este não seria apenas outro aspecto da “desconfiança” do filósofo com relação ao mundo? Essa desconfiança do filósofo com tudo o que o cerca pode ser chamada também de “atitude filosófica”. E no fim das contas, nosso objetivo principal aqui é que você, ao terminar o Ensino Médio, adquira pelo menos um pouco dessa atitude questionadora e desconfiada que caracteriza o filosofar. Dizemos que a atitude filosófica tem duas características principais. Uma delas, a primeira, é a “atitude negativa”. A atitude negativa da filosofia consiste em negar, em dizer um “não” aos pré-conceitos, as ideias mal-formadas, às posições arbitrárias e autoritárias, ao dogmatismo2. Assim, o filósofo deixa em suspenso as certezas cotidianas, e vai em busca de uma resposta mais completa para as questões que o interessam. Esta interrogação sobre o que são de fato as coisas, o mundo, a realidade em si constitui a “atitude positiva” da filosofia. Ao se perguntar o que é a realidade que o cerca, o filósofo deve se ater principalmente a três perguntas: 1) “O que é?” 2) “Como é?” 3) “Por que é?” As respostas a estas perguntas não serão as mesmas para todos os filósofos. Cada um vai encontrar, na realidade, motivos para sustentar uma ou outra visão. Estes motivos que levam o filósofo a defender sua teoria sobre o mundo são chamados de “fundamentos”. Assim, para compreender bem o que um determinado filósofo está enunciando, precisamos entender os fundamentos dos quais ele parte para construir sua teoria. A relação que o filósofo faz entre os fundamentos de suas teorias e as conclusões as quais ele chega sobre o mundo é o que chamamos de “argumento” ou “raciocínio”. O raciocínio filosófico em geral deve se basear numa “lógica”, que pode estar explícita, aparente, ou escondida no texto do filósofo. Para interpretar corretamente uma teoria filosófica é preciso dissecar a lógica que permeia o pensamento do filósofo. E se você quer saber, é aí que se encontra toda a graça do estudo da filosofia: sem perceber, nos deparamos com um grande quebra-cabeças de ideias, que pode parecer embaralhado e confuso, mas que tem uma resolução. 3 Uma das principais atividades do filósofo é a reflexão. A palavra “reflexão” vem do verbo latino reflectere, que significa “voltar atrás”. Filosofar então seria um retomar, reconsiderar os dados disponíveis, revisar, examinar detidamente, prestar atenção e analisar com cuidado3. Segundo Demerval Saviani, para que uma reflexão possa ser chamada filosófica é necessário: a) A radicalidade: a filosofia procura se dirigir à raiz do problema estudado. Enquanto as diversas ciências estudam os fenômenos do mundo a partir de uma perspectiva objetivista, a Filosofia pretende ser uma reflexão profunda sobre o mundo e suas relações. b) O rigor: se a Filosofia pretende chegar à raiz dos problemas, ela deve proceder rigorosamente a partir de um método devidamente esclarecido, para garantir confiança no resultado alcançado. c) A globalidade: o problema Filosófico deve ser encarado na totalidade das suas relações, e não parcialmente. Ao contrário da ciência, que estuda detalhadamente cada fenômeno, a Filosofia procura relacionar o problema investigado com os demais aspectos do contexto em que está inserido. Outra diferença entre a Filosofia e as demais ciências é que a Filosofia procura saber o que é o conhecimento, como funciona o processo de conhecer. As ciências partem do pressuposto de que o conhecimento é possível e confiável, e busca somente estabelecer leis, a partir das quais podemos explicar como ocorrem os fenômenos da natureza. A partir disso, podemos concluir que a Filosofia é reflexão (radical, rigorosa e de conjunto) sobre os problemas que a realidade apresenta. Atividade 3: a) No estudo da Filosofia, o que é mais importante? b) Qual é a essência da Filosofia? c) Que significado Pitágoras atribui ao termo “filósofo”? d) Quais os dois momentos que caracterizam a atitude filosófica? e) Quais as exigências da reflexão filosófica? f) Caracterize cada uma das exigências da reflexão filosófica. g) Como a Filosofia se distingue das outras ciências? Discussão final: Qual a importância da reflexão filosófica para a vida cotidiana? TAREFA PARA CASA Pitágoras, que viveu na Grécia há mais de 2500 anos, possuía um espírito inquieto e uma inteligência brilhante. Sempre preocupaco em compreender o mundo e visando ampliar seus conhecimento, ele empreendeu viagens por diversos países, como a Síria, a Arábia, a Pérsia, a Índia e oEgito. Durante estas viagens, todas as pessoas que o conheciam ficavam admiradas do seu saber. Conta- se inclusive, que um príncipe, recebendo notícias da fama de sua cultura, mandou chamá-lo a sua presença e perguntou-lhe em que 3 PILETTI, Claudino. Filosofia e história da educação. São Paulo : Ática, 1985, pg 16. arte ele era especialista. Foi então que Pitágoras respondeu: “Sou apenas um filósofo.” Mas o que é um filósofo? Filósofo é aquele que cultiva a Filosofia. A palavra tem sua origem etimológica em dois termos gregos: filos = amigo e sofia = sabedoria. 1. Pelo que você leu acima, pode concluir que Pitágoras se autodenominou __________________________________________________________ (um sábio; um amigo da sabedoria). Pitágoras, homem modesto e sensato, não tinha pretensão de deter plenamente a sabedoria, isto é, o conhecimento de todas as coisas. Segundo ele, Deus é o único ser do universo possuidor de tamanha capacidade. Entretanto, afirmava que o homem deveria ter como sublime missão a procura incansável da sabedoria. 2. Você pode concluir, por sua experiência diária, que as coisas que você admira e procura ( ) sempre são encontradas com facilidade. ( ) nem sempre são encontradas com facilidade. ( ) nunca são encontradas. Assim como em nossa experiênciadiária nem sempre encontramos com facilidade aquilo que admiramos e procuramos, também o filósofo nem sempre atinge com facilidade a sabedoria que tanto procura. observe a ilustração abaixo: 3. Conforme você percebe, o alpinista ____________________________________ (procura; não procura) chegar ao pico da montanha. 4. Para chegar ao pico da montanha, o alpinita ___________________________ (se utiliza; não se utiliza) de equipamentos. Todos nós, a exemplo do alpinista, quando procuramos atingir um determinado objetivo, utilizamos os mais diversos equipamentos. O objetivo de um filósofo é atingir a sabedoria e para isso ele se utiliza de um único “equipamento”, a reflexão. Chamamos de reflexão a concentação que o indivíduo faz sobre os seus próprios conhecimentos para atingir a verdade das coisas. FILOSOFIA – 1º SÉRIE DO ENSINO MÉDIO 4 Observe agora as ilustrações seguintes: 5. Conforme você observou, as pessoas em geral _______________________________________ (procuram; não procuram) atingir o conhecimento e a sabedoria das coisas. 6. Para atingir esse conhecimento ________________________________________ (utilizam-se; não se utilizam) necessariamente da reflexão. O ser humano, independente de sua origem e grau de cultura, sempre procurou conquistas a sabedoria das coisas. O progresso científico e o contínuo aperfeiçoamento da técnica revelam, através da história, esta eterna procura do homem pelo saber. Por isso podemos dizer, respeitando as devidas proporções, que são por si só filósofos todos os que usam o seu poder de reflexão em busca de conhecimento. No princípio dos tempos, quando o homem começou a refletir, surgiu-lhe, automaticamente, a necessidade de explicar o mundo. Entretanto o seu poder de raciocínio e o seu conhecimento dos fatos eram bastante primitivos. 7. Então, as explicações que o homem primitivo dava aos fatos ( ) não eram totalmente corretas. ( ) eram absolutamente corretas. As explicações que o homem primitivo dava aos fatos eram repletas de fantasias e erros. E foram estas explicações fantásticas da realidade que deram origem aos mitos. Os mitos explicavam o desconhecido com base na experiência particular de cada comunidade. 8. Como existiam diversas comunidades separadas umas das outras, você pode deduzir que um mesmmo fato poderia ser explicado por diversos _______________________________________. Mito: explicação do mundo por princípio simbólicos, muito próxima da religião. (Lévi-Strauss) Com o passar dos tempos desenvolveu-se a comunicação entre as comunidades e os homens começaram a perceber a contradição que havia entre os mitos. Foi então que surgiram as explicações que utilizavam a capacidade de reflexão do homem e visavam o conhecimento objetivo da verdade. Assim as explicações míticas foram cedendo lugar às explicações filosóficas. 9. Você pode dier que as explicações filosóficas, ao contrário das míticas, eram ( ) mais objetivas e reais. ( ) de caráter fantástico. A filosofia surgiu, quase que simultaneamente, na Grécia, Índia e China, por volta do século VII ou VI a.C. Contrastando com os mitos, ela tem por objetico dar aos fatos uma explicação lógica e racional. A princípio, o termo filosofia servia para determinar todas as áreas do conhecimento humano: Matemática, Física, Biologia, Química, Geometria, etc. Mas com o passar dos séculos, o seu objetivo de estudo foi se restringindo até adquirir forma própria e específica, o que a levou a separar-se das ciências. Você compreenderá quais os problemas básicos da Ciência e da Filosofia no decorrer da sequência a seguir. 10. Observando a ilustração acima, você percebe que o escultor e o carpinteiro __________________________________________ (utilizam; não utilizam) um pedaço de madeira. 11. Tanto o escultor como o carpinteiro se utilizam da madeira, porém cada um o faz tendo em vista objetivos _________________________________ (iguais; diferentes). 12. Pela ilustração você percebe que o objetivo do carpinteiro é construir uma ______________________, enquanto o objetivo do escultor é fazer uma ___________________________. A natureza do trabalho do escultor difere da natureza do trabalho do carpinteiro. Em consequência cada um deles se interessa pelo objeto madeira de forma diferente. 13. Por isso, você pode dizer que certos aspectos da madeira que interessam ao escultor ( ) obrigatoriamente interessam ao carpinteiro. ( ) podem não interessar ao carpinteiro. Chamamos de objeto formal a visão de certos aspectos de um objeto material qualquer. 14. Então você pode afirmar que tanto o escultor como o carpinteiro trabalham com um mesmo objeto, a ________________________________________________________. Porém o objeto formal (o modo de apreciar) do escultor ____________________________________________ (difere; não difere) do objeto formal do carpinteiro. Tal como ocorre com o carpinteiro e o escultor que trabalham com um mesmo objeto, a madeira, a Ciência e a Filosofia também trabalham com um mesmo objeto de estudo: o universo de todas as coisas, e, do medmo modo, o objeto formal da Ciência não coincide com o objeto formal da Filosofia. Ao estudar o mundo, a Ciência se preocupa em compreender os fenômenos observando-os sistematicamente, enquanto a Filosofia procura investigar a raiz do problema – o que é um fenômeno? Por que ele existe? - , pois o filósofo não se contenta com uma resposta imediatista: o porquê deste fenômeno é este fenômeno. O filósofo quer investigar as causas primeiras. Por isso, enquanto o cientista estuda as coisas que existem no universo, o filósofo investiga o porquê das coisas estarem no universo e serem o que são. A natural vontade do homem de conhecer a essência profunda das coisas e descobrir o sentido da vida não preocupa a Ciência, mas tão-somente a Filosofia. 15. Complete: a) A palavra filosofia tem sua origem etimológica em dois termos gregos: ______________________, que quer dizer ___________________________ e __________________________________ que quer dizer _________________________________________. 5 b) A concentração que o indivíduo faz sobre seus próprios conhecimentos para atingir a verdade das coisas, chamamos de ______________________________________________. c) O homem primitivo explicava o desconhecido com base na experiência particular de cada comunidade, através dos ______________________________________. d) A filosofia surgiu, quase que simultaneamente, na ______________________________________, ______________________________ e _____________________________, por volta do século ________________________. e) A visão de certos aspectos de um objeto material qualquer, chamamos de _________________________________________________________________. f) A Ciência e a Filosofia trabalham com um mesmo objeto de estudo: o universo de todas as coisas. Entretanto, o objeto formal de ambas __________________________________________. CRUZADAS Preencha os espaços em branco conforme as indicações a seguir: 2 1 1 2 Verticais 1. Concentração que o indivíduo faz para atingir a sabedoria. 2. Aquele que cultiva a filosofia. Horizontais 1. Visão de certos aspectos de um objeto material. 2. Explicação fantástica da realidade, feita por princípio simbólicos. (Retirado de COTRIM, Gilberto. Trabalho dirigido de filosofia). FILOSOFIA – 1º SÉRIE DO ENSINO MÉDIO 6 AULA 3 – “TEMAS E PROBLEMAS FILOSÓFICOS” Texto 3: “Temas, disciplinas e campos filosóficos” – Marilena Chauí A filosofia existe há 26 séculos. Durante uma história tão longa e de tantos períodos diferentes, surgiram temas, disciplinas e campos de investigação filosóficos, enquanto outros desapareceram. Desapareceu também a ideia de que a filosofia era a totalidade dos conhecimentosteóricos e práticos da humanidade. Também desapareceu a imagem da filosofia como uma grande árvore frondosa: suas raízes eram a metafísica e a teologia; o tronco era a lógica; os ramos principais eram a filosofia da natureza, a ética e a política; e os galhos extremos eram as técnicas, as artes e as invenções. A filosofia, vista como uma totalidade orgânica ou viva, era chamada “rainha das ciências”. Pouco a pouco, as várias ciências particulares foram definindo seus objetivos, seus métodos e seus resultados próprios e se desligaram da grande árvore. Cada ciência, ao se desligar, levou consigo os conhecimentos práticos ou aplicados de seu campo de investigação, isto é, as artes e as técnicas a ela ligadas. As últimas ciências a aparecer e a se desligar da árvore da filosofia foram as ciências humanas (psicologia, sociologia, antropologia, história, linguística, geografia, etc.). Outros campos de conhecimento e de ação abriram-se para a filosofia, mas a ideia de uma totalidade que conteria em si todos os conhecimentos nunca mais reapareceu. No século XX, a filosofia passou por uma grande limitação quanto à esfera de seus conhecimentos. Isso pode ser atribuído a dois motivos principais: 1. Desde o fim do século XVIII, com o filósofo Immanuel Kant, passou-se a considerar que a filosofia, durante os séculos anteriores, tivera uma pretensão irrealizável. Que pretensão fora essa? A de que nossa razão pode conhecer as coisas tais como são em si mesmas. Esse conhecimento da realidade em si chama-se metafísica. Kant negou que a razão humana tivesse tal capacidade. Para ele, conhecemos as coisas tais como são organizadas pela estrutura interna e universal de nossa razão, mas nunca saberemos se isso corresponde ou não à organização da própria realidade. Deixando de ser metafísica, a filosofia tornou-se uma teoria do conhecimento, ou uma teoria sobre a capacidade e a possibilidade humana de conhecer, e uma ética, ou estudo das condições de possibilidade da ação moral, realizada por liberdade e por dever. Com isso, a filosofia deixava de ser conhecimento do mundo em si e tornava-se apenas conhecimento do homem como ser racional e moral. 2. Desde meados do século XIX, como consequência do positivismo, a filosofia foi separada das ciências positivas (matemática, física, química, biologia, astronomia, sociologia). As ciências, diziam os positivistas, estudam a realidade natural, social, psicológica e moral, e são propriamente o conhecimento. Para eles, a filosofia seria apenas uma reflexão sobre o significado do trabalho científico. A filosofia tornou- se, assim, uma teoria das ciências ou epistemologia. Com isso, os filósofos passaram a ter um interesse primordial pelo conhecimento das estruturas e formas da consciência e também pelo seu modo de expressão, isto é, a linguagem. O interesse pela consciência reflexiva ou pelo 4 SOUSA, Antônio Bonifácio R. Filosofia Prática e a Prática da Filosofia. JAPIASSÚ, Hilton. Dicionário Básico de Filosofia. sujeito do conhecimento originou uma corrente filosófica conhecida como fenomenologia, iniciada por Edmund Husserl. Já o interesse pelas formas e pelos modos de funcionamento da linguagem corresponde a uma corrente filosófica conhecida como filosofia analítica, cujo início é atribuído ao filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein. A atividade filosófica, porém, não se restringiu à teoria do conhecimento, à lógica, à epistemologia e à ética. Desde o início do século, a história da filosofia tornou-se uma disciplina de grande prestígio e, com ela, a história das ideias e história das ciências. Diversos acontecimentos ocorridos desde a Segunda Guerra Mundial fizeram ressurgir o interesse pela filosofia política: o fenômeno do totalitarismo, as guerras de libertação “nacional” contra os impérios coloniais, as revoluções socialistas em vários países e as lutas, desde os anos 1960, contra ditaduras e pelos direitos de negros, índios, mulheres, idosos, homossexuais, crianças e outros excluídos econômica e politicamente. Com isso, ressurgiram também as críticas de ideolo gias e as discussões sobre as relações entre a ética e a política. Finalmente, desde o fim do século XX, o pós-modernismo vem ganhando preponderância. Seu alvo principal, como vimos, é a crítica de todos os conceitos e valores que, até hoje, sustentaram a filosofia e o pensamento dito ocidental: razão, saber, sujeito, objeto, história, espaço, tempo, liberdade, necessidade, acaso, natureza, homem, entre outros. (CHAUÍ, Marilena. Iniciação à Filosofia : ensino médio, volume único. 2ª ed., São Paulo : Ática, 2013) QUADRO SINÓTICO: ÁREAS DA FILOSOFIA4 ONTOLOGIA ou METAFÍSICA Estudo do ser enquanto ser; Estuda problemas inevitáveis, mas que a razão não pode solucionar, pelo menos não de modo científico. TEORIA DO CONHECIMENTO, GNOSIOLOGIA ou EPISTEMOLOGIA Estudo dos problemas levantados pela relação entre sujeito e o objeto; busca a origem, a natureza, o valor e os limites do conhecer. LÓGICA Estudo da estrutura e dos princípios relativos à argumentação válida, sobretudo da inferência dedutiva e dos métodos de prova e demonstração. ÉTICA Reflexão sobre problemas fundamentais da moral (finalidade e sentido da vida, fundamentos da obrigação e do dever, natureza do bem e do mal, etc.), mas fundada num estudo metafísico do conjunto de regras de conduta consideradas como universalmente válidas. FILOSOFIA POLÍTICA Análise filosófica da relação entre os cidadãos e a sociedade, as formas de poder e as condições em que este se exerce, os sistemas de governo, e a natureza, a validade e a justificação das decisões políticas. ESTÉTICA Estudo da sensação e da sensibilidade; Classificação e hierarquia das artes e dos tipos de senações que elas podem provocar. HISTÓRIA DA FILOSOFIA Estudo dos grandes sistemas filosóficos, relacionados com o contexto histórico e biográfico de cada filósofo. 7 Atividade 4: Em grupos, elabore um cartaz explicativo sobre as diversas áreas do filosofar. CAPÍTULO 2 – ORIGEM DA FILOSOFIA AULA 5: CONTEXTO HISTÓRICO DO SURGIMENTO DA FILOSOFIA Texto 4: “O Nascimento da Filosofia” – Marilena Chauí Os historiadores da filosofia dizem que ela tem data e local de nascimento: fim do século VII a.C. e início do século VI a.C., na cidade de Mileto, uma das colônias gregas da Ásia Menor (território da atual Turquia). E o primeiro filósofo foi Tales de Mileto. Além de ter data e local de nascimento e seu primeiro autor, a filosofia apresenta um conteúd o preciso ao nascer: é uma cosmologia. Viagens colocaram os gregos em contato com os conhecimentos de povos orientais (egípcios, persas, babilônios, assírios e caldeus). Os dois maiores formadores da cultura grega antiga, os poetas Homero e Hesíodo, encontraram nos mitos e nas religiões desses povos e nas culturas que existiram na Grécia em tempos anteriores os elementos para elaborar a mitologia grega, que, depois, seria transformada pelos filósofos. Os gregos, porém, imprimiram mudanças profundas ao que receberam do Oriente e das culturas precedentes. Dessas mudanças, vale mencionar quatro: 1. Com relação aos mitos: quando comparamos os mitos orientais, cretenses, micênicos e os que aparecem nos relatos de Homero e Hesíodo, vemos que os poetas gregos retiraram os aspectos apavorantes e monstruosos dos deuses e do início do mundo; humanizaram os deuses, divinizaram os homens; deram racionalidade a narrativas sobre as origens das coisas, dos homens, das instituições humanas (como o trabalho, as leis, a moral). 2. Com relação aos conhecimentos: os gregos transformaram em ciência (isto é, em conhecimento racional, abstrato e universal) aquilo que eram elementos de uma sabedoria prática. Assim, transformaram em matemática o que os egípcios praticavam como agrimensura para medir, contar e calcular;transformaram em astronomia (em estudo da origem e da posição dos astros) a astrologia praticada por caldeus e babilônios como adivinhação e previsão do futuro; transformaram em medicina aquilo que, nas culturas precedentes, eram práticas de grupos religiosos secretos para a cura misteriosa das doenças. 3. Com relação à organização social e política: os gregos inventaram não apenas a ciência ou a filosofia, mas também a política. Todas as sociedades anteriores a eles conheciam e praticavam a autoridade e o governo, mas não a política propriamente dita, porque não separavam o poder político de duas outras formas de autoridade: o poder privado do chefe de família e o poder religioso do sacerdote ou mago. De fato, nas sociedades orientais e não gregas, o poder e o governo eram exercidos como autoridade absoluta da vontade pessoal e arbitrária de um só homem ou de um pequeno grupo de homens. Eles possuíam o poder militar, religioso e econômico e decidiam sobre tudo, sem consultar ninguém e sem dar justificativas de suas decisões a ninguém. Pode-se dizer que os gregos inventaram a política porque tomavam as decisões com base em discussões e debates públicos e as adotavam ou revogavam por voto em assembleias públicas; porque estabeleceram instituições públicas (tribunais, assembleias, separação entre autoridade do chefe de família e autoridade pública, entre autoridade político-militar e autoridade religiosa); e, sobretudo, porque criaram a ideia da lei e da justiça como expressões da vontade coletiva pública, e não como imposição da vontade de um só ou de um grupo, em nome de divindades. 4. Com relação ao pensamento: diante da herança recebida, os gregos inventaram a ideia ocidental da razão como um pensamento sistemático que segue regras, normas e leis universais. Texto 5: “Condições históricas para o surgimento da filosofia” - Marilena Chauí Podemos apontar como principais condições históricas para o surgimento da filosofia na Grécia: as viagens marítimas, que permitiram aos gregos descobrir que os locais que os mitos diziam habitados por deuses, titãs e heróis eram, na verdade, habitados por outros seres humanos, e que nas regiões dos mares que os mitos diziam ser habitadas por monstros e seres fabulosos não havia nenhum dos dois. As viagens produziram o desencantamento ou a desmistificação do mundo, que passou, assim, a exigir uma nova explicação sobre sua origem; a invenção do calendário, que é uma forma de calcular o tempo segundo as estações do ano, as horas do dia, os fatos importantes que se repetem, revelando, com isso, uma capacidade de abstração nova, ou uma percepção do tempo como algo natural, e não como uma força divina incompreensível; a invenção da moeda, que permitiu uma forma de troca que não se realiza como escambo ou em espécie (isto é, coisas trocadas por outras). Esse cálculo do valor semelhante de FILOSOFIA – 1º SÉRIE DO ENSINO MÉDIO 8 coisas diferentes revela uma nova capacidade de abstração e de generalização; o desenvolvimento da vida urbana, com predomínio do comércio e do artesanato, que levou ao aprimoramento de técnicas de fabricação e de troca e diminuiu o prestígio das famílias da aristocracia proprietária de terras, por quem e para quem os mitos foram criados. Além disso, como a classe de comerciantes ricos que se consolidava precisava encontrar pontos de poder e de prestígio para suplantar o velho poderio da aristocracia de terras e de sangue, muitos procuraram o prestígio pelo patrocínio e estímulo às artes, às técnicas e aos conhecimentos. Consequentemente, criou-se um ambiente favorável ao desenvolvimento da filosofia; a invenção da escrita alfabética, que, como a do calendário e a da moeda, revela o crescimento da capacidade de abstração e de generalização. Isso porque as escritas fonéticas, como a alfabética, em vez de representar uma imagem da coisa que está sendo dita – como, por exemplo, os hieróglifos dos egípcios ou os ideogramas dos chineses – oferecem um sinal ou signo abstrato (uma palavra) dela; a invenção da política, que introduz três aspectos novos e decisivos para o nascimento da filosofia: 1. A ideia da lei como expressão da vontade de uma coletividade humana que decide por si mesma o que é melhor para si e como ela definirá suas relações internas. Essa característica da pólis grega – um espaço legislado e regulado – servirá de modelo para a filosofia propor que também o mundo é racionalmente legislado, regulado e ordenado. 2. O surgimento de um espaço público, que faz aparecer um novo tipo de discurso, diferente daquele que era preferido pelo mito. Neste, um poeta-vidente recebia das deusas ligadas à memória (a deusa Mnemosyne, mãe das musas, entidades que guiavam o poeta) uma iluminação ou uma revelação sobrenatural e, então, dizia aos homens quais eram as decisões dos deuses que eles deveriam obedecer. Agora, com a pólis, isto é, a cidade política, a palavra constitui-se como direito de cada cidadão emitir em público sua opinião, discuti-la com os outros, persuadi-los a tomar uma decisão proposta por ele. Desse modo, surge o discurso político como palavra humana compartilhada, como diálogo, discussão e deliberação humana, isto é, como decisão racional e exposição dos motivos ou das razões para fazer ou não fazer alguma coisa. Com a política, valorizou-se o pensamento racional, criando condições para que surgisse o discurso ou a palavra filosófica. 3. A noção de discussão pública das opiniões e ideias, pois a política estimula um pensamento e um discurso públicos, ensinados, transmitidos, comunicados e discutidos, que não sejam formulados por seitas secretas dos iniciados em mistérios sagrados. A ideia de um pensamento que todos podem compreender, discutir e transmitir é fundamental para a filosofia. Atividades 1. Qual é a origem do termo philosophía e por que Pitágoras utilizou-o para designar essa área do pensamento? 2. O que levou alguns gregos a se aproximarem da filosofia? 3. Um dos principais traços da filosofia nascente é a tendência à racionalidade. O que isso significa? 4. O que é o mito? Por que ele merecia confiança e era inquestionável? 5. Quais as principais diferenças entre filosofia e mito? Dê um exemplo de mito que não tenha sido citado. 5 Adaptado de: ABBAGNANO, Nicola. História da Filosofia: vol. 1. 6. Liste, resumidamente, as condições históricas que propiciaram o surgimento da filosofia na Grécia e explique a importância da capacidade de abstração nesse processo. 7. Por que a invenção da política foi decisiva para o nascimento da filosofia? LEITURA COMPLEMENTAR: FILOSOFIA: oriental ou ocidental?5 Há uma tradição antiga que defende que a Filosofia grega derivou-se do Oriente (Egito, Índia, Judéia, Babilônia). Entretanto, não há nenhuma comprovação escrita. Fala-se que alguns filósofos, como Pitágoras, Demócrito e Platão, tenham viajado ao Egito, mas o próprio Platão contrapõe o espírito científico dos gregos ao senso prático dos orientais. Parece verdade que a Filosofia derivou-se do Oriente. Segundo Heródoto, a geometria e a aritmética teriam surgido no Egito, para medir as terras. A astronomia, na Babilônia, com vistas às suas crenças religiosas. Estas ciência, guardavam, entretanto, um interesse prático, muito diferente do pensamento abstrato grego. Na verdade, esta tradição orientalista surgiu procurando vincular o pensamento filosóficos grego com as tradições religiosas orientais. Ainda que alguns filósofos tenham se inspirado no Oriente, isto não é suficiente para concluir que a Filosofia grega tenha uma origem oriental: “A sabedoria oriental é essencialmente religiosa. É ela o patrimônio de uma casta sacerdotal cuja única preocupação é a de defende-la e transmiti-la na sua pureza. O único fundamento da sabedoria oriental é a tradição. A Filosofia gregaao invés, é pesquisa. Esta nasce de um ato fundamental de liberdade frente à tradição, ao costume e a toda crença aceita como tal. O seu fundamento é que os homens não possuem a sabedoria, mas devem procura-la: não é sofia, mas filosofia, amor da sabedoria, perseguição direta no encalço da verdade para lá dos costumes, das tradições e das aparências. Com isso, o próprio problema da relação entre a Filosofia grega e a cultura oriental perde muito da sua importância.” Pode ser que os gregos tenham se aproveitado de noções orientais baseadas nas suas tradições religiosas, ou necessidades cotidianas; mas isso não impede que a Filosofia se manifeste entre os gregos com características originais, que fazem dela um fenômeno único no mundo antigo e o antecedente da civilização ocidental, de que constitui um componente fundamental. Em primeiro lugar, a filosofia não é patrimônio de uma classe: todo homem pode filosofar, pois é um “animal racional”. Sua racionalidade significa a possibilidade de procurar a verdade. Em segundo, a Filosofia é investigação racional: é autônoma, não se baseia numa verdade revelada, mas somente na força da razão. O seu limite é a opinião, a tradição e o mito. Além disso, a filosofia significava uma sagacidade de espírito, que guiava as ações. Heródoto e Tucídides usavam a palavra neste sentido quando afirmavam “nós amamos o belo com simplicidade e filosofamos sem receio”, o que exprime a autonomia da pesquisa racional que é a Filosofia. Nestes exemplos aparece um duplo significado da palavra “filosofia”. O primeiro é mais geral, de pesquisa autônoma, racional; o segundo, mais específico, de pesquisa particular e fundamental para as outras ciências. Estes dois significados estão presentes no pensamento de Heráclito de Éfeso: “É necessário que 9 os homens filósofos sejam bons indagadores de muitas coisas”; de Platão, que emprega o termo para indicar a geometria, música e outras disciplinas e quando a contrapõe à sofia, à sabedoria que pertence aos deuses, e à doxa, à opinião vulgar; de Aristóteles, que chama de filosofia primeira o estudo do “ser enquanto ser”, mas que abrange também as ciências, a matemática e a ética. Esta bivalência de significado leva ao sentido original do termo, que é o de pesquisa. Toda pesquisa autônoma é filosofia num sentido geral, e num sentido próprio, é uma pesquisa que põe para si mesma o problema pesquisado. ATIVIDADES: 1. Sobre o surgimento da filosofia na Grécia, duas teses muito comuns entre os historiadores estão hoje ultrapassadas. Identifique e descreva-as sucintamente. 2. A explicação atual mais aceita sobre o surgimento da filosofia identifica, num processo histórico específico, o surgimento do pensamento racional entre os gregos. Desse processo, comente os três elementos apontados: a) Vida urbana; b) Desenvolvimento do comércio e uso da moeda; c) Características do mito grego. 3. É consenso entre os historiadores que a filosofia surgiu em primeiro lugar na Jônia e na Magna Grécia. Identifique essas regiões. TAREFA PARA CASA: A MENTE HUMANA No mundo moderno, multiplicam-se, dia a dia, os mais variados tipos de máquina. No entanto, poucas delas foram capazes de despertar tanto debate como o computador. Isto porque o homem, de repente, viu-se diante de uma máquina que realixava tarefas antes consideradas absoluto privilégio da mente humana. Então começaram a surgir algumas perguntas: seria possível criar-se inteligência em uma máquina? Seria possível o computador fugir ao controle do homem? Antes de propormos quaisquer respostas a estas perguntas, você deverá aprender, algo sobre a mente humana para que possa avaliar os seus mecanismos e funções e depois tecer um paralelo com os computadores. A razão e a inteligência A realidade do universo é imensa. O homem é apenas um dos elementos integrantes de um conjunto infinito de seres que compõe esta realidade. Podemos sentir a realidade que nos cerca através dos órgãos dos sentidos. Estes órgãos fazem parte de um maravilhoso e complexo mecanismo que nos permite ter sensações. Para que se produza uma sensação, é necessário que nossos sentidos sejam excitados por algo proveniente do mundo exterior e esse excitação precisa ter tal intensidade e duração que possa provocar uma modificação orgânica chamada impressão. Finalmente, esta impressão deverá ser conduzida através dos nervos até o cérebro. 1. Conforme você verificou, para que se produza uma sensação, é necessário que ( ) nossos sentidos sejam excitados, não impressionando o organismo. ( ) nossos sentidos sejam excitados de tal forma que impressionem o organismo e que esta impressão seja conduzida até o cérebro. A sensação é o resultado de uma transformação realizada pelo sistema nervoso, que “traduz” a impressão originada pela excitação de nossos sentidos. De que adiantaria o anzol que aprisiona o peixe, se o pescador não percebesse que o peixe foi fisgado? Assim também acontece com o ser humano: de que valeria sentirmos determinada sensação, se não pudéssemos perceber o que a provocou? Através da razão, uma das faculdades mais importantes de nossa mente, tomamos conhecimento da realidade percebendo o fato que provocou nossa sensação. FILOSOFIA – 1º SÉRIE DO ENSINO MÉDIO 10 Observando a ilustração acima você tem a sensação visual do preto. Depois dessa sensação você tem a percepção do desenho de um guarda-chuva. 2. Agora voce já pode dizer que: a. A sensação é _____________________________________________ (anterior; posterior) à percepção. b. A faculdade responsável por nossas percepções _________________ (é; não é) a razão. A razão tem não só a função de perceber os fatos que provocam as sensações, como também de avaliá-los, julgá-los e organizá-los. 3. Certamente, através de sua própria experiência, você já observou que ____________________________________ (tudo; nem tudo) o que existe no universo é totalmente compreendido pela razão A realidade assume diversas facetas que tornam determinados fatos incompreensíveis pela razão, pois esta possui um conhecimento limitado do universo. Mas a razão, minuto a minuto, procura romper estes limites e compreender cada vez mais. É nestes momentos que ela se socorre de outra faculdade de nossa mente, a inteligência. A inteligência é especializada em resolver problemas e ampliar o poder de entendimento da razão. A inteligência, entretanto, não possui “vontade”. Ela é como a lâmpada que ilumina somente quando acionada. A faculdade que aciona a nossa inteligência é a razão. 4. Vimos então que a razão quando não consegue compreender determinados fatos, apela para a _____________________________________________________. A inteligência, para auxiliar a razão, recorre aos seus próprios mecanismos. No entando, a nossa mente possui determinadas funções que nos livram de utilizarmos, a toda hora, a inteligência. Agora vamos estudas estas funções e depois os mecanismos da inteligência. Fatos que a inteligência não precisa explicar 5. É certo que as ações que praticamos repetidas vezes ____________________________________ (tornam-se; não se tornam) automáticas. Chamamos de hábito o costume ou disposição automática que adquirimos pela repetição frequente de um ato. 6. Andar, por exemplo, é um ________________________________________. Determinadas ações que realizamos por hábito (andar, por exemplo) dispensam a presença atuante da inteligência. 7. Então você pode dizer que, quando realizamos determinadas ações por hábito, ___________________________________________________ (necessitamos, não necessitamos) apelar para a nossa inteligência. As ações que realizamos por hábito são automáticas e dispensam a presença da inteligência, que só é colocada em atividade quando temos de enfrentar circunstâncias novas, circunstâncias que nos ofereçam algum problema. O hábito é uma disposição adquiridaatravés da aprendizagem e implica a constante repetição de uma atividade. 8. Portanto você pode concluir que o hábito __________________ (é; não é) inato. Atendendo as necessidades específicas de sua espécie, este passarinho já nasce com disposição automática para construir seu ninho. 9. Então ______________________________ (podemos, não podemos) explicar esta disposição inata do passarinho através do hábito. Seria impossível explicar esta disposição do passarinho para construir seu ninho pelo hábito, uma vez que este é uma disposição adquirida pela aprendizagem. O passarinho constrói o ninho através de um instinto inato. 10. Então, você pode dizer que os instintos são ___________________________________ (inatos; adquiridos) e os hábitos _______________________________ (inatos; adquiridos). Os instintos, por serem inatos, são comuns a todos os exemplares de uma espécie. Por outro lado, os hábitos, por serem adquiridos, podem variar entre os exemplares de uma mesma espécie. Os instintos funcionam como fatores que nos predispõe a garantir a propagação e a preservação da nossa espécie. Como o hábito, também as atividades que realizamos por instinto dispensam a presença atuante da inteligência. Os mecanismos da inteligência Você vai ao colégio ou ao trabalho e, na volta, sabe qual o caminho a seguir em direção a sua casa. Este percurso tornou-se uma rotina e consequentemente um hábito. Você não precisa recorrer a sua inteligência a fim de determinar o caminho de sua casa. 11. Entretanto, se num determinado dia ao voltar para casa alguém encontrar uma árvore tombada em seu caminho, este alguém estará diante de uma ___________________________ (situação nova; rotina). FILOSOFIA – 1º SÉRIE DO ENSINO MÉDIO 11 Uma árvore tombada na rua, impedindo a livre passagem das pessoas, seguramente representa uma situação nova. 12. Supondo-se que tal rua, com a árvore tombada, seja a única que conduza determinada pessoa a seu destino, neste caso esta situação ____________________________ (se constitui; não se constitui) num problema. 13. Se nos surge um problema, ______________________________ (recorremos; não recorremos) a nossa inteligência a fim de resolvê-lo. Existe uma árvore caída na rua e determinada pessoa deve passar por ali. O fato não é costumeiro. Então a inteligência é acionada para resolver a questão. O primeiro passo da inteligência é, justamente, captar aquele algo novo. Chamamos este passo de simples apreensão. 14. Portanto, você pode dizer que o primeiro passo da inteligência é a __________________________________________. Durante a simples apreensão, não tiramos nenhuma conclusão a respeito do problema. É o momento em que ficamos estáticos e percebemos o problema como tal. Passado este momento de simples apreensão, o nosso poder de inteligência continuará em ação e surgirão mentalmente algumas conclusões a respeito do problema. Pela ilustração acima, você nota que o rapaz chegou a conclusões a respeito do problema. 15. Na conclusão “A árvore não é grande”, você percebe uma comparação entre duas ideias: a ideia de árvore e a ideia de _______________________________________. Entre a ideia de árvore e a ideia de grande, existem as palavras não é que indicam uma negação. 16. Então você pode dizer que o rapaz _________________________ (negou; afirmou) à árvore a ideia de grande. Chamamos de juízo a afirmação ou negação que se faz entre duas ideias. 17. Portanto a conclusão “A árvore não é grande” é um _____________________________________________. Veja que, logo após a simples apreensão, a inteligência, comparando duas ideias, começou a formular juízos a respeito do problema, ora afirmando, ora negando algo entre elas. 18. Então você pode dizer que o segundo passo da inteligência é a formulação de _________________________________. Formulando os juízos, isto é, comparando ideias, a nossa inteligência começa a ordená-los procurando chegar a uma conclusão final para solucionar o problema em questão. Chamamos de raciocínio a operação mental que de dois ou mais juízos conclui um outro juízo. 19. Então voce ppode dizer que a operação mental que permitiu ao rapaz chegar à conclusão “Eu consigo pular a árvore” foi o ____________________________________________. A conclusão “Eu consigo pular a árvore” apresentou ao rapaz a solução de um problema que o preocupava. Utilizando-se dos juízos intermediários “seu tronco não é tão grosso” e “não vou me machucar se cair”, o rapaz conseguiu encontrar a solução do problema. Se ele não fosse capaz de formular tais juízos, não poderia chegar à conclusão “Eu consigo pular a árvore”. 20. Então você conclui que o raciocínio __________________________ (se processa; não se processa) através de juízos intermediários para chegar a um juízo final. O raciocínio é a operação mental que, por intermédio de juízos conhecidos, chega a um juízo final, antes desconhecido. Entretanto, a inteligência também consegue, mesmo dispensando juízos intermediários, chegar ao conhecimento dos fatos. Este tipo de conhecimento que dispensa juízos intermediários, chamamos de intuição. 21. Então você conclui que através da intuição chegamos ao conhecimento dos fatos ( ) utilizando juízos intermediários. ( ) de maneira direta e imediata. Através da intuição que nos permite apreender de maneira direta e imediata a estrutura dos fatos, podemos atingir a compreensão da realidade. O conhecimento intuitivo se processa com base em pequenas indicações fornecidas pelos sentidos. Recordando 1. Para que se produza uma ____________________________, é necessário que os nossos sentidos sejamexcitados de tal forma que impressionem o organismo e que esta impressão seja conduzida até o _________________________. 2. Uma das faculdades mais importantes da nossa mente é a ___________________, que nos permite conhecer a realidade percebendo o fato que provocou nossa sensação. 3. Quando a razão não consegue compreender determinados fatos, ela apela para a _____________________. 4. O costume ou disposição automática que adquirimos pela repetição frequente de um ato, chamamos de _____________________________________________. 5. Os intintos funcionam como fatores que nos predispõe a garantir a _____________________________ e a _____________________________ de nossa espécie. 6. São considerados mecanismos da inteligência: _______________________________________________________________, _____________________________ e ________________________________. 7. Quando a inteligência consegue chegar ao conhecimento dos fatos sem utilizar juízos intermediários, dizemos que este conhecimento se deu por _____________________________________. A árvore não é grande. FILOSOFIA – 1º SÉRIE DO ENSINO MÉDIO 12 ENCONTRE AS PALAVRAS V X A M Z K B L I N O B I N T E L I G E N C I A S D N O I H B L S M E C E R C J Q C G K T J D F T U F P F H A B I T O I E L D J E K Z A N R G H Y W I F A N Q P T U P Q G A M C B D O X O V S T 1. A ________________________________________ é a faculdade especializada em resolver problemas. 2. O ________________________________________ é a disposição automática que adquirimos através da repetição frequente de um ato. 3. O ________________________________________ é um fator que nos predispõe a prolongar e preservar nossa espécie. COMPLETANDO O SENTIDO Você deve completar o sentido das frases um, dois e três usando primeiramente um conjunto de palavras do grupo A e depois um conjunto de palavras do grupo B. 1. ATRAVÉS DA RAZÃO 2. A RAZÃO DEPOIS DE PERCEBER 3. A RAZÃO, PARA AMPLIAR A EXTENSÃO DO CONHECIMENTO GRUPO A: OS FATOS QUE PROVOCAM AS SENSAÇÕES TOMAMOS CONHECIMENTO DA REALIDADE E COMPREENDER CADA VEZ MAIS, GRUPO B: SE SOCORRE DA INTELIGÊNCIA. TAMBÉM OS AVALIA, JULGA E ORGANIZA. PERCEBENDO OS FATOS QUE PROVOCAM NOSSAS SENSAÇÕES Agoraescreva as frases completas: 1. ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ 2. ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ 3. ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________ HABITO, INSTINTO OU INTELIGÊNCIA Das atividades relacionadas abaixo, assinale as que realizamos por hábito, as que realizamos por instinto e as que realizamos com auxílio da inteligência. HÁBITO INSTINTO INTELIGÊNCIA Andar de bicicleta Jogar xadrez Saciar a fome Compor uma música Pentear o cabelo Sentir medo Falar Resolver um problema matemático Saciar a sede Construir algo novo Ler Satisfação sexual Tomar banho CONFIRME SEUS CONHECIMENTOS Leia atentamente as sentenção abaixo e assinale com V as verdadeiras e com F as falsas. ( ) O primeiro passo da inteligência é a simples apreensão. ( ) A intuição não dispensa juízos intermediários. ( ) Os atos que realizamos por hábito ou por instinto necessitam da presença marcante da inteligência. ( ) Durante a simples apreensão não tiramos nenhuma conclusão a respeito do problema. ( ) Através da intuição, atingimos a realidade de forma imediata. ( ) Os instintos, por serem inatos, são extremamente variáveis entre os diferentes exemplares de uma mesma espécie. ( ) O raciocínio é uma operação mental que através de juízos desconhecidos chega a um juízo final, anteriormente conhecido. ( ) Impressão é uma modificação orgânica provocada pela excitação de nossos sentidos, que conduzida ao cérebro nos produz sensações. FILOSOFIA – 1º SÉRIE DO ENSINO MÉDIO 13 AULA 6: MITO, POESIA E TEATRO Os homens primitivos não sabiam explicar os fenômenos naturais que ocorriam à sua volta. Um temporal, um terremoto, um eclipse, eram fatos perturbadores para as pessoas da pré- história. Com o passar do tempo, os primitivos desenvolveram histórias baseadas na imaginação para explicar esses fenômenos. Imaginavam então forças extraordinárias que agiam a seu bel prazer, atribuído a estas forças a explicação para tudo o que acontecia na vida das pessoas. Esse tipo de explicação, baseado na imaginação e na crença, é chamado de mito, e o conjunto de mitos de um povo é chamado de mitologia. Inicialmente, os mitos eram passados oralmente de pai para filho, até que alguns poetas da antiguidade resolveram organizar essas histórias e registrá-las em forma escrita, como fizeram os gregos Homero (Ὅμηρος)) e Hesíodo (Ἡσίοδος)). Não sabemos muito sobre Homero (séc. IX a.C.). Alguns estudiosos inclusive duvidam de sua real existência. A ele são atribuídos dois poemas épicos: a Ilíada e a Odisseia. A Ilíada narra o final da guerra de Troia, e seu principal personagem é o herói Aquiles. A Odisseia conta a história do herói Odisseu (ou Ulisses) no seu retorno para casa depois da guerra de Troia. O que chama a atenção nessas histórias relatadas por Homero em seus poemas é o caráter determinista do pensamento grego: todos os fatos narrados nos poemas são premeditados pelos deuses, e os humanos não passam de marionetes nas mãos das divindades. Hesíodo (séc. VIII a.C.) escreveu dois importantes poemas: a Teogonia e Os Trabalhos e os Dias. A Teogonia conta as origens dos deuses (teogonia) e do mundo (cosmogonia). Na mentalidade mitológica grega, os deuses representavam as forças da natureza. Assim, ao mesmo tempo em que essas forças começam a surgir e interagir, o próprio mundo vai emergindo do caos e se organizando. No poema Os Trabalhos e os Dias, Hesíodo explica como é a vida do trabalhador e dá conselhos aos homens sobre a vida cotidiana. No período clássico da cultura grega (séc. V a.C.), outro grupo de poetas reorganizou as história mitológicas na forma de teatro. As peças teatrais eram eventos realizados em homenagem ao deus Dionísio, o deus do vinho, e se classificavam em dois tipos: as comédias, que retratavam situações cotidianas, geralmente com tom irônico e sarcástico; e as tragédias, dramas de heróis e heroínas das histórias mitológicas. Entre os poetas escritores de tragédias, destacamos Ésquilo, Sófocles e Eurípedes. Ésquilo (+- 525 – 455 a.C.) revolucionou o estilo da tragédia, acrescentando mais personagens às histórias, conferindo mais ação e conflito entre eles. Escreveu várias trilogias (séries de três peças teatrais com temática interligada), nas quais o tema das leis da pólis (cidade) era constantemente retomado. Apenas sete de suas peças chegaram a nós: Os Persas, Sete Contra Tebas, As Suplicantes, Agamenon, As Coéforas, As Eumênides e Prometeu Acorrentado. Sófocles (+- 497 – 405 a.C.) mostra em suas tragédias dois tipos de sofrimento: o que decorre do excesso de paixão e o que é consequência do destino. Chegaram até nós as peças: Ájax, Antígona, As Traquínias, Édipo Rei, Electra, Filoctetes, Édipo em Colono. Eurípedes (480 – 406 a.C.) ressaltou em suas obras as agitações da alma humana e em especial a feminina. Tratou de problemas triviais da sociedade grega de seu tempo, com o intuito de moderar o homem em suas ações. Deixou de lado as cenas mitológicas e procurou desenvolver situações cotidianas em suas obras. Suas principais peças são: Alceste, Medeia, As Troianas, Orestes. ATIVIDADES 1. Identifique os temas relativos às narrativas de Ilíada e Odisseia. 2. Identifique os temas relativos aos dois livros escritos por Hesíodo. 3. Qual a relação entre o surgimento do teatro grego e o culto ao deus Dioniso? 4. Pesquise a narrativa contida em uma das grandes tragédias do teatro grego. Registre as ideias principais e elabore com seus colegas cartazes ou tirinhas sobre os principais personagens e eventos a que ela remete. Slide 1 Slide 2 Slide 3 Slide 4 Slide 5 Slide 6 Slide 7 Slide 8 Slide 9 Slide 10 Slide 11 Slide 12 Slide 13
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