Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Banco Central Apresentação Banco central é uma instituição pública que administra o sistema financeiro nacional de um país, bem como é o principal responsável pela estabilidade da moeda, pelo equilíbrio dos preços e pela execução da política monetária. Em poucas palavras, banco central é o “banco dos bancos” e do próprio governo. Atualmente, o banco central é uma das instituições econômicas mais importantes em uma sociedade capitalista, já que deve estabilizar a moeda nacional, manter o desemprego baixo e prevenir a inflação. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai entender o que é um banco central, quais são suas funções econômicas e como essa instituição econômica executa a política monetária do governo central (ou federal). Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever o que é um banco central.• Explicar as funções econômicas de um banco central.• Discutir sobre a política monetária de um banco central.• Desafio Imagine que você é o presidente do Banco Central do Brasil (BCB). Nesse sentido, você é responsável por supervisionar uma série de atividades que são atribuições do BCB. Algumas das principais atribuições do BCB podem ser vistas a seguir. Durante a sua gestão, você tem que colocar essas atribuições para funcionar conforme as situações e os eventos da economia. Sendo assim, responda: Chegou ao BCB a notícia de que o Banco Brasilis solicitou na Justiça brasileira um pedido de falência. Credores reclamam mais de R$ 500 milhões, que vão criar uma turbulência financeira nas demais instituições bancárias do país. Nesse contexto, alguns blogueiros já divulgaram documentos confidenciais de que dois executivos do Banco Brasilis fugiram para o exterior e desviaram mais de R$ 900 milhões em operações fraudulentas. Nessa situação, o que faltou o BCB fazer? Que atribuição precisa ser exercida nesse caso? Como presidente do BCB, o que você pode fazer como representante institucional? Maycon Carbone Nota O BCB tem várias funções de "supervisor e fiscalizador do Sistema Financeiro Nacional (SFN)". Isso inclui, na situação proposta, o BCB executar as seguintes atribuições: - Exercer a fiscalização das instituições financeiras; - Autorizar o funcionamento das instituições financeiras; e - Estabelecer as condições para o exercício de quaisquer cargos de direção nas instituições financeiras. Como presidente do BCB, cabe a força institucional de fazer com que o BCB exerça o seu poder e a sua autoridade de “xerife” no que tange ao cumprimento das normas legais de concorrência, de transparência e de operacionalização dos mercados financeiros e de capitais. Infográfico Veja no infográfico como o Banco Central do Brasil se organiza, em 27 departamentos, para executar suas funções operacionais, fiscalizadoras e técnicas. Conteúdo do livro O banco central é um órgão público que administra a moeda de um país ou de um grupo de países. É popularmente conhecido como o "banco dos bancos" e do próprio governo. Mas por que um país necessita de um banco central? Fundamentalmente, o principal objetivo de muitos dos bancos centrais é a estabilidade da moeda e, consequentemente, dos preços. Nesse sentido, todos os bancos centrais têm diferentes funções econômicas, como, por exemplo, emitir papel-moeda e controlar o fluxo de capitais estrangeiros no país, além de serem os principais responsáveis pela execução da política monetária do governo central (no caso do Brasil, do governo federal). Leia o capítulo Banco Central, da obra Economia Política, base teórica para essa Unidade de Aprendizagem. ECONOMIA POLÍTICA Filipe Prado Macedo da Silva Revisão técnica: Gustavo da Silva Santanna Bacharel em Direito Especialista em Direito Ambiental Nacional e Internacional e em Direito Público Mestre em Direito Professor em cursos de graduação e pós-graduação em Direito Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB -10/2147 S586e Silva, Filipe Prado Macedo da. Economia política [ recurso eletrônico ] / Filipe Prado Macedo da Silva, Ariel Dutra Birnkott, Jaíza Gomes Duarte Lopes; [revisão técnica: Gustavo da Silva Santanna]. – Porto Alegre: SAGAH, 2018. ISBN 978-85-9502-408-3 1. Política econômica. I. Birnkott, Ariel Dutra. II. Lopes, Jaíza Gomes Duarte. III.Título. CDU 338.2 Livro_Economia_Politica.indb 2 24/04/2018 11:11:37 Banco central Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever o que é um banco central. Explicar as funções econômicas de um banco central. Discutir sobre a política monetária de um banco central. Introdução O banco central é uma instituição pública que administra o Sistema Financeiro Nacional (SFN) de um país. Além disso, é o principal responsável pela estabilidade da moeda, pelo equilíbrio dos preços e pela execução da política monetária. Em poucas palavras, o banco central é o “banco dos bancos” e do próprio governo. Atualmente, o banco central é uma das instituições econômicas mais importantes em uma sociedade capitalista, já que deve estabilizar a moeda nacional, manter o desemprego baixo e prevenir a inflação. Neste capítulo, você vai entender o que é um banco central e quais são as suas funções econômicas. Por fim, vai ver como essa instituição econômica executa a política monetária do governo central (ou federal). O que é um banco central? Um banco central é uma instituição pública que administra a moeda de um país ou grupo de países — como é o caso da União Europeia — e controla a oferta de dinheiro, ou seja, a quantidade de dinheiro em circulação. Em poucas palavras, o banco central é o “banco dos bancos” e do próprio governo. C11_Banco_central.indd 1 29/03/2018 14:44:25 Foi na Suécia que surgiu o primeiro banco central do mundo, em 1668. Depois, surgiu também no Reino Unido, em 1694. Na França, o banco central foi criado, em 1800, por Napoleão Bonaparte. Já nos Estados Unidos, o banco central só surgiu em 1913. No Brasil, o banco central foi criado em 1964. E, na atual zona do euro, o Banco Central Europeu foi formado, em 1998, com o propósito de substituir os bancos centrais dos países signatários da moeda europeia (CUKIERMAN, 1996). Mas você sabe qual é o principal objetivo do banco central? Fundamental- mente, o principal objetivo de muitos dos bancos centrais é a estabilidade da moeda e, consequentemente, dos preços. O detalhe é que, em alguns países, os bancos centrais também são obrigados por lei a agir em prol do pleno emprego. Em suma, o banco central contemporâneo deve estabilizar a moeda nacional, manter o desemprego baixo e prevenir a inflação. Hoje, existe um grande debate sobre a independência do banco central em executar esses objetivos. Isso porque, em alguns países, o banco central é influenciado pelas autoridades políticas, que manipulam os dados econô- micos e as políticas monetárias para atingir determinado objetivo político. Ou seja, em termos práticos, os bancos centrais podem tomar decisões não técnicas, afastando-se da razão econômica ou do pragmatismo econômico (MENDONÇA, 2000). Nesse contexto, uma das principais ferramentas de qualquer banco central é estabelecer as taxas de juros — ou seja, o “custo do dinheiro” — como parte da execução de sua política monetária. Em termos práticos, é impor- tante observar que um banco central não é um banco comercial. Assim, um agente econômico não pode abrir uma conta em um banco central ou solicitar um empréstimo. Por ser, geralmente, um órgão público, o banco central não é motivado pelo lucro, mas por interesses mais políticos e técnicos. Assim, o banco central é uma autoridade governamental (com objetivos políticos) que guia a economia nacional (com objetivos técnicos e econômicos) de forma autônoma e inde- pendente. Em outras palavras, o banco central está alinhado aos objetivos da política econômica do país e do governo, entretanto está (ou deve estar)livre de influência política nas operações do dia a dia. Essa linha tênue entre a função política e a função técnica-econômica deve-se ao fato de que, na maioria dos bancos centrais pelo mundo, o seu Banco central2 C11_Banco_central.indd 2 29/03/2018 14:44:25 presidente (ou diretor) é nomeado pelas autoridades políticas — em geral, o presidente do país ou o ministro de economia, finanças ou fazenda. Além disso, em muitos países, ao ser nomeado o presidente (ou o diretor) do banco central, o órgão legislativo nacional é responsável por aprovar o nome, na maioria das vezes submetendo-o a uma sabatina técnica e política. Fundamentalmente, o banco central é responsável pela política monetária do país. Mas um banco central contemporâneo pode ainda acumular uma ampla gama de tarefas, além da política monetária. Portanto, somam-se à gestão monetária do país mais duas atividades principais: a regulamentação e a fiscalização do SFN; outros serviços financeiros de suporte aos agentes econômicos, como pesquisas econômicas. Com relação à política monetária, os bancos centrais afetam diretamente o crescimento e o desenvolvimento econômico ao controlar a liquidez do sistema financeiro. De maneira resumida, os bancos centrais possuem três ferramentas de política monetária (CUKIERMAN, 1996): 1. as reservas compulsórias, que eles controlam a fim de monitorar quanto os bancos possuem para emprestar; 2. as operações de mercado aberto para a compra e a venda de títulos públicos ou de bancos membros, com o intuito de colocar ou retirar moeda do mercado; 3. as taxas de juros, que são fixadas a fim de guiar o “custo” dos em- préstimos, hipotecas, financiamentos e títulos da economia em geral. Como você deve imaginar, executar a política monetária não é uma tarefa fácil para os bancos centrais. Isso ocorre até porque suas atividades pos- suem efeitos internos (ou nacionais), mas as economias sofrem um conjunto variado de efeitos adversos externos, ou seja, efeitos que são produzidos no exterior e que afetam a economia nacional. Muitas vezes, os efeitos da gestão monetária levam meses para fluir pela economia. Atualmente, o foco das políticas monetárias é sempre o controle da inflação — que é vista como uma “praga” econômica. Já a regulamentação e a fiscalização do SFN impõem aos bancos centrais a difícil tarefa de evitar que a economia seja afetada por riscos adversos que produzam “efeitos negativos em cadeia” no sistema financeiro. Basicamente, isso envolve monitorar as atividades das instituições financeiras, com o 3Banco central C11_Banco_central.indd 3 29/03/2018 14:44:25 intuito de garantir a estabilidade financeira e proteger os fundos dos depo- sitantes. Além disso, os bancos centrais monitoram as “falhas” do mercado a fim de antecipar possíveis crises financeiras (e bancárias). Por fim, os bancos centrais fornecem serviços financeiros de suporte aos agentes econômicos, sobretudo para as instituições financeiras e o governo nacional. Por exemplo, os bancos centrais normalmente cuidam das moedas estrangeiras, armazenando-as para controlar o fluxo financeiro para o exterior e as relações de câmbio com elas. Além disso, é comum os bancos centrais produzirem estatísticas financeiras da economia, a partir de pesquisas econômicas sobre o comportamento da atividade produtiva, dos depósitos, do crédito e do financiamento, da inflação, entre outros (KISHTAINY et al., 2013). Banco Central do Brasil O Banco Central do Brasil (BCB) foi criado em 1964, pela Lei nº. 4.595. O BCB surgiu no pacote de reformas fi nanceiras executadas pelo governo militar que, naquele momento, ocupava o poder central no Brasil. Foi estabelecido que o BCB seria, e ainda é, uma autarquia federal, vinculada ao Ministério da Fazenda — que é a “pasta” do governo federal responsável por administrar a economia e as fi nanças do país. Dentro do SFN brasileiro, o BCB tem o escopo de executar as orientações do Conselho Monetário Nacional (CMN). Acompanhando a tendência mundial, o BCB administra a política monetária, a política cambial, a política de crédito e as relações financeiras com o exterior. Além do mais, exerce a regulação e a supervisão do SFN, além de administrar o Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) e os serviços do meio circulante (SANDRONI, 2005). Nesse sentido, o BCB tem a missão de assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda nacional e um sistema financeiro sólido e eficiente (SANDRONI, 2005). Para isso, a sede do BCB está em Brasília, a capital política do país. A ideia, portanto, é manter uma comunicação transpa- rente e permanente com as demais autoridades políticas e econômicas do governo federal. Em síntese, o BCB opera nos moldes dos bancos centrais internacionais e em conformidade com as normativas e as recomendações internacionais. Banco central4 C11_Banco_central.indd 4 29/03/2018 14:44:25 No Brasil, o BCB administra o SPB. Mas você sabe o que é o SPB? Segundo informações do próprio BCB (BANCO CENTRAL DO BRASIL, c2018), o SPB compreende as instituições financeiras, os sistemas (reais e eletrônicos) e os procedimentos relacionados com o processo, o processamento e a liquidação das operações de transferência de fundos, de operações com moeda estrangeira ou com ativos financeiros e valores mobiliários. Em poucas palavras, é tudo o que envolve, de ponta a ponta, as transações financeiras e, consequentemente, as comunicações entre os agentes econômicos e as instituições financeiras. Assim, são integrantes do SPB os serviços de compensação de cheques, de com- pensação e liquidação de ordens eletrônicas de débito e crédito, de transferência de fundos e outros ativos financeiros, de compensação e de liquidação de operações com títulos e valores mobiliários, de compensação e de liquidação de operações realizadas em bolsas de mercadorias e de futuros, e outros, chamados de entidades operadoras de Infraestruturas de Mercado Financeiro (IMF) (BANCO CENTRAL DO BRASIL, c2018). Funções econômicas de um banco central Como você viu anteriormente, os bancos centrais possuem diversas funções econô- micas. Essas funções podem variar de país para país — mas, em geral, referem-se ao controle da quantidade de moeda na economia e à estabilidade de preços. No caso brasileiro, o BCB tem diversas atribuições ou funções econômicas, entre as quais você pode considerar: emitir papel-moeda e moeda metálica; executar os serviços do meio circulante; exercer o controle de crédito; receber recolhimentos compulsórios e voluntários das instituições financeiras; realizar operações de redesconto e empréstimo às instituições financeiras; regular a execução dos serviços de compensação de cheques e outros papéis; efetuar operações de compra e venda de títulos públicos federais; exercer a fiscalização das instituições financeiras; 5Banco central C11_Banco_central.indd 5 29/03/2018 14:44:25 autorizar o funcionamento das instituições financeiras; estabelecer as condições para o exercício de quaisquer cargos de direção nas instituições financeiras; vigiar a interferência de outras empresas nos mercados financeiros e de capitais; controlar o fluxo de capitais estrangeiros no País. A seguir, você vai ver cada uma dessas funções. A mais clássica das funções econômicas que o BCB possui é a de emitir papel-moeda e moeda metálica. Em outras palavras, o BCB é responsável por controlar o “volume de moeda física” no País. Assim, ele fornece o numerário necessário para que as instituições bancárias atendam a socie- dade em geral — pessoas físicas e jurídicas. No Brasil, o BCB controla a emissão do papel-moeda e da moeda metálica, mas quem imprime é a Casa da Moeda do Brasil. Outra função econômica do BCB é a execução dos serviços do meio circu- lante. Ou seja, o BCB gerencia o ciclo do numerário na economia brasileira. Em poucas palavras, ele efetua a supervisão do numerário por meio de fiscalizações“nas instituições custodiantes” — no caso brasileiro, o Banco do Brasil. Além disso, o BCB exerce o controle de crédito na economia brasileira. Isso quer dizer que ele é o órgão responsável por controlar o fluxo de crédito disponível no País para empréstimos e financiamentos. Para isso, utiliza os instrumentos de política monetária a fim de fazer com o crédito seja ora expansionista, ora contracionista — conforme as demandas da política eco- nômica do governo. Assim, somente o BCB tem os instrumentos adequados para controlar a oferta de crédito no Brasil. Paralelamente, o BCB cuida dos recolhimentos compulsórios e voluntários das instituições financeiras do SFN. Assim, o BCB é o custodiante nacional das reservas bancárias obrigatórias e voluntárias. Nesse contexto, o BCB é o único órgão do SFN que pode realizar operações de redesconto e empréstimos às instituições financeiras. Mesmo quando as instituições financeiras bancárias realizam empréstimos entre si, por meio do “interbancário”, o BCB é o responsável por autorizar e supervisionar tal operação, para manter o equilíbrio do SFN (SANDRONI, 2005). O BCB também regula a execução dos serviços de compensação de cheques e outros papéis do SFN. A execução da compensação segue os parâmetros de comunicação e as normativas estabelecidas pelo BCB. Essa Banco central6 C11_Banco_central.indd 6 29/03/2018 14:44:25 atividade é fundamental para dar transparência e confiabilidade às transações realizadas pelos agentes econômicos nas mais diferentes instituições finan- ceiras. Essa compensação de cheques e de outros papéis entre instituições financeiras é determinante para o funcionamento do SFN. Também é função econômica do BCB efetuar as operações do mercado aberto (ou open market), que são a compra e a venda de títulos públicos federais. É importante você notar que o governo federal se financia por meio de títulos da dívida pública federal — o que significa “pegar dinheiro emprestado na sociedade”. E, na prática, quem executa essa “mesa de ope- rações” para o governo federal é o BCB. Outra função clássica e muito importante dos bancos centrais, e que o BCB também exerce no Brasil, é a autorização para o funcionamento e a fiscalização (continuada) das operações das instituições financeiras. Assim, o BCB tem a “tutela” das instituições financeiras — bancárias e não bancárias — que operam nos mercados de moeda, de crédito, de capitais e de câmbio. Além dessas duas funções — de autorização para funcionamento e de fiscalização —, o BCB também monitora e estabelece as condições (mínimas necessárias) para o exercício de quaisquer cargos de direção nas instituições financeiras que operam no Brasil. Logo, o BCB tem o poder legal para retirar e/ou proibir que pessoas físicas sem condições ocupem os cargos de direção nas instituições financeiras e coloquem-nas em risco operacional. O BCB vigia ainda a interferência de outras empresas nos mercados finan- ceiros e de capitais. Ou seja, juntamente com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o BCB tem o papel de “xerife” no que tange ao cumprimento das normas legais, de concorrência, de transparência e de operacionalização dos mercados financeiros e de capitais. O BCB protege o mercado contra fraudes, informações privilegiadas e esquemas de corrupção financeira. Por fim, o BCB tem a função financeira de controlar os fluxos de capitais estrangeiros que saem e que acessam o País, sejam eles para investimentos diretos ou para investimentos especulativos. O fato é que o BCB, em razão de o real ser uma “moeda legal”, tem o controle sobre as moedas estrangeiras que entram e que saem do País — o que significa fiscalizar os bancos de câmbio ou as casas de câmbio. 7Banco central C11_Banco_central.indd 7 29/03/2018 14:44:25 No Brasil, o real (R$) é considerado uma “moeda legal”. Mas você sabe o que é uma moeda legal? A moeda legal é aquela emitida pelas autoridades monetárias de um país e que circula com curso forçado, isto é, por força de lei, e não pode ser recusada para efetuar pagamentos. No caso brasileiro, a lei impede que outra moeda (estrangeira) seja usada para liquidar operações no País. E isso faz com que o real seja utilizado cotidianamente pelos agentes econômicos. Política monetária de um banco central A política monetária se refere à atuação do governo sobre a quantidade de moeda, de crédito e de taxas de juros. Atualmente, a política monetária é uma das formas mais utilizadas pelos governos para intervir na economia e alcançar os objetivos macroeconômicos (VASCONCELLOS, 2009). Nas economias modernas, quem executa a política monetária é o banco central do país. Nesse sentido, as autoridades políticas estabelecem as metas macroeco- nômicas, que são cotidianamente executadas pelo banco central e por auto- ridades monetárias indicadas pelas autoridades políticas. Ou seja, a política monetária combina elementos políticos e elementos técnico-econômicos. Em termos práticos, os técnicos e os analistas do BCB, por exemplo, são os que executam os grandes objetivos da política monetária determinada pelas autoridades políticas. Atualmente, a política monetária pode ser definida como o controle da oferta de moeda e das taxas de juros. O objetivo sempre é defender a estabilidade da moeda e dos preços, evitando que a inflação destrua a confiabilidade na moeda e, logo, o seu poder de compra. Nesse sentido, o controle da liquidez do sistema econômico pode ser expansionista ou contracionista (CUKIERMAN, 1996). Em uma política monetária expansionista, a quantidade de moeda em circulação é aumentada e o crédito “barateado”, com o objetivo de aquecer a demanda e promover o crescimento econômico. Enquanto isso, na política monetária contracionista, a quantidade de moeda em circulação é diminuída (ou mantida estável) e o crédito fica mais custoso, com o propósito de desaquecer a economia e evitar o aumento dos preços (ou a inflação) (SANDRONI, 2005; VASCONCELLOS, 2009). Banco central8 C11_Banco_central.indd 8 29/03/2018 14:44:26 A escolha da política monetária depende dos projetos políticos das autoridades políticas, e não somente das recomendações dadas pelas autoridades monetárias. No Brasil, basicamente, o BCB dispõe de cinco instrumentos para con- cretizar a política monetária. Esses instrumentos são algumas das funções econômicas: controle ao crédito; reservas compulsórias ou taxa de reserva, que é o percentual sobre os depósitos que as instituições bancárias devem reter junto ao BCB; compra e venda de títulos públicos (open market); redescontos, que são empréstimo do BCB para as instituições bancárias; definição da taxa de juros. No controle ao crédito, o BCB tem instrumentos técnicos para incentivar ou restringir o crédito — para empréstimos ou financiamentos — sobre alguns setores da economia. Em termos práticos, o controle pode ser do volume e/ou do preço do crédito disponível. Por exemplo, se o governo deseja expandir a indústria da tecnologia, poderá criar incentivos para a concessão de créditos aos empreendimentos que já funcionam e para o surgimento de novos negócios digitais. Já se o BCB deseja restringir o consumo de determinado segmento da economia, utiliza instrumentos que restrinjam o acesso ao crédito desse segmento econômico. Em síntese, o BCB poderá arbitrar condições de crédito diferenciadas. As reservas compulsórias ou taxas de reserva são parte dos depósitos que as instituições bancárias devem reter junto ao BCB. Essa ferramenta de política monetária tem o propósito de aumentar ou reduzir o poder que as instituições bancárias — como os bancos múltiplos e os bancos comerciais — possuem de multiplicar a moeda em circulação. É importante você observar que as instituições bancárias multiplicam a moeda mediante os empréstimos — que podem aumentar ou reduzir a liquidez da economia. Logo, quanto maior a taxa de reserva do BCB, menor será a capacidade das instituições bancáriasde emprestarem e vice-versa. 9Banco central C11_Banco_central.indd 9 29/03/2018 14:44:26 Na compra e venda de títulos públicos, o BCB pode colocar e tirar mo- eda da economia com a operação de títulos públicos, que são considerados investimentos de médio e longo prazos. Nesse contexto, ao comprar títulos públicos, o BCB coloca no mercado mais moeda em circulação, gerando uma política monetária expansionista. Já se o BCB vende títulos públicos ao mercado, ele retira moeda de circulação, executando uma política monetária contracionista (SANDRONI, 2005). No caso dos redescontos, o BCB realiza operações de empréstimos com as instituições bancárias. Essas operações de empréstimos possuem um custo, que é a taxa de redesconto. Assim, o BCB funciona como o “banco dos bancos”, com a finalidade de atender às necessidades momentâneas de caixa, em geral no curto prazo. Se a taxa do redesconto é baixa e o prazo de pagamento é longo, as instituições bancárias podem se expor a riscos maiores, aumentando os empréstimos e a quantidade de moeda em circu- lação. Nesse caso, seria uma política monetária expansionista. Agora, se a taxa do redesconto é alta e o prazo de pagamento é curto, as instituições bancárias não podem se expor a riscos, diminuindo os empréstimos e a quantidade de moeda em circulação. Nessa situação, seria uma política monetária contracionista. Finalmente, a definição da taxa de juros, por meio do Comitê de Política Monetária (COPOM), permite que o BCB regule o custo do dinheiro na economia brasileira. Na prática, a taxa de juros tem efeito direto sobre a pou- pança — influenciando a remuneração do capital — e sobre os investimentos — influenciando o custo do capital (VASCONCELLOS, 2009). Se o foco do BCB for uma política monetária contracionista, a elevação da taxa de juros reduzirá a liquidez da economia. Ou seja, ela diminuirá a quantidade de moeda em circulação ao estimular a poupança com melhores rendimentos (para poupadores) e elevar os custos dos investimentos (para as empresas). Ao contrário, se o foco for uma política monetária expansio- nista, a redução da taxa de juros elevará a liquidez da economia, ou seja, aumentará a quantidade de moeda em circulação. Nesse caso, acontecerá o estímulo do consumo (dos tomadores de crédito) e dos investimentos (para empresas). Banco central10 C11_Banco_central.indd 10 29/03/2018 14:44:26 BANCO CENTRAL DO BRASIL. Visão geral do sistema de pagamentos brasileiro. Brasília, DF, c2018. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/htms/novaPaginaSPB/VisaoGe- ralDoSPB.asp>. Acesso em: 20 jan. 2018. CUKIERMAN, A. A economia do Banco Central. Revista Brasileira de Economia, Rio de Janeiro, v. 50, n. 4, p. 389-426, out./dez. 1996. KISHTAINY, N. et al. O livro da economia. São Paulo: Globo, 2013. MENDONÇA, H. F. A teoria da independência do Banco Central: uma interpretação crítica. Estudos Econômicos, São Paulo, v. 30, n. 1, p. 101-127, jan.-mar. 2000. SANDRONI, P. Dicionário de economia do século XXI. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2005. VASCONCELLOS, M. A. S. Economia: micro e macro. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009. Leituras recomendadas BANCO CENTRAL DO BRASIL. Organograma. Brasília, DF, c2018. Disponível em: <http:// www.bcb.gov.br/Adm/sobre/port/organograma.asp>. Acesso em: 20 jan. 2018. BRASIL. Lei nº. 4.595, de 31 de dezembro de 1964. Brasília, DF, 1964. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4595.htm>. Acesso em: 20 jan. 2018. 11Banco central C11_Banco_central.indd 11 29/03/2018 14:44:26 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo: Dica do professor O vídeo a seguir vai mostrar a você uma síntese da história do Banco Central do Brasil. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/eee071fff974d422c0fa19a413a44ca7 Exercícios 1) O que é um banco central? A) Um banco central é uma instituição privada, com fins lucrativos, que administra a moeda de um país. É um banco como outro banco qualquer; só tem o nome de "central" porque é o maior da economia. B) Um banco central compreende as instituições financeiras, os sistemas (reais e eletrônicos) e os procedimentos relacionados com o processo, o processamento e a liquidação das operações de transferência de fundos, de operações com moeda estrangeira ou com ativos financeiros e valores mobiliários. C) Um banco central tem a função apenas de administrar, imprimir e recolher o papel-moeda e a moeda metálica de um país. D) O banco central é uma instituição pública que administra a moeda de um país ou grupo de países, mas isso não afeta direta ou indiretamente o crescimento e o desenvolvimento econômico. E) Um banco central é uma instituição pública que administra a moeda de um país ou grupo de países, como é o caso da União Europeia, e controla a oferta de dinheiro – a quantidade de dinheiro em circulação. Em poucas palavras, o banco central é o “banco dos bancos” e do próprio governo. 2) Quais são as funções econômicas do Banco Central do Brasil (BCB)? A) O BCB é um órgão de normatização e deliberação do Sistema Financeiro Nacional. B) O BCB é responsável por elaborar a política monetária do país. C) O BCB realiza a fiscalização das instituições financeiras e autoriza o seu funcionamento, bem como estabelece as condições para o exercício de quaisquer cargos de direção nas instituições financeiras privadas. D) O BCB não opera os títulos públicos; quem realiza essa operação é a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Maycon Carbone Realce Maycon Carbone Realce E) No Brasil, o fluxo de capitais estrangeiros é livre, sendo que nenhuma autoridade governamental, o que inclui o BCB, faz o controle dessa atividade. 3) Das diferentes funções econômicas do Banco Central do Brasil, é correto afirmar que: A) O BCB exerce o controle de crédito na economia brasileira. Isso quer dizer que o BCB é o custodiante internacional das reservas bancárias obrigatórias e voluntárias no país. B) O BCB tem a função de fornecer serviço de transporte de valores para recolher os cheques e outros papéis que são utilizados nas compensações financeiras no Sistema Financeiro Nacional. C) O BCB não se preocupa com a interferência de outras empresas nos mercados financeiros, até porque possíveis riscos financeiros são investigados pelas autoridades políticas e policiais. D) A mais clássica das funções econômicas que o BCB possui é a de emitir papel-moeda e moeda metálica. E) O BCB não tem o papel de socorrer financeiramente as instituições bancárias do Sistema Financeiro Nacional. 4) Em relação à política monetária de um banco central, é correto afirmar que: A) Não é função do banco central cuidar da estabilidade da moeda e dos preços. B) Ao operar na economia, a liquidez não é uma preocupação do BCB em sua política monetária. C) O BCB, ao executar a política monetária, não sofre qualquer influência política das autoridades políticas. A política monetária é uma política econômica exclusivamente técnica. D) Para executar uma política monetária expansionista, o BCB amplia a quantidade de moeda em circulação e deixa o crédito mais barato. E) A política monetária executada pelo BCB só afeta o mercado de moeda, de crédito, de capitais e de câmbio, não atingindo a economia como um todo. 5) Quais são os instrumentos de política monetária que o Banco Central do Brasil tem à disposição? A) Controle de crédito, impostos, open market, ações de empresas públicas e taxas de juros. Maycon Carbone Realce Maycon Carbone Realce B) Controle ao crédito, reservas compulsórias, open market, redesconto e taxa de juros. C) Controle da produção, impostos, open market, redesconto e impressão de papel-moeda e moedas metálicas. D) Controle da produção, reservas de capitais dasempresas, open market, redesconto e taxa de juros. E) O único instrumento do BCB é a definição da taxa de juros. Maycon Carbone Realce Na prática O banco central contemporâneo é responsável, em boa parte dos países, por controlar o meio circulante na economia. O meio circulante é a disponibilidade de papel-moeda e moeda metálica na economia. No Brasil, o Banco Central do Brasil é quem realiza o gerenciamento do ciclo do numerário. Mas como funciona isso na prática? Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: O que é o Banco Central e o que isso tem a ver com você. Uma síntese didática de como funciona o Banco Central do Brasil. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. Políticas Monetária, Cambial e Bancária no Brasil sob a gestão do Conselho da Sumoc, de 1945 a 1955. Para entender a história que antecede a criação do Banco Central do Brasil. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. A teoria da independência do Banco Central: uma interpretação crítica. Debate sobre a independência do Banco Central nas economias capitalistas. Aponte a câmera para o código e acesse o link do vídeo ou clique no código para acessar. https://www.youtube.com/embed/asWtS5XTIYY https://www.bcb.gov.br/pre/Historia/HistoriaBC/2005-joao_sidney.pdf https://www.revistas.usp.br/ee/article/view/117611
Compartilhar