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UNIP - UNIVERSIDADE PAULISTA DAURENY SILVA DOS REIS O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO GARANTE AO PRESO O CUMPRIMENTO DA PENA COM RESPEITO AOS DIREITOS HUMANOS? Piúma-ES Outubro de 2021 DAURENY SILVA DOS REIS O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO GARANTE AO PRESO O CUMPRIMENTO DA PENA COM RESPEITO AOS DIREITOS HUMANOS? Trabalho de curso para a obtenção do título de graduação em Sociologia apresentado à Universidade Paulista Orientador: Prof. Bruno César dos Santos. Piúma- ES Outubro de 2021 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3 2. JUSTIFICATIVA.......................................................................................................4 3. OBJETIVOS GERAIS .............................................................................................. 4 3.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS..................................................................................4 3.2 METODOLOGIA .................................................................................................... 5 4. CENÁRIO PRISIONAL BRASILEIRO......................................................................5 5. DIREITOS HUMANOS: BREVE HISTÓRICO E CONCEITUAÇÃO........................7 6. A REALIDADE DO SISTEMA PRISIONAL CAPIXABA...........................................7 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................10 REFERÊNCIAS..........................................................................................................11 03 1. INTRODUÇÃO. É notório que a pessoa presa possui o direito de liberdade cerceado pelo Estado, no entanto, a sanção imposta pelo Estado-juiz atinge tão somete o direito de locomoção do condenado, não devendo restringir os demais direitos constitucionais do cidadão preso. Os direitos humanos são o conjunto de direitos básicos inerentes a toda pessoa humana como, por exemplo, o respeito à dignidade, à integridade física e à saúde. Aos presos são garantidos todos os direitos não atingidos pela sentença judicial, além das garantias penais e processuais expressas na lei. A problemática que envolve os direitos humanos no contexto do sistema prisional brasileiro envolve diversos fatores como a superlotação das celas, falta de estrutura física das unidades prisionais e a ausência do Estado nas prestações das assistências. Além disso, soma-se a violência institucionalizada praticada pelo Estado e seus agentes como agressões físicas e psicológicas com o pretexto da preservação da ordem e disciplina. A presente pesquisa cientifica discute as constantes violação aos direitos humanos da pessoa presa e seus reflexos à sociedade em geral. Além disso, busca- se discutir a realidade do sistema penal, principalmente em relação a efetivação dos direitos humanos, e a incapacidade do poder público em controlar e promover um ambiente digno e saudável na execução penal. O projeto foi organizado por tópicos sendo o primeiro denominado o ‘’cenário prisional brasileiro’ ’que discute de maneira generalizada o sistema penitenciário nacional, o segundo ‘’ Direitos Humanos: Breve histórico e conceituação’’ e, por fim, o terceiro tópico denominado ‘’A realidade do sistema prisional capixaba’’, onde se discute a problemática relacionada a aplicação dos direitos humanos no Estado do Espirito Santo (local da pesquisa). 04 2. JUSTIFICATIVA. A produção deste trabalho se justifica pelas constantes ilegalidades cometidas contra a população carcerária brasileira, refletindo diretamente nos índices de violência e criminalidade praticadas contra a sociedade, tendo em vista que após o cumprimento de sua pena, o preso retorna ao convívio social revoltado e mais agressivo. Ademais, a lei impõe o caráter ressocializador à pena, elencando uma série de ações e assistências direcionadas ao preso de responsabilidade do Estado cuja a finalidade é a prevenção do crime e o retorno ao convívio social. No entanto, a realidade do sistema penal é oposta a determinação legal, tornando o período de cumprimento da pena em um momento de aflição e sofrimento, trazendo dor e angústia aos detentos e seus familiares. 3. OBJETIVO GERAL. O objetivo geral do trabalho é a análise da violação aos direitos humanos no sistema prisional brasileiro. Além disso, a construção textual busca verificar se as ações Estatais em relação ao tratamento penal nos estabelecimentos prisionais condizem com as determinações legais e qual é a realidade dos direitos humanos nas cadeias e presídios brasileiros. 3.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS. º identificar e avaliar a efetivação dos direitos humanos no sistema penitenciário brasileiro. º avaliar se o Estado cumpre o seu papel legal de propiciar condições dignas aos apenados durante o cumprimento da pena. 05 3. 2 METODOLOGIA. O estudo foi realizado utilizando-se a bibliografia que versa sobre o assunto direitos humanos no sistema prisional, além de pesquisa em outras fontes como jornais e revistas, como também outros trabalhos científicos com a mesma temática. Além disso, foi realizado entrevistas com servidores e familiares de detentos do Centro de Detenção provisória de Cachoeiro de Itapemirim-ES, apesar de ser uma amostra, traduz nitidamente a realidade do sistema prisional brasileiro. A metodologia de pesquisa utilizada no estudo e de caráter exploratório, sendo a abordagem qualitativa. 4. CENÁRIO PRISIONAL BRASILEIRO. O sistema prisional brasileiro há anos vive um contexto de desordem e desrespeito aos direitos humanos. São frequentes as manchetes jornalísticas que noticiam rebeliões, mortes e motins dentro das unidades penais, na maioria dos casos os presos reivindicam melhores condições de estadia, alimentação e tratamento mais digno por parte dos agentes de segurança e da administração penitenciária. Dotti (2015, p.6) esclarece as principais causas dos conflitos dentro dos presídios: O rádio, a televisão, os jornais e as revistas têm mostrado que em todas as rebeliões de presos existem duas denúncias absolutamente iguais: a superlotação dos cárceres e a violação de direitos fundamentais. A crise carcerária constitui um antigo problema penal e penitenciário, com acentuado cariz criminológico. Ela é determinada, basicamente, pela carência de estruturas humanas e materiais e tem provocado nos últimos anos um novo tipo de vitimidade de massa. O presidiário é, a maioria das vezes, um ser errante, oriundo dos descaminhos da vida pregressa e um usuário da massa falida do sistema. 06 De acordo com o art. 3º da lei 7.210 (lei de execução penal), ‘’ ao condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos não atingidos pela sentença ou pela lei’’, porém, verifica-se uma série de abuso por parte do Estado e seus agentes, restringindo o acesso a itens básico para a manutenção da vida como produtos de higiene e limpeza, más condições de conservação das celas e carceragens, além de falta de acesso a atendimento médico e farmacêutico. Nesse contexto, Carvalho (2001, p. 169) esclarece: Apesar do processo formal de jurisdicionalização instaurado pela LEP em 1984, criando alguns instrumentos e canais para tutela do apenado, as reivindicações da massa carcerária são totalmente sufocadas ou desprezadas pelas autoridades administrativas e judiciárias, sob a alegaçãode necessidade de manutenção da ordem, representada neste universo pelos signos da disciplina e da segurança. Assim, percebe-se a institucionalização da violência como meio para resolver a problemática do sistema penal e, assim, esconder suas mazelas. No mesmo sentido afirma Greco (2011, p.103): Veja-se, por exemplo, o que ocorre com o sistema penitenciário brasileiro. Indivíduos que foram condenados ao cumprimento de uma pena privativa de liberdade são afetos, diariamente, em sua dignidade, enfrentando problemas como superlotação carcerária, espancamentos, ausência de programas de reabilitação, falta de cuidados médicos, etc. A ressocialização do egresso é uma tarefa quase impossível, pois não existem programas governamentais para a sua reinserção social, além do fato de a sociedade, hipocritamente, não perdoar aquele que já foi condenado por ter praticado uma infração penal. Soma-se a todo esse cenário calamitoso e de ausência do poder estatal, a formação e enraizamento de facções criminosas que garantem seu poder dentro e fora do recinto penal com o uso de violência, financiando ações delituosas como roubos e tráfico de drogas, aterrorizando toda a sociedade, principalmente a população mais carente que vivem nas periferias. 07 5. DIREITOS HUMANOS: BREVE HISTÓRICO E CONCEITUAÇÃO. O conceito de direitos humanos compreende os direitos básicos assegurados a todos indivíduos, independentemente de cor, raça, nacionalidade ou quaisquer outras características, bastando apenas que seu titular seja uma pessoa humana. Após a 2ª Guerra mundial, com o objetivo de preservar as gerações futuras das atrocidades ocorridas nos campos de batalhas, a Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, sendo um referencial para a defesa dos direitos fundamentais do indivíduo. No Brasil, a promulgação da Constituição Federal de 1988 foi um marco na positivação dos direitos humanos no sistema jurídico nacional, o art. 5 ª ao tratar dos direitos e garantias fundamentais rompeu com a antiga ordem vigente de opressão e perseguição imposta pela ditadura militar. No contexto do sistema prisional, a promulgação da lei 7210/84(lei de execução penal) foi um grande avanço para o tratamento penal, pois além do propósito punitivo adicionou-se o objetivo ressocializador, ou seja, retornar o indivíduo delinquente ao convívio social de maneira produtiva, respeitando as leis e normas sociais. 6. A REALIDADE DO SISTEMA PRISIONAL CAPIXABA. O estado do Espirito Santo possui uma população carcerária composta por 23 mil presos distribuídos entres regimes fechado, semiaberto e provisório. Ao todo a superlotação supera os 10.000 presos que se amontoam nas 35 unidades prisionais distribuídas pelo Estado. Além do problema da falta de espaço dentro das celas, a população carcerária sofre com a propagação de doenças infecciosas, que inevitavelmente contagia a grande parte dos indivíduos que dividem espaço no minúsculo cubículo. Segundo Assis (2007), “a superlotação das celas, sua precariedade e sua insalubridade tornam as prisões um ambiente favorável à propagação de epidemias e ao contágio de doenças”. 08 Outros problemas encontrados no sistema penitenciário capixaba são a falta de assistência médica-farmacológica, precariedade nas estruturas físicas dos presídios, além do desamparo do ente estatal em fornecimento de produtos de higiene e limpeza. Em contraposição a todos esses fatos, tem-se o texto do art. 10 da lei de execução penal que diz: Art.10. A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade. Parágrafo único. A assistência estende-se ao egresso. Art.11. A assistência será: I – material; II- à saúde; III- jurídica; IV – educacional; V- social; VI- religiosa Apesar de alguns setores da sociedade entenderem que as assistências prestadas ao preso são regalias e, portanto, não deveriam existir, na realidade esses auxílios constituem elementos essenciais na prevenção do crime e recuperação do indivíduo delinquente, devolvendo a dignidade ao transgressor, refletindo diretamente em seu comportamento. Segundo Barata (2007, p.2): Não se pode conseguir a reintegração social do sentenciado através do cumprimento da pena, entretanto se deve buscá-la apesar dela; ou seja, tornando menos precárias as condições de vida no cárcere, condições essas que dificultam o alcance dessa reintegração. O preso ao adentrar no cárcere não tem somente seu direito à liberdade cerceado pelo Estado, uma série de outras garantias são restringidas sem previsão legal, fazendo com que a pena não cumpra seu objetivo ressocializador. Alexandre de Moraes (2005, p.338) entende que: 09 O preso, porém, continua a sustentar os demais direitos e garantias fundamentais, por exemplo, a integridade física e moral (CF, art. 5 º, III,V, Xe LXIV), à liberdade religiosa ( CF, art 5º, VI),ao direito de propriedade (CF, art 5º,XXXII), entre inúmeros outros, e , em especial, aos direitos à vida e à dignidade humana[...]. Outro ponto de destaque é o frequente abuso por parte dos servidores da administração penitenciária, impondo sanções não previstas em lei, inclusive físicas aos apenados. Relatos de tortura e maus tratos são frequentes, causando ódio e revolta aos presos. Atrás de toda essa problemática que envolve o sistema penitenciário, observa- se uma política de encarceramento que permeia o sistema de justiça capixaba, impondo severas penas a indivíduos acusados de pequenos delitos, em detrimento de medidas alternativas como o monitoramento eletrônico. Ademais, é visível a ausência do Estado na promoção da saúde, bem-estar e um ambiente que assegure a dignidade da pessoa humana, ao contrário disso, o que se perceber é a hostilidade, violência, e a ineficiência em um local onde mais do que nunca o poder público deveria olhar com mais atenção, garantindo a aplicação das leis. 10 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS. É impraticável esgotar a temática dos direitos humanos no sistema penitenciário devido à complexidade e peculiaridade do tema. Apesar disso, é possível concluir que embora exista uma vasta legislação que garante o acesso aos direitos fundamentais aos indivíduos presos, o Estado é omisso em garantir a e promover tais direitos. Além de privar a pessoa presa dos seus direitos e garantias fundamentais, o Estado pune novamente o indivíduo impondo condições de vida desumana, alojando-o em um ambiente insalubre, sem as mínimas condições de higiene e saúde. O presente estudo buscou demonstrar a realidade do sistema penitenciário brasileiro e as mazelas que a população carcerária é submetida. Nesse sentido, é indubitável que o sistema prisional brasileiro é ineficaz na imposição da repreenda estatal em harmonia com os direitos humanos, impondo uma pena que ultrapassa os limites da lei. Apesar do dano causado à sociedade, o indivíduo preso tem o direito de ter direitos. É notório que com o aumento dos casos de violência e criminalidade gere certo desprezo por parte da sociedade para as mazelas que vive a massa carcerária, no entanto, é preciso uma mudança de mentalidade, pois faz-se necessário devolver o indivíduo ao convívio social melhor do que quando ingressou no sistema. O problema do sistema penitenciário está longe de ser resolvido, fatores como corrupção, falta de vontade política e despreparo fazem com que o caos impere nos presídios e cadeias públicas pelo Brasil afora. Porém, faz-se necessário a atuação mais intensa da sociedade civil cobrando melhoriasdas condições de vida nas cadeias, com respeito à dignidade humana, além do exercício mais eficaz dos órgãos de fiscalização como o ministério público. 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. ASSIS, Rafael Damaceno, A realidade atual do sistema penitenciário brasileiro. 29 maio. 2007. Disponível em: . Acesso em: 13 dez. 2011. BARATTA, A. Ressocialização ou controle social: uma abordagem crítica da reintegração social do sentenciado. Alemanha: Universidade de Saarland, 2007. Disponível em: < http://www.ceuma.br/portal/wp- content/uploads/2014/06/BIBLIOGRAFIA.pdf>. Acesso em: 01 out. 2021. CARVALHO, Salo de. Pena e garantias. 2.ed. Rio de Janeiro: Editora Lúmen Júris, 2003. DOTTI, René Ariel. A Crise do Sistema Penitenciário. Disponível em: < https://carceropolis.org.br/media/publicacoes/A_crise_do_sistema_penitenci%C3%A 1rio_Ariel_Dotti_2003.pdf>. Acesso em: 15 Out. 2021 GRECO, Rogério. Direitos humanos, sistema prisional e alternativas à privação de liberdade. São Paulo: Saraiva, 2011. MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil interpretada e Legislação Constitucional. 5. ed. São Paulo; Atlas, 2005, p.338.
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