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Lúpus Eritematoso Sistêmico Definição: Doença autoimune inflamatória crônica e multissistêmica; A doença é muito heterogênea uma vez que cada paciente, individualmente, apresenta várias combinações de manifestações clínicas; ❖ Pode levar até 5 anos para abrir novas manifestações clássicas (é o tempo que leva por lúpus mostrar “a cara”); ❖ Após 5 anos de doença - dificilmente abre novos quadros. Na maioria dos pacientes com LES, a doença se caracteriza por uma evolução clínica com períodos de exacerbações e remissões, embora alguns apresentem um padrão de atividade crônica; Etiopatogenia: ❖ Componente genético + gatilhos; ❖ Alguns genes se relacionam com manifestações clínicas específicas. ❖ Gatilhos: estrogênio + infecções virais (Ex: EBV) + radiação UV + tabagismo. ❖ Mulher em idade fértil é mais acometida -> alto estrogênio; ❖ Uso de ACO; ❖ Radiação UV -> ativa resposta imune. Epidemiologia: ❖ 0,5% da população; ❖ Mulheres em idade fértil: 20 a 45 anos; ❖ 9 mulheres : 1 homem; ❖ Em idosos - incomum e mais brando; ❖ Em crianças - mais raro. Classificação: ❖ Lúpus cutâneo; ❖ Lúpus sistêmico. Sintomas Constitucionais: Sintomas constitucionais: ❖ Fadiga - reduz qualidade de vida e atividades do dia; ❖ Febre; ❖ Comum abrir lúpus com quadro febril; ❖ Lúpus e atividade - quadro febril. OBS: Paciente lúpico com febre -> sempre descartar infecções. ❖ Perda ponderal; ❖ Linfadenopatia - principalmente cadeia cervical. Sintomas mucocutâneos: ❖ Afta oral recorrente (> 3 x/ano). ❖ Lúpus mucocutâneo. Manifestações brandas / intermediárias: Fâneros: ❖ Alopecia - queda de cabelo significativa no momento de atividade da doença. ❖ Cicatriz -> depois o cabelo não cresce mais ou fica mais rarefeito. Manifestações vasculares: ❖ Vasculite; ❖ Fenômeno de Raynaud; ❖ Lívido. ❖ Ambientes mais frios, estresse. Articulações: ❖ Poliartrite não erosiva e não deformante; ❖ Pequenas articulações - principalmente mão. ❖ Artralgia; ❖ Artropatia de Jaccoud - frouxidão ligamentar; ❖ Radiografia normal -> sem erosões ósseas ou diminuição do espaço articular; ❖ Flexibilidade mantida / sem rigidez. ❖ RHUPUS: sobreposição de artrite reumatóide e lúpus eritematoso. ❖ Nesse caso, a presença da artrite reumatóide pode levar a erosão óssea e, portanto, teremos alterações na radiografia; ❖ Ex: paciente começa tratamento para lúpus com hidroxicloroquina e continua apresentando poliartralgia. Começa a investigar AR, identifica alterações radiográficas -> precisa associar metotrexato. Serosites: ❖ Derrames das serosas; ❖ Depósito de imunocomplexos -> déficit no clearance -> acúmulo de imunocomplexos -> acometimentos das serosas; ❖ Derrame pleural – mais frequente; ❖ Derrame pericárdico – mais raro, em geral, silencioso; ❖ Ascite – mais raro. ❖ Inflamação das serosas. ❖ Pleurite – dor ventilatório-dependente; ❖ Pericardite. Manifestações cardíacas: ❖ Pericardite – dor torácica subesternal que melhora com a inclinação para a frente e pode piorar com a tosse ou inspiração profunda; ❖ Miocardite; ❖ Dor torácica, aumento de troponina. ❖ Endocardite de Libman-Sacks. ❖ Endocardite asséptica -> sem infecções. ❖ Depósito de imunocomplexos nas válvulas -> formação de vegetações estéreis / nódulos. Anemia: ❖ Hemolítica autoimune: característica do lúpus; ❖ Causas de anemia associados (sem relação direta a autoimunidade lúpica). ❖ Doença crônica; ❖ Ferropriva; ❖ Doença renal crônica; ❖ Anemia microangiopatia. Leucócitos: ❖ Leucopenia < 4000; ❖ Linfopenia < 1000. Plaquetas: ❖ Plaquetopenia < 100.000; ❖ Síndrome de Evans: plaquetopenia (púrpura trombocitopênica autoimune) + anemia hemolítica autoimune. Lúpus Grave: Acometimento renal: ❖ É frequente em pacientes com LES e é um fator de pior prognóstico; ❖ Glomerulonefrite – depósito de imunocomplexos circulantes (glomérulos inflamados); ❖ Pode aumentar creatinina (em alguns casos cursa com disfunção renal aguda); ❖ Hematúria dismórfica; ❖ Importante pedir EAS mesmo sem queixa de hematúria -> pode ser hematúria microscópica. ❖ Leucocitúria; ❖ Cilindros granulosos, hemáticos; ❖ Pode cursar com síndrome nefrítica e nefrótica, mas em geral esses pacientes abrem o quadro de lúpus com síndrome nefrítica; ❖ Proteinúria (> 500 mg/24h); ❖ >1 g = indicação de biópsia renal. ❖ Biópsia renal. Manifestações neurológicas: ❖ Psicose; ❖ Convulsão; ❖ Neuropatia periférica ou craniana; ❖ Mielite transversa; ❖ Meningite asséptica; ❖ Estado agudo confusional; ❖ AVE. ❖ Doença aterosclerótica: principalmente em lúpus de longa data; ❖ Vasculite SNC - muito raro; ❖ Trombose. Lesões Cutâneas: Lesões cutâneas agudas: ❖ Ex: sai no sol e desenvolve a lesão. OBS: Importância do uso de protetor solar -> evita desenvolvimento das lesões agudas. ❖ Lesão de fotossensibilidade -> áreas expostas à radiação UV / luz fluorescente -> lesões eritematosas na região exposta; ❖ Rash malar (asa da borboleta) – poupa o sulco nasolabial; ❖ Lúpus cutâneo bolhoso. ❖ Não necessariamente está presente em áreas expostas à radiação. Lesões cutâneas subagudas: ❖ O lúpus eritematoso cutâneo subagudo é visto em áreas expostas ao sol e pode provocar placas eritematosas ou lesões semelhantes às da psoríase; ❖ Relação forte com anti-RO; ❖ Lúpus cutâneo anular - eritematodescamativa em arranjos policíclicos circulares; ❖ Lesão cutânea psoriasiforme. Lesões cutâneas crônicas: ❖ Lúpus cutâneo discóide: mais comum; ❖ Quando ativas -> região central mais hiperemiada; ❖ Quando estão inativas -> ficam mais hipocrômica / hipotróficas; ❖ Lesão que deixa cicatriz; ❖ Acomete mais a parte superior do corpo: rosto, colo, superfícies extensoras. ❖ Lesão de Chilblain: eritema na ponta dos dedos; ❖ Lúpus verrucoso; ❖ Lúpus túmido: acomete derme; ❖ Paniculite. Diagnóstico: Fan: ❖ FAN: imunofluorescência indireta; ❖ Diluição do soro do paciente -> vê até qual diluição o soro fica positivo; ❖ Quanto maior a diluição = maior associação com a doença. ❖ Não serve para acompanhamento: não é pra pedir FAN em toda consulta (títulos podem flutuar, podem variar o tipo = não muda o curso da doença); ❖ Sensibilidade de 98% no LES; ❖ Especificidade muito baixa e varia de acordo com o padrão. ❖ Pode ser positivo na população saudável. OBS: Quem tem LES tem FAN positivo, mas nem todo mundo que é FAN positivo desenvolve LES. ❖ Anti-SM: específico para lúpus; ❖ Positivo em 30%, mas quando vem positivo da certeza diagnóstica. ❖ Anti-RNP: mais relacionado a doença mista do tecido conjuntivo. Padrão nuclear pontilhado fino: ❖ Anti-Ro e Anti-La. ❖ Diagnóstico diferencial: síndrome de Sjogren. Padrão nuclear pontilhado fino denso: ❖ Não significa doença. Padrão nuclear homogêneo: ❖ Anti-dsDNA -> específico para lúpus; ❖ Usado para acompanhamento; ❖ Quando a doença ativa / reativa -> fica positivo; ❖ Quando a doença está inativa -> fica negativo. ❖ Anti-histona -> lúpus induzido por drogas. ❖ Ex: anti-TNF, isoniazida; ❖ Tende a ter curso benigno. Provas inflamatórias: ❖ Aumento importante de VHS; ❖ Aumento menos importante de PCR. Resumindo: ❖ Hemograma; ❖ Anemia, plaquetopenia, leucopenia. ❖ Função hepática: uso de imunossupressores hepatotóxicos; ❖ Função renal: pode alterar creatinina; ❖ Marcadores inflamatórios: VHS, PCR; ❖ Eletroforese de proteína: ajuda a evidenciar estado inflamado; ❖ EAS; ❖ Spot urinário (relação proteína / creatinina) ou proteinúria de 24h; ❖ FAN; ❖ Anti-RO, Anti-La; ❖ Anti-Sm; ❖ Anti-dsDNA; ❖ Sistema complemento: C3 / C4 (podem estar reduzidos / consumidos na atividade da doença); ❖ Coombs direto +; ❖ Anticorpos para SAF. Critérios diagnósticos para LES: Deve apresentar pelo menos 4 critérios, com pelo menos 1 critério clínico e 1 critério imunológico ou biópsia renal comprovando nefrite lúpica; Novos critérios: ❖ Critérios de entrada: FAN > 1:80 no teste por imunofluorescênciaem Hep-2 ou em imunoensaio de rastreamento com fan positivo; ❖ Se ausente: não é classificado como LES; ❖ Se presente: aplicar os critérios clínicos e imunológicos. Diagnóstico Diferencial: Varia conforme a manifestação clínica que abre o quadro lúpico. ❖ Ex: síndrome nefrótica; ❖ Anemia hemolítica autoimune; ❖ Miocardite; ❖ Vasculites. Tratamento: Não farmacológico: ❖ Protetor solar – mesmo quando em casa (FPS mínimo 50); ❖ Cessar / evitar tabagismo; ❖ Estímulo para atividades físicas – modula sistema imune e melhora o estresse (gatilho); ❖ Evitar uso de ACO. ❖ Recomendado apenas pílula só de progesterona. Farmacológico: ❖ Analgésicos / AINES; ❖ Corticoides; ❖ Imunomoduladores: hidroxicloroquina (em todos os pacientes, exceto se contraindicação: maculopatia ou efeito colateral) / metotrexato (quadros refratário a hidroxicloroquina / RUPHUS); ❖ Hidroxicloroquina: reduz mortalidade, trombose. ❖ Imunossupressores: micofenolato de mofetila, ciclofosfamida / Azatioprina / tacrolimus / ciclosporina; ❖ Biológicos: rituximabe (casos refratários), belimumabe (atividade da doença muito recorrente). Prognóstico: Acometimento renal – pior prognóstico; Acometimento neurológico – pior prognóstico; Afrodescendentes - pior prognóstico; Baixo nível sociocultural – acesso a saúde dificultado (demora mais para buscar atendimento / acesso dificultado aos serviços de saúde = diagnóstico tende a ser mais tardio); Mortalidade: ❖ Países subdesenvolvidos / em desenvolvimento: infecções; ❖ Paciente lúpico com febre -> sempre afastar infecções concomitantes. ❖ Países desenvolvidos: doenças cardiovasculares - coronarianas. SAF (Síndrome de anticorpo antifosfolipídeos): 50% dos casos – associado com Lúpus; Componente auto-imune; De forma resumida: trombose e / ou complicações obstétricas + anticorpo para SAF; Anticorpos: ❖ 2 dosagens positivas em 2 ou mais ocasiões com intervalo mínimo de 12 semanas; ❖ Basta ter um tipo de anticorpo positivo; ❖ Triplo positivo – risco aumentado para trombose; ❖ Pode mudar o padrão de positividade de anticorpo entre os momentos de atividade da doença. ❖ Anticoagulante lúpico; ❖ Anticardiolipina IgM e IgG; ❖ Anti Beta2 Glicoproteina 1 IgM e IgG. Trombose: ❖ Trombose venosa -> TVP; ❖ Mais comum: circulação venosa dos MMII. ❖ Trombose arterial -> AVC; ❖ Mais comum: circulação arterial cerebral. ❖ Atenção especial para jovens com TVP / AVC. Complicações obstétricas: ❖ Mulher que consegue engravidar e não consegue manter a gestação; ❖ 3 ou mais abortamentos espontâneos antes de 10 semanas de Ig; ❖ 1 ou mais mortes de fetos morfologicamente normais com mais de 10 semanas; ❖ 1 ou mais nascimentos prematuros com 34 semanas devido a: eclâmpsia, pré- eclâmpsia grave ou sinais de insuficiência placentária; ❖ Investigar mulheres com esses antecedentes obstétricos. Outras manifestações: ❖ Livedo reticular; ❖ Úlceras digitais isquêmicas; ❖ Fenômeno de Raynaud; ❖ Plaquetopenia; ❖ Anemia hemolítica autoimune; ❖ Tromboembolismo pulmonar; ❖ Endocardite de Libman-Sacks: vegetações estéreis nas válvulas cardíacas; ❖ Hematúria não dismórfica; ❖ Cefaleia; ❖ Coreia – raro. Tratamento: ❖ Anticoagulação plena pelo resto da vida. ❖ Clexane – enoxaparina 1 mg/kg 2x/dia; ❖ Varfarina - marevan; OBS: Não pode ser utilizado em gestantes. Durante a gestação substituir marevan por clexane -> consegue manter a gestação até o fim em muitos casos. ❖ Novos anticoagulantes orais (Ex: xarelto) -> não mostram benefício.
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