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LEITURA E PRODUÇÃO
TEXTUAL
CAPÍTULO 1 - A AQUISIÇÃO DA
LINGUAGEM ORAL E DA ESCRITA,
BEM COMO SUAS PRÁTICAS
DISCURSIVAS, OCORREM DE
MANEIRAS DISTINTAS?
Izaura da Silva Cabral/Marlise Buchweitz Klug
INICIAR 
Introdução
Olá estudante! Seja bem-vindo(a) à disciplina Leitura e Produção Textual.
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Página 1 de 33
Cada modalidade de uso da língua, seja oral ou escrita, apresenta suas
peculiaridades. Isso não significa que sejam duas formas totalmente
distintas, mas pode-se dizer que há uma variação, um contínuo que varia da
conversação espontânea à escrita formal. Você já pensou que tanto a fala
quanto a escrita são atividades produzidas de acordo com o contexto em
que há uma necessidade de comunicação?
Nesse sentido, você reconhece a importância de saber produzir textos orais e
escritos tanto na linguagem formal quanto na coloquial?Sabia que, da
mesma forma que é importante conhecer os mecanismos de uma fala
proficiente, é necessário reconhecer os tipos textuais e suas marcas para
também produzir uma escrita com proficiência?
O domínio da linguagem verbal contribui para a formação de leitores
proficientes, ativos e críticos.Por isso, neste capítulo, você descobrirá,
primeiramente, como distinguir a fala da escrita. Como futuro profissional
de Letras, você precisa saber esses conceitosa fim de reconhecer qual é o
mais adequado para determinado contexto de produção. No exercício da
docência, por exemplo, essas duas formas de linguagem – oral e escrita –
devem receber a mesma atenção na sala de aula, com o incentivo para a
convivência com os mais variados gêneros textuais. Assim, o docente
ampliará suas vivências, inserindo-se no universo letrado, interagindo com
proficiência.
Bom estudo!
1.1 Fala e escrita
A língua é um sistema de signos convencionais que permite que uma
comunidade de falantes estabeleça possibilidade(s) de comunicação. Esse
caráter social da língua permite não somente que um grupo de pessoas se
comunique, mas também que cada integrante de uma mesma comunidade
escolha uma forma de se expressar. Cada indivíduo de uma determinada
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sociedade apresenta uma maneira de falar. No entanto, não é possível criar
cada um sua própria língua e ser compreendido pelos outros. Assim, cada
indivíduo, ao utilizar a língua de maneira própria na comunidade, cria sua
fala particular, e esta é condicionada por normas socialmente estabelecidas,
porém é ampla o suficiente e permite exercitar o ato criativo de
comunicação.
Além disso, tanto a forma escrita quanto a forma falada seguem algumas
normas para que a comunicação se efetive. Por exemplo, enquanto um
sujeito pode dizer/escrever “Aquela menina era paupérrima”,outro pode usar
“Aquela menina era muito pobre”. As variações encontradas ocorrem porque
cada um se manifesta de maneira própria, de acordo com seu repertório de
palavras.
Contudo,é sempre necessário observaras estruturas da língua, nesse caso, a
portuguesa. Não se pode correr o risco de que os enunciados produzidos se
tornem incompreensíveis, conforme o exemplo: “pobre aquela muito era
menina”.
É importante ressaltar que, embora façam parte de um mesmo sistema
linguístico, a linguagem oral e escrita apresentam características e usos
distintos. A seguir, você poderá comparar as diferenças e aprender mais
sobre cada uma delas.
1.1.1 Características distintas
Uma pessoa, ao falar, utiliza-se de um vocabulário, ou seja, utiliza-se das
palavras que conhece. Porém, pode utilizar também outros códigos
linguísticos, como voz baixa e alta, gestos, e pode apresentar reações
variadas como expressões faciais – caretas, sorrisos, caras de desconfiança –,
entre outras. Inclusive, ao falar, o indivíduo tem a tendência de repetir as
ideias ou conceitos, na tentativa de reforçar o ponto de vista adotado e
convencer o ouvinte. E, nesse caso, não existe a necessidade em acentuar e
pontuar as frases, pois a entonação e as pausas na fala cumprem esta
função. Além disso, não se preocupa com que letra irá representar aquele
som – ao contrário do que ocorre na escrita.
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Já no texto escrito, o ato é baseado no vocabulário que irá estabelecer a
comunicação entre o texto e o receptor. E, distintamente da fala, a escrita
exige preocupação e atenção maiores, uma vez quea informação passada
não se extinguirá com o tempo. De acordo com Burke (2003), a escrita fixar-
se-á por tempo indeterminado, tendo apenas o suporte como contexto.
Como exemplos têm-se os documentos históricos e os livros clássicos, os
quais permanecem sendo lidos durante centenas de anos. Assim, pode-se
dizer que, no texto escrito, o autor é obrigado a fazer referências mais
precisas sobre a situação, apontar mais detalhes e informações sobre a
mensagem que quer transmitir, o que requer um trabalho de elaboração
mais detalhado.
Os sumérios e os egípcios foram os primeiros povos a desenvolverem, por volta de 4000 a. C.,
um sistema de escrita próprios. Porém, não há possibilidade de atribuir o início da escrita a uma
única sociedade. Para conhecer melhor a história destes povos, acesse o link (SOUZA,    [s/ d]):
<http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiageral/origem-escrita.htm
(http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiageral/origem-escrita.htm)>.  
De acordo com Antunes (2007), na escrita, pode-se pensar e repensar a
produção, planejar para depois partir para o registro. Além disso, há a
possibilidade de voltar ao que já foi produzido, corrigindo, acrescentando
palavras e termos, reorganizando-os, o que faz com que a escrita seja mais
demorada do que a fala, e requeira maior trabalho. Nesse sentido, a escrita
passa a ser um processo, no qual os três elementos – autor-texto-leitor –
correlacionam-se para que haja produção de significados.
Nesse sentido, veja o que afirma Koch (2003, p. 34):
VOCÊ O CONHECE?
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[...] a escrita não é compreendida em relação apenas à apropriação das regras
da língua [...] mas, sim, em relação à interação escritor-leitor, levando em
conta, é verdade, as intenções daquele que faz uso da língua para atingir o
seu intente sem, contudo, ignorar que o leitor com seus conhecimentos é
parte constitutiva desse processo. 
Ainda, há que se considerar que a fala é ensinada, corrigida com base na
gramática da língua escrita. Este fato permite considerar que a fala não
apresenta características só dela. Sendo assim, torna-se necessária a
distinção entre ambas as linguagens. Uma não deve se fundir à outra, na
maioria das produções, a não ser com a finalidade de produzir a fala, no
discurso direto, de uma personagem narrativa.
Dessa maneira, pode-se dizer que a modalidade oral e a modalidade escrita
constituem  universos distintos dalinguagem e, portanto, apresentam suas
próprias peculiaridades. De acordo com Martins (1982), a modalidade
escrita, muitas vezes, dá a sensação de que se caminha para a totalidade, a
partir do momento em que há o distanciamento grandioso entre quem
produz a escrita e quem recebe; por sua vez, a oralidade é limitada à
presença do interlocutor e, além disso, pressupõe um envolvimento maior
entre os falantes (MARTINS, 1982). No entanto, essa organização nem
sempre se concretiza, uma vez que há outros fatores que interferem.
No momento da escrita, ainda conforme Martins (1982, p. 34), o autor pode
buscar impedir que o “leitor interfira diretamente no universo textual”.
Indiretamente, porém, essa intervenção acaba por acontecer, visto que,
continuamente, ajustamos a escrita à imagem que fazemos daquele que
receberá o texto, prevendo possíveis perguntas que ele poderia fazer,
buscando sempre respondê-las. Por isso, a presença do leitor imaginário
requer do autor um grandeesforço de elaboração e precisão, para que possa
elevar o texto escrito a um grau de completude e preenchimento, que se
refletem no uso dos vocábulos, no uso das normas gramaticais, sempre
obedecendo à norma culta, criando um texto objetivo e claro, eliminando as
ambiguidades.
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Deoutra forma se dá a produção oral, haja vista que a relação estabelecida
como falante é direta, reproduzida em um processo de diálogo, que conta
ainda com uma série de recursos extralinguísticos, os quais facilitam a
emissão da mensagem pelo falante.A interação face a face tem por princípio
o tempo real e, portanto, a espontaneidade ao se elaborar o texto, produto
do ato comunicativo. Dessa forma, é comum encontrarem-se hesitações,
truncamentos, correções, repetições, inserções, paráfrases, falsos começos,
enfim, tudo o que se considera defeito na elaboração textual.
Em razão do exposto, pode-se dizer que tanto naprodução oral quanto na
escrita, espera-se a eficiência e o sucesso da comunicação, de modo a se
concretizar pelo contínuo ajustamento de linguagem que o emissor da
mensagem faz com relação ao seu destinatário.
Para entender melhor as distinções entre as duas modalidades, a oral e a
escrita, observe o quadro a seguir.
Figura 1 - Diferenças entre a fala e a escrita. Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de
MARCHUSCHI; DIONISIO, 2007, p. 28.
VOCÊ QUER LER?
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O livro Escrever melhor: guia para passar os textos a limpo, de Dad Squarisi e Arlete Salvador
(2008), traz dicas de como melhorar o seu texto. De maneira bem-humorada, as autoras
trabalham a reescrita e afirmam que, sim, é possível transformar um texto comum numa escrita
sedutora, gostosa de ler. E, ainda, indicam como escapar das ciladas da língua portuguesa.
Enfim, sempre é importante considerar que, mesmo tendo suas
particularidades, a escrita e a oralidade se intercomunicam e, muitas vezes,
em alguns textos escritos, a oralidade insiste em deixar suas marcas; no
entanto, é necessário identificar quando não se deve deixar as marcas da
oralidade permearem o texto.
1.1.2 Marcas de oralidade na escrita
A produção oral, pela criança, se inicia desde muito cedo; o contato com a
fala se dá desde o ventre da mãe, assim o falante já está exposto a essa
linguagem muito antes de conhecer a escrita. Geralmente, pelo menos nos
primeiros seis anos de vida, mesmo que veja letras e palavras, a criança
ainda não sabe para que servem, nem  como usá-las. Portanto, a chegada da
escrita na vida do ser humano se dá mais tarde do que a expressão oral, mas
os mecanismos próprios do discurso escrito devem ser trabalhados aos
poucos, a fim de que o aluno não pense que uma modalidade deva se
sobressair à outra.
O uso da oralidade, na escola, e suas marcas próprias devem ser analisados.
Para Cajal (2001), ela será mais bem compreendida quando inserida no
mundo da escrita. Para tanto, deve-se considerar os seguintes aspectos:
o oral é principalmente trabalhado como percurso de passagem para a
aprendizagem da escrita;
os professores ensinam o oral a partir da escrita;
a forma oral está bastante presente em sala de aula, mas nas variantes
e normas escolares, a serviço somente da estrutura formal escrita da
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língua;
a leitura em voz alta, isto é, a leitura oralizada, representa a atividade
oral mais frequente na prática escolar.
Dessa maneira, uma prática em sala de aula deve abordar o
desenvolvimento da oralidade, não apenas sob a perspectiva da fala como
reprodução da escrita, mas antes fazer com que o aluno conheça e possa
produzir diversas práticas orais de linguagem, contextualizadas, e que ele
também possa reconhecer as relações muito variáveis que estas mantêm
com a escrita.
De acordo com Azeredo (2005, p. 40): “[...] os gêneros textuais são, portanto,
as formas relativamente estáveis pelas quais a comunicação verbal se
materializa nas diferentes práticas sociais”. A partir dessa ideia, eis a
importância de se colocar em sala de aula esse tipo de trabalho. É essencial
destacar que o ato de comunicar é muito mais que falar; o que importa
desenvolver na oralidade do aluno é a sua eficiência comunicativa, e para
tanto ela deve ser desenvolvida assim como a escrita.
Quando se escreve um texto, dependendo do gênero textual específico, há a
exigência do uso da norma culta da língua.Esse fato limita a forma de
expressão. Por exemplo, no gênero dissertativo, devem-se evitar palavras e
expressões que passem ao leitor a impressão de que há um diálogo com ele.
Lembre-se de que uma das características da oralidade é a interação entre
os sujeitos. A partir disso, numa  dissertação, devem-se evitar expressões
como “você”, “né”, “tá”, e verbos no imperativo, gerúndio e particípio – e/ou
quaisquer outros tipos de interação com o receptor.
Já no texto narrativo, podem-se utilizar marcas da oralidade – como
travessão, vocativo, entre outras – para reproduzir as falas de personagens a
partir do discurso direto. A oralidade aparece de maneira mais frequente, e
busca, na escrita, uma aproximação com a fala.
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Imagine que você foi solicitado a escrever um texto. A primeira coisa a fazer é
observar o gênero textual, e as possibilidades que tal gênero permite: uso de
marcas da oralidade ou não, permissão do autor colocar-se no texto ou não,
necessidade de manter a impessoalidade ou não, enfim, devem ser
consideradas todas as características do gênero textual em questão. O mais
importante ao identificar adiferença entre a oralidade e a escrita é perceber
os contextos nos quais você deve utilizar a linguagem cotidiana – conhecida
como coloquial – ou a linguagem formal de acordo com a norma culta,
aspecto que exige o conhecimento prévio das normas da língua.
Figura 2 - No momento da leitura, o interlocutor não está presente, portanto, o texto precisa
ser produzido com mais cuidado. Fonte: Lisa S., Shutterstock, 2018.
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Desse modo, você precisa saber que, no caso de um texto dissertativo, as
marcas de oralidade tidas como aceitáveis em determinados textos, tais
como gírias, vícios de linguagem, abreviaturas, trocas de letras, erros de
concordância, não devem ser aplicadas. Por isso, há a necessidade de saber
discernir uma linguagem da outra.
Nesse sentido, é possível que você esteja se perguntando: e quanto à
linguagem da internet e das redes sociais? Conforme Diniz (2014), com o
advento da tecnologia de informação e com tantos dispositivos e aplicativos
disponíveis para facilitar a comunicação, estar conectado com o mundo
tornou-se uma necessidade. O autor aponta para as diferentes relações
possibilitadas pela internet, como negócios, compras, ou simplesmente o
contato com outras pessoas.
 Assim, cada um dos objetivos da comunicação exige que se sigam regras, da
mesma forma que para os textos escritos fora do ambiente virtual. Nessa
“era das redes sociais”, as quais reproduzem na escrita o discurso oral,
“observa-se a criação de uma linguagem particular” (DINIZ, 2014, p. 4), ou
seja, a criatividade entra em cena através de inúmeros recursos, por
exemplo, os emoticons (ícones e/ou sinais gráficos que representam as
emoções ou o estado de espírito dos internautas). Além disso, de acordo
com Diniz (2014, p. 6):
[...] outra vantagem, além de facilitar a autoexpressão, é a rapidez. Falar é
mais rápido do que escrever, por isso são comuns as abreviaturas: vc (você),
blz (beleza), abc (abraço), tdb (tudo de bom), bj (beijo), t+ (até mais) e assim
por diante, com o objetivo de agilizar a escrita. Estes recursos são bastante
utilizados em conversas online e constituem parte do conjunto de expressões
que um usuário frequente precisa aprender para facilitar sua comunicação.
Destaca-se que o uso da comunicação na internet é, afinal, o grande desafio
do futuro profissional da área de Letras no exercício da docência. Por isso, a
necessidade de conhecer cada especificidade dos diferentes gêneros
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textuais reflete tanto na fala quanto na escrita do sujeito que faz uso da
língua.
A escrita é a representação da oralidade que exige regras próprias. Por
exemplo,ao escrever, usam-seos sinais de pontuação, que marcam as
pausas e dão sentido às frases. Estes recursos não se aplicam à fala, pois
essas pausas ficamclaras pela entonação e pelas outras linguagens
utilizadas para a comunicação, como a corporal e expressões faciaisdo
falante, permitindo aointerlocutor identificarse o tom corresponde a uma
afirmação, exclamação ou pergunta.
Contudo, a linguagem escrita permite o uso intencional da informalidade ao
representar, por exemplo, a regionalidade nas falas dos personagens de um
texto, escrevendo as palavras de acordo com as pronúncias peculiares de
cada região. Da mesma maneira, é possível fazer um jogo com a linguagem
formal e a informal, principalmente se houver finalidade de produzir humor.
Inúmeras são as diferenças e as formas de aplicação de cada uma das
linguagens. Como estudante de Letras, você precisa estar ciente disso e
saber transitar entre os diferentes gêneros textuais nos mais variados
contextos de comunicação.
1.2 Escrita e interação
A escrita está indubitavelmente presente no cotidiano, e ela é uma
ferramenta da qual nos utilizamos para o envio de recados bem simples –
como aqueles deixados na porta da geladeira –, de mensagens postadas nas
redes sociais, ou de orientações para a equipe de trabalho em uma empresa;
os registros da vida cotidiana de uma sociedade são feitos, em sua maior
parte, de forma escrita.
Dessa maneira, considerando que a linguagem é um sistema pronto, de
acordo com Koch e Elias (2010), pode-se dizer que o sujeito torna-se apenas
o receptor de dada informação, não tendo a permissão de intervir de
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maneira alguma na fala de quem escreve, por se tratar de uma voz pronta e
preconcebida. Inclusive, para que a escrita cumpra seu papel de interação é
preciso observar determinados fatores,como os elementos da gramática da
língua, que são considerados essenciais na interpretação, cabendo ao leitor
simplesmente a decodificação dos códigos trazidos pela escrita.
“Influência da linguagem oral na escrita”, trabalho desenvolvido por Lucélia Lopes Nobre (2011)
para o curso de Especialização em Gramática e Ensino da Língua Portuguesa, abordaos
processos de leitura e escrita, aliados ao desenvolvimento da fala. O objeto de estudo da autora
foram as atividades com os gêneros textuais realizadas por alunos do quinto ano do Ensino
Fundamental. Para conferir o trabalho e seus resultados, acesse o endereço:
<http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/60697
(http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/60697)>.
Quando o foco é o escritor, a língua é vista “[...] como representação do
pensamento e de sujeito como senhor absoluto de suas ações e de seu
dizer.” (KOCH; ELIAS, 2010, p. 9). Para o escritor, a escrita passa a ser um
mecanismo de expressão de seus pensamentos, sem considerar o leitor.
Koch (2003) também acrescenta a presença de um ego que emite a
representação mental, a partir do qual o autor pretende que o leitor absorva
aquilo que imaginou. Porém, cabe ao autor direcionar a interpretação que o
leitor deve ter do texto. 
VOCÊ QUER LER?
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Quando o foco textual se baseia na interatividade, a imagem e a presença do
sujeito considerado agente do processo representam papel relevante. Isso se
deve por sua inserção ocorrer no sentido de ampliar a discussão, destacando
ou diminuindo a fala do autor, introduzindo as falas dos interlocutores, ou
outras vozes. Portanto, a partir da observação desses aspectos, se consegue
extrair das entrelinhas inúmeras ideias jamais imaginadas por aquele que
lhes deu origem.
De maneira geral, conforme Koch e Elias (2010), considera-se que a escrita é
representativa de um universo constantemente ampliado, podendo assim
dizer que à proporção que os implícitos forem requeridos, a compreensão
dos fatos, do pensamento do escritor, maiores são as possibilidades de
serem extraídas outras informações, podendo até ocorrer um processo de
Figura 3 - Quando escreve, o autor espera que o receptor compreenda facilmente a sua
mensagem. Fonte: Shutterstock, 2018.
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rotatividade. Sendo assim, oportuniza-se um espaço para os diversos tipos
de implícitos, permitindo, tantoao autor quanto ao leitor,a possibilidade de
teremoutros olhares, outras interpretações, outras vivências, a partir da
leitura.
Koch e Elias (2010) destacam que o ser humano sente-se à vontade para
expor seu ponto de vista, interagindo cognitivamente enquanto ser social,
no momento em que se insere e passa a ser parte integrante do ato de
interpretação textual. O leitor passa, então, a ser um interlocutor do texto
escrito.  O texto, escrito ou lido, deixa de pertencer ao seu escritor. Passa a
ser de todos os leitores/autores que construirão os sentidos, as reflexões por
meio das inferências, dos cortes, vazios e acréscimos. Nesta concepção,
torna-se evidente um elemento fundamental para toda e qualquer produção
textual: as variadas possibilidades de ampliar os horizontes de leitura, a
capacidade de mobilizar no leitor a expansão de suas vivências.
1.2.1 O que é escrita?
Para iniciarmos a discussão sobre o que é escrita, recorremos a Sobral
(2008), para quem o termo scriptura, escritura, sinônimo de escrita, é a ação
ou efeito de escrever (representar as palavras ou as ideias com letras ou
outros sinais traçados em papel ou noutra superfície). Trata-se, por outro
lado, do sistema de sinais convencionais utilizado para escrever (por
exemplo, a escrita alfabética).
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A escrita, quanto está presente em um documento legal, assinado, validado
na presença ou não de testemunhas, reconhecido pelo cartório, geralmente
serve para validar oficialmente uma transação ou um negócio, além de dar
garantias para ambas as partes. De acordo com Sobral (2008, p. 33), em
outros termos, “[...] a escrita é um modelo da comunicação humana, que se
realiza através de sinais visuais que constituem um sistema”.
As primeiras representações da escrita datam dos 4000 anos antes de Cristo.
Desde então, essa linguagem se desenvolveu de duas formas: a ideográfica,
símbolos que representam ideias, conceitos e ações; e a fonética, sinais que
representam os sons da fala.
Dizer que a escrita representa a fala não é tarefa simples, porque, além disso,
é preciso entender a fala também como produção essencialmente humana,
que não se pode tomá-la como dote especial concedido por divindades ou
Figura 4 - Uma escritura pode estar em uma carta,documento, bilhete, ou em qualquer
suporte que conserve a escrita. Fonte: Dreamstime, Shutterstock, 2018.
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por fatores biológicos. A oralidade deve ser entendida e concebida como um
instrumento criado pelo ser humano para se comunicar, uma vez que, ao
longo da história, havia a necessidade de se viver em comunidades para
garantir a sobrevivência da espécie. Dessa maneira, o ser humano criou
símbolos e seus significados, atos que possibilitaram a comunicação entre
seus pares, e concedeu-lhe a liberdade de poder pensar e agir mesmo sem
ser na presença daquele objeto a que se referia. Nessa mesma linha,
criaram-se as ideias, as abstrações, ou seja, para cada ser concreto há
também um som (grito, gesto ou ação) que o simboliza.
Nesse sentido, pode-se dizer que a fala é uma maneira de representar
diretamente as ideias porque ela não é planejada ou refeita como a escrita.
Em razão disso, se diz que a escrita é uma representação de segunda ordem.
Enquanto professor, você precisa dar atenção ao aspecto descrito, o qual
precisa ser amplamente trabalhado com o aluno em fase de aquisição da
escrita, segundo Koch e Elias (2010), pois, só assim, ele conferirá à língua
escrita a importância e a função que ela deve ocupar no contexto social em
que estamos inseridos. Da mesma forma, apontar simplesmente que a
escrita seja  sistema de representação,  apesar de verdadeiro, em nada
auxilia. 
1.2.2 Escrita e ativação de conhecimento
A  produção escrita, para ativar o conhecimento, deve proporcionar a
interação com o leitor, uma vez que o texto produzido é direcionado a ele, e
não se resume apenas a um conjunto de regras. A respeito da interação
escritor-texto-leitor,Koch (2003) faz uma abordagem sobre a escrita e a
ativação dos conhecimentos, considerando que, ao produzir o texto escrito,
o autor recorre ao repertório deconhecimentos que estão armazenados em
sua memória, a fim de desenvolver a escrita: conhecimento linguístico,
enciclopédico, de textos e interacionais. Esses saberes não são estáticos,
mudam conforme as experiências e convenções sociais.  
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De acordo com Koch e Elias (2010), a atividade de escrever exige que o
autor/produtor do texto tenha conhecimento das regras gramaticais, do
emprego correto das vírgulas e das demais pontuações.
O conhecimento enciclopédico mostra-se presente quando o autor, ao
produzir músicas, tirinhas etc., recorre a tais conhecimentos que tem na
memória, sejam eles culturais, literários, históricos ou científicos. Muitos
textos de humor (tirinhas) utilizam-se desse conhecimento enciclopédico
para tornar os textos engraçados, mas o leitor só entenderá se também for
conhecedor do assunto. De acordo com Koch (2003, p. 41), no exercício de
escrever recorre-se 
Figura 5 - Ao escrever, ativa-se o repertório de leituras e de conhecimento prévio de cada
sujeito. Fonte: Kinga, Shutterstock, 2018.
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[...] constantemente a conhecimentos sobre coisas do mundo que se
encontram armazenados em nossa memória, como se tivéssemos uma
enciclopédia em nossa mente, constituída de forma personalizada, com base
em conhecimentos de que ouvimos falar ou que lemos, ou adquirimos em
vivências e experiências variadas. 
Esses conhecimentos são fundamentais para que se compreendam certos
textos como tirinhas, músicas, pois podemos recorrer a eles quando houver
a necessidade.
Falando em “interação”, fica claro que o escritor, com base em seus
conhecimentos interacionais, organiza o texto de acordo com a intenção de
ambos: do produtor, que deseja transmitir a informação, e do leitor que
Figura 6 - O autor deve produzir o seu texto de acordo com a situação de interação a ser
estabelecida, ou seja, adequar o gênero textual à situação comunicativa. Fonte: ESB
Professional, Shutterstock, 2018.
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busca uma compreensão do texto. O autor, ao desenvolver certos textos,
pensa no leitor e na quantidade de informação necessária numa situação
comunicativa. 
1.3 Escrita e práticas comunicativas
Uma das maneiras de estabelecer a comunicação humana se dá por meio de
textos, e estes aparecem sob diversos formatos, preenchendo funções em
variadas situações cotidianas. Por sua vez, o texto só se realiza por
intermédio de gêneros que, na verdade, ordenam as bases da estrutura
social.  Sendo assim, na aquisição da língua, se faz muito mais do que
simplesmente dominar formas. Domina-se, inclusive, a comunicação nas
práticas sociais cotidianas, uma vez que é inconcebível que a comunicação
verbal não esteja permeada por algum gênero.
1.3.1 Para que servem os gêneros textuais?
Você acredita que nos damos conta da infinidade de situações
comunicacionais cotidianas? Em um único dia, as relações sociais se
desenvolvem em distintos contextos e cenários que exigem determinado
comportamento linguístico. Considerando, de acordo com Marchuschi
(2001), que a linguagem é o mais eficiente meio de comunicação, pode-se
dizer que ela permite a interação com o outro, além de oportunizar a
alteração do discurso utilizado de acordo com as necessidades de
determinado contexto.
A partir dessa constante necessidade humana de interagir e comunicar-se
com o outro, nasceram o que conhecemos como gêneros textuais. Eles não
podem ser numerados, em virtude de que variam muito e são
constantemente adaptados às necessidades dos falantes. Portanto, mesmo
que seja impossível contá-los, é possível observar que apresentam
peculiaridades que permitem identificá-los e reconhecê-los entre tantos
outros gêneros. Pode-se dizer que,das características dos gêneros textuais,
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ou marcas textuais, fazem parte a apresentação de tipos estáveis de
enunciados, além de estruturas e conteúdos temáticos que facilitam sua
definição (MARCUSCHI, 2001).
Para Bakhtin (1997), os gêneros são enunciados, orais e escritos, mais ou
menos estáveis e circulam em esferas específicas. Não se deve considerar o
gênero apenas como uma reunião dos três elementos centrais – tema,
construção composicional e estilo – que formam os enunciados, mas
também observar outros elementos da situação de produção, de recepção e
de circulação desses gêneros, como o papel dos interlocutores, a finalidade
do uso do gênero, as relações dialógicas entre gêneros da mesma esfera ou
com outras esferas.
Dessa maneira, é importante destacar a estabilidade relativa dos gêneros:
eles são muito mais do que uma lista de características fixas que, atendidas,
darão origem a textos de determinados gêneros. Estes podem variar, dentro
de algumas situações da própria prática social, conforme variarem as
especificidades dos projetos desenvolvidos por cada professor na sua
prática pedagógica.
No vídeo Redação, o professor Pasquale Cipro Neto ([2011] 2016) ensina como estruturar e
desenvolver os diferentes tipos de redação. Aos 33 minutos e 10 segundos, a aula apresenta, de
maneira clara, a aplicação do conhecimento sobre gêneros textuais, suas marcas e função
social, para que sejam utilizados a fim de estabelecer comunicação com seus interlocutores.
Confira em <https://www.youtube.com/watch?v=chEwA_PBC9c
(https://www.youtube.com/watch?v=chEwA_PBC9c)>.
VOCÊ QUER VER?
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Tendo em vista o grande número de gêneros que circulam socialmente e a
necessidade de focar naqueles compatíveis com o interesse do estudante e
com sua necessidade de alcançar uma atuação discursiva autônoma e
cidadã na vida social, os gêneros poderão ser selecionados a partir de vários
critérios, como a relação entre a produção escrita ou oral, e as partes da
literatura e gramática que o professor venha a trabalhar.
1.3.2 Quais são as estratégias para orientar a produção
textual?
Para tratar de estratégias textuais, destacamos em primeiro lugar que as
atitudes para a produção, tanto escritas quanto faladas, devem passar pelo
planejamento do professor, afim de que tal atividade tenha como finalidade
aprimorar novos métodos qualitativos de ensino, colocando o aluno em uma
situação de sujeito ativo da aprendizagem. Essa assertiva refere-se ao fato
de que dominar a escrita, por exemplo, não é pré-requisito de que o
educando possaconstruir o sentido do texto, compreendendo, interpretando
e produzindo textos escritos de forma autônoma e eficiente, já nos primeiros
anos do Ensino Fundamental.
Visando à concretização deste aprendizado, o trabalho do professor deve ser
sistemático e constantemente avaliado, aliado às diversas ferramentas de
ensino, as quaispossam considerar a realidade social e a bagagem cultural
que a criança leva para sala de aula, com suas vivências de mundo, seu
repertório sociocultural.
VOCÊ SABIA?
Quanto mais gêneros textuais forem apresentados aos alunos, mais eles se tornarão
leitores eficientes, a partir da prática da oralidade e da produção textual. Estes são
processos que os estudantes devem dominar, em primeira instância, como autores na hora
do registro, a fim de, depois, serem compreendidos pelos outros. 
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Conforme Koch e Elias (2010), usar as mais diversas linguagens escritas ou
orais, durante a aprendizagem e produção textual, enriquece este trabalho e
pode fazer com que o aluno se desenvolva como ser pensante e dinâmico
diante do que lhe foi proposto. Uma das principais estratégias de produção
textual éa presença de textos utilizados pelos estudantesno seu cotidiano,
visando maior identificação com o gênero. Além disso, pode-se adotar
também a organização de um ambiente capaz de ser um espaço físico, social
e cultural, para que haja a possível utilização do gênero em destaque. Isso
poderia reproduzir uma situação de comunicação, para que então este
trabalhoinstigue e desperte novos conhecimentos, valores, atitudes, desejos
e capacidade de reflexão sobre a própria produção, para se formar leitores
de diferentes gêneros escritos ou visuaisque saibam utilizá-los de acordo
com a situação comunicativa.
Inclusive, para o trabalho de produção, um critério que não pode ficar de
fora no momento da escolha do gênero a ser utilizado, são as esferas de
circulação desses gêneros nos quais o estudante pode já estar atuando ou
ainda vai atuar, seja em sua vida pessoal, profissional ou acadêmica, seja em
sua situação político-cidadã.
1.4 Escrita e contextualização
Quando se tratada abordagem sobre escrita e contextualização,é preciso
considerar que o estudante deve intervir em todo o processo de
aprendizagem, sempre fazendo conexões entre os conhecimentos. Nessa
perspectiva, o educando não é um mero espectador (como no ensino
tradicional); ele passa a ser o centro, o protagonista. Dessa forma, age como
alguém que pode resolver problemas e mudar a si mesmo e o mundo ao seu
redor, ou seja, ampliar de forma considerável os seus horizontes.
Para tanto, é fundamental que o docenteorganize situações comunicativas,
conforme Koch e Elias (2010), comuns ao cotidiano do aluno, e o faça
interagir ativamente de modo intelectual e afetivo, trazendo o dia a dia para
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a sala de aula e aproximando-o do conhecimento científico. Essa é uma
estratégia sempre possível de ser utilizada, uma vez que são inúmeros, e
praticamente inesgotáveis, os campos e os contextos de experiências
vivenciadas pelos alunos e pela escola, e que no momento de sua utilização
em sala de aula, podem dar vida e significado ao conhecimento.
Conforme Marcuschi (2002, p. 35): “[...] o trabalho com os gêneros textuais é
uma extraordinária oportunidade de se lidar com a língua em seus mais
diversos usos autênticos do dia-a-dia.” Este teórico ressalta que, no ensino,
pode-se trabalhar com gêneros para incentivar os alunos a produzirem ou
analisarem eventos linguísticos,    tanto orais quanto escritos  existentes no
seu contexto de atividade discursiva. Além disso, nessas situações de
produção, orais ou escritas, podem ser abordados os mais variados temas
inseridos em determinados gêneros textuais, como, por exemplo, problemas
ou fenômenos psíquicos, físicos, econômicos, sociais, ambientais, culturais e
políticos do país ou do mundo. Estes temas não precisam estar diretamente
ligados aos alunos, mas podem fazer referência a seus familiares, amigos ou
conhecidos, desde que os discentes estejam, de alguma forma, envolvidos
com a situação apresentada.
1.4.1 Considerações sobre contexto sociocognitivo
A pragmática estuda a descrição dos atos da fala, isto é, ela dá destaque para
as ações que os usuários da língua, em situações de comunicação entre seus
interlocutores, realizam por meio da linguagem, considerada uma atividade
intencional e social, que visa a determinados fins – e, para tanto, exige
determinado tipo de texto.Para compreender o que seja o contexto
sociocognitivo, segundo Koch (2003, p. 24), em primeiro lugar, ele se insere
na compreensão de que o contexto “[...] abrange o contexto linguístico
inserido no texto; [...] a situação de interação mediata (entorno
sociopolítico-cultural) e, também, o contexto sociocognitivo dos
interlocutores que, na verdade, subsume os demais”.
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No entanto, a presença dos interlocutores, também representada no estudo
dos enunciados, ainda não é suficiente. Isso porque os sujeitos agem como
se se movessem no interior de um tabuleiro de xadrez, em que cada um
desempenha um papel social, regido por algumas convenções, as quais
trazem normas de conduta e impõem condições, estabelecendo deveres,
valores que, portanto, também limitam a liberdade. E ao se pensar em um
trabalho textual é importante “[...] propiciar acesso às ferramentas de
expressão e compreensão de processos discursivos, proporcionando ao
aluno condições para adequar a linguagem aos diferentes contextos sociais”
(PARANÁ, 2008, p. 54). Nesse sentido, para interpretar um texto, o aluno deve
considerar o contexto no qual está inserido e, assim, também saberá como
produzir textos adequados à comunicação que o emissor necessita fazer.
Figura 7 - As manifestações de linguagem de uma determinada cultura têm a função, na
maioria das vezes, de perpetuar tradições, usos, costumes e rotinas a serem obedecidas.
Fonte: stroblowski, Shutterstock, 2018.
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Em razão do que foi dito, viu-se que tipo de contexto  passou a ser levado em
conta: o sociocognitivo. Diante disso, para que duas ou mais pessoas
possam compreender-se mutuamente, e para que a comunicação se efetue
com sucesso, é necessário que as respectivas conjunturas sociocognitivas
sejam, pelo menos, parcialmente semelhantes, ou seja, o conhecimento de
mundo de ambas deve apresentar aspectos comuns. Dessa forma, esse
contexto constitui um conjunto de suposições, baseadas nos saberes dos
interlocutores, mobilizadas para a interpretação de um texto e fundamentais
para o sucesso da comunicação. 
1.4.2 Fatores de contextualização
Chamam-se fatores de contextualização aqueles que “ancoram” o texto, ou
seja, aqueles que o seguram e mantêm sua coerência. Sem os elementos
contextualizadores, ficaria difícil decodificar a mensagem. Não são fatores
pertencentes ao texto, mas “[...] elementos que contribuem para equacionar
alternativas de compreensão” (MARCUSCHI, 1983, p. 16).
Entre os exemplos, podemos observar que em documentos,
correspondências oficiais e outros textos deste gênero, o timbre, o carimbo,
a data e a assinatura são de extrema importância, servindo, inclusive, para
dar fé ao texto. Entre os fatores gráficos, temos: disposição na página,
ilustrações, fotos, localizações no jornal ou revista (caderno, página), que
contribuem para a interpretação do texto.
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Também é necessário destacar os fatores perspectivos ou prospectivos,
considerados como aqueles que avançam expectativas e apontam pistas ao
leitor sobre o conteúdo ao longo do texto. Além disso, o título, o autor e o
início do texto também desempenham essa função.
Leia mais sobre os fatores de contextualização textuais na obra de Luis Antônio Marcushi (1983),
Linguística do texto: o que é e como se faz. De acordo com o autor, existem os contextualizadores
propriamente ditos e os perspectivos ou prospectivos.
Pode-se dizer que ler e compreender um texto é uma atividade semelhante à
de solucionar problemas. Ao descobrir a resposta final, teremos estabelecido
uma relação mútua com a coerência do texto.
Figura 8 - Os textos de legislações, por exemplo, apresentam determinadas características
comuns que podem ser observadas em todas as leis. Fonte: rawf8, Shutterstock, 2018.
VOCÊ QUER LER?
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VOCÊ SABIA?
Ao escrever o texto, o autor verifica adequações como o grau de formalidade, a variedade
do vocabulário, como o tema vai ser tratado, o lugar e o contexto da comunicação,
considerando as imagens recíprocas que os interlocutores fazem uns do outros.
Ainda a respeito dos fatores de contextualização, destaca-se a presença da
situacionalidade, outro fator responsável pela coerência do texto e que atua
em duas direções: da situação para o texto e do texto à situação. Conforme
Travaglia e Koch (2007): “[...] a aceitabilidade acontece quando duas pessoas
estão conversando, ou seja, há um emissor e um receptor”, e nesse diálogo
eles procuram compreender um ao outro, ativando seus conhecimentos e
relacionando-os com o que lhes foi transmitido, para, assim, entender o
sentido do texto.
Ao falarmos da situação para o texto, dizemos que a mesma ocorre quando
há a possibilidade de determinar a proporção pela qual a situação
comunicativa interfere na produção e na recepção do texto e,
consequentemente, no estabelecimento da coerência, ao observarmos o
contexto imediato da interação: o sociopolítico-cultural, no qual a interação
se insere (KOCH, 2003).CASO
O texto tem reflexos importantes da situação comunicativa, por exemplo, o mundo textual
(produzido pelo autor) não é jamais igual, alguns teóricos chamam de verossímil, ou
semelhante ao mundo real. Assim, mesmo que uma narrativa conte um fato real, ela está
repleta de elementos ficcionais, como o ponto de vista do autor. Considerando que um dos
significados do termo verossímil é “provável”, dessa maneira, ao atentarmos para o texto
narrativo, podemos dizer que este precisa ser constituído de um mundo possível, a fim de
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que provoque no leitor a sensação de que o enredo possa realmente existir, ou vir a
ocorrer. Mesmo assim, as ações na narrativa não precisam corresponder de forma exata ao
universo exterior, porém devem apresentar características semelhantes à realidade. Com
base no que foi dito, o texto narrativo ficcional apresenta duas características básicas de
verossimilhança: a externa, que diz respeito ao que é aceito pelo senso comum, tido como
possível, provável; e a interna, caracterizada pela coerência narrativa, que é a sequência
temporal dos fatos, sendo que os mesmos devem apresentar certa sequência
temporalmente, como nessa ordem: uma causa (um fato) desencadeia uma consequência
e essa, por sua vez, dá origem a novos fatos, assim sucessivamente. Quando essa sucessão,
por um motivo ou outro, se torna contraditória, pode-se dizer que então a narrativa
adquiriu um aspecto inverossímil (KOCH, 2003).
Quanto à recriação do mundo real, dizemos que o autor utiliza-se de sua
visão de mundo e escreve de acordo com seus objetivos, propósitos,
princípio, convicções, crenças, seu repertório. Mesmo que os referentes do
texto não sejam idênticos aos do mundo real, eles são reconstruídos no
interior do texto. Sendo assim, o indivíduo que recebe o texto também o
interpreta conforme a sua visão de mundo, os seus propósitos, as suas
convicções e o seu conhecimento prévio, de maneira que na escrita há
sempre uma mediação entre o mundo real e o textual. Isso se relaciona com
o aspecto discutido anteriormente sobre o repertório de cada leitor e sua
memória textual e de mundo.
No tocante à coerência, podemos dizer que a situacionalidade desempenha
um papel relevante, ou seja, um texto que é coerente em determinada
situação pode não sê-lo em outra. Tem-se então a necessidade da
adequação do texto à situação comunicativa. Por exemplo, uma carta aberta
para um monge budista pode ter sentido dentro da comunidade budista e
para as pessoas que a escreveram, mas não terá sentido para quem não
conhece tal filosofia de vida.
Já a respeito da informatividade, dizemos que um texto faz referência ao
grau de previsibilidade ou expectativas das informações contidas nele. O
texto será menos informativo se contiver apenas informações previsíveis ou
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redundantes. Dessa forma, pode-se dizer que seu grau de informatividade
será baixo. Por outro lado, se apresentar informações inéditas – inesperadas
ou imprevisíveis –, ele terá um grau de informatividade alto. Por exemplo,
quando escrevemos uma dissertação e nossa argumentação for embasada
no senso comum, o texto terá um grau de informatividade baixo, mas, se
trouxermos diferentes exemplos, dados de pesquisas e outros autores para
dialogar com aquilo que pensamos, apresentaremos um texto mais
informativo. Contudo, à primeira vista do leitor, o entendimento deste texto
pode parecer difícil, uma vez que exige do receptor um maior esforço no
sentido da decodificação.
VOCÊ SABIA?
É a informatividade que determina a seleção e o arranjo da informação no texto, de
maneira que o receptor possa calcular o sentido da escrita com maior ou menor facilidade,
dependendo da intenção do produtor de construir um texto mais – ou menos – hermético,
polissêmico e conforme o contexto da produção.
Em razão do que foi visto, você poderá concluir que os textos que
apresentam o maior grau de informatividade são mais comuns na literatura
e na linguagem figurada em geral. No entanto, aparecem com frequência
também em textos publicitários e jornalísticos.
Síntese
Você concluiu os estudos referentes à distinção entre a linguagem escrita e a
fala, a partir de suas características e elementos peculiares.
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Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
distinguir as características da oralidade e da escrita;
reconhecer marcas de oralidade na escrita;
identificar o uso de reguladores textuais continuadores típicos da fala;
definir escrita e interação;
identificar os focos da escrita: língua, escritor, interação;
reconhecer os tipos de conhecimento provindos da escrita;
compreender o que são gêneros textuais;
reconhecer conteúdos e estilos;
compreender a função do contexto;
reconhecer fatores de contextualização;
identificar situações de contexto sociocognitivo.
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