Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FUNDAÇÕES E OBRAS DE CONTENÇÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Relacionar as características e tipos de fundações diretas. > Dimensionar sapatas, blocos e radiers. > Identificar os métodos construtivos de fundações diretas ou rasas. Introdução As fundações rasas ou diretas são caracterizadas por transmitirem as cargas das estruturas ao solo por meio de suas bases. São assentadas em profundidades relativamente pequenas e que geralmente são iguais ou inferiores a 2 metros. Podem ser utilizadas quando as camadas superficiais do solo apresentam re- sistência suficiente para suportar o carregamento da edificação. Para verificar essa possibilidade de uso, ensaios devem ser realizados, a fim de estudar as características do solo. Os principais tipos de fundações rasas ou diretas são as sapatas, os blocos de fundação e os radiers. As sapatas são divididas, conforme as particularidades estruturais e de uso, em isoladas, associadas, corridas e de divisa. As de divisa, por sua vez, são utilizadas em conjunto com a viga de equilíbrio para absorver as excentricidades existentes no sistema sapata-pilar. O dimensionamento das fundações é uma das primeiras etapas a serem realizadas no projeto de uma edificação. Por isso, é importante ter conheci- mento técnico a respeito dos métodos existentes para executá-lo, tanto em Fundações diretas ou rasas Stephane Lima Pereira de Andrade planta quanto estrutural. Existem vários métodos existentes, como o método das bielas e tirantes para o dimensionamento das sapatas. Neste capítulo, você vai conhecer as características das fundações rasas ou diretas, quais são suas recomendações de uso e os critérios que devem ser adotados para utilizá-las e dimensioná-las de forma correta. Além disso, vai estudar como os métodos construtivos devem ser executados. Fundações diretas: tipos e características Segundo Teixeira e Godoy (1998), as fundações rasas ou diretas são assim denominadas por se apoiarem sobre o solo a uma pequena profundidade em relação ao solo circundante. Do ponto de vista estrutural, as fundações diretas dividem-se em blocos, sapatas e radiers. Sobre a escolha do tipo de fundação a ser utilizado em uma obra, Rebello (2008, p. 41) declara: Para efeito prático, considera-se técnica e economicamente adequado o uso de fundação direta quando o número de golpes do SPT for maior ou igual a 8 e a profundidade não ultrapassar 2 m. O primeiro limite indica a resistência mínima necessária para uso de fundação direta, o limite de profundidade se deve ao custo da escavação e reaterro necessário para a execução da fundação, acima do qual o uso da fundação direta torna-se antieconômico. No decorrer deste capítulo, serão apresentados importantes conceitos sobre os principais tipos de fundações diretas ou rasas. Blocos de fundação Os blocos de fundação são elementos estruturais constituídos de concreto simples (concreto sem armadura). Esse tipo de fundação apresenta como principal característica a resistência aos esforços de compressão e tração somente através do concreto. Por isso, apresentam altura maior em relação às sapatas e dispensam a utilização da armadura. Normalmente, os blocos assumem a forma de um bloco escalonado, ou pedestal, ou de um tronco de cone (Figura 1). Fundações diretas ou rasas2 Figura 1. Formas dos blocos de fundação. Fonte: Tipos de blocos de fundação (2019, documento on-line). De acordo com Teixeira e Godoy (1998), os blocos de fundação com a forma de tronco de cone funcionam de maneira análoga aos tubulões a céu aberto curtos. Sapatas isoladas As sapatas isoladas são elementos estruturais de concreto armado que resistem principalmente por flexão. Como apresentam armadura, geralmente têm altura menor que os blocos. Há várias formas de sapatas disponíveis para uso, como: quadradas (B = L), retangulares (L ≤ 5 B) e corridas (L > B), onde L e B são as dimensões em planta dos lados da fundação (TEIXEIRA; GODOY, 1998). A Figura 2 apresenta um exemplo de sapata isolada. Figura 2. Sapata isolada. Fonte: Bastos (2019, p. 4). Fundações diretas ou rasas 3 Há situações em que cargas muito elevadas atuam nos pilares e/ou solos com baixa capacidade de suporte. Assim, as sapatas podem assumir dimen- sões extraordinárias e, para não as sobrepor umas às outras, é necessário associá-las ou uni-las. Sapatas associadas As sapatas associadas (Figura 5) são empregadas nos casos em que os pilares estão muito próximos, de forma que não é possível realizar o projeto estrutural utilizando uma sapata isolada para cada pilar. Desse modo, uma única sapata faz a associação para dois ou mais pilares. Vale ressaltar que, segundo Teixeira e Godoy (1998), esse tipo de sapata deve ser evitado todas as vezes que houver a possibilidade de se adotar uma solução de projeto que utilize as sapatas isoladas, mesmo que essa opção cause uma distorção no formato lógico das sapatas. Essa ressalva existe porque duas sapatas isoladas são mais viáveis economicamente e apresentam maior facilidade de execução que as sapatas associadas. Figura 3. Sapatas associadas. Fonte: Guimarães e Peter (2018, p. 37). É importante ressaltar que as sapatas associadas apresentam como par- ticularidade o fato de atenderem aos pilares cujos centros não são alinhados em planta. Fundações diretas ou rasas4 Sapatas corridas Segundo Velloso e Lopes (2010), as sapatas corridas são elementos estruturais sujeitos à ação de uma carga distribuída linearmente ou de pilares em um mesmo alinhamento. Por exemplo, uma parede ou um muro (Figura 4). Nas versões mais antigas da norma NBR 6122, havia uma distinção entre a viga de fundação e a sapata corrida, uma vez que a primeira recebia pilares num mesmo alinhamento e a segunda, um carregamento de forma distribuída. Porém, de acordo com a NBR 6122/2010 (ABNT, 2010), os dois tipos passaram a se chamar sapata corrida. Figura 4. Sapata corrida ou contínua. Fonte: Azeredo (1997, p. 33). As sapatas corridas são popularmente conhecidas como baldrame ou de viga de fundação e são comuns em obras de pequeno vulto. Sapatas de divisa No caso de pilares encostados em divisas, como junto ao alinhamento de uma calçada, projetar uma sapata com o centro gravitacional coincidente com o pilar é inviável tecnicamente. Por isso, recorre-se ao uso de uma viga de equilíbrio (VE), também conhecida como viga alavanca, a fim de corrigir a excentricidade existente (Figura 5) (REBELLO, 2008). Fundações diretas ou rasas 5 Figura 5. Sapata de divisa com viga alavanca. Fonte: Guimarães e Peter (2018, p. 37). Em situações em que a área total da fundação em sapatas é maior que 50% da área construída em planta, é recomendado a utilização da fundação em radier. Fundação em radier O radier pode ser definido, de forma simples, como uma laje de concreto ar- mado que recebe a maioria ou todos os pilares de uma estrutura, transmitindo o carregamento diretamente ao solo. Para Teixeira e Godoy (1998), como o radier tem o formato típico de uma laje com dimensões relativamente grandes para envolver todos os pilares das edificações, ele necessita de uma grande quantidade de concreto armado, o que o torna uma solução, de certa forma, onerosa e de difícil execução, principalmente se for utilizado em terrenos urbanos confinados. No Brasil, essa fundação não é muito utilizada em razão da falta de conhecimento técnico e mau uso. Velloso e Lopes (2010) recomendam a adoção desse tipo de fundação quando a área total das sapatas for maior que a metade da área da construção. Quanto à forma ou ao sistema estrutural, os radiers são projetados segundo quatro tipos principais (Figura 6): � lisos; � com pedestais ou cogumelos; � nervurados; � em caixão. Os tipos estão listados em ordem crescente da rigidez relativa. Há, ainda, os radiers em abóbadas invertidas, pouco comuns no Brasil. Fundações diretas ou rasas6 Figura 6. Radiers: (a) lisos, (b) com pedestal ou em laje cogumelo, (c) nervurados (vigas invertidas)e (d) em caixão. Fonte: Velloso e Lopes (2010, p. 163). O uso do radier é indicado para casos em que se deseja reduzir ou uni- formizar os recalques diferenciais, minimizando, assim, os danos estruturais ocasionados por esse fenômeno. Dimensionamento de sapatas, blocos e radiers O dimensionamento das fundações é umas das etapas mais importantes quando se deseja iniciar um projeto de engenharia. Nesta seção, serão apre- sentados métodos que têm como objetivo realizar essa etapa de forma que os carregamentos das estruturas sejam transferidos ao solo corretamente. Dimensionamento em planta de sapatas O dimensionamento geométrico de fundações diretas e seu posicionamento em planta é a primeira etapa de um projeto a ser feito para uma tensão ad- missível σadm previamente estimada. Observe o pilar retangular da Figura 7, de dimensões l × b e carga P. A área da sapata é representada por: = adm = · Após se obter o valor das dimensões desejadas, geralmente é realizado o arredondamento desses valores, variando de 5 em 5 cm. Fundações diretas ou rasas 7 Figura 7. Dimensionamento de sapata isolada. Fonte: Adaptada de Oliveira et al. (2019). Para realizar o dimensionamento estrutural das sapatas isoladas e cor- ridas, pode-se adotar o método das bielas. Dimensionamento de sapatas: método das bielas A NBR 6118 (ABNT, 2014) estabelece alguns critérios que devem ser consi- derados ao se realizar o detalhamento da armadura de flexão das sapatas rígidas. O primeiro é que a armadura de flexão deve ser distribuída unifor- memente ao longo da largura da sapata. Ela deve se estender de face a face da sapata integralmente, terminando em gancho nas duas extremidades. Outra recomendação é que, para barras com ϕ ≥ 25 mm, deve-se verificar o fendilhamento em plano horizontal, pois pode ocorrer o destacamento de toda a malha da armadura. Por fim, sobre a armadura de arranque dos pilares, a mesma norma estabelece que a sapata deve ter altura suficiente para permitir a ancoragem da armadura de arranque. Em tal ancoragem, deve-se considerar o efeito favorável da compressão transversal às barras, decorrente da flexão da sapata. Segundo a NBR 6122 (ABNT, 2010), para se realizar o dimensionamento da fundação rasa tipo sapata, os modelos recomendados são: � modelos tridimensionais lineares; � modelos biela-tirante tridimensionais; � modelos de flexão. Fundações diretas ou rasas8 Alonso (1983) apresenta o modelo da biela para sapatas isoladas (Figura 8): d ≥ ⎩ ⎪⎪ ⎨ ⎪⎪ ⎧ − 0 4 − 0 4 1,44 , onde = 0,85 · 1,96 = ( − 0) 8 = ( − 0) 8 = 1,61 (armadura paralela ao lado a) = 1,61 (armadura paralela ao lado b) Figura 8. Dimensionamento de sapatas isoladas pelo método das bielas. Fonte: Coelho (2015, p. 15‒16). Fundações diretas ou rasas 9 Para o caso de sapatas isoladas, é possível utilizar outros métodos de dimensionamento estrutural. Dimensionamento de sapatas: critério da ACI-318/63 De acordo com Alonso (1983) e pelo critério da norma ACI-318/63 (ACI, 1963), para sapatas isoladas, os momentos fletores e cortantes máximos são obtidos nas seções xx e yy da Figura 9: Mx = a(b – b0)2σs My = b(a – a0)2σs Figura 9. Seções para obtenção de momentos fletores e cortantes máximos. Fonte: Adaptada de Coelho (2015). Fundações diretas ou rasas10 Para realizar a verificação da punção, as seções consideradas estão a h/2 da face do pilar (Figura 10). Figura 10. Seções consideradas para verificação de punção. Fonte: Adaptada de Coelho (2015). A tensão de corte (punção) é dada por: = 1 · ℎ1 É importante observar os pontos a seguir. � O cálculo dos momentos fletores para o dimensionamento de sapatas é determinado nas seções críticas: ■ na face do pilar ou na parede de concreto. ■ a ¼ da face do pilar ou da parede de alvenaria. � Nas sapatas isoladas, calcula-se os momentos nas duas seções prin- cipais. Nas sapatas corridas, a armadura de distribuição vale 1/8 da armadura principal. � A armadura para sapatas isoladas de forma retangular é disposta como mostra a Figura 11. Fundações diretas ou rasas 11 Figura 11. Disposição de armaduras para sapata isolada de forma retangular. Fonte: Coelho (2015, p. 19). � As barras paralelas à maior dimensão da sapata são distribuídas de forma uniforme ao longo da menor dimensão. As barras paralelas à menor dimensão devem ser concentradas em valores iguais à menor dimensão: = 2 + 1 · � É recomendado comprovar a aderência da armadura utilizada por meio da verificação do cisalhamento na seção da face do pilar. � As seções críticas nas quais se deve verificar as tensões de cisalha- mento devido à flexão estão situadas a uma distância d das seções críticas adotadas para a determinação do momento fletor (Figura 12). Figura 12. Distância d das seções críticas adotadas para o cálculo do momento fletor. Fonte: Coelho (2015, p. 19). Fundações diretas ou rasas12 = 1′ · ℎ1′ onde: Q = σsAABCD O valor da tensão de cisalhamento precisa ser inferior a 0,15 28 (Mpa), adotando-se (Figura 13): 28 = 4 3 Figura 13. seções ABCD adotadas para o cálculo da carga Q. Fonte: Coelho (2015, p. 20). Para verificar os valores das tensões de cisalhamento provocadas pelo puncionamento, as seções a serem analisadas situam-se a uma distância d/2 das seções críticas adotadas para o cálculo do momento fletor. = 1 · ℎ1 onde: Q = SABCD b1 = AB τ ≤ 0,3 28 (MPa) Fundações diretas ou rasas 13 Dimensionamento de sapatas corridas: método das bielas Segundo Alonso (1983), o método das bielas, já mencionado para o dimen- sionamento das sapatas isoladas, também pode ser utilizado para o dimen- sionamento de sapatas corridas, conforme mostra a Figura 14. Figura 14. Método das bielas aplicado às sapatas corridas. Fonte: Adaptada de Coelho (2015). Veja: d ≥ ⎩ ⎪ ⎨ ⎪ ⎧ − 0 4 1,44 , em que = 0,85 1,96 = ( − 0) 8 = 1,61 , em que 1,61 = = 1,4 · 1,15 Fundações diretas ou rasas14 Dimensionamento de sapatas associadas: método das bielas Teixeira e Godoy (1998) afirmam que, no dimensionamento de sapatas asso- ciadas, a sapata será centrada no centro de cargas dos pilares. Em seguida, realiza-se a adoção das dimensões, de modo que se obtenha um equilíbrio entre as dimensões da viga de rigidez e os balanços da laje. Segundo Alonso (1983), é preciso considerá-las como rígidas. Então, aplica- -se a mesma metodologia de cálculo empregada no caso de sapatas corridas, ou seja, o método das bielas. A viga é calculada pelo procedimento normal de viga isostática sobre dois apoios. A partir da Figura 15, tem-se: = 1 + 2 = ∙ Figura 15. Dimensionamento estrutural de sapata associada. Fonte: Adaptada de Coelho (2015). Dimensionamento de sapatas de divisa De acordo com Alonso (1983), o dimensionamento de uma sapata de divisa é realizado por meio de tentativas e erros. Para isso, recomenda-se supor a relação entre os lados a/b da sapata entre 2 e 2,5 (ALONSO, 1983). Observe a seguir a sequência de cálculo baseada no esquema da Figura 16. Fundações diretas ou rasas 15 Figura 16. Sapata de divisa com viga alavanca. Fonte: Alonso (1983, p. 8). V.E. Planta Vista lateral (magro) Esquema de cálculo Corte “AA” b a P1 P1 P2 2,5 cm e d R = P1 + ΔP O valor da força resultante R atuante no centro de gravidade da sapata de divisa pode ser encontrado da seguinte forma: = 1 + 1 É possível notar que o valor da resultante R é composto pela carga atuante no pilar da sapata de divisa (P1) mais um acréscimo de carga que pode ser chamado de ∆P(igual a P1= 1 + 1 ). Para calcular o valor das variáveis e e d, siga os seguintes passos: 1. Adotando-se a hipótese inicial de que a = 2b e ∆P = 0, tem-se que R1 = P1. Logo: Fundações diretas ou rasas16 1 = 2 · = 1 ∴ = 1 2 Para o valor de b, recomenda-se utilizar o múltiplo superior a 5 cm, uma vez que ele não sofrerá modificação no decorrer do dimensionamento. 2. Calcule os valores de e e ∆P com um valor fixopara b: = − 0 2 e ∆ = 1 3. A partir do valor de ∆P, obtemos o valor da reação R = P1 + ∆P. Conse- quentemente, a área da sapata é obtida: = 4. O valor do lado a da sapata é calculado utilizando a seguinte expressão, mantendo o valor de b fixo: = Como já citado, o valor da relação entre os lados a/b deve ficar entre 2 e 2,5. Logo, divide-se o valor encontrado para a e b para verificar se o valor é inferior a 2,5. Caso a condição seja satisfeita, o dimensionamento está concluído. Caso contrário, tenta-se um valor maior para o lado b e calcula-se os demais passos. Segundo Alonso (1983), deve-se priorizar, sempre que possível, a utilização das sapatas isoladas nos projetos de fundações. Esse tipo de sapata somente será substituído por sapatas associadas ou vigas de fundação quando, devido à distância pequena entre os pilares, ocorrer a su- perposição dos bulbos de tensões das fundações, prejudicando a interação entre solo e estrutura do projeto. Além disso, em comparação com os outros tipos de sapatas, as isoladas permitem a realização de obras mais econômicas. Fundações diretas ou rasas 17 Dimensionamento de viga de equilíbrio Alonso (1983) declara que a viga alavanca é geralmente feita com seção va- riável, usando-se estribos e ferros dobrados para absorver o cisalhamento. É possível obter os diagramas de momentos fletores e cortantes usando as resultantes P1 e R1 (cálculo simplificado) ou os valores de q e q’ (cálculo preciso), conforme a Figura 17. Figura 17. Dimensionamento de viga de equilíbrio. Fonte: Alonso (1983, p. 175). � Seção 1: 1 = − ′ 0 2 2 + 0 2 2 = − ( ′ − ) 2 0 2 1 = − ′ 0 + 0 = − ( ′ − ) 0 Fundações diretas ou rasas18 � Seção 2: 2 = −∆ ( − 2 ) 2 = + ∆ � Seção de momento máximo: tan ≥ + 1 Dimensionamento de blocos de fundação De acordo com a NBR 6122 (ABNT 2010), os blocos de fundação devem ser di- mensionados de modo que o ângulo β (Figura 18) satisfaça à seguinte equação: = 0 → 0 = 1 → 0 = 1 0 = 0 2 2 − 1( 0 − 0 2 ) onde: � σadm = tensão admissível de projeto; � fct = 0,4 fctk ≤ 0,8Mpa, onde fctk é a tensão de tração no concreto; � fctk = resistência característica à tração do concreto. Em relação ao dimensionamento de radiers, Velloso e Lopes (2010) declaram que, como no caso das vigas de fundação, é possível calcular os esforços internos usando os métodos estáticos. Fundações diretas ou rasas 19 Figura 18. Ângulo β nos blocos. Fonte: ABNT (2010, p. 24). Dimensionamento de radiers: método estático Os métodos estáticos se baseiam em duas hipóteses que consideram a dis- tribuição das pressões de contato. São elas: � as pressões variam linearmente sob o radier; � as pressões são uniformes nas áreas de influência dos pilares. A primeira hipótese se aplica mais usualmente a radiers mais rígidos, enquanto a segunda, a radiers mais flexíveis. O cálculo que segue a primeira hipótese é denominado cálculo com variação linear de pressões, e o que segue a segunda hipótese é chamado de cálculo através da área de influência dos pilares. Nos métodos estáticos, nenhuma consideração é feita quanto à compatibilidade de deformações do maciço de solo e da estrutura com as reações dele. Considera-se apenas o equilíbrio estático das cargas atuantes e da reação do terreno. Assim, esses métodos são indicados apenas para o cál- culo de esforços internos na fundação para seu dimensionamento estrutural. Cálculo com radier rígido ou com variação linear de pressões Nesse método, o radier é suposto rígido sobre o solo de Winkler. Para essa situação, obtém-se as pressões de contato exclusivamente a partir da re- sultante do carregamento (Figura 19). Portanto, para esse cálculo, é possível utilizar as equações das pressões de contato sob sapatas rígidas. Fundações diretas ou rasas20 Figura 19. Pressões de contato variando linearmente sob um radier. Esquema de cálculo de uma faixa. Fonte: Velloso e Lopes (2010, p. 164). De acordo com Velloso e Lopes (2010), é comum utilizar esse método para o dimensionamento de radiers de grande rigidez relativa, como radiers nervurados e em caixão. Segundo o ACI (1988), existem duas condições para que uma fundação do tipo radier seja considerada rígida. A primeira é que o espaçamento entre colunas l deve satisfazer à seguinte condição: ≤ 1,75 4 4 onde: � b = largura da faixa de influência da linha de colunas; � Kv = coeficiente de reação vertical; � EcI = rigidez à flexão da faixa. Fundações diretas ou rasas 21 A segunda condição é que a variação nas cargas e espaçamentos das colunas não seja superior a 20%. Cálculo pela área de influência dos pilares Esse método é geralmente aplicado em radiers de rigidez relativa média (Figura 20). Veja a seguir o processo de cálculo adotado. 1. Determinação da área de influência de cada pilar Ai. 2. Cálculo da pressão média nessa área, que é: = 3. Determinação da pressão média atuando nos painéis. 4. Cálculo dos esforços nas lajes e vigas e das reações nos apoios. Velloso e Lopes (2010) acrescentam que esse método considera a carga dos pilares sem majoração, apesar da aproximação feita na definição das pressões de contato. Figura 20. Esquema de cálculo de um radier (a) pela área de influência dos pilares e (b) como um sistema de vigas. Fonte: Velloso e Lopes (2010, p. 165). Fundações diretas ou rasas22 Além de conhecer os métodos de dimensionamento das fundações diretas ou rasas, é importante entender os métodos construtivos e as recomendações das normas técnicas específicas para a execução correta desses elementos estruturais. Métodos construtivos de fundações diretas ou rasas Executar uma fundação direta ou rasa é uma tarefa que exige conhecimento técnico e alguns cuidados. Velloso e Lopes (2010) citam como exemplo as situações em que, ao iniciar-se o processo de construção de uma edificação, a escavação das sapatas se depara com um nível elevado do lençol freático, devendo-se fazer o controle da entrada de água nessa fundação. Para isso, são utilizados sistemas de rebaixamento do lençol freático ou, caso o solo tenha baixa permeabilidade, um sistema de drenagem a céu aberto. A NBR 6122 (ABNT, 2010) apresenta outras recomendações relacionadas aos processos construtivos das fundações diretas; veja a seguir. � Em planta, as sapatas isoladas ou os blocos não devem ter dimensões inferiores a 0,60 m. � Nas divisas com terrenos vizinhos, exceto quando a fundação for as- sente sobre rocha, a profundidade mínima não deve ser inferior a 1,5 m. � A cota de apoio de uma fundação deve assegurar que a capacidade de suporte do solo de apoio não seja influenciada pelas variações sazonais de clima ou alterações de umidade. � Todas as paredes de uma fundação superficial em contato com o solo devem ser concretadas sobre um lastro de concreto não estrutural com no mínimo 5 cm de espessura, a ser lançado sobre toda superfície de contato solo-fundação. Para o caso de fundações próximas, mas situadas em cotas diferentes, a reta de maior declive que passa pelos seus bordos deve satisfazer, com a vertical, a um ângulo ɑ (Figura 21) com os seguintes valores, de acordo com a NBR 6122 (ABNT, 2010): � solos pouco resistentes: ɑ ≥ 60°; � solos resistentes: ɑ = 45°; � rochas: ɑ = 30°. Fundações diretas ou rasas 23 Vale lembrar que a fundação situada em cota mais baixa deve ser executada antes da fundação situada em cota mais alta, para que os riscos de desmoro- namentos sejam evitados. Se o projeto não puder seguir essa recomendação, devem ser tomados cuidados adicionais durante sua execução. Figura 21. Fundações próximas, mas em cotas diferentes. Fonte: ABNT (2010, p. 23). Diante do abordado neste capítulo, é possível notar a importância de se conhecer as fundações diretas ou rasas e seus tipos, características, particularidades de uso e métodos construtivos. Projetar, dimensionar e executar essas fundações são responsabilidades presentes no cotidianodos profissionais da engenharia civil. Assim, o estudo desse conteúdo permite construir obras com fundações seguras, eficientes e viáveis economicamente. Referências ALONSO, U. R. Exercícios de fundações. São Paulo: Edgard Blucher, 1983. AMERICAN CONCRETE INSTITUTE (ACI). ACI 318-63: building code requirements for reinforced concrete. Detroit: ACI Committee, 1963. AMERICAN CONCRETE INSTITUTE (ACI). Suggested analysis and design procedures for combined footings and mats. Journal of the A.C.I., p. 304-324, May/June, 1988. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 6118: projeto de estruturas de concreto - procedimentos. Rio de Janeiro: ABNT, 2014. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 6122: projeto e execução de fundações. Rio de Janeiro: ABNT, 2010. AZEREDO, H. A. O edifício até sua cobertura. 2. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 1997. Fundações diretas ou rasas24 BASTOS, P. S. S. Sapatas de fundação. UNESP, 2019. (Apostila da Disciplina Estruturas de Concreto III, Curso de Engenharia Civil, Universidade Estadual Paulista, Bauru, SP). Disponível em: Disponível em: https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS- -A3YQC3/1/trabalho_final_de_curso.pdf. Acesso em: 27 abr. 2021. COELHO, W. C. G. Dimensionamento geotécnico geométrico e estrutural de sapatas e estacas. 2015. 54 p. Monografia (Especialização em Estruturas) – Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2015. Disponível em: https:// repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-A3YQC3/1/trabalho_final_de_curso.pdf. Acesso em: 27 abr. 2021. GUIMARÃES, D.; PETER, E. A. Fundações. Porto Alegre: Grupo A, 2018. E-book. OLIVEIRA, C. J. et al. Interação solo-estruturada em edificações assentes sobre funda- ções rasas do tipo sapata. In: CONGRESSO DE ENGENHARIA CIVIL, 6., 2019, Juiz de Fora. Anais [...]. Juiz de Fora: UFJF, 2019. REBELLO, Y. C. P. Fundações: guia prático de projeto, execução e dimensionamento. São Paulo: Zigurate, 2008. TEIXEIRA, A. H.; GODOY, N. S. Análise, projeto e execução de fundações rasas. In: HACHICH, W. et al. (ed.). Fundações: teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Pini, 1998. TIPOS de blocos de fundação. 2019. Disponível em: http://dedmd.com.br/valida- cao/2019_1/FUNDA%C3%87%C3%95ES/Unidade%202/s1/. Acesso em: 27 abr. 2021. VELLOSO, D. A.; LOPES, F. R. Fundações: critérios de projeto, investigação do subsolo, fundações superficiais, fundações profundas — volume completo. São Paulo: Oficina de textos, 2010. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Fundações diretas ou rasas 25
Compartilhar