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CITOESQUELETO SUMÁRIO 1. Função e Origem do Citoesqueleto .................... 3 2. Filamentos de Actina ................................................ 9 3. Microtúbulos ..............................................................23 4. Filamentos Intermediários ....................................35 5. Polarização e Migração Celular ..........................39 Referências Bibliograficas .........................................47 3CITOESQUELETO Para que as células funcionem de forma adequada, elas devem se or- ganizar no espaço e interagir meca- nicamente uma com a outra e com o ambiente ao seu redor. Devem ainda apresentar uma conformação corre- ta, ser fisicamente robustas e estar estruturadas de forma adequada in- ternamente. Muitas células também devem ser capazes de modificar sua forma e migrar para outros locais. Além disso, toda célula deve ser ca- paz de reorganizar seus componen- tes internos como decorrência dos processos de crescimento, divisão e adaptação a mudanças no ambiente. Essas funções espaciais e mecânicas dependem de um sistema de filamen- tos denominado citoesqueleto. As diversas funções do citoesqueleto dependem da atuação das três famí- lias de proteínas de filamento – fila- mentos de actina, microtúbulos e fila- mentos intermediários. Cada tipo de filamento possui funções biológicas, propriedades mecânicas e dinâmicas distintas. No entanto, certas caracte- rísticas fundamentais são comuns a todos eles. 1. FUNÇÃO E ORIGEM DO CITOESQUELETO Os três principais filamentos do cito- esqueleto são responsáveis por dife- rentes aspectos da organização es- pacial e propriedades mecânicas da célula. Os filamentos de actina deter- minam a forma da superfície da célula e são necessários para a locomoção das células como um todo; eles tam- bém conduzem a divisão celular. Os microtúbulos determinam o po- sicionamento das organelas deli- mitadas por membrana, promovem o transporte intracelular e formam o fuso mitótico que segrega os cro- mossomos durante a divisão celular. Os filamentos intermediários propor- cionam resistência mecânica. Todos esses filamentos do citoesqueleto in- teragem com centenas de proteínas acessórias que regulam e ligam os filamentos uns aos outros e a outros componentes da célula. As proteínas acessórias são essen- ciais para a polimerização controlada dos filamentos do citoesqueleto em locais específicos, e incluem as prote- ínas motoras, incríveis máquinas mo- leculares que convertem a energia da hidrólise de ATP em força mecânica, e que podem mover organelas ao longo dos filamentos ou mover os próprios filamentos. 4CITOESQUELETO Filamentos do citoesqueleto formam estruturas estáveis ou dinâmicas Grandes estruturas citoesqueléticas podem persistir ou sofrer modifica- ções de acordo com as necessidades, podendo apresentar uma duração que varia de menos de um minuto ao período total de vida da célula. No en- tanto, os componentes macromole- culares individuais que compõem es- tas estruturas encontram-se sob um fluxo constante. Assim, o rearranjo estrutural em uma célula requer uma quantidade de energia extra relativa- mente pequena quando as condições sofrem alteração. A regulação do comportamento dinâ- mico e a polimerização dos filamentos do citoesqueleto permitem que a cé- lula eucariótica construa uma enorme variedade de estruturas a partir dos três sistemas básicos de filamentos. Os filamentos de actina revestem a face interna da membrana plasmática de células animais, conferindo resis- tência e formando uma fina bicamada lipídica. Eles também formam diver- sos tipos de projeções na superfície das células. Algumas destas são es- truturas dinâmicas, como os lameli- pódios e os filopódios, que as células usam para explorar o território e para se movimentar. Arranjos mais está- veis permitem que as células fiquem aderidas a um substrato subjacente e permitem a contração dos músculos. Os feixes regulares do estereocílio na superfície de células do ouvido interno contêm feixes de filamen- tos de actina que vibram como has- tes rígidas em resposta ao som, e as microvilosidades, organizadas de A B Figura 1. A, Célula fixada e marcada para mostrar seus arranjos de microtúbulos (verde) e de filamentos de actina (vermelho). B, Célula em divisão marcada para mostrar seus microtúbulos do fuso (verde) e a rede de filamentos inter- mediários (vermelho). O DNA de ambas as células está marcado em azul. Fonte: ALBERTS, 2017. 5CITOESQUELETO modo semelhante na superfície de células epiteliais intestinais, ampliam enormemente a área de superfície apical para aumentar a absorção de nutrientes. Figura 2. Filamentos de actina são polímeros da proteína actina. Flexíveis, com cerca de 8 nm de diâmetro, estão dispersos na célula, predominando subjacente à membrana plasmática. I, filamento de actina individual; II, microvilosi- dade; III, fibras de tração em vermelho; IV, músculo estriado. Fonte: ALBERTS, 2017 Os microtúbulos podem rapidamente reorganizar-se para formar um fuso mitótico bipolar durante a divisão ce- lular. Eles podem também formar cí- lios, que funcionam como chicotes de impulsão, ou dispositivos sensoriais na superfície das células, ou feixes fir- memente alinhados que servem como pistas para o transporte de materiais sobre longos axônios neuronais. 6CITOESQUELETO Os filamentos intermediários, por sua vez, revestem a face interna do enve- lope nuclear, formando uma espécie de gaiola protetora para o DNA da célula. No citosol, esses filamentos são trançados sob a forma de fortes cabos que mantêm as camadas das células epiteliais unidas ou que auxi- liam na extensão dos longos e fortes axônios das células neuronais. Eles também permitem a formação de determinados apêndices resistentes, como os pelos e as unhas. Figura 3. Microtúbulos são cilindros longos e ocos formados pela tubulina. Apresentando diâmetro de 25 nm, são mais rígidos que os filamentos de actina. I, microtúbulo individual; II, secção transversa da base de 3 cílios; III, arranjo interfásico de microtúbulos, em verde, e organelas em vermelho; IV, protozoário ciliado. Fonte: ALBERTS, 2017 7CITOESQUELETO O citoesqueleto determina a organização e a polaridade celular Além de formar protrusões estáveis na superfície das células especializadas, o citoesqueleto também é responsá- vel pela polarização geral das células, permitindo que elas apresentem dife- renças entre suas regiões superiores e inferiores ou anteriores e posterio- res. A informação de polaridade que é transmitida pela organização do ci- toesqueleto é muitas vezes mantida durante toda a vida útil da célula. As células epiteliais polarizadas usam arranjos organizados de microtúbu- los, filamentos de actina e filamentos intermediários para manter as dife- renças essenciais entre a superfície apical e a superfície basolateral. As células também devem manter uma Figura 4. Filamentos intermediários são fibras semelhantes a cabos, com aproximadamente 10 nm de diâmetro. São composto por proteínas de uma família grande e heterogênea. I, filamento intermediário individual; II, filamentos inter- mediários (azul) em neurônios e III, em células epiteliais; IV, lâmina nuclear. Fonte: ALBERTS, 2017 8CITOESQUELETO forte aderência entre si para permi- tir que esta camada única de células atue de maneira eficiente como bar- reira física. A organização e a divisão da célula bacteriana dependem de proteínas homólogas às proteínas do citoes- queleto eucarióticas. Bactérias contêm homólogos de to- dos os três tipos de filamentos do citoesqueleto eucariótico. Além dis- so, tubulinas e actinas bacterianas são mais diversificadas do que suas versões eucarióticas, tanto nos tipos de arranjos que formam, quanto nas funções que desempenham. Quase todas as bactérias e diversas arqueo- bactérias contém um homólogo da tubulina, denominado FtsZ, que pode polimerizar em filamentos e organi- zar-se em um anel (denominadoanel Z) na região em que é formado o sep- to, durante a divisão celular. Apesar de o anel Z persistir por mui- tos minutos, os filamentos individuais dentro dele são altamente dinâmi- cos, cada filamento apresenta uma meia-vida média de cerca de 30 se- gundos. Conforme a bactéria procede sua divisão, o anel Z torna-se me- nor até sua completa dissociação e desaparecimento. Acredita-se que os filamentos FtsZ no anel Z deem origem a uma força de flexão que impulsiona a invagina- ção da membrana necessária para que a divisão celular se complete. O anel Z pode também atuar como uma região para a localização das enzimas necessárias à construção do septo entre as duas células-filhas. Muitas bactérias também contêm homólogos da actina. Dois desses homólogos, MreB e Mbl, são encon- trados principalmente em células de forma cilíndrica ou em forma espiral, onde eles se agrupam para formar regiões dinâmicas que se movem circunferencialmente ao longo do comprimento da célula. Essas prote- ínas contribuem para a determina- ção da forma celular, servindo como um molde que promove a síntese dos peptidoglicanos da parede celular, semelhantemente à forma como os microtúbulos auxiliam a organização da síntese da parede celular de celu- lose, nas células vegetais. SAIBA MAIS! Um homólogo da actina em bactérias, particularmente intrigante, é o ParM, que é codificado por um gene específico em certos plasmídeos bacterianos. Contêm genes responsáveis por resistência a antibióticos e levam a disseminação de resistência a múltiplos fármacos em epidemias. 9CITOESQUELETO 2. FILAMENTOS DE ACTINA Cada subunidade de actina, chamada frequentemente de actina globular ou actina G, é um polipeptídeo de 375 aminoácidos, firmemente associado a uma molécula de ATP ou ADP. As subunidades de actina unem-se em um arranjo tipo cabeça-cauda para formar uma hélice rígida, destrógira, que forma uma estrutura de aproxi- madamente 8 nm de largura, chama- da actina F ou actina filamentosa. Visto que todas as subunidades as- simétricas de actina de um filamento apontam na mesma direção, os fila- mentos são polares e possuem extre- midades estruturalmente diferentes: uma extremidade menos, de cres- cimento lento, e uma extremidade mais, de crescimento mais rápido. A extremidade menos também é refe- rida como a “extremidade da ponta”, e a extremidade mais, como a “ex- tremidade da pena” em uma alusão à aparência em “seta” do complexo formado pelos filamentos de actina e pela proteína motora miosina. Dentro do filamento, as subunidades estão posicionadas com sua fenda de liga- ção a nucleotídeos direcionada para a extremidade menos. Os filamentos de actina, individu- almente, são bastante flexíveis. A rigidez de um filamento pode ser caracterizada por seu comprimen- to de persistência, que representa o comprimento mínimo do filamen- to no qual flutuações térmicas ale- atórias são suscetíveis de provocar uma curvatura. O comprimento de persistência de um filamento de ac- tina é de apenas algumas dezenas de micrômetros. Em uma célula viva, no entanto, as proteínas acessórias provocam interligações e agrupam os filamentos em feixes, originando estruturas de actina de maior escala que são muito mais rígidas do que os filamentos individuais de actina. A regulação da formação dos fila- mentos de actina é um importante mecanismo pelo qual as células con- trolam sua forma e movimento. Pe- quenos oligômeros de subunidades de actina podem formar arranjos de forma espontânea, mas eles são ins- táveis e se dissociam facilmente, pois cada monômero é ligado a apenas um ou dois outros monômeros. Para que um novo filamento de actina seja formado, as subunidades devem as- sociar-se em um agregado inicial, ou núcleo, o qual será estabilizado por vários contatos entre as subunidades e, só então, poderá sofrer um rápido crescimento pela adição de novas su- bunidades. Esse processo é chamado de nucleação do filamento. A instabilidade dos pequenos agre- gados de actina cria uma barreira cinética para a nucleação. Quando a polimerização é iniciada, essa bar- reira resulta em uma fase de retar- do, durante a qual não são formados 10CITOESQUELETO filamentos. Durante essa fase de re- tardo, no entanto, alguns dos peque- nos agregados instáveis conseguem fazer a transição para uma forma mais estável que se assemelha a um filamento de actina. Isso leva a uma fase de alongamen- to rápido do filamento, durante a qual subunidades são rapidamente adicio- nadas às extremidades dos filamen- tos nucleados. Finalmente, conforme a concentração de monômeros de actina diminui, o sistema se aproxima de um estado estacionário, no qual a taxa de adição de novas subunidades na extremidade do filamento alcança um equilíbrio exato com a taxa de dis- sociação de subunidades. A concentração de subunidades livres que permanece em solução nesse momento é chamada de concentra- ção crítica (Cc). O valor da concentra- ção crítica é igual a constante de ve- locidade para perda de subunidades dividida pela velocidade constante da adição de subunidades – ou seja, Cc 5 koff/kon, que é igual a constan- te de dissociação, Kd, e o inverso da constante de equilíbrio, K. Dentro da célula, a concentração de actina não polimerizada é muito maior, e assim a célula desenvolveu mecanismos para impedir que a maioria dos seus mo- nômeros de actina sejam arranjados em filamentos. Devido a orientação uniforme das subunidades assimétricas de actina no filamento, as estruturas das duas extremidades são diferentes. Essa orientação faz as duas extremidades de cada polímero serem diferentes en- tre si, e estas diferenças refletirão nas taxas de crescimento do filamento. As constantes cinéticas de velocida- de para a associação e a dissociação de subunidades de actina são muito maiores para a extremidade mais do que para a extremidade menos. Figura 5. Fonte: ALBERTS, 2017. 11CITOESQUELETO A hidrólise de ATP: indução do comportamento de rolamento em estado estacionário A actina pode catalisar a hidrólise do nucleosídeo trifosfato ATP. No caso das subunidades de actina livres, essa hidrólise ocorre de forma bas- tante lenta. No entanto, o processo é acelerado quando as subunidades estão incorporadas nos filamentos. Logo após ocorrer a hidrólise de ATP, o grupo fosfato livre é liberado de cada subunidade, mas o ADP perma- nece preso na estrutura do filamento. Assim, dois tipos diferentes de estru- turas de filamento podem existir, um sob a “forma T”, referente ao nucleotí- deo ligado (ATP), e outro sob a “forma D” também referente ao nucleotídeo ligado (ADP). Quando o nucleotídeo é hidrolisado, grande parte da ener- gia livre liberada pela clivagem da li- gação fosfato-fosfato é armazenada no polímero. Isso faz uma alteração de energia livre para a dissociação de uma subunidade de polímero da for- ma D mais negativa quando compa- rada a alteração de energia livre para a dissociação de uma subunidade de polímero na forma T. Em células vivas, a maioria das subu- nidades de actina solúveis está sob a forma T, visto que a concentração livre de ATP é aproximadamente dez ve- zes maior que a de ADP. No entanto, quanto mais tempo as subunidades estiverem nos filamentos de actina, mais provavelmente terão seu ATP hidrolisado. A velocidade de hidróli- se em comparação com a velocidade de adição de subunidades define se a subunidade em cada extremidade de um filamento estará sob a forma T ou D. Se a concentração de monômeros de actina é maior que a concentração crítica para ambas as formas T e D do polímero, então serão adicionadas subunidades ao polímero em ambas as extremidades antes que os nucle- otídeos adicionados anteriormente tenham sido hidrolisados; como re- sultado, as pontas dos filamentos de actina permanecerão sob a forma T. Por outro lado, se a concentração de subunidades é menor do que as concentrações críticas para ambas as formas T e D do polímero,então a hidrólise poderá ocorrer antes que a próxima subunidade seja adicionada, e ambas extremidades do filamento estarão sob a forma D e encurtarão. Sob concentrações intermediárias das subunidades de actina, é possí- vel que a velocidade de adição de su- bunidades seja mais rápida do que a hidrólise de nucleotídeos na extremi- dade mais, porém mais lenta do que a hidrólise de nucleotídeos na extremi- dade menos. Nesse caso, a extremi- dade mais do filamento permanecerá na conformação T, enquanto a extre- midade menos adotará a conforma- ção D. O filamento, então, sofre uma 12CITOESQUELETO adição líquida de subunidades na ex- tremidade mais, enquanto simultane- amente perde subunidades na extre- midade menos. Isso leva a uma propriedade caracte- rística do filamento, denominada rola- mento. Sob uma concentração inter- mediária particular de subunidades, o crescimento do filamento na extre- midade mais se encontra exatamente balanceado pela dissociação de su- bunidades da extremidade menos. Nessas condições, as subunidades alternam rapidamente entre os esta- dos livre ou ligado ao filamento, en- quanto o comprimento total do fila- mento permanece inalterado. Esse ponto de “rolamento de repouso” re- quer consumo constante de energia sob a forma de hidrólise de ATP. SAIBA MAIS! As funções dos filamentos de actina são inibidas por químicos tanto estabilizadores quanto desestabilizadores do polímero. As citocalasinas são produtos de fungos que impedem a polimerização da actina pela ligação com a extremidade mais dos filamentos de actina. A latrunculina impede a polimerização da actina pela sua ligação a subunidades de actina. As faloidinas são toxinas isoladas do cogumelo Amanita que se ligam firme e lateralmente aos filamentos da actina, estabilizando-os e evitando a despolimerização. Proteínas de ligação à actina Dentro de uma célula, o comporta- mento da actina, além de controle próprio, também é regulado por nu- merosas proteínas acessórias que se ligam aos monômeros ou filamentos da actina. No estado estacionário, in vitro, a meia-vida do filamento, uma medida referente a quanto tempo um monômero de actina individual gasta em um filamento em rolamento, é de aproximadamente 30 minutos. Em uma célula não muscular de verte- brados, a meia-vida da actina nos fi- lamentos é de apenas 30 segundos. Isto demonstra que fatores celulares modificam o comportamento dinâmi- co dos filamentos de actina. As proteínas de ligação à actina al- teram drasticamente a dinâmica e a organização dos filamentos da actina por meio do controle espacial e tem- poral da disponibilidade do monô- mero, da nucleação do filamento, do alongamento e da despolimerização. Na maioria das células não muscu- lares dos vertebrados, aproximada- mente 50% da actina está em fila- mentos, e 50%, em solução. Por que tão pouco da actina polimeriza em filamentos? A razão é que as células contêm proteínas que se ligam aos monômeros de actina e tornam a po- limerização muito menos favorável. A mais abundante dessas proteínas é uma pequena proteína chamada de timosina. Os monômeros de actina 13CITOESQUELETO ligados a timosina estão em um es- tado de bloqueio, não podendo asso- ciar-se nem a extremidade mais nem a extremidade menos dos filamentos. Não são ainda capazes de hidrolisar ou modificar o nucleotídeo ao qual estão ligados. Como, então, as célu- las recrutam monômeros de actina a partir desse conjunto bloqueado para utilizá-los para a polimerização? A resposta depende de uma outra proteína de ligação a monômeros chamada de profilina. A profilina li- ga-se a face do monômero de actina que é oposta à fenda de ligação ao ATP, bloqueando a lateral do monô- mero que normalmente se associaria a extremidade menos do filamento, ao mesmo tempo em que deixa ex- posto o sítio do monômero que se liga a extremidade mais. Quando o complexo de profilina-ac- tina liga-se a uma extremidade mais livre, uma mudança conformacional na actina reduz a sua afinidade pela profilina e ela é liberada, tornando o filamento de actina uma subunidade mais longa. A profilina compete com a timosina pela ligação a monômeros de actina individuais. Assim, regulando a atividade local da profilina, as células podem controlar o movimento de subunidades de acti- na sequestradas, ligadas a timosina, para as extremidades mais dos fila- mentos. Vários mecanismos regulam a atividade da profilina, entre eles a fosforilação da profilina e sua ligação aos fosfolipídeos inositol. Fatores de nucleação de actina Além da disponibilidade de subuni- dades de actina ativas, um segundo pré-requisito para a polimerização da actina celular é a nucleação do fila- mento. As proteínas que contêm mo- tivos de ligação a monômeros de ac- tina ligados em sequência medeiam o mais simples dos mecanismos de nu- cleação do filamento. Essas proteínas de nucleação de actina aproximam várias subunidades de actina para formar um ponto de nucleação. Na maioria dos casos, a nucleação da ac- tina é catalisada por um de dois tipos diferentes de fatores: pelo complexo Arp 2/3 ou pelas forminas. O primeiro desses fatores é um com- plexo de proteínas que inclui duas proteínas relacionadas a actina (ARPs, actin-related proteins), cada uma apresentando aproximadamen- te 45% de similaridade com a actina. O complexo Arp 2/3 provoca a nucle- ação do crescimento do filamento de actina na extremidade menos, permi- tindo rápido alongamento na extre- midade mais. As forminas são proteínas diméricas que promovem a nucleação do cres- cimento de filamentos não ramifica- dos, lineares, que podem ser interli- gados a outras proteínas para formar feixes paralelos. Cada subunidade 14CITOESQUELETO de formina possui um sítio de ligação à actina monomérica, e o dímero de formina parece ser capaz de nuclear a polimerização de um filamento de ac- tina pela captura de dois monômeros. Enquanto ocorre o crescimento do filamento recém-nucleado, o dímero de formina permanece associado a extremidade mais, de rápido cresci- mento e, ao mesmo tempo, permite a adição de novas subunidades a essa extremidade. Assim como no caso da ativação pela profilina, a nucleação dos fila- mentos de actina por complexos Arp 2/3 e forminas ocorre principalmente na membrana plasmática, e a maior densidade de filamentos de actina, na maioria das células, está presente na periferia celular. A camada logo abai- xo da membrana plasmática é deno- minada córtex celular, e os filamentos de actina presentes nessa região de- terminam a forma e o movimento da superfície celular, permitindo que a célula altere sua conformação e rigi- dez rapidamente, em resposta a mu- danças no seu ambiente externo. Proteínas de ligação ao filamento de actina alteram a dinâmica do filamento O comportamento do filamento de actina é regulado por duas classes principais de proteínas de ligação: aquelas que se ligam lateralmente a um filamento e aquelas que se ligam às extremidades. Entre as proteínas que se ligam à la- teral do filamento, está a tropomio- sina, uma proteína alongada que se liga simultaneamente a seis ou sete subunidades de actina adjacentes, ao longo de cada um dos dois sulcos do filamento helicoidal da actina. Além de estabilizar e enrijecer o filamento, a ligação da tropomiosina pode impe- dir que o filamento de actina interaja com outras proteínas, sendo essa ca- racterística importante no controle da contração muscular. Um filamento de actina que para de crescer e não é especificamente esta- bilizado na célula sofrerá rápida des- polimerização, especialmente em sua extremidade mais, uma vez que as moléculas de actina tenham hidroli- sado seu ATP. A ligação de proteínas de capeamento (também denomina- das CapZ devido a sua localização na banda Z dos músculos) à extremida- de mais estabiliza o filamento de ac- tina em sua extremidade mais, pois torna-o inativo, reduzindo fortemente as taxas de crescimento e despolime-rização do filamento. Na extremidade menos, um filamen- to de actina pode ser capeado pelo complexo Arp 2/3 que foi responsá- vel pela sua nucleação, embora mui- tas extremidades menos em uma célula típica se dissociam do comple- xo Arp 2/3 e não estão capeadas. A 15CITOESQUELETO tropomodulina, mais conhecida por sua função no capeamento dos fila- mentos de actina que exibem uma vida-média excepcionalmente longa, nos músculos, liga-se firmemente às extremidades menos dos filamentos de actina que foram revestidas e, as- sim, estabilizadas pela tropomiosina. Ela também pode capear transitoria- mente os filamentos de actina pura e significativamente reduzir sua ve- locidade de alongamento e despo- limerização. Uma grande família de proteínas tropomodulina regula o comprimento e a estabilidade dos fi- lamentos de actina em muitos tipos de células. Para efeito máximo, as proteínas que se ligam lateralmente a filamentos de actina revestem completamente o filamento e, portanto, devem estar presentes em grande quantidade. Em contraste, as proteínas que se ligam às extremidades podem afetar a di- nâmica do filamento mesmo quando estão presentes em níveis muito baixos. Miosina e Actina Uma característica fundamental do ci- toesqueleto de actina é que ele pode formar estruturas contráteis que se interligam e promovem o deslizamen- to dos filamentos de actina, uns em relação aos outros, através da ação da proteína motora miosina. Além de conduzirem a contração muscular, os arranjos de actina e miosina desem- penham funções importantes em cé- lulas não musculares. A primeira proteína motora identifica- da foi a miosina do músculo esquelé- tico, que é responsável pela geração da força para a contração muscular. Essa proteína, atualmente conhecida como miosina II, é uma proteína alon- gada formada por duas cadeias pe- sadas e duas cópias de cada uma de duas cadeias leves. Figura 6. Fonte: ALBERTS, 2017. 16CITOESQUELETO Cada uma das cadeias pesadas pos- sui um domínio globular (cabeça) em sua extremidade N-terminal, que contém a maquinaria geradora de for- ça, seguido por uma longa sequência de aminoácidos que forma uma ex- tensão supertorcida que medeia a di- merização da cadeia pesada. As duas cadeias leves ligam-se próximo ao domínio globular N-terminal, ao pas- so que a cauda supertorcida formará feixes através da ligação às caudas de outras moléculas de miosina. Essas interações cauda-cauda levam à formação de um grande “filamento espesso” bipolar que apresenta vá- rias centenas de cabeças de miosi- na, orientadas em direções opostas nas duas extremidades do filamento espesso. Figura 7. Fonte: ALBERTS, 2017. Cada cabeça de miosina se liga ao ATP e é capaz de hidrolisá-lo, usan- do a energia dessa hidrólise para se deslocar rumo a extremidade mais do filamento de actina. A orientação oposta das cabeças no filamento es- pesso torna eficiente o deslizamento, um em relação ao outro, dos pares de filamentos de actina em orientação oposta, contraindo o músculo. No músculo esquelético, em que fi- lamentos de actina cuidadosamente arranjados estão alinhados em ar- ranjos de “filamentos finos” em torno dos filamentos grossos de miosina, o deslizamento dos filamentos de ac- tina, controlado por ATP, resulta em uma poderosa contração. As células musculares cardíacas e lisas contêm moléculas de miosina II organiza- das de modo semelhante, apesar de estas serem codificadas por genes diferentes. As proteínas motoras usam altera- ções estruturais em seus sítios de ligação ao ATP para produzir inte- rações cíclicas com um filamento do citoesqueleto. Cada ciclo de ligação de ATP, hidrólise e liberação, as im- pulsiona para frente em uma única direção em um novo sítio de ligação sobre o filamento. No caso da miosina II, cada passo do movimento ao lon- go da actina é gerado pela rotação de uma alfa-hélice de 8,5 nm de compri- mento, chamada de braço de alavan- ca, a qual é estruturalmente estabili- zada pela ligação com cadeias leves. 17CITOESQUELETO Na base desse braço de alavanca, próximo a cabeça, existe uma hélice, semelhante a um pistão, que conecta os movimentos da fenda de ligação ao ATP na cabeça, com pequenas ro- tações do chamado domínio conver- sor. Uma pequena alteração nesse ponto pode girar a hélice como uma longa alavanca, fazendo sua extremi- dade mais distante mover-se cerca de 5,0 nm. Essas alterações conformacionais da miosina estão acopladas a alte- rações na sua afinidade de ligação por actina, permitindo que a cabeça de miosina seja liberada do ponto de adesão ao filamento de actina e, a se- guir, seja novamente ligada, aderindo a um novo ponto. Esse ciclo meca- noquímico completo de ligação e hi- drólise do nucleotídeo e liberação do fosfato, que provoca o “movimento de potência”, produz o movimento de um único passo. Em baixas concentra- ções de ATP, o intervalo entre a eta- pa de produção de força e a ligação do próximo ATP é longo o suficiente para que passos individuais possam ser observados. Filamentos de actina Extremidade (-) Extremidade (+) Cabeça de miosina Filamento espesso de miosina Hidrólise Braço de alavanca Movimento de potência Extremidade (+) Extremidade (-) Figura 8. Fonte: ALBERTS, 2017. 18CITOESQUELETO No começo do ciclo apresentado nes- ta figura, uma cabeça de miosina não ligada a um nucleotídeo está firme- mente presa a um filamento de actina em uma configuração de rigor, assim denominada por ser responsável pelo rigor mortis, a rigidez cadavérica. Em um músculo em contração ativa, este estado é de duração extremamente curta, sendo rapidamente terminado pela ligação de uma molécula de ATP. Uma molécula de ATP se liga a uma grande fenda existente na “parte posterior” da cabeça, ou seja, no lado mais distante do filamento de actina, e imediatamente provoca uma leve modificação na conformação do sí- tio de ligação à actina, o que reduz a afinidade da cabeça pela actina e permite seu deslizamento sobre o filamento. A fenda se fecha sobre a molécula de ATP, desencadeando um movimento no braço de alavanca, que, por sua vez, faz a cabeça se deslocar sobre o filamento a uma distância de apro- ximadamente 5 nm. Ocorre hidrólise de ATP, mas o ADP e o fosfato inor- gânico (Pi) produzidos permanecem firmemente ligados à proteína. Uma ligação fraca da cabeça de mio- sina a um novo sítio do filamento de actina provoca a liberação do fosfato inorgânico produzido pela hidrólise de ATP, concomitante à forte ligação da cabeça com a actina. Essa ligação de- sencadeia o movimento de potência – a modificação conformacional gera- dora de força durante a qual a cabeça retorna à sua conformação original. Durante o movimento de potência, a cabeça perde seu ADP, retornando, portanto, ao ponto do início para um novo ciclo. Ao final de um ciclo, a ca- beça de miosina está mais uma vez firmemente presa em uma configu- ração de rigor. Observe que a cabeça se deslocou para uma nova posição sobre o filamento de actina. O deslizamento da miosina II ao lon- go dos filamentos de actina provoca a contração muscular A contração muscular é a mais familiar e a mais compreendida dentre as formas de movimento em animais. Todas as for- mas de contração muscular depen- dem do deslizamento, controlado por ATP, de um conjunto extremamente organizado de filamentos de actina, sobre arranjos de filamentos de mio- sina II. 19CITOESQUELETO A maior parte do interior citoplasmá- tico das células musculares é cons- tituída por miofibrilas, que é o nome dado aos elementos contráteis bási- cos da célula muscular. Uma miofibri- la é uma estrutura cilíndrica de 1 a 2 mm de diâmetro que frequentemen- te é tão longa quanto a própria célula muscular. Ela consiste em uma longa cadeia de unidades contráteis peque- nas e repetitivas, chamadas sarcôme- ros, cada uma com um comprimento de 2,2 mm, que conferem aparência estriada à miofibrila dos vertebrados. Cadasarcômero é formado a partir de um arranjo em miniatura, exatamente ordenado em paralelo e parcialmente superposto, de filamentos delgados e espessos. Os filamentos delgados são compostos de actina e proteínas associadas, sendo ligados por suas extremidades mais a um disco Z em cada extremidade do sarcômero. As extremidades menos, capeadas dos filamentos de actina, se estendem em Figura 9. Fonte: ALBERTS, 2017. 20CITOESQUELETO direção ao centro do sarcômero, onde se sobrepõem aos filamentos espes- sos, os arranjos bipolares formados a partir de isoformas musculares espe- cíficas de miosina II. Tanto a musculatura cardíaca quanto a musculatura lisa contêm sarcôme- ros, no entanto, a organização destes não é tão regular quanto a apresen- tada na musculatura esquelética. O encurtamento do sarcômero é provo- cado pelo deslizamento dos filamen- tos de miosina sobre os filamentos delgados de actina, sem que ocorra modificação no tamanho de qualquer desses tipos de filamentos. Os filamentos bipolares espessos deslizam em direção a extremidade mais de dois conjuntos de filamen- tos delgados de orientação oposta, controlados por dúzias de cabeças de miosina independentes que se encontram posicionadas de tal forma a interagir com cada um dos filamen- tos delgados. Visto que não existe uma coordenação entre os movimen- tos das cabeças de miosina, é essen- cial que elas permaneçam fortemente ligadas ao filamento de actina apenas durante um curto período de cada ci- clo de ATPase, para que não interfi- ram umas nas outras a ponto de pro- vocar recuos. O rápido encurtamento sincronizado de milhares de sarcômeros alinha- dos entre si pelas extremidades, em cada miofibrila, dá à musculatura es- quelética a capacidade de contração suficientemente rápida para que ati- vidades como correr sejam realiza- das. As proteínas acessórias contro- lam a impressionante uniformidade da organização do filamento, do seu comprimento e do espaçamento no sarcômero. Figura 10. Fonte: ALBERTS, 2017. As extremidades mais dos filamen- tos de actina estão ancoradas no dis- co Z, o qual é constituído de CapZ e alfa-actinina. O disco Z cobre os filamentos, evitando a despolimeri- zação, além de mantê-los associa- dos em um feixe regularmente espa- çado. O comprimento exato de cada 21CITOESQUELETO filamento delgado é determinado por uma proteína-molde bastante grande denominada nebulina, a qual consiste quase que totalmente em repetições de um motivo de 35 aminoácidos com capacidade de ligação à actina. A nebulina estende-se do disco Z até a extremidade menos de cada fila- mento delgado, que é capeado e es- tabilizado pela tropomodulina. Os fi- lamentos espessos são posicionados a meio caminho entre os discos Z por pares opostos de uma proteína-mol- de ainda maior denominada titina. A titina age como uma mola molecular, contendo uma série de domínios se- melhantes à imunoglobulina que po- dem desenovelar-se um a um quando é aplicado estresse a essa proteína. O enovelamento e o desenovela- mento “tipo mola” desses domínios mantêm os filamentos espessos po- sicionados no centro do sarcômero e permitem que a fibra muscular se reestruture após ter sido fortemente espichada. A contração muscular e o aumento na concentração citosólica de Ca++ A interação molecular geradora de força entre os filamentos espessos de miosina e os filamentos delga- dos de actina ocorre somente quan- do um sinal é recebido pelo múscu- lo esquelético proveniente do nervo que o estimula. Imediatamente após o recebimento do sinal, a célula deve ser capaz de sofrer uma rápida con- tração, pelo encurtamento simultâ- neo de todos os seus sarcômeros. Duas características principais das células musculares tornam possível esta contração extremamente rápida. Primeiro, como discutido anteriormen- te, as cabeças motoras das miosinas individuais gastam, em cada filamen- to espesso, apenas uma pequena fra- ção do tempo relativo ao ciclo de ATP ligadas ao filamento e ativamente ge- rando força, de tal forma que várias cabeças de miosina podem atuar em rápida sucessão sobre o mesmo fila- mento delgado sem que uma interfira sobre a outra. Segundo, um sistema especializa- do de membranas transmite rapi- damente o sinal que está chegando através de toda a célula. O sinal do nervo desencadeia um potencial de ação na membrana plasmática da cé- lula muscular, e essa excitação elétri- ca se espalha rapidamente em uma série de dobras membranosas, os túbulos transversais (túbulos T), que se estendem para o interior da mem- brana plasmática em torno de cada miofibrila. O sinal é então transmitido através de uma pequena abertura para o re- tículo sarcoplasmático, uma estrutura adjacente, em forma de teia, que con- siste em um retículo endoplasmático 22CITOESQUELETO modificado, que envolve cada mio- fibrila como se fosse uma trama de tecido. Quando o potencial de ação resultan- te ativa um canal de cálcio na mem- brana de um túbulo T, um influxo de Ca+2 gera a abertura de canais de liberação deste elemento do retículo sarcoplasmático. O cálcio que flui para o citosol dá início a contração de cada miofibrila. Tendo em vista que o sinal proveniente da membrana citoplas- mática da célula muscular é transmiti- do em milissegundos, através dos tú- bulos T e do retículo sarcoplasmático, para cada um dos muitos sarcômeros da célula, todas as miofibrilas da célu- la contraem ao mesmo tempo. A elevação da concentração de cálcio é transitória, pois este é rapidamente bombeado de volta ao retículo sarco- plasmático por uma bomba de cálcio dependente de ATP. Desse modo, a contração muscu- lar depende de dois processos que consomem enormes quantidades de ATP: o deslizamento dos filamentos, conduzido pela ATPase do domínio motor da miosina, e o bombeamento de Ca+2, regulado pela bomba. A dependência de cálcio na contração muscular esquelética de vertebrados, e sua consequente dependência de comandos transmitidos através de nervos, é o resultado da existência de um grupo de proteínas acessórias es- pecializadas intimamente associadas aos filamentos delgados de actina. Uma dessas proteínas acessórias é uma forma muscular da tropomiosi- na, a proteína alongada que se liga ao longo do sulco da hélice dos filamen- tos de actina. Outra é a troponina, um complexo de três polipeptídeos, troponinas T, I e C, assim denominadas devido a sua ação respectiva de ligação à tropo- miosina, inibição a ligação ao Ca+2. A troponina I liga-se tanto a actina quanto a troponina T. Em um múscu- lo em repouso, o complexo troponina I-T puxa a tropomiosina para fora da fenda normal de ligação, deixando-a em uma posição relativa ao filamento de actina que interfere na ligação das cabeças de miosina, impedindo, des- se modo, qualquer interação gerado- ra de força. Quando o nível de Ca+2 é elevado, a troponina C, que se liga a até quatro moléculas de Ca+2, faz a troponina I se desconectar da actina. Isso permi- te o retorno da molécula de tropomio- sina a sua posição normal e permite que as cabeças de miosina deslizem sobre os filamentos de actina. A tro- ponina C é intimamente relacionada à calmodulina, uma proteína de ligação ao Ca+2 bastante comum. 23CITOESQUELETO 3. MICROTÚBULOS Os microtúbulos são estruturalmente mais complexos do que os filamentos de actina, mas eles também são al- tamente dinâmicos e desempenham funções comparativamente diversas e importantes para a célula. Os mi- crotúbulos são polímeros da proteína tubulina. A subunidade de tubulina é, em si, um heterodímero formado por duas proteínas globulares intimamen- te relacionadas chamadas alfa-tubu- lina e beta-tubulina, cada uma com- posta por 445 a 450 aminoácidos, sendo as subunidades firmemente unidas por ligações não covalentes. Essas duas proteínas tubulina são encontradas apenas nesse heterodí- mero, e cada monômero alfa ou beta tem um sítio de ligação para uma mo- lécula de GTP. O GTP ligado aalfa- -tubulina encontra-se fisicamente li- gado a interface do dímero e nunca é hidrolisado ou substituído; ele pode, portanto, ser considerado parte inte- grante da estrutura do heterodímero de tubulina. O nucleotídeo na beta-tu- bulina, em contraste, pode estar sob a forma de GTP ou GDP e é passível de substituição no dímero de tubulina solúvel (não polimerizado). A tubulina ocorre em todas as células eucarióticas, podendo ser encontrada sob múltiplas isoformas. Um microtúbulo é uma estrutura ci- líndrica oca construída a partir de 13 protofilamentos paralelos, cada um composto de heterodímeros de alfa e beta-tubulina empilhados cabeça à cauda e enovelados em forma de um tubo. A polimerização do microtúbulo gera dois novos tipos de contatos entre proteínas. Ao longo do eixo longitu- dinal do microtúbulo, o “topo” de uma molécula de beta-tubulina forma uma interface com a “base” de uma molé- cula de alfa-tubulina da subunidade heterodimérica adjacente. Essa inter- face assemelha-se bastante à inter- face que mantém os monômeros alfa e beta unidos na subunidade diméri- ca, e apresenta uma alta energia de ligação. Perpendicularmente a essas intera- ções, são formados contatos laterais entre protofilamentos vizinhos. Nes- sa dimensão, os principais contatos Figura 11. Fonte: ALBERTS, 2017. 24CITOESQUELETO laterais ocorrem entre monômeros de mesmo tipo (alfa—alfa e beta— beta). Como os contatos longitudinais e laterais são repetidos durante a polimerização, um leve desempare- lhamento entre os contatos laterais dá origem à rede de microtúbulos helicoidal. Figura 12. Fonte: ALBERTS, 2017. Visto que múltiplos contatos nesse arranjo mantêm unidas a maior parte das subunidades de um microtúbulo, a adição ou a perda de subunidades ocorre quase exclusivamente nas ex- tremidades do microtúbulo. Esses contatos múltiplos entre su- bunidades fazem os microtúbulos serem rígidos e difíceis de serem fle- xionados. O comprimento de persis- tência de um microtúbulo é de vários milímetros, o que o torna o elemen- tos estrutural mais rígido e resistente encontrado na maioria das células animais. Cada um dos protofilamentos de um microtúbulo é polimerizado a partir de subunidades que apontam para a mesma direção, sendo os protofila- mentos, eles próprios, alinhados para- lelamente. Portanto, a própria rede de microtúbulos tem uma polaridade es- trutural distinta, com as alfa-tubulinas expostas na extremidade menos e as beta-tubulinas expostas na extremi- dade mais. Da mesma forma que para 25CITOESQUELETO os filamentos de actina, a orientação regular e paralela de suas subunida- des dá origem à polaridade estrutural e dinâmica dos microtúbulos, com as extremidades mais crescendo e en- colhendo mais rapidamente. Microtúbulos sofrem instabilidade dinâmica A dinâmica dos microtúbulos, como a dos filamentos de actina, é profun- damente influenciada pela ligação e hidrólise de nucleotídeos, neste caso, GTP. A hidrólise do GTP ocorre ape- nas na subunidade de beta do dímero de tubulina. Ela procede muito lenta- mente em subunidades livres de tu- bulina, mas é acelerada quando es- sas subunidades estão incorporadas à microtúbulos. Após a hidrólise do GTP, o grupo fos- fato livre é liberado e o GDP perma- nece ligado à beta-tubulina na rede dos microtúbulos. Assim, como no caso dos filamentos de actina, dois tipos diferentes de estruturas de mi- crotúbulos podem existir, uma com a “forma T” do nucleotídeo ligada (GTP) e outra com a “forma D” ligada (GDP). A energia da hidrólise de nucleotíde- os é armazenada como deformação elástica na rede de polímero, tornan- do a variação de energia livre para a dissociação de uma subunidade a partir da forma D do polímero, mais negativa do que a variação de ener- gia livre para a dissociação de uma subunidade da forma T do polímero. Desse modo, sob condições fisio- lógicas, a tubulina GTP tende a po- limerizar e a tubulina GDP tende a despolimerizar. As velocidades relativas de hidrólise de GTP e adição de tubulina definem se as subunidades de tubulina na extremidade de um microtúbulo es- tarão sob a forma T ou D. Se a taxa de adição de subunidades for alta e, portanto, o filamento está crescen- do rapidamente, é provável que uma nova subunidade seja adicionada ao polímero antes que o nucleotídeo da subunidade anteriormente adiciona- da seja hidrolisado. Nesse caso, a ex- tremidade do polímero permanecerá sob a forma T, originando uma capa de GTP. Entretanto, se a taxa de adição de su- bunidades é baixa, a hidrólise poderá ocorrer antes da adição da próxima subunidade, e a extremidade do fi- lamento se apresentará sob a forma D. Se subunidades de tubulina GTP são adicionadas à extremidade do microtúbulo a uma taxa semelhante a taxa de hidrólise de GTP, a hidróli- se poderá, eventualmente, alcançar a velocidade de adição de subunidades e transformar a extremidade em uma forma D. Essa transformação é súbita e aleatória, seguindo uma determina- da probabilidade por unidade de tem- po, que depende da concentração de subunidades livres de tubulina GDP. 26CITOESQUELETO Em um determinado filamento, uma extremidade sob a forma T poderá crescer durante um dado período de tempo, mas então, repentinamente, mudar para a forma D e começar a en- curtar de forma rápida. Algum tempo depois, este filamento pode readqui- rir a forma T e começar a crescer no- vamente. Esta rápida interconversão entre um estado de crescimento e de encurtamento, sob uma concentra- ção uniforme de subunidades livres, é chamada instabilidade dinâmica. A mudança do crescimento para o encurtamento é chamada de catás- trofe, enquanto a mudança para o crescimento é chamada de resgate. Capa de GTP Região menos estável do microtúbulo contendo dímeros de GDP-tubulina CRESCIMENTO ENCURTAMENTO Figura 13. Fonte: ALBERTS, 2017. 27CITOESQUELETO Visto que a formação de um micro- túbulo requer a interação de vários heterodímeros de tubulina, a concen- tração das subunidades de tubulina, necessária para a nucleação espon- tânea de microtúbulos, é muito alta. Portanto, a nucleação dos microtúbu- los requer a ajuda de outros fatores. Enquanto alfa e beta-tubulinas são unidades fundamentais dos microtú- bulos, outro tipo de tubulina, chama- da gama-tubulina, está presente em quantidades muito menores do que a alfa e beta-tubulina e está envolvi- da na nucleação do crescimento dos microtúbulos em diferentes organis- mos, que variam de leveduras a seres humanos. Os microtúbulos são geralmente nu- cleados a partir de uma localização in- tracelular específica, conhecida como um centro organizador dos microtú- bulos (MTOC) onde gama-tubulina é encontrada em maior concentração. A nucleação depende, em muitos casos, do complexo do anel da gama-tubuli- na (g-TuRC). Dentro desse complexo, duas proteínas acessórias ligam-se diretamente a gama-tubulina, junta- mente com várias outras proteínas que ajudam a criar um anel espiral de moléculas de gama-tubulina, o qual serve como molde para gerar um mi- crotúbulo com 13 protofilamentos. Muitas células animais têm um úni- co e bem definido MTOC, chama- do centrossomo, que está localizado próximo ao núcleo, e a partir do qual os microtúbulos são nucleados nas suas extremidades menos, enquanto as extremidades mais apontam para fora e continuamente sofrem aumen- to e encurtamento. Um centrossomo geralmente recruta mais de 50 cópias de g-TuRC. Além disso, as moléculas de g-TuRC são encontradas no citoplasma, e os centrossomos não são absoluta- mente necessários para a nucleação de microtúbulos, visto que sua des- truição através de um pulso de laser não impede que ocorra a nucleação dos microtúbulos em outras partes da célula. Uma ampla variedade de proteínas com capacidade de ancora- gem do g-TuRC no centrossomo já foi SAIBA MAIS! As funções dos microtúbulos são inibidas por fármacos estabilizadores e desestabilizadores dos polímeros.Enquanto a colchicina e o nocodazol interagem com subunidades de tubuli- na e promovem a despolimerização dos microtúbulos, o paclitaxel se liga aos microtúbulos estabilizando-os, o que leva a um aumento líquido da polimerização da tubulina. O paclita- xel, especificamente, tem sido amplamente utilizado no tratamento de câncer de mama e de pulmão, com frequência atingindo sucesso no tratamento de tumores resistentes a outros agentes quimioterápicos. 28CITOESQUELETO identificada, mas os mecanismos que ativam a nucleação dos microtúbulos em MTOCs e em outros locais da cé- lula ainda não estão completamente compreendidos. Dois centríolos encontram-se imer- sos no centrossomo, compondo um par de estruturas cilíndricas dispostas em ângulos retos, uma em relação a outra, em uma configuração em for- ma de L. Juntamente com um grande número de proteínas acessórias, os centríolos organizam o material pe- ricentriolar, onde ocorre a nucleação dos microtúbulos. Os centrossomos duplicam-se e di- videm-se antes da mitose, cada me- tade contendo um par de centríolos duplicados. Os dois centrossomos se movem para lados opostos do núcleo no início da mitose e originam os dois pólos do fuso mitótico. O sistema de microtúbulos que irradia a partir do centrossomo atua como um aparelho que vigia os limites ce- lulares e posiciona o centrossomo na região central da célula. Essa capaci- dade, que o citoesqueleto dos micro- túbulos possui, de localizar o centro da célula, estabelece um sistema ge- ral coordenado, que é, então, utilizado para posicionar as diferentes organe- las no interior da célula. Dinâmica e organização dos filamentos A dinâmica dos microtúbulos no in- terior das células é regulada por uma ampla variedade de proteínas que se ligam aos dímeros de tubulina ou aos microtúbulos. As proteínas que se ligam aos microtúbulos são cole- tivamente chamadas de proteínas de associação a microtúbulos (MAPs; do inglês, microtubule-associated proteins). Algumas MAPs podem estabilizar os microtúbulos, evitando sua disso- ciação. Um subgrupo de MAPs tam- bém pode mediar a interação de mi- crotúbulos com outros componentes celulares. Esse subgrupo é bastante presente em neurônios, nos quais feixes de microtúbulos estabilizados formam o centro dos axônios e dos dendritos que se estendem a partir do corpo celular. Essas MAPs apresentam pelo menos um domínio de ligação à superfície do microtúbulo e outro que se projeta a partir do microtúbulo. O comprimen- to do domínio que se projeta pode determinar a distância de empacota- mento dos microtúbulos associados pela MAP, como demonstrado em células que foram modificadas para a superprodução de diferentes MAPs. As células que superexpressam MAP2, que apresenta longos domí- nios projetados, formam feixes de microtúbulos estáveis com um amplo 29CITOESQUELETO espaçamento, ao passo que células que superexpressam tau, uma MAP que apresenta domínios de projeção curtos, formam feixes de microtú- bulos empacotados de forma muito mais compacta. As MAPs são o alvo de diversas proteínas-cinase e a fos- forilação de uma MAP pode controlar tanto sua atividade quanto seu posi- cionamento no interior das células. Proteínas de sequestro da tubulina e proteínas de quebra dos microtúbulos desestabilizam os microtúbulos. Tal como acontece com os monômeros de actina, a célula sequestra subuni- dades de tubulina não polimerizadas para manter o conjunto de subunida- des ativas em um nível próximo da concentração crítica. Uma molécula da pequena proteína estatmina (tam- bém chamada Op18) liga-se a dois heterodímeros de tubulina e impe- de sua adição às extremidades dos microtúbulos. Assim, a estatmina diminui a concen- tração efetiva das subunidades de tubulina que estão disponíveis para a polimerização e aumenta a probabi- lidade de que um microtúbulo altere seu estado de crescimento para en- curtamento. A fosforilação de estat- mina inibe sua ligação à tubulina e, assim, sinais que causam a fosforila- ção de estatmina podem aumentar a taxa de alongamento de microtúbulos e suprimir a instabilidade dinâmica. Proteínas motoras Da mesma forma que os filamentos de actina, os microtúbulos também usam proteínas motoras para o trans- porte de carga e para executarem uma série de outras funções no inte- rior da célula. Existem duas classes principais de proteínas motoras ba- seadas em microtúbulos, as cinesinas e as dineínas. A cinesina-1, também chamada de “cinesina convencional”, carrega orga- nelas delimitadas por membrana do corpo celular em direção ao terminal do axônio, movendo-se na direção da extremidade mais dos microtúbulos. A cinesina-1 é semelhante à miosina II, pois possui duas cadeias pesadas por motor ativo. Essas cadeias for- mam dois domínios motores globu- lares de cabeça que são mantidos ligados por uma cauda alongada su- pertorcida, que é responsável pela dimerização da cadeia pesada. Uma cadeia leve da cinesina-1 se associa com cada cadeia pesada através de seu domínio de cauda e medeia a li- gação à carga. Assim como a miosina, a cinesina faz parte de uma grande superfamília de proteínas na qual o elemento em co- mum é o domínio motor. A maioria delas possui o domínio motor locali- zado na região N-terminal da cadeia pesada e caminha em direção à ex- tremidade mais do microtúbulo, sen- do que apenas uma família possui o 30CITOESQUELETO domínio motor no C-terminal e cami- nha na direção oposta, rumo à extre- midade menos dos microtúbulos, ao passo que a cinesina-13 possui um domínio motor central e, apesar de não se deslocar, usa a energia da hi- drólise do ATP para despolimerizar extremidades de microtúbulos. Algumas cadeias pesadas das cine- sinas são homodímeros, e outras são heterodímeros. A maioria das cinesi- nas possui um sítio de ligação na cau- da para outro microtúbulo. Assim, de forma alternativa, elas podem ligar o motor a uma organela envolvida por membrana através de uma cadeia leve ou de uma proteína adaptadora. Muitos dos membros da superfamília das cinesinas desempenham funções específicas na formação do fuso mi- tótico e na segregação dos cromos- somos durante a divisão celular. Na cinesina-1, em vez do movimento de um braço de alavanca, pequenos movimentos no sítio de ligação ao nu- cleotídeo regulam a ligação e a disso- ciação do domínio motor de cabeça a uma região longa de ligação. Isso faz a segunda cabeça ser arremessada para frente ao longo do protofilamen- to sobre um sítio de ligação 8 nm mais perto da extremidade mais do micro- túbulo, o que corresponde a distância entre os dímeros de tubulina de um protofilamento. Os ciclos de hidrólise de nucleotíde- os nas duas cabeças são altamente acoplados e coordenados, de tal for- ma que a ancoragem e a liberação da região ligante permitem que o motor de duas cabeças se mova passo a passo (ou cabeça a cabeça) sobre o filamento. As dineínas são uma família de pro- teínas motoras de microtúbulo dire- cionadas para a extremidade menos e não relacionadas às cinesinas. Elas são compostas por uma, duas ou três cadeias pesadas, que incluem o do- mínio motor, e um número grande e variável de cadeias intermediárias e cadeias leves associadas. A família das dineínas tem duas rami- ficações principais. O primeiro ramo contém as dineínas citoplasmáticas, as quais são homodímeros de duas cadeias pesadas. A dineína citoplas- mática 1 é codificada por um único gene em quase todas as células euca- rióticas, mas está ausente de plantas com flores e de algumas algas. Ela é usada para o transporte de organelas e de mRNA, para o posicionamento do núcleo e do centrossomo durante a migração celular, e para a constru- ção do fuso de microtúbulos na mito- se e na meiose. A dineína citoplasmática 2 só é en- contrada em organismos eucarióti- cos que possuem cílios e é utilizada para transportar material da extremi- dade para a base dos cílios, em um processo denominado transporteintraflagelar. 31CITOESQUELETO As dineínas axonemais (também chamadas dineínas ciliares) compre- endem o segundo ramo e incluem monômeros, heterodímeros e hetero- trímeros, respectivamente com uma, duas ou três cadeias pesadas con- tendo o domínio motor. Elas são alta- mente especializadas para o rápido e eficiente movimento de deslizamento dos microtúbulos que direciona o ba- timento de cílios e flagelos. As dineínas são as maiores proteínas motoras moleculares conhecidas, e estão também entre as mais rápidas. A proteína motora dineína não possui relação estrutural com as miosinas ou com as cinesinas, no entanto, segue a mesma regra geral do acoplamen- to de hidrólise do nucleotídeo com a ligação e dissociação ao microtúbu- lo, bem como a regra das alterações conformacionais geradoras de força. Uma função primordial das proteínas motoras do citoesqueleto em células em interfase é o transporte e o posi- cionamento de organelas delimitadas por membrana. A cinesina foi origi- nalmente identificada como a prote- ína responsável pelo veloz transporte axonal anterógrado, pelo rápido mo- vimento de mitocôndrias, de precur- sores de vesículas secretoras e diver- sos componentes sinápticos ao longo do grande caminho de microtúbulos do axônio em direção às distantes terminações nervosas. A dineína citoplasmática foi identi- ficada como o componente motor responsável pelo transporte na dire- ção oposta, o transporte axonal re- trógrado. Apesar de as organelas da maioria das células não necessitarem percorrer distâncias tão longas, seu transporte polarizado é igualmente necessário. Um típico arranjo de mi- crotúbulos em uma célula em interfa- se está orientado com suas extremi- dades menos próximas ao centro da célula, no centrossomo, e suas extre- midades mais estendendo-se para a periferia da célula. Um claro exemplo do efeito dos mi- crotúbulos e dos motores de microtú- bulos no comportamento das mem- branas intracelulares é a sua atuação na organização do retículo endoplas- mático (RE) e do aparelho de Golgi. A rede de membranas tubulares do RE alinha-se com microtúbulos e se estende quase até a borda da célula, enquanto o aparelho de Golgi posi- ciona-se próximo ao centrossomo. Quando as células são tratadas com uma substância que despolimeriza microtúbulos, como a colchicina ou o nocodazol, o RE colapsa para o cen- tro da célula e o aparelho de Golgi sofre fragmentação e dispersão pelo citoplasma. Por outro lado, as dineí- nas são necessárias para o posicio- namento do aparelho de Golgi perto do centro da célula em células ani- mais; elas fazem isso movendo as vesículas do Golgi ao longo de trilhos 32CITOESQUELETO de microtúbulos em direção às extre- midades menos dos microtúbulos, lo- calizadas no centrossomo. As diferentes caudas e suas cadeias leves associadas, em determinadas proteínas motoras, permitem que es- ses motores se liguem a organela a ser carregada de forma específica. Assim, receptores motores associa- dos a membranas, que são direcio- nados a compartimentos específicos delimitados por membrana, intera- gem direta ou indiretamente com as caudas dos membros da família ade- quada das cinesinas. SAIBA MAIS! Muitos vírus tiram proveito do transporte baseado em motores de microtúbulos durante a infecção e utilizam a cinesina para moverem-se do seu local de replicação e de polimerização para a membrana plasmática, a partir da qual eles poderão infectar as células vizinhas. Uma proteína de membrana externa do vírus Vaccinia, por exemplo, contém um motivo de amino- ácidos que medeia a sua ligação à cadeia leve da cinesina-1 e o seu transporte ao longo dos microtúbulos para a membrana plasmática. A dineína citoplasmática, que é por si só um enorme complexo proteico, requer a associação de um segundo grande complexo proteico, conhecido por dinactina, para a efetiva translo- cação de organelas. O complexo da dinactina inclui um filamento curto semelhante à actina formado a par- tir da proteína relacionada à actina Arp1 (distinta de Arp2 e Arp3, os componentes do complexo Arp 2/3 envolvido na nucleação dos filamen- tos convencionais de actina). Várias outras proteínas também con- tribuem para a ligação da carga na di- neína e para a regulação da proteína motora, e sua função é especialmen- te importante em neurônios, uma vez que defeitos no transporte baseado em microtúbulos têm sido associados a doenças neurológicas. 33CITOESQUELETO SE LIGA! Tanto axônios quanto den- dritos estão preenchidos por feixes de microtúbulos, que são essenciais tanto para a sua estrutura quanto para o seu funcionamento. Nos axônios, todos os microtúbulos estão orientados na mes- ma direção, com suas extremidades me- nos apontando para o interior do corpo celular e suas extremidades mais dire- cionadas às terminações do axônio. Os microtúbulos não conseguem cobrir individualmente a distância entre o corpo celular e as terminações do axônio, pois geralmente têm poucos micrômetros de comprimento, mas grandes quantidades de microtúbulos sobrepostos formam um grande arranjo. Esses caminhos de microtúbulos alinhados funcionam como uma autoestrada para o transporte de proteínas específicas, vesículas conten- do proteínas e mRNAs rumo aos ter- minais dos axônios, onde sinapses são construídas e mantidas. O axônio mais longo no corpo humano percorre da base da medula espinal ao pé, e pode alcançar 1 metro de compri- mento. Em comparação, os dendritos são geralmente muito mais curtos do que os axônios. Os microtúbulos nos dendritos se encontram paralelos uns aos outros, mas as suas polaridades es- tão misturadas, alguns direcionam a sua extremidade mais rumo à extremidade do dendrito, enquanto outros a apontam para o corpo da célula, em uma forma- ção reminiscente ao arranjo antiparalelo dos microtúbulos do fuso mitótico. Cílios e flagelos Assim como as miofibrilas são má- quinas motrizes altamente especia- lizadas e eficientes compostas por filamentos de actina e miosina, cílios e flagelos são estruturas motrizes eficientes compostas por microtúbu- los e dineína. Tanto os cílios quanto os flagelos são apêndices celulares que possuem um feixe de microtúbulos em seu interior. Os flagelos são encontrados nos es- permatozoides e em vários protozoá- rios. Por um movimento ondulatório, permitem que a célula que os possui nade através de meios líquidos. Os cí- lios são organizados de forma seme- lhante, mas eles batem em um movi- mento semelhante ao de um chicote, que lembra o movimento do nado de peito. O batimento dos cílios tanto pode propelir uma célula única através de um fluido, quanto movimentar fluidos sobre a superfície de um grupo de cé- lulas em um tecido. No corpo huma- no, uma grande quantidade de cílios reveste o trato respiratório, varrendo camadas de muco, partículas de po- eira e bactérias até a boca, onde elas serão eliminadas. Do mesmo modo, os cílios ao longo do oviduto auxiliam o percurso dos óvulos em direção ao útero. O movi- mento de um cílio ou de um flagelo é produzido pela flexão de sua por- ção central, denominada axonema. O axonema é composto por microtúbu- los e por suas proteínas associadas, organizados em um padrão regular e característico. Nove pares especiais de microtúbu- los, consistindo em um microtúbulo 34CITOESQUELETO completo e um microtúbulo parcial fusionados de forma a compartilhar uma parede tubular entre si, encon- tram-se organizados em um anel ao redor de um par de microtúbulos sim- ples. Quase todas as formas de cílios e flagelos eucarióticos móveis apre- sentam este arranjo característico. Os microtúbulos estendem-se de forma contínua por todo o comprimento do axonema, o qual pode apresentar de 10 a 200 mm. Figura 14. Fonte: ALBERTS, 2017. Em intervalos regulares, ao longo do comprimento dos microtúbulos, as proteínas acessórias interligam os microtúbulos. As moléculas de dineí- na axonemal formam pontes entre os pares de microtúbulosadjacentes em torno da circunferência do axonema. Quando o domínio motor dessa dine- ína é ativado, as moléculas de dineína ligadas a um dos pares de microtúbu- los tentam movimentar-se sobre o par de microtúbulos adjacente, forçando o deslizamento de um sobre o outro. Figura 15. Fonte: ALBERTS, 2017. 35CITOESQUELETO No entanto, a presença de outras co- nexões entre os pares de microtúbulos impede este deslizamento, e a força da dineína é convertida em um movi- mento de flexão. Nos seres humanos, defeitos hereditários na dineína axo- nemal causam uma condição chama- da de discinesia ciliar primária ou sín- drome de Kartagener. Essa síndrome é caracterizada pela inversão da as- simetria normal dos órgãos internos devido a disrupção do fluxo de flui- dos no embrião em desenvolvimento; pela esterilidade masculina devido a imotilidade dos espermatozoides; e por uma elevada suscetibilidade a in- fecções pulmonares, considerando a incapacidade dos cílios paralisados de limpar o trato respiratório. As bactérias também podem mover- -se em meio líquido usando estrutu- ras de superfície celular chamadas de flagelos, mas estes não contêm mi- crotúbulos ou dineína e não ondulam ou batem. Em vez disso, os flagelos bacterianos são filamentos helicoi- dais rígidos, longos, compostos por subunidades repetitivas da proteí- na flagelina. Os flagelos giram como propulsores, guiados por um motor rotatório especial inserido na parede celular bacteriana. O uso do mesmo nome para designar esses dois tipos de aparelhos pode causar confusão. 4. FILAMENTOS INTERMEDIÁRIOS Todas as células eucarióticas con- têm actina e tubulina. No entanto, o terceiro tipo principal de proteínas do citoesqueleto, os filamentos in- termediários, forma um filamento ci- toplasmático apenas em alguns me- tazoários, incluindo os vertebrados, nematódeos e moluscos. Os filamen- tos intermediários estão particular- mente presentes no citoplasma de células sujeitas a estresse mecânico e geralmente não são encontrados em animais que possuem exoesque- letos rígidos, como os artrópodes e os equinodermos. Aparentemente, os filamentos in- termediários conferem resistência mecânica em animais que possuem tecidos moles ou maleáveis. Os fila- mentos intermediários citoplasmá- ticos são intimamente relacionados aos seus antepassados, as laminas nucleares, muito mais prevalentes e amplamente encontradas nos euca- riotos, mas ausentes em organismos unicelulares. As laminas nucleares formam uma rede que reveste a membrana interna do envelope nuclear, na qual forne- ce sítios de ancoragem para os cro- mossomos e para os poros nucleares. Aparentemente, os genes de lamina sofreram duplicação muitas vezes ao longo da evolução dos metazoários, e os genes duplicados evoluíram para 36CITOESQUELETO produzir os filamentos intermediários citoplasmáticos. A estrutura dos filamentos intermediários Embora os seus domínios amino e carboxiterminais sejam diferentes, todos os membros da família dos fila- mentos intermediários são proteínas alongadas com um domínio de alfa- -hélice central conservado, conten- do 40 ou mais motivos heptâmeros repetidos que formam uma estrutu- ra estendida supertorcida com outro monômero. Um par de dímeros paralelos associa- -se de forma antiparalela produzindo um arranjo tetramérico. Diferente- mente das subunidades de actina e de tubulina, as subunidades dos fi- lamentos intermediários não contêm um sítio de ligação para um nucleotí- deo. Além disso, tendo em vista que a subunidade tetramérica é composta por dois dímeros que apontam para direções opostas, suas duas extremi- dades são idênticas. Assim, o filamento intermediário orga- nizado não apresenta uma estrutura polarizada, tão importante para os fila- mentos de actina e para os microtúbu- los. Os tetrâmeros são empacotados lateralmente, formando um filamento que agrega oito protofilamentos pa- ralelos, feitos a partir dos tetrâmeros. Cada filamento intermediário indivi- dual apresenta, consequentemente, uma secção transversal de 32 alfa- -hélices enroladas. Esse grande número de polipeptíde- os organizados em conjunto e unidos por interações hidrofóbicas laterais fortes, típicas das proteínas supertor- cidas, confere aos filamentos interme- diários sua característica semelhante a um cabo. Eles podem ser facilmente curvados, apresentando um compri- mento de menos de um micrômetro, mas eles são extremamente difíceis de serem rompidos e podem ser es- ticados alcançando até três vezes o seu comprimento original. Sabe-se menos a respeito do meca- nismo de associação e dissociação dos filamentos intermediários do que se conhece a respeito dos filamentos de actina e microtúbulos. Em solu- ções de proteína pura, os filamentos intermediários são extremamente es- táveis devido a forte associação das subunidades, mas alguns tipos de filamentos intermediários, incluindo vimentina, formam estruturas alta- mente dinâmicas em células como os fibroblastos. A fosforilação proteica regula sua dis- sociação, provavelmente da mesma forma que o processo de fosforilação regula a dissociação das laminas nu- cleares na mitose. A remodelagem da rede dos filamentos intermediários ocorre em eventos que requerem re- organização celular dinâmica, como a divisão, a migração e a diferenciação. 37CITOESQUELETO A família mais diversificada de fila- mentos intermediários é a das quera- tinas. Existem aproximadamente 20 queratinas encontradas em diferen- tes tipos de células epiteliais huma- nas, além de aproximadamente 10 outras que são específicas do cabe- lo e das unhas. A análise do genoma humano revelou que existem 54 que- ratinas distintas. Cada filamento de queratina é com- posto por uma mistura de partes iguais de proteínas queratina do tipo I (acídica) e do tipo II (neutra/básica), o que forma uma subunidade do fi- lamento heterodímero. As redes de queratina interligadas, unidas por li- gações dissulfeto, podem sobreviver mesmo à morte das suas células, for- mando coberturas resistentes para animais, como ocorre nas camadas externas da pele e dos cabelos, nas unhas, nas garras e nas escamas. SAIBA MAIS! A diversidade das queratinas é utilizada clinicamente para o diagnóstico de cânceres epite- liais (carcinomas), pois a expressão de um grupo específico de queratinas fornece indicações sobre o tecido epitelial a partir do qual a célula cancerosa originou-se e, dessa maneira, pode contribuir para a escolha de um tratamento adequado. Os filamentos de queratina conferem resistência mecânica a tecidos epite- liais, em parte pela ancoragem dos filamentos intermediários em regiões de contato célula-célula, denomina- das desmossomos, ou regiões de contato célula-matriz, denominadas hemidesmossomos. As mutações nos genes de queratina são as causas de diferentes doenças genéticas humanas. Por exemplo, a doença denominada epidermólise bolhosa simples ocorre quando que- ratinas defeituosas são expressas em células da camada basal da epider- me. Essa doença caracteriza-se pela formação de bolhas na pele mesmo em resposta a estresses mecânicos muito leves, que rompem as células basais. 38CITOESQUELETO Os membros de outra família de fi- lamentos intermediários, chamados neurofilamentos, são encontrados em concentrações elevadas ao lon- go dos axônios dos neurônios dos vertebrados. Três tipos de proteínas do neuro- filamento (NF-L, NF-M e NF-H) se agrupam in vivo, formando heteropo- límeros. As proteínas NF-H e NF-M apresentam domínios C-terminais compridos que se ligam aos filamen- tos adjacentes dando origem a arran- jos com espaçamento interfilamen- tar uniforme. Durante o crescimento do axônio, novas subunidades dos neurofilamentos são incorporadas ao axônio em um processo dinâmico que envolve tanto a adição de subu- nidades longitudinalmente ao com- primento do filamento, quanto às extremidades. Após um axônio ter crescido e ter sido conectado à sua célula-alvo, odiâme- tro do axônio poderá aumentar em até cinco vezes. O nível de expressão do gene de neurofilamento parece controlar diretamente o diâmetro do axônio, o qual, por sua vez, influencia a velocidade de transporte dos sinais elétricos pelo axônio. Além disso, os neurofilamentos fornecem resistência e estabilidade aos longos processos celulares dos neurônios. Figura 16. Formação de bolhas na pele devido a uma mutação no gene de queratina. Fonte: ALBERTS, 2017. SAIBA MAIS! A doença neurodegenerativa esclerose lateral amiotrófica (ELA), ou doença de Lou Gehrig, está associada ao acúmulo e a montagem anormal de neurofilamentos no corpo celular e nos axônios dos neurônios motores, alterações essas que podem interferir no transporte axonal normal. A degeneração dos axônios promove fraqueza muscular e atrofia, que frequente- mente é fatal. A superexpressão de NF-L ou de NF-H humana em camundongos dá origem a animais que apresentam uma doença muito semelhante à ELA. No entanto, uma ligação causal entre uma patologia dos neurofilamentos e a ELA ainda não foi estabelecida. 39CITOESQUELETO Os filamentos semelhantes à vimen- tina correspondem a uma terceira fa- mília de filamentos intermediários. A desmina, um membro dessa família, é expressa na musculatura esquelética, cardíaca e lisa, onde forma uma es- trutura de suporte em torno do disco Z do sarcômero. Nos seres humanos, as mutações na desmina estão as- sociadas a várias formas de distrofia muscular e miopatia cardíaca. Proteínas de ligação A rede dos filamentos intermediários está ligada ao restante do citoes- queleto por membros de uma família de proteínas chamada plaquina. As plaquinas são grandes e modulares, contendo múltiplos domínios que co- nectam os filamentos do citoesque- leto uns aos outros e aos complexos juncionais. A plectina é um exemplo particular- mente interessante dessa família. Além de promover a agregação dos filamentos intermediários em feixes, ela liga os filamentos intermediários aos microtúbulos, aos feixes de fila- mentos de actina e aos filamentos da proteína motora miosina II; ela tam- bém auxilia a ligação dos feixes de filamentos intermédios a estruturas adesivas da membrana plasmática. A plectina e outras plaquinas podem interagir com complexos de proteí- nas que conectam o citoesqueleto ao interior do núcleo. Estes complexos consistem em proteínas SUN da membrana nuclear interna e proteínas KASH (também chamadas nesprinas) da membrana nuclear externa. 5. POLARIZAÇÃO E MIGRAÇÃO CELULAR A migração celular resulta da aplica- ção coordenada dos componentes e processos que foram explorados anteriormente: a associação e dis- sociação dinâmica dos polímeros do citoesqueleto, a regulação e a modi- ficação de suas estruturas por pro- teínas associadas aos polímeros e a ação das proteínas motoras que se deslocam sobre os polímeros ou que exercem tensão contra eles. Muitas células se movem arrastando- -se sobre superfícies em vez de uti- lizar cílios ou flagelos para nadar. As amebas predadoras rastejam conti- nuamente em busca de comida e po- dem facilmente ser observadas ata- cando e devorando ciliados menores e flagelados em uma gota de água proveniente de poças. Em animais, a maior parte da locomoção celular ocorre por rastejamento, com exce- ção do nado dos espermatozoides. Deslocamentos a grandes distân- cias são essenciais para a organiza- ção do sistema nervoso completo e é por esse mecanismo que os cones de crescimento ricos em actina, nas extremidades de axônios em desen- volvimento, direcionam-se para seus 40CITOESQUELETO eventuais alvos sinápticos, guiados por combinações de sinais solúveis e sinais ligados às superfícies da mem- brana das células e da matriz extra- celular existente em seu caminho. Os macrófagos e neutrófilos encami- nham-se para as regiões de infecção e englobam invasores estranhos como parte essencial da resposta imunoló- gica inata. Os osteoclastos perfuram o interior dos ossos, formando canais que são preenchidos pelos osteoblas- tos que os seguem, em um contínuo processo de remodelagem e renova- ção óssea. De forma semelhante, fi- broblastos migram através do tecido conectivo, remodelando-o, quando necessário, e ajudando a reconstruir estruturas danificadas em regiões de lesão. A migração celular é um processo complexo que depende do córtex rico em actina que existe abaixo da mem- brana plasmática. Três atividades dis- tintas estão envolvidas nesse proces- so: protrusão, na qual a membrana plasmática é empurrada para frente na face anterior da célula; ligação, na qual o citoesqueleto de actina liga-se através da membrana plasmática ao substrato; e tração, na qual o citoplas- ma como um todo é puxado e impul- sionado para frente. A primeira etapa da locomoção, a pro- trusão de uma borda anterior, frequen- temente apoia-se em forças geradas pela polimerização da actina, que im- pulsionam a membrana citoplasmáti- ca para frente. Diferentes tipos celu- lares dão origem a diferentes tipos de estruturas protrusivas, incluindo os filopódios e os lamelipódios. Estes são preenchidos com densos núcleos de actina filamentosa, que excluem organelas delimitadas por membranas. As estruturas diferem principalmente na maneira pela qual a actina é organizada pelas proteínas de interligação à actina. Os filopódios, formados por cones de crescimento de neurônios em migração e alguns tipos de fibroblastos, são essencial- mente unidimensionais. Eles contêm um núcleo de longos filamentos de actina em feixe, semelhantes aos das microvilosidades, apesar de serem mais longos e finos, além de mais dinâmicos. 41CITOESQUELETO Os lamelipódios, formados por cé- lulas epiteliais e fibroblastos, assim como por alguns neurônios, são es- truturas bidimensionais semelhantes a camadas. Eles contêm uma rede de filamentos de actina interligados, em sua maioria organizados em um pla- no paralelo ao substrato sólido. Os in- vadopódios e estruturas conhecidas como podossomos, representam um terceiro tipo de protrusões ricas em actina. Eles se estendem em três di- mensões, e são importantes para as células atravessarem barreiras teci- duais, como quando há invasão do tecido circundante pelas células can- cerosas metastáticas. O invadopódio contém muitos dos componentes reguladores de actina presentes nos filopódios e nos lame- lipódios, e ele também é capaz de degradar a matriz extracelular, o que requer a entrega de vesículas que contém proteases de degradação da matriz. Uma forma distinta de protru- são da membrana, chamada forma- ção de bolhas (do inglês blebbing), é frequentemente observada in vivo ou quando as células são cultivadas em um substrato de matriz extracelular Figura 17. Fonte: ALBERTS, 2017. 42CITOESQUELETO flexível. As bolhas formam-se quando a membrana plasmática se destaca localmente do córtex de actina sub- jacente, permitindo, assim, um fluxo citoplasmático que empurra a mem- brana para o exterior Os lamelipódios contêm toda a ma- quinaria necessária à locomoção ce- lular. Enquanto o lamelipódio deslo- ca-se para frente, os filamentos de actina permanecem estacionários em relação ao substrato. Os filamentos de actina presentes nesta rede se en- contram em sua maioria orientados com suas extremidades mais para frente. As extremidades menos en- contram-se frequentemente ligadas as laterais de outros filamentos de actina por complexos Arp 2/3, auxi- liando a formar a rede bidimensional. A rede como um todo está sob o efei- to de rolamento, ou seja, associando novas subunidades na face anterior e sofrendo dissociação em sua re- gião posterior, lembrando bastante o rolamento que ocorre nos filamentos individuais de actina, discutido an- teriormente. A manutenção de um movimento unidirecional pelo lame- lipódio parece requerer cooperação e integração mecânica de diversos fatores. A nucleação dos filamentos ocorre na borda anterior dessa estrutura, com o crescimento
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