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Introdução à Bioquímica SUMÁRIO 1. Importância Biomédica................................................................................................ 3 2. Início do estudo da Bioquímica ................................................................................... 3 3. A Bioquímica e a medicina estimularam avanços mútuos ....................................... 5 4. Os processos bioquímicos normais são a base da saúde ....................................... 6 5. O impacto do projeto genoma humano na Bioquímica, na Biologia e na Medicina ......7 Referências ...................................................................................................................... 11 Introdução à Bioquímica 3 1. IMPORTÂNCIA BIOMÉDICA A bioquímica é uma ciência complexa e extremamente importante, na qual estu- damos os processos químicos envolvidos nos organismos vivos. Esses processos abrangem alguns componentes básicos como proteínas, carboidratos, ácidos nuclei- cos e lipídeos, tratando das suas formas e funções no metabolismo. A bioquímica e a medicina desfrutam de uma relação mutuamente cooperativa. Os estudos bioquí- micos esclareceram muitos dos processos da saúde e doença: o estudo de vários aspectos da saúde e da doença fizeram surgir novas áreas da bioquímica. A relevân- cia médica da bioquímica, em situações normais e anormais, será enfatizada ao lon- go do estudo. A bioquímica traz significativas contribuições para áreas de biologia celular, fisiologia, imunologia, microbiologia, farmacologia e toxicologia, assim como para as áreas de inflamação, dano celular e câncer. Essas relações íntimas enfati- zam que a vida, como a conhecemos, depende de reações e processos bioquímicos. Se liga! A bioquímica é considerada a “química da vida”, pois é por meio desta ciência que nos é permitido o estudo e a compreensão do ser vivo. Saiba mais! No nível bioquímico, apesar da grande diversidade de formas de vida, muitas estruturas e processos são compartilhados por seres vivos bastante diferentes, o que facilita o entendimento da vida como um todo. 2. INÍCIO DO ESTUDO DA BIOQUÍMICA No estudo da bioquímica temos alguns marcos importantes e entre eles podemos citar, por exemplo, a descoberta das leveduras. Essas leveduras são células que po- dem converter os açúcares em álcool etílico que foram descobertas 4.000 anos a.C. O século XX d.C., foi quando houve o descobrimento do processo de fermentação. Louis Pasteur, famoso cientista, fez investigações inspiradoras na fabricação de cer- veja e de vinificação, nesse sentido, ele descobriu que o processo de fermentação só poderia ocorrer em células intactas. Sua descoberta possuía alguns equívocos, Introdução à Bioquímica 4 e o seu erro foi demonstrado, em 1899, pelos irmãos Büchner, que descobriram que a fermentação pode, de fato, ocorrer em extratos livres de células. Essa revelação resultou do armazenamento de um extrato de levedura em um pote de solução con- centrada de açúcar adicionada como conservante. Ao longo da noite, o conteúdo do pote fermentado, que derramou sobre a bancada do laboratório e no chão, de- monstrou que, sem dúvida alguma, a fermentação pode prosseguir na ausência de células intactas. Essa descoberta possibilitou uma série de investigações rápidas e altamente produtivas nos primeiros anos do século XX que deram início à ciência da bioquímica. Essas investigações revelaram o papel vital de algumas estruturas bioquímicas como o fosfato inorgânico, do ADP, do ATP e do NAD(H); também de açucares fos- forilados e as reações químicas atreladas a enzimas Gk “em leveduras” que conver- tem glicose em piruvato, no processo de glicólise. Nesse processo, essas enzimas convertem glicose em etanol e CO2 no processo chamado fermentação. Nos anos 1930 e 1940, em pesquisas subsequentes realizadas, foram identificados os inter- mediários do ciclo do ácido cítrico e da biossíntese da ureia. Neste momento, essa descoberta nos forneceu uma visão sobre as funções essenciais de certos cofatores derivados de vitaminas ou “coenzimas”, como: tiamina pirofosfato, riboflavina e, fi- nalmente: coenzima A, coenzima Q e coenzimas cobamamida. Em 1950, os estudos revelaram como carboidratos complexos são sintetizados e quebrados a açúcares simples, e delinearam as vias para a biossíntese das pentoses e da quebra de ami- noácidos e de lipídeos. Na busca de isolar e identificar metabólitos e enzimas foram utilizados modelos animais, órgãos perfundidos, fatias de tecidos (microtomia), ór- gãos intactos, homogenatos de células e suas subfrações e enzimas purificadas. No fim dos anos 1930 e início dos anos 1940, técnicas como: ultracentrifugação analítica, cromatografia em papel e outras formas de cromatografia, foram desen- volvidas. Elas possibilitaram a disponibilidade, após a Segunda Guerra Mundial, de radioisótopos, principalmente 14C, 3H e 32P, como “marcadores” para identificar os intermediários em vias complexas como a via que leva à biossíntese de colesterol e outros isoprenoides; e às vias de biossíntese e catabolismo de aminoácidos. A cristalografia de raios X foi, então, utilizada para resolver estruturas tridimensionais primeiro da mioglobina e, subsequentemente, de várias proteínas, polinucleotídeos, enzimas e diversos vírus, incluindo o do resfriado comum. Introdução à Bioquímica 5 Figura 1. Louis Pasteur. Fonte: Yeti Crab /shutterstock.com. 3. A BIOQUÍMICA E A MEDICINA ESTIMULARAM AVANÇOS MÚTUOS As preocupações existentes para os pesquisadores que merecem atenção maior das ciências da saúde são: a compreensão e a manutenção da saúde, bem como a compreensão e o tratamento efetivo das doenças. A interrelação entre a bioquímica e a medicina é entrelaçada, nelas os estudos bioquímicos esclareceram muitos as- pectos da saúde e da doença: e, em contrapartida, o estudo de vários aspectos da saúde e da doença abriram novas áreas da bioquímica. Nesse sentido, a análise das doenças elucidou muitas áreas da bioquímica. A anemia falciforme, por exemplo, é uma doença genética, e tanto a aterosclerose quanto o diabetes melito possuem componentes genéticos. O conhecimento da estrutura e da função de estruturas, co- mo as proteínas, foi extremamente importante para identificar e entender a diferença individual na sequência de aminoácidos da hemoglobina normal e da hemoglobina falciforme, e a análise de numerosas variantes de hemoglobinas falciformes e ou- tras hemoglobinas contribuiu significativamente para o entendimento da estrutura e da função da hemoglobina normal e de outras proteínas. Durante o início dos anos 1900, o médico inglês Archibald Garrod estudou pacientes com doenças derivadas Introdução à Bioquímica 6 de erros inatos do metabolismo, doenças relativamente raras, por exemplo: alcapto- núria, albinismo, cistinúria e pentosúria e estabeleceu que essas condições eram ge- neticamente determinadas. Essas percepções proporcionaram uma base importante para o desenvolvimento do campo da genética bioquímica humana. Um exemplo mais recente foi a investigação das bases genéticas e moleculares da hipercoleste- rolemia familiar: uma doença que resulta. no início precoce de aterosclerose. Além de esclarecer as mutações responsáveis por essa doença, esse estudo forneceu um entendimento mais profundo de receptores celulares e mecanismos de captação não apenas do colesterol, mas de como outras moléculas atravessam as membra- nas celulares. Estudos de oncogenes (genes cancerígenos) e dos genes supressores de tumor em células cancerosas direcionaram a atenção para os mecanismos mo- leculares envolvidos no controle do crescimento da célula normal. Esses exemplos ilustram como o estudo das doenças pode abrir áreas de investigação bioquímica básica e como a ciência fornece aos profissionais da saúde e da biologia uma base que impacta a prática, estimula a curiosidade e promove a adoção de abordagens científicaspara o aprendizado contínuo. 4. OS PROCESSOS BIOQUÍMICOS NORMAIS SÃO A BASE DA SAÚDE A pesquisa bioquímica tem efeito na nutrição e na medicina preventiva. A organi- zação mundial da Saúde (OMS) define saúde como um estado de “bem-estar físico, mental e social completo, e não simplesmente a ausência de doença e enfermi- dade”. Do ponto de vista bioquímico, a saúde pode ser considerada a situação em que todas as milhares de reações intracelulares e extracelulares que ocorrem no organismo o fazem em taxas proporcionais com a sobrevivência do organismo sob a pressão dos desafios internos e externos. O processo de manutenção da saúde requer a ingestão otimizada de um certo número de produtos químicos, dos quais podemos citar: as vitaminas, certos aminoácidos e ácidos graxos, vários minerais e água. Para conhecermos melhor a nutrição com foco nessas substâncias químicas dependemos, em grande parte, do conhecimento nas áreas de bioquímica. A maioria das doenças possui uma base bioquímica. Recentemente, tem sido da- da grande ênfase sobre as tentativas sistemáticas com o objetivo de manter a saúde e prevenir a doença, ou medicina preventiva, que inclui: abordagens nutricionais para a prevenção de doenças, como aterosclerose e câncer. Muitas doenças são manifes- tações de anormalidades em estruturas como genes, proteínas, reações químicas ou processos bioquímicos. Cada uma dessas anormalidades pode afetar negativamen- te uma ou mais funções bioquímicas essenciais. Exemplos de distúrbios da bioquí- mica humana responsáveis por doenças ou outras condições debilitantes incluem: Introdução à Bioquímica 7 desequilíbrio eletrolítico, ingestão ou absorção deficiente de nutrientes, desequilíbrio hormonal, agentes químicos ou biológicos tóxicos e doenças genéticas. Para abor- dar esses desafios, a pesquisa bioquímica continua a ser entrelaçada com estudos em disciplinas como genética, biologia celular, imunologia, nutrição, patologia e farmacologia. 5. O IMPACTO DO PROJETO GENOMA HUMANO NA BIOQUÍMICA, NA BIOLOGIA E NA MEDICINA O impacto do projeto genoma humano na bioquímica, na biologia e na medicina foi crucial para entendermos como os genes interferem na bioquímica. No fim dos anos 1990, houve um grande progresso no sequenciamento do genoma humano que levou ao reconhecimento de mais de 90%, nos anos 2000. Essa descoberta foi liderada pelo Consórcio Internacional para o Sequenciamento do Genoma Humano (International Human Genome Sequencing Consortium) e pela Celera Genomics, uma companhia privada. O sequenciamento completo do genoma humano foi finalizado, em 2003, 50 anos após a descrição da natureza de dupla-hélice do DNA por Watson e Crick. Nesses descobrimentos as possibilidades para as áreas de bioquímica, me- dicina e para toda a biologia são praticamente ilimitadas. Um grande exemplo é a habilidade de isolar e sequenciar um gene e de investigar sua estrutura e função por meio de experimentos de sequenciamento, revelaram genes previamente desconhe- cidos e seus produtos, além de novas ideias a respeito da evolução humana e de pro- cedimentos para identificar genes relacionados a doenças humanas. Para que os principais avanços na bioquímica e no entendimento da saúde e da doença humana continuem a ser realizados utilizamos, por mutação dos geno- mas, organismos-modelo, como as leveduras eucariotos, como a mosca-da-fruta, Drosophila melanogaster, e o nematoide Caenorhabditis elegans. A vantagem na utilização desses organismos é que cada organismo tem tempo de geração curto e pode ser geneticamente manipulado fornecendo conhecimentos sobre as fun- ções de genes individuais. Esses avanços podem ser traduzidos potencialmente em abordagens que ajudam os seres humanos fornecendo dicas para curar doenças humanas, como nos casos de câncer e doença de Alzheimer. Os novos campos de estudo das “ômicas” surgiram e se concentram no estudo abrangente das estruturas e das funções das moléculas relacionadas a cada um deles. Os produtos dos genes, moléculas de RNA e proteínas, estão sendo estudados por meio das técnicas de transcriptômica e proteômica. Um exemplo da velocidade do progresso na transcrip- tômica é a ampliação de conhecimentos sobre pequenas moléculas de RNA como Introdução à Bioquímica 8 reguladoras da atividade gênica. Outros campos “ômica” incluem: glicômica, lipidô- mica, metabolômica, nutrigenômica e farmacogenômica. Para manter o ritmo com as informações geradas, a bioinformática tem recebido muita atenção. Os outros campos relacionados para os quais o impulso decorrente do projeto genoma huma- no transitou são a biotecnologia, a bioengenharia, a biofísica e a bioética. Figura 2. Estrutura do DNA. Fonte: Billion Photos/shutterstock.com. Figura 3. Plantas de fundo com estrutura bioquímica. Fonte: Marchu Studio /shutterstock.com. Introdução à Bioquímica 9 Um grande projeto chamado: Projeto Genoma Humano (PGH) teve influência sobre muitas áreas de pesquisa. Também influenciaram grandes disciplinas como bioinformática, genômica, glicômica, lipidômica, metabolômica, diagnóstico mole- cular, proteômica e transcriptômica, por serem áreas ativas de pesquisa bioquímica. A nanotecnologia é uma área ativa que pode, por exemplo, envolver novos métodos de diagnóstico e tratamento para o câncer e outras patologias. A biologia de células- -tronco está no centro de grande parte da pesquisa atual. A terapia gênica ainda tem que cumprir a promessa oferecida, mas parece que, finalmente, isso ocorrerá. Muitos exames diagnósticos moleculares foram desenvolvidos em áreas como os exames e diagnósticos, genéticos, microbiológicos e imunológicos. Os resultados dessas pesquisas terão enorme impacto sobre o futuro da área da biologia, medicina e das ciências da saúde. A biologia sintética oferece o potencial de criar organismos vivos, inicialmente pequenas bactérias, a partir de material ge- nético in vitro, que possam realizar tarefas específicas como a limpeza de derrama- mentos de petróleo. Todos os itens citados fazem parte do século XXI, um período emocionante para os que estão diretamente envolvidos na biologia e na medicina. Figura 4. Laboratório de pesquisa médica. Fonte: Gorodenkoff /shutterstock.com. Introdução à Bioquímica 10 RESUMO: INTRODUÇÃO À BIOQUÍMICA Piruvato Importância biomédica Saúde Contribuições Cooperação Vida Reações químicas Processos bioquímicos Bioquímica Modelos animais Século XX Diversas áreas Papel do fosfato inorgânico Enzimas Açúcares fosforilados 4000 a.C. INTRODUÇÃO À BIOQUÍMICA Início do estudo Reações químicas Avanços Biologia Vias para biossíntese 1930 e 1940 Intermediários Leveduras Medicina Estudos bioquímicos Louis Pasteur Fermentação Século XX d.C. Esclarecem Doença Irmãos Büchner Extratos livres de células Glicose Ácido cítrico Coenzima 1950 Carboidratos complexos 1990 DNA 2003 Século XXI Introdução à Bioquímica 11 REFERÊNCIAS Alberts B: Model organisms and human health. Science 2010; 330:1724. Alberts B: Lessons from genomics. Science 2011;331:511. Cammack R, Attwood T, Campbell P, et al. (editors): Oxford Dictionary of Biochemistry and Molecular Biology. 2nd ed. Oxford University Press, 2006. Cooke M: Science for physicians. Science 2010;329:1573. Feero WG, Guttmacher AE, Collins FS: Genomic medicine—an updated primer. N Engl J Med 2010;362:2001. Gibson DG, Glass JI, Lartigue C, et al.: Creation of a bacterial cell controlled by a chemically synthesized genome. Science 2010;329:52. Kornberg A: Centenary of the birth of modern biochemistry. FASEB J 1997;11:1209. 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