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DIREITO_CONSTITUCIONAL_AMBIENTAL_BRASILE

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A12 
BENJAMI N, Antonio Herman de Vasconcellos e. Direito const itucional ambiental brasileiro. 
I n: CANOTILHO, José Joaquim Gom es; LEITE, José Rubens Morato (Org.) . Dire ito 
const itucional am bienta l brasile iro . São Paulo: Saraiva, 2007. parte I I , p. 57-130. 
DI REI TO CONSTI TUCI ONAL AMBI ENTAL BRASI LEI RO 
ANTONI O HERMAN DE VA SCONCELLOS E BENJAMI N * 
Minist ro do Superior Tr ibunal de Just iça, Ex-
Procurador de Just iça em São Paulo, Fundador e ex-
Presidente do I nst ituto O Direito por um Planeta 
Verde e do BRASI LCON – I nst ituto Brasileiro de 
Polít ica e Direito do Consum idor 
 
 
1 Const itucionalização do Am biente e Ecologização da 
Const itu ição Brasile ira 
1 .1 I nt rodução 
A riqueza de " terra e arvoredos", que surpreendeu e, 
possivelm ente, encantou Pêro Vaz de Cam inha em 1500, finalm ente foi 
reconhecida pela Const ituição brasileira de 1988, passados 488 anos da 
chegada dos portugueses ao Brasil. 
Tantos anos após, ainda há fartura em " terra e arvoredos", 
m as, definit ivam ente, o país m udou. Passou de Colônia a I m pério, de 
I m pério a República; alternou regim es autoritár ios e fases dem ocrát icas; 
viveu diferentes ciclos econôm icos; m igrou do cam po para as cidades; 
const ruiu m eios de t ransporte m odernos; fom entou a indúst r ia; 
prom ulgou Const ituições, a com eçar pela de Dom Pedro I , de 1824; aboliu 
a escravatura e incorporou direitos fundam entais no diálogo do dia-a-dia. 
Com o é evidente, tudo nesse período evoluiu, m enos a percepção da 
natureza e o t ratam ento a ela conferido. Som ente a part ir de 1981, com a 
 
* Ex-Procurador de Just iça em São Paulo. Fundador e ex-Presidente do I nst ituto O Direito 
por um Planeta Verde e do BRASI LCON - I nst ituto Brasileiro de Polít ica e Direito do 
Consum idor. Professor convidado de Direito Am biental Com parado e Direito da 
Biodiversidade, na Universidade do Texas. Relator-geral da Com issão de Juristas da Lei 
dos Crimes cont ra o Meio Am biente. Mem bro do Sleering Com m it tee da Com issão de 
Direito Am biental da UI CN. Conselheiro do CONAMA – Conselho Nacional do Meio 
Am biente. Co-Presidente da I NECE – I nternat ional Network for Environmental 
Compliance and Enforcement . 
Direito Const itucional Am biental Brasileiro 
 
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2 
prom ulgação da Lei n. 6.938/ 81 (Lei da Polít ica Nacional do Meio 
Am biente) , ensaiou-se o pr im eiro passo em direção a um paradigm a 
jurídico-econôm ico que holist icam ente t ratasse e não m alt ratasse a terra, 
seus arvoredos e os processos ecológicos essenciais a ela associados. Um 
cam inhar incerto e talvez insincero a pr incípio, em pleno regim e m ilitar, 
que ganhou velocidade com a dem ocrat ização em 1985 e recebeu 
ext raordinária aceitação na Const ituição de 1988. 
Num a época de saudável globalização do debate 
const itucional59 , poucos, à exceção dos iniciados, dão-se realm ente conta 
do avanço ext raordinário que as Const ituições significaram na evolução 
dos povos e regim es polít icos contem porâneos. Realm ente, é difícil ao 
cidadão m ediano aquilatar o papel sim bólico e prát ico da norm a 
const itucional no processo civilizatório, com o m arco indicador da t ransição 
ent re dois m odelos de Estado: um , avesso a rédeas pré-definidas; out ro, 
regrado por pólos norm at ivos objet ivos, sim ultaneamente freio de 
autor idade e m edida de liberdade. 
As pr im eiras Const ituições t inham por objet ivo pr incipal 
estabelecer, no plano inst itucional, a m ecânica governam ental básica e, 
na perspect iva substant iva, resguardar o cidadão cont ra governantes 
arbit rár ios, penas vexatórias ou cruéis, assim com o cont ra apropriação da 
propriedade privada sem justa causa ou indenização. Não era sem razão, 
portanto, que a Const ituição se organizava em feixes heterogêneos de 
direitos obrigações de cunho a um só tem po bilateral (= indivíduo versus 
Estado) e negat ivo (= im posição ao Estado de deveres de non facere) . 
Muito desse arranjo bipolar é coisa do passado. Hoje, em boa parte do 
m undo, além de am eaças à liberdade física e polít ica, as pessoas com uns 
 
59 Fala-se, inclusive, em "const itucionalismo global" , cf. ACKERMAN, Bruce. The r ise of 
world const itut ionalism . Virgínia Law Review , v. 83, p. 771,1997. 
Direito Const itucional Am biental Brasileiro 
 
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3 
se preocupam com receios de out ra natureza e grandeza, t ípicos daquilo 
que se vem denom inando sociedade de r iscos60 . 
Nesse com plexo quadro de aspirações individuais e sociais, 
ganham relevo categorias novas de expectat ivas (e a part ir daí, de 
direitos) , cujos contornos estão em divergência com a fórm ula clássica do 
eu-cont ra-o-Estado, ou até da sua versão welfar ista m ais m oderna, do 
nós-cont ra-o-Estado61 . Seguindo tal linha de análise, a ecologização do 
texto const itucional t raz um certo sabor herét ico, deslocado das fórm ulas 
antecedentes, ao propor a receita solidarista – tem poral e m aterialm ente 
am pliada (e, por isso m esm o, pr isioneira de t raços utópicos) – do nós-
todos-em - favor-do-planeta. Nessa, com parando-a com os paradigm as 
anteriores, nota-se que o eu individualista é subst ituído pelo nós 
colet ivista, e o t ípico nós welfar ista (o conjunto dos cidadãos em 
perm anente exigência de iniciat ivas com pensatórias do Estado) passa a 
agregar, na m esm a vala de obrigados, sujeitos públicos e pr ivados, 
reunidos num a clara, m as const itucionalm ente legit im ada, confusão62 de 
posições jurídicas; finalm ente, e em conseqüência disso tudo, o r igoroso 
adversarism o, a técnica do eu/ nós cont ra o Estado ou cont ra nós m esm os, 
t ransm uda-se em solidarism o posit ivo, com m oldura do t ipo em favor de 
alguém ou algo. 
Não há aí sim ples reordenação cosm ét ica da superfície 
norm at iva, const itucional e infra-const itucional. Ao revés, t rata-se de 
operação m ais sofist icada, que resulta em t ríplice fratura no paradigm a 
vigente: a diluição das posições form ais rígidas ent re credores e 
devedores (a todos se at r ibuem , sim ultaneam ente, o direito ao m eio 
 
60 Cf. BECK, Ulr ich. Risk society : toward a new m odernity. London: Sage, 1992. LEI TE, 
José Rubens Morato; AYALA, Pat r ick de Araújo. Dire ito am bienta l na sociedade de 
r isco . Rio de Janeiro: Forense, 2002. 
61 Sobre a evolução histór ica do Estado Social, cf. ASA BRI GGS. The Welfare State in 
histor ical perspect ive. I n: ASA BRI GGS. The Collected Essays of Asa Br iggs . Urbana, 
University of I llinois Press, 1985, p. 177 
62 "Confusão" aqui no seu sent ido usual do Direito das Obrigações. Segundo o Código 
Civil de 2002, "Ext ingue-se a obrigação, desde que na m esm a pessoa se confundam as 
qualidades de credor e devedor" (art . 381, repet indo idênt ica regra do Código de 1916) . 
Direito Const itucional Am biental Brasileiro 
 
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4 
am biente ecologicam ente equilibrado e o dever de protegê- lo) ; a 
irrelevância da dist inção ent re sujeito estatal e sujeito pr ivado, conquanto 
a degradação am biental pode ser causada, indist intam ente, por um ou 
pelo out ro, e até, com freqüência, por am bos de m aneira direta ou 
indiretam ente concertada; e, finalm ente, o enfraquecim ento da separação 
absoluta ent re os com ponentes naturais do entorno (o objeto, na 
expressão da dogm át ica pr ivat íst ica) e os sujeitos da relação jurídica, com 
a decorrente lim itação, em sent ido e extensão ainda incertos, do poder de 
disposição destes (= dom inus) em face daqueles (= res) . 
O que causou essa int r igante, não obstante obscura, m udança 
de est rutura const itucional? Errará quem apostar em um a inovação de 
m oda, por isso efêm era, dest ituída debases objet ivas e alheia a 
necessidades hum anas latentes e prementes, que usualm ente antecedem 
o desenho da norm a. Dificilm ente, na experiência com parada, encont ram -
se instâncias em que t ransform ações const itucionais de fundo sucedem 
por sim ples acidente de percurso ou capricho do dest ino. Aqui, sucede o 
m esm o, pois é a cr ise am biental, acirrada após a Segunda Guerra63 , que 
libertará forças irresist íveis, verdadeiras correntes que levarão à 
ecologização da Const ituição, nos anos 70 e seguintes. 
Crise am biental essa que ninguém m ais disputa sua atualidade 
e gravidade. Crise que é m ult ifacetár ia e global, com r iscos am bientais de 
toda ordem e natureza: contam inação da água que bebem os, do ar que 
respiram os e dos alim entos que ingerim os, bem com o perda crescente da 
biodiversidade planetária. Já não são am eaças que possam ser 
enfrentadas exclusivam ente pelas autor idades públicas (a fórm ula do nós-
cont ra-o-Estado) , ou m esm o por iniciat ivas individuais isoladas, pois 
vít im as são e serão todos os m em bros da com unidade, afetados 
indist intam ente64 , os de hoje e os de am anhã, isto é, as gerações futuras. 
 
63 Cf. MCNEI LL R. Som ething new under the sun : an environmental history of the 
twent ieth-century world, W.W. Norton, 2001. 
64 FREYFOGLE, Eric T. Should we green the bill? Universit y of I llinois Law Review , v. 
1992, p. 166. 
Direito Const itucional Am biental Brasileiro 
 
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São r iscos que à insegurança polít ica, jurídica e social acrescentam a 
insegurança am biental, patologia daquilo que o legislador brasileiro, com 
certa dose de im precisão, cham a de m eio am biente ecologicam ente 
equilibrado65 e, por vezes, de qualidade am biental66 . 
Em tal pano de fundo, bem se com preende que, nos dias 
atuais, os cidadãos não se sat isfaçam com um a sim ples carta de direitos 
básicos, do t ipo Bill of Rights, dest inada a livrar os cidadãos dos abusos do 
Estado-Rei, sem pre pronto para espalhar opressão ent re seus súditos. 
Hoje, espera-se m ais dessas salvaguardas, em especial que sejam 
dir igidas não apenas cont ra o Poder Público solitár io, m as que tam bém 
vinculem um a poderosa m inoria de sujeitos pr ivados que, em vários 
terrenos e no am biental em especial, aparecem não exatam ente com o 
vít im as indefesas de abusos estatais, m as, ao cont rár io, com o sérios 
candidatos à repreensão e correção67 por parte da norm a ( inclusive a 
const itucional) e de seus im plem entadores. 
Só em m eados da década de 70 – por um a conjunção de 
fatores, que não interessa aqui esm iuçar – os sistem as const itucionais 
com eçaram , efet ivam ente, a reconhecer o am biente com o valor 
m erecedor da tutela m aior 68 ; esse, sem dúvida, um daqueles raros 
m om entos, que ocorrem de tem pos em tem pos, em que o senso de 
civilização é redefinido, para usar a expressão feliz do geógrafo Carl O. 
Sauer 69 . Há, em tal constatação, um aspecto que im pressiona, pois na 
 
65 Const ituição da República, art . 225, caput . 
66 Lei n. 6.938/ 81, art . 2°, caput . 
67 RODGERS JÚNI OR, William H. Environm enta l law . 2. ed. St . Paul: West Publishing 
Co., 1994, p. 66. 
68 Aqui cabe destacar a experiência dos ant igos países com unistas do leste europeu, dos 
primeiros a const itucionalizar o meio ambiente (por exem plo, a Polônia, em 1976) , m as 
que pouco fizeram para implementar tais garant ias. Para um a análise da situação após a 
queda do Muro de Berlim , cf. BROWN, Elizabeth F. I n defense of environmental r ights in 
East European const itut ions. Universit y of Chicago Law School Roundtable , 1993, p. 
191-217. GRAVELLE, Ryan K. Enforcing the elusive: environmental r ights in East 
European const itut ions. Virginia Environm enta l Law Journa l , v. 16,1997, p. 633-660. 
69 SAUER, Carl O. The agency of man on the earth. I n: THOMAS JR., William L. (ed.) . 
Man's role in changing the face of the earth. v. 1. Chicago: The University of Chicago 
Press, 1956, p. 68. 
Direito Const itucional Am biental Brasileiro 
 
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histór ia do Direito poucos valores ou bens t iveram um a t rajetór ia tão 
espetacular, passando, em poucos anos, de um a espécie de nada- jurídico 
ao ápice da hierarquia norm at iva, m etendo-se com destaque nos pactos 
polít icos nacionais. 
Olhando em volta, é seguro dizer que a const itucionalização do 
am biente é um a irresist ível tendência internacional, que coincide com o 
surgim ento e consolidação do Direito Am biental70 . Mas, const itucionalizar 
é um a coisa; const itucionalizar bem , out ra totalm ente diversa. Ninguém 
deseja um a Const ituição reconhecida pelo que diz e desprezada pelo que 
faz ou deixa de fazer 71 . Nessa evolução acelerada, num a prim eira onda de 
const itucionalização am biental, sob a direta influência da Declaração de 
Estocolm o de 1972, vieram as novas Const ituições dos países europeus 
que se libertavam de regim es ditator iais, com o a Grécia (1975) 72 , 
Portugal (1976) 73 e Espanha (1978) 74 . Poster iorm ente, num segundo 
 
70 Consolidação esta que não é pacífica, pois, lembra Vladim ir Passos de Freitas, alguns 
ainda relutam em aceitar o Direito Ambiental como "um ramo novo do Direito que se 
dist ingue de todos os dem ais" . FREI TAS, Vladim ir Passos de. A Const itu ição Federa l e 
a efet iv idade das norm as am bienta is . São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 26. 
71 Sobre as conseqüências das norm as const itucionais, mormente daquelas definidoras 
de direitos, cf. ALEXY, Robert . A Theory of const itucional r ights . Tradução de Julian 
Rivers. Oxford: Oxford University Press, 2002, p. 365. 
72 Trata-se do art . 24: “1) A proteção do m eio am biente natural e cultural const itui um a 
obrigação do Estado. O Estado tom ará m edidas especiais, prevent ivas ou repressivas, 
com o fim de sua conservação. A lei regula as form as de proteção das florestas e espaços 
com arborizados em geral. Está proibida a m odificação da afetação das florestas e 
espaços arborizados pat r imoniais, salvo se sua exploração agrícola t iver pr ior idade do 
ponto de vista da econom ia nacional ou de qualquer out ro uso de interesse público; 2) A 
gestão do terr itór io, a form ação, o desenvolvimento, o urbanismo e a extensão das 
cidades e regiões urbanizáveis são regulamentadas e cont roladas pelo Estado, com o fim 
de assegurar a funcionalidade e desenvolvimento das aglomerações humanas e as 
melhores condições de vida possível; 3) Os monumentos assim como os lugares 
histór icos e seus componentes estão sob a proteção do Estado. A lei fixa as medidas 
rest r it ivas da propriedade para assegurar esta proteção, assim como as modalidades e 
natureza da indenização dos proprietár ios prejudicados” . 
73 Estabelece o atual art . 66 ( "Am biente e Qualidade de Vida") da Const ituição 
portuguesa: "1 – Todos têm direito a um ambiente de vida humano, sadio e 
ecologicam ente equilibrado e o dever de o defender. 2 – I ncumbe ao Estado, por meio de 
organismos próprios e por apelo e apoio a iniciat ivas populares: a) Prevenir e cont rolar a 
poluição e os seus efeitos e as formas prejudiciais de erosão; b) Ordenar e promover o 
ordenam eto do terr itór io, tendo em vista uma correcta localização das act ividades, um 
equilibrado desenvolvimento sócio-econôm ico e paisagens biologicamente equilibradas; 
c) Criar e desenvolver reservas e parques naturais e de recreio, bem como classificar e 
proteger paisagens e sít ios, de modo a garant ir a conservação da natureza e a 
preservação de valores culturais de interesse histór ico ou art íst ico; d) Promover o 
Direito Const itucional Am biental Brasileiro 
 
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7 
grupo, ainda em período fortem ente m arcadopelos padrões e linguagem 
de Estocolm o, foi a vez de países com o o Brasil75 . Finalm ente, após a Rio-
92, out ras Const ituições foram prom ulgadas ou reform adas, incorporando, 
expressam ente, novas concepções, com o a de desenvolvim ento 
sustentável, biodiversidade e precaução. O exem plo m ais recente deste 
grupo retardatário é a França, que em 2005 adotou sua Charle de 
l'environnem ent 76 . 
 
aproveitamento racional dos recursos naturais, salvaguardando a sua capacidade de 
remoção e a estabilidade ecológica". 
74 A Const ituição espanhola inspirou-se, genericamente, na Declaração de Estocolmo e, 
de modo mais imediato, na Const ituição portuguesa de 1976. Cf., nesse ponto, MATEO, 
Ram ón Mart in. Manual de derecho am bienta l . Madrid: Tr ivium , 1995, p. 107. Assim 
dispõe seu art . 45: "1) Todos t ienen el derecho a disfrutar de un medio ambiente 
adecuado para el desarrollo de la persona, así com o el deber de conservalo; 2) Los 
poderes públicos velarán por la ut ilización racional de todos los recursos naturales, con el 
fin de proteger y mejorar la calidad de vida y defender y restaurar el medio ambiente, 
apoyándose en la inexcusable solidariedad colect iva; 3) Para quienes violen lo dispuesto 
en el apartado anterior, en los térm inos que la ley fije se establecerán sanciones penales 
o, en su caso, adm inist rat ivas, así com o la obligación de reparar el daño causado". 
75 Sobre a proteção const itucional do meio ambiente no Brasil, dent re out ros, BENJAMI N, 
António Herm an V. (coord.) . Dano am bienta l, prevenção, reparação e repressão, 
função am bienta l . São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993. BENJAMI N, Antônio Herm an 
V.; SÍCOLI , José Carlos Meloni; SALVI NI , Paulo Roberto. Manual prát ico da 
prom otor ia de just iça do m eio am biente . São Paulo: Procuradoria-Geral da Just iça, 
1997. FI ORDLLO, Celso Antônio Pacheco; RODRI GUES, Marcelo Abelha. Manual de 
dire ito am bienta l e legislação aplicável. São Paulo: Max Limonad, 1997. DERANI , 
Crist iane. Dire ito am bienta l econôm ico . São Paulo: Max Limonad, 1997. MJLARÉ, 
Edis. A ação civil pública na nova ordem const itucional . São Paulo: Saraiva, 1990. 
SI LVA, José Afonso da. Dire ito am bienta l const itucional . São Paulo: Malheiros, 1994. 
LEME MACHADO, Paulo Affonso. Dire ito am bienta l brasile iro . 12. ed. São Paulo: 
Malheiros, 2004. FREITAS, Vladim ir Passos de. Dire ito adm inist ra t ivo e m eio 
am biente . Curit iba: Juruá, 2004, e Dire ito am bienta l em evolução . Curit iba: Juruá, 
1998 (coord.) . 
76 A Charte de l'environnem ent fala, expressamente, em desenvolvim ento sustentável 
(preâmbulo e art . 6°) , pr incípio da prec aução (art . 5°) , e diversidade biológica 
(preâm bulo) . Cf., ainda, dent re out ras, a Const ituição argent ina de 1994, na qual se 
observa, claram ente, a influência da definição de desenvolvim ento sustentável de "Nosso 
Futuro Com um " (a exigencia de que " las act ividades product ivas sat isfagan las 
necesidades presentes sin com prometer las de las generaciones futuras") : "Art ículo 41 – 
Todos los habitantes gozan del derecho a un am biente sano, equilibrado, apto para el 
desarrollo hum ano y para que las act ividades product ivas sat isfagan las necesidades 
presentes sin comprometer las de las generaciones futuras; y t ienen el deber de 
preservado. El daño ambiental generará prior itar iamente la obligación de recomponer, 
según lo establezca la ley. Las autoridades proveerán a la protección de este derecho, a 
la ut ilización racional de los recursos naturales, a la preservación del pat r imonio natural y 
cultural y de la diversidad biológica, y a la información y educación ambientales. 
Corresponde a la Nación dictar las normas que contengan los pres supuestos m ínim os de 
protección, y a las províncias las necesarias para com plementarias, sin que aquéllas 
Direito Const itucional Am biental Brasileiro 
 
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8 
Sob o pr ism a teórico, a abordagem const itucional do am biente 
adm ite diversos enfoques. Em todos eles, contudo, interessará conhecer 
os possíveis m odelos ét icos e técnicos que vêm sendo propostos e 
ut ilizados, para, a part ir daí, m elhor apreciar suas repercussões concretas 
no cam po legislat ivo ordinário e na im plem entação das norm as jurídico-
am bientais. Nessa em preitada, o estudo com parado é deveras út il, não só 
para projetar a nova visão const itucional em tela panorâm ica, m as 
tam bém para aproxim á- la, internam ente, dos fundam entos sócio-culturais 
que inform am o com portam ento de seus dest inatár ios. Afinal, com o bem 
lem bra Mark Tushnet , a "experiência com parada é legalm ente irrelevante, 
a não ser que possa se conectar com argum entos já disponíveis no 
sistem a jurídico interno" 77 . O pior r isco, nesses m om entos de reviravolta 
const itucional, é im portar idéias, objet ivos, pr incípios e inst rum entos de 
um a t radição jurídica sem entender, na or igem , sua gênese e inserção 
cultural78 . 
O presente ensaio volta a atenção, essencialm ente, para os 
aspectos técnicos da const itucionalização, o que obriga a abst rair 
com pletam ente questões m ais am plas, com o o fenôm eno dos 
" t ransplantes legais" , tão visíveis nessa m atéria79 . Som ente de form a 
indireta ou superficial, aqui e ali, com entam -se, por serem inevitáveis, 
alguns arranjos inst itucionais que decorrem do texto const itucional, bem 
com o as influências ét icas que acabam por nele se reflet ir 80 . A 
const itucionalização do am biente em erge, nos pr im eiros m om entos, em 
 
alteren las jur isdicciones locales. Se prohibe el ingreso al terr itor io nacional de residuos 
actual o potencialm ente peligrosos y de los radiact ivos" . 
77 TUSHNET, Mark. The possibilites of comparat ive const itucional law. Yale Law Journa l , 
v. 108,1999, p. 1307. 
78 HOWARD, A. E. Dick. The indeterm inacy of const itut ions. W ake Forest Law Review , 
v. 31, p. 403,1996. 
79 Sobre " t ransplantes legais" , cf., genericam ente, WATSON, Alan. Legal t ransplants : 
an approach to comparat ive law. 2 ed. 1993. No cam po ambiental, cf. WI ENER, Jonathan 
B. Som ething borrowed for som ething blue: legal t ransplants and the evolut ion of global 
environmental law. Ecology Law Quarter ly , v. 27, p. 1295, 2001. 
80 Cf., quanto aos fundamentos ét icos do Direito Ambiental, BENJAMTN, Antônio Herm an 
V. A natureza no direito brasileiro: coisa, sujeito ou nada disso. Caderno Jur ídico , 
Escola Superior do Ministér io Público de São Paulo, ano 1, n. 2, p. 151-171, 2001. 
Direito Const itucional Am biental Brasileiro 
 
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9 
fórm ula est r itam ente ant ropocênt r ica, espécie de com ponente m ais am plo 
da vida e dignidade hum anas; só m ais tarde, com ponentes biocênt r icos 
são borr ifados no texto const itucional ou na leitura que deles se faça; 
nesse últ im o caso, pelo m enos, m it igando a vinculação norm at iva 
exclusiva a interesses de cunho est r itam ente ut ilitar ista81 . 
I nicialm ente, será feita um a breve abordagem dos 
fundam entos const itucionais do Direito Am biental e das característ icas 
gerais dos m odelos existentes, para, em seguida, t ratar da conveniência 
(benefícios e r iscos) da const itucionalização. Após, analisar-se-á a 
proteção do m eio am biente na Const ituição brasileira de 1988, destacando 
a evolução histór ica da m atéria, as técnicas nela adotas (direitos e 
deveres fundam entais, pr incípios am bientais, função ecológica da 
propriedade, objet ivos públicos vinculantes, program as públicos abertos, 
inst rum entos, e ecossistem as especialm ente resguardados). Finalm ente, 
antes das conclusões, brevem ente, serão tecidas considerações a respeito 
da Ordem Pública Am biental const itucionalizada, do Estado de Direito 
Am biental e da im plem entação das disposições const itucionais. 
1 .1 .1 I m portância da análise do s fundam entos const itucionais 
do Dire ito Am bienta l 
A ecologização da Const ituição não é cr ia tardia de um lento e 
gradual am adurecim ento do Direito Am biental, o ápice que sim boliza a 
consolidação dogm át ica e cultural de um a visão jurídica de m undo. Muito 
ao cont rár io, o m eio am biente ingressa no universo const itucional em 
pleno período de form ação do Direito Am biental. A experim entação 
jurídico-ecológica em polgou, sim ultaneam ente, o legislador 
infraconst itucional e o const itucional. 
Considerando a lent idão da prát ica const itucional, é 
precipitado falar em teoria const itucional do am biente com o algo que se 
 
81 Cf. Karl-Heinz Ladeur, Environm enUil const itut ional law, in Gerd Winter (ed.) , 
European Environmental Law: a comparat ive perspect ive. Aldershot : Dartm outh, 1994, 
p. 18. 
Direito Const itucional Am biental Brasileiro 
 
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10 
aflora natural e facilm ente no discurso dos const itucionalistas. I sso, 
apesar de o Direito Am biental, com o disciplina jurídica, ter alcançado, nos 
dias atuais, o patam ar da m aturidade, com ares de autonom ia82 , após 
um a evolução de pouco m ais de t r inta anos, m uito breve para os padrões 
jurídicos norm ais. Mas nem m esm o aqui, isto é, no terreno m ais sólido do 
panoram a infraconst itucional, a obra está totalm ente const ruída. Um dos 
piores erros dos jus-am bientalistas é enxergar, nos "direitos am bientais" , 
concepções auto-evidentes, para as quais descaberia ou seria 
desnecessário procurar subsídios dogmát icos ou explicação teórica. Em 
out ras palavras, seria puro desperdício de tem po e energia a verificação 
das bases teóricas da disciplina, notadam ente aquelas de fundo 
const itucional, na m edida em que ninguém , nem m esm o seus crít icos, 
ainda se dão ao t rabalho de quest ionar a im portância e legit im idade da 
atenção que o Direito vem dedicando e deve dedicar à degradação 
am biental. 
Nada m ais equivocado. O conteúdo e o cam po de aplicação do 
Direito Am biental parecem insuficientem ente explorados na m esm a 
proporção em que a disciplina aparenta se just ificar e se bastar em si 
m esm a. Muito m enos o cam po dos direitos e obrigações que a com põem , 
relações jurídicas altam ente com plexas e ainda cobertas por um a certa 
aura de am bigüidade83 e m uito de incerteza, o que, em r igor, prejudica 
seu entendim ento e, pior, dificulta sua efet ividade, podendo m esm o, em 
certas circunstâncias, inviabilizar a realização concreta de seus elevados 
objet ivos. 
Em países conhecidos por prestarem obediência a norm a 
ordinária e ignorarem ou desprezarem a norm a const itucional (com o o 
Brasil) , m ais relevante ainda é essa busca dos fundam entos rem otos do 
Direito Am biental, pouco im portando que ele, na superfície, t ransm ita um a 
 
82 Não se tom e, contudo, autonom ia por independência. 
83 SAX, Joseph L. The search for environmental r ights. I n: Journa l of Land Use & 
Environm enta l Law , v. 6,1990, p. 96. 
Direito Const itucional Am biental Brasileiro 
 
falsa aparência de consistência e consolidação. Evidentem ente, a 
diligência e a configuração teóricas devem com eçar e term inar pela norm a 
const itucional, pois não é papel da Const ituição confirm ar, em juízo 
poster ior, o Direito Am biental aplicado (e, infelizm ente, am iúde m al-
aplicado) , m as determ inar, de form a pream bular, seus rum os e até 
existência. 
Os fundam entos dorsais do Direito Am biental, ao cont rár io do 
que se dava com as disciplinas jurídicas clássicas, encont ram -se, em 
m aior ou m enor m edida, expressam ente apresentados em um crescente 
núm ero de Const ituições m odernas; é a part ir delas, portanto, que se 
deve m ontar o edifício teórico da disciplina. Som ente por m ediação do 
texto const itucional enxergarem os – espera-se – um novo paradigm a 
ét ico- jurídico, que é tam bém polít ico-econôm ico, m arcado pelo 
perm anente exercício de fuga da clássica com preensão coisificadora, 
exclusivista, individualista e fragm entária da biosfera. 
Coube à Const ituição – do Brasil, m as tam bém de m uitos 
out ros países – repreender e ret ificar o velho paradigm a civilíst ico, 
subst ituindo-o, em boa hora, por out ro m ais sensível à saúde das pessoas 
(enxergadas colet ivam ente) , às expectat ivas das futuras gerações, à 
m anutenção das funções ecológicas, aos efeitos negat ivos a longo prazo 
da exploração predatória dos recursos naturais, bem com o aos benefícios 
tangíveis e intangíveis do seu uso- lim itado (e até não-uso) . O universo 
dessas novas ordens const itucionais, afastando-se das est ruturas 
norm at ivas do passado recente, não ignora ou despreza a natureza, nem 
é a ela host il. 
Muito ao cont rár io, na Const ituição, inicia-se um a jornada fora 
do com um , que perm ite propor, defender e edificar um a nova ordem 
pública, com o será visto adiante, cent rada na valorização da 
responsabilidade de todos para com as verdadeiras bases da vida, a Terra. 
1 .2 Caracter íst icas dos m odelos const itucionais am b ienta is 
A12 
11 
Direito Const itucional Am biental Brasileiro 
 
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12 
A const itucionalização de determ inado valor ou bem , 
notadam ente em m om entos de ruptura polít ica, não é, vale repet ir , m ero 
exercício aleatório, t raduzindo, com freqüência, certo m odelo norm at ivo, 
que cobiça reescrever, em m aior ou m enor m edida, a est rutura 
const itucional e infraconst itucional então vigente. Um estudo com parado 
dos regim es de proteção const itucional do m eio am biente vai ident ificar 
cinco característ icas com uns, que, de um a form a ou de out ra e com 
pequenas variações, inform am seus textos84 . 
Pr im eiro, adota-se um a com preensão sistêm ica (= orgânica ou 
holíst ica) e legalm ente autônom a do m eio am biente, determ inando um 
t ratam ento jurídico das partes a part ir do todo, precisam ente o cont rár io 
do paradigm a anter ior. Com apoio nas palavras de Pontes de Miranda, 
em pregadas em out ro contexto, é possível afirm ar que nesses disposit ivos 
const itucionais "não se veio do m últ iplo para a unidade. Vai-se da unidade 
para o m últ iplo” 85 . 
Além disso, é indisfarçável o com prom isso ét ico de não 
em pobrecer a Terra e a sua biodiversidade, alm ejando, com isso, m anter 
as opções das futuras gerações e garant ir a própria sobrevivência das 
espécies e de seu habitat . Fala-se em equilíbr io ecológico, prevêem -se 
áreas protegidas, com bate-se a poluição, protege-se a integridade dos 
biom as e ecossistem as, reconhece-se o dever de recuperar o m eio 
am biente degradado, tudo isso indicando o intuito de assegurar no 
am anhã um planeta em que se m antenham e se am pliem , quant itat iva e 
qualitat ivam ente, as condições que propiciam a vida em todas as suas 
form as. 
Terceiro, est im ula-se a atualização do direito de propriedade, 
de form a a torná- lo m ais recept ivo à proteção do m eio am biente, isto é, 
reescrevendo-o sob a m arca da sustentabilidade. Esboça-se, dessa 
 
84 I bid., p. 105. 
85 PONTES DE MI RANDA. Com entár ios à Const itu ição de 1 9 6 7 . 1.1. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 1967, p. 313 (gr ifo no original) . 
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m aneira, em escalas variáveis, uma nova dom inialidade dos recursos 
naturais, seja pela alteração direta do dom ínio de certos recursos 
am bientais (água, p. ex.) , seja pela m it igaçãodos exageros degradadores 
do direito de propriedade, com a ecologização de sua função social, com o 
m elhor será visto adiante. 
Quarto, desenha-se um a clara opção por processos decisórios 
abertos, t ransparentes, bem - inform ados e dem ocrát icos, est ruturados em 
torno de um devido processo am biental (= due process am biental86) . O 
Direito Am biental – const itucionalizado ou não – é um a disciplina 
profundam ente dependente da liberdade de part icipação pública e do fluxo 
perm anente e desim pedido de inform ações de toda ordem . Em regim es 
ditator iais ou autoritár ios, a norm a am biental não vinga, perm anecendo, 
na m elhor das hipóteses, em processo de hibernação letárgica, à espera 
de tem pos m ais propícios à sua im plementação, com o se deu com a Lei da 
Polít ica Nacional do Meio Am biente, de 1981, até a consolidação 
dem ocrát ica (polít ica e do acesso à just iça) do país, em 1988. 
Finalm ente, em Const ituições m ais recentes, observa-se um a 
nít ida preocupação com a im plem entação, isto é, com a indicação, já no 
próprio texto const itucional, de certos direitos e deveres relacionados à 
eficácia do Direito Am biental e dos seus inst rum entos, visando a evitar 
que a norm a m aior (m as tam bém a infraconst itucional) assum a um a 
feição retór ica – bonita à distância e irrelevante na prát ica. O Direito 
Am biental tem aversão ao discurso vazio; é um a disciplina jurídica de 
resultado, que só se just ifica pelo que alcança, concretam ente, no quadro 
social das intervenções degradadoras. 
1 .3 Conveniência da proteção const itucional do am biente 
No debate const itucional, um a pergunta inicial que se põe é a 
seguinte: seria a const itucionalização da proteção do am biente, se não 
 
86 BENJAMIN, Antônio Herm an V. Os princípios do estudo de impacto ambiental como 
lim ites da discricionar iedade adm inist rat iva. Revista Forense , v. 317, p. 34,1992. 
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indispensável, pelo m enos út il à atuação do legislador ordinário e do 
im plem entador (órgãos am bientais, juízes, Ministér io Público, ONGs e 
vít im as de degradação)? 
A experiência com parada parece indicar que, em bora não 
necessariam ente im prescindível, o reconhecim ento const itucional expresso 
de direitos e deveres am bientais é, jurídica e prat icam ente, benéfico, 
devendo, portanto, ser est im ulado e festejado. Um regim e const itucional 
cuidadosam ente redigido, de m odo a evitar disposit ivos nebulosos e de 
sent ido incerto, pode m uito bem direcionar e até m oldar a polít ica 
nacional do m eio am biente87 . 
No passado, antes m esm o do m ovim ento de 
const itucionalização da proteção do am biente, a inexistência de previsão 
const itucional inequívoca não inibiu o legislador, aqui com o lá fora, de 
prom ulgar leis e regulam entos que, de um a form a ou de out ra, 
resguardavam os processos ecológicos e com bat iam a poluição. Foi assim , 
p. ex., no Brasil, com o Código Florestal (1965) , a Lei de Proteção à Fauna 
(1967) e a Lei da Polít ica Nacional do Meio Am biente (1981) , norm as 
ext rem am ente avançadas e todas editadas em período anterior à 
Const ituição de 1988. 
Ainda hoje, uns poucos, m as im portantes, sistem as jurídicos, 
aí incluindo-se os Estados Unidos88 , protegem o am biente sem contar com 
apoio expresso ou direto na Const ituição. Nesses casos, com o ocorreu 
 
87 GRAVELLE, Ryan K. Enforcing the elusive: environmental r ights in East European 
const itut ions. I n: Virgin ia Environm enta l Law Journal , v. 16, 1997, p. 660. 
88 Ao cont rár io da Const ituição da República, várias Const ituições Estaduais 
incorporaram, expressamente, a proteção do m eio am biente. Um a das razões que 
levaram ao naufrágio das várias emendas apresentadas, no início dos anos 70, no 
Congresso norte-americano, foi o enorme sucesso na aprovação de leis ambientais 
modernas e inovadoras, como o NEPA – Nat ional Environm ental Policy Act de 1969, 
vitór ias essas que fortaleceram o argumento da desnecessidade de uma emenda 
const itucional (SCHLI CKEI SEN, Rodger. The argum ent for a const itut ional am endm ent to 
protect liv ing nature. I n: SNAPE, William J. Biodiversity and the law. Washington: I sland 
Press, 1996, p. 221) . Dos cinqüenta Estados, m ais de um terço deles conta com normas 
const itucionais expressas reconhecendo e protegendo o m eio ambiente (THOMPSON JR., 
Barton H. Environmental Policy and the State Const itut ions: the potent ial role of 
substant ive guidance. I n: Rutgers Law Journa l , v. 27, 1996, p. 871) . 
Direito Const itucional Am biental Brasileiro 
 
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aqui antes de 1988, dout r inadores e juízes procuram "depreender de 
out ros pr incípios ou de out ros direitos um princípio de defesa do 
am biente, com as decorrências inerentes" 89 . 
Não obstante essa constatação de razoável inofensividade da 
lacuna const itucional, razões várias recom endam a const itucionalização do 
am biente, um a tendência m undial que não passou despercebida ao 
const ituinte brasileiro de 1988. 
Superada a questão genérica da conveniência da 
const itucionalização, é oportuno t ratar dos seus benefícios e dos r iscos 
específicos. 
1 .4 Benefícios da const itucionalização 
Mais do que um abst rato im pacto polít ico e m oral90 , a 
const itucionalização do am biente t raz consigo benefícios variados e de 
diversas ordens, bem palpáveis, pelo im pacto real que podem ter na 
( re)organização do relacionam ento do ser hum ano com a natureza. 
Alguns apresentam caráter substant ivo, m aterial ou interno, 
isto é, reorganizam a est rutura profunda de direitos e deveres, assim 
com o da própria ordem jurídica. Out ros, diversam ente, relacionam -se com 
a afirm ação concreta ou im plem entação das norm as de tutela am biental – 
são benefícios form ais ou externos. Trata-se-á, pr im eiram ente, dos 
benefícios substant ivos. 
1 .4 .1 Pr im eiro benefício substa nt ivo: estabelecim ento de um 
dever const itucional genér ico de não degradar , base do regim e de 
explorabilidade lim itada e condicionada 
O prim eiro aspecto posit ivo que se observa nos vários regim es 
const itucionais do m eio am biente, especialm ente no brasileiro, é a 
inst ituição de um inequívoco dever de não degradar, cont raposto ao 
 
89 MI RANDA, Jorge. Manual de dire ito const itucional . 2. ed. Coimbra: Coimbra Ed., 
1993, p. 472. 
90 PRIEUR, Michel. Droit de l'environnem ent . 5. ed. Paris: Dalloz, 2004, p. 65. 
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direito de explorar, inerente ao direito de propriedade, previsto no art . 5º , 
XXI I , da Const ituição Federal. 
No cam po dos recursos naturais e do uso da terra, tal 
t ransm udação im plica a subst ituição definit iva do regim e de 
explorabilidade plena e in-condicionada (com lim ites m ínim os e 
pulverizados, decorrentes, p. ex., das regras de polícia sanitár ia e da 
proteção dos vizinhos) pelo regim e de explorabilidade lim itada e 
condicionada (com lim ites am plos e sistem át icos, cent rados na 
m anutenção dos processos ecológicos) . Lim itada, porque nem tudo que 
integra a propriedade pode ser explorado; condicionada, porque m esm o 
aquilo que, em tese, pode ser explorado, depende da observância de 
certas condições im postas abst ratam ente na lei e concretam ente em 
licença am biental exigível. 
Trata-se de dever const itucional auto-suficiente e com força 
vinculante plena, dispensando, na sua aplicação genérica, a atuação do 
legislador ordinário. É, por out ro lado, dever inafastável, tanto pela 
vontade dos sujeitos pr ivados envolvidos com o a pretexto de exercício de 
discr icionariedade adm inist rat iva.Vale dizer, é dever que, na est rutura do 
edifício jurídico, não se insere na esfera da livre opção dos indivíduos91 , 
públicos ou não. 
É ainda dever de cunho atem poral e t ransindividual, o que t raz 
conseqüências, com o será analisado em seguida, no cam po da prescrição, 
do direito adquir ido e da livre m ovim entação ou t ransferência de bens no 
m ercado; com o dever de ordem pública, não cabe escolha ent re respeitá-
lo ou desconsiderá- lo, abrindo-se, nessa últ im a hipótese, a avenida dos 
inst rum entos prevent ivos, reparatór ios e sancionatórios, postos à 
disposição do Estado, das vít im as e dos sujeitos interm ediários, com o 
ONGs. 
 
91 BROOKS, Richard O. A const itut ional r ight to a healthful environm ent . Verm ont Law 
Review , v. 16, p. 1110, 1992. 
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Por últ im o, form ulado com o dever int r ínseco ao direito de 
propriedade, cabe ao obrigado, que pretenda exercitar seu dom ínio ou 
posse, provar que o fará em conform idade com as exigências da 
m anutenção dos at r ibutos essenciais do m eio am biente. Aqui, out ra 
conseqüência do reconhecim ento const itucional do dever: a inversão do 
ônus da prova da inofensividade, m atéria que se m anifestará, com m aior 
clareza, na aplicação do princípio da precaução. 
1 .4 .2 Segundo benefício substa nt ivo: a ecologização da 
propr iedade e da sua função socia l 
Com o é sabido, todas as Const ituições filiadas ao princípio da 
livre iniciat iva garantem o direito de propriedade privada, inclusive a do 
Brasil92 . A grande diferença ent re as Const ituições m ais ant igas e as 
atuais é que nestas o direito de propriedade aparece am bientalm ente 
qualificado. 
Em rigor, a cr ise am biental dos últ im os cem anos não deixa, 
até certo ponto, de ser tam bém um dos subprodutos dos exageros do 
m odelo anter ior de dom ínio, em que, à m íngua de determ inações legais 
explícitas rest r it ivas da exploração predatória e não sustentável dos 
recursos naturais, preconizava-se que ao proprietár io tudo era perm it ido – 
inclusive dest ruir o que lhe pertencesse – desde que respeitados alguns 
lim ites m ínim os, com o já visto, conectados à sat isfação de cont ra-
interesses de seus vizinhos individuais e das norm as de polícia sanitár ia. 
É certo que m esm o as Const ituições editadas na pr im eira 
m etade do século XX at r ibuíam ao direito de propriedade um a função 
social. Não bastou, seja porque o Judiciár io e a dout r ina civilíst ica nunca 
invest iram m uito na concret ização dessa dest inação social, seja porque a 
própria idéia de função social não levava, necessária e claram ente, a um a 
 
92 No caso da Const ituição brasileira, cf. os arts. 52, XXI I ( "direito de propriedade") e 
170, caput ( " livre iniciat iva") . 
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m aior sensibilidade com a fragilidade da natureza. Fazia-se necessário 
cont rabalançar a hiper-ênfase no direito de propriedade93 . 
Era im perioso, pois, cont rabalançar o r igor pr ivat íst ico e a 
visão am bientalm ente assépt ica da função social (= coisificação exagerada 
da natureza) , corr igindo, já a m eio cam inho, as distorções produzidas por 
um a dout r ina e jur isprudência alheias à sorte do m eio am biente. A 
pr incípio, tal aspiração foi tentada com o uso da função social da 
propriedade, já que seu objet ivo or iginal, em bora não exatam ente 
am biental, era viabilizar a intervenção do Estado na regulação do 
t rabalho, das relações cont ratuais e do m ercado em geral, o que, em tese, 
abrir ia as portas para out ros e novos valores sociais de índole pós-
indust r ial. 
Daí que, até a década de 70, im aginava-se que, com o 
expressão renovadora do conteúdo do direito de propriedade, a função 
social genérica servir ia de ponto de part ida e apoio ao ajustam ento 
conclam ado pelas novas dem andas sociais abrigadas pelo Estado Social, aí 
se incluindo o m eio am biente. Em tal ót ica, m esm o sem um 
reconhecim ento explícito do m eio am biente com o tal no quadro 
const itucional, um a releitura interpretat iva ( legislat iva e judicial) da 
função social bastar ia para legit im ar um novo regim e jurídico da natureza, 
agregando aspectos ecológicos ao uso (e abuso) da propriedade. 
Mas, o Brasil tem prát ica, a t ransform ação e a evolução do 
Direito via labor exegét ico levam tem po. E tem po é exatam ente o que não 
tem os em sede am biental, diante do caráter catast rófico ou irreversível94 
de m uitos dos atentados à natureza. Sendo assim , logo a fórm ula da 
am pliação interpretat iva da função social da propriedade m ost rou-se 
insuficiente, tanto no cam po dout r inário com o no terreno da 
jur isprudência. Não é fácil m udar, por m eio tão indireto, fragm entário e 
 
93 SCHLICKEI SEN, Rodger. Op. cit . , p. 222. 
94 PRIEUR, Michel. Op. cit . , p. 945. 
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incerto, todo um paradigm a de exploração não sustentável dos recursos 
naturais. Sem falar que, até hoje, a função social, em si m esm a, ainda 
busca sua afirm ação concreta no cam po das decisões judiciais. 
A ecologização da Const ituição, portanto, teve o intuito de, a 
um só tem po, inst ituir um regim e de exploração lim itada e condicionada 
(= sustentável) da propriedade e agregar à função social da propriedade, 
tanto urbana com o rural, um forte e explícito com ponente am biental. Os 
arts. 170, VI , e 186, I I , da Const ituição brasileira, inserem -se nessa linha 
de pensam ento de alteração radical do paradigm a clássico da exploração 
econôm ica dos cham ados bens am bientais. Com novo perfil, o regim e da 
propriedade passa do direito pleno de explorar, respeitado o direito dos 
vizinhos, para o direito de explorar, só e quando respeitados a saúde 
hum ana e os processos e funções ecológicos essenciais. 
A tutela expressa do m eio ambiente nas Const ituições m ais 
recentes, por poder const ituinte or iginário ou derivado, reitera a função 
social da propriedade, ou, para ut ilizar a expressão de Guilherm e Purvin, 
enfat iza a "dim ensão am biental da função social da propriedade" 95 . 
Tam bém relegit im a, num a perspect iva m ais am pla e profunda, direitos 
que, de um a form a ou de out ra, os indivíduos e a colet ividade, não 
obstante o silêncio do texto const itucional, sem pre foram considerados 
detentores, na m edida em que correlates a lim ites int rínsecos do direito 
de propriedade privada, just ificados sob o im pério da preservação da vida 
e de suas bases naturais. 
Em tal equação renovada da propriedade e dos direitos de 
usá- la, não são incom uns, nem causam est ranheza, o reconhecim ento da 
inversão do ônus da prova da inofensividade da at ividade proposta, com o 
aludido at rás, bem com o a am pliação da exigência de licenciam ento (com 
 
95 FI GUEI REDO, Guilherme José Purvin de. A propriedade no direito am biental: a 
dim ensão am biental da função social da propriedade. 2. ed. Rio de Janeiro: ADCOAS/ Ed. 
Esplanada, 2005, p. 20 (gr ifo no original) . 
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" licenças" com prazo certo) e a responsabilidade objet iva na reparação 
dos danos causados96 . 
Num a palavra, aí fica evidenciado o fim redist r ibut ivo do 
Direito Am biental, reorganizando o endereçam ento dos benefícios e custos 
am bientais. Trata-se de inversão da injusta realidade da degradação 
am biental, que, na sua essência, não deixa de ser um a apropriação 
indevida (e, agora, tam bém const itucionalm ente desautorizada) de 
at r ibutos am bientais, em que os benefícios são m onopolizados por poucos(= os poluidores) e os custos são socializados ent re todos (= a 
colet ividade, presente e futura) . 
1 .4 .3 Terceiro benefício substa nt ivo: a proteção am bienta l 
com o dire ito fundam enta l 
Além da inst ituição desse inovador "dever de não degradar" e 
da ecologização do direito de propriedade, os m ais recentes m odelos 
const itucionais elevam a tutela am biental ao nível não de um direito 
qualquer, m as de um direito fundam ental97 , em pé de igualdade (ou 
m esm o, para alguns dout r inadores, em patam ar superior) com out ros 
tam bém previstos no quadro da Const ituição, ent re os quais se destaca, 
por razões óbvias, o direito de propriedade. 
Assim posta, a proteção am biental deixa, definit ivam ente, de 
ser um interesse m enor ou acidental no ordenam ento, afastando-se dos 
tem pos em que, quando m uito, era objeto de acaloradas, m as 
jur idicam ente estéreis, discussões no terreno não jurígeno das ciências 
naturais ou da literatura. Pela via da norm a const itucional, o m eio 
am biente é alçado ao ponto m áxim o do ordenam ento, pr ivilégio que 
 
96 CHI APPINELLI , John A. The right to a clean and safe environment : a case for a 
const itut ional am endm ent recognizing public r ights in com m on resources. Buffa lo Law 
Review , v. 40, p. 604, 1992. 
97 BRANDL, Ernst ; BUNGERT, Hartwin. Const itut ional ent renchm erit of environm ental 
protect ion: a com parat ive analysis of experiences abroad. Harvard Environm enta l Law 
Review , v. 16, p. 8-9,1992. 
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out ros valores sociais relevantes só depois de décadas, ou m esm o 
séculos, lograram conquistar. 
Tanto com o dever de não degradar, com o na fórm ula de 
direito fundam ental ao m eio am biente ecologicam ente equilibrado, a 
const itucionalização presta-se para cont rabalançar as prerrogat ivas 
t radicionais do direito de propriedade, o que enseja novas e fortalece 
velhas lim itações im plícitas e explícitas, acim a refer idas. 
Concretam ente, portanto, pode-se ganhar m uito, no terreno 
dogm át ico e da im plem entação, com o estabelecim ento de um direito 
fundam ental dessa natureza. Assim , dent re out ros benefícios diretos, 
tem os que, com o direito fundam ental, sua norm a estatuidora conta com 
aplicabilidade im ediata98 , tem a a que se voltará adiante. 
1 .4 .4 Quarto benefício substant iv o: legit im ação const itucional 
da função estata l reguladora 
Um a das m issões das norm as const itucionais é estabelecer o 
subst rato norm at ivo que circunda e orienta o funcionam ento do Estado. 
Nesse sent ido, a inserção da proteção am biental na Const ituição legit im a 
e facilita – e, por isso, obriga – a intervenção estatal, legislat iva ou não, 
em favor da m anutenção e recuperação dos processos ecológicos 
essenciais. Em tem pos de declínio de confiança nas inst ituições estatais99 
e de redução da presença do Estado na econom ia, é providência bem -
vinda. Da intervenção excepcional e pontual, t ípica do m odelo liberal, 
passa-se à intervenção im posta e sistem át ica. Em tal cenário, já não se 
requer apelos a desast res naturais ( liberalism o) , nem a catást rofes 
econôm icas (welfar ism o) para just ificar o protagonism o ecológico do 
Estado. Para tanto, basta a cr ise am biental, devidam ente notada pelo 
texto const itucional. 
 
98 "As normas definidoras de direitos e garant ias fundamentais têm aplicação imediata" 
(Const ituição da República, art . 5°, § 1°) . 
99 BROOKS, Richard O. A const itut ional r ight to a healthful environm ent , cit . , p. 1107. 
Direito Const itucional Am biental Brasileiro 
 
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22 
Ou seja, diante do novo quadro const itucional, a regulação 
estatal do am biente dispensa just ificação legit im adora, baseada em 
técnicas interpretat ivas de preceitos tom ados por em prést im o, pois se dá 
em nom e e causa próprios. Em face da exploração dos recursos naturais, 
a ausência do Poder Público, por ser a exceção, é que dem anda cabal 
just ificat iva, sob pena de violação do dever inafastável de (prontam ente) 
agir e tutelar. 
Nessa linha de pensam ento, os com andos const itucionais 
fincam , com o será t ratado em seguida, os m arcos divisórios daquilo que 
se pode denom inar ordem pública am biental const itucionalizada, baseada 
na explorabilidade lim itada e condicionada da natureza, at rás m encionada. 
Os direitos am bientais são um bilicalm ente associados à 
agenda renovada do Welfare State, bem m ais com plexos que os direitos 
const itucionais clássicos, dir igidos, de m odo preponderante, quando não 
exclusivo, em face do Estado, deste se esperando um a abstenção e não, 
em r igor, um a intervenção. Diferentemente do m odelo liberal de Estado, 
por certo se está diante de intervenção estatal, que deve ser, a um só 
tem po, prevent iva (e de precaução) e posit iva, na esteira do 
reconhecim ento de que esta é um a era que, cada vez m ais, dem anda 
governabilidade afirm at iva100 . 
Por isso, a verbalização do discurso const itucional de proteção 
do am biente não anuncia, com o desiderato pr incipal, um non facere; ao 
cont rár io, inegavelm ente prega e exige prestações posit ivas a cargo do 
Estado, m ensagem irrecusável que vem em reforço dos deveres 
infraconst itucionais de garant ia pelas autor idades públicas dos processos 
ecológicos essenciais101 . Um a dem anda para que assegure, com o direito 
de todas as pessoas, certo nível de liberdade cont ra r iscos am bientais e, 
 
100 TRI BE, Laurence H. Am er ican Const itut iona l Law . 3. ed., v. 1. New York: 
Foundat ion Press, 2000, p. 16. 
101 PRIEUR, Michel. Op. cit , p. 65. 
Direito Const itucional Am biental Brasileiro 
 
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23 
ao m esm o tem po, acesso aos benefícios am bientais102 e recuperação da 
degradação já causada. Encargo afirm at ivo esse que, sem opção expressa 
do const ituinte, contaria com frágil amparo const itucional e difícil defesa, 
no universo dos conflitos diár ios pelo uso e cont ra o abuso dos recursos 
naturais. 
1 .4 .5 Quinto benefício substant ivo: redução da 
discr icionar iedade adm inist ra t iva 
Vistos por out ro ângulo, os com andos const itucionais reduzem 
a discr icionariedade da Adm inist ração Pública, pois im põem ao 
adm inist rador o perm anente dever de levar em conta o m eio am biente e 
de, direta e posit ivam ente, protegê- lo, bem com o exigir seu respeito pelos 
dem ais m em bros da com unidade, abrindo ao cidadão a possibilidade de 
quest ionar "ações adm inist rat ivas que de form a significat iva prejudiquem 
os sistem as naturais e a biodiversidade" 103 . 
Daí que ao Estado não resta m ais do que um a única hipótese 
de com portam ento: na form ulação de polít icas públicas e em 
procedim entos decisórios individuais, optar sem pre, ent re as várias 
alternat ivas viáveis ou possíveis, por aquela m enos gravosa ao equilíbr io 
ecológico, aventando, inclusive, a não-ação ou m anutenção da integridade 
do m eio am biente pela via de sinal verm elho ao em preendim ento 
proposto. 
É desse m odo que há de ser entendida a determ inação 
const itucional de que todos os órgãos públicos levem em consideração o 
m eio am biente em suas decisões (art . 225, caput , e § 1º , da Const ituição 
brasileira) , adicionando a cada um a das suas m issões prim árias – não por 
opção, m as por obrigação – a tutela am biental. No Brasil, o desvio desse 
dever pode caracter izar im probidade adm inist rat iva e infrações a t ipos 
penais e adm inist rat ivos. 
 
102 SAX, Joseph L. The search for environm ental r ights, cit . , p. 95. 
103 SCHLI CKEI SEN, Rodger. Op. cit . , p. 222. 
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1 .4 .6 Sexto benefício substant iv o: am pliação da par t icipação 
pública 
Por derradeiro, ent re tantos out ros benefícios substant ivos da 
const itucionalização, é possível am pliar os canais de part icipação pública, 
sejam os adm inist rat ivos, sejam os judiciais, nesse últ im o caso, com o 
afrouxam ento do form alism o individualista, que é a m arca da legit im ação 
para agir t radicional104 . Em alguns casos, conform e a dicção ut ilizada pelo 
legislador const itucional, essa legit im ação am pliada pode vir a ser 
autom at icam ente aceita pelo Poder Judiciár io, sem necessidade de 
intervenção legislat iva. 
É correto e justo dizer que, no Direito m oderno, o legislador 
que at r ibui o benefício (qualidade am biental) ou a m issão (proteger o 
m eio am biente, com o dever de todos) tam bém dist r ibui, explícita ou 
im plicitam ente, os m eios e, ent re eles, os inst rum entos processuais e 
m eios adm inist rat ivos de part icipação no esforço de im plem entação. Logo, 
é possível ext rair da norm a reconhecedora da tutela am biental, com o 
valor essencial da sociedade, um potencial poder processual de part icipar 
do processo decisório adm inist rat ivo ou ingressar em juízo em favor 
próprio ou de out ros co-beneficiár ios. 
I sso porque os direitos e obrigações const itucionais só têm 
sent ido na m edida em que podem ser im plem entados e usados105 . Sem a 
possibilidade de quest ionam ento colet ivo, adm inist rat ivo e judicial, dos 
com portam entos degradadores de terceiros, qualquer garant ia dada ao 
cidadão estará gravada com o sím bolo da infecundidade e ineficácia do 
discurso jurídico. 
 
104 Conforme, nesse ponto, BENJAMI N, Antônio Herm an V. A insurreição da aldeia global 
cont ra o processo civil clássico. Apontam entos sobre a opressão e a libertação judiciais 
do m eio am biente e do consum idor. I n: MI LARÉ, Edis. Ação civil pública : Lei 7.347/ 85 
– rem iniscências e reflexões após dez anos de aplicação. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 1995, p. 70-151. 
105 ANTI EAU, Chester James; RI CH, William J. Modera const itut ional law . 2. ed., v. 3. 
St . Paul: West Group, 1997, p. 660. 
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Claro que tal exercício exegét ico é dispensável no Brasil, pois 
a Const ituição não só abre claram ente a possibilidade da im plem entação 
processual colet iva (art . 129) , com o, m esm o antes dela, o ordenam ento 
infraconst itucional já se encam inhara nessa direção (Lei n. 7.347/ 85, 
cuidando da ação civil pública) . 
São esses, então, alguns dos benefícios substant ivos, 
m ateriais ou internos da const itucionalização do regim e am biental. Serão 
vistos, em seguida, out ros benefícios, de cunho form al (ou externo) , isto 
é, vantagens que se destacam no terreno da com preensão ou realização 
form al da tutela jurídica do m eio am biente. 
1 .4 .7 Pr im eiro benefício fo rm al: m áxim a preem inência e 
proem inência dos dire itos, deveres e pr incípios am b ienta is 
A regra const itucional vem dotada, com o m arca exter ior das 
m ais relevantes, de preem inência e proem inência106 ; aquela, significando 
superior idade, at r ibui- lhe posição hierárquica superior, dem andando 
obediência est r ita do ordenam ento que lhe é infer ior; esta, indicando 
percept ibilidade, confere- lhe visibilidade m áxim a no anfiteat ro superlotado 
das norm as que com põem o sistem a legal de um país. 
Com a superior idade, busca-se afinidade est r ita ent re 
m andam ento const itucional e disposição ordinária; da m aior visibilidade, 
espera-se m ais fácil e m assificado conhecim ento pelos dest inatários e, a 
part ir daí, respeitabilidade e efet ividade alargadas. 
À Const ituição, por estar na pirâm ide do ordenam ento, 
im puta-se o m axim ante da respeitabilidade e da visibilidade. Com o bem 
lem bra José Afonso da Silva, pela via da const itucionalização "certos 
m odos de agir em sociedade t ransform am -se em condutas hum anas 
valoradas histor icam ente e const ituem -se em fundam ento do exist ir 
 
106 CANOTILHO, José Joaquim Gom es; MOREI RA, Vital. Const itu ição da República 
Por tuguesa anotada . 3. ed. Coim bra: Coim bra Ed., 1993, p. 45-46. 
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26 
com unitário" 107 . Trata-se, por conseguinte, de norm a superior na 
hierarquia legislat iva; santuário legislat ivo dotado de preem inência 
norm at iva (Canot ilho) , pois cuida de valores fundam entais da sociedade. 
Sobre ela, diz-se ser um m odelo para os cidadãos, propiciando, por tudo 
isso, um catalisador de um a m oralidade ecológica108 e um a m aior 
probabilidade de conhecim ento, especialm ente pelos im plem entadores 
(Adm inist ração e Judiciár io) . 
A preem inência norm at iva da norm a const itucional ocasiona, 
na palavra de Canot ilho e Moreira, t rês conseqüências jurídicas im ediatas. 
I nicialm ente, a interpretação das norm as infraconst itucionais deve ser 
feita da form a m ais concordante com a Const ituição – é o pr incípio da 
interpretação conform e à Const ituição; além disso, tais norm as, se 
desconform es com a Const ituição, serão inválidas, não podendo ser 
aplicadas pelos t r ibunais. Finalm ente, exceto se inquest ionavelm ente 
inexeqüíveis em si m esm os, os disposit ivos const itucionais têm aplicação 
direta, existam ou não leis e regulam entos interm ediár ios; aplicação que 
se dá, inclusive, cont ra ou era lugar de lei ou regulam ento que à norm a 
const itucional se oponha109 . 
A preem inência e a proem inência do texto const itucional 
t raduzem -se, no cam po prát ico, em inequívoco valor didát ico. Estar o 
m eio am biente lá, no lugar m ais elevado na hierarquia jurídica110 , serve 
de lem brança perm anente da sua posição dorsal ent re os valores 
indisponíveis da vida em com unidade. 
Na vast idão do ordenam ento, o abrigo const itucional aparta os 
valores e interesses fundam entais dos que, não obstante sua eventual 
salvaguarda jurídica em out ros textos norm at ivos, cedem lugar ou são 
 
107 SI LVA, José Afonso da. Curso de dire ito const itucional posit ivo . 9. ed. São Paulo: 
Malheiros, 1994, p. 41. 
108 SCHLI CKEI SEN, Rodger. Op. cit . , p. 222. 
109 CANOTI LHO, José Joaquim Gom es; MOREI RA, Vital. Op. cit . , p. 45-46. 
110 NEURAY, Jean-François. Droit de l'Environnem ent . Bruxelles: Bruylant , 2001, p. 
149. 
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sacrificados em favor daqueles. No ordenam ento, acim a do resto; m as, 
pr incipalm ente, no sim bolism o da "m ente da sociedade" 111 , acim a de tudo 
m ais. 
Naqueles países em que o público está firm em ente a par dos 
problem as am bientais e da necessidade de agir, a proteção const itucional 
do m eio am biente pode pouco ou nada acrescentar, pr incipalm ente 
quando form ulada na form a de objet ivos públicos vagos, de frágil 
im plem entação judicial. São países em que, por força da pressão pública, 
ao Estado é indiferente ter ou não ter um t raçado const itucional m ínim o, 
que o empurre para fora da inação própria do sistema do laissez- faire. É 
exatam ente nos países sem t radição am biental – em que a questão da 
degradação cham a a atenção fundam entalm ente da elite e da classe 
m édia112 , enquanto boa parte da população dedica-se a assegurar um 
prato de com ida – que a previsão const itucional será út il, tanto para 
educar o povo com o para guiar o processo decisório estatal113 . 
1 .4 .8 Segundo benefício fo rm al: segurança norm at iva 
Além disso, a const itucionalização, especialm ente em 
Const ituições rígidas com o a do Brasil114 , é acom panhada por um a m aiorsegurança norm at iva, seja porque os direitos e garant ias individuais são 
considerados norm a pét rea115 , seja ainda em decorrência da previsão de 
um procedim ento r igoroso para as em endas const itucionais116 . Em am bos 
os casos, o resultado é um valioso at r ibuto de durabilidade legislat iva no 
ordenam ento, o que funciona com o barreira à desregulam entação e a 
 
111 FREYFOGLE, Eric T. Should we green the bill? Universit y of I llinois Law Review , p. 
166, 1992. 
112 FERNANDES, Edesio. Const itut ional environmental r ights in Brazil. I n: BOYLE, Alan E.; 
ANDERSON, Michael R. (eds.) . Hum an r ights approaches to environm enta l 
protect ion . Oxford: Clarendon Press, 1996, p. 275. 
113 BRANDL, Ernst ; BUNGERT, Hartwin. Const itut ional ent renchm ent of environmental 
protect ion: a com parat ive analysis of experiences abroad. Harvard Environm enta l Law 
Review , v. 16, p. 84, 1992. 
114 SI LVA, José Afonso da. Curso de dire ito const itucional posit ivo , cit ., p. 47. 
115 Const ituição da República, art . 5º , § 2°, e art . 6 0, § 4º , I V. 
116 Const ituição da República, art . 60. 
Direito Const itucional Am biental Brasileiro 
 
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28 
alterações ao sabor de cr ises e em ergências m om entâneas, art ificiais ou 
não. 
Nisso reside, de certa m aneira, a razão principal do inchaço 
tem át ico das Const ituições m odernas, com a inclusão de vasto cam po de 
m atérias, sob "o sent im ento de que a r igidez const itucional é anteparo ao 
exercício discr icionário da autor idade" e "o anseio de conferir estabilidade 
ao direito legislado sobre determ inadas m atérias" 117 . 
Com o indicam Brandl e Bungert , tam bém aí está a explicação 
para que, na eufor ia dos processos de redem ocrat ização, países que 
acabam de libertar-se de regim es ditator iais tendam a regular 
const itucionalm ente um universo vast íssim o de aspectos da vida individual 
e social, m uitos deles m ais apropriados para t ratamento pelo legislador 
ordinário. O tem or de ret rocesso autor itár io dá fôlego e legit im idade aos 
m ais diversos interesses e à busca do anteparo const itucional118 . 
1 .4 .9 Terceiro benefício form al: subst itu ição do paradigm a da 
legalidade am bienta l 
Por out ro lado, por força da const itucionalização, subst ituiu-se 
o paradigm a da legalidade am biental119 pelo paradigm a da 
const itucionalidade am biental. Em bora se inclua tal benefício ent re os de 
natureza form al, a verdade é que ele determ ina um a am biciosa 
reest ruturação da equação jurídico-am biental, com im plicações m uito 
m ais am plas do que um a singela alteração cosm ét ica da norm a e da sua 
percepção social. 
Const itucionalizar, nesse enfoque, denota que a 
const itucionalidade tom a o lugar da legalidade na função de veículo e 
 
117 BONAVI DES, Paulo. Curso de dire ito const itucional . 5. ed. São Paulo: Malheiros, p. 
74. 
118 BRANDL, Ernst ; BUNGERT, Hartwin. Op. cit ., p. 83. 
119 Antes de 1988, protegia-se o meio ambiente apenas pela força da lei; assim , p. ex., o 
Código Florestal de 1965, a Lei de Proteção à Fauna de 1967 (ant igo Código de Caça) e a 
Lei da Polít ica Nacional do Meio Ambiente. 
Direito Const itucional Am biental Brasileiro 
 
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29 
resguardo de valores essenciais120 , firm ando-se, a part ir daí, um a ordem 
pública am biental const itucionalizada, tem as que serão abordados m ais 
adiante. 
1 .4 .1 0 Quarto benefício form al: cont role da 
const itucionalidade da le i 
Outra im portante vantagem de cunho form al da 
const itucionalização é perm it ir o cont role de const itucionalidade de atos 
norm at ivos hierarquicam ente infer iores (cont role form al e m aterial) 121 . 
Com o se sabe, " todas as norm as que integram a ordenação jurídica 
nacional só serão válidas se conform arem com as norm as da Const ituição 
Federal" 122 . Nesse sent ido, a Const ituição " fala diretam ente para o 
parlam ento e pode ajudar a influenciar e m oldar o debate legislat ivo" 123 . 
Essa conform idade com os padrões const itucionais 
não se sat isfaz apenas com a atuação posit iva de acordo 
com a Const ituição. Exige m ais, pois om it ir a aplicação de 
norm as const itucionais, quando a Const ituição assim o 
determ ina, const itui tam bém conduta inconst itucional124 . 
Naquele caso, tem -se a inconst itucionalidade por ação; neste, por 
om issão125 , seja por deixar-se de prat icar ato legislat ivo, seja pela 
displicência na afirm ação de ato execut ivo. 
Tal cont role de const itucionalidade, nos term os da Const ituição 
da República, pode ser exercido tanto de m odo difuso com o concent rado. 
Lá, por via de exceção, a cargo de qualquer interessado, em processo 
judicial em curso; aqui, por ação direta de inconst itucionalidade, 
 
120 FAVOREU, Louis et al. Droit const itut ionnel . Paris: Dalloz, 1998, p. 343 e 345. 
121 Essa faceta da const itucionalização me foi lembrada por Rogério Campos, à época 
estudante de graduação da UnB, durante palest ra que profer i no Superior Tribunal de 
Just iça, em Brasília, em 10 de m aio de 2001. 
122 SI LVA, José Afonso da. Curso de dire ito const itucional posit ivo , cit ., p. 47. 
123 THOMPSON JR., Barton H. Op. cit . , p. 906. 
124 SI LVA, José Afonso da. Curso de dire ito const itucional posit ivo , cit ., p. 48. 
125 Const ituição da República, art . 103, § 2°. 
Direito Const itucional Am biental Brasileiro 
 
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30 
respeitada a legit im ação at iva em num erus clausus prevista no art . 103 da 
Const ituição brasileira. 
1 .4 .1 1 Quinto benefício form al: re forço exegét ico p ró-
am biente das norm as infraconst it ucionais 
Por derradeiro, a norm a const itucional, sobretudo em países 
com firm e t radição const itucional, é um a poderosa ferram enta exegét ica. 
Seu uso faz-se prevalente no cot idiano da prát ica adm inist rat iva ou 
judicial. Nessa perspect iva, t raz a si o papel de servir de verdadeiro guia 
para a boa com preensão da norm a infraconst itucional por juízes, 
adm inist radores e out ros dest inatár ios. 
Exatam ente porque a proteção const itucional do m eio 
am biente situa-se num a posição elevada na hierarquia das norm as (= 
preem inência) , sua sim ples existência determ ina a ( re) leitura do direito 
posit ivo nacional126 – passado, presente e futuro – em part icular, no 
balanceam ento de interesses conflitantes127 . 
1 .5 Riscos da const itucionalização 
Alguns r iscos podem ser apontados no processo de inserção do 
m eio am biente no quadro const itucional. Nenhum deles, contudo, 
seriam ente obstou a const itucionalização crescente da proteção do m eio 
am biente. O interesse que despertam é m ais acadêm ico que prát ico, pois 
raram ente são verbalizados de form a ordenada e aberta nos debates 
recentes de reform a const itucional. A oposição que se faz à 
const itucionalização da tutela am biental não é de oportunidade, m as de 
conteúdo e de form a, pois alguns preferem ver na Const ituição um texto 
vago e am bíguo, repleto de conceitos jurídicos indeterm inados e 
obrigações abertas, com isso evitando-se ou dificultando-se a ut ilização 
direta e eficaz do com ando const itucional pelas vít im as de degradação. 
 
126 NEURAY, Jean-François. Op. cit . , p. 149. 
127 LADEUR, Karl Heinz; PRELLE, Rebecca. Environmental assessem ent and judicial 
approaches to procedural errors: a European and comparat ive law analysis, cit . , p. 26. 
Direito Const itucional Am biental Brasileiro 
 
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De um lado, fala-se nos perigos da const itucionalização de 
conceitos, direitos, obrigações e pr incípios insuficientem ente 
am adurecidos, m al-com preendidos, ou até incorretos ou superados (p. 
ex., a noçãode equilibro ecológico) . A idéia aqui é que a Const ituição é 
recinto para inst itutos e conceitos m aduros, que gozem de am pla 
aceitação polít ica e cient ífica. Em out ras palavras, a Const ituição não seria 
lugar para experim entos de polít icas públicas e m uito m enos para noções 
ainda em form ação ou em teste nas suas disciplinas de or igem . 
De out ra parte, decorrência das garant ias previstas na própria 
Const ituição, há, com o já notado, todo um procedim ento m ais r igoroso 
para m odificação da norm a const itucional, o que dificulta sua atualização 
e ret ificação. Com o é curial, o m eio am biente, os seus com ponentes, as 
am eaças degradadoras do processo econôm ico128 e o conhecim ento 
tecnológico são dinâm icos, sem pre em perm anente t ransform ação e 
evolução129 . Não é por out ra razão que as leis am bientais são conhecidas 
exatam ente pela sua m utabilidade; nelas, segurança jurídica é sinônim o 
de cont ínua adaptação e alteração, ao cont rár io do que se dá e se espera 
em out ras esferas da regulação jurídica. 
Por derradeiro, tanto m ais em países sem forte t radição 
const itucional, há sem pre o receio das norm as const itucionais retór icas, 
com m ínim o ou nenhum im pacto concreto na operação jurídica do 
cot idiano das pessoas130 . Aquele que pouco valor iza o texto const itucional 
 
128 Acertadamente lembrava Pontes de Miranda que "O processo econôm ico é o m ais 
instabilizador, revolvente, móvel, de todos, exceto a Moda" (Com entár ios à 
Const itu ição de 1 9 6 7 . t . I . São Paulo: Revista dos Tribunais, 1967, p. 313) . 
129 KI SS, Alexandre; SHELTON, Dinah. Manual of European Environm enta l Law . Op. 
cit . , p. 9. 
130 Fenômeno este que sucede até mesmo em nações com forte t radição const itucional. 
É o caso, p. ex., da pífia aplicação que se faz nos Estados Unidos das norm as de proteção 
ambiental inseridas nas Const ituições dos Estados federados. Nem m esm o Estados com 
disposit ivos const itucionais inequívocos são poupados. É em blem át ico o caso da 
Pennsylvania, cuja Const ituição assim dispõe: "O povo tem o direito ao ar limpo, água 
pura, e à preservação dos valores naturais, paisagíst icos, histór icos e estét icos do meio 
am biente. Os recursos naturais públicos são propriedade com um de todas as pessoas, 
incluindo as futuras gerações. Como depositár io ( t rustee) desses recursos, o Estado deve 
conservá- los e mantê- los para o benefício de todos" (art . I , § 27) . Como bem resume 
Direito Const itucional Am biental Brasileiro 
 
A12 
32 
em cam pos m ais t radicionais, pouca atenção, certam ente, dedicará à 
tutela am biental, const itucionalizada ou não. 
1 .6 Técnicas de const itucionalização do m eio am bien te no 
Dire ito Com parado 
São m últ iplas as vantagens da const itucionalização do m eio 
am biente, já vistas. Um exam e da experiência est rangeira131 revela que a 
norm a const itucional, com um ente, estabelece um a obrigação genérica de 
não degradar, fonte do regim e de explorabilidade lim itada e condicionada 
dos recursos naturais; ecologiza o direito de propriedade e sua função 
social; at r ibui perfil fundam ental a direitos e obrigações am bientais; 
legit im a a intervenção estatal em favor da natureza; reduz a 
discr icionariedade adm inist rat iva no processo decisório am biental; am plia 
a part icipação pública, em especial, nas esferas adm inist rat iva e judicial; 
agrega preem inência e proem inência à questão e aos conflitos am bientais; 
robustece a segurança norm at iva; subst itui a ordem pública am biental 
legalizada por out ra de gênese const itucional; enseja o cont role da 
const itucionalidade da lei sob bases am bientais; e, por fim , reforça a 
interpretação pró-am biente das norm as e polít icas públicas. 
Tais benefícios, contudo, nem sem pre aparecem todos 
conjugados – sim ultaneam ente – no texto const itucional, pois são 
prisioneiros da técnica ou do desenho norm at ivo escolhido pelo 
const ituinte, um leque variado de opções, na sua expressão form al, valor 
sem ânt ico e efeitos. Para bem entender o sent ido da norm a 
const itucional, apreender seus lim ites e fragilidades, e aplicá- la com 
efet ividade, crucial, pois, exam inar a form ulação levada a cabo pelo 
legislador. 
 
William Rodgers, na Pensilvânia e em out ros Estados que const itucionalizaram a proteção 
do m eio am biente, tais norm as não encont raram maior ressonância prát ica ou 
jur isprudencial, "algumas delas sendo explicitam ente sepultadas por decisões judiciais 
sob o argumento de que tais disposit ivos não seriam auto-executáveis" (Environm enta l 
law , cit ., p. 66) . 
131 Uma das melhores análises da experiência est rangeira pode ser encont rada em 
BRANDL, Ernst ; BUNGERT, Hartwin. Op. cit . , p. 83. 
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Sejam direitos, obrigações e pr incípios, sejam objet ivos, 
program as públicos e inst rum entos de im plem entação, o certo é que a 
norm a const itucional busca regular ora o uso dos m acrobens e m icrobens 
am bientais (água, fauna, solo, ar, florestas) , ora as at ividades hum anas 
propriam ente ditas, que afetam ou podem afetar o m eio am biente 
(biotecnologia, m ineração, energia nuclear, caça, agricultura, tur ism o, 
const rução civil) . Mas ao fazê- lo, nem sem pre a Const ituição alcança, 
com o seria desejável, tal desiderato. 
No caso da Const ituição brasileira de 1988, vê-se facilm ente 
que o legislador inclinou-se por um desenho const itucional 
plur iinst rum ental, r ico em possibilidades dogm át icas e prát icas, em bora 
heterogêneo na perspect iva de seu real valor no plano da eficácia. Com o 
corretam ente indica Eros Roberto Grau, a Const ituição, nos m oldes em 
que está posta, "dá vigorosa resposta às correntes que propõem a 
exploração predatória dos recursos naturais, abroqueladas sobre o 
argum ento, obscurant ista, segundo o qual as preocupações com a defesa 
do m eio am biente envolvem proposta de retorno à barbárie” 132 . 
A form a m ais út il de estudar essas técnicas const itucionais é, 
de preferência, part ir de um sistem a nacional e, daí, prom over as 
conexões necessárias com o Direito Com parado. Seja pela extensão do 
t ratam ento que deu à m atéria, seja pela im portância que os t r ibunais vêm 
a ela em prestando nas decisões que prolatam , seja ainda pela diversidade 
das técnicas que abraçou, a Const ituição de 1988 convida, com o poucas, 
a esse exercício de prospecção acadêm ica. 
1 .7 I nt rodução am bienta l à Const itu ição de 1 9 8 8 : da 
m iserabilidade à opulência ecológico- const itucional 
A Const ituição Federal de 1988 sepultou o paradigm a liberal 
que via (e insiste em ver) no Direito apenas um inst rum ento de 
organização da vida econôm ica, unicam ente or ientado a resguardar certas 
 
132 GRAU, Eros Roberto. A ordem econôm ica na Const itu ição de 1 9 8 8 . 5. ed. São 
Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 255 (gr ifo no original) . 
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liberdades básicas e a produção econôm ica, assim reduzindo o Estado à 
acanhada tarefa de est ruturar e perenizar as at ividades do m ercado, sob o 
m anto de certo assept ism o social. Abandonou, pois, o enfoque 
convencional da Const ituição condenada a se tornar "um sim ples 
regulam ento econôm ico-adm inist rat ivo, m utável ao sabor dos interesses e 
conveniências dos grupos dom inantes" 133 . 
Ao m udar de rum o – inclusive quanto aos objet ivos que visa a 
assegurara Const ituição, com o em out ros cam pos, m etam orfoseou, de 
m odo notável, o t ratam

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