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Conhecimento e Inovação APRESENTAÇÃO A globalização e a inserção de tecnologia em nossos modos de viver pautaram nova perspectiva para a necessidade de produção de conhecimento nas organizações contemporâneas. Nesse cenário, o esforço continuado para a inovação de produtos, serviços e processos viabiliza não somente o fortalecimento da vantagem competitiva das empresas, mas também a sobrevivência dessas em meio à economia e ao mercado pós-globalizados – competitivos e exigentes. Diante dessa lógica, o conhecimento produzido, aprendido e compartilhado nos lócus das práticas nas organizações não prescinde de gestão que oportunize o direcionamento do desenvolvimento e a aplicação desse conhecimento para atingimento e/ou superação de metas e resultados organizacionais. Assim, o debate acerca da gestão de conhecimento contempla a prática de inovar na medida em que esta pode ser associada à criação, à assimilação e ao manejo prático desse novo conhecimento. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar sobre a relevância da inovação para as empresas, estabelecer relações entre o conhecimento e a inovação, bem como identificar a natureza do conhecimento que resulta em inovação, seja no contexto intra ou interorganizacional. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a importância da inovação para as empresas.• Relacionar conhecimento e inovação.• Identificar as fontes de conhecimento interno e externo que levam à inovação.• DESAFIO Open Inovation, o conceito de inovação aberta, vem tomando conta do meio acadêmico e profissional. A inovação antes fechada em salas e laboratórios de dentro da empresa se expande para além dos muros da organização e experimenta contribuições diversificadas. Manuel Mario, pequeno industrial português também ouviu falar sobre o assunto num congresso sobre inovação, mas ainda está cheio de dúvidas. Como romper os muros da empresa para inovar? Quais seriam afinal as fontes externas de inovação? Como criar uma cultura que estimule a inovação aberta? Ajude-o respondendo aos seus questionamentos. INFOGRÁFICO Na perspectiva da gestão do conhecimento, o compartilhamento de informações significa a possibilidade de alavancar novas associações entre elementos heterogêneos, informações, reflexões, ineditismos, experiências que possam traduzir-se em novas rotas de saber e de fazer no ambiente organizacional, por exemplo. Logo, comunicação, análise de contexto, análise do conhecimento disponível e do necessário, movimento para a inovação, gestão de novos produtos, aprendizagem organizacional e fortalecimento da cultura organizacional, tecnologia, transformação e movimentação do mercado integram o campo da gestão do conhecimento em diferentes perspectivas relacionais. Neste Infográfico, você vai, então, observar as diferentes associações entre conceitos principais da dinâmica relacional da gestão do conhecimento com a inovação. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! CONTEÚDO DO LIVRO A inovação pode estar atrelada à melhoria dos produtos e serviços ou relacionada a sua funcionalidade para clientes e usuários. As melhorias nos produtos podem ser incrementais e mesmo radicais substituindo produtos definitivamente. As novas funcionalidades geralmente estão mais conectadas às aspirações dos clientes criando novos padrões de consumo e mesmo novas formas de utilizar o mesmo produto. Boa leitura. GESTÃO DO CONHECIMENTO Fabiane Padilha da Silva Conhecimento e inovação Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a importância da inovação para as empresas. Relacionar conhecimento e inovação. Identificar as fontes de conhecimento interno e externo que levam à inovação. Introdução Neste capítulo, o tema será a inovação e a sua importância no âmbito empresarial, tendo em vista que ela se tornou um elemento central na obtenção de diferencial competitivo. Nesse contexto, será analisada a relação entre conhecimento e inovação com base em aspectos teóricos e práticos que geram melhores resultados em organizações situadas em ambientes de constante mudança e acirrada concorrência. Por fim, serão identificadas as fontes de conhecimento interno e externo que conduzem à inovação, com foco no fato de que essa caminhada não é linear, uma vez que conta com diversas possibilidades. Inovação nas empresas Tranformação é a palavra que norteia o nosso dia a dia. Vivemos em uma sociedade na qual produtos, empresas, hábitos e, por conseguinte, a população passam por mudanças jamais imaginadas. Parte desse processo transforma- cional deve-se às tecnologias da informação e da comunicação, que apre- sentam novas possibilidades e oportunidades de negócios, de modo a incitar certa percepção da realidade que difere quase por completo da existente há alguns anos. É nesse campo que se encontra a inovação, cujo papel é central na atuali- dade, tornando-se essencial para a sobrevivência de qualquer organização em um cenário cada vez mais competitivo e globalizado. Afinal, uma empresa que não inova está fadada ao fracasso, pois é justamente a inovação que gera mais valor para o cliente. Nesse sentido, muitas são as características que a configuram como um elemento catalizador de diferenciais competitivos, cuja busca é constante para as instituições que desejam obter vantagens competitivas duradouras para, assim, anteciparem-se às concorrentes. De forma bastante simplificada, a inovação é uma novidade que gera valor agregado em algum aspecto. Segundo Tidd e Bessant (2015, p. 30), “[...] há diferentes graus de novidade, desde melhorias incrementais menores até mudanças realmente radicais que transformam a forma como vemos ou usamos algumas coisas”. Portanto, o termo se refere a pequenas melhorias em algo já existente e às criações que rompem por completo com o padrão existente, de maneira a evidenciar algo de fato inédito com relação a produtos ou às suas funcionalidades. Kim e Mauborgne (2005) fazem uma analogia do mercado com a existência de dois oceanos distintos: o oceano vermelho, onde se encontram todas as em- presas que adotam estratégias iguais para alcançar o mesmo público, e o oceano azul, composto por mercados inexplorados e identificado como um espaço desconhecido. Com essa metáfora, os autores oferecem modelos e ferramentas para alcançarmos o referido oceano azul: a competição exige a busca constante por inovações, seja em produtos e mercados já existentes ou em novos. Cem anos atrás, o cenário mundial era bastante diferente do contem- porâneo. Desde a época em que o engenheiro mecânico Frederick Wins- low Taylor (1856–1915) alavancou a produtividade com a implantação de métodos relacionados aos tempos e movimentos da indústria, buscamos formas de fazer com que as empresas se destaquem e alcancem níveis de desempenho melhores do que os passados ou, então, melhores do que os Conhecimento e inovação2 níveis das suas concorrentes. Portanto, o cenário até pode ser diferente, mas o objetivo de maximizar resultados e a intenção de tornar a concorrência irrelevante permanecem intactos. De acordo com Tidd e Bessant (2015, p. 7), a inovação está se convertendo em um elemento central também nas políticas públicas, pois: com frequência, a inovação é a característica mais associada ao sucesso; em geral, empresas inovadoras atingem um crescimento maior ou, então, são mais bem-sucedidas do que as que não inovam; empresas com participação no mercado e lucros crescentes são, também, as que mais inovam. A maioria das organizações percebe, com nitidez, que a estagnação frente aos produtos oferecidos aos seus clientes acarreta a invasão da sua fatia de mercado por parte dos concorrentes. Afinal, uma empresa que percebe na inovação as chances de aumentar a sua participação no mercado deve estar ciente de que determinadamedida inovadora possui um prazo, pois as vantagens obtidas com a inserção da inovação perdem potência à medida que mais empresas oferecem o mesmo benefício. Tal constatação demonstra que o movimento é contínuo e o mercado adapta-se conforme as oscilações, ou seja, as ditas “regras do jogo” estabelecem-se enquanto o próprio “jogo” está em andamento, o que faz com que os “jogadores” precisem adaptar-se constantemente, pois, caso contrário, estarão fora da competição. A afirmação de Tidd e Bessant (2015, p. 16) confirma essa realidade: “O problema é que a inovação envolve um alvo em constante movimento — além da competição entre os parceiros do jogo, o contexto geral em que o jogo acontece está em constant transformação”. A Figura 1 apresenta a curva em “S” extraída dos estudos de Rogers (1983, apud TROTT, 2012), representando as categorias de adotantes da inovação ao longo do tempo. Essa curva, tratada de forma cumulativa, assemelha-se ao ciclo de vida de um produto e mostra que, à proporção que o tempo passa, o número de inovadores considerados retardatários aumenta, ou seja, cresce o número daqueles que serão os seguidores das inovações. Nesse sentido, o desafio é fazer com que a queda, normalmente apresentada no ciclo de vida do produto, não ocorra em função das inovações inerentes ao produto. 3Conhecimento e inovação Figura 1. Curva em “S” representando adotantes cumulativos da ino- vação ao longo do tempo. Fonte: Rogers (1983, apud TROTT, 2012, p. 64). As tecnologias de engenharia reversa facilitam os processos de desmonte de um produto e de descoberta das suas peças, dos seus os encaixes e, por fim, do seu funcionamento geral. Dessa maneira, outras empresas podem copiar o mesmo produto — de forma sutil ou não — com vistas a conquistar uma fatia do mercado recém-criado. É nesse momento que muitas organizações preferem aguardar pelos resultados a serem divulgados pelos laboratórios de pesquisa e desenvolvimento (P&D) dos grandes players do mercado para somente depois tentar imitá-los. Um dos dilemas das empresas que investem anos em P&D se refere, jus- tamente, à questão das cópias, sobretudo das ilegais, já que dedicam um longo período de investimento de recursos para descobrir melhorias ou fun- cionalidades para os seus produtos ou serviços e, ao lançá-las, desfrutam dos benefícios por serem as pioneiras no lançamento apenas por pouco tempo. Em seguida, o produto inovador torna-se alvo de outras empresas, que o copiam de modo injusto caso a legislação local não conte com regras de patenteamento explícitas e eficazes. Conhecimento e inovação4 Infelizmente, os prejuízos causados pela demora na obtenção de patentes de produtos são evidentes no Brasil. Na reportagem do Jornal Nacional disponibilizada no link a seguir, você pode ler mais sobre essa realidade brasileira: https://goo.gl/sgMpo6 Independentemente de como o macroambiente mostra-se com relação à proteção de uma inovação, é importante ressaltarmos que sempre é possível aprender desde que haja predisposição para investir tempo e recursos em processos inovadores. Tidd e Bessant (2015, p. 91) corroboram: “Um resultado inevitável do lançamento de uma inovação é a criação de um novo estímulo para o reinício do ciclo”. Em suma, é por meio de estímulos que se promovem novos ciclos e, por conseguinte, as inovações passam a ser uma busca per- manente. Afinal, quando o assunto é inovação, devemos analisar o passado vislumbrando o futuro. Conhecimento e inovação A relação entre conhecimento e inovação é direta e proporcional: quanto mais conhecimento houver, mais inovações surgirão. Logo, o conhecimento vem sendo visto como um recurso essencial às organizações, pois já não basta possuir dados (registros isolados), tampouco informações (dados com algum tratamento), pois é o conhecimento — e as suas diferentes formas de mani- festação, que envolvem a informação aplicada em busca de um determinado objetivo — que gerará a base para a inovação. A esse respeito, Tidd e Bessant (2015, p. 39) ressaltam que “[...] a inovação é uma questão de conhecimento – criar novas possibilidades por meio da combinação de diferentes conjuntos de conhecimentos”. 5Conhecimento e inovação A Figura 2 apresenta a tangibilidade do conhecimento, isto é, se ele de fato se tornará tangível com as efetivas ações em produtos e processos. Figura 2. A tangibilidade do conhecimento. Fonte: Trott (2012, p. 343). Conhecimento e inovação são elementos com intrínseca conexão, pois não há inovação sem conhecimento. É a partir do saber que novas ideias são geradas, pois, junto com as capacidades da organização, ele promove assimilações que norteiam a inovação. Quando mobilizamos o que é captado no ambiente externo da organiza- ção e as suas capacidades internas, estabelecemos o conjunto fértil para as combinações capazes de identificar novas oportunidades de negócios e, por consequência, de ampliar o conjunto de inovações criadas pela empresa. A Figura 3 evidencia essa dinâmica. Figura 3. Modelo conceitual para genuínas oportunidades de negócios. Fonte: Trott (2012, p. 209). Conhecimento e inovação6 O conhecimento é o principal ativo estratégico da organização. Portanto, cabe à empresa administrá-lo com o objetivo de otimizar o desempenho organizacional (CAVALCANTI, 2011). Se a organização souber gerenciar o seu estoque de conhecimento, haverá mais chances de destacar-se perante a concorrência. Da mesma maneira, a transformação do conhecimento em ações palpáveis alavancará os seus resultados, de modo que ela firmará diferenciais competitivos sustentáveis. Há tempos a temática do conhecimento permeia as esferas acadêmicas, resul- tando em uma vasta gama de estudos e esforços na área. Nonaka e Takeuchi (1997) apontam que Schumpeter via na combinação de conhecimento o surgimento de novos produtos, métodos e mercados, observando a economia como um todo. Já Edith Penrose (1959) trata a organização como um repositório de conhecimentos, isto é, um conjunto de recursos. Nelson e Winter (1982), por sua vez, consideram que o conhecimento se armazena sob a forma de padrões de comportamento, ressaltando que as rotinas organizacionais funcionam como os genes de uma pessoa. Nonaka e Takeuchi (1997) apontam a existência de dois tipos de conhecimento: tácito, subjetivo, ligado à experiência (corpo), simultâneo e derivado da prática; explícito, objetivo, ligado à racionalidade (mente), sequencial e digital. Segundo Nonaka e Takeuchi (1997), deriva desses dois tipos de conheci- mento a sua conversão em quatro tipos de interação: conhecimento tácito em conhecimento tácito; conhecimento tácito em conhecimento explícito; conhecimento explícito em conhecimento tácito; conhecimento explícito em conhecimento explícito. Ademais, também derivam dessas interações a socialização, a externalização, a internalização e a combinação. Alguns autores atribuem as descobertas inovadoras à sorte — também chamada de serendipidade —, pois consideram que tais inovações ocorreriam de qualquer forma, sendo, portanto, descobertas inesperadas. De acordo com Trott (2012, p. 22), o argumento fundamental dessa problemática é que “[...] o acaso acontece raramente”, pois, para que certo avanço seja efetivamente considerado como tal, exige-se algum conhecimento do que já existe — muitas vezes buscado de maneira incessante por pessoas obcecadas ou fascinadas por determinada área. Dessa forma, a máxima do cientista francês Louis Pasteur (1822–1895) recordada por 7Conhecimento e inovação Trott (2012, p. 22) faz-se perfeita: “[...] a oportunidade favorece a mente preparada”. Assim, o primeiro passo consiste em buscar o conhecimento acerca do assunto em questão para, em seguida, aproveitar as oportunidades que se apresentarem. Posto isso, a imagem do cientista ao qual ocorre, sem mais nem menos, uma ideia genial é bastante midiática, pois são raros os casos em que isso de fato sucede. A maior parte dasinovações que transformaram o mundo adveio de exaustivos estudos e mentes extremamente preparadas para buscar os avanços que seriam acarretados por tais descobertas. A sorte pode, sim, acompanhar a inovação, contudo não é a sua única fonte, pois o estudo, o aprofundamento e a fascinação por um assunto ou uma área podem ser os caminhos mais coerentes para novas descobertas, funcionalidades e aplicações. Quando as empresas possuem uma boa gestão do conhecimento, há muito mais chances de a inovação estar entre os seus valores. A geração de valor resultante das inovações faz com que os consumidores estreitem o seu relacionamento com a empresa, pois percebem que ela não está estagnada e procura oferecer-lhes novos produtos ou funcionalidades. De modo geral, a inovação aperfeiçoa os resultados financeiros. Fontes de conhecimento interno e externo que levam à inovação Para que a inovação se torne um processo contínuo nas empresas, é necesário conhecer os elementos presentes. Perceber isso é considerar que as fontes que promovem inovações encontram-se não apenas no âmbito interno, da mesma maneira que não basta observar somente o ambiente externo para estabele- cer premissas em prol da inovação. É preciso atentar para o olhar conjunto, segundo o qual variáveis internas e externas convivem de forma mútua para gerar resultados que agreguem valor às atividades organizacionais. A inovação é uma atividade associada à sobrevivência e ao crescimento das empresas no ambiente concorrencial (TIDD; BESSANT, 2015). Esse processo revela que a busca, a seleção, a implementação e a captura de valor relacionadas à inovação são elementos inseridos tanto no contexto externo quanto no interno. É no âmbito interno, com os procedimentos e as atividades Conhecimento e inovação8 rotineiras, e no panorama externo — fatores políticos econômicos, sociais, tecnológicos, ambientais e legais juntamente com a análise da concorrência e das necessidades e dos desejos do público-alvo — que se captam os elementos que fazem com que a inovação proposta atinja os resultados almejados na empresa inovadora. A Figura 4 a seguir esquematiza a inter-relação entre essas variáveis. Figura 4. Variáveis que envolvem a empresa inovadora. Fonte: Trott (2012, p. 50). Os modos como o conhecimento apresenta-se são diversos (TIDD; BES- SANT, 2015): pode dar-se na forma de conhecimentos técnicos; pode encontrar-se em um processo de busca por tecnologias, mercados, ações da concorrência, etc.; pode ser observado de maneira explícita ou tácita. Ao considerarmos o conhecimento como um ativo organizacional ou como fonte interna, estabelecemos uma dinâmica na qual cinco dimensões citadas por Trott (2012) prevalecem, conforme apresentado no Quadro 1. 9Conhecimento e inovação Fonte: Adaptado de Trott (2012). Tipo de recurso Descrição Individual Habilidades e conhecimentos acerca dos indivíduos que formam a organização. Tecnológico Conjunto de capacidades que podem ser reproduzidas. Administrativo Perfis de empregados e gestores; rotinas, procedimentos e sistemas para viabilizar a execução das tarefas; estrutura organizacional; estratégias orientadoras da ação e da cul- tura que norteiam as crenças e os valores corporativos. Externo Relações que a empresa estabelece com aliados, concor- rentes, fornecedores, clientes, agentes políticos e comuni- dades locais atuais e potenciais, tais como parcerias, canais de distribuição, etc. Projetual Meios pelos quais os recursos tecnológicos, organiza- cionais e externos são mobilizados e transformados, configurando-se como base para o conhecimento, pois geram aprendizado acerca de aspectos a serem repetidos ou ajustados. Quadro 1. Dimensões do conhecimento como um ativo organizacional Ao analisarmos os recursos internos da organização, devemos ter em mente que “[...] a capacidade de sobrevivência de qualquer organização depende de sua adaptabilidade a um ambiente em mutação” (TROTT, 2012, p. 210). Funda- mentados nas palavras de Trott, podemos observar que a empresa deve estar em constante aprendizado com relação aos desafios impostos. Caso opte por entrar em inércia frente às exigências da sociedade, perderá potencial competitivo. Ainda no que tange às fontes da inovação, Trott (2012) elenca quatro tipos de fatores críticos para o sucesso: fatores relacionados à empresa; fatores relacionados ao produto; fatores relacionados ao projeto; fatores relacionados ao mercado. Conhecimento e inovação10 Os fatores relativos à empresa e ao projeto estariam conectados à viabilidade tecnológica para que o produto tenha sucesso nas vendas. Já os fatores relativos ao produto e ao mercado diriam respeito à viabilidade comercial para gerar sucesso nas vendas do produto. Veja o Quadro 2. Fonte: Adaptado de Trott (2012). Produto de comercialização bem-sucedida Viabilidade tecnológica Viabilidade comercial Fatores relativos à empresa: herança organizacional; experiência; equipe de P&D; estratégia de inovação; estrutura organizacional; intensidade de P&D. Fatores relativos ao projeto: complemen- taridade; estilo de gestão; apoio da alta administração. Fatores relativos ao produto: preço relativo; qualidade relativa; diferencial; avanço tecnológico. Fatores relativos ao mercado: concentração de mercado alvo; entrada oportuna no mercado; pressão competitiva; marketing. Quadro 2. Fatores críticos de sucesso na inovação No que concerne às fontes externas, é necessário sinalizarmos as condi- ções para que a inovação ocorra em um aspecto geral. São muitas as teorias que analisam os aspectos externos, das quais destacamos duas: sistemas de inovação, com recorte nacional ou regional, e modelo triple helix ou hélice tríplice, que propõe a interação entre Governo, universidade e empresas. Políticas públicas de incentivo à inovação podem dinamizar ainda mais esse processo, tendo em vista os diversos benefícios oferecidos nas agen- das governamentais para alavancar a atividade inovadora das empresas. Os benefícios fiscais, que oferecem redução no valor dos impostos, em países desenvolvidos e em desenvolvimento procuram estimular a inovação cor- porativa, por exemplo. Assim, quando atrelados à inovação, tais incentivos 11Conhecimento e inovação apresentam-se como alternativas para estimular a iniciativa privada a investir em mecanismos que promovam a inovação, pois intentam minimizar os riscos inerentes a ela. Tanto para as nações quanto para as empresas, quanto mais inovações surgirem, mais vantagens competitivas serão obtidas. Dessa forma, os incentivos fiscais convertem-se em mecanismos propulsores de inovação. Trott (2012) aponta que as alianças estratégicas podem beneficiar os players de um mercado, contribuindo para que haja um aumento na atividade inovadora por meio da colaboração. Nesse sentido, podemos citar como alianças: licenciamento, relações de fornecimento, terceirização, joint venture, parcerias não contratuais, consórcio de P&D, clusters, redes industriais e redes de inovações. Dentre as razões pelas quais uma aliança estabelece-se, encontram-se: acesso à tecnologia, ganho de massa crítica e compartilhamento do risco de desenvolvimento de tecnologia, o que possibilita maior aprendizado frente à manutenção apenas das fontes internas. Outro conceito alinhado às fontes externas que está em evidência é o de ino- vação aberta. Havia a ideia preconcebida por empresários que acreditavam que, para inovar, deveriam investir em laboratórios de P&D e recursos humanos, ou seja, apenas no âmbito interno. Felizmente, esse conceito fechado foi substituído pela noção de que outras possibilidades para alavancar a conexão entre variadas fontes de inovação existem, inclusive pela junção das fontes internas e externas. Parcerias com universidades; incubadoras de empresas; e interações com clientes, fornecedores e comunidade são exemplosde conexões que se estabelecem como canais de diálogo constante e que podem promover a inovação de forma aberta. Chesbrough (2003; 2006) reforçou o assunto ao comprovar que com a inovação aberta é possível e que o processo de inovação evolui com a participação de agentes externos e vínculos com partes que se situam fora da empresa (TROTT, 2012). Tidd e Bessant (2015) fazem um levantamento de fontes internas, mercantis, institucionais e outras de acordo com o tamanho da organização e o seu número de funcionários. Dentre as fontes externas, os autores mencionam fornecedo- res, clientes, competidores, laboratórios de P&D, universidades, institutos de pesquisa, etc. Temos de ressaltar que há estudos relacionados à inovação com o intuito de entender a melhor forma de encontrá-la: se de forma linear, sequencial e contínua com conhecimentos, conceitos, pesquisa básica, pesquisa aplicada, desenvolvimento, serviço técnico até a chegada do produto físico ao mercado; ou por meio da inovação aberta, na qual, por exemplo, introduz-se um produto no mercado e os consumidores ou usuários informam à empresa quais são as melhorias que satisfariam as suas necessidades ou os seus desejos. Conhecimento e inovação12 Após a discussão elaborada ao longo deste capítulo, temos que, em resumo, a inovação se dá por intermédio de duas fontes: a interna e a externa. A fonte interna se originae dentro da empresa, pelos colaboradores, de modo a evidenciar que o ambiente é fértil para a geração de novas ideias. A fonte externa, por sua vez, é gerada por agentes que não se encontram no organograma da empresa. CAVALCANTI, M. (Org). Gestão estratégica de negócios: evolução, cenários, diagnóstico e ação. 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2011. CHESBROUGH, H. Open innovation: a new paradigm of understanding industrial innovation. In: CHESBROUGH, H.; VANHAVERBEKE, W.; WEST, J. (Org.). Open innovation: researching a new paradigm. Oxford: Oxford University Press, 2006. CHESBROUGH, H. The new imperative for creating and profiting from technology. Boston: HBS Press, 2003. KIM, C.; MAUBORGNE, R. A estratégia do oceano azul: como criar novos mercados e tornar a concorrência irrelevante. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. NELSON, R. R.; WINTER, S. An evolutionary theory of economic change. Boston: Harvard University Press, 1982. NONAKA, I.; TAKEUCHI, H. Criação de conhecimento na empresa. Rio de Janeiro: Elsevier, 1997. PENROSE, E. T. The theory of the firm. New York: John Wiley, 1959. TIDD, J.; BESSANT, J. Gestão da inovação. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2015. TROTT, P. Gestão da inovação e desenvolvimento de novos produtos. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. Leituras recomendadas BROWN, T. Design thinking: uma metodologia ponderosa para decretar o fim das velhas ideias. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. ROGERS, E. Diffusion of innovations. 3 ed. Nova York: The Free Press, 1983. 13Conhecimento e inovação DICA DO PROFESSOR No vídeo a seguir compreenderemos melhor os conceitos relativos à inovação para, em seguida, conseguirmos fazer a correta correlação entre a gestão do conhecimento e a inovação empresarial. Você perceberá que são conceitos próximos e mesmo complementares. E que, em última análise, o conhecimento - interno e externo - é a maior fonte de inovação nas organizações. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) (BNDES, 2013). O processo de mudança tecnológica é resultado do esforço das empresas em investir em atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e na incorporação posterior de seus resultados em novos produtos, processos e formas organizacionais. As atividades de P&D referem-se à pesquisa: A) acadêmica, à pesquisa empresarial e à pesquisa internacional. B) aleatória, à pesquisa técnica e à pesquisa globalizada. C) literária, à pesquisa científica e à pesquisa de bancada. D) básica, à pesquisa aplicada e ao desenvolvimento experimental. E) basal, à pesquisa integrada e ao desenvolvimento definitivo. (BNDES, 2012). Livros disseminam casos de sucesso, cursos ensinam executivos a inovar, eventos celebram o tema e prêmios reconhecem os maiores talentos. [...] Oded Shenkar, professor de Ohio State University [], seguiu o caminho contrário. Seu livro 2) [...] celebra a cópia, e não o original. O pesquisador mostra como os seguidores conseguem gerar valor copiando. [...] Copiar não é bom para o ego dos executivos, mas pode ser ótimo para o bolso dos acionistas. O iPod não foi o primeiro reprodutor de músicas. O conceito de tablet foi criado muitos anos antes do lançamento do iPad. Isso não impediu a Apple de dominar o mercado e capturar enorme valor. Não se pode negar a importância da inovação da empresa, mas seus lucros vêm de uma estratégia mais ampla, [...] Revista Carta Capital. 20 jun. 2012, p.72. Um argumento utilizado por aqueles que defendem a posição do pesquisador mencionado no texto está contido na seguinte afirmação: A) A velocidade da inovação está diminuindo porque o desenvolvimento da pesquisa para novas tecnologias estagnou. B) A inovação reduz riscos no empreendimento porque há garantia de aceitação dos produtos pelos consumidores. C) A imitação é aceitável porque permite economizar custos em pesquisa científica, em desenvolvimento e em marketing. D) A imitação é uma capacidade estratégica essencial porque as empresas devem priorizar os impulsos dos consumidores compulsivos. E) Tanto a inovação quanto a imitação devem ser incentivadas porque ambas evidenciam na mesma proporção o caráter da originalidade do produto no mercado. 3) (BACEN, 2010 - adaptada). O investimento em geração de novos conhecimentos é fundamental para criar uma cultura de inovação nas empresas. Nesse sentido, constata-se, cada vez mais, que as organizações modernas devem ter uma cultura inovadora. Isso significa que é preciso que a: A) A harmonia e o acordo entre os indivíduos e as unidades sejam vistos como evidências de um desempenho superior. B) A mudança na organização seja vista como a quebra de paradigmas e a busca de uma nova identidade organizacional. C) organização dê muita ênfase à objetividade e à especificidade. D) organização tenha um desenho mecanicista com forte especialização do trabalho, das regras e dos procedimentos verticalizados. E) A organização tenha uma estrutura orgânica e descentralizada, com foco nos sistemas abertos. 4) (MPE, 2010 - adaptada). Uma das fontes de conhecimento mais importantes para a inovação são os funcionários da empresa. Nesse sentido, a atividade desenvolvida para explorar a potencialidade criativa de um indivíduo ou de um grupo, é muito útil quando se deseja gerar em curto prazo uma grande quantidade de ideias a respeito de um assunto a ser analisado, é chamada de: A) Outsourcing. B) Empowerment. C) Reengenharia. D) Open-book management. E) Brainstorming. 5) (IBGE, 2009). Novas formas de organização surgirão e deverão se adaptar às demandas consequentes das mudanças rápidas no mundo dos negócios, da explosão populacional e do avanço do conhecimento. Dentro desse contexto, a administração terá de lidar com a: A) Precisão. B) Estabilidade C) Previsibilidade. D) Descontinuidade. E) Homogeneidade. NA PRÁTICA Conhecimento e Inovação são ativos intangíveis de alto valor para as empresas. Dessa forma, elas investem continuamente em plataformas de aprendizagem, gestão do conhecimento, empreendedorismo e inovação. SAIBA + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Inovação na pesquisa: Vitrine Tecnológica No vídeo, você assistirá ao depoimento do professor Arthur Fett Neto, pesquisador na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o qual realizou pesquisa que resultou em método que possibilita identificar árvores que produzem mais resina, matéria prima de medicamentos, tintas, e até de asfalto. Conteúdo interativo disponível naplataforma de ensino! Impacto das práticas de gestão do conhecimento Interessantes reflexões acerca das práticas de gestão do conhecimento relacionadas ao desempenho da organização, em uma empresa de base tecnológica, constam no estudo intitulado “O impacto das práticas de gestão do conhecimento no desempenho organizacional: um estudo em empresas de base tecnológica”. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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