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gestão empresarial Direito empresarial Noções de direito Civil 8 ObjetivOs da Unidade de aprendizagem Apresentar os conceitos fundamentais da pessoa natu- ral, pessoa jurídica e negócio jurídico e sua importância para o Direito Empresarial. COmpetênCias Compreender a importância os conceitos de pessoa na- tural, pessoa jurídica e negócio jurídico e identificar e aplicar a extensão dos conceitos. Habilidades Aplicar os conceitos apresentados do Direito Civil no con- texto da Gestão Empresarial (Processos Gerenciais) como necessidade da função administrativa, que a cada dia de- verá acrescentar noções de outras áreas de atuação, pra- ticando a interdisciplinaridade nas ações desenvolvidas. direito empresarial Noções de direito Civil ApresentAção Nesta Unidade de Aprendizagem, depois de já termos es- tudado os Fundamentos do Direito: A Ciência do Direito e as Normas Jurídicas; na sequência, as Fontes do Direi- to, depois seus Principais Ramos, o Direito Constitucional, Administrativo, Tributário, Trabalhista e Previdenciário, se faz necessário conhecer um pouco dos aspectos que en- volvem o Direito Civil. Este é um ramo do Direito Privado, que representa os conceitos fundamentais, sem os quais não é possível uma perfeita e completa análise da atividade empresarial. Assim, nos tópicos que estudaremos, será possível a você, conhecer o Direito comum, aquele que rege as re- lações das pessoas comuns, do cidadão, que necessita de regras pertinentes, que estabeleçam e favoreçam a dig- nidade da pessoa humana, regulando principalmente as relações interpessoais. pArA ComeçAr Para que possamos compreender o Direito Empresarial precisamos conhecer alguns aspectos do Direito Civil, pois é esse ramo do Direito que apresenta os conceitos fundamentais, sem os quais não é possível uma perfeita e completa análise da atividade empresarial. O Nosso estudo sobre o Direito Civil será dividido nos seguintes tópicos: → Tópico 1 – Direito Civil: conceito e princípios; → Tópico 2 – Pessoa Natural e Pessoa Jurídica; → Tópico 3 – Negócio Jurídico. Ao estudarmos o Direito Civil é importante que você reflita, de que forma tal tema faz parte de nossa vida. Também é interessante relacionar o Direito Civil, com as Direito Empresarial / UA 08 Noções de Direito Civil 4 unidades estudadas anteriormente, pois o tema será importante para as Unidades futuras. O Código Civil é uma lei que desperta interesse em todos, pois somos pessoas comuns, necessitamos de regras para serem seguidas e para uma melhor convivência social. Por isso perguntamos a você: a. O que é a Pessoa Natural? b. O que é a Pessoa Jurídica? c. O que é o Negócio Jurídico? As reflexões sobre o que perguntamos acima, fazem com que você possa ao final desta Unidade, comparar o que pensava a respeito e como o con- teúdo apresentado expandirá o seu conhecimento sobre o assunto. Agora, convidamos você para iniciar a atividade proposta e o nosso estudo. FundAmentos tÓpiCO 1 – direitO Civil: COnCeitOs e prinCÍpiOs 1.1. CONCEITO GERAL DE DIREITO CIVIL Num conceito amplo, o Direito Civil apresenta um conjunto de princípios e normas, com o objetivo de regular as relações estabelecidas pelas pes- soas enquanto tais na sociedade. É chamado de direito comum, porque se aplicam a todas as pessoas sem qualquer distinção de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, em consonância com a previsão constitucional – art. 3º, IV da CF/88. A Lei Nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, normatiza sobre o Direito Civil, uma vertente do Direito Privado. Neste ainda inclui ramos a respeito do Trabalho, Consumidor e Comércio. Diniz (2007) define o Direito Civil como “ramo do Direito Privado destinado a reger relações familiares, patrimoniais e obrigacionais que se formam entre indivíduos encarados como tais, ou seja, enquanto membros da sociedade”. Gonçalves (2009) conceitua como “o direito comum, o que rege as rela- ções entre particulares”. Assim, podemos definir Direito Civil, como o conjunto de normas que regulam as relações jurídicas entre indivíduos, e que se preocupa em esta- belecer normas de conduta para regulamentar o ser e o agir das pessoas. Considera-se como direito comum porque está na vida social, faz parte do nosso cotidiano. Direito Empresarial / UA 08 Noções de Direito Civil 5 1.2. QUAL A ESTRUTURA DO CÓDIGO CIVIL? A Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil conta com 2.046 artigos e tem a seguinte estrutura: Parte Geral Livro I – Das Pessoas Título I – Das Pessoas Naturais Título II – Das Pessoas Jurídicas Livro II – Dos Bens Título único das diferentes classes de bens Livro III – Dos Fatos Jurídicos Título I – Do Negócio Jurídico Título II – Dos atos jurídicos lícitos Título III – Dos atos ilícitos Titulo IV – Da prescrição e decadência Titulo V – Da prova Parte Especial Livro I – Do Direito das Obrigações Título I – Das modalidades das obrigações Título II – Da transmissão das obrigações Título III – Do adimplemento e extinção das obrigações Título IV – Do adimplemento das obrigações Título V – Dos contratos em Geral Título VI – Das várias espécies de contrato Título VII – Dos atos unilaterais Título VIII – Dos títulos de Crédito Título IX – Da responsabilidade civil Título X – Das preferências e privilégios creditórios Livro II – Do direito de empresa Título I – Do empresário Título II – Da sociedade Título III – Do estabelecimento Título IV – Dos institutos complementares Livro III – Das Coisas Título I – Da posse Título II – Dos direitos reais Título III – Da propriedade Título IV – Da superfície Título V – Das servidões Título VI – Do usufruto Título VII – Do uso Título VIII – Da habitação Título IX – Do direito do promitente comprador Título X – Do penhor, da hipoteca e da anticrese Livro IV – Do direito de família Título I – Do direito pessoal Título II – Do direito patrimonial Título III – Da união estável Título IV – Da tutela e da curatela Livro IV – Do direito das sucessões Título I – Da sucessão em geral Título II – Da sucessão legítima Título III – Da sucessão testamentária Título IV – Do inventário e da partilha Livro Complementar Das disposições finais e transitórias Direito Empresarial / UA 08 Noções de Direito Civil 6 Percebemos então, que o Código Civil é genérico ao buscar regulamentar vários âmbitos da vida do homem; o nosso cotidiano enquanto pessoa comum na sociedade. Contudo, no Código Civil na Parte Especial, Livro II - artigo 966 a 1.195, apresentam os dispositivos legais aplicados no Di- reito Empresarial, ou seja, objetiva a apresentar normas que tenham por objetivo, regulamentar a empresa e a atividade empresarial. Diniz (2007) comenta que: Rege as relações mais simples da vida cotidiana, atende às pessoas garantidamente si- tuadas, com direito e deveres, na sua qualidade de marido e mulher, pai e filho, credor e devedor, alienante e adquirente, proprietário ou possuidor, condômino ou vizinho, testador ou herdeiro. 1.3. QUAIS OS PRINCÍPIOS QUE ORIENTAM O DIREITO CIVIL? O Direito é norteado por várias fontes para auxiliar na resolução de pro- blemas, como as leis, doutrina, jurisprudência, costumes dentre outras. E não é diferente no Direito Civil, que trata o indivíduo enquanto membro de uma coletividade, valorizando os direitos individuais sob o ângulo so- cial. Porém como a lei é genérica, diversos doutrinadores acreditam que ela contenha cláusulas abertas, que permitem que o magistrado escolha o tipo de aplicação que irá realizar, baseado no tipo de situação e aplicando os princípios que norteiam o Direito. São vários doutrinadores que explicam sobre as definições dos princí- pios, dentre eles podemos citar: Gagliano e Pamplona Filho (2007) apresentam os princípios que orien- tam o Código Civil: a. Princípio da Eticidade compatibiliza os valores técnicos com a par- ticipação dos valores éticos no ordenamento jurídico. Temoscomo exemplo o art. 422 do Código Civil que prevê a boa-fé contratual e o artigo 187 do Código Civil que prevê o abuso do Direito; b. Princípio da Sociabilidade preserva o sentido da coletividade em detrimento de interesses individuais, ou seja, os indivíduos coope- ram para a satisfação de seus interesses para atingir o bem comum. Temos como exemplo o art. 421 do Código Civil que prevê a função social do contrato e o art. 1.228 do Código Civil que prevê a função social da propriedade; c. Princípio da Operabilidade importa em maiores poderes herme- nêuticos ao magistrado, ou seja, confere ao juiz a possibilidade de aumentar o seu poder de interpretação. Temos como exemplo a art. 927 do Código Civil que prevê a obrigação de reparar o dano, quando Direito Empresarial / UA 08 Noções de Direito Civil 7 a atividade desenvolvida pelo autor implicar riscos para os direitos de alguém. A expressão “atividade de risco” é uma cláusula aberta e compete ao juiz, ao analisar o caso concreto e identificar que aquela atividade é ou não considerada com uma atividade de risco. Diniz (2007) apresenta outros princípios que orientam o Direito Civil: a. Princípio da Personalidade: aceita a ideia de que todo ser humano é sujeito de direitos e obrigações; b. Princípio da Autonomia da Vontade: reconhece que toda pessoa possui capacidade jurídica e por tal motivo tem autonomia para es- colher a prática ou abstenção de determinado ato; c. Princípio da Liberdade de Estipulação: decorre da autonomia da vontade e permite ao indivíduo outorgar direitos e aceitar direitos nos limites estabelecidos pela lei; d. Princípio da Propriedade Individual: aceita a ideia de que homem pelo seu trabalho e pela lei pode exteriorizar a sua personalidade em bens móveis e imóveis; e. Princípio da Intangibilidade Familiar: reconhece a família como expressão imediata de seu ser pessoal; f. Princípio da Legitimidade da Herança e do Direito de Testar: aceita que entre os poderes, que as pessoas têm sobre os seus bens, se inclui o poder de transmiti-los, total ou parcialmente a seus her- deiros; g. Princípio da Solidariedade Social: decorre da função social da pro- priedade e dos negócios jurídicos, a fim de conciliar as exigências da coletividade com os interesses particulares. PaPo Técnico →→ Direito→Civil:→ramo→do→direito→privado,→visto→como→di- reito→comum→que→estabelece→um→conjunto→de→normas→ que→rege→as→relações→entre→particulares→enquanto→tais→ na→sociedade; →→ A→Lei→nº→10.406→de→10→de→janeiro→de→2002→-→Código→Civil→ conta→com→2.046→artigos; →→ O→Direito→é→norteado→por→várias→fontes→para→auxiliar→na→ resolução→de→problemas,→como→as→leis,→doutrina,→juris- prudência,→costumes→dentre→outras. Direito Empresarial / UA 08 Noções de Direito Civil 8 tÓpiCO 2 – pessOa natUral e pessOa jUrÍdiCa Depois de analisarmos o conceito e conhecer a estrutura do Código Civil e os princípios que orientam o Direito Civil, vamos, agora, estudar a pessoa, ou seja, a chamada Pessoa Natural e a Pessoa Jurídica, para melhor com- preendermos a figura do empresário e a sociedade empresária, visto que são considerados Pessoas Jurídicas. 2.1. O QUE é PESSOA NATURAL? Faria e Rosenvald (2010) explicam em resumo que a pessoa natural é o ser humano com vida, é gente, é dotado de estrutura biopsicológicas, pertence à natureza humana. A dignidade da pessoa humana encontra seu fundamento no art. 1o, inciso III da Constituição Federal de 1988. Acrescentam que a nenhum ser humano é possível subtrair a qualidade de pessoa, enquanto sujeito de direitos e obrigações e dotado de perso- nalidade jurídica. 2.1.2. O que é personalidade jurídica? A personalidade jurídica é a aptidão genérica para adquirir direitos e con- trair obrigações na sociedade. É o que prevê o art. 1º do Código Civil: “toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”. Significa que todos nós somos sujeitos de direitos e obrigações. Gagliano e Pamplona Filho (2007) explicam que a personalidade jurídi- ca é a “aptidão genérica para titularizar direitos e contrair obrigações, ou em outras palavras, é o atributo necessário para ser sujeito de direito”. Personalidade jurídica é basicamente um conceito abstrato que expres- sa o reconhecimento do ser humano como indivíduo. É a ideia de que uma pessoa, física (pessoa natural) ou jurídica (empresa, ente público, associação sem fins lucrativos) tenha capacidade de adquirir direitos e contrair deveres na sociedade (direito civil). O art. 2º do Código Civil prescreve, que se adquire a personalidade ju- rídica com o nascimento com vida, mas a lei põe a salvo, desde a concep- ção, os direitos do nascituro. Quando falamos em personalidade, estamos também nos referindo à capacidade, ou seja, adquirida a personalidade jurídica toda pessoa tam- bém é capaz em direitos e obrigações. Assim, podemos definir que a ca- pacidade como a aptidão de exercer os atos da vida civil. Gagliano e Pamplona Filho (2007) citam Marcos Bernardes de Mello que prefere utilizar a expressão capacidade jurídica para caracterizar a “aptidão que o ordenamento jurídico atribui às pessoas, em geral, e a certos entes, em particular, estes formados por grupos de pessoas ou uni- versalidades patrimoniais, para serem titulares de uma situação jurídica”. Direito Empresarial / UA 08 Noções de Direito Civil 9 2.1.3. O que é capacidade? A capacidade civil é entendida em nosso ordenamento jurídico, como a capacidade plena da pessoa reger sua vida, seus bens e sua aptidão para os atos da vida civil. Em regra, a menoridade cessa aos 18 (dezoito) anos, conforme pre- ceitua o artigo 5º do Código Civil, salvo se acontecer algum impedimento legal para tal exercício, e para tanto deve ser observado os artigos 3º e 4º do mesmo diploma legal, que veremos na sequência. Destacamos, a importância de ser verificada a Lei Nº 13.146, de 6 de julho de 2015, que instituiu a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com De- ficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), alterando inclusive alguns artigos do Código Civil e destinada a assegurar e a promover, em condi- ções de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania. 2.1.4. O que é incapacidade absoluta e incapacidade relativa? A incapacidade é a ausência da capacidade de fato ou de exercício dos atos da vida civil sozinho. Todas as pessoas têm personalidade civil para adquirir direitos e obrigações, mas nem todos são capazes para a prática dos atos da vida civil. A capacidade é a regra; incapacidade é a exceção. E por esta razão, a Lei prevê as hipóteses de incapacidade, principalmente para proteger aquele que não tem discernimento, maturidade ou alguma doença que as tornam vulnerável para a efetivação de seus direitos na esfera civil, res- saltando novamente a observação do Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei Nº 13.146/2015). Vejamos então a. incapacidade absoluta: É a falta de aptidão total para praticar os atos da vida civil. Conforme o art. 3º do Código Civil são absoluta- mente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil, os menores de 16 (dezesseis) anos, que devem ser representados pelos genitores ou representante legal, sob pena destes atos serem consi- derados nulos, ou seja, sem validade e eficácia jurídica. O art. 928 do Código Civil prescreve que o incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tive- rem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes. b. incapacidade relativa: Neste caso, a pessoa pratica os atos da vida civil pessoalmente, porém, alguns em companhia de alguém que lhes presta assistência e/ou é representado por um curador. A ausência do assistente causa a anulabilidade dos atos praticados pela pessoa relativamente incapaz. De acordo com o artigo 4º do Código Civil de- termina os que são incapazes, relativamente, conforme segue: Direito Empresarial / UA 08 Noções de Direito Civil 10 I. Menoresde 18 anos e maiores de 16; sendo que o art. 180 do Có- digo Civil prescreve que o menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior. II. Os ébrios habituais e os viciados em tóxicos, ou seja, alcoólatras e toxicômanos; III. Aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade. Exemplo: um idoso portador de Alzheimer, ou uma pessoa em coma. IV. Os pródigos, que são as pessoas que dissipam seus bens e patri- mônios de forma desregrada ou desordenada. Exemplo: o viciado em jogatinas. De modo geral, é importante afirmar que a incapacidade relativa se aplica, sim, aos maiores de Idade. Todavia, ocorre que, como a capaci- dade é a regra, ela é presumida até que se prove o contrário, a incapa- cidade relativa deve ser decretada pelo juiz, que nomeará um curador para o relativamente incapaz e delimitando os limites da curatela. 2.1.5. O que é emancipação? Conforme verificado, a pessoa ao completar dezoito anos adquire a capa- cidade para os atos da vida civil, ou seja, a menoridade cessa aos dezoito anos, porém o Código Civil prevê situações em que é possível antecipar a maioridade civil, que é a emancipação. A emancipação pode ser voluntá- ria, judicial e legal. → A emancipação voluntária acontece quando há a concessão dos pais mediante instrumento público, independentemente de homo- logação judicial. → A emancipação judicial se dá quando o juiz por sentença emancipa o menor de dezesseis anos, depois de ouvido o tutor, conforme o art. 5º, inciso I do Código Civil. → A emancipação legal, quando ocorrer uma das situações previstas no art. 5º, II a V do Código Civil, ou seja, pelo casamento; pelo exer- cício de emprego público efetivo, pela colação de grau em ensino superior; e pelo estabelecimento civil ou comercial ou pela existência de relação de emprego desde que, em função deles, o menor com 16 (dezesseis) anos completos tenha economia própria. Direito Empresarial / UA 08 Noções de Direito Civil 11 Gonçalves (2009) ensina que as emancipações voluntária e judicial devem ser registradas no Registro Civil do domicílio do menor, anotando--se tam- bém com remissões recíprocas no assento de nascimento. É importante destacar, que antes do registro não produzirão efeito e quando concedida por sentença, deve o juiz comunicar, por ofício, a concessão ao oficial do Registro Civil. Ressalta que em se tratando de emancipação legal independe de regis- tro e produz efeito a partir do ato ou do fato que provocou a emancipação (art. 5º, incisos II a V do Código Civil). 2.1.6. E os índios são capazes ou incapazes? Quanto a capacidade dos indígenas, o artigo 4º § único do Código Civil prevê: “A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial”. A legislação especial que se refere o dispositivo legal é a Lei Nº. 6.001 de 19 de dezembro de 1973, que dispõe sobre o Estatuto do Índio; veja- mos na sequência, de forma resumida, apenas dois artigos desta lei: No artigo 3º define que: I. Índio ou silvícola - É todo indivíduo de origem e ascendência pré- -colombiana que se identifica e é identificado como pertencente a um grupo étnico cujas características culturais o distinguem da so- ciedade nacional; II. Comunidade Indígena ou Grupo Tribal - É um conjunto de famílias ou comunidades índias, quer vivendo em estado de completo isola- mento em relação aos outros setores da comunhão nacional, quer em contatos intermitentes ou permanentes, sem contudo estarem neles integrados. E no artigo 4º diz que os índios são considerados: I. Isolados - Quando vivem em grupos desconhecidos ou de que se possuem poucos e vagos informes, através de contatos eventuais com elementos da comunhão nacional; II. Em vias de integração - Quando, em contato intermitente ou perma- nente com grupos estranhos, conservam menor ou maior parte das condições de sua vida nativa, mas aceitam algumas práticas e modos de existência comuns aos demais setores da comunhão nacional, da qual vão necessitando cada vez mais para o próprio sustento; III. Integrados - Quando incorporados à comunhão nacional e reco- nhecidos no pleno exercício dos direitos civis, ainda que conservem usos, costumes e tradições característicos da sua cultura. Direito Empresarial / UA 08 Noções de Direito Civil 12 2.1.7. Como se extingue a pessoa natural? A existência da pessoa natural termina com a morte, conforme dispõe o art. 6º do Código Civil que prescreve “A existência da pessoa natural termi- na com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva”. 2.1.8. A pessoa natural pode ser individualizada? A pessoa natural pode ser individualizada pelo seu nome, estado e domicílio. Gonçalves (2009) explica quanto à importância da individualização da pessoa natural: O homem é um ser gregário por natureza. Não vive isolado, mas em grupos, por uma necessidade natural de convivência e para alcançar melhores resultados no trabalho e na produção. Desse convívio nascem as relações jurídicas, negociais e familiares, principal- mente. É essencial que os sujeitos dessas diversas relações sejam individualizados, perfeita- mente identificados, como titulares de direitos e deveres na ordem civil. Essa identificação interessa não só a eles, mas também ao Estado e a terceiros, para maior segurança dos negócios e da convivência familiar e social. Assim, temos: 1 Nome 1.1. Conceito Elemento identificador que integra a personalidade durante a vida e após a morte e indica a procedência familiar. Designação que identifica e distingue as pessoas naturais nas relações sociais. 1.2. Natureza Constitui um direito da personalidade. 1.3. Aspecto público O Estado tem interesse na identificação correta e perfeita das pessoas e para tanto temos a Lei de Registro de Públicos – LRP n. 6.015/73. 1.4. Aspecto particular O art. 16 do Código Civil prevê que toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendido o prenome e o sobrenome. 2 Estado 2.1. Conceito É o modo particular de existir, resultante da situação jurídica de certas qualidades inerentes à pessoa. 2.2. Ordens de estado O estado individual trata do ser da pessoa quanto à idade, sexo, cor, altura, saúde, homem ou mulher, capaz ou incapaz. O estado familiar indica a situação familiar em relação ao matrimônio (solteiro, casado, divorciado ou viúvo) e ao parentesco por consanguinidade (pai, filho, irmão, avô) ou afinidade (cunhado, sogro). O estado político indica a qualidade da posição do indivíduo na sociedade política podendo ser nacional (nato, naturalizado – art. 12, incisos I e II da CF/88) ou estrangeiro. 3 Domicílio 3.1. Conceito É o local onde a pessoa natural responde por suas obrigações e estabelece a sede principal de sua residência e de seus negócios. 3.2. Espécies Domicílio voluntário quando escolhido livremente pela pessoa natural. Domicílio legal quando determinado por lei em razão de alguma condição ou situação de certas pessoas (art. 76 do Código Civil). Direito Empresarial / UA 08 Noções de Direito Civil 13 aTenção →→ Pessoa→Natural:→é→o→ser→humano→com→vida,→sujeito→de→ direitos→e→deveres; →→ Personalidade→jurídica:→aptidão→genérica→para→titularizar→ direitos→e→contrair→obrigações,→ou→em→outras→palavras,→é→ o→atributo→necessário→para→ser→sujeito→de→direito; →→ Capacidade:→a→aptidão→para→exercer→os→atos→da→vida→civil;→ →→ Incapacidade:→é→a→restrição→legal→ao→exercício→dos→atos→ da→vida→civil→pode→ser→absoluta→e→relativa; →→ Emancipação:→voluntária,→judicial→e→legal; →→ Extinção→da→personalidade→jurídica:→morte→real,→simul- tânea,→presumida→e→civil; →→ Elementos→individualizadores→da→pessoa→natural:→nome,→ estado→e→domicílio. 2.2 PESSOA JURÍDCA 2.2.1. O que é pessoa jurídica? Diniz (2007) conceitua como “unidade de pessoas naturais ou de patrimô- nio, que visa à consecuçãode certos fins, reconhecida pela ordem jurídica como sujeito de direitos e obrigações”. E, acrescenta quanto à natureza jurídica da pessoa jurídica que “a personalidade jurídica é atributo que a ordem jurídica outorga a entes que o merecem”. Gonçalves (2009) explica que “pessoas jurídicas são entidades que a lei confere personalidade, capacitando-as s serem sujeitos de direitos e obrigações”. Acrescenta que “a sua principal característica é a de que atuam na vida jurídica com personalidade diversa da dos indivíduos que as compõem”. Neste contexto, acrescenta Gonçalves (2009) que: A personalidade jurídica é, portanto, um atributo que o Estado defere a certas entida- des havidas como merecedoras dessa benesse. O Estado não outorga esse benefício de maneira arbitrária, mas sim tendo em vista determinada situação, que já encon- tra devidamente concretizada, e desde que se observem determinados requisitos por ele estabelecidos. Pinho e Nascimento (2006) sintetizam as principais ideias da teoria da re- alidade técnica: Direito Empresarial / UA 08 Noções de Direito Civil 14 a. A pessoa jurídica é um ser de existência distinta da dos seus membros; b. A pessoa jurídica não é obra do Direito; a lei apenas reconhece sua existência, não a constitui; ela nasce no embate de interesses e necessidade do homem durante o viver social; depois o Direito a regulamenta; c. A fungibilidade dos seus componentes, isto é, a substituição dos seus membros em qualquer quebra do curso de vida da pessoa jurí- dica, demonstra também sua existência real; d. É possível uma vontade própria resultante da soma das vontades de outras pessoas e a pessoa jurídica a tem e pode ser titular de direi- tos e deveres; e. A pessoa jurídica tem patrimônio distinto do patrimônio dos seus membros; f. A pessoa jurídica age em nome próprio e não no de seus membros, assinando contratos e outros atos jurídicos por meio dos seus repre- sentantes legais. Assim, entendemos que o Brasil adota a teoria da realidade técnica, ou seja, a pessoa jurídica é dotada de personalidade jurídica em razão de a lei estabelecer, outorgar, conceder a essas pessoas a qualidade de pessoa jurídica, em razão do atendimento de determinados requisitos estabeleci- dos pelo próprio ordenamento jurídico. 2.2.2. Como se constitui a pessoa jurídica de direito privado? Gonçalves (2009) explica que a constituição de uma pessoa jurídica de direito privado deve atender a quatro requisitos: a. Vontade humana criadora é a intenção de duas ou mais pessoas de instituir uma pessoa jurídica; b. Elaboração de um ato constitutivo exterioriza-se como requisito for- mal exigido por lei para a instituição de uma pessoa jurídica. Admite- -se as seguintes formas, quais sejam, o estatuto em se tratando de associações, contrato social em se tratando de sociedades seja sim- ples ou empresária (voltaremos a abordar sobre o assunto nas Uni- dades de Aprendizagem 12 e 13) e escritura pública ou testamento em se tratando de fundação prevista no Código Civil; c. Registro do ato constitutivo no órgão competente, ou seja, o ato constitutivo deve ser levado a registro no órgão competente para que seja possível o início da pessoa jurídica de direito privado. Caso não haja registro, estamos diante da situação chamada sociedade de fato ou sociedade não personificada; Direito Empresarial / UA 08 Noções de Direito Civil 15 d. Liceidade de seu objetivo é nota indispensável na constituição da pessoa jurídica, vez que na sociedade geral, civis ou empresariais o objetivo é lucro, já nas fundações os fins são religiosos, morais, cul- turais, assistenciais ou meio ambiente e nas associações os objetivos são de fins não econômicos nas áreas cultural, desportiva, religiosa, filantrópica dentre outros. Em se tratando de pessoa jurídica de direito público é importante esclare- cer que se constituem por lei e por ato administrativo, ou ainda, por fatos históricos, previsão constitucional e de tratados internacionais e não são regidas pelo Direito Civil e sim pelo Direito Público. 2.2.3. Qual a classificação da pessoa jurídica? 1 Quanto à nacionalidade 1.1. Nacionais Organizada em conformidade com a lei brasileira e tem sua sede de administração no país – art. 1.126 a 1.133 do CC. 1.2. Estrangeiras Depende de autorização do Poder Executivo, salvo os casos previstos em lei – art. 1.134 a 1.141 do CC. 2 Quanto à estrutura interna 2.1. Corporação Formado por um conjunto de pessoas – associações e sociedade. 2.2. Fundação Formado por uma dotação de bens, destinado a determinado fim previsto em lei. 3 Quanto à capacidade 3.1. Pessoas jurídicas de direito público Externo: os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional público. Assim temos os Estados estrangeiros, MERCOSUL, OIT, ONU, dentre outros. Interno: temos a Administração direta (União, Estados, Distrito Federal e Municípios – art. 41, incisos I a III do Código Civil) e a Administração Indireta formada por órgãos descentralizados e criados por lei, com personalidade jurídica própria para o exercício de atividades de interesse público (Autarquias, Associações Públicas, Fundações Públicas e Agências Executivas e Reguladoras). 3.2. Pessoas jurídicas de direito privado Direito Civil: as fundações particulares, associações, sociedade simples, cooperativas e partidos políticos. Direito Trabalhista: Sindicatos, Federações e Confederações. Direito Empresarial: Sociedades Empresárias. Interessa-nos, neste momento, analisar as pessoas jurídicas de direito pri- vado no âmbito do Direito Civil. Assim temos: → As fundações são regulamentadas pelos artigos 62 a 69 do Código Civil. São formadas por uma dotação de bens, que recebe a personalidade jurídica para realizar atividades de interesse público, de modo estável ou permanente. O art. 62, parágrafo único do Código Civil prevê que a fundação somente poderá constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência. Hoje, os fins foram Direito Empresarial / UA 08 Noções de Direito Civil 16 ampliados a admite-se, também a constituição para fins científicos, educacionais e de promoção ao meio ambiente. A constituição pode ser por escritura pública ou por testamento e o patrimônio deve ser suficiente para atender aos fins objetivados pelo instituidor. A elaboração do estatuto pode ser pelo próprio ins- tituidor ou por terceiro a quem ele confiou tal encargo. A aprovação do Estatuto compete ao Ministério Público Estadual da localidade e depois de instituída compete ao Ministério Público velar pela fun- dação. E, finalmente, o registro do estatuto se faz no Registro Civil das Pessoas Jurídicas e a partir de então é que passa a ter existência legal, ou seja, personalidade jurídica. O art. 69 do Código Civil estabelece que se tornando ilícita, im- possível ou inútil a finalidade a visa, ou vencido o prazo de sua existência, o órgão do Ministério Público, ou qualquer interessado, lhe promoverá a extinção, incorporando-se seu patrimônio, salvo disposição em contrário do ato constitutivo, ou no estatuto, em outra fundação, designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante. → As associações são regulamentadas pelos artigos 53 a 61 do Código Civil e constituídas pela união de pessoas que se organizam para fins não econômicos e não há entre os associados direitos e obrigações recíprocos vez que seus fins são altruísticos, científicos, religiosos, culturais, políticos, beneficentes, esportivos e criativos. Diniz (2007) acrescenta que a finalidade pode ser “a) altruística (associação beneficente); b) egoística (associação literária, esporti- va ou recreativa) e c) econômica não lucrativa (associação de socor- ro mútuo)”. O art. 54 do Código Civil dispõe que o ato constitutivo da associa- ção, ou seja, o estatuto social deve conter, sob pena de nulidade: I – a denominação, os fins e a sede da associação; II – os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dosassociados; III – os direitos e deveres dos associados; IV – as fontes de recursos para sua manu- tenção; V – o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos; VI – as condições para a alteração das disposições es- tatutárias e para a dissolução; VII – a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas. Diniz (2007) complementa que: A associação é uma modalidade de agrupamentos, dotado de personalidade jurí- dica, sendo pessoa jurídica de direito privado, voltada à realização de finalidades Direito Empresarial / UA 08 Noções de Direito Civil 17 culturais, sociais, pias, religiosas, recreativas etc., cuja existência legal (...) surge com o assento de seu estatuto, em forma pública ou privada, no registro competente, desde que satisfeitos os requisitos legais, tendo ela objetivo licito e estando regularmente organizada. Há casos em que pode ser exigida para a sua constituição uma prévia autorização governamental, que será federal. Dever-se-á, então, registrar o estatuto e a autorização governamental para que a associação seja uma pessoa jurídica. Traços característicos da associação são: a Assembleia Geral é o ór- gão máximo da associação e compete privativamente destituir os administradores e alterar o estatuto e a qualidade de associado é intransferível, salvo estipulação em contrário no estatuto social e o art. 61 do Código Civil estabelece que dissolvida a associação, o re- manescente do seu patrimônio liquido, depois de deduzidas, se for o caso, as quotas ou frações ideais serão destinadas à entidade de fins não econômicos designada no estatuto, ou omisso este, por de- liberação dos associados, à instituição municipal, estadual ou federal de fins idênticos ou semelhantes. → A sociedade civil / simples constitui-se por contrato social entre pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados e a atividade pode restringir-se à realização de um ou mais negócios determinados, conforme o art. 981 do Código Civil. O ato constitutivo deve ser levado a registro no registro Civil de Pessoas Jurídicas e a partir de então é que passa a ter existência legal. Possui autonomia patrimonial e atua em nome, vez que sua existência é distinta da dos sócios. → As cooperativas são pessoas jurídicas de direito privado constituídas pela associação autônoma de pessoas, em forma de sociedade para satisfazer aspirações e necessidades econômicas, sociais e culturais comuns, por meio de um empreendimento de propriedade coletiva e democraticamente gerida ou com finalidade de estimular a poupança, aquisição e economia de seus cooperados. A Lei 5.764/71 define a política nacional de cooperativismo e institui o regime jurídico das sociedades cooperativas. É norteada pelos princípios da adesão voluntária e livre, gestão democrática pelos membros, participação econômica dos membros, autonomia e independência, intercooperação, interesse pela comu- nidade, e por fim, educação, formação e informação. → Os partidos políticos são pessoas jurídicas de direito privado con- forme enumerado no artigo 44 - V do Código Civil. Na Constituição Fe- deral – artigo 17 preceitua que é livre a criação, fusão, incorporação Direito Empresarial / UA 08 Noções de Direito Civil 18 e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos: I - caráter nacional; II - proibição de recebimento de recursos financeiros de en- tidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a estes III - pres- tação de contas à Justiça Eleitoral e IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei. São associações que visam assegurar, no interesse do regime de- mocrático, a autenticidade do sistema representativo e defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal. Adquire personalidade jurídica com o registro de seu estatuto na forma da lei civil e registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral. Neste contexto Diniz (2007) apresenta que: Os partidos políticos poderão ser livremente criados, tendo autonomia para definir sua estrutura interna, organização e funcionamento e para adotar critérios de escolha e regime de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as can- didaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária, ser-lhes-á proibido receber recursos financeiros de entidades ou governo estrangeiro, devendo prestar contas de seus atos à Justiça Eleitoral. Assim, os partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme a regulamentação de lei específica, ou seja, a Lei 9.096/95 que dispõe sobre os partidos políticos e regulamenta os artigos 17 e 14, parágrafo 3o, inci- so V da Constituição Federal de 1988 e a Lei 9.693/98 que modifica a Lei 9.096/95, para tratar de punição ao partido político mediante suspensão de cotas de fundo. PaPo Técnico Pessoa→Jurídica→é→unidade→de→pessoas→naturais→ou→de→patri- mônio,→que→visa→à→consecução→de→certos→fins,→reconhecida→ pela→ordem→jurídica→como→sujeito→de→direitos→e→obrigações→e→a→ personalidade→jurídica→é→atributo→que→a→ordem→jurídica→outor- ga→a→entes→que→o→merecem. Adoção→da→teoria→da→realidade:→a→pessoa→jurídica→é→dota- da→de→personalidade→jurídica→em→razão→de→a→lei→estabelecer,→ outorgar,→conceder→a→essas→pessoas→a→qualidade→de→pessoa→ Direito Empresarial / UA 08 Noções de Direito Civil 19 jurídica,→em→razão→do→atendimento→de→determinados→requisi- tos→estabelecidos→pelo→próprio→ordenamento→jurídico. Requisitos→para→constituição→da→pessoa→jurídica:→vontade→ humana→criadora;→elaboração→de→um→ato→constitutivo;→regis- tro→do→ato→constitutivo→no→órgão→competente;→liceidade→de→ seu→objetivo.→ Pessoas→jurídicas→de→direito→privado→as→fundações→particu- lares,→associações,→sociedade→simples,→cooperativas→e→parti- dos→políticos. tÓpiCO 3 - negÓCiO jUrÍdiCO 3.1. O QUE é NEGÓCIO JURÍDICO? Diniz (2007) conceitua o negócio jurídico como “ato de autonomia privada, com o qual o particular regula por si só os próprios interesses. Por outras palavras, é o ato regulamentador dos interesses privados”. Explica a auto- ra que não basta a mera manifestação de vontade, é preciso, ainda, que o interesse do particular esteja de acordo com o ordenamento jurídico, ou seja, as normas legais. Gonçalves (2009) sintetiza explicando que o negócio jurídico é o meio de realização da autonomia da vontade e o contrato é o seu símbolo. Acres- centa que “o princípio da sociabilidade, acolhido pelo Código Civil, reflete a prevalência dos valores coletivos sobre os individuais. E o da eticidade prio- riza além de outros critérios éticos, a equidade e a boa-fé nos contratos”. 3.2. QUAIS SãO OS PLANOS DO NEGÓCIO JURÍDICO? Gagliano e Pamplona Filho (2007) ensinam que para aprender sistema- ticamente o negócio jurídico é preciso analisar três planos, quais sejam, o plano da existência, validade e eficácia. Assim, a existência refere-se ao atendimento de certos requisitos mínimos (manifestação de vontade, agente emissor da vontade, o objeto e a forma); a validade refere-se a ap- tidão legal para produzir efeitos (manifestação da vontade livre e de boa fé, agente emissor da vontade capaz e legitimado para o negócio, objeto lícito, possível e determinado ou determinável, forma adequada – livre ou legalmente prevista em lei) e a eficácia refere-se aos elementos acidentais da declaração (modo, encargo, condição ou termo). 3.3. QUAL A fINALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO? A finalidade do negócio jurídico pode ser de aquisição de direitos, conser- vação de direitos, modificação de direitos e extinção de direitos. Direito Empresarial / UA 08 Noções de Direito Civil 20 → A aquisição de direitos se dá quando o particular tem o objetivo de incorporardireitos ao seu patrimônio ou à sua personalidade. Te- mos como exemplo um contrato de compra e venda; → A conservação de direitos ocorre quando o particular tem por fina- lidade conservar ou resguardar seus direitos através de medidas preventivas ou repressivas que podem ser tanto de forma judicial ou extrajudicial. Temos como exemplo os atos de conservação, atos de defesa do direito lesado atos de defesa preventiva ou autotutela; → A modificação de direitos se dá quando altera a situação anterior em relação aos titulares de direitos ou em relação ao seu conteúdo; Temos como exemplo quando o credor de uma dívida em dinheiro aceita receber um determinado bem como forma de pagamento; → A extinção de direitos ocorre quando desaparece o direito do parti- cular, não podendo mais ser exercido por ele mesmo ou qualquer outra pessoa. Temos como exemplo a prescrição e a decadência. 3.4. QUAL A CLASSIfICAçãO DO NEGÓCIO JURÍDICO? Diniz (2007), Gonçalves (2009) e Gagliano e Pamplona Filho (2007) classifi- cam o negócio jurídico em: 1. Quanto às vantagens que produz: a. Gratuitos: quando as partes obtêm benefícios, vantagens ou enri- quecimento patrimonial em que só uma das partes aufere vanta- gens ou benefícios, ou seja, não há contraprestação, temos como exemplo a doação pura, comodato, reconhecimento de filho; b. Onerosos: quando as partes visam reciprocamente vantagens para si ou para outrem, ou seja, corresponde um sacrifício ou contraprestação, temos como exemplo na modalidade de comu- tativo a compra e venda e locação, já na modalidade aleatório o contrato de seguro; c. Bifrontes: são aqueles que podem, conforme a vontade das par- tes, ser gratuitos e onerosos, temos como exemplo o mandato e mútuo; d. Neutros: não se incluem como gratuitos ou onerosos por faltar atri- buição patrimonial, temos como exemplo a doação remuneratória e o bem indisponível em razão da cláusula de inalienabilidade. 2. Quanto à formalidade: a. Solenes: quando a lei prescreve uma forma especial para se aperfeiçoarem, temos como exemplo o testamento, a renúncia de herança; Direito Empresarial / UA 08 Noções de Direito Civil 21 b. Não-solenes: quando a lei não exige uma forma especial, basta o consentimento para a sua formação, temos como exemplo compra e venda de bem móvel (computador, bicicleta), loca- ção, comodato. 3. Quanto ao conteúdo: a. Patrimonial: quando for suscetível de aferição econômica; b. Extrapatrimonial: quando recair em direitos personalíssimos e ao direito de família. 4. Quando à manifestação de vontade: a. Unilaterais: quando a vontade provier de um ou mais sujeitos, desde que estejam na mesma posição com um único objetivo, ou seja, aperfeiçoam-se com uma única manifestação de vontade, temos como exemplo a promessa de recompensa, renúncia de direitos, confissão de dívida; b. Bilaterais: quando a vontade emana de duas ou mais pessoas, po- rém dirigidas em sentido contrário, há um consentimento mútuo ou acordo de vontade, temos como exemplo contrato de compra e venda, locação, comodato. 5. Quanto ao tempo em que produzem seus efeitos: a. Inter vivos: quando acarreta consequências em vida, ou seja, as partes envolvidas estão vivas, temos como exemplo o mandato, a troca, o casamento; b. Mortis causa: quando se regulam relações de direito após a morte do sujeito, ou seja, produzem efeitos após a morte, temos como exemplo o testamento. 6. Quanto aos efeitos: a. Constitutivos: quando a eficácia se der a partir do momento da conclusão, temos como exemplo a compra e venda; b. Declarativos: quando a eficácia se der no momento em que se operou o fato a que se vincula a declaração de vontade, temos como exemplo o reconhecimento de filho. 7. Quanto à existência: a. Principais: quando existem por si mesmo e não dependem da existência de qualquer outro, temos como exemplo a locação, a compra e venda; Direito Empresarial / UA 08 Noções de Direito Civil 22 b. Acessórios: quando a sua existência subordinar-se à de um negócio jurídico principal, temos como exemplo a fiança, pe- nhor, hipoteca. 8. Quanto ao exercício de direito: a. Negócios de disposição: quando implicam o exercício de amplos direitos sobre o objeto, temos como exemplo a doação; b. Negócios de simples administração: quando implicarem exercício restrito sobre o objeto, sem que haja alteração de sua substância, temos como exemplo a locação. aTenção →→ Negócio→Jurídico:→é→o→ato→regulamentador→dos→interes- ses→privados. →→ Três→planos→do→negócio→jurídico:→plano→da→existência,→ validade→e→eficácia. →→ Finalidade:→de→aquisição→de→direitos,→conservação→de→ direitos,→modificação→de→direitos→e→extinção→de→direitos. antena pArAbóliCA O princípio da eticidade1 O princípio da eticidade foi adotado pelo novo Código Civil de 2002 e se concretiza no abandono da formali- dade e tecnicismo exacerbados, sem a preocupação da perfeita subsunção entre fatos e normas. O sistema de cláusulas gerais dá mais liberdade ao intérprete, o qual deverá se nortear pela moralidade, ética, bons costumes e boa fé objetiva, no entender do articulista Luiz Roberto Hijo Sampietro. Miguel Reale assevera que a eticidade é o espírito do novo Código Civil se configurando no conjunto de ideias fundamentais em torno das quais as normas se entrela- çam, se ordenam e se sistematizam. A eticidade, à luz do Código Civil de 2002, objetiva im- primir eficácia e efetividade aos princípios constitucio- nais da valorização da dignidade humana, da cidadania, da personalidade, da confiança, da probidade, da lealda- de, da boa-fé, da honestidade nas relações jurídicas de direito privado, conferindo-lhes respeito e dando mais segurança às relações contratuais. O atual Código Civil contém em vários de seus dispo- sitivos, explicitamente, expressões de eticidade, como exemplificando, a boa-fé, considerada a sua matriz, sen- do uma das condições essenciais da atividade ética, inse- rida aí a jurídica e a probidade, o que já é uma realidade nas relações que envolvem o direito público, agora, atin- gindo as relações jurídicas privadas. Esse princípio da eticidade é uma constante nas ações da administração pública exigindo do administrador ao planejar as suas políticas públicas um tratamento isonô- mico a seus concidadãos. Em que se diferencia a eticidade da moralidade? Na eticidade a subjetividade do agir é posta em segundo plano, porque trata das determinações objetivas, no entender de HEGEL, da mediação social da liberdade, transcende ao nível das opiniões subjetivas e caprichos 1. CHAGAS,→M.→A.→ O princípio da eticidade.→Disponível→ em:→<http://www. netlegis.com.br/ indexRC.jsp?arquivo= detalhesArtigosPublic ados.jsp&cod2=1653>→ [2012].→Acesso→ em:→jun.→2012. pessoais enquanto que na moralidade o sujeito é avalia- do a partir dos aspectos subjetivos que determinam a sua ação, levando em consideração a sua carga pessoal de valores. Portanto a aplicação do conceito de eticidade na avaliação da conduta estatal proporciona parâmetros objetivos dessa averiguação, sendo, por conseguinte, re- levante nas hipóteses de controle das ações do Estado, pois se apoia na imparcialidade e na isenção. Na eticidade há uma coincidência entre deveres e di- reito. “Por meio do ético, o homem tem direitos, na me- dida em que tem deveres, e deveres, na medida em que tem direitos” (HEGEL). E a observância e o cultivo desses direitos e deveres estão estampados na responsabilidade que haverá de respaldar as relações entre os cidadãos e entre eles e o Estado de Direito. Identifique segundo o autor a importância do princípio da eticidade no Código Civil. e AgorA, José? Estudamos as noções de Direito Civil, então, fazendo um resumo dos principais pontos abordados nesta unidade, é importante mencionar: a. O Direito civil é ramo do direito privado que es- tabelece normas para regular a vida das pessoas enquanto tais na sociedade, nas questões referen- tes à família, patrimônio e obrigações. E norteado pelos princípios:da personalidade, da autonomia da vontade, da liberdade de estipulação, da pro- priedade individual, da intangibilidade familiar, da legitimidade de herança e do direito de testar e da solidariedade social. A lei n. 10.406/2002, também conhecida como Código Civil estabelece as regras pertinentes ao direito civil e tem como princípios o da eticidade, sociabilidade e operabilidade; b. A Pessoa Natural é todo sujeito de direitos e obriga- ções, dotado de personalidade jurídica. A capacida- de, ou seja, a aptidão para exercer os atos da vida civil é a regra e a incapacidade é a exceção. Temos assim os absolutamente incapazes e relativamente incapazes. A maioridade civil se dá aos 18 anos e pode ser antecipada pela emancipação voluntária, legal ou judiciária. O nome, domicílio e o estado são os elementos individualizadores da pessoa natural. A personalidade da pessoa natural extingue-se com a morte real, simultânea, presumida ou civil; c. A Pessoa jurídica é a unidade de pessoas naturais ou de patrimônio que tem por objetivo a realiza- ção de determinados fins. O Brasil adota a teoria da realidade técnica, ou seja, a pessoa jurídica é dotada de personalidade jurídica em razão de a lei estabelecer, outorgar ou conceder a qualidade de pessoa jurídica, desde que preencha determinados requisitos. Temos, assim, a pessoa jurídica de direi- to público externa e interna e a pessoa jurídica de direito privado no âmbito do direito civil, empresa- rial e trabalhista. No âmbito do direito civil temos as fundações, associações, sociedade civil, coope- rativas e partidos políticos; d. O negócio jurídico é o ato de autonomia privada, com o qual o particular regula por si só os próprios interesses. A finalidade do negócio jurídico pode ser de aquisição de direitos, conservação de direi- tos, modificação de direitos e extinção de direitos. Para um melhor aproveitamento da próxima unidade é importante que reveja os conceitos aqui apresen- tados. Esclareça as possíveis dúvidas com a tutoria. Realize as atividades propostas de autoavaliação e as atividades compartilhadas. Direito Empresarial / UA 08 Noções de Direito Civil 26 glossário Brasileiro nato:→Aquele→que→é→brasileiro→pelo→fato→ natural→do→nascimento→no→Brasil.→Artigo→12→–→I→ da→Constituição→Federal:→a)→os→nascidos→na→Re- pública→Federativa→do→Brasil,→ainda→que→de→pais→ estrangeiros,→desde→que→estes→não→estejam→ a→serviço→de→seu→país;→b)→os→nascidos→no→es- trangeiro,→de→pai→brasileiro→ou→mãe→brasileira,→ desde→que→qualquer→deles→esteja→a→serviço→da→ República→Federativa→do→Brasil;→→c)→os→nascidos→ no→estrangeiro→de→pai→brasileiro→ou→de→mãe→ brasileira,→desde→que→sejam→registrados→em→ repartição→brasileira→competente→ou→venham→ a→residir→na→República→Federativa→do→Brasil→e→ optem,→em→qualquer→tempo,→depois→de→atingi- da→a→maioridade,→pela→nacionalidade→brasileira. Brasileiro naturalizado:→ conforme→artigo→12→ –→ II→da→Constituição→Federal:→a)→os→que,→na→ forma→da→lei,→adquiram→a→nacionalidade→bra- sileira,→exigidas→aos→originários→de→países→de→ língua→portuguesa→apenas→residência→por→um→ ano→ininterrupto→e→idoneidade→moral;→b)→os→ estrangeiros→de→qualquer→nacionalidade,→re- sidentes→na→República→Federativa→do→Brasil→ há→mais→de→quinze→anos→ininterruptos→e→sem→ condenação→penal,→desde→que→requeiram→a→ nacionalidade→brasileira. Representação:→no→sentido→jurídico→é→a→pessoa→ que→vem→participar→da→prática→de→certo→ato→ jurídico→a→ser→praticado→por→pessoa→absoluta- mente→incapaz→(Representante→legal). Tutor:→representante→do→menor→incapaz. Curador:→representante→do→maior→incapaz. reFerênCiAs CÓDIGO→CIVIL.→�Lei n.10.406→de→10→de→janeiro→de→ 2002. �Constituição Federal de 1988. DINIZ,→M.→H.→�Curso de direito civil brasileiro: teoria geral do direito civil.→→Vol.→1.→33.→Ed.→ São→Paulo:→Saraiva,→2016. FARIAS,→C.→C.;→ROSENVALD,→N.→�Direito civil: teo- ria geral.→Rio→de→Janeiro:→Lumen→Juris,→2010. GAGLIANO,→P.→S.;→PAMPLONA,→F.→�Novo curso de direito civil: parte geral.→Vol.1.→18.→Ed.→São→ Paulo:→Saraiva,→2016. GONÇALVES,→C.→R.→�Direito civil brasileiro.→Parte→ Geral.→Vol.→1.→14.→Ed.→São→Paulo:→Saraiva,→2016. PINHO,→R.→R.;→NASCIMENTO,→A.→M.→�Instituições de direito público e privado.→24.→Ed.→São→ Paulo:→Atlas,→2006.
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