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Geovana Sanches - TXXIV Epidemiologia Professora Maria Eliza Manso INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA Etimologicamente, pode-se dividir a palavra epidemiologia em: EPI= sobre DEMOS= povo LOGOS= estudo Definindo-se, portanto, epidemiologia como a ciência do que ocorre sobre o povo, ou seja, o estudo sobre o povo. Medindo saúde e doença Segundo a lei 8080- Lei orgânica da saúde, “Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença”. No conceito ampliado de saúde, temos que ela é resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse de terras e acesso a serviços de saúde. A partir desse conceito é possível gerar dados quantificáveis para avaliar a saúde da população. Medir saúde e doença é fundamental para a prática da epidemiologia. Diversas medidas são utilizadas para caracterizar a saúde das populações. Situação de saúde São necessários dados, os quais vão gerar informações. Os dados de importância para a análise da situação de saúde são inúmeros e de fontes diversas. Eles nos permitem saber, por exemplo, as causas da doença e como ela se manifesta na população (faixa etária, massa corporal etc.). • Dados sobre a população: número de habitantes, idade, sexo, raça. • Dados socioeconômicos: renda, ocupação, classe social, tipo de trabalho, condições de moradia e alimentação. • Dados ambientais: poluição, abastecimento de água, tratamento de esgoto, coleta e disposição de lixo. • Dados de serviço de saúde: hospitais, ambulatórios, unidades de saúde, acesso aos serviços. • Dados de morbidade: doenças que ocorrem na comunidade. • Eventos vitais: óbitos, nascimentos vivos e mortos, principalmente. Analisar a situação de saúde tem sido uma das competências da epidemiologia, a fim de contribuir para a definição de políticas públicas. Ao medir o estado de saúde das populações, realiza-se o diagnóstico, que permite pensar as intervenções a serem realizadas e avaliar seu impacto. A epidemiologia não faz um diagnóstico individual, mas sim diagnóstico sanitário. Diagnóstico Individual Diagnóstico sanitário Examina o indivíduo Identifica os níveis de saúde-doença da população Formula hipóteses de diagnóstico Formula hipóteses de causalidade Aplica exames complementares Aplica métodos de verificação Conclui diagnóstico Elabora diagnóstico de situação Instaura tratamento Implementa ações e programas de saúde Faz avaliação clínica Faz avaliação do impacto das ações nos níveis de saúde-doença da população A partir disso, podem-se instituir políticas públicas, sendo que o objetivo do diagnóstico sanitário é, portanto, melhorar o nível de saúde da comunidade. Indicadores Os indicadores são “medidas contadas ou calculadas e observações classificáveis, capazes de revelar uma situação que não é aparente por si só”. Eles podem ser expressos em: • Frequência absoluta- diz respeito a um número de vezes que o elemento aparece na amostra ou o número de elementos pertencentes a uma classe. Não levam em conta o tamanho da população. • Frequência relativa- é a porcentagem do valor dos dados em relação ao total da amostra Números absolutos não são utilizados para avaliar o nível de saúde, pois não levam em conta o tamanho da população. Desta forma, os indicadores de saúde são construídos por meio de razões (frequência relativa), em forma de proporções ou coeficientes. Medir a saúde real da população é bastante difícil, por isso a forma de medir/ verificar mais utilizada está relacionada aos dados de morte e doença. A obtenção de dados pode ser por intermédio de estatísticas ambulatoriais ou hospitalares, assim como por inquéritos. Morbidade Incidência é a ocorrência de um caso novo de uma doença ou agravo em uma população qualquer e em um dado período. Prevalência representa o número de casos presentes (novos + antigos) em uma determinada comunidade num período de tempo especificado. Letalidade representa a proporção de óbitos entre os casos da doença, sendo um indicativo da gravidade da doença ou agravo na população. É, portanto, a capacidade de uma determinada doença de causar óbito. Geovana Sanches - TXXIV Mortalidade Os indicadores de mortalidade podem ser definidos com a razão entre frequências absolutas de óbitos e número de sujeitos expostos ao risco de morrer. • Coeficiente Geral de Mortalidade (CGM) ou Taxa de Mortalidade Geral (TMG): representa o risco de óbito na comunidade em um intervalo definido de tempo. Mede o risco de morte para o total da população, independente de sexo, idade ou causa. o Razão entre o número de óbitos e o número total da população • Coeficiente de Mortalidade por Causas Específicas (CME): representa o risco de óbito por determinada causa na comunidade. Esse indicador pode ser refinado, dividindo-se as mortes em doenças crônicas, infecciosas, suicídios, acidentes automotores, etc. • Coeficiente de Mortalidade Infantil (CMI): é uma estimativa do risco que as crianças nascidas vivas têm de morrer antes de completar 1 ano. • Coeficiente de Mortalidade Materna: representa o risco de óbitos por causas ligadas à gestação, ao parto ou ao puerpério, ou seja, desde a gestação até 42 dias após o parto. PROBLEMA EPIDEMIOLÓGICO Em epidemiologia, o problema tem origem quando doenças acometem grupos humanos. Há necessidade de remover fatores ambientais contrários à saúde ou criar condições que a promovam. Os problemas epidemiológicos como um todo nunca acometem apenas o individual. Os dados são provenientes de: questionários de saúde e pesquisas populacionais, consultas médicas, exames médicos periódicos (empresas), bancos de dados de saúde (operadoras de planos de saúde – SIP), informações populacionais (SIAB, Vigitel, etc.) e hospitalares (mortalidade, morbidade). Os dados devem ser confiáveis para a análise. Caso eles não sejam completos ou não expressem a realidade, serão geradas informações equivocadas, comprometendo a qualidade. Registro de dados: • Forma contúnua: óbitos, nascimentos, doenças de notificação obrigatória • Forma periódica: recenseamento da população • Forma ocasional: pesquisas realizadas com fins específicos, como por exemplo conhecer a prevalência da hipertensão arterial em uma comunidade, em determinado momento. Obs.: O indicador com pior notificação é o de mortalidade materna. Estima-se que ele esteja muito acima dos números notificados. Dado Informação É um número É a análise desse número, a explicação. O alvo do estudo epidemiológico é uma população humana que pode ser definida em termos geográficos ou outro qualquer (exemplo: um grupo específico de pacientes hospitalizados ou de trabalhadores de uma indústria). Em geral a população utilizada em um estudo epidemiológico é aquela localizada em uma determinada área do país em um certo momento do tempo. Fenômeno da “Ponta do Iceberg” Refere-se a uma característica dos dados epidemiológicos, tanto de morbidade quanto mortalidade. As notificações representam apenas uma parte da população, a que morre ou a que chega ao serviço de saúde e tem seu diagnóstico feito e registrado corretamente. Dessa forma, na ponta do iceberg, encontram- se os casos conhecidos, enquanto submerso estão os casos assintomáticos, casos sintomáticos que não chegam a serviços de saúde e casos que chegam ao serviço de saúde, mas não são diagnosticados e/ou informados. Medindo a falta de saúde Medir saúde é uma tarefa difícil. Assim, para avaliá-lo, utilizando os dados negativos, ou seja, de não-saúde: morte, doenças e agravos. Um importante fator a considerar no cálculo das medidas de ocorrência de doenças é o total de pessoas expostas, ou seja, indivíduos que podem vir até a doença. Exemplo: carcinoma de colo uterino- a população de risco incluidivisão de sexo biológico (acomete apenas mulheres), idade (entre 25 e 69 anos) e vida sexual ativa ou não. A população de risco refere-se as pessoas suscetíveis a determinadas doenças. Essa população pode ser estudada conforme fatores demográficos, geográficos e ambientais. Exemplo: acidentes de trabalho só ocorrem com pessoas que estão trabalhando, de modo que a população de risco para esses acidentes consiste nos trabalhadores. Geovana Sanches - TXXIV • P- Base populacional do risco • E- Subconjunto de exposição • I- Subconjunto dos infectados • D- Subconjunto de doença • G- Subconjunto de casos graves • O- Subconjunto de óbitos Contagem: é número de vezes que ocorre um evento no estudo, em um determinado tempo e lugar. Importante para o planejamento das ações, por exemplo: em uma UBS há 250 pacientes com tuberculose, quantos medicamentos são necessários para atendê-los? ; é importante na vigilância de eventos raros e doenças emergentes, nos quais geralmente são utilizados números absolutos. Razão: é um valor dividido por outro, sendo que um não está incluído no outro. Exemplos: - Razão de Masculinidade: homens/mulheres (muito utilizado para HIV/AIDS); razão de feminilidade se daria pela divisão de mulheres/ homens, mas não é muito utilizada. • Cálculo de razão de masculinidade • Para investir na prevenção, seria escolhido uma faixa etária, de um sexo, de acordo com um indicativo. No caso, seria na faixa etária de 40 a 50 anos - homens. - Razão de leitos: número de leitos hospitalares / população total - Razão de óbitos maternos: número de óbitos maternos / total de nascidos vivos. Proporção: é uma probabilidade. Tipo de razão na qual o numerador está incluído no denominador (é um subconjunto). Exemplo: em uma cidade, 10% da população tem hipertensão - a probabilidade de um morador dessa cidade ter hipertensão é 10% (estimativa de probabilidade). Odds: probabilidade em que o numerador é o evento de interesse e o denominador é o não-evento. O numerador e o denominador são complementares. Taxa ou coeficiente: é a medida de um determinando evento relacionado ao que isto representaria considerando-se toda a população exposta. Calcula-se pelo número de doentes / total de expostos x 10ˆk. Números absolutos, razões e proporções geralmente descrevem uma situação estática. Enquanto as taxas são medidas usadas para avaliar dinamicamente os fenômenos da população, permitindo a comparação entre diferentes locais. INDICADORES EPIDEMIOLÓGICOS Mortalidade A taxa de mortalidade é usada principalmente para a comparação entre países. Trabalha-se com os subconjuntos óbito e população de risco. TMG (taxa de mortalidade geral): representa os óbitos por qualquer causa em uma dada população, em intervalo definido de tempo. Os dados são retirados dos atestados de óbito. Os principais usos do TMG são na descrição de condições de saúde, investigações epidemiológicas e avaliação de intervenções sanitárias. Quanto as limitações temos que a qualidade dos dados não é igual para todas as regiões de um país e em para os diferentes países - depende da organização dos serviços de saúde para notificar as mortes e da qualidade do preenchimento da certidão de óbito. Além disso, em comparações internacionais, há acentuadas diferenças na estrutura etária das populações estudadas. TMA (taxa de mortalidade ajustada ou padronizada): anula os efeitos de composição etária e em relação ao número de pessoas, sendo, portanto, melhor para fins de comparação. É feita em relação a 100.000 habitantes (padronizada pela OMS). TME (taxa de mortalidade por causas específicas): permite identificar as causas que mais levam à morte nas diferentes faixas etárias, para sexos distintos. Possibilita a diferenciação entre as regiões do país e é de extrema importância para o planejamento das ações se saúde. TME= número de óbitos pela causa específica, em determinado local e período x 100.000 / população total do mesmo local e período Limitações para TME ● O registro de causas de morte, embora venha melhorando não é fidedigno na maioria dos municípios brasileiros. ● Nos casos em que a doença transcorreu sem acompanhando e o óbito ocorreu sem assistência médica , duas testemunhas atentam o óbito como morte natural. Isso ocorre principalmente em distritos afastados e a informação é registrado como causa “desconhecida”. Geovana Sanches - TXXIV ● Havendo acompanhamento clínico na fase final da doença, os motivos de mau preenchimento do atestado de óbito são: ○ Erro de diagnóstico por insuficiência de recursos médicos , por deficiência pessoal ou pelo que se chama “indiagnosticável atual”. ○ Desconhecimento do modo de preencher atestado de óbito. ○ Atenção dada ao preconceito familiar quanto a doenças e condições estigmatizastes (sífilis, alcoolismo, suicídio) ● Divergência de nomenclatura utilizada para a causa da morte ● Divergência em relação à classificação Internacional de Doenças e Causas Morte. MORTALIDADE INFANTIL É uma estimativa do risco que às crianças nascidas vivas tem de morrer antes de completar um ano de idade. É considerado um indicador sensível das condições de vida e saúde de uma comunidade. Pode ser calculado por regra de 3 ou através de uma razão: CMI= óbitos de menores de 1 ano em determinada comunidade e ano x 1000 / nascidos vivos na mesma comunidade e ano. O numerador (óbitos de menores de um ano) e o denominador (nascidos vivos) podem apresentar problemas de classificação. Para evitar esses problemas, as definições da OMS devem ser seguidas: • Nascido vivo: Expulsão ou extração completa do corpo da mãe, independentemente da duração da gravidez, de um produto de concepção que, depois da separação, respire ou apresente qualquer outro sinal de vida, tal como batimentos do coração, pulsações do cordão umbilical ou movimentos efetivos dos músculos de contração voluntária, estando ou não cortado o cordão umbilical e estando ou não desprendida a placenta. • Óbito fetal: É a morte do produto conceptual, antes da expulsão ou da extração completa do corpo da mãe, independente da duração da gravidez. Indica óbito se o feto, depois da separação, não respirar nem apresentar nenhum outro sinal de vida, como batimentos do coração, pulsações do cordão umbilical ou movimentos efetivos dos músculos de contração voluntária. • Óbito infantil: É a criança que, nascida viva, morreu em qualquer momento antes de completar um ano de idade. Uma criança que nasceu viva, nem que tenha apresentado apenas batimentos de cordão umbilical, e morrido em seguida, deve ser considerada como óbito de menor de 1 ano (óbito infantil) e entrar no cálculo do coeficiente de mortalidade infantil (CMI). A todo bebê que nasce, há uma Declaração de Nascido Vivo (DN); no caso de o bebê apresentar um batimento de cordão e depois morrer, é necessário realizar um Declaração de óbito (DO). Tais registros devem ser registrados em cartório de registro civil. O erro nos registros é um viés no cálculo do coeficiente de mortalidade infantil e neonatal. Exemplo: caso uma criança seja classificada como óbito fetal erroneamente, o numerador perde um caso de óbito infantil e o denominador, um nascido vivo -> Redução artificial ou enganosa. O coeficiente de mortalidade infantil pode ser dividido em: ● Coeficiente de mortalidade neonatal: óbitos de 0 a 27 dias inclusive, em relação ao total de nascidos vivos (por 1000) - doenças congênitas não obrigatoriamente hereditárias. ○ Mortalidade Neonatal Precoce: 0 a 6 dias - malformação ○ Mortalidade Neonatal Tardia: 7 a 27 dias ● Coeficiente de mortalidade pós-neonatal ou infantil tardia: óbitos de 28 dias a 364 dias inclusive, em relação ao total de nascidos vivos (por 1000). Essa divisão, relacionada à idade da criança quando morreu, deve-se à observação de que no período neonatalpredominam as causas ligadas a problemas da gestação e do parto (causas perinatais e anomalias congênitas), e de que, no período pós- neonatal, prevalecem as causas de morte relacionadas ao meio ambiente e às condições de vida e de acesso aos serviços de saúde (doenças infecciosas, pneumonias, diarreia, por exemplo). Mortalidade infantil de 1990 a 2015 A TMI apresentou tendência decrescente e desacelerando no final da série, sendo que a maior redução da taxa de Mortalidade na Infância pode ser observada no período neonatal e neonatal precoce. As taxas de mortalidade do período neonatal tardio e de 1 a 4 anos também diminuíram, levando à Geovana Sanches - TXXIV redução da taxa de mortalidade em menores de 5 anos no Brasil e em todas as regiões. O Brasil alcançou a meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), cumprindo a trajetória de redução de dois terços da Taxa de Mortalidade Infantil e na Infância. Política Nacional de Atenção à Saúde da Criança O objetivo dessa política é promover e proteger a saúde da criança e o aleitamento materno, mediante a atenção e cuidados integrais e integrados, da gestação aos 9 anos de vida, com especial atenção à primeira infância e às populações de maior vulnerabilidade, visando à redução da morbimortalidade e um ambiente facilitador à vida com condições dignas de existência e pleno desenvolvimento. Vale lembrar que a saúde da criança tem início na gestação. MORTALIDADE MATERNA É um indicador da qualidade de assistência à gestação e ao parto numa comunidade. Morte materna, segundo a 10ª Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10), é a "morte de uma mulher durante a gestação ou até 42 dias após o término da gestação, independente da duração ou da localização da gravidez, devida a qualquer causa relacionada com ou agravada pela gravidez ou por medidas em relação a ela, porém não devida a causas acidentais ou incidentais". Coeficiente de mortalidade materna CMM= número de óbitos de mulheres residentes, relacionados a gravidez, parto e puerpério x 100.000 / número de nascidos vivos de mães residentes As definições da OMS (1994) são fundamentais para o cálculo correto deste indicador: a) Morte obstétrica direta: resultante de complicações obstétricas devido a intervenções, omissões, tratamento incorreto, etc. (aborto, infecção puerperal) b) Morte obstétrica indireta: resulta de doenças existentes antes da gravidez, ou desenvolvidas durante a gravidez, não devidas a causas obstétricas diretas, mas agravadas pelos efeitos fisiológicos da gravidez (diabetes mellitus, insuficiência cardíaca, etc.) No cálculo do coeficiente de mortalidade materna entram todos os casos de óbitos maternos, tanto por causas obstétricas diretas, como indiretas, que ocorreram em até 42 dias após o término da gestação. Apesar de não entrarem no cálculo para fins de comparação, é importante o serviço de saúde registrar, ainda, as mortes por causas obstétricas (diretas ou indiretas) que ocorreram após 42 dias do término da gestação, bem como as mortes relacionadas com a gravidez, sendo assim definidas (OMS, 1994): • Morte materna tardia: é a morte de uma mulher por causas obstétricas diretas ou indiretas mais de 42 dias, mas menos de um ano após o término da gravidez. • Morte relacionada com a gravidez: é a morte de uma mulher enquanto grávida ou até 42 dias após o término da gravidez, qualquer que tenha sido a causa de morte. Principais causas de morte materna As mulheres morrem como resultado de complicações que ocorrem durante ou depois da gestação e do parto. A maioria dessas complicações se desenvolve durante a gravidez e a maior parte delas pode ser evitada e tratada. Outros problemas de saúde podem acontecer antes da gestação, mas são agravados durante a mesma, especialmente se não forem tratados como parte do cuidado da mulher. As principais complicações, que representam quase 75% de todas as mortes maternas, são: • Hipertensão (pré-eclâmpsia e eclampsia); • Hemorragias graves (principalmente após o parto); • Infecções (normalmente depois do parto); • Complicações no parto; • Abortos inseguros. Para reduzir a morte materna, o Ministério da Saúde tem implementado políticas para fortalecer a humanização do atendimento das gestantes, a melhoria da atenção pré-natal, nascimento e pós- parto, assim como instituindo medidas de orientação e qualificação dos profissionais de saúde, tanto no âmbito da atenção básica como naquele de urgência e emergência. Associadamente, o fortalecimento das ações da Comissão Nacional de Mortalidade Materna e dos Comitês Estaduais e Municipais de Investigação do Óbito Materno é outra importante estratégia em curso: • Pré-natal deve começar o mais cedo possível • Rede Cegonha acompanha a saúde da mulher • Redução da taxa de cesárea no Brasil • Cursos qualificam o atendimento MORTALIDADE ENTRE ADULTOS A taxa de mortalidade entre adultos é definida como a probabilidade de morrer entre as idades de 15 e 59 anos para cada 1000 pessoas. Essa taxa permite avaliar diferenças no nível de saúde entre países analisando-se a faixa etária de maior atividade econômica ou população economicamente ativa (PEA), compreendidas as faixas etárias entre 15 e 59 anos de idade. Geovana Sanches - TXXIV No Japão, por exemplo, menos de 1 em cada 10 homens e 1 em cada 20 mulheres morrem nesse grupo etário, comparado com 2 em cada 3 homens e 1 em cada 2 mulheres em Angola. No Brasil, também predominam os óbitos masculinos, sendo a grande maioria destes causados por causas externas como acidentes e violência, (homicídios e lesões corporais graves, além dos acidentes por veículo a motor). Este incremento mundial de óbitos masculinos entre a PEA leva a um fenômeno demográfico conhecido como feminização da velhice, em que, nas faixas etárias acima de 60 anos, passam a predominar numericamente as mulheres. No Brasil, 55% da população acima de 60 anos é composta por pessoas do sexo feminino. Razão de Mortalidade Proporcional acima de 50 anos • Indicador de Swaroop Uemura Também é utilizado como indicador de nível de vida de uma população, pois, conforme aumenta a qualidade de vida de uma população, maior será o número de idosos encontrados nesta, refletindo melhora das condições econômicas, ambientais e políticas. Indica a porcentagem de pessoas que morreram com 50 anos ou mais em relação ao total de óbitos. É fácil de calcular e possibilita a comparação nacional e internacional É interpretado segundo quatro níveis que relacionam os óbitos acima de 50 anos com as condições socioeconômicas do país: • 1° grupo: índice igual ou superior a 75% (países desenvolvidos) • 2° grupo: variando de 50 a 75% (países com desenvolvimento regular) • 3° grupo: variando de 25 a 49% (países com baixo desenvolvimento socioeconômico e de serviços de saúde) • 4° grupo: valores inferiores a 25% (muito baixo desenvolvimento socioeconômico e de serviços de saúde) Utilizado mundialmente por suas vantagens: 1) simplicidade de cálculo 2) facilidade de obtenção de dados 3) possibilidade de comparação nacional e internacional 4- dispensa de dados de base populacional. Há críticas, tendo em vista que, conforme a população se torna mais idosa, o indicador não mais discrimina como antes o índice de desenvolvimento ente os diferentes países. Atualmente, face ao aumento da expectativa de vida em muitos países, alguns autores têm usado o limite de 60 anos e mais de idade para o cálculo da proporção de idosos entre os óbitos, como apresentando pela RIPSA (Rede Interagencial de Informações para a Saúde) em seu IDB98 (Indicadores de dados básicos para a saúde). A razão de mortalidade proporcional pode ainda ser calculada para outras faixas etárias: utiliza-se como numerador o número de óbitos ocorridos em uma determinada faixa etária e como denominador,o total de óbitos que aconteceram em uma dada população, em um período definido de tempo. Por exemplo, Razão de Mortalidade Infantil Proporcionalos: • Óbitos de crianças menores de 1 ano são relacionadas ao total de óbitos de todas as idades. • Também reflete as condições socioeconômicas dos países: quanto mais crianças morrem nas idades iniciais da vida, menos a população viverá, sendo que as mortes infantis são, em sua grande maioria, evitáveis e relacionadas às condições sociais como visto no Indicador Mortalidade Infantil. As mortalidades proporcionais por faixas etárias são utilizadas em várias situações na saúde pública, porém vem sendo destacadas, principalmente, ao tratarmos de óbitos entre idosos. Conforme a população se torna mais longeva, definir uma faixa etária como 60 e mais, como é feito em alguns estudos, não traduz a realidade, já que é obvio que um idoso de 65 anos não é semelhante a outro de 90 anos em termos de processo saúde-doença. Curva de Nelson Moraes – Curva de Mortalidade Proporcional A Curva de Mortalidade Proporcional, ou Curva de Nelson Moraes é uma representação gráfica da mortalidade proporcional por idade, que permite rápida visão da distribuição de óbitos pelas diferentes faixas etárias, facilitando comparações. As curvas expressam os óbitos ocorridos em cinco agrupamentos etários: menores de 1 ano, crianças em idade pré-escolar (1 a 4 anos), crianças e adolescentes (5 a 19 anos), adultos jovens (20 a 49 anos) e maiores de 50 anos. O numerador é composto pelos óbitos ocorridos de uma determinada faixa etária e o denominador é o total de óbitos em uma dada população, em um período definido de tempo. O formato da curva indica o nível sanitário da região: Þ Tipo I- nível de saúde muito baixo, onde a mortalidade infantil é alta, mas predominam Geovana Sanches - TXXIV óbitos de adultos jovens. A curva assume aparência de um N Þ Tipo II- nível de saúde baixo, onde óbitos predominantes ocorrem nas faixas etárias de menores de 1 ano e de 1 a 4 anos. A curva assume aparência de um L . Þ Tipo III- nível de saúde regular, sendo que a proporção de óbitos infantis diminui e aumenta o número de mortes acima de 50 anos de idade. A curva assume aparência de um V . Þ Tipo IV- nível de saúde elevado. As pessoas morrem predominantemente acima de 50 anos e a curva assume aparência de um J. Índice de Guedes e Guedes As curvas de Nelson Moraes podem ainda ser quantificadas, refletindo uma tradução numérica. Embora a forma da curva esteja associada a um determinado diagnóstico das condições de saúde de uma população, a interpretação pode ser afetada pela avaliação subjetiva, e pode ser difícil, para curvas parecidas, realizar a diferenciação. Cada porcentagem encontrada de óbitos para cada faixa etária é multiplicada por um peso, sendo depois estes valores somados e divididos por 10, gerando um coeficiente, conhecido como Índice de Guedes e Guedes: • Menores de 1 ano: peso -4 • De 1 a 4 anos: peso -2 • De 5 a 19 anos: peso -1 • De 20 a 49 anos: peso -3 • A partir de 50 anos: peso +5 Tabela 1: Cálculo do Índice de Guedes e Guedes (IGG) Correlação entre o tipo de Curva de Nelson Moraes (CNM) e o Índice de Guedes e Guedes (IGG). TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA A transição demográfica provoca uma forte mudança na estrutura etária da pirâmide populacional. Ela é caracterizada por: • Queda nas taxas de natalidade; • Queda na taxa média de fecundidade; • Redução da mortalidade precoce; • Aumento da esperança de vida ao nascer. Obs.: a taxa de fecundidade é o número médio de filhos por mulher em idade fértil. No Brasil, essa taxa já está abaixo de 2.1, a qual é considerada a taxa de reposição de uma população. Portanto, daqui para frente, teremos cada vez menos jovens e mais idosos. Tendência: crescimento baixo ou mesmo negativo da população jovem, desacelaração do Geovana Sanches - TXXIV crescimento da população em idade ativa (15 aos 45 anos) e grande crescimento do contingente de idosos. Estágios da transição demográfica brasileira 1) Primeiro estágio: século 19 até 1940. • Altas taxas de natalidade + Altas taxas de mortalidade = população estável e grande proporção de jovens 2) Segundo estágio: de meados dos anos 40 até início dos anos 70. • Altas taxas de natalidade + queda das taxas de mortalidade = grande população total com alta proporção de jovens 3) Terceiro estágio: a partir de meados dos anos 1960. • Redução das taxas de natalidade + taxas de mortalidade caindo = redução rápida do crescimento populacional e aumento da proporção de adultos jovens e idosos. Junto a esse processo, ocorreu a transição de uma sociedade rural e tradicional para uma sociedade urbana e moderna. Com isso, mudaram-se as formas de inserção da mulher na sociedade, com rearranjos familiares. Houve ainda, incrementos tecnológicos. Taxa de participação na PEA por sexo e grupos etários no Brasil (IBGE): Taxa de fecundidade Entre 1940 e 1960, a taxa média de fecundidade no Brasil manteve-se em torno de 6 filhos por mulher. Entretanto, desde então, esse indicador vem descrendo em todas as regiões do país e entre todos os grupos sociais, ainda que em ritmos diferentes. Em 2010, o país apresentou taxa de fecundidade de 1,9 filhos por mulher, variando de 2,1 a 3 nas unidades federadas da região Norte, e de 1,6 a 1,7 nas UF das regiões Sul e Sudeste. Redução da mortalidade precoce A proporção de mortes ocorridas antes dos 20 anos de idade passou de 12,2% em 2000, para 7,4% em 2010. Nesta mesma década, o risco de morrer no primeiro ano de vida caiu de 26,6 para 16,2 por 1000 nascidos vivos (NV). Não obstante, poderíamos e deveríamos fazer melhor. Cerca de 70% das mortes infantis no Brasil são consideradas evitáveis por ações efetivas do Sistema Único de Saúde. Expectativa global de vida Graças ao íngreme e contínuo declínio na fecundidade e mortalidade, o mundo envelheceu rapidamente. A expectativa de vida vem progressivamente aumentando, ou seja, estamos vivendo por mais tempo. Segundo projeções da ONU para 2050, todas as idades aumentarão 35%, sendo que entre 65 e 84 anos aumentarão 164%; entre 85 e 99 anos, 301% e idosos com mais de 100 anos, 746%. Proporção estimada de idosos no mundo em 2050: No censo de 2010 realizado pelo IBGE, o Brasil possui 10,8% de sua população acima de 60 anos. Atualmente, essa proporção já subiu para 14,3%, com um total de 29,4 milhões de idosos. Estima-se, ainda, que em 2030 tenhamos 41,5% milhões de idosos, o que representaria 18% da população. Há uma tendência a feminização da população idosa, além do grande aumento da população de octogenários (com 80 anos ou mais), como demonstrado no infográfico abaixo. Geovana Sanches - TXXIV No censo de 2010, no Brasil, havia 24.236 centenários e, até 2050, estima-se que sejam 35 mil. Com esses dados, conclui-se que houve uma grande alteração no padrão demográfico. A forte queda na fecundidade e o aumento da longevidade impulsionaram um envelhecimento acelerado da população brasileira. Há tendências de crescimento baixo ou mesmo negativo da população jovem, desaceleração do crescimento da população em idade ativa e grande crescimento do contingente de idosos. Alguns conceitos Envelhecimento populacional: Mudança na estrutura etária da população, que produz um aumento do peso relativo das pessoas acima de determinada idade, considerada como definidora do início da velhice. Envelhecimento individual: Processo sequencial, individual, cumulativo, irreversível, universal, não patológico, de deterioração de um organismo maduro, próprio a todos os membros de uma espécie, de maneira que o tempo o torne menos capaz de reagir frente ao estresse do meio- ambiente e, portanto, aumente sua possibilidade de morte. Envelhecimento ativo: refere-sea participação contínua das pessoas em questões sociais, econômicas, culturais, espirituais e civis, não se restringindo à participação em programas de atividade física ou à integração da força de trabalho. Senescência: processo natural de envelhecimento que, em condições normais, não costuma provocar qualquer problema. Senilidade: condição patológica de envelhecimento que requer assistência. Essa condição pode ocorrer devido a situações de sobrecarga, como, por exemplo, a presença de doenças. Política Nacional de Saúde da Pessoa idosa (PNSPI): Portaria MS/GM n 2528, de 19 de outubro de 2006. Direciona medidas coletivas e individuais de saúde para população idosa em consonância com os princípios e diretrizes do Sistema Única de Saúde, a fim de promover a recuperação, a autonomia e a independência dos idosos. Inclui direitos e busca preservar a integração social da pessoa idosa, sendo o trabalho preponderando na manutenção da identidade do idoso e sua integração social. Dia Nacional do Idoso: Lei n 11.433, de 28 de dezembro de 2006. Institui o dia 1 de outubro como o Dia Nacional do Idoso. Também determina que os órgãos públicos responsáveis pela coordenação e implementação da Política Nacional do Idoso fiquem incumbidos de promover a realização e divulgação de eventos que valorizem a pessoa do idoso na sociedade. TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA A transição epidemiológica é a mudança no padrão de adoecimento de uma população, alternado assim o padrão de morbimortalidade. Ela está intimamente relacionada à transição demográfica, com o aumento do número de idosos. Ela pode ser explicada por várias teorias, sendo a mais utilizada a teroria de Omran, criada em 1971. Ela mostra como os padrões de adoecimento e mortalidade se alteraram ao longo da história. Há sempre um desequilíbrio entre doenças infecciosas ou doenças crônicas não transmissíveis. Na antiguidade (Grécia Antiga), imperavam óbitos pelas doenças infecto-parasitárias e guerras. A primeira grande pandemia descrita ocorreu na Guerra do Peleponeso, em que a população morreu por diarreia, relacionada à Salmonella Typhi. Há ainda a peste negra, que dizimou quase a Europa inteira. No período da colonização das Américas, vieram à óbito os indígenas devido às doenças infecciosas (varíola e sarampo) trazidas pelos europeus. Quando ocorreu o tráfico de escravos, houve a introdução de doenças que nem os indígenas, nem os europeus tinham contato, como a febre amarela. Assim, essas doenças (como pneumonias e doenças diarreicas) sempre foram uma causa importante para mortalidade em grande número. Conforme a descoberta de medidas preventivas, imunização, saneamento básico, a incidência das doenças infecciosas diminui (exceto nas grandes epidemias). Com isso, as tendências atuais deslocam o óbito para as idades mais avançadas, aumentando as causas de óbito relacionadas às doenças crônico-degenerativas (principalmente aparelho circulatório e neoplasias). Carga global de doenças Global Burden of Disease (GBD) A carga global de doenças é um esforço científico para quantificar a magnitude da perda de saúde devido a doenças, lesões e fatores de risco por idade, sexo, localidades geográficas. Leva em consideração o conceito ampliado de saúde. Visa apoiar a investigação científica contínua e permitir o planejamento em saúde. Envolve especialistas e pesquisadores de diversas áreas, em todo o mundo. Os dados são atualizados anualmente para toda a série 1990 a 2016. São provenientes de múltiplas fontes de todos os países, oriundos de estatísticas vitais, censos, bases administrativas (como o DataSUS), publicações, inquéritos, registros de câncer, registros policiais (causas externas), dados ambientais, trabalho, outros. Eles são comparáveis, ajustados, padronizados, permitindo estimativas globais, nacionais e por UF. A publicação permite uma Geovana Sanches - TXXIV visualização pública de metodologia e resultados principais. Histórico - 1991: GBD originou-se de parceria entre Banco Mundial e OMS visando estudar a carga global de doenças. - 1996: resultados publicados em 2 volumes - 1997: artigos publicados no The Lancet - 2010: mudança do estudo da OMS para IHME (Institute of Health Metrics and Evaluation) – Washington University - GBD 2010: 488 autores de 303 instituições em 50 países que colhem dados para se avaliar a carga global de doenças. - GBD 2016: 195 países, mais de 2500 colaboradores. Métricas gerais GBD (Indicadores utilizados) 1) Óbitos (328 causas analisadas, entre doenças e lesões) 2) Taxas de mortalidade, ajustadas, padronizadas 3) YLLs (anos de vida perdidos por morte prematura; avalia-se o ano em que ela morreu, comparando-se à expectativa de vida) 4) YLDs (anos de vida perdidos por incapacidade) 5) DALYs (YLL + YLD) – Anos de vida perdidos ajustados por incapacidade 6) Prevalência 7) Incidência 8) Fatores de risco 9) Expectativa de vida 10) Expectativa de vida saudável GBD Brasil Parceria que envolve IHME, Ministério da Saúde, Universidades Locais e pesquisadores. Objetivos são cooperação, ampliação de fontes, revisão estimativas, validação, análises para Brasil, análises para UF. As fontes de dados incluem inquéritos epidemiológicos, registros vitais, censo e vigilância epidemiológica. Transição Epidemiológica – Brasil Houve um aumento das doenças crônico- degenerativas na carga global de doenças no Brasil: em 1990, eram 59,6% ; já em 2015, essa porcentagem ascendeu para 75,8%. Há ainda uma importante queda das causas por doenças infecciosas, de 25,6% em 2010 para 12,4%. Obs.: nessa porcentagem estão inclusas ainda as doenças nutricionais. O envelhecimento da população brasileira ocorreu de maneira muito rápida, de forma que o país não teve tempo para se preparar para essa transição demográfica. Principais causas de mortes: doença isquêmica do coração; doença cerebrovascular; infecção de vias respiratórias inferiores. Principais causas de mortes prematuras: violência interpessoal; doença isquêmica do coração; DCV. A causa com maior variação percentual foi nos transtornos neonatais, com -43,4%, o que foi permitido através do aumento no número de leitos de UTI neonatal e formação de pediatras intensivistas. Tripla Carga de doenças – Brasil A partir dos dados obtidos pelo GBD Brasil, podemos afirmar que há uma Tripla Carga de doenças. Doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) O envelhecimento, a urbanização, as mudanças sociais e econômicas e a globalização impactaram o modo de viver, trabalhar e se alimentar dos brasileiros, fazendo com que os brasileiros tivessem um aumento nos riscos para DCNT. Doenças infecciosas e Parasitárias (DIP) A mortalidade por DIP vem declinando desde a década de 1940, inicialmente com queda aguda e recentemente mais lenta, embora persistente. Entre 2000 e 2010, a mortalidade proporcional por DIP caiu de 4,7 para 4,3%. O Brasil vinha apresentando um êxito pela área da saúde em relação às doenças passíveis de prevenção por imunização. Notificação de casos e óbitos por sarampo, poliomielite, rubéola, meningite, tétano, coqueluche e difteria em crianças menores de 5 anos reduziu-se de mais de 153 mil casos e 5,5 mil óbitos em 1980, para cerca de 2 mil casos e 50 óbitos em 2009. Apesar dessa diminuição, ao contrário da maioria do mundo, a queda que estamos tendo atualmente é pequena, e atualmente a situação está ainda pior com o aumento no número de casos de sarampo, febre amarela, dengue, influenza, etc. Assim, elas ainda são um componente importante de mortalidade no Brasil. Têm-se desafios históricos como a persistência de doenças associadas à miséria e exclusão social, a exemplo da tuberculose e a hanseníase; a alta incidência da malária na região da Amazônia legal, oscilando em torno de 300 mil casos novos/ano; e as recorrentes epidemias de dengue. Geovana Sanches - TXXIVA dengue foi responsável por quase 70% dos adoecimentos. Observou-se que as incidências de dengue, hanseníase, tuberculose, hepatite e leishmaniose tegumentar têm um padrão de maior difusão pelos municípios brasileiros, com maior expressão nas regiões Centro-Oeste e Norte. Causas externas de morte O crescimento da violência representa um dos maiores e mais difíceis desafios do novo perfil epidemiológico do Brasil. Em 2010, 143 mil (12,5%) óbitos ocorreram devido as causas externas. O aumento da mortalidade por causas externas, observado a partir de 1980, deve-se principalmente aos homicídios e aos acidentes de transporte terrestre, com destaque em grandes centros urbanos. Os homens jovens são os mais afetados pelo crescimento dos homicídios (como agressores e vítimas), e pelos acidentes de trânsito. Novos e velhos desafios nesse persistente contexto de mudanças O aumento da população idosa e as demandas crescentes relacionadas ao envelhecimento representam desafios importantes para o Sistema Único de Saúde do Brasil, o qual não tem profissionais hábitos para trabalhar com essa demanda crescente. É necessária a sobreposição de agendas, pela persistência das doenças transmissíveis com o aumento dos fatores de risco para as DCNT e a enorme pressão das causas externas. Há fases distintas dessa transição, com polarização entre diferentes áreas geográficas e grupos sociais, ampliando as contradições no território. Os processos de transição demográfica e epidemiológica também demandam transformações nas respostas sociais, expressas inclusive pela forma como o sistema de saúde se organiza para ofertar serviços, impondo, portanto, uma transição na atenção à saúde. TRANSIÇÃO NUTRICIONAL E RISCO As transições nutricional, demográfica e epidemiológica estão intimamente relacionadas, sendo que a transição nutricional é um dos determinantes da transição epidemiológica e é responsável pela grande quantidade de DCNTs (doenças crônicas não transmissíveis) nas populações. Definição Mudanças no padrão de alimentação, atividade física e causas de doenças que acompanham as mudanças no desenvolvimento econômico, estilo de vida, urbanização e demografia. As dietas tradicionais (nutricionalmente balanceadas) foram substituídas por dietas “ocidentais” (ricas em gordura, açúcares, carne e alimentos altamente processados e com pouca fibra). Associou-se, ainda, aumento no estilo de vida sedentário. • As dietas ocidentais têm calorias vazias. • O estilo de vida sedentário foi fomentado pela urbanização. De acordo com o IBGE, o Brasil apresenta queda no déficit de peso. Paralelamente, o excesso de peso e a obesidade aumentaram em ambos os sexos. A partir de 1990 com os programas de transferência de renda, a desnutrição diminuiu muito. Percentualmente, foi uma diminuição de cerca de 85% das pessoas em situação de subalimentação. A desnutrição não está associada somente a fome, também está associada a obesidade. Historicamente, ser gordo indicava melhor condição financeira. Hoje, há mudanças nesse padrão, sendo que as classes com maior renda apresentam menos obesidade. Complicações da obesidade na infância e adolescência • Dislipidemias; • Hipertensão arterial; • Diabetes tipo 2; • Problemas ósseos; • Distúrbios do sono; Geovana Sanches - TXXIV • Esteatose hepática não alcoólica; • Puberdade precoce; • Depressão; • Baixa autoestima - bullying; • Problemas de comportamento Idosos O baixo peso e excesso de peso é grave em idosos devido a baixa imunidade e maior risco para doenças cardiovasculares, respectivamente. Há mais mulheres obesas entre os idosos, diferentemente do padrão encontrado em adultos. Isso ocorre porque as mulheres vivem mais do que os homens. Tendência do consumo alimentar no Brasil A transição do consumo alimentar se dá porque alimentos básicos cada vez são cada vez menos consumidos e alimentos ultraprocessados (que contém calorias vazias), cada vez mais. Ultraprocessados Como diferenciar alimentos processados dos ultraprocessados? • Leitura da lista de ingredientes, presente no rótulo dos alimentos processados e ultraprocessados. • Número elevado de ingredientes (cinco ou mais). • Ingredientes com nomes pouco familiares e não usados em preparações culinárias. O valor nutricional é inversamente proporcional às calorias vazias. Prática de atividades físicas no Brasil Conforme a urbanização e incrementos no transporte, o sedentarismo aumentou. Tanto escolares quanto idosos apresentam inatividade física significativa. Fisiologicamente, o envelhecimento promove troca do miócito por gordura, diminuindo a massa muscular e, por isso, a inatividade física é tão grave: a falta de massa muscular dificulta a sustentação do esqueleto, levando a fraturas (inclusive espontâneas). Idosos obesos sarcopênicos: são idosos obesos, mas sem massa muscular. A queda em um idoso é grave devido às repercussões que ela pode causar → incremento da mortalidade. Conceitos Risco: Probabilidade de ocorrência de um evento. Fator de risco: Atributo ou condição que favorece a ocorrência de um evento. O fator de risco pode ser retirado ou controlado. Exemplo: tabagismo, obesidade, dislipidemia. Marcador de risco: Características individuais, inevitáveis, já dados, cujo efeito se encontra fora da possibilidade de remoção ou controle. Exemplo: fatores genéticos. Fator de proteção: Atributo ou condição que reduz a ocorrência de um evento. Cenário atual das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) O processo de transição demográfica, epidemiológica e nutricional resultou em um aumento das prevalências de Doenças Crônicas Não Transmissíveis – DCNT. As DCNT (doenças cerebrovasculares e cardiovasculares, neoplasias, obesidade, diabetes, hipertensão, entre outras) são consideradas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) um dos maiores problemas de saúde pública no mundo, pois podem levar ao indivíduo a grande grau de incapacidade/ dependente → qualidade de vida muito comprometida. Além disso, as DCNT trazem prejuízos não só a saúde do indivíduo, mas também a situação socioeconômica que a família e os indivíduos se encontram. A etiologia dessas doenças é complexa. Envolve marcadores de risco (genética, sexo e idade) e fatores de risco (tabagismo, inatividade física, alimentação inadequada e consumo excessivo de bebidas alcoólicas). Esses últimos, por estarem relacionados a modos e estilos de vida, são passíveis de modificação. A maior quantidade de pessoas com DCNT poderá interferir na transição demográfica, pois Geovana Sanches - TXXIV crianças e adolescentes obesos e com DCNT provavelmente irão morrer mais cedo. Iniciativas brasileiras Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) – 2010. Define e prioriza ações e investimentos necessários para o enfrentamento das DCNT nos próximos 10 anos. Objetivos: Promover o desenvolvimento e implementação de políticas públicas efetivas, integradas e sustentáveis para a prevenção e o controle das DCNT e seus fatores de risco. Fortalecer os serviços de saúde voltados para cuidados crônicos. • Guia Alimentar para a População Brasileira • Dez passos para uma alimentação adequada e saudável • Academia de Saúde em praças • Programa Nacional de Controle do Tabagismo
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