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CONSTITUCIONAL (GUILHERME PEÑA) - PODER CONSTITUINTE

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SUMÁRIO
1.	CONCEITO:	3
2.	CLASSIFICAÇÃO:	3
3.	PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO:	4
3.1.	CARACTERÍSTICAS DO PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO:	4
4.	PODER CONSTITUINTE DERIVADO REFORMADOR:	12
4.1.	CARACTERÍSTICAS:	12
JURISPRUDÊNCIA CORRELATA	22
Este caderno foi elaborado a partir das aulas do professor GUILHERME PEÑA ministradas no Curso de Carreiras Jurídicas do Estratégia.
Material elaborado por Genesis da Silva Honorato
@materiasdedireito.doc
TEORIA DA CONSTITUIÇÃO 
PODER CONSTITUINTE:
CONCEITO:
É o poder de instituição ou reforma da constituição Federal ou Estadual. 
Duas observações são importantes:
OBS1: QUANTO AOS OBJETOS: O poder constituinte tem dois objetos 1) instituição (criação da primeira constituição, de nova constituição); e 2) reforma (modificação). Todavia, malgrado doutrina minoritária que nega o segundo objeto, prevalece que tem por objeto a reforma (modificação). 
OBS2: QUANTO ÀS ORIGENS: Tem também duas origens 1) Federal; e 2) Federada. Se fala em duas constituições, portanto, sendo elas a Constituição Federal e a Constituição Estadual. 
Assim, devemos fixar que não é só poder constituinte o que cria a constituição, mas também o que modifica. Da mesma forma, é poder constituinte não apenas o que cria ou modifica a Constituição Federal, mas também o que cria ou modifica a constituição do Estado. 
CLASSIFICAÇÃO:
A classificação que mais se segue no Brasil é a de NELSON DE SOUZA SAMPAIO:
Poder constituinte é gênero. Vejamos o esquema:
A) ORIGINÁRIO:
Seu objeto é a instituição da Constituição Federal. 
B) REFORMADOR:
Como o próprio nome menciona, tem por objeto a reforma da constituição Federal. 
C) DERIVADO DECORRENTE INSTITUCIONALIZADOR:
É aquele que institui a Constituição do Estado.
D) DERIVADO DE REFORMA ESTADUAL:
É aquele que reforma a constituição Estadual. 
PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO:
CARACTERÍSTICAS DO PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO:
Como vimos, é o que cria a Constituição Federal nova. 
Diante disso, podemos destacar suas características:
a) INICIALIDADE: Por ele temos o início de uma nova ordem jurídica, pois serve como fundamento comum de validade de qualquer norma. A pirâmide de Kelsen (na verdade de seu discípulo) é o modo pelo qual podemos identificar a característica da inicialidade a partir da hierarquia estabelecida entre as normas. 
Qualquer norma de menor hierarquia possui fundamentação, ainda que indireta, da Constituição. Inclusive, é a partir disso que se pode compreender a distinção entre controle de constitucionalidade e controle de legalidade.
Assim, a Constituição irradia validade para as demais normas jurídicas. Funciona como epicentro do novo ordenamento. 
b) INCONDICIONAMENTO: O produto do poder constituinte originário não está condicionado a formas preconcebidas ou preestabelecidas. Na verdade, as formas pelas quais ele se manifesta são formas livres e surgem cada vez mais formas novas. 
c) ILIMITAÇÃO: Não está sujeito a restrições impostas pelo direito POSITIVO ANTERIOR. 
ATENÇÃO: Deve-se atentar para que o poder constituinte originário pode se sujeitar a restrições extrajurídicas, sendo ilimitado quanto ao aspecto jurídico. Ou seja, é JURIDICAMENTE ILIMITADO, mas não absolutamente ilimitado. 
OBS: O efeito cliquet é exceção a isso? E os tratados de direitos humanos? Vamos pensar nisso em breve. 
Meus caros, vamos avançar no tema sobre cada uma dessas características abordando as polêmicas doutrinárias:
1) INICIALIDADE:
A questão aqui é: Se ser inicial não significa zerar o que já tinha anteriormente à nova manifestação do poder constituinte originário, qual seria o efeito do poder originário sobre a constituição anterior? E qual o efeito da nova constituição sobre a legislação?
A) Constituição Antecedente: 
O efeito aqui é a chamada AB-ROGAÇÃO (Revogação integral), salvo ressalva expressa da nova constituição. 
#TEORIA DA DESCONSTITUCIONALIZAÇÃO:
No MP/MG se perguntou sobre a teoria da DESCONSTITUCIONALIZAÇÃO. O que seria isso?
De início, o Brasil não adota a teoria da desconstitucionalização. Por esta teoria, surgida a nova constituição, o intérprete deve verificar qual norma seria formalmente constitucional (qualquer matéria prevista no texto da constituição, sejam relacionadas ou não com matéria de constituição) e quais as normas materialmente constitucionais (matérias que são plenamente próprias de constituição). Lembrar que da mesma forma que a Constituição apresenta matérias que não são tipicamente constitucionais, a legislação infraconstitucional também pode trazer normas constitucionais (lembrar aqui também das chamadas normas-clones que repetem ipsis litteris o texto constitucional). 
Assim, avaliando o intérprete qual a natureza das normas, somente aquelas formalmente constitucionais seriam mantidas com status de normas legais (revogar-se-ia apenas as normas materialmente constitucionais). 
Ou seja, desconstitucionalização é a conservação de vigência de normas formalmente constitucionais com o status de normas legais. 
B) Legislação anterior:
Com a nova constituição, temos a teoria da RECEPÇÃO. 
ATENÇÃO: Recepção só existe no caso de NOVA CONSTITUIÇÃO. Emenda, tecnicamente, não recepciona. 
Quanto ao conceito da Recepção, temos que é o ingresso, na nova ordem jurídica, de normas legais anteriores e com ela [materialmente] compatíveis. 
A grande questão é saber se há ou não a compatibilidade. 
Vejamos algumas questões importantes:
1) Que compatibilidade exigida é essa? Material, formal ou material e formal?
Para controle de constitucionalidade, exige-se as duas (lembre-se disso). No caso da recepção, BASTA A COMPATIBLIDADE MATERIAL, ou seja, só se exige conteúdo compatível. Assim, mesmo que não haja compatibilidade formal será recepcionado com o status que a nova constituição lhe der (exemplo: o CTN – que foi recepcionado com o status de LC; da mesma forma o Código Penal). 
2) Se não for recepcionada, qual o efeito gerado na norma?
O efeito hoje será a REVOGAÇÃO (EXISTÊNCIA). O STF entende dessa forma. 
ATENÇÃO: o STF tem tendido à mudança (inconstitucionalidade superveniente - VALIDADE). Isso pelo fato de que, com a Lei da ADPF, passou a ser possível o controle de norma não recepcionada (pois revogadas). Devemos lembrar que o STF já aplicou as normas da ADPF (ADPF’s 54 e 130, por exemplo).
3) O que quer dizer filtragem constitucional?
Esse conceito pertence ao professor Paulo Ricardo Schier. Filtragem nada mais é do que releitura, uma nova interpretação (filtro axiológico da nova constituição). Seria um atributo a mais (um plus) da recepção. 
Um exemplo é o concubinato. Passou-se a ler as normas que tratavam do concubinato com o filtro da nova constituição, sendo reconhecido como sendo união estável.
OBS: Se diferencia da MUTAÇÃO constitucional (releitura da própria constituição). 
2) INCONDICIONAMENTO:
Os modos são livres. 
Quais os modos mais comuns pelos quais o poder constituinte pode se manifestar? 
Podemos elencar aqui dois modos:
a) Modo autoritário (OUTORGA):
É ligada à ideia de autoridade, ditadura. Constituição imposta por declaração unilateral de vontade do AGENTE do poder constituinte. Como exemplo: A Constituição de 1937 (Estado Novo).
b) Modo democrático (PROMULGAÇÃO):
Está relacionada à democracia. Estabelecida por deliberação majoritária de vontades dos AGENTES do poder constituinte. Como exemplo, temos a atual constituição. 
Esses são os modos mais comuns. Todavia, temos outros meios que são atualmente percebidos. Algumas mudanças são de ordem global e outras de ordem regional. Vejamos:
#CONSTITUCIONALISMO PARTICIPATIVO (dimensão global - elaboração por rede social):
O poder constituinte é tão incondicionado que até mesmo a rede social pode ser o meio pelo qual o poder pode se manifestar. Como exemplo, temos a Islândia. Em 2009, foi composto o conselho constitucional que abriu páginas em redes sociais e conclamou sugestões que foram por ele reunidas para formulação de um texto final. 
Volta-se, assim, ao ideal grego de democracia DIRETA. Muda-se, inclusive, o papel da rede social. 
NOTA:NOVO CONSTITUCIONALISMO LATINO-AMERICANO (dimensão regional):
Essa expressão pertence ao autor espanhol RUBÉN DALMAU. Ele se referiu a 3 constituições:
a) Venezuela (1999)
b) Equador (2005)
c) Bolívia (2009)
d) O professor Guilherme Peña adiciona ainda Cuba (2018)
Essa seria uma terceira via que é a constituição bonapartista ou cesarista. Esta pode ser conceituada como constituição outorgada e depois sujeita a consulta popular (Referendo ou plebiscito). A consulta tem a finalidade de legitimar essa constituição, tendo em vista que ela nasce ilegítima. 
Deve-se mencionar que esta via estava em desuso e passa a ser novamente utilizada por estes Estados. 
3) ILIMITAÇÃO: 
Neste ponto, lembremos que o direito positivo anterior não tem o condão de impor limitações à nova ordem, embora haja limitação fora do Direito. 
A questão aqui é: É possível haver limitação jurídica?
Aqui temos duas discussões: a) TIDH e b) Efeito Cliquet. 
Esses dois casos NÃO CONSTITUEM EXCEÇÃO à ilimitação jurídica. A regra, portanto, é absoluta. Mesmo assim, tratemos das duas questões:
a) Tratados e Convenções de Direito Humanos:
A resposta depende do status que se reconhece aos tratados.
Uma questão importante é a do Art. 5º, LXVII da CF:
LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;
Lembre-se que o Pacto de San José da Costa Rica não admite a prisão do depositário infiel. Assim, como fica essa prisão? Ela existe ou não?
Vamos dividir nossa resposta em duas partes:
1) Parte Teórica: Temos aqui 4 posições sobres os status normativos dos tratados:
OBS1: à luz da primeira posição (de baixo pra cima – Status legal dos tratados), seria possível a decretação da prisão do depositário infiel. 
OBS2: Para a segunda posição (status supralegal), os tratados não afetariam a Constituição, mas atinge a legislação (pois seu patamar é superior) e provoca o efeito paralisante na legislação. Por essa posição, a prisão não seria possível, tendo em vista o efeito paralisador sobre a norma legal. 
OBS3: Para a terceira posição, por termos status constitucional, prevalece a norma mais benéfica à pessoa humana, ou seja, atinge-se a Constituição (cedendo espaço ao tratado). Assim, a prisão não seria possível. 
OBS4: Para a quarta posição, o status do tratado seria supraconstitucional (muda-se aqui a ideia da hierarquia das normas de Kelsen). Aqui nasce a limitação jurídica do poder constituinte originário, mesmo que o tratado seja posterior à elaboração da Constituição. Inclusive, nem no futuro a prisão poderia ser viável, pois se submeteria a esse tratado. 
2) Parte Jurisprudencial: O STF, no RE 466.343 e Súmula Vinculante 25, adotou a tese da segunda corrente (GILMAR MENDES). Adotam essa posição o Brasil, a França e a Holanda.
Prevalece na maior parte dos países a posição defendida pela terceira corrente. 
O STF fez uma separação entre os tratados anteriores à Emenda Constitucional 45 e depois dela (impactando o rito e o status). 
Assim, antes de 2004, aplica-se o Art. 49, I e Art. 84, VIII. Ou seja, o presidente celebraria o tratado e o Congresso ratificaria. Se o CN ratificasse, seguiria 3 regras:
a) Sessão unicameral;
b) Um turno de votação;
c) Maioria simples.
Assim, o status seria supralegal. 
Depois da EC/45, aplica-se o Art. 5º, §3º, mudando-se o rito de feitura do tratado e também o seu status. 
a) Sessões separadas;
b) 2 turnos por casa;
c) 3/5.
O status aqui seria CONSTITUCIONAL (equivalente a emenda constitucional). 
OBS1: O art. 5º, §3º consubstancia o conceito de BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE para aqueles que entendem sua aplicação no Brasil. 
OBS2: O efeito gerado pelo Art. 5º, §3º é o deslocamento do processo legislativo do poder executivo para o poder legislativo. Agora, o protagonista do processo é o próprio Congresso Nacional. 
OBS3: Por “equivalente a emenda” entendesse que gera pelo menos 2 efeitos:
a) Fica fora do texto da Constituição; e
b) Não possui número próprio de Emenda. 
Como exemplo temos o Decreto Legislativo 186/08. 
A partir disso, podemos falar que os tratados são limitações ao poder constituinte originário? 
NÃO! No Brasil não se adota a ideia de que são de status supraconstitucional, sendo, no máximo, de status constitucional. 
Passado esse ponto, vamos ao seguinte problema:
b) Proibição do retrocesso social (efeito Cliquet):
O STF tem acórdãos, inclusive deste ano, aplicando esse princípio. 
Trata-se de limitação jurídica? 
NÃO! 
1) Para que fosse limitação jurídica, dever-se-ia adotar a tese de norma constitucional originária inconstitucional. Trata-se de um pressuposto lógico. Todavia, no Brasil não se adota essa tese. 
2) Mesmo que se aplicasse a tese das normas originárias inconstitucionais, no Brasil não se aplicaria este princípio às normas constitucionais. Ele é aplicado no caso de norma constitucional de eficácia limitada (abstrata, programática). Essa norma seria regulamentada por uma norma legal. O efeito Cliquet incide sobre a vedação à revogação da norma que efetivou a norma constitucional de eficácia limitada, sem que haja, pelo menos, política substitutiva. Ou seja, se aplica entre NORMAS LEGAIS (infraconstitucionais).
Uma questão teórica é a suspensão do serviço público no caso de inadimplência do particular. Temos aqui a norma da Constituição de eficácia programática (defesa do consumidor), posteriormente regulamentada pelo CDC no Art. 22. Posteriormente, todavia, a Lei das concessões acaba violando a vedação do retrocesso. 
O STF aplicou o princípio em caso diverso: Sucessão dos companheiros é igual a dos cônjuges (Lei anterior ao Código Civil de 2002). Posteriormente, o CC/02 separou os dois regimes (Art. 1.790). O STF reconheceu o princípio e declarou inconstitucional o dispositivo do CC. 
PODER CONSTITUINTE DERIVADO REFORMADOR:
Este é o que tem por objeto a reforma da Constituição (objeto) Federal (origem).
CARACTERÍSTICAS:
Ao contrário do Originário, temos:
a) DERIVAÇÃO:
É o oposto da inicialidade. Aqui, o poder constituinte derivado reformador busca fundamentação de validade na Constituição Federal. 
b) CONDICIONAMENTO:
Aqui temos que o produto do poder constituinte tem formas de manifestações definidas e já preconcebidas. Não são livres, mas aprisionadas. 
c) LIMITAÇÃO:
O produto do poder constituinte derivado reformador está sujeito a restrições impostas pelo Direito positivo em vigor. 
Vamos extrair diversas questões sobre cada uma dessas características:
1) DERIVAÇÃO:
Questão relevante aqui é saber: Se o poder constituinte derivado busca fundamentação na CF e não a encontra o que acontece? É possível falar em normas constitucionais inconstitucionais? 
Aqui devemos separar normas constitucionais originárias e as normas constitucionais derivadas. 
a) Norma constitucional originária: NÃO PODE SER INCONSTITUCIONAL. O STF não reconhece essa possibilidade (ver: ADI 981). Para o STF, a norma decorre do poder que é inicial e ilimitado. 
Façamos aqui 3 observações:
OBS1: O Brasil não segue a teoria de OTTO BACHOF (normas constitucionais inconstitucionais? – 1952). Essa obra é do segundo pós-guerra e decorre da preocupação com o retorno do nazismo. Leva-se em conta o supra direito.
OBS2: Havendo conflito entre normas originárias, o que pode ser feito? RONALD DWORKIN aponta a fórmula do “TUDO OU NADA”. Mas, isso só seria possível num ordenamento em que fosse possível o reconhecimento de normas constitucionais originárias inconstitucionais. 
Exemplo de conflito: Art. 61, §1º, II, d X Art. 128, §5º. 
	Art. 61, §1º, II, d
	Art. 128, §5º
	§ 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:
II - disponham sobre:
d) organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União, bem como normas gerais para a organização do Ministério Público e da Defensoria Pública dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios
	§ 5º Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores-Gerais,estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público, observadas, relativamente a seus membros.
Num caso como esse, a resolução se dará mediante interpretação harmoniosa / harmonização (evitar falar “ponderação”, pois esta técnica é para princípios). 
Aqui, o Congresso criou duas leis, dando solução harmoniosa para a questão (LC 75 e Lei 8.625). A primeira decorre do Art. 128 da CF e a segunda Art. 61 da CF. 
OBS3: Muitos autores dizem que não há hierarquia entre normas originárias da constituição já que o STF não entende haver normas constitucionais inconstitucionais. 
Todavia, deve-se diferenciar a hierarquia em formal e informal. De fato, não há hierarquia formal, mas HÁ HIERARQUIA AXIOLÓGICA, ou seja, de valores entre elas. Como exemplo, o Art. 1º, III da CF (epicentro do ordenamento jurídico) e Art. 242, §2º da CF (colégio Pedro II). Assim, cuidado com a afirmação da hierarquia entre as normas da constituição. 
No Art. 102, §1º da CF temos a ADPF. A CF quando cria a ADPF entende justamente que determinadas normas têm hierarquia axiológica (preceito fundamental – superioridade axiológica). 
b) Norma constitucional derivada: PODE SER INCONSTITUCIONAL. Temos aqui duas situações:
i. Norma constitucional federal contida em emenda ou revisão que viole limitação ao poder de reforma da Constituição;
Se uma EC preveja pena de morte em situação além da guerra externa, temos um exemplo de norma constitucional derivada que viola a limitação prevista na CF. 
ii. Norma constitucional estadual que viole norma constitucional federal de repetição obrigatória pelos Estados (princípio da simetria). 
Exemplo: norma estadual dizendo que homens e mulheres não são iguais perante a lei. 
OBS: Simetria é exceção, pois quanto mais se aplica, mais se limita o poder do Estado-membro. Todavia, a questão reside em saber quando deve a constituição do Estado seguir ou não regra federal (simetria). 
Aqui deve-se perguntar: Se o Estado seguir norma diferente, há possibilidade de ameaçar o equilíbrio do pacto federativo? Se a resposta for positiva, então a matéria é sujeita à simetria.
2) CONDICIONAMENTO:
Aqui a questão relevante está relacionada com o seguinte: Quais as formas pelas quais o poder constituinte derivado reformador se manifesta? 
Temos duas, sendo espécies de REFORMA:
a) Emendas;
b) Revisão.
Diferença entre as duas: Há uma diferença material (conteúdo) e uma diferença formal (procedimento). 
a) Material: A emenda é pontual (atinge matéria certa), a revisão é global, é mais extensa que a emenda. 
b) Formal: é relativa ao rito. No Art. 60 da CF temos os procedimentos da Emenda e no ADCT, Art. 3º, temos o procedimento da revisão. Vejamos:
	EMENDA
	REVISÃO
	Art. 60, § 2º: A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.
	Art. 3º, ADCT: A revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral.
 
PERGUNTA-SE: Já que a revisão é mais fácil que a emenda, seria possível uma nova revisão hoje? 
Temos aqui controvérsia na doutrina e já temos decisão do STF sobre o tema. 
A posição minoritária pertence a MANOEL GONÇALVES FERREIRA FILHO e MICHEL TEMER. Para eles, seria possível uma nova revisão, desde que seja feita uma emenda à constituição convocando esta revisão. O argumento é de que não há limitação explícita. 
A posição dominante pertence a JOSAPAHT MARINHO e EDUARDO RIBEIRO MOREIRA. Para eles, não é possível, pois há limitação implícita no Art. 3º do ADCT (“a revisão”).
Na ADI 981, o STF reconheceu que a revisão seria feita uma única vez. 
Essas modificações (emenda e revisão) são mudanças formais. 
#NOTA: MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL:
É modificação informal da Constituição. É chamada também de poder constituinte difuso. 
Aqui, conforme doutrina, temos a mudança de contexto sem mudança de texto (o texto deve permanecer o mesmo). 
ATENÇÃO: A mutação constitucional não se opera somente no poder judiciário, mas ocorre também no poder executivo e legislativo. 
Vejamos alguns exemplos do STF:
a) HC 82.959: Art. 5º (caso da progressão de regime prisional no caso de crimes hediondos);
b) MS 26.602: Art. 55 (infidelidade partidária):
- Enumeração exemplificativa do Art. 55. 
c) ADPF132: Art. 226, §3º (Possibilidade de união estável homoafetiva);
d) AP 937: Art. 53, §1º:
- Crime deve ser praticado no mandato e em razão do mandato para haver foro especial.
e) ADI 3406: Art. 52, X:
- Abstrativização do controle concreto. Toda vez que o STF, em plenário, conheça em abstrato de um caso concreto, a decisão terá, naturalmente, efeito vinculante. 
Duas considerações finais:
OBS1: É importante lembrar que a mutação tem limite. O limite é o limite do texto (limite semântico), pois não se pode ir contra o texto. No STF, vamos encontrar casos onde o STF vai contra o texto constitucional (a exemplo da AP 937). 
OBS2: Diferença entre mutação e filtragem constitucional:
O ponto de contato se dá no fato de que as duas situações são releituras, reinterpretações. 
Como distinção, na filtragem temos releitura de norma ANTERIOR à constituição que foi recepcionada. Na mutação, é a norma da PRÓPRIA CONSTITUIÇÃO sendo relida. 
3) LIMITAÇÃO:
Quais são as limitações? Como são classificadas?
Aqui, será seguida a classificação de NELSON SAMPAIO:
Teríamos:
A) TEMPORAIS:
Impedem a reforma durante um determinado intervalo de tempo. A nossa constituição não tem nenhuma limitação temporal. No império houve, na república não mais houve. 
OBS: temos normas parecidas com limitações temporais, mas que na verdade não são:
a) Art. 3º do ADCT: NÃO É LIMITAÇÃO TEMPORAL, pois só proibiu a revisão e não as emendas. 
b) Art. 60, §5º, ADCT: NÃO É LIMITAÇÃO TEMPORAL, pois proíbe apenas a emenda que foi rejeitada (regra da irrepetibilidade). 
B) CIRCUNSTANCIAL:
Durante uma circunstância excepcional, veda-se a reforma. Prevista essa limitação no Art. 60, §1º:
§ 1º A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio.
Diferentemente da limitação temporal, aqui não sabemos a quantidade de tempo. 
C) MATERIAL: 
Impede a reforma sobre certa matéria, tema, assunto. Essa limitação pode ser implícita ou explícita (cláusula pétrea). Esta última está no Art. 60, §4º. 
Quanto às implícitas, podemos extraí-las do sistema, malgrado o texto não seja claro. 
Duas limitações implícitas inquestionáveis:
i. Titularidade e exercício do poder constituinte (Art. 1º, §único);
ii. Processo de reforma constitucional (Art. 60, caput, §§ 2º, 3º e 5º).
Cláusulas implícitas nas quais temos discussão:
i. Norma sobre as cláusulas pétreas (dupla reforma – falaremos adiante);
ii. Forma e sistema de governo (falaremos adiante).
#CLÁUSULAS PÉTREAS: QUESTÕES RELEVANTES.
Vejamos algumas questões sobre a cláusulas pétreas relacionadas à EXTENÇÃO e à PROFUNDIDADE das cláusulas:
§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda TENDENTE A ABOLIR:
I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias INDIVIDUAIS.
1) EXTENSÃO: Conforme o Art. 60, §4º, IV: “Direitos e Garantias INDIVIDUAIS”. Qual a extensão que podemos dar a esse termo? Podemos incluir aqui qualquer direito fundamental?
Há controvérsia. 
1ªC: SYLVIO MOTTA entende que a limitação se restringe a direito individual. Usa-se aqui interpretação LITERAL. Assim, Emenda que abolisse salário mínimo é válida (pois direito social). 
2ªC: (MAJORITÁRIA) Para MANOEL GONÇALVES FERREIRA FILHO, entende-se, na verdade, todos os direitos fundamentais (individuais, coletivos, sociais, nacionalidade e direitos políticos). Usa-se interpretação EXTENSIVA. Assim, PEC que abolisse salário mínimo seria inconstitucional. 
O STF tem acórdão dizendo que licença gestante é cláusula pétrea,ou seja, é extensiva limitação a qualquer direito fundamental. 
2) PROFUNDIDADE: O quer dizer a CF com a expressão “tendente a abolir”? De um lado é possível acrescentar, do outro não é possível abolir. Mas, e no caso das pequenas reformas em que se mantém seu núcleo essencial? A cláusula pétrea é um dogma ou é possível mudança? Como exemplo, poderíamos ter um salário mínimo ESTADUAL? 
1ªC: GERALDO ATALIBA entende ser impossível, pois só seria acréscimo, não sendo possível a subtração ou modificação (pois qualquer modificação é tendente a abolir). 
2ªC: (MAJORITÁRIA) Para NAGIBE SLAIBI FILHO, é possível desde que essa modificação preserve o núcleo essencial (características do direito que, sem elas, ele se desnatura). Não seria tendente a abolir, pois a cláusula não é um dogma.
ATENÇÃO: todos os direitos são cláusulas pétrea, mas de cada um só se protege o seu núcleo essencial. 
LIMITAÇÕES IMPLÍCITAS CONTROVERSAS:
I- Enumeração das limitações materiais explícitas: DUPLA REFORMA.
Aqui, queremos saber o que é a dupla reforma, sendo esta o modo indireto de se violar uma cláusula pétrea. A premissa é de que quando a CF define uma cláusula prevê que as normas sobre aquelas matérias não podem ser modificadas. Todavia, nada diz sobre poder ser modificada a norma que preveja essas matérias. 
Como exemplo: Se quisermos abolir o sigilo do voto, vemos que o Art. 60, §4º, II diz ser cláusula pétrea o voto secreto. Assim, não seria possível uma EC prevendo voto público. A dupla reforma diz que a norma do Art. 60, §4º, II não é protegida e pode-se revogar este dispositivo. Posteriormente, seria feita outra emenda agora prevendo o voto público. 
Aqui há controvérsia:
MANOEL GONÇALVES FERREIRA FILHO diz ser possível a dupla reforma, pois não há nada que a vede. Ainda, não seria possível entender que uma geração impusesse sobre a outra seus valores. 
A posição majoritária entende que não é possível. O argumento é de que há limitação material implícita sobre a enumeração das limitações materiais explícitas. 
II- Forma e sistema de Governo:
GUSTAVO JUST DA COSTA E SILVA entende que é possível a modificação da forma e sistema de governo, pois não há limitação material explícita. Para ele, a consulta popular não seria condição, embora se legitimasse. 
FABIO KONDER COMPARATO (MAJORITÁRIO) entende que não é possível, pois há limitação implícita (houve plebiscito e o povo escolheu república presidencialista, havendo preclusão). Só seria possível isso se fosse veiculado em nova Constituição. Mutatis Mutandis, é a mesma discussão que houve no Brexit. 
Assim, temos as seguintes limitações implícitas:
i. Titularidade e exercício do poder constituinte (Art. 1º, §único);
ii. Processo de reforma constitucional (Art. 60, caput, §§ 2º, 3º e 5º);
iii. Enumeração das limitações materiais explícitas;
iv. Forma e sistema de governo;
v. Nova revisão à Constituição.
É isso, meus caros. Espero que tenham gostado do caderno e bons estudos!
Divulguem e compartilhem 
SDG
JURISPRUDÊNCIA CORRELATA
EMENTA: PRISÃO CIVIL. Depósito. Depositário infiel. Alienação fiduciária. Decretação da medida coercitiva. Inadmissibilidade absoluta. Insubsistência da previsão constitucional e das normas subalternas. Interpretação do art. 5º, inc. LXVII e §§ 1º, 2º e 3º, da CF, à luz do art. 7º, § 7, da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica). Recurso improvido. Julgamento conjunto do RE nº 349.703 e dos HCs nº 87.585 e nº 92.566. E ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito. 
(...) diante do inequívoco caráter especial dos tratados internacionais que cuidam da proteção dos direitos humanos, não é difícil entender que a sua internalização no ordenamento jurídico, por meio do procedimento de ratificação previsto na CF/1988, tem o condão de paralisar a eficácia jurídica de toda e qualquer disciplina normativa infraconstitucional com ela conflitante. Nesse sentido, é possível concluir que, diante da supremacia da CF/1988 sobre os atos normativos internacionais, a previsão constitucional da prisão civil do depositário infiel (art. 5º, LXVII) não foi revogada (...), mas deixou de ter aplicabilidade diante do efeito paralisante desses tratados em relação à legislação infraconstitucional que disciplina a matéria (...). Tendo em vista o caráter supralegal desses diplomas normativos internacionais, a legislação infraconstitucional posterior que com eles seja conflitante também tem sua eficácia paralisada. (...) Enfim, desde a adesão do Brasil, no ano de 1992, ao PIDCP (art. 11) e à CADH — Pacto de São José da Costa Rica (art. 7º, 7), não há base legal para aplicação da parte final do art. 5º, LXVII, da CF/1988, ou seja, para a prisão civil do depositário infiel. [RE 466.343, rel. min. Cezar Peluso, voto do min. Gilmar Mendes, P, j. 3-12-2008, DJE 104 de 5-6-2009, Tema 60.]
É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito. [Tese definida no RE 466.343, rel. min. Cezar Peluso, P, j. 3-12-2008, DJE 104 de 5-6-2009, Tema 60.]
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. RESOLUÇÃO N. 1 - RCF, DO CONGRESSO NACIONAL, DE 18.11.1993, QUE DISPÕE SOBRE O FUNCIONAMENTO DOS TRABALHOS DE REVISÃO CONSTITUCIONAL E ESTABELECE NORMAS COMPLEMENTARES ESPECIFICAS. AÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE AJUIZADA PELO GOVERNADOR DO ESTADO DO PARANA. ALEGAÇÕES DE OFENSA AO PARÁGRAFO 4. DO ART. 60 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, EIS QUE O CONGRESSO NACIONAL, PELO ATO IMPUGNADO, "MANIFESTA O SOLENE DESIGNIO DE MODIFICAR O TEXTO CONSTITUCIONAL", MEDIANTE "'QUORUM' DE MERA MAIORIA ABSOLUTA", "EM TURNO ÚNICO" E "VOTAÇÃO UNICAMERAL". SUSTENTA-SE, NA INICIAL, ALÉM DISSO, QUE A REVISÃO DO ART. 3. DO ADCT DA CARTA POLÍTICA DE 1988 NÃO MAIS TEM CABIMENTO, POR QUE ESTARIA INTIMAMENTE VINCULADA AOS RESULTADOS DO PLEBISCITO PREVISTO NO ART. 2. DO MESMO INSTRUMENTO CONSTITUCIONAL TRANSITORIO. "EMENDA" E "REVISÃO", NA HISTÓRIA CONSTITUCIONAL BRASILEIRA. EMENDA OU REVISÃO, COMO PROCESSOS DE MUDANCA NA CONSTITUIÇÃO, SÃO MANIFESTAÇÕES DO PODER CONSTITUINTE INSTITUIDO E, POR SUA NATUREZA, LIMITADO. ESTÁ A "REVISÃO" PREVISTA NO ART. 3. DO ADCT DE 1988 SUJEITA AOS LIMITES ESTABELECIDOS NO PARÁGRAFO 4. E SEUS INCISOS, DO ART. 60, DA CONSTITUIÇÃO. O RESULTADO DO PLEBISCITO DE 21 DE ABRIL DE 1933 NÃO TORNOU SEM OBJETO A REVISÃO A QUE SE REFERE O ART. 3. DO ADCT. APÓS 5 DE OUTUBRO DE 1993, CABIA AO CONGRESSO NACIONAL DELIBERAR NO SENTIDO DA OPORTUNIDADE OU NECESSIDADE DE PROCEDER A ALUDIDA REVISÃO CONSTITUCIONAL, A SER FEITA "UMA SÓ VEZ". AS MUDANCAS NA CONSTITUIÇÃO, DECORRENTES DA "REVISÃO" DO ART. 3. DO ADCT, ESTAO SUJEITAS AO CONTROLE JUDICIAL, DIANTE DAS "CLAUSULAS PETREAS" CONSIGNADAS NO ART. 60, PAR. 4. E SEUS INCISOS, DA LEI MAGNA DE 1988. NÃO SE FAZEM, ASSIM, CONFIGURADOS OS PRESSUPOSTOS PARA A CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR, SUSPENDENDO A EFICACIA DA RESOLUÇÃO N. 01, DE 1993 - RCF, DO CONGRESSO NACIONAL, ATÉ O JULGAMENTO FINAL DA AÇÃO. MEDIDA CAUTELAR INDEFERIDA (STF - ADI: 981 PR, Relator: Min. NÉRI DA SILVEIRA, Data de Julgamento: 17/12/1993, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 05-08-1994 PP-19299 EMENT VOL-01752-01 PP-00030).

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