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GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE MATERIAIS FUNDAÇÃO CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTADUAL DA ZONA OESTE - UEZO Disciplina: Materiais Compósitos – 2/P - 2020 Prof (a). Alex Siqueira Aluno: Pedro Henrique Poubel Mendonça da Silveira Data: 24/05/2021 Atividade: Resumo sobre constantes elásticas em materiais compósitos INTRODUÇÃO Segundo a norma ASTM D3878 (2016), a definição de material compósito é de uma substância composta por dois ou mais materiais, insolúveis um ao outro, no qual estes materiais são combinados de maneira a serem úteis em aplicações de engenharia, onde essas aplicações não seriam obtidas da mesma maneira satisfatória se estes materiais fossem usados de maneira isolada. Os compósitos possuem propriedades específicas, e por essa razão, são utilizados em uma vasta gama de aplicações, como: indústria aeroespacial, indústria automotiva, bioengenharia, transportes, entre diversas outras. A combinação de propriedades de maneira engenhosa, permite que diversos tipos de materiais possam ser usados nos compósitos, tais como: metais, cerâmicas e polímeros, resultando propriedades superiores aos materiais originais, satisfazendo os requisitos para as aplicações desejadas. Os compósitos e principalmente os compósitos plásticos vêm ganhando espaço significativo nas pesquisas atuais, na busca por combinar alto desempenho e facilidade de fabricação, já que atendem bem a esses requisitos, somando-se ainda a vantagem de possuírem baixo peso, parâmetro imprescindível em aplicações estruturais. Sua durabilidade e integridade em vários ambientes de serviço podem ser alterados pela resposta de seus constituintes, isto é, fibra, matriz polimérica, e devido a existência da interface entre a matriz e a fibra (SETHI; RAY, 2015). CARACTERÍSTICAS E CLASSIFICAÇÕES Os compósitos possuem diversas características que os diferenciam de outras classes de materiais, essas características estão relacionadas com sua composição, orientação das fibras de reforço e geometria do material. Os reforços são os materiais que apresentam maior resistência nos compósitos. Geralmente são indicados como a fase dispersa, sendo os principais meios para transportar a carga nos materiais compósitos, apresentando maior resistência e módulo e elasticidade. As fibras sintéticas são o tipo de reforço mais comum, e em maioria, são produzidas a partir de resinas derivadas do petróleo. Algumas das principais fibras utilizadas como material de reforço nos compósitos são: náilon, vidro, polipropileno, polietileno, carbono e a aramida. A matriz é o constituinte contínuo do compósito, mas nem sempre está presente em maior concentração. O segundo constituinte, disperso na fase matriz, é chamado como fase de reforço, que atua melhorando as propriedades mecânicas da matriz. O material da matriz é o elemento utilizado para aglutinar o reforço ao material compósito, preenchendo os espaços vazios que ficam entre os elementos de reforço e mantendo- os em suas posições relativas, fazendo a matriz se ligar a este reforço, e agindo como um intermediário, onde as tensões são transmitidas e distribuídas ao longo deste reforço. Uma característica importante é que a resposta mecânica dos materiais compósitos depende de uma gama de fatores, como acerca da natureza de seus constituintes, ou seja, tipos de reforço e matriz, o percentual de seus constituintes, como também a distribuição e orientação das fibras (MATTHEWS; RAWLINGS, 1994). CONSTANTES DE ENGENHARIA PARA MATERIAIS COMPÓSITOS Os materiais compósitos são submetidos aos mais diversos tipos de esforços. Esses esforços, por sua vez, chegam a deformar o material de maneira elástica e plástica, chegando mesmo a levá-los à ruptura. A maneira como esses esforços influenciam o material vai depender das suas constantes elásticas. Na engenharia damos o nome a essas constantes de constantes de engenharia, que representam suas propriedades elásticas. Os ensaios mecânicos são processos responsáveis pela identificação das propriedades mecânicas de um material. Nestes ensaios é necessário que o estado de tensões aplicado seja simples, preferencialmente uniaxial, de forma que a relação tensão-deformação envolva apenas um parâmetro (CÂMARA, 2013). Para investigar as propriedades elásticas do material, existem os módulos de engenharia. Segundo Nielsen e Landel (1993), para materiais unidirecionais, por ser um material ortotrópico, temos apenas 5 módulos. Para melhor entendimento, essas constantes são encontradas na equação 2 a partir da equação 1, onde os valores antes de S serão substituídos pelos valores das constantes de engenharia. A partir da definição de matérias ortotrópicos (MENDONÇA, 2005), é possível chegar nas seguintes expressões das equações 3 e 4. Logo, para esses materiais, podemos considerar as seguintes propriedades mecânicas como independentes: E1, E2, v12, v23 e G12. As outras constantes acabam sendo dependentes, por isso é considerado que estes materiais possuem 5 constantes de engenharia. { 𝜀1 𝜀2 𝜀3 𝛾23 𝛾31 𝛾12} = [ 𝑆11 𝑆12 𝑆13 0 0 0 𝑆12 𝑆22 𝑆23 0 0 0 𝑆13 𝑆23 𝑆33 0 0 0 0 0 0 𝑆44 0 0 0 0 0 0 𝑆55 0 0 0 0 0 0 𝑆66] { 𝜎1 𝜎2 𝜎3 𝜏23 𝜏31 𝜏12} (1) { 𝜀1 𝜀2 𝜀3 𝛾23 𝛾31 𝛾12} = [ 1 𝐸1 −𝑣21 𝐸2 −𝑣31 𝐸3 0 0 0 −𝑣12 𝐸1 1 𝐸2 −𝑣31 𝐸3 0 0 0 −𝑣13 𝐸1 −𝑣23 𝐸2 1 𝐸3 0 0 0 0 0 0 1 𝐺23 0 0 0 0 0 0 1 𝐺31 0 0 0 0 0 0 1 𝐺12] { 𝜎1 𝜎2 𝜎3 𝜏23 𝜏31 𝜏12} (2) 𝐸3 = 𝐸2 ∴ 𝑣13 = 𝑣12 ∴ 𝑣23 = 𝑣32 (3) 𝐺31 = 𝐺12 ∴ 𝐺23 = 𝐸2 2(1+𝑣23) (4) ANÁLISE DE CISALHAMENTO EM COMPÓSITOS O módulo de cisalhamento é uma propriedade que está relacionada com a tensão de cisalhamento e a deformação cisalhante. Em compósitos unidirecionais, temos o módulo de cisalhamento longitudinal (G12) e o módulo de cisalhamento transversal (G23). A maneira de averiguar determinada propriedade mecânica dos materiais é através dos ensaios mecânicos, no caso do módulo de cisalhamento é necessário realizar experimentos que envolvam um estado puro e uniforme de tensões cisalhantes, sendo este mais complexo que os ensaios de tração e compressão. De acordo com Odegard e Kumosa (2000) existem vários tipos métodos de ensaio de cisalhamento, cada um com suas particularidades e limitações que são: o ensaio de Iosipescu, tubo torcional, slotted tensile, tração a ±45º, two-rail, cross-beam sandwich, picture-frame panel, Arcan, e o ensaio de cisalhamento a 10º fora do eixo (10º off- axis shear tests). Contudo os principais métodos são o ensaio de Iosipescu e o ensaio de tração a 45º. O ensaio de Iosipescu, desenvolvido por Nicolai Iosipescu, aplicado em metais, posteriormente esse ensaio foi aplicado a materiais compósitos unidirecionais. Os fatores dominantes que são responsáveis pela não-linearidade dos materiais compósitos utilizando os materiais compósitos são: deslizamento do corpo prova, não linearidade geométrica, plasticidade da matriz, dano causado por esmagamento e dano intralaminar na seção do galgo depois da formação da divisão axial (ODEGARD; KUMOSA, 2000). O ensaio de tração à 45° foi modelado por Rosen (1972), que propôs um simples procedimento para avaliar o valor do módulo de cisalhamento longitudinal em compósitos unidirecionais. Através de valores experimentais de tração uniaxial, das deformações longitudinais e transversais foi possível obter o valor do módulo G12 pela seguinte expressão:𝐺12 = 𝜎𝑥 2(𝜀𝑥−𝜀𝑦) (5) Onde: G12 = módulo de cisalhamento longitudinal da lâmina; σx = tração uniaxial aplicada εx e εy = deformação longitudinal da lâmina e transversal da lâmina. O laminado deve estar com configuração ± 45º, sendo requerido apenas o ensaio de tração uniaxial. A literatura explicita que esse método também pode ser utilizado para obter as curvas não lineares de tensão e deformação cisalhantes. Contudo, as curvas resultantes podem refletir uma possível relação entre os módulos cisalhantes, longitudinal e transversal, por isso infere-se que esse método ainda requer mais estudo. TENSÃO ÚLTIMA EM COMPÓSITOS A tensão última longitudinal, também chamada de resistência última do material, é uma propriedade mecânica que se relaciona com o módulo de elasticidade e com a deformação longitudinal. Nos materiais compósitos não se tem uma relação direta dessas propriedades, como por exemplo nos metais, e isso dificulta sua predição. Para estes materiais, as propriedades mecânicas são determinadas em função da fração volumétrica (Vf). A resistência longitudinal do compósito é controlada pela tensão última da fibra (σult,f). Um método para predizer a tensão última longitudinal foi desenvolvido por Kelly e Davies em 1965, onde há uma equação em função da fração volumétrica de fibra (Vf), da resistência da fibra (σult,f) e da resistência da matriz (σm), que é exibida a seguir na equação 6. Eles também especificaram valores críticos de fração volumétrica requeridos para que a resistência do compósito seja maior que a da matriz (HARAKOVICH, 2012). 𝜎𝑢𝑙𝑡,𝑐 = 𝜎𝑢𝑙𝑡,𝑓𝑉𝑓 + 𝜎𝑚(1 − 𝑉𝑓) (6) FRAÇÃO MÁSSICA E VOLUMÉTRICA DO COMPÓSITO Os teores de fibra e matriz nos materiais compósitos são expressos em frações volumétricas e mássicas, indicadas a seguir nas equações 7 e 8: 𝑉𝑓 = 𝐴𝑓 𝐴𝑐 ∴ 𝑉𝑚 = 𝐴𝑚 𝐴𝑚 ∴ 𝑉𝑣 = 𝐴𝑣 𝐴𝑣 (7) 𝑀𝑓 = 𝑚𝑓 𝑚𝑐 ∴ 𝑀𝑚 = 𝑚𝑚 𝑚𝑐 (8) Na equação 7 é possível observar uma razão que determina o valor da fração volumétrica dos componentes do compósito, sendo o termo o volume composto pelos subíndices f, m, v e c, que indicam os valores para fibra, matriz, vazios e do compósito, respectivamente. Da mesma forma, a equação 8 é uma razão que relaciona as massas (mf e mm) da fibra e matriz com a total (mc), do material compósito, indicando suas frações mássicas (M). Outra forma de se obter a fração mássica da fibra e matriz é através da densidade dos seus constituintes, de forma que ficamos com as equações 9 e 10: 𝑉𝑓 = ( 𝜌𝑓 𝜌𝑐 ) 𝑉𝑓 (9) 𝑉𝑚 = ( 𝜌𝑚 𝜌𝑐 ) 𝑉𝑚 (10) Os compósitos unidirecionais com fibras de seção circular exibem uma limitação com relação ao volume máximo teórico de reforço em fibras. Nessa análise é considerada puramente as configurações geométricas da fibra distribuída na matriz, levando em conta sua secção transversal e o tipo de fibra. Considerando a situação onde as fibras estão dispostas ordenadamente e em fileiras com uma fibra em cima da outra é possível demonstrar que o valor máximo de volume de fibra que pode ser obtido em um compósito é de 78,5%, por isso é considerado que o percentual volumétrico de fibra só pode atingir 70% em uma lâmina unidirecional. MICROMECÂNICA DE COMPÓSITOS UNIDIRECIONAIS No estudo da micromecânica das propriedades de um compósito unidirecional, além das propriedades individuais da fibra e matriz é importante se conhecer os percentuais volumétricos de cada fase, determinando sua influência no material. Também existem fatores, que podem influenciar no comportamento das propriedades mecânicas, tais como, nível de aderência entre a fibra e a matriz, tensões residuais, disposição geométrica das fibras, porém a análise completa de todos esses fatores inviabiliza o cálculo e dificulta sua aplicação (CÂMARA, 2013; MENDONÇA, 2005; HERAKOVICH, 1998). No estudo da micromecânica, um dos modelos mais simples é chamado de regra das misturas (MENDONÇA, 2005), ou de modelo de primeira ordem (VASILIEV; MOROZOV, 2001). Esse modelo requer as propriedades da fibra e matriz à fração volumétrica de fibras. Na figura 1 o esquema desse modelo com a lâmina constituída de fibra (região escura) e de matriz (região clara). Assumindo que o modelo está sob carregamento no plano, com as respectivas tensões σ1, σ2 e τ12, é possível fazer as seguintes proposições: Figura 1. Modelo de primeira ordem de compósito unidirecional (VASILIEV e MOROZOV, 2001). A força resultante, resultante no produto σ1a, é distribuída entre as tiras de fibra e matriz, e a deformação longitudinal (direção 1), que é a mesma nas tiras e lâmina como um todo. Outro resultado observado é que sob carregamento transversal, a tensão sob as tiras é a mesma e é dada por σ2, enquanto a deformação na direção transversal é dada pela soma das deformações da fibra e matriz. A partir desse modelo, é possível obter algumas propriedades dos compósitos, como por exemplo os módulos de elasticidade longitudinal (E1) e transversal (E2), e o coeficiente de Poisson (v12). A seguir, é mostrada as equações 11 e 12, que determinam os módulos de elasticidade longitudinal e o coeficiente de Poisson, respectivamente: 𝐸1 = 𝐸𝑓𝑉𝑓 + 𝐸𝑚𝑉𝑚 (11) 𝑣12 = 𝑣𝑓𝑉𝑓 + 𝑣𝑚𝑉𝑚 (12) Nas equações 8 e 9, Ef, Em, vf e vm são os módulos de elasticidade da fibra e matriz, e os coeficientes e Poisson da fibra e matriz, respectivamente. Os termos Vf e Vm representam as frações volumétricas da fibra e matriz, respectivamente. As equações para o E1 e v12 apresentam boas correspondências com os valores experimentais. As equações para o módulo de elasticidade transversal (E2) e para o módulo de cisalhamento longitudinal (G12) são mostradas abaixo nas equações 13 e 14. 1 𝐸2 = 𝑉𝑓 𝐸𝑓 + 𝑉𝑚 𝐺𝑚 (13) 1 𝐺12 = 𝑉𝑓 𝐺𝑓 + 𝑉𝑚 𝐺𝑚 (14) Os termos Gf e Gm representam os módulos de cisalhamentos para a fibra e matriz, respectivamente. Apesar de as equações 11 e 12 serem bem fundamentadas matematicamente, seu uso em projetos de engenharia é impraticável. Na prática, para o módulo de cisalhamento (G12), têm-se um comportamento que tende a não linearidade. Na realidade, nenhuma secção do compósito é constituída somente de matriz e fibra. A hipótese de que as tensões distribuídas na fibra e matriz são iguais é errônea. Outro fator é a existência de tensões internas, e da falta de aderência da fibra e matriz que são desprezadas nesse modelo. Isso faz com que seus valores fiquem destoantes dos valores experimentais (GIBSON, 1994; MENDONÇA, 2005). REFERÊNCIAS ASTM INTERNATIONAL. D3878 – 16: Standard Terminology for Composite Materials. West Conshohocken, PA, 2016. CÂMARA, E. C. B. Previsão do módulo de elasticidade transversal de compósitos unidirecionais atravésde redes mistas. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica), p. 78, 2013 – Programa de Pós Graduação em Engenharia Mecânica, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2013. GIBSON, R. F. Principles of composite material mechanics. McGraw-Hill, [s. l], 1994 MATTHEWS, F. L.; RAWLINGS, R. D. Composite materials: Engineering and Science. Londres: Chapman & Hall, 1994 MENDONÇA, P. DE T. R. DE. Materiais compostos e estruturas-sanduíche : projeto e análise. Barueri: Manole, 2005. NIELSEN, L.; LANDEL, R. Mechanical properties of polymers and composites. New York: Marcel Dekker, 1994. ODEGARD, G.; KUMOSA, M. Determination of shear strength of unidirectional composite materials with the Iosipescu and 10° off-axis shear tests. Composites Science and Technology, v. 60, n. 16, p. 2917–2943, 2000. SETHI, S.; RAY, B. C. Environmental effects on fibre reinforced polymeric composites: Evolving reasons and remarks on interfacial strength and stability. Advances in Colloid and Interface Science, v. 217, p. 43–67, 2015. VALERY V. VASILIEV; EVGENY V MOROZOV. Mechanics and Analysis of Composite Materials. 1 ed. [s.l.] Elsevier Science, 2001.
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