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Gestão Financeira Pública Profa. Marcia Maria Graça Costa 2 BLOCO 3. POLÍTICAS E PROCESSO ORÇAMENTÁRIO Olá, aluno! Você já pensou de que maneira o governo decide como utilizar os recursos obtidos pelas fontes de financiamento? Quem decide se os valores arrecadados serão gastos com escolas ou hospitais, estradas ou aeroportos, por exemplo? As decisões quanto ao que deve ser feito com os recursos obtidos pelo governo toma por base o diagnóstico das necessidades. Além disso, essas necessidades são priorizadas para que se possa atender as necessidades mais urgentes. Esse processo faz parte do Planejamento Governamental, que inclui o Orçamento Público. Dessa forma, os objetivos deste bloco são: conhecer as origens do orçamento público no mundo e compreender sua evolução no Brasil, entender a sistemática e os princípios de planejamento aplicados à gestão pública no Brasil, bem como verificar o ciclo que integra o planejamento e o orçamento brasileiros. 3.1. História e evolução do orçamento público 3.1.1. Inglaterra A primeira versão do orçamento público, que pode ser confirmada, surgiu na Inglaterra, em 15 de junho de 1215, com divulgação da Magna Carta pelo Rei John Lackland. A carta foi divulgada pelas pressões dos barões feudais, integrantes do Conselho Comum, que buscavam limitar o poder de tributar do rei. Essa carta é considerada um precursor do orçamento público, mesmo não envolvendo a despesa pública, pois seu artigo 12 definiu a primeira forma de controle do “Parlamento” sobre a monarquia, ou seja, o princípio tributário do consentimento. Conforme Giacomoni (2005, p. 30) [...] o art. 12 da famosa Magna Carta, outorgada em 1217 pelo Rei João Sem Terra: Nenhum tributo ou auxílio será instituído no Reino, senão pelo seu conselho comum, exceto com o fim de resgatar a pessoa do Rei, fazer seu primogênito cavaleiro e casar sua filha mais velha uma vez, e os auxílios para esse fim serão razoáveis em seu montante. 3 3.1.2. França Assim como no caso inglês, na França, o orçamento também surgiu após a adoção do princípio do consentimento popular do imposto, consagrado pela Revolução Francesa de 1789. A partir de 1831, o controle parlamentar sobre o orçamento passou a ser completo, com sua participação em todas as etapas de planejamento, aprovação e execução. O sistema orçamentário francês ajudou a consolidar algumas regras orçamentárias, que hoje são consideradas básicas. São elas: anualidade do orçamento; votação do orçamento antes do início do exercício; inclusão de todas as previsões financeiras para o exercício (que é o atual princípio da universalidade); e não vinculação da receita a algumas despesas específicas (GIACOMONI, 2005). 3.1.3. Estados Unidos Nos Estados Unidos, a partir de 1802, a Câmara dos Representantes designou uma “Comissão de Meios e Recursos” que passou a assumir forte controle sobre as finanças do governo. O Secretário do Tesouro, ao lado da apresentação de seu relatório anual, submetia ao Congresso o levantamento preliminar das necessidades de despesas das diversas unidades que compunham o governo. A Comissão dos Meios e Recursos fazia o papel de órgão de planejamento, consolidava os programas setoriais e possibilitava uma visão de conjunto das finanças do Estado. Em 1910, o presidente Taft designou a “Comissão de Economia e Eficiência” com o objetivo de realizar estudos e modernizar a administração federal. Em 1912, o presidente encaminhou ao Congresso o relatório da comissão e recomendou a adoção de um verdadeiro e novo orçamento nacional. Em 1919, ele designou uma comissão para estudar o assunto. As conclusões foram no sentido da adoção de um orçamento elaborado pelo Poder Executivo e aprovado pelo Poder Legislativo, proposta aprovada neste mesmo ano pela Câmara e transformada em lei, em 1921, sob a denominação de “Lei de Orçamento e Contabilidade” (GIACOMONI, 2005). 4 3.1.4. Brasil a) Império Aqui, no Brasil, o orçamento tem origem na Constituição Imperial de 1824, quando surgem as primeiras exigências para a elaboração de orçamentos formais por parte das instituições imperiais. Por essa constituição, só uma lei votada pelo parlamento poderia autorizar o gasto. O orçamento era elaborado pelo Executivo e encaminhado para aprovação da Assembleia Geral. As leis sobre impostos eram iniciativa da Câmara dos Deputados (GIACOMONI, 2005). Em 1827, foi formulada a primeira lei orçamentária brasileira. No entanto, os mecanismos de arrecadação nas províncias eram deficientes, além de haver dificuldades de comunicação e conflitos com normas legais, o que impediu a aplicação da lei. É por isso que o “primeiro orçamento brasileiro teria sido aprovado pelo Decreto Legislativo de 15 de dezembro de 1830, que fixava a despesa e orçava a receita das antigas províncias para o exercício de 1831” (GIACOMONI, 2005, p. 40). b) República - Constituição de 1891 Após a Proclamação da República, foi elaborada a Constituição de 1891, que alterou as competências em relação ao orçamento. Ele passou a ser elaborado pelo Congresso Nacional, com base nas projeções feitas pelo Poder Executivo. Para auxiliar o Congresso no controle de gastos, foi criado um Tribunal de Contas. A Câmara dos Deputados assumiu a iniciativa, mas como observa Arizio de Viana, ela (a iniciativa) “sempre partiu do gabinete do ministro da Fazenda que, mediante entendimentos reservados e extraoficiais, orientava a comissão parlamentar de finanças na confecção da lei orçamentária” (GIACOMONI, 2005, p. 41) Com a República, as antigas províncias transformaram-se em Estados regidos por constituições próprias, o que lhes assegurou grande autonomia. Igualmente, a primeira constituição republicana tratou de estender essa autonomia aos Municípios. O País entrou no século XX e ultrapassou suas duas primeiras décadas sem maiores novidades na questão da organização das finanças públicas. O clima reformista e questionador que marcou a mesma época nos Estados Unidos 5 não foi sentido aqui. A economia brasileira era caracterizadamente agroexportadora e a industrialização e a urbanização eram fenômenos tímidos, a ponto de não exigirem grande atuação do setor público. Em 1922, por ato do Congresso Nacional, foi aprovado o Código de Contabilidade da União. Tal norma e seu regulamento logo baixados constituíram importante conquista técnica, pois possibilitou ordenar toda a gama imensa de procedimentos orçamentários, financeiros, contábeis, patrimoniais etc., que já caracterizavam a gestão em âmbito federal (GIACOMONI, 2005, p. 41). c) Estado Novo – Constituições dos anos 1930 A Revolução de 1930 trouxe a modernização do aparelho do Estado. A autonomia dos Estados e o federalismo da Constituição Federal de 1891 cederam lugar à centralização da maior parte das funções públicas na área federal. [...] A competência para elaboração da proposta orçamentária é atribuída ao Presidente da República. [...] O Legislativo encarregava-se da votação do orçamento e do julgamento das contas do Presidente, com auxílio do Tribunal de Contas. (GIACOMONI, 2005, p. 42.) A Constituição de 1937 foi gerada no regime autoritário do Estado Novo. A proposta orçamentária seria elaborada por um Departamento Administrativo junto à Presidência da República e votada pela Câmara dos Deputados e pelo Conselho Federal (GIACOMONI, 2005, p. 42) Essa competência seria do DASP ‒ Departamento Administrativo do Serviço Público cujo diretor presidia a Comissão de Orçamento do Ministério da Fazenda. O orçamento era aprovado pelo Presidente. Em 1939, foi instituído o Plano Especial de Obras Públicas e Aparelhamento da Defesa Nacional, cujas despesas eram cobertas por créditos paralelos ao orçamento geral da União. Em 1943, esse plano foi transformadoem Plano de Obras e Equipamentos, configurando-se, assim, um orçamento paralelo de capital, com a quebra do Princípio da Unidade (GIACOMONI, 2005). 6 d) Constituição de 1946 A redemocratização do País veio com a Constituição de 18 de setembro de 1946. O orçamento voltou a ser do “tipo misto” (na classificação de Arizio de Viana): o Executivo elaborava o projeto de lei de orçamento e o encaminhava para discussão e votação nas casas legislativas. Com o instituto da emenda, os legisladores coparticipavam da elaboração orçamentária. Os dispositivos constitucionais sobre o orçamento consagravam certos princípios básicos (unidade, universalidade, exclusividade e especialização), além de evidenciar, de forma mais clara, o papel do Tribunal de Contas. (GIACOMONI, 2005, p. 43) Entretanto, essa abertura foi exagerada, pois as emendas não exigiam os cancelamentos compensatórios de outras despesas. Como consequência, em 1959, o número de emendas foi de 8.572 e, em 1963, alcançou quase 100 mil. (GONTIJO, 2004) e) Regime Militar – anos 1960 A Constituição Federal de 1964 refletiu um equilíbrio de poder entre Executivo e Legislativo do ponto de vista do orçamento público, mas impôs restrições às emendas dos parlamentares ao orçamento elaborado pelo Poder Executivo. Para que fossem aprovadas, as emendas não poderiam conceder recursos para obras cujos projetos não estivessem aprovados, por exemplo. Outras restrições foram criadas para impedir que fossem aprovadas emendas que resultassem em aumento expressivo do gasto público (GIACOMONI, 2005). A Constituição de 1967 retirou a possibilidade de o Poder Legislativo elaborar leis ou emendas que criassem ou aumentassem despesas, inclusive emendas ao projeto de lei do orçamento. O legislativo passou a apenas homologar o projeto de orçamento criado pelo executivo (GIACOMONI, 2005). f) Constituição de 1988 É a Constituição que devolveu ao Legislativo a prerrogativa de propor emendas sobre a despesa no projeto de lei de orçamento e reforçou a concepção que associa planejamento e orçamento como elos de um mesmo sistema (GIACOMONI, 2005, p. 44). 7 As questões como exercício financeiro, prazos, vigência, elaboração, organização dos orçamentos, das normas de gestão financeira e patrimonial devem ser definidas em Lei Complementar. A elaboração de planos plurianuais passou a abranger as despesas de capital e demais programas de duração continuada. A elaboração e aprovação da lei de diretrizes orçamentárias se tornaram obrigatórias. Isso também trouxe melhor entendimento para a composição do orçamento anual que passou a ser integrado pelo orçamento fiscal, orçamento da seguridade social e orçamento de investimentos das estatais. Os princípios orçamentários da unidade, universalidade e totalidade foram explicitados e preservados (GIACOMONI, 2005). 3.2. Planejamento governamental O planejamento governamental é o instrumento que orienta a formulação de estratégias e ações do governo, a fim de atingir seus objetivos de garantir o bem-estar social e promover o desenvolvimento do país. Aqui, no Brasil, esse planejamento passou por diversas fases e reformulações, de acordo com os objetivos dos governantes (CATAPAN et al., 2013). 3.2.1. Evolução do planejamento governamental no Brasil O planejamento no Brasil tem seu marco em 1948, com a elaboração do denominado Plano SALTE, no qual foram priorizados os setores de saúde, alimentação, transporte e energia. Outra etapa importante do planejamento no país foi o Plano de Metas dos anos 1950, que privilegiava os setores de energia, o desenvolvimento dos sistemas de transportes e o fortalecimento da indústria nacional (CATAPAN et al., 2013). Em 1963, surge o Plano Trienal, com o objetivo de corrigir desníveis regionais, intensificar ações para desenvolvimento de tecnologias, reduzir a dívida externa e combater a inflação. Na década de 1970, o Plano Nacional de Desenvolvimento (I PND) deu início a uma fase de planejamento governamental baseado na formulação de planos destinados a 8 obter resultados de médio e longo prazos. Diversos planos foram desenvolvidos ao longo do tempo até chegarmos à situação atual (CATAPAN et al., 2013). Os instrumentos utilizados atualmente são orientados a partir da Constituição Federal de 1988. Ela trouxe uma reforma geral no processo de finanças públicas e estabeleceu um conjunto de determinações e orientações para fornecer ao poder público o roteiro para atuar de maneira consistente (CATAPAN et al., 2013; MARQUES, 2015). 3.2.2. Princípios do planejamento As premissas que devem ser observadas para elaboração do planejamento são os princípios aplicados à gestão pública. Esses princípios são: Racionalidade É a essência do planejamento. Ela consiste na análise das opções de ações para aproveitamento máximo dos recursos. Previsão É a base para o dimensionamento dos programas ao longo do tempo, estabelecendo o período no qual os objetivos serão alcançados (curto, médio, longo prazos). Universalidade Define a abrangência de todas as etapas do processo econômico, social e administrativo, mantendo alinhamento do planejamento às oscilações da vida econômica. Unidade Define a formação do planejamento como um todo, evitando duplicidade de esforços e desperdícios de recursos. Inerência Estabelece a adequação das diretrizes às mudanças do ambiente social para obtenção de eficiência. Continuidade Garante um planejamento permanente, com duração ilimitada. Fonte: elaborada pela autora com base em Catapan et al. (2013); Crepaldi e Crepaldi (2013). 3.2.3. Níveis do planejamento Outro aspecto relevante quanto ao planejamento, na administração pública, é o fato de existir uma certa hierarquia em sua elaboração, pois ele é realizado em níveis (CATAPAN et al., 2013). 9 a) Planejamento global O planejamento global, de acordo com Catapan et al. (2013), trata das políticas de bem-estar econômico, a partir do Produto Interno Bruto – o PIB, sobre o qual já falamos. Nesse planejamento, são avaliados o PIB total – ou seja, toda a produção de riqueza do Brasil; e o PIB per capita, que mostra a divisão do PIB total entre todos os habitantes do país. O objetivo desse planejamento é melhorar a distribuição de riquezas, atuando na redução dos níveis de pobreza, desemprego e desigualdade; além da melhoria das condições de saúde, educação, moradia e transportes. b) Planejamento regional O objetivo do planejamento regional, para Catapan et al. (2013), é a solução de problemas de determinadas regiões do país, buscando o equilíbrio entre áreas regionais. São políticas que têm conseguido reduzir a concentração de riquezas nas regiões Sul e Sudeste, transferindo-as para as demais regiões do país. Por exemplo, com a criação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste, a Sudene. O planejamento regional também busca o equilíbrio entre as regiões metropolitanas e o interior dos Estados, por exemplo, com políticas de apoio à agricultura e incentivo à manutenção das famílias nas zonas rurais. c) Planejamento setorial O planejamento setorial é voltado para segmentos específicos, tais como saúde, habitação, educação e segurança pública. Dependendo do diagnóstico obtido na fase de Preparação, o planejamento pode priorizar alguns segmentos em detrimento de outros. Por exemplo, concentração de recursos em assistência social com o programa Bolsa Família, reduzindo os recursos para cultura ou transportes (CATAPAN et al., 2013). 3.2.4. Planejamento e plano O Planejamento propriamente dito possibilita a percepção da realidade, a previsão de futuro, as estratégias e alternativas de decisão, a organização e estruturação de 10 providências para a prevenção ou correção de um problema, ou a construção de algo novo, com os recursosdisponíveis (CATAPAN et al., 2013; MARQUES, 2015). O Plano o conjunto das proposiç es resultantes do planejamento, onde estão definidas as ações a serem executadas dentro de uma programação. Ele considera variáveis como tempo, recursos financeiros, humanos, materiais, tecnológicos, entre outros. O que torna possível essa articulação entre Planejamento e Plano é a elaboração em etapas do planejamento (CATAPAN et al., 2013; MARQUES, 2015). 3.2.5. Etapas do planejamento As etapas do planejamento, como orientam Catapan et al. (2013) e Marques (2015), representam a metodologia a ser seguida para que se alcance o máximo de coerência, definição e detalhamento dos objetivos que o governo pretende alcançar em suas ideias e propósitos. Elas funcionam em um formato de ciclo, uma vez que o planejamento é uma atividade que deve respeitar o Princípio da Continuidade. Conheça-as agora. a) Diagnóstico Permite conhecer o problema, identificar suas causas e reunir informações para a formulação dos objetivos e das estratégias. Por meio do diagnóstico, são identificadas todas as realidades que envolvem o campo de ação do planejamento, com base em análises retrospectivas e prospectivas da real situação social, econômica, tecnológica, política e organizacional do cenário (MARQUES, 2015, p. 94). b) Definição de objetivos É essencial para a eficácia do processo de planejamento e para o alcance do que se quer planejar, como informar Marques (2015), que também apresenta os tipos de objetivos. O Objetivo global deve ser definido de maneira clara e objetiva para que haja amplo conhecimento da administração, e para evitar conflitos no processo decisório. Um exemplo de objetivo global é a Erradicação da Malária no país. 11 Os Objetivos específicos são os desdobramentos do Objetivo Global, são as operações necessárias para alcance do Objetivo Global. Por exemplo, para alcançar o Objetivo Global de Erradicação da Malária, podem ser objetivos específicos: a construção de postos de vacinação em localidades estratégicas, a criação de um calendário nacional de vacinação, a preparação de agentes de saúde para visitação e conscientização de moradores em locais mais atingidos pela doença, entre outros. c) Elaboração dos planos Com base no diagnóstico e nos objetivos, os planos são elaboradores. O Plano global o documento que consolida o planejamento de governo como um todo, reunindo as diretrizes gerais que nortearão a conduta administrativa, os objetivos globais e específicos, os meios e as metas que deverão ser alcançadas a curto, médio e a longo prazos (MARQUES, 2015, p. 94). Os Planos operacionais “são as parcelas de execução periódica, normalmente anual, dos planos globais” (MARQUES, 2015, p. 94). Esses planos permitem definir quais metas são priorizadas e que deverão ser executadas no curto prazo, em função da limitação de recursos humanos e materiais. d) Definição de estratégias A nalidade das estrat gias a exploração de todas as potencialidades disponíveis e a eliminação das vulnerabilidades e ameaças que podem comprometer o alcance dos objetivos. São as ações definidas com base na projeção de cenários futuros e que permitem a execução racional dos planos, mesmo que as condições no futuro não sejam favoráveis (MARQUES, 2015). e) Acompanhamento da programação O acompan amento da programação um processo que consiste na verificação e comparação de todas as ações e atividades executadas. Dessa forma, é possível verificar se os meios utilizados para a execução estão adequados e se a utilização dos recursos está evoluindo conforme programado. É o acompanhamento que permite 12 adotar medidas corretivas, sempre que necessário, para garantir o alcance das metas pretendidas (MARQUES, 2015). f) Avaliação de resultados É a última etapa do planejamento. Ela permite verificar se os objetivos programados estão sendo alcançados. Considerando a continuidade necessária do planejamento, essa etapa é essencial para que o nível de alcance dos resultados seja a base para um novo diagnóstico (MARQUES, 2015). 3.3. Ciclo integrado de planejamento e orçamento O sistema de planejamento da administração pública tem o apoio de três instrumentos: do Plano Plurianual (PPA), da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e da Lei Orçamentária Anual (LOA). Assim, o processo estabelece uma relação harmônica e interdependente dos instrumentos legais que compõem o processo de planejamento do setor público (CAPATAN, 2013; MARQUES, 2015). 3.3.1. Plano Plurianual (PPA) O PPA é realizado há cada 4 anos e tem como objetivo principal estabelecer metas de continuidade dos programas e projetos de longo prazo. Ele é realizado nas três esferas de governo: federal, estadual e municipal (CAPATAN, 2013; MARQUES, 2015). Saiba Mais Neste vídeo, você conhecerá um pouco mais sobre o PPA, seus objetivos e principais características. Nele também é destacado o papel do PPA como instrumento de articulação entre o planejamento estratégico do governo e o orçamento público. Vídeo: O que é o PPA Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=hG1Vd_SsgCc 13 Vigência: o PPA começa no segundo ano de um mandato e termina no primeiro ano do mandato seguinte, ou seja, sua vigência não é igual à dos mandatos do Poder Executivo (presidente, governador ou prefeito). Fonte: a autora (2018). Como mostra a figura, com essa vigência entre o início do segundo ano de um mandato e o final do primeiro ano do mandato seguinte, a duração do plano não coincide com o período de mandato. O próximo chefe do Executivo herda sempre o último ano de vigência do PPA do mandato anterior. O PPA apresenta dois elementos importantes, conforme Catapan et al. (2013) e Marques (2015): Objetivos: traduzem os problemas, identificados no diagnóstico, que o governo se propõe a solucionar e incluem as demandas da sociedade que se pretende atender. Eles expressam as escolhas e definições de cada governante, que serão implementadas para determinada política pública. Metas: são desdobramentos dos objetivos e estão relacionadas aos resultados esperados pela execução dos programas. São indicadores que quantificam, qualificam e definem os parâmetros para avaliar se os resultados verificáveis estão alinhados com os objetivos estabelecidos. 3.3.2. Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) É a lei que estabelece as diretrizes para elaboração da Lei do Orçamento Anual (LOA) e fornece instruções e regras a serem cumpridas na execução do orçamento (CATAPAN et al., 2013, MARQUES, 2015). Saiba Mais O vídeo destaca de que maneira a Lei de Diretrizes Orçamentárias, a partir do Plano Plurianual (PPA), estabelece as bases para elaboração dos orçamentos anuais dos governos (LOA). 14 De forma simples e didática, você perceberá a importância da LDO na definição das prioridades de curto prazo, tomando por base o planejamento de longo prazo. Vídeo: O que é a LDO Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Q66ZSkBLKr0 a) Prazos e processos O projeto de LDO deve ser encaminhado ao Poder Legislativo, de acordo com a esfera de governo, para aprovação e posterior sanção. No caso da União, o projeto de LDO deve ser encaminhado ao Congresso Nacional até o dia 15 de abril de cada ano. Nos demais níveis de governo, o processo tem normas próprias, desde que a aprovação da LDO ocorra com tempo suficiente para orientar a elaboração do projeto de lei orçamentária (CATAPAN et al., 2013, MARQUES, 2015). b) Conteúdo Deve conter as metas e as prioridades para o exercício financeiro seguinte. Inclui alterações na legislação tributária e o estabelecimento da política de aplicação das agências financeiras de fomento. Fixa os parâmetros para remuneração do Poder Legislativo e os limites do Poder Judiciário e do MinistérioPúblico (CATAPAN et al., 2013, MARQUES, 2015). c) Anexo de Metas Fiscais Documento que apresenta como a política fiscal será conduzida pelo governo nos próximos exercícios. Deve conter as metas para o desempenho da Receita e da Despesa, os Resultados Primário e Nominal, bem como o Montante da Dívida Pública para o exercício a que se refere à LDO, além de sinalizar as metas fiscais para os dois exercícios seguintes (CATAPAN et al., 2013; MARQUES, 2015). d) Anexo de Riscos Fiscais Documento que contém a avaliação dos passivos contingentes e de outros riscos que possam afetar as contas públicas. Também serão determinadas, previamente, as 15 providências que poderão ser tomadas, caso os riscos previstos venham a acontecer (CATAPAN et al., 2013; MARQUES, 2015). 3.3.3. Lei Orçamentária Anual (LOA) É uma proposta de orçamento anual que apresenta o valor das despesas e receitas públicas que o governo pretende realizar num determinado exercício financeiro. Ela é elaborada pelo Poder Executivo e aprovada pelo Poder Legislativo (CATAPAN et al., 2013; GIACOMONI, 2005). Saiba Mais Mais um vídeo da série Orçamento Fácil, que auxilia na compreensão do que é a Lei Orçamentária Anual (LOA) e sua importância para a execução dos programas e projetos do governo. Ele também retoma, de maneira sintética, a classificação dos tributos, principal fonte de receitas para o orçamento público. Vídeo: O que é LOA Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=CWUNV7wOwYo a) Orçamento Fiscal É o principal dos três orçamentos e refere-se aos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário; contemplando toda a administração direta e indireta. Na administração indireta, as empresas públicas (Caixa Econômica Federal, por exemplo) e as sociedades de economia mista (Petrobras e Banco do Brasil, por exemplo) só entram no orçamento quando não conseguem produzir recursos para sua operação (CATAPAN et al., 2013; GIACOMONI, 2005). b) Orçamento da seguridade social Abrange as entidades e os órgãos vinculados à seguridade social – saúde, previdência social e assistência social –, tanto da administração direta quanto da indireta, bem como os fundos e as fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público. Refere-se ao orçamento de áreas funcionais, cobrindo todas as despesas classificáveis como seguridade social (pagamento de inativos, assistência à saúde de servidores etc.) e não 16 apenas entidades e órgãos da seguridade social (CATAPAN et al., 2013; GIACOMONI, 2005). c) Orçamento de investimentos das empresas São os investimentos realizados pelas empresas em que o Poder Público, direta ou indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto. As receitas e as despesas operacionais são separadas do orçamento, contemplando-se somente os investimentos das estatais, cujas fontes de recursos têm natureza de receita pública. Tendo em vista a utilização de receitas públicas, o orçamento permite maior acompanhamento e controle desses investimentos (CATAPAN et al., 2013; GIACOMONI, 2005). 3.3.4. Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) É uma importante conquista na evolução das finanças públicas do Brasil, que passaram a ser disciplinadas pelo controle do crescimento da despesa de acordo com as receitas de cada ente federativo (CATAPAN et al., 2013; MARQUES, 2015). Saiba Mais Para conhecer a maneira como a Lei de Responsabilidade Fiscal vem sendo aplicada, assista ao vídeo com uma entrevista com Júlio Marcelo, procurador do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU). Na entrevista, o procurador aborda os desafios e problemas encontrados na aplicação da lei e o papel dos órgãos reguladores, além de uma breve análise dos gastos públicos. Vídeo: Entrevista - Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=qLNph0X4EOI. Para Catapan et al. (2013), a LRF apresenta diretrizes que devem orientar a ação dos gestores públicos para obtenção do equilíbrio por meio da responsabilidade na gestão fiscal. 17 Planejamento É aperfeiçoado com o estabelecimento de metas, limites e condições para a renúncia de receita e para a agregação de despesas. Transparência É obtida com a emissão e divulgação de relatórios periódicos de gestão fiscal e de execução orçamentária, garantindo acesso público e ampla divulgação. Controle É viabilizado pela ampliação dos níveis de transparência e da qualidade das informações prestadas ao público. Responsabilização É aplicada quando as regras não são cumpridas. Os responsáveis são punidos de acordo com a legislação. Fonte: elaborada pela autora com base em Catapan et al. (2013). 3.3.5. Discussão, votação e aprovação da LOA O Poder Legislativo, de acordo com a esfera de governo (municipal, estadual ou federal), avalia, discute e realiza ajustes para aprovação da Lei Orçamentária Anual (GIACOMONI, 2005; MARQUES, 2015). Os detalhes de como esse processo é conduzido estão no Bloco 4. Saiba Mais Este vídeo irá ajudá-lo a compreender a sistemática utilizada pelo Poder Executivo para elaboração do projeto da Lei Orçamentária Anual (LOA), bem como o processo de envio desse projeto para aprovação do Poder Legislativo. Ele também apresenta, de maneira sintética, os trâmites do projeto no Congresso Nacional, e as alterações que são realizadas no orçamento. Vídeo: Elaboração da LOA Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=hdbAbKafuTU 3.3.6. Execução orçamentária e financeira Após aprovação da LOA, tem início a execução do orçamento, com a aplicação dos recursos previstos para alcançar os objetivos e metas definidos. A execução orçamentária acontece com a utilização dos créditos definidos ou autorizados no 18 orçamento, mediante os recursos financeiros disponíveis para a realização dos programas, projetos e atividades a cargo de cada órgão de governo (GIACOMONI, 2005; MARQUES, 2015). Essa etapa é detalhada no Bloco 5. 3.3.7. Controle e avaliação da execução O controle e a avaliação do orçamento são realizados com uma perspectiva gerencial, envolvendo procedimentos, legalidade e mensuração de resultados. Com esse foco, o controle se tornou uma fase do processo da administração pública na qual é avaliado o desempenho do setor público, ao mesmo tempo que se avalia o atendimento às leis e regulamentos, e a confiabilidade das informações (GIACOMONI, 2005; MARQUES, 2015). Essa etapa é detalhada no Bloco 6. Conclusão A origem do orçamento público pode ser situada na Inglaterra, nos anos 1200, com a Magna Carta do Rei John Lackland. Nos anos 1830, o sistema orçamentário francês consolidou regras orçamentárias utilizadas até hoje: anualidade, universalidade, não vinculação de receitas. Nos Estados Unidos, as ações relacionadas ao orçamento público tiveram início em 1802, com a criação da “Comissão de Meios e Recursos” que assumiu controle sobre as finanças do governo. Aqui, no Brasil, o orçamento público tem início com a Constituição Imperial, que definiu os papéis dos Poderes Legislativo e Executivo. A partir da Proclamação da República, os Estados e municípios passam a ter constituição própria e liberdade orçamentária, e também foi criado o Tribunal de Contas. A evolução dos regimes políticos resulta em alterações quanto à autonomia dos Poderes Legislativo e Executivo na elaboração e aprovação do orçamento público. A Constituição Federal de 1988 fixa os parâmetros centrais para a elaboração, aprovação, alterações e execuções dos orçamentos públicos, nas três esferas de governo. É o modelo vigente, com poucas alterações realizadas ao longo do tempo. O planejamento governamental utiliza instrumentos para orientar as ações do governo. Atualmente, os instrumentos utilizados foram estabelecidos na Constituição Federal de 1988. Os princípios doplanejamento são: Racionalidade, Previsão, Universalidade, Unidade, Inerência e Continuidade. 19 O planejamento é elaborado nos níveis global, regional e setorial, de acordo com os objetivos que se pretende alcançar. As etapas do planejamento começam com o diagnóstico da situação atual, a partir do qual são estabelecidos os objetivos. Os planos globais e operacionais permitem organizar as ações necessárias para atingir os objetivos. As estratégias são definidas para ajustar o planejamento às variáveis de cenários futuros. A execução dos planos é acompanhada para conferir se as ações desenvolvidas e os recursos utilizados estão de acordo com o planejado, e, por fim, os resultados são avaliados. O sistema de planejamento da administração pública tem apoio em três instrumentos: Plano Plurianual (PPA), que é o plano estratégico de longo prazo do governo; Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que orienta a elaboração do orçamento anual; e a Lei Orçamentária Anual (LOA), lei do orçamento que fixa receitas e despesas do governo. A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) apresenta diretrizes que devem orientar a ação dos gestores públicos para obtenção do equilíbrio por meio da responsabilidade na gestão fiscal. Após aprovação da LOA, o orçamento é executado mediante os recursos financeiros disponíveis para a realização dos programas, projetos e atividades a cargo de cada órgão de governo. O controle e a avaliação do orçamento são realizados com uma perspectiva gerencial, envolvendo procedimentos, legalidade e mensuração de resultados. Referências CATAPAN, A. et al. Planejamento e orçamento na administração pública. 2. ed. Curitiba: Intersaberes, 2013. Série Gestão Pública. CREPALDI, S. A.; CREPALDI, G. S. Orçamento Público: planejamento, elaboração e controle. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 17-9. GONTIJO, V. Evolução histórica no Brasil. Brasília, set. 2004. Disponível em: < http://www2.camara.leg.br/orcamento-da- uniao/cidadao/entenda/cursopo/HistoricoBrasil>. Acesso em: 7 nov. 2018. MARQUES, E. Finanças públicas. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 94 e 144-6. MATIAS-PEREIRA, J. Finanças Públicas. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2017. GIACOMONI, J. Orçamento público. 13 ed. São Paulo: Atlas, 2005.
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