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Organizadores:
Antonio Rodrigues Ferreira Júnior
 Ana Nery de Castro Feitosa 
AVANÇOS E DESAFIOS PARA A
SAÚDE E COLETIVIDADE NA
CONTEMPORANEIDADE
AVANÇOS E DESAFIOS PARA A SAÚDE E
COLETIVIDADE NA CONTEMPORANEIDADE
Antonio Rodrigues Ferreira Júnior
Ana Nery de Castro Feitosa
(Organizadores)
AVANÇOS E DESAFIOS PARA A SAÚDE E
COLETIVIDADE NA CONTEMPORANEIDADE
1ª Edição
Quipá Editora
2020
Copyright © dos autores e autoras. Todos os direitos reservados.
Esta obra é publicada em acesso aberto. O conteúdo dos capítulos, os dados
apresentados, bem como a revisão ortográfica e gramatical, são de responsabilidade
de seus autores, detentores de todos os Direitos Autorais, que permitem o download e
o compartilhamento, com a devida atribuição de crédito, mas sem que seja possível
alterar a obra, de nenhuma forma, ou utilizá-la para fins comerciais.
CONSELHO EDITORIAL
Editor-chefe: Me. Adriano Monteiro de Oliveira, Quipá Editora
Dra. Anny Kariny Feitosa, Instituto Federal do Ceará (IFCE) / Dra. Elaine Carvalho de
Lima, Instituto Federal do Amazonas (IFAM)/ Dra. Érica C. L. Machado, Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)/ Dra. Harine Matos Maciel, Instituto Federal do
Ceará (IFCE) / Dra. Mônica Siqueira Damasceno, Instituto Federal do Ceará (IFCE). 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
________________________________________________________________________
 A946 
______________________________________________________________________
Elaborada por Rosana de Vasconcelos Sousa ― CRB-3/1409
Obra publicada pela Quipá Editora em dezembro de 2020.
Avanços e desafios para a saúde e coletividade na contemporaneidade /
Organizado por Antonio Rodrigues Ferreira Júnior e Ana Nery de Castro
Feitosa. ― Fortaleza : Quipá Editora, 2020.
289 p. : il.
ISBN 978-65-89091-14-1
DOI doi.org/10.36599/qped-ed1.013
1. Saúde coletiva. 2. Saúde pública. 3. Sistema Único de Saúde. I. Ferreira
Júnior, Antonio Rodrigues. II. Feitosa, Ana Nery de Castro. III. Título.
 CDD 614
 SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO........................................................................................10
CAPÍTULO 1..............................................................................................11
DESAFIOS E PERSPECTIVAS DA GESTÃO COLEGIADA DO SUS NO CEARÁ
Josete Malheiro Tavares
Carlos Garcia Filho
 
CAPÍTULO 2.............................................................................................23
COLONIALISMOS E DESIGUALDADES SOCIAIS EM SAÚDE: O DIÁLOGO
NECESSÁRIO ENTRE ANTROPOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA CRÍTICA LATINO
AMERICANA
Anaxsuell Fernando da Silva
CAPÍTULO 3.............................................................................................35
ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NA LINHA DE CUIDADO DO AVC – HOSPITAL
REGIONAL DO CARIRI
Maria Angela Lopes Pereira Pinheiro
Suianne Ferreira Soares Alencar
Lívia Maria dos Santos Landim
Moisés Sampaio da Silva
CAPÍTULO 4.............................................................................................46
ESPIRITUALIDADE E SUA INTERFACE COM A SAÚDE: UMA REVISÃO
Adriano Monteiro de Oliveira
CAPÍTULO 5.............................................................................................56
O IMPACTO DA CONSULTORIA EM FARMÁCIAS DE PEQUENO PORTE
Thiáskara Yris de Souza Morais
Renata Macêdo Leite
João Henrique de Lima Silva
Ana Balbina Gomes Silva 
CAPÍTULO 6..............................................................................................71
AS PESSOAS QUE VIVEM COM DIABETES E HIPERTENSÃO: O OLHAR DO
ENFERMEIRO A PARTIR DA VISITA DOMICILIAR
Mikaelly dos Santos Lima
Ana Karoline Barros Bezerra
Alexandra da Silva Lima Vieira
Maria Rocineide Ferreira da Silva
CAPÍTULO 7..............................................................................................87
ANÁLISE DOCUMENTAL DE PROJETOS POLÍTICOS PEDAGÓGICOS DE CURSOS DE
GRADUAÇÃO SOBRE VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA A MULHER
Francisca Alanny Rocha Aguiar
Raimunda Magalhães da Silva 
Antonio Rodrigues Ferreira Júnior
João Víctor Lira Dourado
CAPÍTULO 8...........................................................................................108
PERSPECTIVAS DA FORMAÇÃO DO ENFERMEIRO E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A
COMPREENSÃO DA SAÚDE COLETIVA
Daniele Keuly Martins da Silva
Débora Pena Batista e Silva
CAPÍTULO 9............................................................................................120
EDUCAÇÃO EM SAÚDE BUCAL: PLANEJAMENTO DE ESTRATÉGIAS PARA
PREVENÇÃO DE CÁRIE EM CRIANÇAS NA ESCOLA
Isabele Mendes Portella
David Gomes Araújo Júnior
Karina Oliveira de Mesquita
Antonio Rodrigues Ferreira Júnior
CAPÍTULO 10...........................................................................................138
HISTERIA OU PSICOSE: UM ESTUDO DE CASO SOBRE QUESTÕES DE
DIAGNÓSTICO
Lívia Lopes Custódio
Rachel Marinho Aquino Cavalcanti
Ilvana Lima Verde Gomes
CAPÍTULO 11...........................................................................................154
PESQUISA SOBRE POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA NO CENTRO DE FORTALEZA:
APRESENTANDO SEUS COSTUMES E COMPORTAMENTOS E NECESSIDADE DE
POLÍTICAS PÚBLICAS
Luciana Camila dos Santos Brandão
Frei Nailson Antônio Neo da Silva
Hellayne Viana Oliveira
CAPÍTULO 12...........................................................................................165
QUEM SÃO E COMO PENSAM AS DOULAS QUE PARTICIPARAM DA CONVENÇÃO
NACIONAL DAS DOULAS EM 2019
Luciana Camila dos Santos Brandão
Morgana Eneile Tavares de Almeida
Patrícia Lima Rodrigues
Antonio Rodrigues Ferreira Júnior
CAPÍTULO 13...........................................................................................181
PRINCIPAIS TRANSTORNOS ALIMENTARES DA INFÂNCIA E OS FATORES
ASSOCIADOS
Rodrigo Freitas da Costa
Joseline Maria Alves Gomes Recamonde
Nayara Aguiar Silva 
Ana Nery de Castro Feitosa
CAPÍTULO 14...........................................................................................191
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE O CORAÇÃO E A CIRURGIA CARDÍACA: UM
ESTUDO COM PACIENTES INTERNADOS EM HOSPITAIS GERAIS
Thalita Saramago de Souza
Pamela Staliano
CAPÍTULO 15..........................................................................................203
PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO DE MULHERES COM DEPRESSÃO PUERPERAL EM UM
MUNICÍPIO DO CEARÁ 
Iana Freire Rodrigues
Maria Eunice Nogueira Galeno
Roberta Nunes
Rosalice Araújo de Sousa Albuquerque
CAPÍTULO 16..........................................................................................213
CONTRIBUIÇÕES DA PSICOMOTRICIDADE PARA A SAÚDE MENTAL DO IDOSO:
REVISÃO DA LITERATURA
Maria Silane Sousa e Silva
CAPÍTULO 17..........................................................................................223
CÂNCER DE MAMA: O IMPACTO DO DIAGNÓSTICO E O APOIO
MULTIDISCIPLINAR-FAMILIAR
Maria Adey de Castro Feitosa
José Kleidir de Castro Feitosa
CAPÍTULO 18..........................................................................................237
A REGULAÇÃO EM SAÚDE E O ACESSO NO SUS
Joana Gurgel Holanda Filha
Josete Malheiro Tavares
Geovana Maria Santana Malheiro
Lucas Cavalcanti Lima
Mônica Suely Paula da Silva
Raimundo Ribeiro Lopes Neto
CAPÍTULO 19..........................................................................................248
AURICULOTERAPIA: CONSULTAS DE ENFERMEIROS EM UM GRUPO TERAPÊUTICO
DE APOIO AO LUTO
Ana Karla Ramalho Paixão
Ângela Maria Alves e Souza
José Evangleyson de Paiva Girão
Marilac Fernandes da Cruz
CAPÍTULO 20..........................................................................................260
QUESTÃO SOCIAL E SAÚDE MENTAL NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA: UM OLHAR
SOBRE O CAPS INFANTIL III EM FORTALEZA/CE
Grayceane Gomes da Silva
Ana Célia Santiago
CAPÍTULO 21..........................................................................................272GRUPO DE TERAPIA OCUPACIONAL EM PSICOGERIATRIA EM UM HOSPITAL GERAL:
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Ana Nery de Castro Feitosa
Francisca Gabriela Paiva Leitão
Quézia Franco Uchoa da Silva
SOBRE OS AUTORES.................................................................……………..278
ÍNDICE REMISSIVO
APRESENTAÇÃO
Este livro aborda estudos na área de saúde, buscando analisar os
desafios e compreender os avanços para a coletividade, na
contemporaneidade. Seus capítulos versam sobre temas variados, pois a
ideia central era a de produzir um livro contendo conteúdos teórico-
científicos de relevância e com multidisciplinaridade para a área da saúde. 
Deste modo, a obra aborda os desafios na gestão colegiada do
Sistema Único de Saúde, no Estado do Ceará, sob a perspectiva de
diferentes gestores, bem como apresenta diversos estudos em saúde
mental, saúde bucal, gerontologia, dentre outros temas, que trazem
contribuições importantes para o setor.
A partir de olhares das mais variadas formações, médicos,
enfermeiros, assistentes sociais, odontólogos, psicólogos, terapeutas
ocupacionais, fisioterapeutas, dentre outros profissionais, contribuíram com
a construção desta coletânea, que traz à tona uma gama de pesquisas, que,
ora reforçam ideias consolidadas, ora apresentam estudos originais,
apontando alguns avanços e relatando dificuldades, mas sempre com o
intuito de aprimorar a literatura da área, disponibilizando conhecimento
sobre práticas, gestão, pesquisa e ensino em saúde.
Desejamos uma excelente leitura a todos.
Os organizadores.
10
CAPÍTULO 1 
DESAFIOS E PERSPECTIVAS DA GESTÃO COLEGIADA 
DO SUS NO CEARÁ
Josete Malheiro Tavares
Carlos Garcia Filho
RESUMO
O presente trabalho retrata em parte a análise do discurso de atores vivos
participantes do processo de construção da Gestão Colegiada do Sistema Único de
Saúde-SUS. É parte importante de pesquisa realizada para a dissertação de mestrado
do primeiro autor, que estudou a linha do tempo da Comissão Intergestores Bipartite
do Ceará-CIB-CE. Abordagem de natureza qualitativa, com utilização de técnicas de
imagem e áudio em entrevistas semiestruturadas, gravadas, observados os princípios
de eticidade, tendo como objetivos analisar sob variados olhares a percepção da
estruturação das instâncias de pactuação e implementação das políticas públicas de
saúde, concomitante ao surgimento e efetivação do SUS. A amostra foi composta por
um grupo de gestores e ex-gestores de representação da gestão estadual e dos
municípios, através do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Ceará-
COSEMSCE, em diferentes cortes temporais, de atuação profissional e de gênero, para
se obter um olhar plural, de modo a aferir como cada um enxerga os desafios futuros
da gestão colegiada da saúde neste Estado.
Palavras-Chaves: Sistema Único de Saúde, Gestão do SUS, Gestão Colegiada: 
Regionalização, Saúde Pública.
INTRODUÇÃO
A consolidação do Sistema Único de Saúde-SUS tem evidenciado desafios em
todos os níveis, dentre eles, destaca-se a implantação dos mecanismos de gestão
colegiada. Um olhar histórico, identificando os principais atores e eventos a partir da
Comissão Intergestores Bipartite do Ceará-CIB-CE, revela-se oportuno para
compreender como ocorrem as articulações e mediações técnicas, administrativas e
políticas para efetivação da gestão colegiada da saúde.
Ao propor o registro de entrevistas com personalidades que tiveram atuação
estratégica e decisiva na gestão colegiada do SUS no Ceará, seja pela Secretaria de
11
Estado da Saúde-SESA, pelas Secretarias Municipais de Saúde-SMS ou pelo Conselho
das Secretarias Municipais de Saúde do Ceará-COSEMS/CE, busca-se a compreensão do
funcionamento das instâncias colegiadas.
A descentralização política e administrativa do SUS se estabeleceu como uma
das principais bandeiras da Reforma Sanitária Brasileira, no que se convencionou como
o movimento contra hegemônico da centralidade representada pela estrutura do
Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social- INAMPS (MOREIRA;
RIBEIRO; OUVERNEY, 2017).
A redemocratização ensejou um movimento municipalista vigoroso. De 1990 a
2016 foram criados mais de 1000 municípios no Brasil (saindo de 4.491 para 5.570),
um acréscimo da ordem de 24% de novos entes subnacionais incorporados ao pacto
federativo com ampla autonomia política. Por vez, a grande maioria dos novos
municípios não se originou com a capacidade de geração de renda e emprego, o que os
levou a dependência do Governo Federal. No setor saúde, estas contradições ainda
hoje não foram superadas, tornando-se um processo inacabado e de difícil
sustentabilidade (MOREIRA; RIBEIRO; OUVERNEY, 2017). 
No caso específico do Ceará, observa-se um protagonismo da SESA seguido pelas
SMS no desenvolvimento de instâncias de participação social e gestão colegiada da
saúde fortalecendo, portanto o processo de descentralização e municipalização das
políticas de saúde. O Conselho Estadual de Saúde-CESAU foi reformulado nos termos
da nova legislação em 1989. Nesse mesmo ano, o COSEMS/CE foi instituído, por
ocasião da 1ª Conferência Estadual de Saúde, realizada em Aracati, sendo incialmente
denominado Conesems. Seu primeiro presidente foi o médico sanitarista Antônio Carlile
de Holanda Lavor, um dos entrevistados nessa pesquisa.
A CIB-CE foi instituída em 1993, quando houve a primeira reunião, durante a
gestão da então Secretária de Estado da Saúde, Ana Maria Cavalcante e Silva, tendo a
seguinte composição: três membros da gestão estadual e três da gestão municipal,
cada integrante com respectivo suplente. Dentre os representantes da gestão estadual,
José Alexandre Mont’Alverne, entrevistado nessa pesquisa, esteve presente por um
longo período desde a primeira reunião. A representação dos municípios era liderada
por Luis Odorico Monteiro de Andrade, também entrevistado nesse estudo, então
presidente do Conesems e Raimundo Bezerra, Secretário de Saúde de Fortaleza. 
Esse artigo tem como objetivo analisar os desafios e perspectivas da gestão
colegiada do SUS no Ceará a partir do olhar de atores que estiveram presentes nesse
processo durante os últimos 25 anos.
12
MÉTODO
Essa investigação com abordagem qualitativa utilizou como instrumentos para
investigação: 1- aplicação de entrevistas semiestruturadas registradas em vídeo com
quinze gestores e ex-gestores de saúde considerados relevantes para a compreensão
da gestão colegiada em saúde no Ceará; e 2- pesquisa documental no arquivo de
revistas Sustentação do COSEMS/CE para coleta de textos sobre a gestão colegiada no
Ceará.
A interpretação dos resultados foi realizada por meio da análise de discurso a
partir das recomendações de Orlandi (2013), que sugere uma integração das
abordagens nos planos da Psicanálise, da Linguística e da História, numa perspectiva
crítica. 
A utilização de métodos visuais em pesquisa qualitativa é reconhecida por
Prosser (2011) como uma tendência em crescimento na pesquisa qualitativa,
principalmente após a década de 2000. O autor aponta a ubiquidade da imagem na
contemporaneidade como um dos desafios para os pesquisadores, que devem buscar
novas estratégias para compreender os fenômenos em uma sociedade que vem sendo
dominada pela imagem em detrimento da linguagem verbal e textual. 
Nessa investigação, o registro das entrevistas em vídeo foi utilizado não apenas
para aprofundar as possibilidades de análise do discurso dos sujeitos, agregando
gestos e expressões faciais, mas, principalmente para ser a base do documentário
Gestão Colegiada do SUS: a linha do tempo, disponível no site do COSEMS/CE.
Participantes
A seleção intencional dos participantes buscou incluir personagensque
vivenciaram esse processo em diferentes recortes temporais nas três últimas décadas.
A seleção buscou equilíbrio não apenas cronológico, mas também de posicionamento
político, procurando estabelecer uma visão plural do processo investigado. O quadro 1
apresenta os personagens entrevistados e descreve sua formação de base e papéis
institucionais desempenhados.
 Quadro 1 – Descrição dos personagens
Nome Formação de
Base
Papel Institucional Atual
Antônio Carlile de Holanda 
Lavor 
Médico Coordenação da FIOCRUZ-CE
Henrique Jorge Javi de Físico Secretário da Saúde do Ceará
13
Sousa
José Alexandre 
Mont’alverne
Médico Servidor Estadual
José Policarpo de Araújo 
Barbosa
Médico Servidor Estadual
Jurandi Frutuoso da Silva Médico Secretário Executivo do CONASS
Leni Lúcia Leal Nobre Cirurgiã
Dentista
Docente Escola de Saúde Pública do Ceará
Lilian Amorim Beltrão Médica Secretária Adjunta da SESA
Luís Odorico Monteiro de 
Andrade
Médico Deputado Federal
Maria do Carmo Xavier 
Queiroz
Terapeuta
Ocupacional
Secretária Executiva do COSEMS/CE
Mario Lucio Martildes 
Ramalho
Cirurgião
Dentista
Secretário Municipal de Saúde de Eusébio-
CE
Moacir Soares de Sousa Pedagogo Secretário Municipal de Saúde de Caucaia-
CE
Olímpia Maria de Azevedo Enfermeira Secretária Adjunta de Saúde de Pacatuba-
CE
Sayonara de Moura Cidade Fisioterapeuta Secretária Municipal de Saúde de Cedro-
CE
Vera Maria Câmara Coelho Economista Secretária Executiva da CIB-CE
Wilames Freire Bezerra Cirurgião
Dentista
Secretário Municipal de Saúde de
Pacatuba-CE
Fonte: Elaborado pelos autores.
Observa-se no quadro 1 que existe um equilíbrio quanto ao gênero dos
entrevistados. Predominam os profissionais de saúde, principalmente médicos e
dentistas, embora existam personagens com formação em economia, pedagogia e
física. Entre as profissões da saúde, a maior quantidade de representantes concentra-
se nas carreiras mais tradicionais. 
Os papéis institucionais desempenhados mostram que um mesmo ator pode
circular por muitas das instituições envolvidas na gestão colegiada do SUS e assumir
diferentes funções nela. Essa possibilidade, provavelmente, enriquece o repertório de
seu discurso, pois, em sua história profissional, os personagens experimentaram
diferentes pontos de vista e períodos históricos da gestão colegiada.
Documentos
O principal canal de comunicação mantido pelo COSEMS/CE é a revista
Sustentação. Esse periódico, editado quadrimestral ou semestralmente, foi concebido
com o propósito de contribuir para o fortalecimento da gestão do SUS no Ceará,
divulgando para os gestores opiniões de especialistas em políticas e gestão em saúde e
experiências municipais exitosas em saúde pública. 
14
Procedimentos
A primeira etapa da pesquisa foi a definição dos entrevistados, a realização dos
convites para participação e o agendamento das entrevistas pelo pesquisador. 
A segunda etapa consistiu no registro em vídeo de cada entrevista. Essa etapa
exigiu a mobilização de dois jornalistas profissionais para captação de áudio e imagens,
incluindo apoio para iluminação adequada. Um dos pesquisadores conduziu as
entrevistas por meio de três perguntas previamente estabelecidas e sugerindo que os
personagens utilizassem até cinco minutos para responder cada uma delas. Não
ocorreram interrupções dos entrevistados pelo pesquisador durante as gravações. 
Na terceira etapa, os autores buscaram textos relacionados à gestão colegiada
do SUS no Ceará no arquivo de revistas Sustentação do COSEMS/CE. Inicialmente, o
sumário de cada revista foi avaliado para busca de matérias sobre gestão colegiada.
Esses textos foram fotocopiados e utilizados para constituir um corpus. Esse material
foi utilizado como apoio para a discussão sobre a história da gestão colegiada.
Dimensão ética
O trabalho obedece à Resolução 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde-CNS.
Essa pesquisa foi aprovada no Comitê de Ética em Pesquisa-CEP da UECE, por meio do
Parecer Nº 2.335.640, de 18 de outubro de 2017, como também pelo Comitê de Ética
em Pesquisa da SESA, por meio do Parecer nº 2.372.997 de 09 de novembro de 2017.
Os participantes foram convidados a contribuir com essa investigação e, após anuência
inicial, os procedimentos de pesquisa foram explicados de maneira pormenorizada e as
dúvidas foram esclarecidas. Por fim, o participante assinou o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido e Termo de Autorização do Uso de Imagem. 
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para Shimizu et al. (2017) a gestão descentralizada da saúde conferiu aos
municípios brasileiros maior protagonismo na ampliação do acesso aos serviços de
saúde, principalmente na atenção básica e melhoria dos indicadores de saúde, embora
persistam desigualdades de natureza políticas, técnicas, financeiras, que limitam ou
inibem a autonomia local, tornando a descentralização um processo complexo e
inacabado. 
15
As relações intergovernamentais e a autonomia local são relacionadas à eleição
de prioridades, descentralização de decisões e responsabilidades quanto a elaboração
do planejamento, alocação de recursos nas regiões para os governos estaduais e
municipais, delimitação de regiões de saúde compartilhando identidade cultural,
econômica, social, comunicação, infraestrutura e transporte (RIBEIRO; TANAKA; DENIS,
2017).
Bretas Júnior e Shimizu (2017) inscrevem governança regional em saúde como
estratégia para estabelecer a cogestão intergovernamental nas regiões de saúde e o
justo partilhamento de responsabilidades entre os entes federados, dentro do pacto
federativo no Brasil. Desse modo, segundo Ribeiro, Tanaka e Denis (2017), a gestão
colegiada da saúde reflete um tipo de governança pública, em que os agentes públicos
trabalham coletivamente e de formas distintas, mediante processos, regras, e
provisionamento de bens públicos, organizados numa rede regionalizada de atenção à
saúde. Os agentes se reúnem periodicamente para a tomada de decisões, de modo
multilateral, respeitando a autonomia e as responsabilidades de cada ente federado. O
modelo vigente possui três níveis de gestão colegiada: regional, estadual e nacional. O
esforço desenvolvido em cada uma dessas ambiências é conseguir algum grau de
consenso e dividir as responsabilidades de modo solidário e compartilhado entre as
esferas de governo. 
No contexto cearense, Goya (1996), em pesquisa realizada com apoio da então
Associação dos Municípios do Ceará - AMECE, hoje denominada APRECE, e do Fundo
das Nações Unidas para a Infância - UNICEF, assinala que mais de 170 municípios dos
178 existentes em 1987, sequer possuíam uma secretaria municipal de saúde. Fica
evidente, portanto, a importância do movimento de descentralização da assistência e
gestão da saúde ocorridos durante a década de 1990.
Como a gestão colegiada do SUS pode enfrentar estes cenários de dificuldades,
limitações e preservar a continuidade dos serviços de saúde prestados à população de
modo continuado? Essas contradições foram motivadoras para realizar esta pesquisa e
convergem com o sentimento expresso pelo CONASS: 
O gestor de saúde é, muitas vezes, uma figura solitária. A despeito da
existência formal de estruturas administrativas que em tese deveriam
prestar-lhe apoio e assegurar-lhe a necessária segurança técnica e
jurídica para a tomada de decisão, o que se vê, no mais das vezes, é que
as instâncias de apoio carecem de maior qualificação e os mecanismos
de controle são falhos e frequentemente atrasados com relação à
velocidade com que os fatos acontecem no âmbito da saúde. Assim, o
exercício da gestão em saúde é, antes de tudo, um ato de coragem, pois
implica no altíssimo risco de se ver destruído o patrimônio mais
importante da vida de qualquer cidadão: seu nome, sua respeitabilidade,
sua reputação.
16
Em suma, ser gestor implicaem participar de um projeto de governo
como ator social envolvido no interesse coletivo; ter governabilidade
(pacto social e sustentabilidade); ter capacidade de gestão (ser dirigente,
mediador de interesses, executor e avaliador) (CONASS, 2016, p.133).
O ano de 2016 encerrou com dois temas importantes sendo discutidos nas
instâncias colegiadas do SUS: a reformulação da Política Nacional de Atenção Básica-
PNAB e o chamado Caixa Único, um esforço concentrado das três esferas de governo
que buscam simplificar o sistema de financiamento do SUS no país.
Henrique Jorge Javi de Sousa, atual secretário de estado da saúde, descreve o
quanto tem sido importante a história de estruturação da CIB no Ceará, destacando o
nível de amadurecimento das discussões que são tratadas atualmente, sem deixar de
reconhecer as muitas dificuldades a enfrentar, mas aludindo ao processo colaborativo
estabelecido entre o estado e os municípios.
Odorico Monteiro alerta que a experiência da gestão compartilhada sofre um
esgotamento, não somente no Ceará, mas no Brasil, afirma que esse modelo é vítima
do sucesso, apesar de reconhecer que o Brasil tem sido referência internacional por ter
feito a descentralização política, administrativa e financeira do setor saúde e para isso
as comissões intergestores foram extremamente importantes, embora muitas vezes
não sejam geradas responsabilidades definidas. Aponta, como fragilidade, não haver
um mecanismo de construção solidária, seja nas metas ou nos indicadores. As
pactuações feitas estão muito mais ligadas ao orçamento do Ministério da Saúde e do
Estado e como estes vão distribuir o dinheiro para o conjunto dos municípios, que é a
grande base, seguida pelos estados que formam uma segunda base. Afirma que esse
modelo estagnou e, se não houver uma mudança, poderá haver o que chama de “um
apagão no processo de municipalização do SUS”. Salienta que as novas realidades
demográfica, epidemiológica, de inovação e incorporação tecnológica na saúde, além
do ativismo jurídico, sem uma gestão solidária da judicialização na saúde, poderão
colocar o SUS em colapso. 
Como saída sugere transformar o Contrato Organizativo de Ação Pública-COAP
em lei, pela qual a descentralização da saúde passaria a ser organizada, estruturada e
apoiada com base em um contrato. Afirma que o modelo de CIT, de CIB e de CIR foi o
modelo do século XX, e que ele teve um papel importante, só que o estado do século
XXI é o estado contratual, diz, sendo necessário contratualizar as responsabilidades
sanitárias, as responsabilidades do financiamento numa perspectiva ascendente,
descente e oblíqua, sempre levando em conta as necessidades da população. Refere a
autoria de outro projeto de lei, que trata do Plano Decenal da Saúde, proposta
defendida para salvaguardar o SUS da instabilidade política e econômica, quando
17
lembra que ultimamente o Brasil teve um ministro da saúde por ano, sendo
praticamente impossível dar sequência às políticas de saúde de modo continuado
diante de tamanha fragilidade de ordem política e administrativa. Reconhecendo que
no modelo atual foi muito importante nas últimas três décadas, mas não produziu
definição clara das responsabilidades solidárias entres os entes federados, pelo que
aponta o seu esgotamento e sugere sua reinvenção. Indaga qual é a responsabilidade
solidária entre o secretário de estado, o governador e os prefeitos? Qual a
responsabilidade solidária entre o presidente da república e os governadores? Defende
que esse pacto seja assumido por prefeitos, governadores e pelo presidente da
república de modo formal, assinado e com base num orçamento real, regido por lei
específica.
Moacir Soares retoma sua vivência acumulada na gestão colegiada para
manifestar otimismo com o futuro. Aponta que os organismos representativos e
colegiados do SUS continuarão tendo papel determinante por se basearem no exercício
do contraditório e ser deste ambiente que emergem as melhores decisões, sobretudo
no Ceará, que amadureceu na consolidação do SUS no esteio deste modelo. Para ele as
instâncias colegiadas não retrocederão.
Para Henrique Javi o pioneirismo aumenta a responsabilidade de o Ceará
continuar na vanguarda. Relembra a assinatura do COAP como demonstração de
maturidade do que foi construído até aqui. Como perspectiva de futuro, prega a
necessidade de consolidar o fortalecimento adquirido para prevenir ataques ou o que
chama de “falácias”. Para o entrevistado, não é toda instituição que tem a condição de
reunir 184 municípios e o Estado do Ceará com debates importantes sobre o rumo do
SUS de modo regular. Acredita também que, com condições de trabalho adequado,
esse modelo produzirá bons resultados. Aponta a necessidade de melhor interação com
a população para que esta perceba a importância que o SUS tem na vida das pessoas,
em contraponto ao que chama de inverdades apontadas para o funcionamento
inadequado ou falta de gestão na saúde. Conclui reconhecendo sempre haver
necessidade de melhorias na gestão, mas faz a defesa do arcabouço estruturado da
gestão colegiada no Ceará.
Wilames Freire diz esperar uma maior interação entre a gestão e a academia,
buscando identificar o que há de inovador para implantar novas políticas, novas formas
de gestão, fortalecimento das regiões de saúde e aprimorar a implementação das
ações e serviços de saúde. Para atingir esses objetivos considera necessário um maior
empoderamento e fortalecimento das câmaras técnicas da CIB-CE. Na sua visão de
futuro, espera ter capacidade de interpretação e se aproximar do que a academia está
18
produzindo de conhecimento, assim como trazer para o âmbito da CIB as incorporações
tecnológicas e tirar proveito disso em favor do SUS. 
Jurandi Frutuoso alerta sobre as graves ameaças ao SUS numa “travessia” –
política, econômica, financeira ou filosófica – na atual e complexa conjuntura nacional e
enxerga, nas comissões bipartite, um espaço diferenciado com grande
responsabilidade de canalizar energias e fazer discussões responsáveis para
futuramente contribuir como mola propulsora que enfrente as questões nacionais.
Reputa a CIB-CE como ambiente que pode contribuir muito com o SUS na perspectiva
de um sistema único, equânime, eficiente e que atenda o conjunto a população
brasileira.
Alexandre Mont’Alverne diz que “o futuro se constrói no presente”. Por isso
reforça que o atual gestor estadual não tem valorizado o suficiente a CIB-CE e diz que
quanto mais crítico o problema, mais necessário é o debate e mais necessário é
construir coletivamente as decisões. Defende, portanto, uma revisão dessa postura e
sugere que os municípios insistam em garantir que as discussões ocorram nesta
ambiência, sob pena de ocorrer um esvaziamento da CIB-CE e reitera que este
colegiado não pode ser esvaziado, porque a gestão é predominantemente dos
municípios. Remete a um olhar permanente sobre a atenção primária, que concentra
parte importante dos recursos financeiros. Em sua opinião, parte da solução dos
problemas está aí. Esse é o primeiro acesso da população ao SUS e alerta que não se
faz gestão na saúde sem que todos os entes participem dela. Reconhece que o estado
cresceu na prestação direta com a gestão dos hospitais terciários regionais, mas alerta
que isso pode gerar uma falsa impressão de que se resolverem os problemas de suas
unidades de saúde todos os problemas da atenção à saúde do Estado estarão
resolvidos. Chama atenção para a necessidade de unir forças, dizendo que não se faz
gestão num sistema complexo como o brasileiro sem que todos os entes participem
dela, sobretudo num momento como o que se vive no país, onde o desfinanciamentoestá sendo agravado com o congelamento de gastos na saúde. 
Policarpo Barbosa, observa que numa câmara de gestão estão postos entes
federados com interesses e problemas diferentes, que dialogam para um consenso.
Afirma que esse modelo está consolidado e tende a ser aprofundado e valorizado.
Maria do Carmo Xavier espera o fortalecimento contínuo da gestão colegiada, com
aprimoramento técnico das equipes gestoras dos municípios, com o apoio, articulação
e respeito às decisões colegiadas, sem interferências indevidas, articulado com os
demais órgãos colegiados, de modo a promover o SUS. 
19
Leni Lucia aposta numa redefinição das responsabilidades e papeis de cada
esfera de gestão, com mais inovação e mais autonomia. Tem a expectativa que o
COSEMS possa se fortalecer, que haja melhor qualificação dos gestores. Defende que
para ser gestor deveria passar por um processo seletivo. Manifesta alegria ao perceber
um movimento de renovação de lideranças, que os gestores estão buscando se
aprimorar tecnicamente e enseja um processo formador continuado para estes atores,
sobretudo do ente municipal.
Mario Lucio discorre sobre a necessidade de superar o papel de cunho cartorial
da CIB-CE, tem expectativa de que as pactuações meramente formais sejam superadas
e a gestão colegiada seja fortalecida por uma nova prática, onde não haja pactos
construídos de forma não dialogada ou em fóruns com limitação da participação.
Defende maior atuação pragmática dos profissionais e gestores do SUS na construção
de uma agenda democrática, no cotidiano dos serviços de modo a simplificar o seu
arcabouço normativo, de maneira dinâmica e afirma existir muita coisa ainda por fazer.
Mostra-se esperançoso com os novos gestores, que têm uma contribuição importante a
dar, seja com a juventude e o entusiasmo de quem chega, assim como a proximidade
com o COSEMS e a SESA para construir novas políticas, novas estratégias, até mesmo
em outras áreas, que sigam servindo de referência inclusive de alcance internacional,
nesse modelo de organização: “que a gente possa ter a força necessária para
promover a aquiescência de todo esse movimento que há em todos os municípios,
principalmente nesse momento tão delicado, para preservar esse sistema que é de
todo o povo brasileiro”, diz.
Olímpia Azevedo mantém tom questionador com relação à necessidade de
fortalecer a articulação dos municípios de modo a não aceitar todas as proposições
como o Estado quer que seja. Aponta a necessidade de reuniões ampliadas do
COSEMS, de eventos descentralizados e de conhecer experiências fora do estado.
Todas essas iniciativas buscam fortalecer a posição dos municípios nas negociações
que são pactuadas na CIB-CE. Desse modo, ratifica a importância do fortalecimento da
gestão colegiada a partir da informação e mobilização permanente. 
Sayonara Cidade tem a expectativa de que siga o amadurecimento,
fortalecimento e qualificação das CIR, sendo, nesse modelo, o espaço adequado de
negociação e pactuação de demandas que mantenham sintonia com as necessidades
locais e regionais de saúde. Para a entrevistada, a pauta das CIR ainda está muito
dissociada da agenda da CIB-CE e sugere alinhar as agendas de modo continuado e
permanente, fortalecendo o planejamento regional.
20
Carlile Lavor reconhece a importância da gestão colegiada, mas antevê a
necessidade de envolver as casas legislativas, câmaras de vereadores, assembleias
legislativas e congresso nacional. Para ele é muito importante avançar na legislação da
saúde. O entrevistado afirma que a lei orgânica da saúde é de 1990 e que nesses
quase 30 anos decorridos de sua promulgação o cenário brasileiro mudou muito.
Defende, portanto uma revisão e readequação das leis que regem o SUS, de modo
inclusive a evitar que o poder judiciário se sobreponha a gestão por conta de uma
legislação inadequada. Neste quesito, une parte do seu discurso ao que prega Odorico
Monteiro.
Lilian Amorim revela o desejo de seguir um clima harmonioso de convivência
solidária na CIB-CE, mantendo as divergências em um nível civilizado com construção
de consensos. Espera o surgimento de novas lideranças, para assumir no futuro
próximo a gestão do SUS, em substituição gradativa aos atuais atores que em breve
deverão gozar de aposentadoria no curto e médio prazo.
Vera Coelho alerta para o momento de muitas fragilidades e ameaças que
cercam o SUS, fazendo coro aos discursos de Alexandre Mont’Alverne, Olímpia
Azevedo, Odorico Monteiro e Mário Lúcio e Jurandi Frutuoso. Refere que a EC 95 se
apresenta como ameaçadora para garantia de direitos no campo da saúde como
política de estado. Chama atenção para o aumento de responsabilidades da CIB-CE e a
obrigação de estabelecer pactos que possam inovar esse sistema e produzir
estratégias que garantam que esses direitos não sejam reduzidos para a população
cearense. Para isso sugere que os gestores municipais não podem mais reduzir a sua
agenda apenas às demandas municipais, mas antevê necessidade da participação
ativa destes atores em grandes movimentos de alcance estadual e nacional em prol do
fortalecimento do SUS e assim finaliza: “nós temos que estar, através dessa comissão,
envolvendo outros atores da sociedade para que esses ataques ao SUS não se
constitua perdas para as próximas gerações”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As instâncias de gestão colegiada do SUS assumiram importante protagonismo
na construção de consensos para implantar e efetivar as políticas públicas de saúde.
De modo especial no Ceará esse processo transcorreu de modo muito intenso e
participativo. Num dado momento a gestão estadual exercendo destacada posição de
liderança, regência e condução. Por vezes. esse protagonismo foi exercido pelo
21
COSEMSCE, colegiado gestor municipalista que ao tempo e ao seu modo, exerce
destacado papel em defesa da agenda municipalista, complementar e solidária ao
trabalho exercido pelo estado. Não raro, se deparam com situações divergentes e de
conflitos de alcance loco regionais e/ou de natureza política, sendo os colegiados de
gestão, a arena adequada para mediação de conflitos e construção de consensos. 
Este tema é instigante e merece ser aprofundado em outros estudos, mormente
em razão das mudanças propostas pela atual gestão estadual, seja pelos novos
cenários de crise sanitária ora vivida. Quiçá em breve possamos deter o olhar numa
análise complementar sobre o caminhar da gestão colegiada do SUS, contextualizando
o cenário de desafios que se apresentaram a partir das mudanças impostas pela
pandemia do novo coronavírus, sendo o presente estudo anterior a este período.
REFERÊNCIAS
BRETAS JUNIOR, Nilo; SHIMIZU, Helena Eri. Reflexão teórica sobre governança nas
regiões de saúde. Ciencia & Saude Coletiva, Rio de Janeiro, v. 22, n. 4, p.1085-1095,
abr. 2017. 
GOYA, Neusa. O SUS que funciona no Ceará. Fortaleza: Amece/Unicef, 1996.
MOREIRA, Marcelo Rasga; OUVERNEY, Assis Luiz Mafort; RIBEIRO, José Mendes.
Obstáculos Políticos à Regionalização do SUS: percepções dos Secretários Municipais de
Saúde com assento nas Comissões Intergestores Bipartites. Ciência & Saúde
Coletiva, Rio de Janeiro, v. 22, n. 4, p.1097-1108, abr. 2017.
ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de discurso: princípios e procedimentos. Campinas:
Pontes, 2013. 100 p.
PROSSER, Jon. Visual Methodology: toward a more seeing research. In: DENZIN, Norman
K.; LINCOLN, Yvonna S. (Ed.). The sage handbook of qualitative research. 4. ed.
Los Angeles: Sage, 2011. p. 479-495.
RIBEIRO, Patrícia Tavares; TANAKA, Oswaldo Yoshimi; DENIS, Jean-louis. Governança
regional no Sistema Único de Saúde: um ensaio conceitual. Ciência & Saúde
Coletiva, Rio de Janeiro, v.22, n. 4, p.1075-1084, abr. 2017. 
SHIMIZU; Helena Eri et al. O protagonismo dos Conselhos de Secretários Municipais no
processo de governança regional. Ciencia & Saude Coletiva, Rio de Janeiro, v. 22, n.
4, p.1131-1140, abr. 2017.
22
CAPÍTULO 2 
COLONIALISMOS E DESIGUALDADES SOCIAIS EM SAÚDE: 
O DIÁLOGO NECESSÁRIO ENTRE ANTROPOLOGIA E EPIDEMIOLOGIA
CRÍTICA LATINO AMERICANA
Anaxsuell Fernando da Silva
RESUMO
Este capítulo pretende problematizar a hegemonia biomédica no campo da saúde e
como, no atual cenário, ela se desdobra em desigualdades em saúde. Para tanto,
empreende uma revisão bibliográfica com objetivo de explorar fontes e argumentar em
torno da necessidade de promover diálogo entre a Antropologia e a Epidemiologia afim
de superar tais desigualdade. De maneira mais específica, o argumento se dá em torno
das possíveis interconexões entre a Antropologia da saúde e a Epidemiologia Crítica
Latino Americana, que ao final do trabalho se apresentará como caminhos medulares
para a superação dos Colonialismos biomédicos, superação das desigualdades Sociais
em Saúde e construção de uma soberania sanitária com forte conexão com a vida
comunitária.
Palavras-Chave: Saúde. Antropologia. Epidemiologia.
INTRODUÇÃO
A crise sanitária do ano de 2020 trouxe à tona um conjunto de transformações ao
mundo em que vivemos. Tão rápidas, quanto profundas, estas mudanças socioculturais
se espraiaram em diferentes dimensões da vida e suscitaram perplexidade ante sua
velocidade e amplitude. Este cenário de emergência em saúde pública impôs esforços
de reflexão no sentido de compreender o que se passa no mundo e intervir sobre a
realidade.
Hegemônico atualmente, o modelo biomédico científico ocidental tem sua
gênese associada ao contexto da Revolução Artístico-Cultural, transcorrida a partir do
século XVI, no âmbito do Renascimento. René Descartes (1596-1650) definiu o seu
“método para bem conduzir a razão e procurar a verdade nas ciências” (Pinto, 2009),
isto é, um conjunto de regras que constituem os fundamentos de construção do
conhecimento científico no ocidente. De acordo com o método cartesiano, não pode ser
23
aceito, como verdade, nada que não possa ser identificado como tal. Assim, dever-se-ia
separar cada elemento ou aspecto do objeto em estudo e examinar em tantas partes
quanto sejam possíveis e necessárias para se chegar a uma solução; cabe mencionar
também a condução do pensamento de forma ordenada, partindo do simples ao mais
complexo; e a necessidade de efetuar uma revisão exaustiva dos diversos
componentes de um argumento. Este seu método é apresentado num livro
denominado de Discurso do Método, publicado originalmente em 1637.
Na esteira deste método ocidental de apreensão do conhecimento, o saber
biomédico conceitualizou doença como desajuste ou falha nos mecanismos de
adaptação do organismo ou ainda ausência de reação aos estímulos a cuja ação está
exposto, um processo que conduz a uma perturbação da estrutura ou da função de um
órgão, de um sistema ou de todo o organismo ou de suas funções vitais (Herzlich,
2004). E dedicou-se, progressivamente, ao longo da história da medicina, à explicação
da doença. Como desdobramento, este saber biomédico estuda o corpo em partes
cada vez menores, compartimentando os saberes e reduzindo a saúde a um
funcionamento mecânico (Barros, 2002).
Ao refletir sobre a constituição este modelo, Fritjof Capra (1982) criticou a
formulação fragmentária do modelo biomédico e argumentou que este se manifesta
semelhante a uma teoria mecanicista, na qual o indivíduo humano é visto como corpo-
máquina; o médico, por sua vez, atua como um mecânico; e a doença, seria o defeito
da máquina. Esta percepção do indivíduo como uma máquina é demarcável
historicamente e remonta ao advento do capitalismo.
Deste modo, é possível dizer que a intervenção de cuidado é fundada numa
concepção que é simultaneamente reducionista e mecanicista. Para Foucault (1979), o
cuidado também pode e deve ser compreendido como dispositivo de controle dos
corpos circunscritos em um espaço social marcado por relações de poder, neste caso
mereceria destaque o poder (bio)médico.
Os aspectos socioculturais têm sido, de maneira geral, considerados marginais
ou irrelevantes para formulação das intervenções na área da saúde. Usualmente,
considera-se apenas aquelas considerações relacionadas ao diagnóstico biomédico. Em
direção contrária, desde os anos de 1970 os estudos demonstram a relevância de se
pensar o processo saúde-doença desde uma perspectiva sociocultural. Uma vez que se
trata de fenômenos complexos que conjugam fatores biológicos, sociológicos,
econômicos, ambientais e culturais. A complexidade do objeto implica buscar uma
compreensão transversal de saúde.
24
A antropologia desenvolveu, ao longo das últimas décadas, significativo artefato
teórico-metodológico para o estudo das formas de viver, enfermar-se e morrer. Tal
repertório possibilita examinar as relações entre os modelos de compreensão no campo
da saúde, a organização dos serviços, os programas de prevenção e as intervenções
terapêuticas, além dos modelos culturais dos usuários. 
O discurso antropológico tem apontado os limites da tecnologia biomédica e a
insuficiência da abordagem hospitalocêntrica, farmacológica e laboratorial, quando se
trata de mudar de forma estado de saúde de uma população. As pesquisas
etnográficas têm nos demonstrado que a saúde de uma população é desdobramento
do seu modo de vida, do seu entorno social e cultural. Desta maneira, é possível
apontar a importância de estabelecer uma relação de complementaridade entre os
estudos epidemiológicos e aqueles oriundos das Ciências Sociais (antropológicos,
sociológicos e psicológicos) no que diz respeito à saúde.
De acordo com Maurício Gomes Pereira (2002), a epidemiologia não é um tema
novo, a disciplina acadêmica que utiliza este nome, sim é o que pode ser considerada
recente. Trata-se de um conceito que engloba os fatores relacionados com a saúde da
população. Esta área do pensamento em saúde congrega métodos e técnicas de três
campos do conhecimento: Estatística, Ciências da Saúde e Ciências Sociais para
estudar o processo saúde-doença, como este fator é distribuído e seus determinantes
(ou, como veremos ao longo deste texto, determinações) na sociedade. Em linhas
gerais, a Epidemiologia se define como: 
ciência que estuda o processo saúde-doença em coletividades humanas,
analisando a distribuição e os fatores determinantes das enfermidades,
danos à saúde e eventos associados à saúde coletiva, propondo medidas
específicas de prevenção, controle ou erradicação de doenças, e
fornecendo indicadores que sirvam de suporte ao planejamento,
administração e avaliação das ações de saúde (ROUQUAYROL, 2003).
Nos estudos epidemiológicos predominam os estudos quantitativos com
interesse nas abordagens sobre os comportamentos dos indivíduos. A incidência ou
prevalência de uma certa patologia e as características de indivíduos relacionados a ela
são determinadas, no intuito de conhecer os perfis de distribuição da patologia em
grupos ou fatores de risco associados. Na abordagem sociológica, os problemas de
saúde são apreendidos em sua dimensão social e não individual. As Ciências Sociais da
saúde investigam a determinação que exercem os contextos social e institucional sobre
as enfermidades e os comportamentos delas decorrentes. A antropologia, por exemplo,
considera que a saúde e tudo que se relaciona a ela são noções socialmente
25
construídos e culturalmente interpretados (Nichter, 1989). Neste sentido, a perspectiva
etnográfica, ou dito de outro modo, a abordagem qualitativa, é empregada para
identificar e analisar a mediação que exercemos fatores sociais e culturais na
construção de formas características de pensar e agir frente à saúde e à doença.
Integrando uma apreensão da dimensão cultural, a antropologia ao lado da
epidemiologia, podem contribuir para ampliar o contexto que deve ser levado em
consideração na leitura dos processos patológicos.
A despeito da evidente necessidade de complementaridade, estes dois campos
de conhecimento atuam, geralmente, apartados e disjuntos devido a
compartimentalização da produção de saberes em saúde. A profunda dicotomia entre
métodos quantitativos e qualitativos ainda afeta o conjunto das ciências da saúde,
obscurece a complementaridade dessas duas estratégias de pesquisa. Diversos autores
(MINAYO; SANCHES, 1993) sugerem que as perspectivas quantitativas e qualitativas
deveriam ser encaradas como perspectivas complementares, como fases sequenciais
de um mesmo processo.
É nesta direção que este trabalho caminha. Pretendemos, a partir de uma revisão
bibliográfica, explorar fontes e argumentar em torno da necessidade de promover
diálogo entre a Antropologia e a Epidemiologia. De maneira mais específica,
discutiremos as pontes entre a Antropologia da saúde e a Epidemiologia Crítica Latino
Americana como caminhos medulares para a superação dos Colonialismos biomédicos
e superação das desigualdades Sociais em Saúde.
DESENVOLVIMENTO
Em junho de 2019, o departamento de população da ONU divulgou1 um conjunto
de novas projeções populacionais para sociedade. Naquela ocasião, a população
mundial foi estimada em 7,79 bilhões para o ano de 2020 e apontava que chegaríamos
ao contingente de 8 bilhões nos próximos três anos. Estes indivíduos que habitam o
planeta terra não são iguais. Do ponto de vista espacial, tal população está distribuída
em espaços nacionais e continentais que apresentam diferentes configurações
demográficas e geopolíticas. Além das notórias diferenças fenotípicas e culturais,
identifica-se significativas diferenças socioeconômicas. As clivagens sociais decorrentes
das desigualdades são produtos de processos históricos complexos. Algumas destas
distinções que poderiam ser apenas diferenças, transmutaram-se em desigualdades
1O Perspectivas Mundiais de População 2019: Destaques e materiais relacionados estão 
disponíveis em: https://population.un.org/wpp/
26
devido a relações desiguais de poder as quais limitam o acesso e a posse aos bens,
serviços e riqueza que são fruto do trabalho coletivo e acumulado através de gerações,
são desigualmente distribuídos (STIGLIZ, 2013; BARRETO, 2017).
Estas diferenças, elaboradas e convertidas em desigualdade, frequentemente
deslocam-se para exprimir-se na saúde. Tornam-se perceptíveis e modulam desiguais
condições de saúde a partir de aspectos raciais, de gênero, de classe e das suas
intersecções. Expressam-se tanto em camadas de riscos à saúde, quanto no acesso
diferenciado aos recursos disponíveis no sistema de saúde (MARMOT, 2015). Dito de
outra maneira, as desigualdades observadas na saúde estão diretamente relacionadas
às desigualdades observáveis em outras esferas da vida social. As desigualdades na
saúde se materializam em discrepantes níveis de oportunidades de acesso aos avanços
científicos e tecnológicos do campo da saúde da sociedade moderna, assim como
distintas chances de adoecimento, modos de enfrentamento desta doença e morte
(BARRETO, 2017). As desigualdades sociais em saúde estão presentes em todos os
países independente do seu poderio econômico, da quantidade de riqueza acumulada.
No contexto do capitalismo, desigualdade reafirma-se numa estrutura social perversa.
Frequentemente tais desigualdades convertem-se em iniquidades em saúde.
Aqui, parece importante pontuar quais seriam as diferenças conceituais entre
desigualdades e iniquidades em saúde. Enquanto a primeira diz respeito àquelas
diferenças evidentes e mensuráveis presentes tanto nas condições de saúde, quanto
relacionadas às diferenças no acesso aos serviços de prevenção, cura ou reabilitação
da saúde (desigualdades no cuidado à saúde); Iniquidade em saúde, por sua vez, está
relacionada às desigualdades decorrentes de alguma forma de injustiça (CF. KAWACHI,
SUBRAMANIAN; ALMEIDA-FILHO, 2002).
Em seus escritos, Margareth Whitehead (1992) estabeleceu um vínculo direto
entre iniquidade e injustiça. A professora de Saúde Pública da University of Liverpool
aponta que a iniquidade pode ser compreendida como uma desigualdade
desnecessária e evitável sobre saúde. Na mesma direção, Escorel (2000) argumenta
que o termo iniquidade tem uma dimensão política e ética, assim, toda desigualdade
redutível é iniqua por ser produto dos conflitos em uma arena permeada por interesses
contraditórios.
Nos últimos anos, a expansão da subjetividade neoliberal (Dardot & Laval, 2016)
marcada pelo individualismo têm sustentado a percepção de que os eventos ocorridos
na sociedade são de responsabilidade dos indivíduos neles implicados, rechaçando o
caráter coletivo e social da vida. Esta perspectiva de mundo fundamenta a
naturalização das desigualdades por parte da sociedade e faz com que os atores
27
políticos as entendam como resultantes de problemas individuais, minimizando as
expressões das injustiças e, por conseguinte, colaborando para escassez de políticas e
ações governamentais para minimizá-las.
A epidemiologia e a antropologia da saúde são disciplinas científicas que buscam
por padrões de doenças, comportamento e de modos de enfrentamento da
enfermidade. Elas estão separadas por suas histórias e tradição disciplinar – a
“Epidemiologia tende a ser mais estatística e quantitativa e a Antropologia, textual e
qualitativa” (TROSTLE, 2013, p. 24). Neste trabalho, argumentamos em defesa de um
diálogo integrado entre ambas as disciplinas, na mesma direção de outros autores
(HAHN, 1995; DRESSLER et al., 1997; BREILH, 1998; IRIART et al., 2002; TROSTLE,
2013; SOUZA, MENDES; CARNUT, 2019).
Esta relação de complementaridade entre epidemiologia e antropologia passou a
fazer parte do escopo na saúde coletiva, levando em conta a perspectiva de integração
metodológica nas investigações em saúde. Em um primeiro momento, as discussões
enfatizaram as evidentes dualidades como quantitativo/qualitativo ou
objetividade/subjetividade, posicionando o método particular a cada uma das
disciplinas em pólos opostos por suas características.
O método epidemiológico, com a premissa de separação radical entre sujeito-
objeto, engendra-se historicamente sustentada por uma noção ideal de rigor científico,
o qual poderia ser mensurado pela objetividade e neutralidade das suas investigações.
A epidemiologia trabalha com explicações causais formuladas a partir de pesquisas que
se valem de instrumentos como entrevistas estruturadas. Com isso, se busca medir a
abrangência e representatividade dos dados obtidos.
Por outro lado, o método antropológico desfaz o distanciamento entre sujeito-
objeto. A pesquisa etnográfica é concebida a partir da intersubjetividade, do erro e do
inesperado e estes aspectos se impõem a qualquer discurso em torno da objetividade.
A ênfase está nas histórias de vida, nas relações entre os indivíduos e suas
cosmovisões. Assim, por meio da observação participante, a antropologia busca
compreender e interpretar o significado das práticas sociais, considerando os distintos
contextos culturais em que emergem.
Se antes havia disputas de competência a qual buscava definir o melhor método,
estas podem ser substituídas por uma perspectiva complexa, inclusiva e de
hibridização metodológica. Na medida em que admitimos a possibilidade de integração
de métodos, reconhecemos os limites de cada um deles e trabalhamos para conter as
lacunas compreensivas que decorremda existência de tais limitações. 
28
Obviamente, a integração entre epidemiologia e antropologia é uma
oportunidade que não está desprovida de tensões, contradições ou disputas de poder,
as quais envolvem sobretudo a maneira como tais disciplinas estruturaram
historicamente suas bases conceituais e premissas metodológicas. As experiências de
pesquisas em saúde existentes que apontam para uma aproximação entre
epidemiologia e antropologia ocorre ao mesmo tempo em que significativas
transformações no discurso científico contemporâneo se manifestam, e que geralmente
enfatizam, valores mais próximos ao olhar antropológico, caracterizado por abordar
mais de perto seus sujeitos de pesquisa, isto é, considera a unidade de situações
singulares.
Dito de outra maneira, aspectos como subjetividade, autonomia e diferença
expressaram-se mais vigorosamente na saúde coletiva por volta de uma década atrás,
incidindo nas perspectivas de pesquisa até então hegemônicas na área, as quais
privilegiavam a concepção de ciência neutra e objetiva.
É importante dizer que não se trata de migrar de um extremo, onde se localiza a
objetividade, para outro que seria a subjetividade. Ou transitar do universal para o
singular, do quantitativo para o qualitativo. Tampouco operar a partir da dicotomia
entre os critérios quantitativos e qualitativos. O desafio que se impõe é mover-se entre
os diferentes níveis e modos de compreensão e apreensão da realidade.
A integração metodológica pressupõe outra adversidade. As já explicitadas
diferenças metodológicas existentes remetem às finalidades da pesquisa e também à
construção de seus objetos. Nesta direção, não advogamos pela integração de dois
objetos — o epidemiológico e o antropológico. A proposta de integração acredita que a
formulação dos problemas de investigação pode ser concebida de maneira integrada.
Para que tal ponte entre estes campos de conhecimento se efetive, é preciso que as
disciplinas em questão empreendam um movimento autorreflexivo que pretenda
repensar as bases nas quais elas estão fundadas. Este movimento tem dado origem a
um modo específico de se fazer e pensar epidemiologia, gestado no continente latino-
americano.
Como já discutimos aqui, a epidemiologia convencional está tradicionalmente
assentada no paradigma empírico-funcionalista, e busca traçar a relação entre a saúde
e fatores (de risco e proteção) que muitas vezes não se reconectam como as
discussões consolidadas no campo das Ciências Sociais. Assim, Jaime Breilh,
epidemiológo equatoriano, tem se preocupado, basicamente em retomar a categoria
da reprodução social, dos modos de viver, adoecer e morrer como mote analítico para
29
superar os modelos epistêmicos lineares e causalistas que a epidemiologia
convencional insiste em reafirmar (BREILH, 2013).
É nesta direção, portanto, que, em Breilh, a “determinação social em saúde”
junto com as categorias de “reprodução social” e “metabolismo sociedade-natureza”
compõem os três eixos a partir dos quais se estruturam o pensamento da
epidemiologia crítica latino-americana que emerge na segunda metade do século XX
(PEREIRA DE SOUZA, MENDES; CARNUT 2019).
Ainda no decorrer dos anos de 1970, a América Latina vivenciou o
desenvolvimento de um campo do saber chamado de Medicina Social. Ela se colocava
como uma resposta a um modelo desenvolvimentista que vinha sendo implementado
de maneira exaustiva nas políticas latino-americanas, e em consequência, produza
efeitos marcantes no campo da saúde pública (Nunes, 1994).
A ideia que circulava no continente à época era que o crescimento econômico
levaria a uma melhora automática das condições de vida e saúde, contudo, o que se
averiguou foi o oposto. Ainda que os indicadores macroeconômicos ostentassem
melhora, os sociais degringolavam. Um novo cenário se configurava: enquanto os
gastos com saúde aumentavam e novas tecnologias floresciam, o acesso à saúde
seguia cerceado e as condições gerais de saúde pioravam (Iriart, 2002).
Nesse cenário, a correlação entre condições de saúde e desigualdade social se
explicitaram. Diversos autores, preocupados em compreender o que se enxergava, com
abordagens teórico-metodológicas diversificada, passaram a produzir um
conhecimento científico crítico e sensível às questões sociais, tal esforço seria
reconhecido como Medicina Social.
Este movimento latino-americano da epidemiologia crítica, questiona a
capacidade explicativa desta epidemiologia convencional, clássica, a respeito da
realidade, que, a despeito de dispor de um arsenal estatístico robusto, não cumpre com
a tarefa de relacionar os sistemas sociais, modos de vida e saúde, e tampouco é
efetivo na explicação a respeito da distribuição “por classes das formas e intensidades
de exposição a situações de risco, ou os diferentes níveis de vulnerabilidade inerentes
a cada realidade social distinta” (PEREIRA DE SOUZA, MENDES; CARNUT, 2019, p. 80).
Em síntese, tenho tentado demonstrar através desta revisão teórico-bibliográfica
que a epidemiologia clássica empreende suas análises sustentadas em noções de
pessoa, tempo e lugar – descoladas do conhecimento antropológico e por isso
obsoletas; somemos a esta consideração que também aos conceitos de história natural
da doença e sistemas de equilíbrio (antígeno-suscetível-ambiente) falham na tarefa de
conhecer a realidade para alterá-la (BREILH, 2013).
30
Além das questões conceituais, a epidemiologia crítica latino-americana sintetiza
os problemas metodológicos que impossibilitam que análises críticas e aprofundadas
sejam feitas seguindo moldes de uma epidemiologia convencional:
a) uma explicação fenomenológica reducionista e fragmentária da
realidade e da saúde, b) primazia absoluta de causa e efeito como grande
organizador e lógica do universo epidemiológico, c) reprodução da
relação causa-efeito como um artefato formal aplicado para identificar
fatores de risco, d) a redução da noção de exposição/vulnerabilidade a
um problema probabilístico essencialmente individual, e e) redução da
organização da prática epidemiológica em ações funcionais sobre fatores
de risco (Breilh, 2013, p. 15).
O modelo clássico, convencional, da epidemiologia fundamenta-se em
paradigmas hegemônicos do pensamento ocidental. É efeito do colonialismo médico.
Nesta perspectiva quaisquer processos serão explicados apenas no plano dos
fenômenos observáveis empiricamente, a realidade é tratada como algo que existe
“em si”. A saúde ou doença, que emerge empiricamente, são as únicas coisas
comprováveis, e, portanto, passíveis de existência. Por isso, as avaliações quantitativas
são consideradas meios de obtenção de conhecimento que “deduzem as relações
simples e lineares que se estabelecem entre cada fenômeno” (PEREIRA DE SOUZA,
MENDES ; CARNUT, 2019, p. 83).
A epidemiologia crítica latino-americana surge, portanto, como resposta a uma
epidemiologia ortodoxa moderna, hegemônica e colonial que, constrói-se sobre
fundamentos tecnicistas, abstratos e alheios à vida concreta das pessoas. Por isso
consideramos que o desenvolvimento de uma mudança epistemológica no interior da
epidemiologia poderá ser o ponto de articulação para se compreender as reflexões
antropológicas a respeito da saúde. Esse repertório crítico combinado, dialogado, é um
passo paradigmático importante para que a saúde caminhe na trilha do pensamento
crítico e siga pensando sobre seus próprios (des)acertos e comprometa-se com a
eliminação das desigualdades.
CONCLUSÃO
Ainda que a discussão a respeito das possibilidades de diálogo e integração entre
a epidemiologia e a antropologia já tenha em seu repertório uma significativa literatura– alguns, inclusive, chegaram a cunhar o termo "epidemiologia comportamental"
(Fernandes, 2003) nos anos 70 – este trabalho não é uma revisão sistemática a
respeito das contribuições já existentes no que tange à relação da epidemiologia com a
31
Antropologia ou com outras disciplinas (Janes, Stall & Gifford, 1986; Sallis, Owen &
Fotheringham, 2000). Em outra direção, o objetivo foi explorar os aspectos teórico-
metodológicos, a partir de alguns autores que têm permitido a reflexão sobre as
potencialidades de uma abordagem que integre as referidas disciplinas para o estudo
dos fenômenos de saúde. Dentre as abordagens possíveis, optou-se por revisar o que
tem sido sistematizado em torno de uma epidemiologia crítica latino-americana.
A compreensão do diálogo se dá matizando o pensamento epidemiológico como
cerne de uma perspectiva crítica radical à sociedade capitalista e a suas formas de
dominação, que se desdobram em desigualdades sociais expressas em desigualdades
em saúde. Tal cenário não pode ser compreendido à luz de um colonialismo médico, ou
a partir da aceitação tácita das interpretações das questões relacionadas a saúde
oriundas de uma perspectiva biomédica, hospitalocêntrica e centrada em fármacos.
Ao longo deste trabalho tentamos problematizar a necessidade de se romper
com a falsa dicotomia entre os métodos qualitativos e quantitativos. E, para fazê-lo,
seria necessário localizar o objeto de estudo – as pessoas – no núcleo central do
problema. E isso só pode ser feito a partir da construção de ponte, de um canal de
diálogo entre a Antropologia da saúde e a Epidemiologia Crítica Latino Americana. Em
nosso entendimento, este é o caminho medular para a superação dos Colonialismos
biomédicos e superação das desigualdades Sociais em Saúde.
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34
CAPÍTULO 3
ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NA LINHA DE CUIDADO DO AVC –
HOSPITAL REGIONAL DO CARIRI 
Maria Angela Lopes Pereira Pinheiro
Suianne Ferreira Soares Alencar
Lívia Maria dos Santos Landim
Moisés Sampaio da Silva
RESUMO
O presente artigo discutirá a respeito do Acidente Vascular Cerebral – AVC,
apresentando as suas formas, potencial de letalidade bem como a sua capacidade de
deixar sequelas, quando do cuidado tardio bem como a aplicação de métodos
inadequados para tratar essa doença. De forma complementar será apresentado um
panorama acerca do tratamento dado aos pacientes que chegam ao Hospital Regional
do Cariri – HRC e que recebem um tratamento padronizado para a sua recuperação.
Busca-se, a partir desse trabalho, apresentar, através da explanação dos métodos e
protocolos, os cuidados necessários e indispensáveis aos pacientes com AVC e a forma
de atuação dos profissionais desse hospital para que o paciente consiga se recuperar e
que se recupere com o mínimo possível de sequelas comumente deixadas por esta
doença. 
Palavras-chave: Acidente Vascular Cerebral – AVC. Fisioterapia. Hospital Regional do
Cariri - HRC
INTRODUÇÃO
O presente trabalho busca traduzir um pouco do cotidiano dos profissionais de
saúde, principalmente da fisioterapia do Hospital Regional do Cariri – HRC,
apresentando a atuação desses profissionais através da análise de indicadores e
aplicação de protocolos padronizados para minimizar os efeitos do AVC e preservar a
qualidade de vida do paciente.
O AVC é um dos grandes responsáveis por mortes no mundo, e quando este não é
capaz de matar uma pessoa, pode deixar o paciente com sequelas para a vida inteira,
por esse motivo é uma doença tão grave e que requer uma série de cuidados
específicos para tratar desses pacientes, que possuem o tempo enquanto um inimigo.
35
A rapidez na identificação de que o paciente sofreu um AVC é determinante para
a sua sobrevivência e também para a sua recuperação e sequelas, pois quanto mais o
tempo passa sem que o diagnóstico seja feito ou que o paciente demore a chegar na
unidade hospitalar, menores são as chances de recuperação desse indivíduo.
Deste modo, não se trata de uma doença comum e o seu tratamento requer uma
equipe capacitada e apta a identificar de prontidão a incidência do acidente e de
imediato seguir com os protocolosnecessários ao tratamento. Partindo da análise da
importância do profissional fisioterapeuta para a recuperação dos pacientes com AVC
no Hospital Regional do Cariri – HRC é que o presente trabalho foi sendo desenhado.
Objetiva-se, com esse trabalho, apresentar a atuação dos profissionais
fisioterapeutas do HRC no tratamento de pacientes com AVC, para tanto, serão
abordados os principais indicadores que são considerados para a realização desse
tratamento no ambiente do hospital em estudo.
 
 REFERENCIAL TEÓRICO
O acidente vascular cerebral (AVC) é atualmente uma das principais causas de
morte no Brasil sendo apontado como um problema de saúde pública mundial, causa
de 27% das internações e a terceira causa de morte no mundo (REIS; FARO, 2019). 
Sabe-se que existem cerca de 62 milhões de sobreviventes dessa doença, dos
quais até 40% têm alguma limitação funcional, que é classificada como grave em até
um terço desta população (FELIPPO et al.; 2020). Por vezes, isso torna a vítima
altamente dependente de cuidadores, até mesmo para atividades corriqueiras como
comer e tomar banho (FELIPPO et al.; 2020).
De acordo com Reis e Faro (2019), o montante de pessoas com sequelas após o
AVC é maior que o número de mortes, pois a principal característica da doença são as
limitações físicas e cognitivas que atingem até 80% das vítimas (REIS; FARO, 2019).
Fator que atribui a essa doença, um nível alto de dificuldade na recuperação, existindo
a necessidade de prestar cuidados de forma intensiva e eficientes para a obtenção de
resultados positivos.
Os sinais de alerta para a suspeita de AVC são variados, incluindo déficits
neurológicos de início súbito, especialmente os localizados, fraqueza muscular súbita
ou alteração sensitiva súbita unilaterais, dificuldade repentina para falar ou
compreender, perda visual súbita, especialmente se unilateral, perda súbita do
equilíbrio ou incoordenação motora repentina, rebaixamento súbito do nível de
consciência, cefaléia súbita (PROTOCOLO, 2020).
36
Na PORTARIA N° 665, DE 12 DE ABRIL DE 2012, DO MINISTÉRIO DA SAÚDE, que
dispõe sobre os critérios de habilitação dos estabelecimentos hospitalares como Centro
de Atendimento de Urgência aos Pacientes com Acidente Vascular Cerebral (AVC), no
âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), foi instituída e aprovada a Linha de Cuidado
em AVC, considerando a necessidade de ações integradas em estruturar as redes de
atenção à saúde e de se estabelecer uma linha de cuidados para o atendimento, com
diretrizes voltadas ao diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos indivíduos com
esta doença, com intuito de reduzir morbimortalidade e assegurar a assistência desde
o evento agudo até o os programas de reabilitação domiciliares.
O atendimento envolve a comunicação simultânea e integrada de diversos
profissionais e setores hospitalares envolvidos no atendimento inicial de pacientes com
suspeita de AVC agudo, incluindo equipes médicas responsáveis pelo primeiro
atendimento nas diversas áreas da instituição, enfermagem, neurologia, radiologia,
neurorradiologia intervencionista, neurocirurgia, farmácia, unidade neurointensiva e
unidade crítica geral ou neurológica. 
Seguindo com o tratamento trombolítico intravenoso que será indicado para
pacientes acima de 18 anos com AVC até 270 minutos de evolução, que contemplem
os critérios de elegibilidade e não apresentem critérios de exclusão, com isso denota-se
que o tratamento deve ser iniciado o mais rápido possível, pois o tempo está
fortemente associado aos resultados.
A intervenção fisioterápica desempenha um papel de extrema importância em
pacientes que recebem alta hospitalar com diagnóstico de AVC. O atendimento do
fisioterapeuta consiste na realização de exercícios que garantem ganhos de amplitude
de movimento (ADM) para manter a integridade articular e prevenir contraturas
musculares.
Durante as sessões de fisioterapia, as terapias convencionais são tipicamente
compostas de exercícios de alongamento e fortalecimento, mobilização e treinamento
funcional (treinamento de ciclo ergômetro ativo para os membros inferiores,
Estimulação Elétrica Funcional (FES), ortostatismo, equilíbrio e treinamento de marcha
e exercícios de conscientização corporal. Também inclui treinamento de segurança e
independência para Atividades de Vida Diária (AVDs) (FELIPPO et al.; 2020).
A fisioterapia também proporciona treinos de marcha que possibilitam uma
melhora na coordenação, equilíbrio e força que são pré-requisitos para a deambulação,
onde é possível afirmar que através do conhecimento fisioterapêutico, pode ser
desenvolvido planos terapêuticos individualizados, com a execução de manobras e
37
técnicas específicas, propiciando que a reabilitação desses indivíduos seja de acordo
com os distúrbios apresentados, além de prevenir futuras recidivas dessa doença.
Tendo em vista que o AVC é uma patologia com alta incidência global o que torna
difícil traçar um plano de tratamento devido as mais variadas sequelas motoras
herdadas pelos pacientes (LIRIOS et al.; 2016). Faz-se necessário a adoção de medidas
personalizadas e pautadas em reavaliações constantes para alcançar resultados
promissores.
A Figura 1 confirma as informações mencionadas anteriormente e corrobora para
o entendimento acerca da linha de cuidado com o AVC e o perfil do paciente com AVC.
 Figura 1: Linha de cuidado AVC: perfil do paciente com AVC
Pode-se observar que mais de 80% dos AVCs são Isquêmicos e não Hemorrágicos
e ainda, na Figura 2, os tipos de hemorragias que podem fazer parte do AVC
Hemorrágico e os percentuais. Apresentando ainda fatores interessantes sobre os
pacientes, sendo mais de cinquenta por cento dos pacientes do sexo masculino e o
transporte para socorrê-los apontam o SAMU como o responsável por mais de setenta
por cento dos socorros prestados aos pacientes.
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 Figura 2: Perfil do paciente da linha de cuidado AVC
A Figura 2 chama a atenção para a faixa etária dos pacientes com AVC, e cerca
de noventa por cento dos diagnósticos da doença ocorrem em idosos, apresentando
uma média de idade de setenta anos entre os pacientes. Apresenta ainda um
comparativo entre os anos de 2017 e 2018, onde pode-se perceber uma diminuição de
mais de 300 casos, o que representa um avanço.
A Equipe de Fisioterapia do HRC gerencia dois indicadores na Linha de Cuidado
do AVC, que são respectivamente: Taxa de Melhoria Funcional do Paciente com AVC na
Alta e Taxa de Pacientes com Independência Funcional Após a Alta da Linha de Cuidado
do AVC (Conforme Escala de Ranking – 90 dias). 
Indicador I - Taxa de Melhoria Funcional do Paciente com AVC na Alta:
Esse indicador foi implementado no dia 14 de janeiro de 2019, onde começamos a
realizar a aplicação da escala de Rankin modificada na Unidade de AVC e na Unidade
de Cuidados Especiais - UCE, de forma a mensurarmos os ganhos de funcionalidade
dos pacientes da linha de cuidado do AVC. Este indicador é obtido a partir da
mensuração da escala de Rankin modificada na admissão do paciente na UAVC e na
alta do paciente na linha do AVC, que pode acontecer na própria UAVC como na UCE. 
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Essa escala nos permite verificar o grau de incapacidade do paciente e desta
forma os seus ganhos funcionais ao longo da internação, assim o paciente classificado
com Rankin 0 - sem sintomas, apresenta independência funcional total; Rankin 1 –
nenhuma deficiência significativa a despeito de sintomas (capaz de conduzir todos os
deveres e atividades habituais); Rankin 2 – leve deficiência (incapaz de conduzir todas
as atividades de antes, mas capaz de cuidar dos próprios interesses sem assistência).
Já o Rankin 3 – deficiência moderada (requer ajuda, mas é capaz de caminhar

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