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1 2 PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA SECRETARIA DE GESTÃO E ENSINO EM SEGURANÇA PÚBLICA DIRETORIA DE ENSINO E PESQUISA COORDENAÇÃO-GERAL DE ENSINO COORDENAÇÃO DE ENSINO A DISTÂNCIA CONTEUDISTAS Camila Reis Guimarães Baleeiro Natália Cybelle Lima Oliveira REVISÃO Alice Borges Mendonça PRODUÇÃO (APOIO) Beatriz Beserra Mendes COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA Daniele Rosendo dos Santos Márcio Raphael Nascimento Maia SETOR DE CRIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PROGRAMAÇÃO E EDIÇÃO Lúcio André Amorim Renato Antunes dos Santos DESIGNER Fagner Fernandes Douetts Renato Antunes dos Santos DESIGNER INSTRUCIONAL Wagner Henrique Varela da Silva 3 Sumário Apresentação do Curso ................................................................................... 6 Objetivos do Curso .......................................................................................... 9 Estrutura do Curso ......................................................................................... 10 Módulo I - PRINCÍPIOS BÁSICOS DA BIOLOGIA E SUAS APLICAÇÕES NA GENÉTICA FORENSE .................................................................................... 11 Apresentação do módulo .................................................................................... 11 Objetivos do módulo ............................................................................................ 11 Estrutura do módulo............................................................................................. 11 Aula 1 - O estudo da Biologia na resolução de crimes ..................................... 12 Aula 2 - A importância do material genético e aplicações práticas dos conhecimentos da Genética ................................................................................ 15 Aula 3 - A Genética Forense e como ela auxilia na resolução de crimes ........ 22 Finalizando ............................................................................................................ 30 Módulo II - HISTÓRICO DA UTILIZAÇÃO DO DNA NA RESOLUÇÃO DE CRIMES E FUNDAMENTAÇÃO LEGAL ......................................................... 31 Apresentação do módulo .................................................................................... 31 Objetivos do módulo ............................................................................................ 31 Estrutura do módulo............................................................................................. 31 Aula 1 - Aspectos históricos da utilização do DNA na resolução de crimes .. 32 Aula 2 - Utilização das Técnicas de Identificação pelo DNA no Brasil e no Mundo ................................................................................................................... 37 2.1 Normas internacionais relacionadas aos Bancos de Perfis Genéticos: .................................................................................................................. 38 AULA 3 – Arcabouço Legal Brasileiro que Normatiza a Identificação Genética Criminal e Inclusão de Perfis Genéticos em Bancos de DNA. ......................... 42 Finalizando ............................................................................................................ 49 4 Módulo III - NORMAS E UTILIZAÇÃO DOS BANCOS DE PERFIS GENÉTICOS ......................................................................................................................... 51 Apresentação do módulo .................................................................................... 51 Objetivos do módulo ............................................................................................ 51 Estrutura do módulo............................................................................................. 51 Aula 1 - A importância do Banco de Perfis Genéticos ...................................... 52 Aula 2 - Normas Legais Aplicadas aos Bancos de Perfis Genéticos ............... 55 Aula 3 - Sistema de Gestão de Qualidade dos Laboratórios Integrados à RIBPG ............................................................................................................................... 62 Aula 4 - Casos resolvidos com o auxílio do Banco de Perfis Genéticos ......... 66 Finalizando ............................................................................................................ 71 Módulo IV - PROCEDIMENTOS BÁSICOS PARA A REALIZAÇÃO DE COLETA DE DNA DE CONDENADOS ........................................................... 72 Apresentação do módulo .................................................................................... 72 Objetivos do módulo ............................................................................................ 73 Estrutura do módulo............................................................................................. 73 Aula 1 - Fundamentação Legal sobre Procedimentos Relativos à Coleta de Material Biológico de Condenados ..................................................................... 74 1.1 Sistema prisional e coleta de material biológico: ............................. 81 1.2 Fluxo de Trabalho: ........................................................................... 82 1.3 Codificação de Amostras de Referência oriundas da coleta obrigatória 84 Aula 2 - Introdução à Biossegurança e Equipamentos de Proteção Individual ............................................................................................................................... 87 2.1 Introdução à Biossegurança ............................................................ 87 2.2 Riscos Biológicos envolvidos na coleta de materiais biológicos ...... 93 2.3 Equipamentos de proteção individual .............................................. 96 Aula 3 - Técnicas de coleta de Amostras de Referência ............................... 102 5 3.1 Etapas a serem realizadas antes das coletas ................................ 105 Aula 4 - Acondicionamento, Armazenamento e Transporte de Amostras de Referência para as Unidades Periciais de Processamento ........................... 117 4.1 Armazenamento e transporte de amostras de mucosa oral coletadas com suabes estéreis ............................................................................... 118 4.2 Armazenamento e transporte de amostras de mucosa oral coletadas com cartões FTA® .................................................................................. 119 Finalizando ......................................................................................................... 120 Referências Bibliográficas .......................................................................... 121 6 Apresentação do Curso Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) ao Curso Coleta de DNA em condenados: Legislação e Procedimentos! Esperamos que durante essa jornada, você possa conhecer um pouco mais sobre a utilização da Genética Forense na aplicação da justiça, e como a Coleta de DNA (Ácido Desoxirribonucleico) de condenados pode contribuir para esse processo. Para isso, convidamos você a trilhar um caminho de conhecimentos essenciais para que se possa entender o potencial da parceria entre a Ciência e a Justiça. Para que a Justiça possa ser aplicada de maneira igualitária e objetiva, muitas vezes é necessário a aplicação da Ciência para a resolução de crimes e outras questões legais do nosso dia a dia. Por esse motivo, surgiu a necessidade da criação de um dos ramos das ciências naturais: As Ciências Forenses! Mas o que vem a ser isso? As Ciências Forenses atuam no processo de geração e/ou transferência de conhecimentos científicos e tecnológicos, com afinalidade de aplicação na análise de vestígios e visam responder questões científicas de interesse da Justiça. Dentro dessa grande árvore de conhecimento, a Genética Forense é um ramo muito importante, pois ela trata da utilização dos conhecimentos e das técnicas da Genética e da Biologia Molecular, para auxiliar nas respostas das demandas judiciais. Há mais de vinte anos é amplamente utilizada para demonstrar a culpabilidade dos criminosos, isentar os inocentes, identificar corpos e restos humanos, determinar paternidade com confiabilidade incondicional, elucidar trocas de bebês em berçários, detectar substituições e erros de rotulação em laboratórios de patologia clínica, entre inúmeras outras aplicações. A aplicação dessa ciência é especialmente importante na investigação da autoria de crimes. Para isso, a genética forense busca comparar os perfis 7 genéticos de materiais biológicos encontrados em cenas de crimes, com os obtidos de amostras coletadas de suspeitos, sendo na maioria das vezes, uma ciência comparativa. Contudo, durante muito tempo, sua aplicação ficou limitada à apresentação de suspeitos pela autoridade policial. E foi justamente para superar essa limitação, que foi criado o conceito de Bancos de Perfis Genéticos, mas o que vem a ser isso? Pode ser feita uma analogia com uma grande biblioteca virtual, onde de um lado são depositadas as informações dos perfis genéticos relacionados aos mais diversos ilícitos penais, e do outro, as informações de indivíduos que já foram condenados por crimes, de acordo com as disposições legais aplicáveis. A partir daí, os bancos têm a função de comparar esses perfis, a fim de detectar coincidências, e assim, quando elas ocorrem entre um perfil de vestígios criminais com o de um condenado, é possível indicar a autoria de um crime que antes não tinha solução. Este é apenas um exemplo do potencial dessa ferramenta, e nós esperamos que durante esse curso você navegue por toda essa gama de possibilidades que ela nos dá, no auxílio às demandas da sociedade. O sucesso dessa ferramenta na solução de crimes, depende primordialmente de uma coleta bem feita do material biológico dos condenados reclusos no sistema prisional, de maneira que se permita a identificação genética, de acordo com o Art. 9º da Lei nº 12.654/2012. Uma coleta de qualidade, permite não só a solução de crimes, mas também garante que os resultados das análises seguintes a partir dessa coleta, sejam CONFIÁVEIS! Para isso, é imprescindível que o profissional que irá realizar o procedimento detenha os conhecimentos dos fundamentos e das técnicas, para que a coleta do DNA dessas pessoas ocorra da melhor forma. Erros na identificação de amostras, no acondicionamento desses materiais e na organização dos documentos, podem levar a problemas como a falsa imputação de crimes, por exemplo, o que além de impedir a aplicação da justiça da maneira correta, diminui a confiança da sociedade no serviço prestado por essa área essencial à Segurança Púbica. 8 Assim, devido à necessidade de padronização dos procedimentos e técnicas para a realização de coleta de Amostras de Referência de DNA em indivíduos condenados pelos crimes descritos na Lei nº 12.654/2012, pelos profissionais que integram o Sistema Único de Segurança Pública (Susp), visando a inclusão em Banco de Perfis Genéticos, é que o presente curso foi criado. A aclimatação inicial é fundamental para se conhecer ao ambiente virtual de aprendizagem, entender o funcionamento do curso e realizar os estudos de forma tranquila. Leia o conteúdo com atenção, navegue nos links indicados, realize os exercícios e reflita sobre as possibilidades de aplicação. Preparado? Então, vamos lá! 9 Objetivos do Curso A finalidade deste curso é, desenvolver competências básicas para que os profissionais do Sistema Único de Segurança Pública (Susp) conheçam quais são os procedimentos e técnicas necessárias, para realizar a coleta de material biológico de condenados de forma padronizada e segura, à luz dos crimes previstos pela legislação vigente, objetivando a inserção de perfis de DNA em Bancos de Perfis Genéticos. Esse curso criará condições para que você possa: • Entender o disposto na Lei nº 12.654/2012 e demais normas legais relacionadas e suas aplicações práticas na Perícia Criminal brasileira; • Compreender a importância do DNA como ferramenta de identificação humana, bem como o uso do Banco de Perfis Genéticos nas investigações criminais envolvendo indivíduos alcançados pelos crimes enquadrados em leis específicas; • Elaborar um fluxo de trabalho para realização de coletas em instituições criminais, em concordância com os requisitos e documentações necessárias para sua execução; • Utilizar corretamente os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), bem como aplicar as práticas de Biossegurança.; • Realizar as técnicas de coleta de amostras biológicas de condenados para exames de DNA, seguindo os procedimentos padrões de identificação, armazenamento, acondicionamento e transporte de tais amostras, objetivando a inserção de perfis de DNA em Bancos de Perfis Genéticos. 10 Estrutura do Curso O curso tem carga horária de 40 horas/aula e é totalmente ofertado na modalidade a distância, por meio do Ambiente Virtual de Ensino e Aprendizagem, em que são disponibilizados os conteúdos do curso, sendo de responsabilidade do discente acessar o Ambiente Virtual para realizar o estudo e as atividades obrigatórias. Para um melhor aprendizado sobre os tópicos a serem abordados, o conteúdo foi disponibilizado em 4 (quatro) módulos: Módulo 1 – Princípios Básicos da Biologia e suas aplicações na Genética Forense. Módulo 2 – Histórico da Utilização do DNA na Resolução de Crimes e Fundamentação Legal. Módulo 3 – Normas e Utilização dos Bancos de Perfis Genéticos. Módulo 4 – Procedimentos básicos para a realização de coleta de DNA de condenados. 11 Módulo I - PRINCÍPIOS BÁSICOS DA BIOLOGIA E SUAS APLICAÇÕES NA GENÉTICA FORENSE Aqui iniciamos o caminho de conhecimentos que você deverá adquirir para realizar a coleta de materiais biológicos de condenados, com o objetivo de inserção em Bancos de Perfis Genéticos. Porém, para que você possa compreender todos os aspectos necessários para realizar esta tarefa da forma certa e entender qual o propósito dela, temos que começar a jornada de dentro para fora. Entender um pouco da nossa biologia será essencial para trilhar o caminho do aprendizado. Esse módulo pretende criar condições para que você possa: • Conhecer um pouco do funcionamento do nosso DNA, do que trata a genética forense e como a nossa biologia pode ser fundamental na resolução dos mais diversos crimes; • Entender como os conhecimentos básicos da biologia do corpo humano podem auxiliar na resolução de crimes; • Conhecer o trabalho da Genética Forense e como ela auxilia na resolução de crimes; e Compreender a importância de coletar corretamente o material genético. Este módulo compreende as seguintes aulas: Aula 1 - O estudo da Biologia na resolução de crimes. Aula 2 - A importância do material genético e aplicações práticas dos conhecimentos da Genética. Aula 3 - A Genética Forense e como ela auxilia na resolução de crimes. 12 Bom meu caro aluno, vamos então começar a entender quais os aspectos do nosso corpo que permitem que os conhecimentos da biologia possam auxiliar tanto na resolução de crimes, quanto no fornecimento de provas técnicas capazes de subsidiar a aplicação da justiça. Para isso precisamos entender aspectos mais básicos de como o nosso corpo funciona e do que se trata o DNA, que é a ferramenta de estudo e aplicação prática da Genética Forense. Como sabemos, o corpo humano,e o de boa parte dos demais seres vivos, é formado por diferentes órgãos, cada um com uma função essencial, que juntos permitem que ele funcione de maneira adequada. Cada um desses órgãos é indispensável, pois realiza uma função única dentro daquele organismo. Como exemplo temos o nosso coração, que funciona como uma bomba, mantendo o nosso sangue em movimento, as veias e artérias que funcionam como vias de transporte para que o sangue bombeado pelo coração chegue aos demais órgãos e possa levar oxigênio para o nosso corpo. Na figura 1 podemos observar que são diversos e diferentes os órgãos do nosso corpo, olhando de perto, percebe-se justamente essas diferenças que possibilitam que cada um possa executar sua função dentro do todo. Enquanto o nosso coração é um músculo robusto pela força física que deve ter para bombear o nosso sangue e, fica numa parte central do nosso corpo, já a nossa pele, precisa ter mais resistência para nos proteger do mundo externo e se estende por todo nosso corpo, para desempenhar essa função. Então, imagine como a vida seria possível se não houvesse essa diversidade de funções e formas dentro da natureza do nosso corpo! 13 Figura 1: Corpo humano Fonte: SCD/EaD/Segen. Agora é a hora de puxar na memória os aprendizados da escola, e lembrar que todos os órgãos do nosso corpo são compostos de maneira fundamental de unidades biológicas chamadas células. As nossas células são, basicamente, a menor parte do nosso corpo que consegue funcionar com relativa independência e com bastante funcionalidade. Ficou difícil entender? Vamos falar rapidamente do que é uma célula e você poderá compreender melhor. Dentro do estudo da vida, podemos perceber que, muitas vezes, a lógica do maior se aplica ao menor. Muitas das funções que vemos no nosso corpo acontece também nas nossas células, ou seja, as nossas células também possuem seus órgãos, que nesse caso se chamam organelas, e que desempenham funções que vão permitir o seu funcionamento. Veja a respiração, por exemplo, assim como o nosso corpo precisa respirar, a nossa célula também precisa. A diferença é que enquanto no nosso 14 corpo são os pulmões os responsáveis por essa função, na célula as organelas responsáveis por essa função, são as mitocôndrias. Enquanto a pele é a responsável por recobrir o nosso corpo, nas células a membrana plasmática é a responsável por essa função. Se você observar bem, verá que todo sistema precisa de um órgão que sirva como centro de comando, ou seja, aquele que irá conectar cada uma das funções e dar sentido ao todo. No caso do nosso corpo, poderíamos dizer que o cérebro realiza essa função, visto que é o órgão responsável por interpretar os sinais internos e externos, encaminhando sinais através do sistema nervoso que conecta todo o nosso sistema biológico. Na nossa célula, é no DNA que encontramos as informações necessárias para instruir e coordenar as funções que cada parte irá desempenhar. 15 Aula 2 - A importância do material genético e aplicações práticas dos conhecimentos da Genética O material genético que você carrega nas células que formam o seu corpo, existem instruções capazes de orquestrar as mesmas funções biológicas realizadas por todos os outros seres humanos à sua volta, como andar, respirar e pensar. Podemos dizer, portanto, que o nosso DNA guarda todas as semelhanças que temos entre nós, e com muitos outros seres da natureza. Apesar das nossas semelhanças serem inúmeras, são as nossas diferenças que possibilitam que o estudo do DNA possa auxiliar na resolução de crimes. As diferenças que encontramos no DNA de uma pessoa para a outra, bem como a influência de aspectos próprios do meio ambiente, são os principais fatores responsáveis por fazer com que cada pessoa seja diferente da outra, isto é, são essas diferenças que permitem que o nosso DNA, seja capaz de nos atribuir uma identidade. Verificando as semelhanças e diferenças quando comparamos o DNA de pessoas distintas, pode ser feita uma analogia com o sistema de endereçamento postal, no qual há milhares de indivíduos com o mesmo CEP, algumas centenas com o mesmo endereço de rua, poucos com o mesmo número do edifício, alguns com o mesmo número do apartamento, entretanto, apenas um com o nome e sobrenome correspondentes a este endereço. De maneira geral, o DNA de uma pessoa é formado pela combinação do DNA da mãe, com o DNA do pai. As possibilidades de combinação entre o DNA de duas pessoas são tão grandes que, é impossível, estatisticamente falando, que uma pessoa seja igual à outra. Desse modo, as informações genéticas que se traduzem nas características físicas e outros aspectos, como predisposição a doenças e habilidades individuais que você possui, caro aluno, basicamente são a combinação entre esses mesmos aspectos encontrados no DNA de seus pais. São inúmeras as funções que são coordenadas pelo nosso DNA, tanto em nível celular, quanto no nosso organismo como um todo. O nosso código genético, que é como chamamos o conjunto de informações contidas no nosso 16 DNA, funciona como uma gigantesca biblioteca, que manda instruções dentro de um sistema complexo de transmissão de informações para que cada parte da nossa célula e do nosso corpo, desempenhe a sua função a contento. Figura 2: Animação de sequência de DNA Fonte: https://giphy.com/gifs/Massivesci-massivesci-nhgri-human-genome- 7A1dYzGilg6vLi9CLp VOCÊ SABIA? O potencial de armazenamento de informações do DNA é tão grande, que pesquisadores da Universidade de Harvard, utilizando técnicas de bioengenharia e genética, conseguiram utilizar a molécula de DNA como mídia de armazenamento, como uma espécie de pendrive. Eles chegaram à conclusão de que com apenas um grama de DNA é possível armazenar 700 terabytes de informações! Acessa o link: https://vimeo.com/47615970 e assista o vídeo caso você tenha curiosidade em saber como os pesquisadores conseguiram transformar o DNA na mídia de armazenamento do futuro. https://vimeo.com/47615970 17 Agora podemos imaginar que, para dar conta de registrar essa quantidade de informações, o nosso DNA teria que ter quilômetros de extensão, já que essa molécula deve ser grande o suficiente para conter todas as instruções necessárias à vida humana. Foram feitas algumas estimativas por cientistas da área, que chegaram à conclusão de que, se nós pudéssemos pegar o DNA de todas as células de uma única pessoa e, esticá-lo até que ele formasse uma linha reta, a fita de DNA alcançaria um comprimento equivalente a 140 vezes a distância da terra ao sol. Mas como uma molécula desse tamanho cabe dentro de uma célula? Figura 3: Comprimento do DNA humano Fonte: https://unbelievable-facts.com/2016/08/science-facts.html/human-dna-length Para responder essa pergunta, é necessário que você conheça alguns aspectos sobre a estrutura do DNA. Você pode imaginar como é difícil representar e estudar compostos químicos e biológicos, principalmente por se tratar de estruturas invisíveis aos olhos, por isso pesquisadores e estudiosos da área, buscam criar formas de representar estruturas biológicas, como a molécula de DNA, a partir dos elementos químicos que a compõe. 18 A partir dos mais diversos estudos na área, chegou à conclusão de que o DNA é formado, essencialmente, por quatro tipos de unidades chamadas nucleotídeos que, se diferenciam entre si de acordo com suas características químicas. Com o propósito de facilitar os estudos na área, os quatro tipos de unidades que formam o nosso DNA são representados pelas letras A,G,C e T, que correspondem aos compostos denominados adenina, guanina, citosina e timina, respectivamente. Figura 4: Quatro tipos de unidades que formam o DNA Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen.19 Regiões codificantes Dentro dessa grande molécula, existem as chamadas regiões codificantes que orientam a produção de proteínas e estão relacionadas às mais diversas funções do nosso corpo, e essas regiões são chamadas genes. São nos genes que encontramos as informações genéticas relacionadas não só ao funcionamento do nosso corpo, mas a todas as características físicas que apresentamos, que é chamada na biologia de fenótipo. Regiões não codificantes Hoje se sabe que menos de 10% do nosso DNA, é formado de genes, sendo a maior parte deles formados de regiões não codificantes, ou seja, regiões que não são responsáveis por nenhuma função biológica conhecida, ou característica física que apresentamos. Essas regiões apresentam grande variabilidade entre os indivíduos e muitas regiões repetitivas, o que faz com que sejam muito úteis na identificação genética, e são elas as regiões utilizadas para os estudos da Genética Forense. Regiões não codificantes Segundo se sabe, atualmente a molécula de DNA é formada por duas fitas que se complementam e se dispõe em um padrão helicoidal, compostas pelos quatro tipos de nucleotídeos que detalhamos acima. Com o auxílio de proteínas específicas, o material genético se compacta de maneira extremamente organizada e se condensa ao máximo, até que possa caber dentro do núcleo das nossas células. São essas estruturas condensadas e enoveladas de DNA, localizadas no interior do núcleo das nossas células, que chamamos de cromossomos. 20 Figura 5: Representação do DNA Fonte: https://brasilescola.uol.com.br/biologia/dna.htm - modificado Vemos nessa figura, como os nucleotídeos se complementam formando uma fita dupla, que se organiza de forma helicoidal e se compacta até formar os cromossomos. Os cromossomos representam a forma mais compactada do nosso DNA e, é essa organização, que permite que essa molécula tão extensa possa ficar acomodada no núcleo das nossas células! Logo, o conjunto de cromossomos encontrado no interior de cada uma das células nucleadas de uma pessoa, reúne todas as suas informações genéticas. Os seres humanos possuem dentro de suas células 23 pares de cromossomos, portanto, totalizando 46 cromossomos, dentre os quais 23 são de herança materna e 23 de herança paterna. Dos 23 cromossomos que recebemos de cada um de nossos pais, 22 são chamados de autossômicos, que estão relacionados às características comuns entre indivíduos do sexo masculino e do sexo feminino, e um deles é chamado de cromossomo sexual. Após a união dos gametas, é formada uma única célula que contém 22 pares de cromossomos autossômicos e dois cromossomos sexuais. Existem dois tipos de cromossomos sexuais, o cromossomo X e o cromossomo Y, a sua combinação vai definir o sexo do indivíduo formado após 21 a fecundação dos gametas. Um indivíduo do sexo feminino apresenta dois cromossomos X, enquanto o do sexo masculino, possui um cromossomo X e um cromossomo Y. A partir dessas informações, podemos afirmar que qualquer indivíduo tem no seu DNA, metade da informação genética herdada de sua mãe e metade herdada de seu pai. Mas se isso acontece, Figura 6: Para refletir Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen. A variabilidade entre irmãos e, entre os indivíduos em geral, ocorre porque no processo de formação dos gametas (óvulos e espermatozoides) ocorre um processo de recombinação genética que, confere grande variabilidade ao DNA, de forma que nenhum gameta é igual ao outro. Por isso, mesmo que dois irmãos tenham sido formados da união dos gametas do mesmo pai e da mesma mãe, eles apresentarão características genéticas e físicas distintas. O conjunto de informações genéticas obtidas a partir da análise de regiões encontradas nos cromossomos autossômicos, é chamado de perfil genético. Enquanto a variabilidade genética ocorre com maior frequência nos cromossomos autossômicos, esse evento não ocorre com a mesma intensidade com os cromossomos sexuais. Por esse motivo, uma pessoa do sexo masculino possui um Cromossomo Y herdado de seu pai, quase que inalterado, ou seja, sem grandes variações no seu DNA. O conjunto de informações genéticas obtidas a partir da análise de regiões encontradas neste cromossomo é chamado Haplótipo do Cromossomo Y. 22 Aula 3 - A Genética Forense e como ela auxilia na resolução de crimes Bom, após essa breve jornada dentro do nosso corpo, vamos entender o seguinte questionamento: Figura 7: Para refletir Fonte: do conteuditsa; SCD/EaD/Segen. Para responder essa pergunta, vamos entrar agora no estudo da Genética Forense, uma área muito importante dentro das Ciências Forenses. As Ciências Forenses atuam no processo de geração e/ou transferência de conhecimento científico e tecnológico em cada um dos ramos das ciências naturais, com a finalidade de aplicação na análise de vestígios, buscando responder questões científicas de interesse da Justiça. Uma das principais ciências forenses, é a Genética Forense, que trata da utilização dos conhecimentos e das técnicas da Genética e da Biologia Molecular no auxílio à justiça. As técnicas de biologia molecular aplicadas à área criminal, concentram- se em grande parte, em análises do DNA para identificação de um indivíduo a partir da análise de vestígios biológicos como cabelos, manchas de sangue e fluidos corporais, dentre outros itens recuperados no local do crime. Contudo, de que forma esses materiais biológicos acabam sendo transferidos para os vestígios coletados nesses locais? 23 Cada vez que entramos em contato com quaisquer pessoas, ou objetos ao nosso redor, deixamos neles um pouco de nós. Parece poesia, mas na verdade quem explica esse fenômeno é a física. A Teoria de Locard, que foi postulada pelo cientista Edmond Locard, nos diz, de maneira resumida, todo contato deixa uma marca. Qualquer indivíduo que comete um crime, por exemplo, entrará invariavelmente em contato com diversos objetos ao seu redor, então para efetuar um roubo, uma pessoa precisará de ferramentas, abrir portas, gavetas, utilizar um veículo, entre muitas outras ações e movimentos que, irão gerar um contato e consequentemente deixará uma marca. Na prática Vamos supor que uma câmera de segurança, por exemplo, filma o exato momento em que uma pessoa toca na maçaneta da porta de um imóvel, para cometer um furto. Se pudéssemos aproximar aquela imagem muitas e muitas vezes, até um nível microscópico, veríamos as células da pele daquele indivíduo se soltando e ficando presas ao material daquela maçaneta que, conforme você pôde observar durante a leitura desse módulo, carregam dentro delas a identidade genética do autor daquele fato. A partir daí é possível concluir que quanto maior o contato, maior também será essa marca. Se este mesmo indivíduo do nosso exemplo anterior, se cortasse numa janela do imóvel alvo de furto, o sangue que ficaria impregnado no vidro carregaria ainda mais células e, consequentemente, muito mais cópias do DNA do autor daquele crime. Quanto mais células do autor estiverem presentes num objeto, maiores são as chances de obter um perfil genético daquele material, o que aumenta inclusive a sua capacidade de identificar aquele indivíduo. 24 É isso que ocorre em grande parte dos crimes cometidos todos os dias. Os contatos deixam como rastro o material biológico dos indivíduos envolvidos, ou seja, as células do autor de um crime ou de vítimas, que serão coletadas pela equipe de Perícia Criminal no local de crime e encaminhadas ao Laboratório de Genética Forense. As tecnologias utilizadas na Genética Forense, permitem que o DNA presente naquele material encaminhado seja extraído do interior dessas células. Após a extração, o Laboratório poderá proceder com a etapa de Quantificação, que serve para estimara quantidade e qualidade do DNA encontrado naquela amostra. Posteriormente, as cópias de DNA ali presentes, serão multiplicadas muitas e muitas vezes em uma etapa chamada de Amplificação. Além de multiplicar as cópias de DNA, nesta etapa também ocorre a marcação do DNA com sondas que emitem fluorescência, que serão captadas por um analisador genético na etapa da genotipagem do DNA. Na figura abaixo, você pode conferir algumas dessas etapas e sua ordem de acontecimentos, a fim de facilitar a sua compreensão. Você pôde perceber que a análise genética, necessita de diversas etapas e equipamentos, o que faz com que demande tempo e recursos, tanto tecnológicos quanto humanos. 25 Figura 8: Etapas da análise genética Fonte: PENA, 2005 (Modificado). Ao fim da etapa de genotipagem, os dados gerados pelo equipamento são interpretados por um software, que irá fornecer o produto final de análise da Genética Forense: o Perfil Genético. Na figura abaixo, temos um exemplo de um Perfil Genético Autossômico obtido após o processamento de uma amostra coletada em um local de crime. Nele podemos ver algumas informações que você já viu durante a leitura deste módulo e que poderá reconhecer agora de maneira prática. Observe que na porção superior da figura, vemos as regiões do DNA que serão analisadas. Como você sabe, o DNA é uma molécula bastante extensa, e por esse motivo é necessário que se escolham algumas regiões para análise genética, que serão comparadas entre os perfis obtidos de diferentes amostras. 26 Figura 9: Exemplo de Perfil Genético Autossômico Fonte: do conteudista/ SCD/EaD/Segen. Podemos observar no perfil genético os cromossomos sexuais, que indicarão o sexo do indivíduo: neste caso se trata de uma pessoa do sexo masculino, pois vemos tanto o Cromossomo X, quanto o Cromossomo Y. E por último, vemos ainda os marcadores presentes nos Cromossomos Autossômicos. Se você prestar atenção, verá que na maioria das regiões são apresentados dois picos, sendo um deles representante da herança materna e o outro da herança paterna. Os números abaixo dos picos correspondem às variantes alélicas e, na região em que vemos apenas um pico, temos um exemplo de uma região na qual tanto a mãe quanto o pai do indivíduo apresentavam o mesmo alelo genético naquela região. Agora, na figura abaixo, você pode ver um exemplo da representação de um Haplótipo do Cromossomo Y. Observe que diferente do Perfil Genético Autossômico, no qual podemos constatar a contribuição materna e paterna, neste caso temos apenas um pico representado na figura em cada região analisada, já que as variantes alélicas presentes nesse cromossomo, representam apenas a herança paterna do indivíduo. 27 Figura 10: exemplo da representação de um Haplótipo do Cromossomo Y Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen. Após obter o perfil genético, o Perito Criminal deverá proceder então com sua análise e interpretação, mas como isso ocorre? Após rever um pouco dos conceitos básicos da biologia, você viu que o DNA de uma pessoa é formado pela combinação do material genético de seus pais, e que nesse processo ocorrem eventos de recombinação genética que produzem um indivíduo único, fazendo com que seja possível identificar uma pessoa, e distingui-la de qualquer outra, através do perfil genético obtido a partir de seu DNA. Você viu ainda que, a variabilidade genética que permite a individualização do perfil genético de uma pessoa, ou seja, a distinção de seu DNA do de qualquer outra, não ocorre nos cromossomos sexuais. Por isso, a análise genética do cromossomo Y permite a identificação de uma linhagem paterna, e não de um indivíduo em si, visto que homens de uma mesma família apresentam, salvo raras exceções, o mesmo Haplótipo do Cromossomo Y. A análise do Haplótipo do Cromossomo Y é especialmente importante na resolução de crimes sexuais, pois o que ocorre muitas vezes é que o material da vítima se encontra presente em maior proporção que o do autor do crime. Em casos de vítimas do sexo feminino, que não apresentam o Cromossomo Y, no processo de amplificação do DNA, as sondas presentes nos reagentes marcam apenas as regiões do Cromossomo Y, de forma a isolar o material masculino dentro daquela amostra. 28 Outro ponto relevante é que, já que o seu material genético é uma união de cromossomos de seu pai e de sua mãe, a comparação de uma certa região do seu DNA com a mesma região no DNA de um dos seus pais, permite que sejam observadas semelhanças genéticas, o que possibilita que sejam estabelecidos vínculos de parentesco entre duas pessoas a partir da análise genética, o que ocorre nos chamados testes de paternidade. Apesar desses testes serem comumente chamados dessa maneira, não é apenas o vínculo de pai e/ou mãe com o seu filho que pode ser estabelecido a partir dessas análises, sendo possível estabelecer outros vínculos familiares como análise de irmandade. Dentro da genética forense, esses testes são muito importantes quando se trata da identificação de pessoas de identidade desconhecida ou desaparecidas, através da comparação de seu DNA, com o de familiares em busca de seus parentes. Você pôde ver até aqui que, a partir do material genético recuperado de vestígios coletados de locais e vítimas de crimes, os Peritos Criminais do Laboratório de Genética Forense são capazes de analisar os perfis genéticos obtidos, o que possibilita tanto o estabelecimento de coincidências genéticas, quanto a verificação de relações de parentesco entre indivíduos. Contudo, para que essas relações possam ser estabelecidas, apenas o perfil genético obtido do vestígio não é suficiente, tendo em vista que toda e qualquer análise genética é realizada a partir da comparação entre perfis genéticos. Nos casos em que se busca saber a quem pertence determinado material biológico, é realizado o confronto genético entre o perfil obtido da amostra coletada de um vestígio encontrado no local de crime – que é chamada de Amostra Questionada, com o perfil obtido de um doador conhecido, que pode ser um suspeito ou uma vítima – chamada de Amostra de Referência. Ao realizar as comparações entre os perfis obtidos da Amostra Questionada e da Amostra de Referência, o que se busca obter é uma coincidência genética, isto quer dizer que o DNA comparado entre as duas amostras, deverá ser idêntico. Na figura abaixo, podemos ver a coincidência entre os marcadores genéticos obtidos na Amostra Questionada e os representados na Amostra de Referência coletada de um suspeito. 29 Figura 11: Comparativo entre a amostra questionadas e a de referência Fonte: da conteudista; SCD/EaD/Segen. Desse modo, quando o objetivo é estabelecer relações de parentesco, se compara o perfil genético coletado de uma pessoa cuja identidade é desconhecida, com os obtidos das Amostras de Referência de seus supostos pais, por exemplo. No caso em que se possui ambos os pais para a análise comparativa, ao confrontar os perfis obtidos, se espera que metade do DNA da Amostra Questionada seja idêntico ao DNA materno e metade idêntico ao DNA paterno. É dessa forma que a Genética Forense atua, buscando evidenciar coincidências ou divergências genéticas, que poderão ser usadas para demonstrar a culpabilidade dos criminosos, isentar os inocentes, identificar corpos e restos humanos, determinar paternidade com confiabilidade 30 incondicional, elucidar trocas de bebês em berçários, dentre muitas outras possibilidades que sejam de interesse da justiça. Parabéns! Você chegou ao fim do nosso primeiro Módulo. Espero que você tenha conseguido compreender alguns dos aspectos da nossa Biologia e sua importância para a resolução dos mais diversos tipos de crime. Neste módulo, você aprendeu que: • Apesar de termos dentro do nosso corpo estruturas biológicas comdiferentes funções, todas elas são formadas pela união de células, que guardam em seu núcleo o material genético de todo e qualquer ser humano; • A molécula de DNA é capaz de armazenar todas as informações necessárias para o funcionamento do nosso corpo, e que através dela podemos atestar as semelhanças e diferenças genéticas observadas entre os indivíduos; • A partir da análise de regiões específicas, é possível estabelecer um perfil genético, que é único para cada indivíduo, o que confere ao DNA a capacidade de estabelecer uma identidade. E é justamente por isso que a análise do DNA é tão importante da resolução de crimes, pois a partir dela podemos estabelecer a identidade de indivíduos que cometeram crimes e que abandonaram seu material biológico nos vestígios coletados pela Perícia Criminal; • Os marcadores genéticos apresentam diferenças entre si, e podem representar tanto regiões dos Cromossomos Autossômicos quanto do Cromossomo Y; • Através da análise comparativa, a Genética Forense é capaz de atestar coincidências ou divergências entre esses marcadores, que permitem verificar se determinado material biológico pertence a um indivíduo suspeito de um crime, por exemplo. 31 Módulo II - HISTÓRICO DA UTILIZAÇÃO DO DNA NA RESOLUÇÃO DE CRIMES E FUNDAMENTAÇÃO LEGAL Agora que você já conhece os aspectos da nossa biologia básica que auxiliam da resolução de crimes, e como a Genética Forense utiliza esses conceitos em favor da justiça, vamos apresentar agora um breve histórico dessa área de conhecimento para que você entenda o caminho percorrido até os dias atuais. Adicionalmente, iremos apresentar o arcabouço legal que fundamenta a utilização do perfil genético como forma de identificação criminal, quais as limitações impostas pela Lei para a coleta do DNA de indivíduos apenados, bem como para sua inserção em Bancos de Perfis Genéticos. Esse módulo pretende criar condições para que você possa: • Conhecer alguns aspectos históricos da utilização do DNA na resolução de crimes; • Compreender como essa ferramenta foi e é utilizada em diversos países do mundo; • Conhecer as normas internacionais relacionadas aos Bancos de Perfis Genéticos; e • Conhecer o arcabouço legal brasileiro que normatiza a Identificação Genética Criminal e inclusão de perfis genéticos em Bancos de DNA. Este módulo compreende as seguintes aulas: Aula 1 - Aspectos históricos da utilização do DNA na resolução de crimes. Aula 2 - Utilização das Técnicas de Identificação pelo DNA no Brasil e no Mundo. Aula 3 - Arcabouço Legal Brasileiro que normatiza a Identificação Genética Criminal e inclusão de perfis genéticos em Bancos de DNA. 32 Atualmente se fala bastante do DNA e das suas aplicações nos mais diversos campos do conhecimento, principalmente nas áreas relacionadas à saúde. Mas em que momento se pensou que esses conhecimentos também poderiam auxiliar à Justiça? Para responder essa pergunta, precisamos voltar um pouco no tempo e apresentar para você um grande cientista que ajudou a revolucionar a forma como o DNA era utilizado até então. Alec John Jeffreys é um geneticista britânico, professor da Universidade de Leicester (Inglaterra) que, em 1985 publicou um artigo na revista Nature, revista de grande impacto no meio acadêmico, Neste trabalho, ele comenta sobre certas regiões do DNA, denominadas regiões de minissatélites, que, poderiam identificar uma pessoa com quase 100% de certeza e, é neste trabalho que aparece pela primeira vez o termo “DNA Fingerprinting” ("impressões digitais do DNA"). Até esse momento, as impressões digitais eram a forma mais utilizada de identificação humana, já que também possuem a capacidade de individualização, ou seja, demonstrar um padrão que é único para cada indivíduo. Figura 12: DNA Fonte: https://giphy.com/gifs/dna-l1fWtMmQbuGvm https://giphy.com/gifs/dna-l1fWtMmQbuGvm 33 Apesar de se tratar de técnicas bem distintas, foi a partir dessa analogia, que o geneticista abriu as portas para que outros cientistas pudessem explorar as possibilidades de utilização do DNA como forma de identificação quando, ainda na década de 80, afirmou que todos os indivíduos poderiam ser identificados através de um padrão único de DNA. No início houve muita dúvida sobre usar sua descoberta na área forense, por se tratar de uma técnica inovadora, mesmo na área da biologia molecular e genética, porém esse estudo impulsionou vários outros que se sucederam, o que fez com que a década de 90 fosse considerada a era de ouro das pesquisas sobre a identificação por meio do DNA. As técnicas e formas de identificar as pessoas foram evoluindo com o passar dos anos, hoje as regiões do nosso DNA que são utilizadas para identificação, já estão bem definidas. Elas são amplamente utilizadas em todo o mundo e estão em constante atualização, tanto em seus aspectos científicos quanto tecnológicos, visto que se trata de uma ciência extremamente dinâmica. Bom, depois de apresentar este breve histórico, vamos ao seguinte questionamento: Figura 13: Para refletir Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen. Oficialmente, o DNA foi usado pela primeira vez para resolver um problema de imigração. Um jovem ganês que morava com a família na Inglaterra, fez uma viagem para seu país de origem e, quando regressou para o Reino Unido, teve sua entrada negada sob a acusação de documentação falsificada. Foi então que o governo solicitou que Jeffreys usasse da sua recente descoberta de identificação através da análise do DNA para solucionar o caso. 34 Através do exame de DNA, ficou comprovado que a família biológica do rapaz residia mesmo na Inglaterra, possibilitando assim sua entrada no país (JEFFREYS et al., 1985a). Caso você tenha curiosidade de saber como o pesquisador trabalhou com esse caso, segue um vídeo em que Jeffreys explica a técnica utilizada. Acessa o link: https://www.youtube.com/watch?v=L0OM5oQI46g&t=8s e assista o vídeo que caso você tenha curiosidade em a técnica utilizada por Jeffreys. A técnica foi usada oficialmente na área forense para investigar uma série de crimes ocorridos no ano de 1986, envolvendo o estupro e homicídio de duas adolescentes, Lynda Mann e Dawn Ashcroft, no vilarejo de Narborough, na Inglaterra. Os crimes chocaram bastante a sociedade na época, o que gerou um grande empenho para que eles fossem solucionados. Nos dois crimes, a polícia coletou amostras de sêmen encontrado no corpo das vítimas e, na ocasião, um homem chamado Richard Buckland confessou os dois crimes. Foi nesse momento, que Jeffreys foi chamado para utilizar a técnica de DNA para comparar os perfis obtidos do sêmen coletado das vítimas, com o obtido da amostra de Richard Buckland, quando verificou que eles eram incompatíveis. Mas o que isso quer dizer? Isso significa que https://www.youtube.com/watch?v=L0OM5oQI46g&t=8s 35 o doador daquele material biológico, não poderia ser o suspeito que confessou aqueles crimes. Posteriormente se descobriu que Richard Buckland queria apenas publicidade e ele entrou para a história como o primeiro homem a ser inocentado através da análise do DNA. Figura 14: Primeiro assassinato resolvido com o uso da genética: caso Leicester Fonte: https://www.csiacademy.com.br/blog A partir daí, se iniciaram buscas incansáveis para encontrar o assassino das jovens. As autoridades de Narborough simularam uma campanha de doação de sangue, e foram coletadas amostras de sangue de 3.600 homens — toda a população masculina do lugar, com idade entre 14 anos e 40 anos. Daí em diante, Alec Jeffreys pôde analisar o DNA de todas aquelas amostras, chegando à conclusão de que nenhum daqueles homens poderia ser o estuprador. Foi apenas em 1988, que uma mulher informou à polícia sobre uma conversa que escutou, na qualum homem chamado Ian Kelly, funcionário de uma padaria, afirmara que teria doado seu sangue no lugar de um colega também padeiro, chamado Colin Pitchfork. A polícia foi então atrás de Colin, que não teve uma alternativa, senão doar seu sangue para comparação com o DNA https://www.csiacademy.com.br/blog 36 do material coletado das vítimas, quando foi finalmente identificado como o autor dos crimes, através do DNA, e se tornou o primeiro indivíduo a ser condenado através da identificação genética. O caso ficou extremamente famoso e foi feito inclusive um documentário pela rede BBC da Inglaterra sobre ele, dada sua importância na história da utilização da genética forense na resolução de crimes. Figura 15: Colin Pitchfork, condenado pelos assassinatos em 1988. Fonte: https://www.leicestermercury.co.uk/news/local-news/catching-britains-killers- colin-pitchfork-3358060 De lá para cá, diversos outros crimes foram solucionados com a utilização dos conhecimentos da genética forense. Essa ferramenta é bastante valiosa tanto para encontrar a autoria de crimes não solucionados, quanto para inocentar pessoas acusadas com base em provas frágeis, como o reconhecimento por vítimas e/ou retratos falados, que apresentam maior subjetividade e que, frequentemente, são responsáveis pela condenação de pessoas inocentes. De lá para cá, diversos outros crimes foram solucionados com a utilização dos conhecimentos da genética forense. Essa ferramenta é bastante valiosa tanto para encontrar a autoria de crimes não solucionados, quanto para inocentar pessoas acusadas com base em 37 provas frágeis, como o reconhecimento por vítimas e/ou retratos falados, que apresentam maior subjetividade e que, frequentemente, são responsáveis pela condenação de pessoas inocentes. Aula 2 - Utilização das Técnicas de Identificação pelo DNA no Brasil e no Mundo O potencial de identificação de autoria de crimes por meio do DNA, causou tamanho impacto, que essa nova realidade motivou inclusive a criação de um projeto denominado “Innocence Project”, criado nos Estados Unidos em 1992 e que hoje já está presente em diversos outros países, inclusive no Brasil. O projeto já conseguiu reverter diversas condenações equivocadas com o uso de testes de DNA, sendo responsável por inocentar 350 pessoas através dessa ferramenta desde sua criação, algumas com sentença de morte decretada. Essa ferramenta também foi responsável por solucionar diversos casos antigos, que já não tinham perspectivas de serem solucionados, chamados “Cold Cases”. Isto se deve ao fato dessa ferramenta não ser utilizada à época do cometimento do crime, por isso a análise de DNA trouxe uma nova possibilidade de investigação, permitindo a conclusão de diversos casos. 38 Figura 16: Pense nisso Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen. Apesar dessa tecnologia já possuir mais de 30 anos, somente nos anos 2000 a técnica ganhou maior notoriedade na sociedade, a partir de casos como o do menino Pedrinho. O caso ocorreu no ano de 1986, em Brasília, onde Maria Auxiliadora Braule Pinto teve seu filho sequestrado por uma mulher que, se passou por enfermeira do hospital onde ela deu à luz a seu filho, Pedro. A mulher era Vilma Martins Costa, que registrou o menino como seu filho. Levou-o para Goiânia, onde o criou até 2002. Através de uma denúncia anônima, teve seu crime descoberto, o que ficou comprovado após a realização de testes de DNA. Estes, confirmaram que seu filho, registrado como Osvaldo Martins Borges era, na verdade, Pedro Rosalino Braule Pinto, o menino que havia sido sequestrado. 2.1 Normas internacionais relacionadas aos Bancos de Perfis Genéticos: Atualmente, o número de casos resolvidos em todo o mundo por meio da prova de DNA cresce exponencialmente, contudo, até pouco tempo só era possível realizar a comparação do material genético obtido de vestígios criminais, com suspeitos encaminhados pelas autoridades policiais e judiciarias, o que limitava bastante as possibilidades de indicação de autorias. 39 Com a implantação de um banco de dados de DNA, os perfis genéticos obtidos de vestígios coletados de vítimas e em locais de crime, podem ser confrontados a qualquer tempo com perfis de criminosos condenados, mesmo que por outro tipo de crime e em qualquer estado da federação, aumentando bastante as possibilidades de identificação dos autores dos mais diversos tipos de crimes. Ainda é possível fazer o cruzamento de dados com perfis de vestígios obtidos de outras vítimas, e de outros locais de crime, estabelecendo a relação entre diversos crimes cometidos por um mesmo indivíduo, o que viabiliza a identificação de crimes em série. O Federal Bureau of Investigation – FBI (Agência Norte Americana de Investigação), foi pioneira na criação de um banco de perfis genéticos e tornou- se a líder no desenvolvimento de tecnologias para a utilização de DNA na identificação de criminosos. O sistema de Índice de DNA Combinado (CODIS - Combined DNA Index System) criado pelo FBI, que começou como um projeto piloto em 1990 e ganhou força em 1994, deu ao FBI a autoridade de estabelecer um banco de dados em nível nacional, nos EUA, para fins de investigação criminal. Foram selecionadas 13 regiões do DNA, que não indicam características físicas de indivíduos, e servem como padrão mínimo para todos os laboratórios que utilizam o sistema com o intuito de comparar os perfis genéticos obtidos de suspeitos e condenados com os perfis genéticos de vestígios cadastrados no banco. SAIBA MAIS! O FBI disponibiliza gratuitamente este programa aos governos dos países interessados em utilizá-lo na área de segurança pública. Além dos aproximadamente 180 laboratórios de DNA que utilizam o CODIS nos EUA, mais de 40 laboratórios também utilizam em outros 27 países. 40 Nos EUA Como parte da Lei de Identificação de DNA dos EUA (DNA Identification Act), todos os laboratórios de DNA operados pelo governo federal americano, que recebem fundos federais ou que empregam software preparado para o CODIS, são obrigados a demonstrar conformidade com os padrões e requisitos de qualidade emitidos pelo FBI. Mesmo os demais países que utilizam o software nos seus bancos de perfis genéticos, precisam comprovar que seguem padrões mínimos de qualidade, o que demanda processos de avaliação contínua, que visam ajudar os laboratórios criminais a cumprir as normas federais americanas, para integrar o CODIS e utilizar as tecnologias de análise de DNA com fins criminais de forma eficaz e confiável. No Brasil O Brasil iniciou a implantação do CODIS (Combined DNA Index System) em seus estados a partir de 2010, após curso de formação que contou com a participação de Peritos Criminais das unidades que possuíam, ou estavam em vias de implantação de laboratórios forenses de DNA. Em 2008, a Polícia Federal norte-americana (FBI) e a Polícia Federal brasileira, firmaram a “Letter of Agreement”. Foi estabelecido um convênio entre as instituições, já em 2009, durante a identificação de vítimas do acidente aéreo com o voo AF 447 (Rio‐Paris), os Peritos Criminais do Departamento da Polícia Federal, utilizaram‐se do software CODIS, para comparações entre perfis genéticos de corpos de identidade desconhecida e dos familiares em busca de seus parentes. 41 Figura 17: Testes de DNA permitem identificar vítimas do AF 447, diz França Fonte: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/05/testes-de-dna-permitem-identificar-vitimas- do-af-447-diz-franca.html http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/05/testes-de-dna-permitem-identificar-vitimas-do-af-447-diz-franca.html http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/05/testes-de-dna-permitem-identificar-vitimas-do-af-447-diz-franca.html 42 AULA 3 – ArcabouçoLegal Brasileiro que Normatiza a Identificação Genética Criminal e Inclusão de Perfis Genéticos em Bancos de DNA. Será que a implantação do sistema aconteceu de um dia para o outro? Acho que você deve imaginar que foram necessárias muitas discussões, principalmente no âmbito legal, para que esta ferramenta pudesse se adequar ao ordenamento jurídico brasileiro e para que o banco de dados genéticos, pudesse funcionar a contento no auxílio às investigações criminais no nosso país. Apesar dos bancos de perfis genéticos para persecução penal estarem bem estabelecidos há cerca de vinte anos nos EUA, no Brasil, somente após a Lei n° 12.654/2012, que prevê a coleta de perfil genético como forma de identificação criminal, passou a admitir a coleta e armazenamento de dados em bancos de perfis genéticos para identificação criminal. SAIBA MAIS! A Lei n° 12.654 foi sancionada em 28 de maio de 2012, e alterou dispositivos da lei de identificação criminal e de execução penal, passando a prever a coleta compulsória e armazenamento de perfis genéticos em bancos de dados para identificação criminal, no caso dos condenados por crimes específicos e previstos em lei, conforme veremos a seguir. Abaixo você pode observar uma linha do tempo que, resume as leis que sustentam atualmente a coleta de DNA, a identificação genética e a comparação de perfis genéticos em bancos de dados no Brasil: 43 Figura 18: Linha do tempo que, resume as leis que sustentam atualmente a coleta de DNA, a identificação genética e a comparação de perfis genéticos em bancos de dados no Brasil. Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen. Agora que você sabe quais são as leis que servem de arcabouço legal para a coleta de DNA de condenados, vamos conhecer mais a fundo o que cada uma delas diz sobre o assunto? Entender um pouco dessas leis permite que os servidores envolvidos no processo possam agir com legalidade, ou seja, dentro dos limites impostos pela lei. Como você deve saber, dentro do ordenamento jurídico brasileiro, existem leis que funcionam como base para determinados procedimentos legais e que são frequentemente alteradas por outras que se sucedem, com o intuito de complementar assuntos abordados pela lei original. É exatamente disso que vamos tratar agora. Lei nº 7.210/1984 A Lei nº 7.210/1984, que instituiu os procedimentos para execução penal, é a lei que serve como base para execução de penas relacionadas ao código penal brasileiro. Desde a data da sua publicação, foram promulgadas outras leis que, paulatinamente, foram alterando artigos específicos da Lei de Execução Penal, de modo que em sua versão atual vemos que alguns de seus dispositivos apresentam modificações posteriores à sua data de publicação. 44 Lei nº 12.037/2009 O mesmo aconteceu com a Lei nº 12.037/2009, que dispõe sobre a identificação criminal do civilmente identificado e que também foi alterada por leis posteriores. Esta lei foi a responsável por estabelecer quais os procedimentos e limites para que pessoas presas pelos mais diversos crimes sejam identificadas criminalmente, isto é, sejam submetidas a outras formas de identificação que não aquela possibilitada pelo documento de identificação civil, bem como a utilização destas formas de identificação no sistema penal e nos processos relacionados às investigações policiais. Lei nº 12.654/2012 Já a Lei nº 12.654/2012, prevê a coleta de perfil genético como forma de identificação criminal e foi responsável por alterar dispositivos, tanto da Lei nº 7.210/1984, quanto da Lei nº 12.037/2009. Por conta disso, abordaremos agora quais foram as principais modificações promovidas por esta Lei e como elas impactaram o ordenamento jurídico brasileiro. Bom, no que se refere à Lei nº 12.037/2009, a modificação principal promovida pela Lei nº 12.654/2012, foi a inclusão do perfil genético como forma de identificação criminal que anteriormente contemplava apenas a coleta de impressões digitais e registros fotográficos dentro do sistema penal. Essa modificação, apesar de parecer simples, abriu ainda mais os caminhos para que a genética forense pudesse auxiliar as investigações criminais. A identificação genética por se tratar de um mecanismo inovador no ordenamento jurídico, naturalmente, gerou muitos questionamentos éticos e morais em torno de sua utilização nas investigações criminais. Muitos desses questionamentos, incluíam o fato de algumas técnicas de coleta de materiais biológicos serem dolorosas e invasivas, além de que as informações genéticas poderiam revelar características físicas dos indivíduos, o que poderia causar desvios no seu real propósito de identificar pessoas com fins criminais. 45 Em suma, a preocupação era que os dados genéticos pudessem revelar traços físicos, históricos de doenças, dentre outras características que pudessem ser utilizadas por interesses tanto pessoais, quanto de empresas que pudessem ter interesses financeiros nas informações genéticas dessas pessoas, o que poderia ameaçar a liberdade e privacidade individual, além de causar desvios de finalidade na utilização das informações genéticas dos indivíduos contemplados na lei. Esses questionamentos foram muito importantes para que a Lei nº 12.654/2012 incluísse normas que pudesse proteger qualquer indivíduo que tenha seu material biológico coletado, assim como proteger o sigilo de suas informações. Por isso, veja abaixo quais os dispositivos que protegem os indivíduos submetidos à identificação genética. Vejamos o que diz o artigo a seguir da Lei nº 12.654/2012: Art. 5º-A. Os dados relacionados à coleta do perfil genético deverão ser armazenados em banco de dados de perfis genéticos, gerenciado por unidade oficial de perícia criminal. § 1º As informações genéticas contidas nos bancos de dados de perfis genéticos não poderão revelar traços somáticos ou comportamentais das pessoas, exceto determinação genética de gênero, consoante as normas constitucionais e internacionais sobre direitos humanos, genoma humano e dados genéticos. § 2º Os dados constantes dos bancos de dados de perfis genéticos terão caráter sigiloso, respondendo civil, penal e administrativamente aquele que permitir ou promover sua utilização para fins diversos dos previstos nesta Lei ou em decisão judicial. § 3º As informações obtidas a partir da coincidência de perfis genéticos deverão ser consignadas em laudo pericial firmado por perito oficial devidamente habilitado. 46 Se você analisar atentamente o que a lei nos diz, verá que foram incluídas medidas de proteção na norma, como a necessidade de que o banco de perfis seja gerenciado por uma unidade oficial de perícia criminal, visto que são unidades que tem como função a produção de provas materiais e científicas, agindo acima de tudo com imparcialidade, e que podem, através da emissão de Laudo Pericial, relatar os dados científicos e com isso permitir a identificação genética do autor de um crime. Além disso, a lei determina que os dados genéticos armazenados não podem revelar traços somáticos ou comportamentais das pessoas, além de seu gênero, o que significa que esses dados não podem estar relacionados a nenhuma característica física do indivíduo como: tons de pele, cor de cabelo e olhos, altura, dentre outros. Por isso, o perfil genético armazenado no banco, consiste basicamente, em uma série de números que traduzem informações relacionadas às regiões do DNA e que não informam os tipos de características fenotípicas vetadas pela lei. Outro caráter imprescindível apontado pela norma é que, os dados armazenados nesse banco possuem caráter SIGILOSO, ou seja, não são acessíveis por nenhum outro órgão, dentro ou fora da segurança pública, que não os Laboratórios de Genética autorizados. Mesmo na emissão dos Laudos Periciais querelatam as coincidências genéticas detectadas pelo banco, não podem ser divulgadas informações sobre os perfis analisados, ou o código de identificação das amostras de condenados, a fim de proteger ao máximo suas informações. A Lei nº 12.654/2012 ainda limita a forma de coleta, quando indica que esta deverá ser realizada de maneira ADEQUADA e INDOLOR. Por isso, atualmente, essa coleta é realizada por meio de esfregaço, com uso de um suabe ou outro dispositivo de coleta, na mucosa bucal do indivíduo, mais precisamente na parte interna da boca. Esse método, além de ser rápido, seguro e indolor para o indivíduo que está tendo seu material coletado, também é de fácil realização pelo profissional qualificado para a coleta. Em conformidade com o que foi abordado anteriormente, não foi só a Lei de Identificação Criminal que sofreu alterações importantes. A Lei nº 7.210/1984 47 de Execução Penal também sofreu modificações recentes que veremos a seguir. Apesar da Lei n° 12.654/2012 ter modificado artigos relacionados a execução penal, foi a Lei nº 13.964/2019 que incluiu as modificações mais recentes nos artigos relacionados à coleta de DNA dos condenados por crimes descritos na referida Lei n° 12.654/2012. Lei nº 13.964/2019 A Lei nº 13.964 foi publicada em 2019, com o objetivo de aperfeiçoar a legislação penal e processual penal. Apesar desta lei abordar diversos aspectos sobre a execução penal, no que tange ao nosso assunto neste curso, a Lei previu inicialmente a manutenção do que a Lei nº 12.654/2012 abordava quando se referia ao artigo 9-A da Lei nº 7.210/1984 de Execução Penal, que incluía a previsão de coleta de material biológico visando identificação genética para indivíduos condenados por crimes hediondos. Entretanto, modificações recentes fizeram com que o artigo fosse publicado conforme previsão original e, por conta disso, os crimes hediondos não estão mais contemplados na Lei que permite a identificação genética. Veja agora como a Lei de Execução Penal se encontra atualmente publicada e quais os crimes previstos nela que permitem que a identificação genética criminal: Art. 9º-A. O condenado por crime doloso praticado com violência grave contra a pessoa, bem como por crime contra a vida, contra a liberdade sexual ou por crime sexual contra vulnerável, será submetido, obrigatoriamente, à identificação do perfil genético, mediante extração de DNA (ácido desoxirribonucleico), por técnica adequada e indolor, por ocasião do ingresso no estabelecimento prisional. § 5º A amostra biológica coletada só poderá ser utilizada para o único e exclusivo fim de permitir a identificação pelo perfil genético, não estando autorizadas as práticas de fenotipagem genética ou de busca familiar. § 6º Uma vez identificado o perfil genético, a amostra biológica recolhida nos termos do caput deste artigo deverá ser correta e 48 imediatamente descartada, de maneira a impedir a sua utilização para qualquer outro fim. § 7º A coleta da amostra biológica e a elaboração do respectivo laudo serão realizadas por perito oficial. Após essa leitura, você pôde ver que, dentro do ordenamento jurídico brasileiro, nem todos os crimes permitem a coleta de materiais biológicos para a identificação genética. A publicação da lei limita quais os crimes que permitem a identificação genética, assim como a inclusão dos perfis genéticos em bancos de dados, o que quer dizer que a coleta só é autorizada pra indivíduos condenados por crimes contra a vida, contra a liberdade sexual ou, por crime sexual contra vulnerável. Além de descrever os crimes que permitem a coleta, a lei reforça que as técnicas de coleta deverão ser indolores, e que não pode ser revelada nenhuma característica física a partir do perfil genético obtido. Adicionalmente, a lei limita a retenção dos materiais coletados, indicando que eles deverão ser descartados após a obtenção do perfil, com a finalidade de conferir maior proteção ao indivíduo apenado. Então, caro aluno, você pôde conhecer até agora alguns aspectos dispostos pela Lei que normatizam a coleta de DNA em indivíduos apenados e sobre a utilização de perfis genéticos na identificação criminal. Veja abaixo um esquema de revisão sobre os requisitos legais relacionados ao assunto que você viu até agora! 49 Figura 19: Requisitos legais para a coleta de DNA de condenados Fonte: do conteudista. Agora que você viu quais leis amparam a coleta do material genético de condenados e quais são os requisitos para que ela aconteça, é essencial mostrar como funciona então o Banco de Dados no qual os perfis genéticos serão armazenados. Neste módulo, você aprendeu que: • A utilização do DNA como forma de identificação foi possível graças ao geneticista Alec John Jeffreys, que utilizou de forma pioneira as técnicas de identificação genética tanto para análise de vínculos familiares quanto para a resolução de crimes; 50 • Apesar de extremamente assertiva, a técnica de identificação genética só ganhou fama após sua utilização em casos de grande repercussão, que mostraram sua eficácia, tanto no Brasil quanto no resto do mundo; • Ainda que a identificação genética seja amplamente utilizada na resolução de crimes, as possibilidades de utilização desta técnica foram ampliadas com a criação e normatização de Bancos de Perfis Genéticos, que contemplam tanto perfis obtidos de vestígios quando de indivíduos condenados, buscando aumentar as identificações de autorias; • As formas de coleta de DNA em indivíduos apenados, bem como os crimes de permitem a identificação genética estão contidas em Leis específicas do nosso ordenamento jurídico para garantir a lisura do procedimento; • As leis relacionadas à identificação genética criminal dispõem de maneira clara sobre a necessidade de técnicas adequadas de coleta de material biológico em indivíduos apenados nas unidades prisionais, sobre as limitações no uso de informações genéticas obtidas desses indivíduos, tal qual sobre a necessidade de órgão responsável pela gestão dessas informações. 51 Módulo III - NORMAS E UTILIZAÇÃO DOS BANCOS DE PERFIS GENÉTICOS Após revisitar os conceitos da biologia básica relacionados à área da Genética Forense e percorrer o caminho legal que fundamenta e possibilita a coleta de DNA de Condenados, chegou a hora de conhecer um pouco sobre a ferramenta que permite conectar as informações genéticas ligadas aos mais diversos tipos de crime: O Banco de Perfis Genéticos. Assim compreenderá como essa tecnologia auxilia na resolução de crimes e como ela funciona. Esse módulo pretende criar condições para que você possa: • Entender a importância da Rede Integrada e dos Bancos de Perfis Genéticos; • Conhecer as normas legais aplicadas aos Bancos de Perfis Genéticos; • Entender os requisitos necessário dentro do Sistema de Gestão de Qualidade dos laboratórios integrados à Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos (RIBPG); e • Conhecer os resultados alcançados pela ferramenta no Brasil e sua importância na resolução de crimes. Este módulo compreende as seguintes aulas: Aula 1 - A importância do Banco de Perfis Genéticos. Aula 2 - Normas legais aplicadas aos Bancos de Perfis Genéticos. Aula 3 - Sistema de Gestão de Qualidade dos laboratórios integrados à RIBPG. Aula 4 - Casos resolvidos com o auxílio do Banco de Perfis Genéticos. 52 Provavelmente você pôde perceber, durante a leitura dos módulos anteriores, que as informações obtidas a partir das análises realizadas na Genética Forense, dependem de uma análise comparativa. Isto quer dizer que, para determinar a quem pertence o material biológico relacionado a um ilícito penal, não é suficiente somente a obtenção de um perfil genético, sendo necessário adicionalmente que seja apresentadoum suspeito para coleta de Amostra de Referência e posterior comparação, na maioria dos casos. É nesse ponto que, essa área de estudo encontrou uma grande limitação, já que enquanto um suspeito não era apresentado para coleta, diversos crimes permaneciam sem solução. Conforme você estudou no Módulo II, a implantação de um banco de dados de DNA, possibilita o confronto dos perfis genéticos obtidos de vestígios coletados de vítimas e de locais de crime, com perfis de criminosos condenados, mesmo que por outro tipo de crime e em qualquer estado da federação, além de possibilitar o cruzamento de dados com perfis de vestígios obtidos de outras vítimas e locais de crime, estabelecendo a relação entre diversos crimes cometidos por um mesmo indivíduo. Desta maneira, é possível fornecer às autoridades policiais não só a indicação de autoria de crimes, mas também informações valiosas que podem orientar linhas de investigação que poderiam estar paradas, por falta de novas informações relacionadas àquele caso. Para ficar mais claro, analise o seguinte exemplo: suponha que o Banco de Perfis Genéticos aponte a coincidência entre os perfis masculinos obtidos de duas vítimas de crimes sexuais, relacionadas a duas investigações distintas. 53 Enquanto uma das vítimas não conseguiu fornecer elementos que auxiliassem na identificação do agressor, a segunda conseguiu reconhecer um suspeito, preso após ser confirmado como sendo o autor do crime por meio das provas de DNA. Quando o perfil obtido de um vestígio apresenta uma coincidência previamente detectada com um suspeito, na ocasião de sua inclusão no banco, o perfil é identificado como tendo autoria conhecida, o que facilita uma análise posterior pelos Peritos Criminais do laboratório. Ao passo que o Banco de Perfis Genéticos informa à Delegacia responsável pela investigação que ambos os crimes foram cometidos pelo mesmo indivíduo, o autor do primeiro crime passa a ser automaticamente identificado. A partir daí, um crime que não tinha perspectiva de solução passa a ter sua autoria indicada e o indivíduo passa a responder por ambos os crimes que cometeu. IMPORTANTE! Outra ferramenta extremamente relevante que o banco de DNA possibilita implementar, é a busca por pessoas desaparecidas. A Lei nº 13.812, publicada em março de 2019, instituiu a Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas e criou o Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas. O objetivo é implementar e dar suporte à política que trata esta Lei e é composto de bancos de informações públicas e sigilosas que ficam à disposição dos órgãos de segurança pública. SAIBA MAIS! A referida lei considera como pessoa desaparecida, todo ser humano cujo paradeiro é desconhecido, não importando a causa de seu desaparecimento, até que sua recuperação e identificação tenham sido confirmadas por vias físicas ou científicas. 54 Recentemente, foi criado o Grupo de Trabalho – Identificação de Pessoas Desaparecidas, exclusivamente focado na busca dessas pessoas, através do cadastro dos perfis genéticos de familiares que são confrontados com os perfis oriundos de cadáveres de identidade desconhecida, cadastrados no banco, assim como com os obtidos de amostras diretas dos desaparecidos, produzidas a partir de seus objetos pessoais. Apesar de nem todo desaparecimento estar necessariamente ligado a um crime, o número de pessoas cujo paradeiro é desconhecido, aumenta exponencialmente a cada ano, e os esforços para encontrá-las não era proporcional a urgência demandada por milhares de famílias que buscam apoio para encontrar seus familiares. Veja abaixo como esses números são expressivos e como era urgente a mobilização dos órgãos da segurança pública para auxiliar nesta questão. Figura 20: Desparecidos no Brasil Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/seguranca/audio/2020- 10/numero-de-desaparecidos-no-brasil-em-2019-ultrapassou-os-79- mil#:~:text=O%20n%C3%BAmero%20de%20desaparecidos%20no,enquanto%20outras%2013 0%20foram%20assassinadas. 55 Aula 2 - Normas Legais Aplicadas aos Bancos de Perfis Genéticos Apesar das enormes contribuições à justiça que essa ferramenta consegue proporcionar, sua implantação só foi possível a partir de um conjunto de normas legais. Algumas delas você pôde estudar no Módulo II, e agora você vai conhecer uma norma mais relacionada à criação e implantação do banco de dados de DNA no Brasil. IMPORTANTE! O Decreto nº 7.950, publicado em 12 de março de 2013, instituiu o Banco Nacional de Perfis Genéticos (BNPG) e a Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos (RIBPG), órgãos pertencentes ao Ministério da Justiça e Segurança Pública. Estes têm como objetivo permitir o compartilhamento e a comparação de perfis genéticos constantes dos bancos de perfis genéticos da União, dos Estados e do Distrito Federal. Veio para regulamentar a Lei nº 12.654/2012, que em seu art. 9º § 1º determinava que a identificação do perfil genético seria armazenada em banco de dados sigiloso, conforme regulamento a ser expedido pelo Poder Executivo. Acessando o portal do Ministério da Justiça e Segurança Pública, você pode encontrar diversas informações sobre a RIBPG e os resultados alcançados a partir da utilização da ferramenta, nos diversos estados da federação. Veja agora algumas informações sobre o funcionamento do Banco que se encontram disponíveis no portal: 56 “Trata-se de uma ação conjunta entre Secretarias de Segurança Pública (ou instituição equivalente), Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) e Polícia Federal (PF) para o compartilhamento de perfis genéticos obtidos em laboratórios de genética forense. Regularmente, os perfis genéticos armazenados nos bancos de dados são confrontados em busca de coincidências que permitam relacionar suspeitos a locais de crime ou diferentes locais de crime entre si. Os perfis genéticos gerados pelos laboratórios da Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos (RIBPG) e que atendem aos critérios de admissibilidade previstos no Manual de Procedimentos Operacionais, são enviados rotineiramente ao Banco Nacional de Perfis Genéticos (BNPG), onde são feitos os confrontos de forma nacional com perfis gerados pelos laboratórios de genética forense que compõe a RIBPG, bem como perfis encaminhados de outros países por meio da Interpol. No contexto de apuração criminal, perfis genéticos oriundos de vestígios de locais de crimes são confrontados entre si, assim como com perfis genéticos de indivíduos cadastrados criminalmente. O efetivo cadastramento é fundamental para que os vestígios sejam identificados e a RIBPG, possa auxiliar na elucidação de crimes, verificação de reincidências, diminuição do sentimento de impunidade e ainda evitar condenações equivocadas. Outra utilização primordial dos bancos de perfis genéticos, é a identificação de pessoas desaparecidas. Neste contexto, perfis oriundos de restos mortais não identificados, bem como de pessoas de identidade desconhecida, são confrontados com perfis de familiares ou de referência direta do desaparecido, tais como escova de dente, ou roupa íntima. É garantido pela legislação vigente, que a comparação de amostras e perfis genéticos doados voluntariamente por parentes de pessoas desaparecidas, serão utilizadas exclusivamente para a identificação da pessoa desaparecida, sendo vedado seu uso para outras finalidades.” 57 SAIBA MAIS! Acesse: https://www.justica.gov.br/sua-seguranca/seguranca- publica/ribpg/institucional. Uma das grandes vantagens possibilitada pela utilização do banco, é o compartilhamento de informações genéticas relacionados aos diversos estados do país. A partir do intercâmbio dessas informações, diversas quadrilhas que atuam no país puderam ser desmontadas, através
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