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Testes de triagem neonatal

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TRIAGEM NEONATAL 
HISTÓRIA DA TRIAGEM NEONATAL 
• 1937: Nomeação da fenilcetonúria, a partir de crianças que, normais ao nascimento, evoluíram para retardo 
mental associado a odor fétido na urina (devido presença de ácido fenilpirúvico). Em seguida, descobriu-se 
associação da doença com a deficiência da enzima fenilalanina-hidroxilase, e que dieta pobre em fenilalanina 
previne surgimento de sinais em crianças com a doença. 
• 1960: Robert Guthrie desenvolve triagem de fenilcetonúria a partir de análise de sangue em papel filtro. Nessa 
mesma década, a OMS preconiza a realização da triagem neonatal da fenilcetonúria. 
• 1990: o ECA determina a obrigatoriedade da triagem de erros inatos do metabolismo, mas não define 
sistematização da coleta. 
• 1992: o MS incorpora o “Teste do Pezinho” ao SUS, mas não era determinado a sistematização de rastreio e 
acompanhamento, e não havia um padrão em diferentes laboratórios. 
• 2001: o MS implantou o PROGRAMA NACIONAL DE TRIAGEM NEONATAL, que direciona todo o processo da 
triagem, incluindo a confirmação do diagnóstico em serviços de referencia e oferta de tratamento. 
• Para uma doença ser triável, deve: ser tratável ou ter curso atenuado quando reconhecida precocemente, sem ou 
com poucos sinais/sintomas na fase inicial, ter frequência populacional que justifique investigação, ter 
metodologia de coleta e análise compatível com alcance pretendido, alta sensibilidade e razoável especificidade. 
TESTE DO PEZINHO 
• Deve ser coletado de 48-72 horas de vida. Se RN for transfundido, deve-se adiar por 7-10 dias (todas, exceto 
hemoglobinopatias) e 120 dias (hemoglobinopatias). Se houver internação em UTI, colher antes da alta. 
• Implantação do Programa Nacional de Triagem Neonatal (inicialmente, apenas com o teste do pezinho): 
® Fase I: fenilcetonúria e hipotireoidismo congênito. 
® Fase II: fenilcetonúria e hipotireoidismo congênito + doença falciforme e outras hemoglobinopatias. 
® Fase III: fenilcetonúria e hipotireoidismo congênito + doença falciforme e hemoglobinopatias + fibrose cística. 
® Fase IV (2012): fenilcetonúria e hipotireoidismo congênito + doença falciforme e hemoglobinopatias + fibrose 
cística + hiperplasia adrenal congênita + deficiência de biotinidase. Implantada em todo o país desde 2014. 
® Hoje, discute-se a respeito da inclusão de testes de triagem para galactosemia e toxoplasmose congênita. 
HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO 
• Doença em que ocorre produção inadequada de hormônios tireoidianos (T3/T4), o que eleva a produção de TSH 
por estímulo hipofisário. 
• O teste do pezinho dosa, em papel filtro, o TSH, pois há maior sensibilidade. Porém, casos de hipotireoidismo 
congênito hipotalâmico-hipofisário não são detectados ao se dosar TSH, mas são bem menos comuns e cursam 
com outras alterações. 
• Em crianças com prematuridade e S. Down, a elevação de TSH costuma ser tardia (repetir teste em 1 mês). 
• Quadro clínico: macroglossia, edema palpebral, hérnia umbilical, pele hipersensível ao frio, quietas, choram pouco. 
• Confirmatório: T4L, T4T e TSH ultrassensível em soro. 
• Tratamento: reposição hormonal com levotiroxina sódica, inicialmente em até 3 semanas de vida. 
 
 
Lara Mattar | Neonatologia | Medicina UFR 
FENILCETONÚRIA 
• Doença autossômica recessiva em que, por mutação do braço longo do cromossomo 12, ocorre defeito na 
fenilalanina hidroxilase, a qual converte a fenilalanina em tirosina. Assim, ocorre falta de substâncias derivadas da 
tirosina (dopamina, adrenalina, noradrenalina, melanina) e acúmulo de fenilalanina, que gera metabólitos que 
causam “cheiro de rato” na urina (fenil-lactato e fenil-acetato). 
• Quadro clínico: cabelos e pele mais claros, vômitos, irritabilidade, eczema, autismo, convulsões, urina com odor. 
• Tratamento: restrição de alimentos com fenilalanina (inclusive leite materno), uso de fórmulas sem fenilalanina 
(disponível pelo SUS), controle dos níveis de fenilalanina sérica (oferta mínima, pois é aminoácido essencial). 
DOENÇA FALCIFORME 
• Doença mais prevalente, em que as hemácias, por mutação no cromossomo 11, adquirem formato de foice, 
devido alteração na cadeia beta da Hb na posição 6 (ácido glutâmico é substituído por valina). 
• A polimerização da Hb S causa fenômenos oclusivos na circulação, causando oclusão de vasos, infarto, necrose e 
disfunções em órgãos, provocando crises dolorosas. Além disso, a falcização das hemácias (aumento da rigidez) 
aumenta hemólise, causando icterícia e anemia. 
• Normalidade: FA (maior quantidade de Hb fetal e menor de Hb do adulto). 
• Doença falciforme: FS, SF ou SS (presença de Hb S) ou FSC, FSD, FS (associada a outra Hb anormal = SC, SD). 
• NÃO doença falciforme se houver Hb A, apenas apresentam traços de mutação. Ex: FAS, AS, FAC, AC, FAD. Nesses 
casos, pede-se coleta de sangue com EDTA da mãe e oferecida possibilidade de exame do pai e irmãos. 
• Em caso de diagnóstico, deve haver acompanhamento, incluindo vacinação específica, seguimento em 
hemocentro, uso de ATB profilático até 5 anos de idade, uso de ácido fólico permanente. 
FIBROSE CÍSTICA 
• Doença em que ocorre extravasamento pancreática da tripsina imunorreativa, ou seja, se mantém elevada. 
Contudo, a partir do limite de acúmulo de tripsina imunorreativa no sangue, ocorre queda na tripsina, por 
esgotamento pancreático da enzima. Por esse motivo, só se valorizam coletas feitas em até 30 dias de vida. 
 
DEFICIÊNCIA DE BIOTINIDASE 
• Doença autossômica recessiva do cromossomo 3, em que há deficiência da biotinidase, uma enzima responsável 
pelo metabolismo da biotina/vitamina B7, liberando biotina livre para a circulação. A deficiência impede que a 
biotina endógena seja reciclada e que ela seja extraída dos alimentos, comprometendo diversas reações 
enzimáticas, o que culmina em alterações neurológicas. Importante: a biotinidase é uma enzima extremamente 
termolábil e instável, gerando grandes números de falsos positivos. 
• Falsos positivos: portadores heterozigotos, 
doença de Addison não tratada, displasia 
ectodérmica, doenças que estocam 
glicogênio e hipotireoidismo não tratado. 
 
• Falsos negativos: íleo meconial e criança com 
mais de 30 dias de vida. 
 
• Quadro clínico: crises epiléticas e hipotonia, evoluindo com microcefalia, atraso DNPM, alopecia e dermatite 
eczematoide. Sintomas costumam surgir a partir da 7ª semana de vida. No diagnóstico tardio, observam-se 
distúrbios visuais, auditivos, além do atraso motor e de linguagem. 
• Tratamento: muito simples, a partir da suplementação de biotina pura, diariamente. Não disponibilizado pelo SUS. 
HIPERPLASIA ADRENAL CONGÊNITA 
• Doença autossômica recessiva em que ocorre deficiência da 21-hidroxilase, prejudicando a síntese adrenal de 
mineralocorticoides e glicocorticoides e desvio para síntese de andrógenos. 
• Quadro clínico: pode haver perda de sal, podendo evoluir por óbito por desidratação por urina. 
® Feminino: genitália externa ambígua (pseudo-hermafroditismo), virilização progressiva, avanços na idade 
óssea, crescimento linear acentuado. 
® Masculino: virilização precoce (macrogenitossomia com pseudopuberdade precoce isossexual), infertilidade. 
TESTE DA ORELHINHA 
• Realizado a partir de emissões oto-acústicas, geralmente por uma fonoaudióloga. Caso dê positivo, deve-se 
confirmar e solicitar prótese auditiva para ser implantada em até 1 ano. 
 
TESTE DA LINGUINHA 
 
 
• Realizado para detecção precoce da anquiloglossia, uma anomalia congênita que 
ocorre quando uma porção de tecido residual que deveria ter desaparecido no 
período embrionário, podendo atrapalhar amamentação e limitar movimentos 
linguais, comprometendo a fala. 
• Avaliação por Protocolo Bristol (BTAT): aparência da língua, fixação do frênulo na 
margem gengival inferior, elevação da língua, projeção da língua. 
• Em alguns casos, faz-se a frenotomia (incisão) ou frenectomia (remoção)

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