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91 CITOPATOLOGIA E CITOLOGIA CLÍNICA Unidade III 7 CITOPATOLOGIA E VIAS RESPIRATÓRIAS: ANATOMIA E HISTOLOGIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO O sistema respiratório consiste em vias respiratórias e pulmões, por meio dos quais ocorre a troca de gases. Funcionalmente, as vias respiratórias do sistema respiratório podem ser divididas em duas partes: vias aéreas de condução, por meio das quais o ar é transportado à medida que entra e sai dos pulmões, e vias respiratórias, onde ocorre a troca de gases. As vias aéreas de condução incluem as vias nasais, a boca e a nasofaringe, a laringe e a árvore traqueobrônquica. O ar é aquecido, filtrado e umidificado à medida que passa por essas estruturas. Os pulmões são as estruturas funcionais do sistema respiratório. Além de sua função na troca de gases, eles inativam substâncias vasoativas como a bradicinina, convertem angiotensina I em angiotensina II e funcionam como reservatório de sangue. Os lóbulos, que são as unidades funcionais do pulmão, consistem em bronquíolos respiratórios, alvéolos e capilares pulmonares. Nesse local, acontece a troca de gases. O oxigênio originado dos alvéolos se difunde através da membrana alveolocapilar e entra no sangue, enquanto o dióxido de carbono proveniente do sangue se difunde para dentro dos alvéolos. Existem dois tipos de células alveolares: tipo I e tipo II. As células do tipo I, que desempenham a função de troca gasosa dos pulmões, são células escamosas extremamente finas que revestem a maior parte da superfície dos alvéolos. As células do tipo II, que produzem surfactante e funcionam como células progenitoras dos elementos celulares do tipo I, são cuboides e pequenas. Existem quatro tipos de proteína surfactante (SP): SP-A, SP-B, SP-C e SP-D. A SP-B e a SP-C têm propriedades essenciais de redução da tensão superficial, que são necessárias à facilitação da insuflação pulmonar. A SP-A e a SP-D modulam a reação imune aos patógenos estranhos e participam das respostas inflamatórias locais. Os pulmões têm irrigação sanguínea proveniente de duas fontes: a circulação pulmonar desempenha a função de troca gasosa dos pulmões, enquanto a circulação brônquica distribui o sangue pelas vias aéreas de condução e pelas estruturas de sustentação do pulmão. Os pulmões também contêm um sistema duplo de vasos linfáticos: um sistema superficial na pleura visceral e um sistema profundo que drena as estruturas pulmonares mais profundas, inclusive os bronquíolos respiratórios. As divisões simpática e parassimpática do sistema nervoso autônomo inervam o sistema respiratório. A inervação parassimpática causa constrição das vias respiratórias e aumenta as secreções respiratórias. A inervação simpática causa dilatação dos brônquios e diminui as secreções do sistema respiratório. Não há inervação motora voluntária no pulmão, nem fibras que transmitem dor. As fibras da dor são encontradas apenas na pleura (uma membrana serosa fina com duas camadas que envolve os pulmões). Uma película fina de líquido seroso separa as camadas parietal externa e visceral interna da pleura, tornando possível que as duas camadas deslizem uma sobre a outra e, ao mesmo tempo, continuem unidas, sem qualquer separação entre os pulmões e a parede torácica. A cavidade pleural é um espaço virtual no qual pode acumular-se líquido seroso ou exsudato inflamatório (GROSSMAN; PORTH, 2019). 92 Unidade III 7.1 Células do pulmão Os principais componentes do tecido pulmonar, vistos nos preparados citológicos, são as células do epitélio respiratório e os macrófagos. • Células colunares ciliadas: são muito especializadas, estão presentes na traqueia e nos brônquios, possuem núcleos basais, cromatina fina e uma barra terminal marcada com cílios. • Células mucossecretoras (globet cells): estão presentes numa relação de uma para seis células ciliadas, também possuem núcleos basais e seu citoplasma é distendido pela presença de mucinas que são secretadas para a luz das vias respiratórias, exercendo importante efeito citoprotetor, tanto do ponto de vista de barreira mecânica, como pela presença em sua composição de receptores para microrganismos, imunoglobulinas, antioxidantes e tampões orgânicos. • Células basais ou de reserva: localizam-se junto à membrana basal, são pequenas e indiferenciadas, provavelmente as precursoras das células ciliadas e mucossecretoras. • Células neuroendócrinas (ou células de Kulchistsky): estão presentes no epitélio brônquico, tanto de forma isolada como em agregados (corpos neuroepiteliais) e só são identificadas através de colorações especiais ou pela microscopia eletrônica. Estão estreitamente relacionadas com as terminações nervosas da mucosa respiratória e têm funções sensitiva e secretora. Seus produtos de secreção são capazes de modular a proliferação celular, a reparação brônquica, a permeabilidade vascular e o tônus da musculatura dos vasos e brônquios, exercendo importante papel na patogênese da asma. Quando transformadas por carcinógenos, originam o carcinoma de pequenas células, uma das neoplasias pulmonares mais agressivas. • Células de clara (clara cells): são células colunares, não ciliadas, que revestem os bronquíolos terminais onde o fluxo aéreo é mais lento, propiciando maior interação com os componentes químicos inalados. Geralmente não são identificadas como tais nos preparados citológicos. Sua função mais importante é a metabolização de xenobióticos e em algumas situações podem contribuir para a geração de intermediários carcinógenos. • Células serosas: juntamente com as células mucosas são responsáveis pela maior parte dos componentes orgânicos do fluido que reveste internamente as vias respiratórias e pela secreção de componentes importantes para a defesa pulmonar como lizosima, lactoferrina e imunoglobulina A (IgA). Elas são encontradas na superfície epitelial e nas glândulas da lâmina própria. • Pneumócitos tipo I: revestem cerca de 95% da superfície interna alveolar, são mais numerosas que os pneumócitos II, são planas, pobres em organelas e com citoplasma extenso. São células que não se dividem. • Pneumócitos tipo II: encontram-se na superfície interna alveolar, são células redondas com citoplasma vacuolado, difíceis de serem distinguidas dos macrófagos alveolares nos preparados citológicos. São responsáveis pela produção do surfactante, substância que controla a tensão 93 CITOPATOLOGIA E CITOLOGIA CLÍNICA superficial da interface ar-líquido pulmonar e que facilita a fagocitose de microrganismos pelos macrófagos alveolares. Quando há lesão alveolar, funcionam como células de reserva para os pneumócitos tipo I. • Macrófagos alveolares: originam-se dos próprios pulmões ou dos monócitos circulantes, sendo também conhecidos como pneumócitos tipo III. Cada alvéolo possui de dois a três macrófagos residentes livres que representam a primeira linha de defesa alveolar e são frequentemente identificados contendo pigmento de carbono no seu citoplasma. A presença de hemossiderina no seu citoplasma é indicativa de sangramento antigo que pode estar associado a lesões benignas, como infartos, ou a neoplasias malignas. Sua forma depende do tipo e da quantidade do material fagocitado. Geralmente apresentam um ou mais núcleos redondos ou ovais e o citoplasma é vacuolado. • Células mesoteliais: são frequentemente vistas nas biópsias aspirativas, particularmente nas lesões da pleura. Em geral, formam lençóis planos com espaços ou “janelas” entre elas ou podem ser vistas isoladamente. Seus núcleos são redondos ou ovalados, podendo apresentar fendas, a cromatina é fina e uniforme, o nucléolo é pequeno e o citoplasma delicado. Quando reativas, podem ser confundidas com células malignas, pois apresentam citoplasma denso, pleomorfismo nuclear e nucléolo proeminente (PINTO; KATZ, 2012). As infecções respiratórias são as causas mais comuns de doença respiratória. Isso inclui resfriado comum, influenza, pneumonias, tuberculose e infecções fúngicas. O resfriado comum é maisfrequente que qualquer outra infecção respiratória. Os dedos das mãos são as fontes principais de transmissão e as portas de entrada mais comuns são a mucosa nasal e a conjuntiva dos olhos. Os vírus influenza causam três síndromes: rinotraqueíte simples, infecção respiratória viral seguida de infecção bacteriana e pneumonia viral. A contagiosidade da influenza é atribuída à capacidade que o vírus tem de sofrer mutações e formar subtipos, contra os quais a população não está protegida. O termo pneumonia descreve uma infecção dos tecidos parenquimatosos do pulmão. Supressão do reflexo da tosse, lesão do epitélio ciliado que reveste o sistema respiratório ou depressão das defesas imunes predispõe à pneumonia. As pneumonias podem ser classificadas de acordo com o contexto no qual elas ocorrem (adquiridas na comunidade ou nos hospitais), o tipo de microrganismo que causa a infecção (típica ou atípica) e a localização do processo infeccioso (pneumonia lobar ou broncopneumonia). Os pacientes imunossuprimidos constituem um grupo especialmente preocupante nas duas categorias. A pneumonia adquirida na comunidade consiste em infecções causadas por microrganismos presentes mais comumente nas comunidades que nos hospitais ou nas instituições asilares. A causa mais comum de pneumonia adquirida na comunidade é S. pneumoniae. A pneumonia adquirida no hospital (nosocomial) é definida por infecção das vias respiratórias inferiores, que começa dentro de 48 horas ou mais depois da internação. A pneumonia adquirida nos hospitais é a segunda causa mais frequente de infecções hospitalares. As pneumonias agudas típicas, inclusive as que são causadas por S. pneumoniae e L. pneumophila, são devidas aos microrganismos que se multiplicam fora das células alveolares e causam inflamação e transudação de líquidos para dentro dos espaços alveolares aerados. As pneumonias atípicas são causadas por vários microrganismos, inclusive M. pneumoniae e vírus que invadem o septo alveolar e o interstício pulmonar. 94 Unidade III Tuberculose é uma infecção respiratória crônica causada por M. tuberculosis, que é disseminado por diminutas partículas invisíveis conhecidas como núcleos goticulares. A tuberculose é uma ameaça especialmente importante para pacientes infectados pelo HIV, indivíduos nascidos em outros países nos quais a incidência de tuberculose é alta e populações que residem em condições aglomeradas de alto risco, inclusive instituições corretivas, clínicas de tratamento de dependentes químicos e abrigos para pessoas sem lar. O bacilo da tuberculose desencadeia uma reação inflamatória crônica típica conhecida como inflamação granulomatosa. A destrutividade da doença resulta da reação de hipersensibilidade celular que o bacilo provoca, em vez de sua ação destrutiva intrínseca. A imunidade celular e as reações de hipersensibilidade contribuem para a evolução da doença. O tratamento da tuberculose tem sido complicado por surtos de doença resistente a vários fármacos. As infecções causadas pelos fungos H. capsulatum (histoplasmose), C. immitis (coccidioidomicose) e B. dermatitidis (blastomicose) causam manifestações pulmonares, mas raramente são graves, a menos que causem destruição progressiva dos tecidos pulmonares ou que a infecção seja disseminada a outros órgãos e tecidos além dos pulmões (GROSSMAN; PORTH, 2019). 7.2 Coleta e confecção dos esfregaços A qualidade do diagnóstico citológico depende de vários fatores operacionais, sobretudo da adequabilidade, tanto da coleta quanto dos esfregaços e do processamento laboratorial dos espécimes. Os materiais encaminhados ao laboratório são obtidos pelo médico assistente durante o exame clínico e geralmente chegam como esfregaços fixados ou a fresco. Após o registro de entrada do material, se já devidamente fixados, os esfregaços podem ser corados. Espécimes mucoides ou líquidos, normalmente a fresco, necessitam de etapas complementares antes da coloração: se líquidos, submetê-los à centrifugação, confeccionar os esfregaços a partir do sedimento e fixar em seguida; se mucoides, precisam ser pré-tratados ou homogeneizados antes da centrifugação, fixando-os após secar ao ar. A quantidade e qualidade do material citológico são fatores determinantes na precisão diagnóstica e estão diretamente relacionados ao uso de técnicas adequadas de amostragem e ao processamento apropriado dos espécimes. Podemos dividir os espécimes citopatológicos em dois grandes grupos, dependendo da técnica empregada na coleta das amostras: • obtidos através da punção aspirativa com agulha fina (PAAF) ou por capilaridade; • obtidos a partir da raspagem de uma lesão ou de células que descamam naturalmente – compreendem os imprints, raspados, escovados, lavados e também as análises de escarro, urina, secreção mamilar e líquidos cavitários (PINTO; KATZ, 2012). 7.2.1 Punção Segundo Koss, Stanislaw e Wlodzimierz (1992), é um método simples, rápido e seguro que confere boa precisão diagnóstica. Pode ser realizado ambulatorialmente. Complicações como sangramento, hematomas, processos inflamatórios e pneumotórax são raras. Algumas etapas preliminares e cuidados específicos são necessários na realização do procedimento, como o preparo físico e psicológico do 95 CITOPATOLOGIA E CITOLOGIA CLÍNICA paciente, a antissepsia do local a ser puncionado e um pequeno curativo oclusivo após a punção. É indicado o uso de anestésico na punção de órgãos profundos. São contraindicações para punção: presença de distúrbios de coagulação, tosse (nos casos de punção de tireoide ou transtorácica), cisto hidático (fígado), tumor do corpo carotídeo (pelo risco de hemorragia) e uso de anticoagulantes. Punção aspirativa com agulha fina (Paaf) Introduzida em 1926 por Martin e Ellis nos Estados Unidos, só ganhou popularidade no início dos anos 1950, quando patologistas suecos passaram a usar agulhas de menor calibre. Atualmente é utilizada em larga escala em vários países, consistindo na obtenção de amostras de nódulos ou tumores de qualquer topografia, seja de órgãos superficiais, como mama, tireoide, linfonodos e glândulas salivares principalmente, seja de órgãos profundos, como pulmão, fígado, pâncreas e retroperitônio. Nesses últimos, são guiados por métodos de imagem como ultrassonografia ou tomografia computadorizada. As agulhas empregadas na coleta dos espécimes são de pequeno calibre, entre 0,5 mm e 0,7 mm. Entretanto, em caso de material espesso ou purulento, podem ser utilizadas agulhas de 0,8 mm. Comumente as agulhas para aplicação de insulina, de 0,45 mm, são utilizadas para puncionar nódulos mais superficiais. Outros equipamentos, como seringa plástica descartável de 10 ml ou 20 ml, luvas cirúrgicas, gaze estéril, solução de álcool iodado para antissepsia, lâminas de vidro para microscopia com extremidade fosca e fixador integram o restante do material necessário para realizar o procedimento. Alguns autores recomendam o uso da pistola (porta-seringa), enquanto outros a dispensam. Para a realização da Paaf, devemos colocar o paciente em posição adequada, identificar a lesão por palpação, fazer a antissepsia local, acoplar a agulha à seringa e fixar a lesão entre o dedo indicador e o médio. Materiais líquidos, puncionados de nódulos císticos, necessitam de centrifugação prévia a fim de utilizar o sobrenadante na confecção do esfregaço. Em tais casos, as amostras são encaminhadas ao laboratório em recipiente limpo ou na própria seringa (sem a agulha, fechada com a tampa desta e vedada com esparadrapo), mantendo-as em geladeira se não puderem ser encaminhadas imediatamente. Não é preciso fixação prévia do material nem o uso de anticoagulante. Nos espécimes predominantemente celulares dos nódulos sólidos, remover a agulha da seringa e puxar o êmbolo para trás, a fim de permitir a entrada de ar na seringa. Acoplar novamente a agulha e, com o orifício do bisel tocando levemente a superfície de uma lâmina, empurrar o êmbolo da seringa a fim de depositaruma gota do material, com 2 mm a 3 mm de diâmetro, diretamente sobre a lâmina para a preparação dos esfregaços. A técnica de confecção dos esfregaços varia de acordo com o tipo de amostra obtida e com a familiaridade do profissional por determinado método. Em se tratando de material hemorrágico e semissólido, deve-se utilizar a extremidade de outra lâmina inclinada em 45º para estender o espécime delicadamente, em movimento único, rápido e uniforme, semelhante ao que é feito no esfregaço para hematologia. Para espécimes excessivamente fluidos, inclinar a lâmina para baixo e remover, com papel absorvente, o excesso de líquido que se deslocou por gravidade, utilizando a parte mais consistente que restou na lâmina para confeccionar o esfregaço. Quando a amostra for constituída por coloide ou outro 96 Unidade III tipo de substância semelhante, deve-se comprimi-la entre duas lâminas, puxando-as horizontalmente em direções opostas, suavemente. Quando o material for colhido no próprio laboratório, após confecção dos esfregaços (em torno de seis por punção), deve-se lavar a agulha e a seringa com 10 ml de solução salina, colocar o lavado em um tubo limpo devidamente identificado e centrifugá-lo a fim de obter esfregaços adicionais com o material sedimentado (CHOJNIAK et al., 2011). Observação No Paaf, os esfregaços geralmente são fixados em álcool a 95% ou a seco, embora o álcool absoluto também possa ser utilizado. Deve-se corar pelo Papanicolau ou (hemotoxilina-eosina (HE) e os secos ao ar por diff-quick (DQ) ou panótico. Então, deve-se, centrifugar o material e citocentrifugar o lavado da agulha e da seringa com solução salina para fazer cell block. Amostras insatisfatórias podem resultar de falhas técnicas como sucção reduzida ou excessiva na coleta, esfregaços espessos, fixação inadequada ou coloração defeituosa. Abscessos e lesões fibróticas, calcificadas, necróticas ou com degeneração cística podem dificultar a obtenção de material adequado por escassez ou ausência de células. Por fim, materiais puncionados de áreas fora da lesão originam diagnósticos falso-negativos por erro de amostragem. Punção por capilaridade Considerada uma variante da metodologia original, dispensa o uso da seringa na coleta dos espécimes. Parte do princípio de que o mais importante na obtenção do material é o efeito do corte e o deslocamento do tecido com a ponta da agulha e não a pressão negativa causada pela sucção da seringa. Inicialmente utilizada em 1986 pelo francês Zajdela na coleta de material do tecido ocular, teve seu uso estendido para outros órgãos em virtude de ser um método menos traumático, de mais fácil aplicação e que confere excelente celularidade às amostras. Os materiais necessários para esse procedimento são os mesmos empregados na Paaf (ZAMBONI et al., 2004). 7.2.2 Escovados Através de aparelhos endoscópicos que possibilitam a visualização direta da lesão a ser estudada, os escovados permitem adquirir espécimes brônquicos, esofágicos, gástricos e intestinais, principalmente. Muitas vezes, esse método é mais eficaz em detectar neoplasias malignas do que a biopsia brônquica, por exemplo. Nesse caso, aplica-se uma escova na superfície da lesão endobrônquica, através do broncoscópio de fibra óptica, espalhando o material colhido numa lâmina para a confecção dos esfregaços ou coloca-se em um meio líquido de coleta para a realização de cell block. O procedimento pode ser feito ambulatorialmente sob sedação leve e com anestesia tópica. O paciente deve estar em jejum de pelo menos quatro a seis horas e com acesso venoso periférico. Uma 97 CITOPATOLOGIA E CITOLOGIA CLÍNICA pequena escova é introduzida juntamente com a sonda de um fibroscópio pela cavidade oral, nasal ou anal, dependendo da localização do tumor, e suavemente deslizada por cima da lesão para efetuar a raspagem. Posteriormente, a escova é retraída para o interior da sonda e retirada junto com ela. Recomenda-se efetuar o escovado antes de biopsiar a lesão, para evitar amostras hemorrágicas. O material escovado deve ser transferido rolando-se a escova sobre uma lâmina de vidro limpa, espalhando-o uniformemente e fixando-o imediatamente em álcool a 95% ou spray, visando preservar os detalhes da morfologia celular. Após a realização dos escovados, aconselha-se fazer, ainda, um lavado da escova, agitando-a em solução salina a fim de se examinar também o sedimento centrifugado (SILVA; CHTERPENSQUE, 2000). 7.2.3 Lavados Consistem na instilação de solução salina tamponada na área da lesão, preferencialmente sob visão endoscópica direta, seguida da aspiração do material. Em geral, são realizados ambulatorialmente, mediante sedação leve. Os lavados são acondicionados em recipientes limpos com a indicação do local da coleta. Quando provenientes de diferentes localizações anatômicas, devem ser colocados em frascos distintos. Para evitar sua deterioração, o material deve ser enviado imediatamente ao laboratório para processamento ou ser devidamente preservado segundo o tipo de lavado. • Lavado brônquico: método alternativo e mais comum do que o aspirado, consiste em “lavar” a mucosa com a instilação de 3 ml a 10 ml de solução salina e, em seguida, aspirar o líquido que deverá ser centrifugado, utilizando-se o concentrado para fazer esfregaços e cell blocks. Armazenar o material aspirado em geladeira até no máximo 24 horas após a coleta, sem usar anticoagulante ou fixador. Na impossibilidade de processamento laboratorial imediato, preservar o material adicionando quantidade idêntica de etanol a 50% (ou 70%) ou Carbowax (a 2% em álcool a 50%). • Lavados broncoalveolares (LBA): permitem que as vias aéreas distais sejam “lavadas” com várias alíquotas de solução salina estéril. A primeira alíquota é mais representativa de material das vias aéreas mais largas e as seguintes representam material do compartimento alveolar. Os lavados broncoalveolares devem ser refrigerados (entre 4 ºC a 8 ºC) por no máximo duas horas, evitando-se o congelamento. É um método particularmente útil para o diagnóstico das infecções oportunistas nos pacientes imunocomprometidos. O Pneumocystis carinii, historicamente, foi o patógeno pulmonar mais identificado por esse método nos pacientes infectados pelo HIV. O LBA também é utilizado para o diagnóstico de malignidade com uma sensibilidade de 35% a 70%, principalmente nos tumores difusos ou multifocais (PINTO; KATZ, 2012). 7.2.4 Materiais obtidos espontaneamente Escarro Seus componentes são constituídos por uma mistura de elementos celulares e não celulares. A adequação da amostra é estabelecida pela presença de células cilíndricas ciliadas e de numerosos macrófagos alveolares, indicativos de que o trato respiratório inferior foi representado. Amostras 98 Unidade III múltiplas, colhidas em dias consecutivos, aumentam a sensibilidade (de 42% com amostra única para 91% com cinco amostras), que também varia com a localização do tumor maligno, sendo de 46% a 77% para lesões centrais e de apenas 31% a 47% para as lesões periféricas. A especificidade do método é alta, variando de 96% a 99%. Através da citologia esfoliativa, é possível diagnosticar tumores centrais da árvore brônquica e, menos frequentemente, tumores periféricos menores ou até mesmo detectar lesões precursoras do carcinoma escamoso. O escarro obtido após broncoscopia aumenta a acuidade diagnóstica. A coleta deve ser realizada de preferência pela manhã, quando o paciente o acordar, em jejum matinal, após rigorosa higiene bucal (escovação dos dentes e da língua), geralmente em três dias consecutivos. Com o intuito de obter material de origem pulmonar, o paciente é orientado a tossir várias vezes, eliminando a secreção diretamente em um recipiente de boca larga, seco e limpo. Caso haja dificuldade em conseguir escarro espontâneo, pode-se fazer nebulização simples ou inalação com indutores da tosse. O material deve ser levado imediatamente ao laboratório ou conservado na geladeirapor no máximo 12 horas. Os esfregaços devem ser preparados a partir de áreas que contêm fragmentos teciduais, sangue ou ambos, e devem ser imediatamente fixados em etanol a 95%. Quando a preparação imediata não é possível, deve-se fazer uma pré-fixação do escarro na diluição de 1:1 com etanol a 50% ou 70%, ou utilizar solução de polietilenoglicol a 2% (Carbowax) em etanol a 50%. Uma vez utilizado o polietilenoglicol, este deverá ser removido em banho de álcool, antes da coloração (PINTO; KATZ, 2012). Observação O escarro foi um dos espécimes mais utilizados para o diagnóstico citológico das lesões do trato respiratório devido à relativa facilidade para sua obtenção e por provocar pouco desconforto ao paciente. No entanto, com o advento da broncoscopia e da punção aspirativa por agulha fina (Paaf), seu uso tem declinado. 7.3 Tipos de amostras A interpretação dos espécimes citológicos do trato respiratório requer familiaridade com o tipo de amostra, ou seja, como o espécime foi obtido e de como foi preparado do ponto de vista técnico, pois a citomorfologia e a acurácia diagnóstica variam com eles. As amostras podem ser classificadas em escarro e espécimes brônquicos, já descritos. Agora veremos as amostras de punção aspirativa por agulha fina (Paaf), que podem ser classificadas como indicado a seguir. • Punção aspirativa transbrônquica: útil para o diagnóstico de lesões primárias localizadas abaixo da superfície brônquica e para o estadiamento de câncer pulmonar pela amostra de linfonodos do mediastino. A lesão é aspirada com agulha retrátil que passa através de um cateter flexível adaptado ao broncoscópio. É um método bom para distinguir carcinoma de pequenas células dos carcinomas de não pequenas células. 99 CITOPATOLOGIA E CITOLOGIA CLÍNICA • Punção aspirativa transesofágica: feita com o endoscópio através da passagem de uma agulha pelo esôfago. Sua acuidade diagnóstica é de 70% a 80%, que se aproxima da punção aspirativa transbrônquica guiada por ultrassom (84% a 96%). • Punção aspirativa percutânea: método alternativo para biopsia cirúrgica, pois apresenta mínima morbidade, facilidade e rapidez no diagnóstico. Seu principal objetivo é diferenciar o carcinoma de pequenas células daqueles de não pequenas células. Geralmente é realizada por radiologistas, utilizando o ultrassom ou a tomografia computadorizada como guia. A intervenção cirúrgica pode ser evitada em mais de 50% dos pacientes com suspeita clínica de câncer pulmonar. O pneumotórax é a complicação mais comum (PINTO; KATZ, 2012). 7.3.1 Adequabilidade das amostras Pinto e Katz (2012) relatam que, para se obter preparações citológicas satisfatórias, deve-se empregar a técnica apropriada para os diversos espécimes. Um exame insatisfatório não significa que o resultado é negativo, mas tão somente que não foi possível estabelecer nenhum diagnóstico, seja de benignidade ou de malignidade. A seguir são descritas recomendações para os diversos tipos de amostras objetivando a adequabilidade do material. Aparelho respiratório O processamento varia segundo o tipo de amostra. • Escarro: colocar o material em uma placa de Petri e examinar sob fundo escuro (papel embaixo da placa) e com iluminação direta para selecionar amostras das áreas com sangue ou com partículas sólidas e escuras, acinzentadas ou opacas. Confeccionar os esfregaços pelo método do esmagamento, fixar com spray ou álcool e corar pelo Papanicolau. Separar esfregaços extras para colorações especiais. • Lavados: enviar a fresco. Remover qualquer fragmento visível para processar em cell block. Centrifugar o líquido e fazer esfregaços com o sedimento pela técnica do esmagamento, fixando em álcool ou spray. Corar pelo Papanicolau. Pode ser necessário citocentrifugá-lo. • Escovados: fazer esfregaços após a coleta e fixar em álcool ou spray. São corados pelo método de Papanicolau. Durante a coleta, proceder segundo as técnicas de coloração rápida em esfregaços fixados ao ar para avaliar a satisfatoriedade do material. Mergulhar a escova em suspensão salina, para retirar as células aderidas, centrifugar ou citocentrifugar esse material e preparar cell block (PINTO; KATZ, 2012). 7.4 Análise da citologia normal do sistema respiratório e citopatologia neoplásica do sistema respiratório Câncer de pulmão é uma das causas principais de mortes em todo o mundo. O tabagismo está envolvido na maioria dos casos desse tipo de câncer. O risco de desenvolver câncer de pulmão entre os fumantes aumenta com a duração do tabagismo e o número de cigarros fumados por dia. Riscos industriais como exposição ao asbesto aumentam as chances de desenvolver câncer do pulmão. Como o câncer de pulmão tem progressão insidiosa, o tumor geralmente está em um estágio muito avançado quando é diagnosticado. 100 Unidade III Esse fato explica o índice baixo de sobrevivência em cinco anos. Os carcinomas representam 95% de todos os cânceres pulmonares primários e, hoje em dia, podem ser subdivididos em quatro grupos principais: carcinoma espinocelular, adenocarcinoma, carcinoma de células grandes e carcinoma de pequenas células. Com finalidades de estadiamento e tratamento, o câncer de pulmão é classificado como Cânceres Pulmonares de Pequenas Células (CPPC) ou Cânceres Pulmonares de Células Não Pequenas (CPCNP). A razão principal para isso é que quase todos os CPPC já produziram metástases por ocasião do diagnóstico. As manifestações clínicas do câncer pulmonar podem ser atribuídas ao envolvimento do pulmão e das estruturas adjacentes aos efeitos da disseminação local e das metástases e às síndromes paraneoplásicas que causam disfunção endócrina, neurológica e hematológica. Como ocorre com outros cânceres, o câncer de pulmão causa sinais e sintomas inespecíficos como anorexia e emagrecimento. As abordagens terapêuticas ao câncer de pulmão incluem ressecção cirúrgica, radioterapia e quimioterapia. O aumento recente da incidência do câncer de pulmão entre os idosos (65 anos ou mais) tem exigido uma reavaliação das estratégias terapêuticas para essa faixa etária; hoje a tendência é basear o tratamento nas condições fisiológicas mais o que na idade cronológica (GROSSMAN; PORTH, 2019). Segundo Pinto e Katz (2012), histologicamente os carcinomas pulmonares podem ser agrupados nos seguintes tipos: carcinoma escamoso, adenocarcinoma, carcinoma de grandes células e carcinoma de pequenas células. Esses carcinomas frequentemente apresentam heterogeneidade histológica, ou seja, em uma lesão podem ser identificados mais de um tipo histológico. O escrutínio dos esfregaços deve considerar que a presença de abundante celularidade e de grupamentos grandes com células apresentando núcleos maiores que o núcleo das células brônquicas, ainda que uniformes, deve levantar a suspeita de malignidade. A análise citológica deve ser bastante criteriosa, sempre considerando a heterogeneidade desses tumores, para que se faça uma correta classificação. Na verdade, um novo sistema de classificação geral do carcinoma de células não pequenas tem sido usado com frequência decrescente e o carcinoma de células grandes tem sido substituído pelos carcinomas neuroendócrinos de células grandes. 7.4.1 Cânceres pulmonares de pequenas células Os CPPC caracterizam-se por um tipo celular distintivo, isto é, células redondas ou ovais pequenas que têm dimensões semelhantes ao tamanho de um linfócito. As células proliferam em grupos que não demonstram organização glandular ou escamosa. Exames de microscopia eletrônica revelam a existência de grânulos neurossecretórios em algumas células do tumor, que são semelhantes aos encontrados no epitélio brônquico do feto ou do recém-nascido. Esses grânulos sugerem a possibilidade de que alguns desses tumores secretem hormônios polipeptídicos. Marcadores neuroendócrinos, como enolase específica dos neurônios, peptídio semelhante ao paratormônio e outros produtos hormonais ativos, sugerem que esses tumores possam ter origem nas células neuroendócrinasdo epitélio brônquico. Esse tipo de célula está diretamente associado ao tabagismo e raramente é observado nos indivíduos que nunca fumaram. Os CPPC são altamente malignos, tendem a causar infiltrados difusos, disseminam em estágios precoces de sua evolução e raramente são operáveis. Metástases cerebrais são especialmente comuns com os CPPC e podem ser as primeiras manifestações do tumor. Esse tipo de câncer pulmonar está associado a várias síndromes paraneoplásicas, inclusive síndrome de secreção inadequada de 101 CITOPATOLOGIA E CITOLOGIA CLÍNICA hormônio antidiurético (SSIADH), síndrome de Cushing associada à secreção ectópica de hormônio adrenocorticotrófico e síndrome de Eaton-Lambert (um distúrbio neuromuscular). 7.4.2 Cânceres pulmonares de células não pequenas Os CPCNP incluem carcinomas espinocelulares, adenocarcinomas e carcinomas de células grandes. Como também ocorre com os CPPC, esses cânceres podem sintetizar produtos bioativos e causar síndromes paraneoplásicas. • Carcinoma espinocelular: é diagnosticado mais comumente nos homens e está relacionado com a história de tabagismo. Esse tipo de carcinoma tende a originar-se dos brônquios centrais na forma de uma proliferação intraluminar e, desse modo, pode ser diagnosticado mais precocemente por exame citológico do escarro que os outros tipos de câncer do pulmão. O carcinoma espinocelular busca disseminar-se centralmente aos brônquios primários e aos linfonodos hilares e, nos estágios mais avançados, espalha-se para fora do tórax. O carcinoma espinocelular está associado às síndromes paraneoplásicas que causam hipercalcemia. • Adenocarcinoma: a associação desse tipo de câncer ao tabagismo é menos evidente que a do carcinoma espinocelular. O adenocarcinoma de pulmão é mais comum nas mulheres e nos indivíduos que não fumam. Os adenocarcinomas podem originar-se dos tecidos bronquiolares ou alveolares do pulmão. Esses tumores tendem a se localizar mais perifericamente que os carcinomas espinocelulares e, em alguns casos, estão associados a áreas de retração fibrótica. Essas áreas podem ser ocasionadas por infartos antigos, corpos estranhos metálicos, feridas e infecções granulomatosas, inclusive tuberculose. Em geral, os adenocarcinomas têm prognóstico mais desfavorável que os carcinomas espinocelulares nos estágios correspondentes. • Carcinoma de células grandes: caracteriza-se por células poligonais volumosas. Esses tumores constituem um grupo de neoplasias altamente anaplásicas e difíceis de classificar como carcinomas espinocelulares ou adenocarcinomas. Os carcinomas de células grandes tendem a ocorrer na periferia dos pulmões e invadir brônquios segmentares e vias respiratórias mais calibrosas. Os tumores desse tipo têm prognóstico desfavorável em razão de sua tendência a produzir focos metastásticos distantes em estágios iniciais de sua evolução (HOCKENBERRY; WILSON, 2011). Lembrete O adenocarcinoma representa a neoplasia pulmonar mais prevalente, acomete preferencialmente mulheres e é o tipo cuja associação com o tabagismo é menos evidente. O tumor localiza-se predominantemente na periferia dos pulmões, envolve muitas vezes a pleura visceral e, em muitos casos, associa-se a lesões destrutivas e cicatrizes no parênquima pulmonar (fibrose, espaços aéreos não funcionantes etc.) ou a hiperplasia de pneumócitos, que são os locais de origem de focos adenomatosos. A maioria dos adenocarcinomas origina-se nas vias respiratórias periféricas, a partir de células claviformes – club-cell (células epiteliais colunares não ciliadas) ou de pneumócitos do tipo II. 102 Unidade III Líquidos A pleura é uma delicada membrana serosa que reveste o pulmão (pleura visceral) e a parte interna da parede torácica (pleura parietal). A pleura visceral e a parietal estão em continuidade e formam um espaço virtual entre elas. Uma pequena quantidade de líquido está presente no espaço pleural e age como lubrificante para facilitar os movimentos respiratórios. A pleura normal possui uma camada única de células mesoteliais com uma pseudomembrana que repousa num tecido conjuntivo. Nesse tecido conjuntivo podemos encontrar arteríolas, vênulas e nervos (periféricos, simpáticos e parassimpáticos). A estrutura, a função e as doenças do pericárdio e peritônio são similares às da pleura. • Células mesoteliais: é muito importante saber reconhecer as células mesoteliais benignas, pois elas podem ser confundidas com malignidade (particularmente adenocarcinoma), especialmente quando são reativas ou aparentemente atípicas, como frequentemente se apresentam. As células mesoteliais são células epiteliais derivadas do mesoderma. Quando normais ou não reativas, são vistas na Paaf como arranjos planos e ordenados, apresentando citoplasma e bordos celulares definidos com espaços ou “janelas” proeminentes entre elas. Os núcleos não reativos são paracentrais, usualmente uniformes, redondos a ovais, com cromatina fina e delicada e nucléolos infrequentes. Alterações reativas das células mesoteliais são comuns. Além dos arranjos planos e células isoladas, grupos tridimensionais com contornos em rosetas ou grupos papilares podem ser vistos. As células reativas apresentam variações pleomórficas (forma e tamanho). O citoplasma dessas células é denso na parte central e delicado e claro na borda. Os núcleos são centrais ou paracentrais com contorno irregular e nucléolo proeminente. As doenças mais frequentes do mesotélio são infecções e neoplasias. • Mesoteliomas benignos: são raros na pleura e mais comuns no peritônio. Em geral o tumor cresce como um processo papilar recoberto por uma ou mais camadas de células mesoteliais. Na Paaf a celularidade é abundante com arranjos de células mesoteliais reativas ou atípicas. Os mesoteliomas benignos fibrosos são mais comuns na pleura (visceral) que no peritônio e uma das principais características é o predomínio dos fibroblastos em relação às células mesoteliais. A celularidade é variável. Algumas lesões são muito vascularizadas resultando num aspirado hemorrágico. As células são fusiformes, lembrando fibroblastos e núcleos desnudos podem ser vistos. Fragmentos de estroma metacromático frequentemente estão presentes. Mitoses não são vistas. Em alguns casos a celularidade pode ser maior, com células moderadamente pleomórficas e com cromatina grosseira. • Mesoteliomas malignos: a pleura é o local mais frequente dos mesoteliomas malignos, mas eles também podem ocorrer no pericárdio e peritônio. Na Paaf as amostras são usualmente celulares, e os achados citológicos podem mostrar alterações puramente epiteliais, bifásicas (epiteliais e células fusiformes) até anaplásicas. O padrão bifásico é muito característico, mas nem sempre está presente. Alta celularidade com papilas abundantes e achados clínicos favoráveis ajudam no diagnóstico. O tipo mais comum do mesotelioma maligno é o carcinomatoso. Os aspectos celulares podem ser mínimos ou inequívocos de malignidade. As células formam agrupamentos planos ou tridimensionais, papilares ou do tipo túbulo acinares, mas podem ser pouco coesas sob a forma de células isoladas. O contorno celular varia de redondo a poligonal ou angular e pequeno componente de células fusiformes é comum. O citoplasma é abundante com bordos bem definidos. 103 CITOPATOLOGIA E CITOLOGIA CLÍNICA Vacuolização pode estar presente e ser decorrente de natureza degenerativa ou conter mucina mesenquimal metacromática (ácido hialurônico). A presença de células epitelioides vacuolizadas sugere adenocarcinoma. Corpos de psamomas e corpos de asbestos podem ser encontrados, mas nenhum deles é específico para malignidade (PINTO; KATZ, 2012). Lembrete As manifestações clínicas do câncer pulmonar podem ser atribuídas ao envolvimento do pulmão e das estruturas adjacentes aos efeitos da disseminação local e das metástases e às síndromes paraneoplásicas que causam disfunção endócrina, neurológica e hematológica. Como ocorre com outros cânceres, o câncerde pulmão causa sinais e sintomas inespecíficos como anorexia e emagrecimento. As abordagens terapêuticas ao câncer de pulmão incluem ressecção cirúrgica, radioterapia e quimioterapia. 8 CITOPATOLOGIA DA MAMA: ANATOMIA E HISTOLOGIA DA MAMA A mama humana é normalmente localizada na parede anterior do tórax apresentando na sua região central uma aréola e uma papila. Ela é dividida entre 15 a 20 lobos mamários independentes, separados por tecido fibroso. Cada lobo tem a sua via de drenagem, que converge para a papila através do sistema ductal. Portanto, a mama é formada de um lóbulo (ou unidade lobular ductal terminal) e de um grande sistema ductal. Têm como função principal a produção do leite para a amamentação. Doenças fibrocísticas, fibroadenomas, cistos e a maioria dos cânceres se originam frequentemente dos lóbulos. Os grandes ductos podem ser os sítios de origem dos papilomas solitários, carcinoma papilar, ectasia ductal e possivelmente doença de Paget. Embriologicamente, a mama é uma glândula sudorípara apócrina modificada, derivada do ectoderma e suspensa pelos ligamentos suspensores de Cooper. Quando esses ligamentos são acometidos por fibrose (nos casos de câncer), tem origem a imagem de “casca de laranja”. Durante a primeira fase do ciclo menstrual, os lóbulos tornam-se proliferativos em virtude da presença do efeito estrogênico. Nessa fase pré-ovulatória, as células ductais aspiradas se apresentam em monocamada e com citoplasma distinto. Os núcleos são pequenos, compactos e com nucléolos discretos. Já na segunda fase do ciclo (pós-ovulatória ou lútea), o lóbulo continua a se proliferar e o estroma, em resposta à ação do hormônio progesterona, torna-se edemaciado. Assim, as células se apresentam em várias camadas com citoplasma indistinto e marginação da cromatina, levando ao aparecimento de uma área clara ao redor do nucléolo, agora proeminente. Na mama, em contraste com o endométrio, o maior número de mitoses é encontrado na segunda fase do ciclo. Durante a menstruação, em decorrência da diminuição dos hormônios estrogênio e progesterona, os lóbulos voltam às características normais. Na pós-menopausa, o tecido conjuntivo e o tecido glandular atrofiam e ocorre a substituição gordurosa (liposubstituição). As doenças que afetam a mama podem ser divididas em três grupos: inflamação (incluindo aguda, crônica e mastite granulomatosa), hiperplasia (incluindo doença fibrocística, alterações da gestação e a maioria das neoplasias benignas) e câncer (PINTO; KATZ, 2012). 104 Unidade III Dados os aspectos da normalidade descritos por Schmitt e Gobbi (2016), para a melhor compreensão das doenças mamárias, é necessário conhecer suas estruturas morfológica e funcional, que sofrem modificações ao longo da vida e a cada ciclo menstrual. A mama é uma glândula sudorípara modificada, formada por um sistema de ductos ramificados a partir do mamilo, os quais se estendem radialmente entre o estroma fibrogorduroso. Essa estrutura começa a ser formada a partir da quinta semana de vida intrauterina, com o aparecimento da linha mamária, um espessamento epidérmico que se estende da axila à região inguinal. A partir dela, brotos epiteliais invadem o mesênquima adjacente e, na área peitoral, formam colunas epiteliais que posteriormente se tornam canalizadas e dão origem ao sistema ducto lobular. A morfogênese da mama na vida embrionária é influenciada por bloqueio de apoptose nos brotos epiteliais pela expressão do gene BCL-2 nesse epitélio. Ao contrário de outros órgãos, a glândula mamária não está completamente desenvolvida ao nascimento: na puberdade feminina é que ocorre a ramificação do sistema ductal. Após essa fase, a glândula mamária é formada por estruturas lobulares que refletem diferentes fases do desenvolvimento. O sistema complexo de ductos ramificados da mama pode ser dividido em dois grupos: a unidade terminal ducto lobular (UTDL) e os grandes ductos. A UTDL consiste em um lóbulo mamário e um ducto lobular terminal, representando a porção secretória. A UTDL conecta-se aos grandes ductos, inicialmente um ducto subsegmentar, que termina em um ducto segmentar; o conjunto desses ductos reúne-se em um ducto coletor (ou galactóforo), que emerge no mamilo. Entre o ducto segmentar e o coletor, logo abaixo do mamilo, existe uma dilatação fusiforme do sistema ductal conhecida como seio lactífero. Alguns autores dividem o sistema ductal mamário em um número que varia de 15 a 20 segmentos ou lóbulos a partir da subdivisão dos grandes ductos, os quais drenam para os ductos coletores; no entanto, essa divisão não é totalmente apropriada, já que as ramificações dos ductos são frequentemente superpostas, e os ductos são curvos e dispostos em diferentes direções. A UTDL é a unidade anatomofuncional da mama. Também conhecida como lóbulo mamário, é formada por pequenos dúctulos que se reúnem para formar o dúctulo terminal, o qual drena para o sistema ductal extralobular. Quando em intensa atividade secretora, como na gravidez ou na lactação, os pequenos dúctulos do lóbulo são denominados ácinos. O tecido conjuntivo intralobular é especializado e ricamente celular, com abundante rede de fibras reticulares, finas fibras colágenas e numerosos capilares; tem aspecto frouxo, é desprovido de fibras elásticas e pode conter número variável de linfócitos, plasmócitos e mastócitos. O estroma intralobular parece responder a estímulos hormonais, variando seu aspecto durante o ciclo menstrual. No restante do parênquima, o tecido conjuntivo, mais denso e menos celular (tecido conjuntivo extralobular), origina-se de septos oriundos de uma faixa de tecido conjuntivo denso entre a derme e o estroma mamário. Esses septos dividem o parênquima e estendem-se até a fáscia peitoral. Ao redor dos grandes ductos, o tecido conjuntivo é mais celular e possui grande quantidade de fibras elásticas. Nessa região, existem também vasos linfáticos periductais. Durante sua migração, os brotos epiteliais que crescem no mesênquima para formarem o sistema ductal levam consigo parte da camada papilar da derme, formando um envoltório próprio de tecido conjuntivo para cada ducto. Os ductos e lóbulos são revestidos internamente por dois tipos de células epiteliais, as 105 CITOPATOLOGIA E CITOLOGIA CLÍNICA luminais e as mioepiteliais. A camada mais interna é formada por células luminais, que são colunares e com capacidade de secreção e absorção de fluidos; essas células têm fenótipo epitelial e expressam ceratinas (especialmente 7, 8 e 18), α-lactoalbumina, outras proteínas relacionadas com o leite (por exemplo, HMFG) e receptores para estrogênio. A camada externa ou basal é formada por células mioepiteliais, com morfologia variável, podendo ser arredondadas ou alongadas; ao microscópio eletrônico, mostram diferenciação miofibrilar, o que pode ser comprovado pela positividade para actina à imuno-histoquímica. Essas células também expressam ceratinas (5, 14 e 17) e outros marcadores basais, como p63, P-caderina e CD10. As duas camadas de células estão apoiadas em uma membrana basal rica em laminina e colágeno tipo IV e, juntamente com os fibroblastos que as rodeiam, formam a base dos ductos. Além de células diferenciadas, são identificadas também células multipotentes capazes de autorregeneração e longo tempo de vida (células estaminais) e células progenitoras. Essas células localizam-se entre o mioepitélio e a camada luminal, podendo estar envolvidas na regeneração mamária. O mamilo ou papila mamária tem estrutura especializada e distinta do restante do parênquima. É revestido por epitélio estratificado pavimentoso que se estende até parte do ducto coletor, onde se localiza a transição com o epitélio ductal glandular. Extensão do epitélio escamoso até o seio lactífero, ou além dele, é condição patológica conhecida como metaplasia escamosa, que se associa a outras doenças da mama. Além de grandes ductos, o mamilo contém tecido conjuntivo denso, fibras musculares e numerosasglândulas sebáceas que se abrem independentemente dos folículos pilosos. A aréola é um anel de pele centrado pelo mamilo que contém glândulas sebáceas modificadas que se abrem na superfície em pequenas elevações conhecidas como tubérculos de Montgomery. Durante a gravidez, tornam-se proeminentes e a aréola aumenta de tamanho e ganha maior pigmentação, tornando-se uma modificação permanente. A divisão da glândula mamária em duas grandes porções (ductos maiores e UTDL) tem grande importância em patologia, porque algumas lesões afetam predominante ou exclusivamente certas regiões. Papiloma, ectasia ductal e abscesso subareolar são exemplos de lesões próprias dos grandes ductos, enquanto doença cística, hiperplasias epiteliais e a maioria dos carcinomas originam-se na UTDL. Saiba mais O documento indicado a seguir dá mais informações sobre a incidência de câncer no Brasil. INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER (INCA). Estimativa 2020: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: Inca, 2019. Disponível em: https://www. inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files//media/document//estimativa- 2020-incidencia-de-cancer-no-brasil.pdf. Acesso em: 31 maio 2020. 106 Unidade III 8.1 Coleta e confecção dos esfregaços, análise da citologia normal da mama e citopatologia neoplásica da mama Os resultados citopatológicos de materiais obtidos através de Paaf da mama ou por descarga mamilar são descritos de acordo com a probabilidade de malignidade indo até o diagnóstico específico. A reprodutibilidade entre observadores é excelente para a categoria positiva para malignidade, pobre para os casos atípicos e bons para as demais categorias. Uma amostra de Paaf de mama é considerada satisfatória quando encontramos de cinco a seis grupamentos de células bem preservadas e, para um diagnóstico negativo (benigno), é necessário que essa amostra seja satisfatória. O médico deve sempre correlacionar o resultado citopatológico com os achados clínicos e radiológicos (triplo teste). É importante ressaltar que um resultado citológico negativo não é garantia de que o nódulo seja benigno, em especial nos casos em que os achados clínicos e a mamografia suspeitam de malignidade. A categoria atípica é utilizada nas amostras com pouca probabilidade para malignidade, sendo comum quando se tem uma mistura de achados citológicos de entidades benignas e malignas numa mesma amostra. Em geral, a biópsia está indicada. Já a categoria suspeita se aplica aos casos em que os achados são provavelmente de malignidade; por exemplo, os casos em que as células atípicas são pouco numerosas, mal preservadas, a amostra é hemorrágica ou inflamatória, impedindo o diagnóstico definitivo de maligno, ou ainda quando os achados sugerem um câncer de atipias mínimas como o carcinoma lobular, tubular ou papilar. A biópsia então se impõe. Diagnósticos positivos para malignidade estão reservados para os casos com características inequívocas de malignidade. Três aspectos no diagnóstico são importantes: a celularidade, os arranjos celulares e o fundo do esfregaço (background). Aspirados hipocelulares podem ser encontrados nos casos de fibroadenoma, alterações fibrocísticas, necrose gordurosa, alterações secundárias à radiação, gravidez, lactação e carcinomas in situ ou invasivos (particularmente os tipos tubulares e lobulares). A celularidade moderada é comum na gravidez ou na lactação e nas alterações fibrocísticas. Nos fibroadenomas, tumor phyllodes e carcinomas, incluindo os invasivos, a celularidade varia de moderada a acentuada. Os arranjos celulares podem ser planos, frouxos, coesos, tridimensionais, ramificados, papilares ou ainda constituídos predominantemente por células isoladas. Entre os elementos que podemos encontrar no fundo do esfregaço, destacamos células inflamatórias, detritos amorfos, sangue e mucina. As células inflamatórias agudas são comuns nas mastites e nos carcinomas necrotizantes; as células inflamatórias crônicas nas hiperplasias, nas desordens proliferativas e no carcinoma medular; o sangue pode ser um indicativo de papiloma, carcinoma papilar ou outros carcinomas; mucina ou material mixoide nos fibroadenomas, carcinoma mucinoso ou mucocele (PINTO; KATZ, 2012). As características de benignidade descritas por Zakour, Perry e Wells (1999) destacam dois aspectos fundamentais para o diagnóstico de benignidade: presença de células ductais coesas e de células mioepiteliais. Outro aspecto a ser considerado é a escassa celularidade (embora haja numerosas exceções, como fibroadenoma, papiloma, gravidez e mastites). As células são relativamente uniformes (nos casos de proliferação epitelial podem apresentar variações), estão coesas formando arranjos em lençóis ordenados, é rara a presença de células isoladas e algumas podem exibir sobreposição. O núcleo pode variar de tamanho, em geral não é maior que duas vezes o tamanho de uma hemácia. Sua forma pode ser redonda ou oval e o contorno nuclear é suave (quando irregular sugere malignidade). O núcleo pode ser levemente hipercromático, com a cromatina fina e pequeno nucléolo. O citoplasma varia de escasso e delicado a abundante e apócrino. Vacúolos de gordura intracitoplasmática são mais 107 CITOPATOLOGIA E CITOLOGIA CLÍNICA comuns nos carcinomas, mas também são encontrados em casos benignos (a exemplo das alterações da lactação). As lesões benignas caracterizam-se por uma grande variedade de tipos celulares, incluindo células apócrinas, ductais, espumosas, mioepiteliais e histiócitos. Entre as características de malignidade descritas por Schmitt e Gobbi (2016), vale destacar os pontos descritos a seguir. As neoplasias malignas são os carcinomas. Dos tumores malignos da mama, os carcinomas são os mais importantes. O carcinoma mamário é a neoplasia maligna visceral mais frequente e a principal causa de morte por câncer em mulheres. Segundo a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2013), a frequência do câncer da mama vem aumentando tanto nos países desenvolvidos quanto naqueles em desenvolvimento. No Brasil, o câncer da mama é o mais incidente na população feminina, estimando-se cerca de 57.120 novos casos em 2014. No Brasil, na região Sudeste a frequência é de 71,2 casos/100.000, enquanto na região Norte é de 21,3 casos/100.000 mulheres. A menor incidência em mulheres na região Sudeste pode dever-se à atuação de fatores de risco (menor paridade, idade mais elevada da primeira gestação, maior longevidade, hábitos de vida que favorecem obesidade) e maior acesso ao diagnóstico de lesões precursoras. O câncer de mama é a principal causa de óbito por câncer nas mulheres em todo o mundo, com cerca de 520 mil mortes estimadas em 2012. É a segunda causa de morte por câncer nos países desenvolvidos, atrás somente do câncer do pulmão, e a principal causa de morte por câncer nos países em desenvolvimento. Nas últimas décadas, apesar do aumento constante da incidência do carcinoma mamário, pela primeira vez demonstrou-se queda na mortalidade. O uso crescente de métodos de rastreamento, como a mamografia, tem permitido a detecção de lesões localizadas, de pequeno tamanho e até de carcinoma in situ. Além disso, o aumento do conhecimento da biologia do tumor e a introdução de novas técnicas terapêuticas têm contribuído para o decréscimo na mortalidade. O aperfeiçoamento da mamografia, o uso de cirurgias conservadoras e os progressos alcançados pela genética molecular podem ser apontados como alguns avanços significativos da última década. Clinicamente, o carcinoma da mama manifesta-se: • como nódulo palpável, muitas vezes detectado pela própria paciente (por isso mesmo, medidas de educação para a saúde, como ensino e treinamento da autopalpação, apesar de pouco eficazes como método de rastreamento, ainda devem ser incentivadas, principalmente em países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos, onde ainda não há programas de rastreamento eficazes, e a maioria dos tumores é diagnosticada como lesão palpável e em estádio avançado); • poranormalidades mamográficas, razão pela qual programas de rastreamento devem ser estimulados (em muitos países em que foram implantados, os resultados são promissores); • como achado incidental histológico em fragmentos de mama retirados por outra razão (doença benigna ou mamoplastia); • pelo encontro de células malignas na investigação de derrames papilares; • por suas metástases. 108 Unidade III 8.1.1 Carcinoma in situ Carcinoma in situ é definido como proliferação epitelial maligna restrita aos ductos ou dúctulos mamários, distinguindo-se do carcinoma invasor por não ter invasão estromal. Até há pouco tempo, o carcinoma ductal in situ (CDIS) constituía somente pequeno número dos carcinomas mamários diagnosticados (0,8 a 5%). Graças ao uso da mamografia como método de rastreamento, a frequência do carcinoma in situ hoje chega a 25% de todos os cânceres da mama. Algumas alterações mamográficas têm alta correlação com carcinoma ductal in situ, como microcalcificações agrupadas e pleomórficas, com distribuição segmentar. Outras alterações mamográficas, como densidade assimétrica, lesão espiculada do tipo cicatriz radial e presença de nódulo, estão mais associadas a neoplasia invasiva. Os carcinomas in situ da mama não representam uma entidade única. Além da existência de dois tipos distintos, lobular e ductal, diferenças histológicas e de comportamento clínico reforçam a ideia de que o carcinoma in situ representa um grupo heterogêneo de lesões. Isso se expressa pelo fato de que nem todos evoluem para carcinoma invasor. Além disso, embora em geral as lesões sejam únicas, em 30% das mastectomias realizadas para ressecção de carcinoma in situ se detectam vários focos, o que tem implicações em pacientes submetidas a cirurgia conservadora. Carcinoma ductal in situ (CDIS) Com base no padrão arquitetural da neoplasia, a lesão pode ser classificada nos seguintes tipos: comedocarcinoma, cribriforme, micropapilar, papilar e sólido. Estudos recentes mostram limitações nessa classificação, já que existem pouca definição dos padrões arquiteturais, marcada variação entre diferentes observadores, coexistência de vários padrões na mesma lesão e fraca correlação com o comportamento biológico. Somente os tipos comedocarcinoma e micropapilar apresentam relevância clínica, o primeiro por se associar mais a focos de invasão e o segundo pela tendência à multicentricidade. Comedocarcinoma (ou carcinoma ductal in situ com comedonecrose) refere-se a tumor de alto grau nuclear associado à área de necrose extensa que ocupa o interior do ducto. Quando extensa, a comedonecrose pode ser visível macroscopicamente como pontos brancos ou amarelados que drenam material necrótico quando se faz a compressão do espécime. Esforços para classificar o CDIS em subgrupos levando em conta o grau de malignidade têm sido feitos com o objetivo de se obter reprodutibilidade diagnóstica, simplificação de tipos e correlação prognóstica. Entre as várias propostas de classificação, a maioria considera dois grupos: de alto e de baixo graus histológicos. Embora a classificação em dois grandes grupos seja operativa e reprodutível, existe um grupo intermediário no qual a taxa de recidiva após cirurgia conservadora é intermediária entre os grupos de alto e baixo grau de malignidade. Além disso, são encontradas alterações genéticas distintas em diferentes subgrupos de lesões, bem como evolução para diferentes tipos de carcinomas invasores. A classificação em graus histológicos baseia-se sobretudo no grau nuclear e na presença ou ausência de necrose. O grau nuclear é determinado de acordo com o pleomorfismo nuclear, o tamanho do núcleo e a presença de nucléolo. O tamanho do núcleo é avaliado pela comparação com os núcleos de ductos mamários adjacentes: pequeno (uma a duas vezes), intermediário (três a quatro vezes) e grande (cinco 109 CITOPATOLOGIA E CITOLOGIA CLÍNICA vezes ou mais). Núcleos grau 1 mostram monomorfismo, tamanho pequeno ou intermediário e nucléolo pouco evidente; núcleos grau 2 exibem pleomorfismo discreto, tamanho pequeno ou intermediário e, quase sempre, um nucléolo evidente; núcleos grau 3 apresentam pleomorfismo acentuado, tamanho intermediário ou grande e múltiplos e grandes nucléolos. A necrose só é considerada quando se visualizam pequenas ou grandes áreas de necrose do tipo comedo; necrose de células isoladas não é considerada para a classificação. O CDIS de baixo grau caracteriza-se por grau nuclear 1 ou 2, ausência de necrose e, frequentemente, arquitetura cribriforme; o de grau intermediário possui grau nuclear 1 ou 2, como o de baixo grau, mas exibe áreas de necrose; pode apresentar-se sob vários padrões (como cribriforme ou sólido com necrose). O CDIS de alto grau mostra necrose e atipias nucleares acentuadas, com grau nuclear 3. Além de recidivar com maior frequência, o carcinoma in situ de alto grau tem maior tendência a desenvolver focos de invasão do estroma. A classificação histológica guarda boa correlação com alguns marcadores biológicos. Aneuploidia e expressão de HER2/neu são mais comuns no grupo de alto grau de malignidade, enquanto receptores hormonais (estrógeno e progesterona) são mais encontrados em carcinomas de baixo grau. Carcinoma lobular in situ (CLIS) Representa de 10% a 30% dos carcinomas in situ e quase sempre se apresenta como lesão não palpável encontrada como achado incidental em mulheres na pré-menopausa. O risco de uma mulher com CLIS removido cirurgicamente desenvolver carcinoma invasor aumenta cerca de 1% ao ano, chegando ao risco relativo de mais de 10 vezes em relação ao da população geral e risco absoluto de 20% depois de 20 anos. O aumento do risco vale para ambas as mamas, podendo o carcinoma que surge ser ductal ou lobular invasor, o que faz com que alguns autores sugiram que o CLIS é mais um marcador do que propriamente um precursor do câncer invasivo. No entanto, o CLIS apresenta alterações morfológicas e genéticas (perda de expressão de E-caderina e perda de heterozigosidade em 16q) semelhantes às encontradas no carcinoma lobular invasor. Histologicamente, o CLIS é multicêntrico e acomete unidades lobulares, nas quais todos os dúctulos estão distendidos e preenchidos por células pouco coesas e com baixo grau nuclear. As células são pequenas, redondas ou poligonais e com citoplasma bem delimitado, às vezes com aspecto em anel de sinete. Mitoses são raras. O CLIS tem tendência a estender-se de forma pagetoide aos ductos maiores. 8.1.2 Carcinoma invasor Trata-se de carcinoma que infiltra o estroma, independentemente da coexistência de componente in situ. Como os carcinomas in situ, também os invasores são divididos em dois grandes grupos: ductais e lobulares. Ao lado disso, alguns subtipos (carcinomas tubulares, medulares, mucinosos) e algumas formas especiais de apresentação (doença de Paget, carcinoma inflamatório) têm grande interesse prático devido ao seu prognóstico distinto. 110 Unidade III 8.1.3 Carcinoma ductal O carcinoma ductal invasor (sem outra especificação, SOE), que é o tipo mais frequente de câncer da mama, representa um grupo heterogêneo de lesões que se caracterizam pela ausência de achados morfológicos que permitam enquadrá-las em um dos subtipos especiais. O carcinoma ductal tem comportamento mais agressivo do que a maioria dos tipos especiais, com sobrevida de cinco anos em 60% das pacientes. Estudos genéticos confirmam aquilo que os patologistas já reconheciam há muitos anos, ou seja, que este grupo de tumores é muito heterogêneo e engloba lesões muito distintas. Entre os carcinomas ductais, pode-se encontrar todos os subtipos classificados de acordo com o padrão de expressão gênica (luminais, HER2/neu, basais e outros). Descarga mamilar, descrita por Pinto e Katz (2012), quando espontânea e não relacionada à lactação ou a gravidez, é um achado anormal. Pode ser decorrente de uma lesão da mama como papiloma ou carcinoma, ou de uma alteração hormonal como no adenoma hipofisário.O exame da descarga mamilar pode ser realizado quando a paciente não apresenta lesões palpáveis ou anormalidades na mamografia sendo útil no diagnóstico de pequenos carcinomas de mama e nos papilomas. Os achados citomorfológicos de secreções benignas mamilares são: esfregaços pouco celulares, presença de células ductais, espumosas, inflamatórias e hemácias. Quando a secreção apresenta numerosos agrupamentos papilares de células ductais benignas aumentadas de volume é provável que estejamos diante de um papiloma ou de uma hiperplasia intraductal. Fazem parte dos achados de malignidade os grupamentos de células ductais pleomórficas, células malignas isoladas, núcleos desnudos nucléolos, sangue e restos necróticos. Lembrete Reconhecidamente, a avaliação citológica apresenta uma série de vantagens quando comparada a outros métodos diagnósticos como, por exemplo, a biópsia. É um procedimento com menor grau de invasão, dispensa o uso de anestesia na maioria das vezes, possui menores taxas de complicações, durante e após a coleta, e fornece resultados rápidos e de baixo custo. 8.2 Citopatologia do trato urinário: anatomia e histologia do trato urinário As primeiras ilustrações detalhadas do trato urinário foram elaboradas por Leonardo da Vinci, no século XVI, a partir do estudo de cadáveres dissecados. No século seguinte, utilizando microscópio de luz desenvolvido por Galileo Galilei, Marcello Malpighi descreveu os corpúsculos renais, ou de Malpighi (glomérulos). Mais recentemente, importantes avanços tecnológicos disponibilizaram melhores e mais potentes microscópios, reagentes imuno-histoquímicos mais específicos e técnicas de estudo molecular mais avançadas, que permitem a exploração de novos aspectos da estrutura do parênquima renal e maior conhecimento da sua função. O rim humano adulto pesa em torno de 150 g (0,5% do peso corporal). Ao corte, apresenta a região cortical, que mede 1,0 a 1,5 cm de espessura, e a região medular. A primeira prolonga-se entre as pirâmides renais, que constituem a medular, dando origem às colunas renais. As pirâmides e a cortical 111 CITOPATOLOGIA E CITOLOGIA CLÍNICA que as envolvem constituem os lobos renais; os lóbulos são subunidades da cortical cujo centro é ocupado por estriações indistintas, os raios medulares, formados por túbulos e grupos de glomérulos. O ápice das pirâmides constitui as papilas, que se abrem em 12 cálices menores; estes correspondem a subdivisões de dois ou três cálices maiores, que nascem de ampla dilatação do ureter, a pelve renal. O rim é constituído por unidades funcionais, os néfrons, cujo número varia entre 1 e 2 milhões. O néfron compreende o glomérulo, que produz o ultrafiltrado do plasma, e os túbulos (túbulo contorcido proximal, alça de Henle e túbulo contorcido distal), que modificam o filtrado glomerular para produzir urina. O néfron abre-se no sistema dos túbulos coletores. O glomérulo é formado pela cápsula de Bowman, por um novelo de 20 a 40 alças anastomosadas de capilares fenestrados e pelo mesângio. As alças capilares enoveladas aumentam enormemente a superfície de filtração (equivalente a cerca de 13 km de extensão). Há dois polos: o urinário, que se continua com o túbulo proximal, e o vascular, através do qual entra a arteríola aferente e sai a eferente. No polo urinário, o epitélio da cápsula de Bowman se continua com o epitélio do túbulo proximal. No polo vascular, o revestimento epitelial da cápsula se dobra e se continua com o epitélio que envolve as alças capilares, formando o folheto visceral. O espaço entre os dois folhetos constitui o espaço subcapsular ou de Bowman. Com numerosas mitocôndrias e orla em escova, rica em microvilosidades, além de interdigitações celulares que aumentam muito a superfície de reabsorção. A reabsorção tubular corresponde a dois terços do filtrado glomerular e se faz por mecanismos especiais e/ou de transporte ativo. Por meio dela, a concentração de sódio na urina é igual à do plasma e a de bicarbonato, a cerca de 10%; a urina praticamente não contém glicose ou aminoácidos. O paratormônio aumenta a absorção de cálcio e magnésio e inibe a absorção de fosfato e bicarbonato, participando também no metabolismo da vitamina D. A alça de Henle tem forma de U, com uma parte descendente e delgada e outra ascendente e larga. A porção descendente é revestida por epitélio achatado com pequeno número de vilosidades e invaginações basais. A porção ascendente tem diâmetro semelhante ao do túbulo proximal e fica recoberta por epitélio cúbico com poucas vilosidades; na parte basal, há muitas mitocôndrias e numerosas invaginações tubulares da membrana celular. A atividade enzimática é intensa. A alça de Henle situa-se muito próximo dos capilares intertubulares, relacionando-se com a função de concentração da urina. Na porção descendente, a água passa livremente para o interstício medular hipertônico, enquanto na ascendente ocorre a absorção de 25% do Na+ filtrado; com isso, o fluido resultante tem volume igual a 10% do filtrado, com diluição máxima. O túbulo distal tem 4,6 a 5,2 mm de comprimento, é tortuoso como o proximal e desemboca no sistema de túbulos coletores. É revestido por células cúbicas com poucas microvilosidades, muitas invaginações tortuosas e profundas na parte basal e numerosas mitocôndrias. Nele, o Na+ é absorvido sob ação da aldosterona e ocorre a excreção de K+, amônia e prótons. A junção da alça de Henle com o túbulo distal encosta-se na arteríola aferente, onde esta penetra no glomérulo. Nessa região, algumas células tubulares adquirem morfologia distinta (citoplasma compacto e granular, corável intensamente), formando massa de 40 a 70 μm chamada mácula densa. Nesse local, as células musculares da camada média da arteríola aferente tornam-se epitelioides e adquirem numerosas granulações, constituindo as células justaglomerulares, responsáveis pela secreção de renina. O conjunto de mácula densa, células justaglomerulares e células não granuladas formas o aparelho justaglomerular. 112 Unidade III Os túbulos coletores constituem a primeira via de excreção da urina. Possuem luz ampla, que aumenta progressivamente até os ductos papilares (100 a 200 μm de diâmetro), os quais se abrem no ápice das papilas. São revestidos por epitélio cúbico com citoplasma claro e poucas microvilosidades. No sistema coletor ocorre a regulação da osmolaridade urinária, com participação do hormônio antidiurético (MALHEIROS et al., 2016). 8.2.1 Coleta e confecção dos esfregaços Urina Com esse espécime é possível detectar lesões pré-cancerosas e patologias da pelve renal, bexiga, ureter e uretra. Antes da coleta o paciente deve esvaziar a bexiga (a primeira urina da manhã não é adequada para o exame) e fazer uma hidratação bebendo um copo de água a cada 30 minutos, durante o perído de uma hora e meia a duas horas. Colher a próxima urina espontânea da manhã diretamente no recipiente coletor, de preferência no laboratório que irá processar o material, após asseio da genitália com água e sabão. Para promover a mobilização de urina no interior da bexiga e facilitar a descamação celular, alguns autores aconselham 15 minutos de exercícios físicos (correr, pular) antes da coleta. Volumes entre 25 e 100 ml de urina espontânea ou cateterizada são suficientes e o processamento deve ser imediato ou realizado em até seis horas após a coleta. Durante esse período, manter a urina refrigerada ou preservada em etanol a 50% (em partes iguais) ou a 70% (na proporção de duas partes de urina para uma de álcool) (PINTO; KATZ, 2012). As doenças renais têm elevada morbidade, representando alto custo socioeconômico. Como em outras áreas do conhecimento, há interesse crescente no aperfeiçoamento dos métodos diagnósticos que possibilitem a identificação mais precoce das doenças e contribuam para aumentar o conhecimento dos mecanismos patogenéticos envolvidos, possibilitando a introdução de medidas terapêuticas mais eficientes. Os avanços diagnósticose terapêuticos alcançados nos últimos anos permitiram maior sobrevida para muitos pacientes com nefropatias. A biópsia renal, com a incorporação de novas técnicas imuno-histoquímicas e moleculares, além da análise convencional, continua sendo o padrão-ouro do diagnóstico de grande parte das nefropatias (MALHEIROS et al., 2016). Saiba mais Conheça mais sobre a coleta de citologia urinária no seguinte site: GONZAGA, L. H. Citologia urinária: técnicas de coleta, preparo e análise. Portal Educação, São Paulo, [s.d.]. Disponível em: https://siteantigo. portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/medicina/citologia-urinaria- tecnicas-de-coleta-preparo-e-analise/59061. Acesso em: 31 maio 2020. 113 CITOPATOLOGIA E CITOLOGIA CLÍNICA 8.2.2 Análise da citologia normal do trato urinário e citopatologia neoplásica do trato urinário Neoplasias benignas ou de potencial biológico indeterminado Tumores benignos do rim são frequentes, mas em geral de escassa importância clínica, exceto no diagnóstico diferencial com os malignos; a maioria constitui achado acidental de autópsia. Adenoma papilar (adenoma da cortical) corresponde a um tumor pequeno, medindo em geral 0,1 a 0,5 cm, assintomático e de achado acidental. É frequente, sendo encontrado em mais de 10% dos indivíduos com menos de 40 anos e em cerca de 40% daqueles com mais de 70 anos. Ocorre particularmente em rins contraídos e, de modo especial, em indivíduos submetidos a diálise por longo período. Para muitos, o adenoma deve ser considerado em conjunto com o carcinoma de células renais, dada a ausência de critérios seguros de benignidade ou malignidade. O tamanho do tumor é um parâmetro para essa distinção: considera-se adenoma o tumor com arquitetura papilar, de baixo grau, com menos de 0,5 cm de diâmetro. No entanto, tumores com mais de 0,5 cm de diâmetro podem ter comportamento benigno. Oncocitoma é tumor raro, incide principalmente em indivíduos com 50 a 80 anos de idade e possivelmente origina-se de células intercaladas dos túbulos coletores. A neoplasia predomina no gênero masculino (3:1) e corresponde a 3 a 5% dos tumores renais. Em geral, é maior do que o adenoma (pode medir de 2 a 12 cm de diâmetro). O tumor é globoso ou ovoide, de coloração marrom, frequentemente com cicatriz central cinzenta (achado visto em exames de imagem que sugere o diagnóstico pré- operatório), podendo apresentar focos de hemorragia, cistos ou cápsula. Raramente é bilateral ou múltiplo. O tumor é formado por células acidófilas e com citoplasma granular (oncócitos), sendo os grânulos representados por grande número de mitocôndrias. As células dispõem-se em massas sólidas na periferia e frouxas no centro. O oncocitoma, em geral, é assintomático e de descoberta acidental. Algumas vezes, manifesta-se com hematúria macroscópica, com ou sem dor no flanco e massa palpável. O angiomiolipoma (0,7 a 2% dos tumores renais) associa-se a esclerose tuberosa em cerca de 50% dos pacientes, nos quais é mais comum em mulheres (4:1), entre 25 e 35 anos. Casos esporádicos incidem igualmente em ambos os gêneros, sendo mais encontrados entre 40 e 55 anos. O tumor forma nódulos únicos ou múltiplos, quase sempre menores que 1 cm, quando capsulares, e com 3 a 20 cm, quando intrarrenais. Os nódulos são amarelados e lobulados, com hemorragia frequente (o que pode levar a dor no flanco, sintoma mais relacionado ao tumor). Apesar da provável origem em células epitelioides perivasculares, a neoplasia é constituída por tecido adiposo, vasos sanguíneos e células musculares lisas. Neoplasias malignas O carcinoma de células renais (CCR) constitui 1% a 3% das neoplasias malignas humanas (excluindo-se as da pele) e 75 a 80% das neoplasias malignas renais em adultos. O tumor predomina no gênero masculino (2 a 3:1) e em alguns países é mais comum em pessoas de cor negra. Muito raro antes dos 20 anos, é mais prevalente entre 50 e 70 anos, com pico na sexta década. O tumor pode ser esporádico 114 Unidade III ou ter caráter familial. Na pelve renal as neoplasias representam de 5% a 10% dos tumores renais, são mais comuns em homens (4:1) e têm grande semelhança histogenética e biológica com os tumores da bexiga. Com frequência, há repercussões renais, seja por infiltração, seja por obstrução urinária e suas consequências (pielonefrite, calculose e hidronefrose). Em cerca de 40% dos casos, as neoplasias uroteliais são múltiplas na pelve, no ureter e na bexiga, especialmente nesta; além disso, nesses casos são comuns áreas de atipia ou de carcinoma in situ em vários locais do trato urinário. Histologicamente, as neoplasias uroteliais da pelve renal podem ser benignas (papiloma) ou malignas (carcinoma urotelial ou de células transicionais). O carcinoma urotelial infiltra-se precocemente na parede da pelve, nos cálices, nas veias e nos linfáticos. Metástases a distância são relativamente tardias. Tumores menos comuns são o carcinoma de células escamosas e o raro adenocarcinoma (MALHEIROS et al., 2016). Resumo A alta incidência de câncer nas diversas áreas estudadas nos mostra a importância da citopatologia diagnóstica. Devemos ressaltar que citopatologia de mama não é um exame padrão ouro para diagnóstico de câncer de mama, mas poderá auxiliar no diagnóstico de inflamações como mastite entre outras. Células da mama: o lóbulo e os grandes ductos são compostos por dois tipos de células: epiteliais e mioepiteliais. O epitélio, que é composto de uma ou duas células na sua espessura, tem funções secretoras e de absorção. As células mioepiteliais que circundam os ductos são contráteis e ao se contraírem movem o produto da secreção (o leite) através do sistema ductal. Células ductais: células epiteliais ductais benignas são usualmente vistas em aspirados da mama como células pequenas e altamente coesas. São vistas em arranjos bidimensionais planos, mas podem apresentar leve sobreposição refletindo uma hiperplasia benigna. Células mioepiteliais: a presença de células mioepiteliais ou de núcleos desnudos bipolares é indicativa de benignidade. Esses são ovais ou alongados, escuros, suaves e desprovidos de citoplasma. Células espumosas/células apócrinas: representam metaplasia das células do epitélio lobular. São frequentemente encontradas em aspirados benignos tais como: doença fibrocística, fibroadenomas e cistos. Elas se apresentam de forma coesa, regular, plana, porém diferentemente das células ductais, essas células podem se apresentar tanto isoladamente como em grupos papilares. 115 CITOPATOLOGIA E CITOLOGIA CLÍNICA Os carcinomas da mama podem ser classificados segundo alguns parâmertro. Quanto à localização e à extensão, os carcinomas são classificados em in situ e invasor, que, inicialmente, foram divididos em ductal ou lobular, pois pensava-se que tinham origens distintas. Além da morfologia clássica, os carcinomas da mama, especialmente os invasores, são agrupados de acordo com o perfil de expressão gênica e alterações genômicas em grandessubgrupos: (1) tumores luminais; (2) tumores HER2/neu; (3) tumores com fenótipo basal. Já a citopatologia urinária é mais utilizada para diagnóstico de câncer no sistema urinário, onde as células descamadas podem se apresentar na amostra citológica. O rim é órgão de alta complexidade que exerce papel essencial na homeostase do organismo. Sua atuação principal é no papel de filtro incansável, processando em média 1.700 L de sangue para eliminar escórias metabólicas e toxinas por meio da produção de cerca de 1 a 2 L de urina a cada dia. Outras funções incluem manutenção do pH sanguíneo, regulação do balanço hidroeletrolítico e controle da pressão arterial. Além dessas, exerce ainda papel endócrino, por meio da síntese de hormônios e de substâncias vasoativas, como eritopoetina, renina, prostaglandinas e cininas. Para desempenhar tantas funções, o rim conta com uma estrutura altamente especializada. As doenças renais têm elevada morbidade, representando alto custo socioeconômico.
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