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Parasitos emergentes e reemergentes

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Material publicado e disponível em:https://www.passeidireto.com/arquivo/114317012/parasito 
 
1 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA 
DEPARTAMENTO DE MICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA 
 
 
 
 
PARASITOSES EMERGENTES E 
REEMERGENTES 
 
 
 
 
Dra. Nathieli Bianchin Bottari 
 
 
 
 
 
 
 
 
Material publicado e disponível em:https://www.passeidireto.com/arquivo/114317012/parasito 
 
2 
 
SUMÁRIO 
 
1. TOXOPLASMOSE ......................................................................................................3 
2. DOENÇA DE CHAGAS ............................................................................................18 
3. BABESIOSE ..............................................................................................................38 
4. FASCIOLOSE ............................................................................................................50 
5. COMPLEXO TENÍASE CISTICERCOSE ...............................................................60 
6. ANCILOSTOMÍASE .................................................................................................72 
7. TRICHOSTRONGILIASE .........................................................................................82 
8. DÍPTEROS .................................................................................................................94 
9. ACARI ......................................................................................................................106 
10. ECTOPARASITOS ................................................................................................117 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Material publicado e disponível em:https://www.passeidireto.com/arquivo/114317012/parasito 
 
3 
 
TOXOPLASMOSE 
 
Introdução 
A toxoplasmose é uma doença infecciosa de grande importância médica e 
veterinária, sendo uma das zoonoses mais difundidas no mundo que tem como agente 
etiológico um protozoário conhecido como Toxoplasma gondii, pertencente ao Filo 
Apicomplexa que pode invadir e se replicar intracelularmente em praticamente todos os 
tipos de células nucleadas de animais de sangue quente. As infecções humanas são 
adquiridas a partir de alimentos ou água contaminados. Embora normalmente resulte em 
doença leve em indivíduos saudáveis, a toxoplasmose é uma infecção oportunista comum 
com alta mortalidade em indivíduos e acometimento do SNC. Na fase aguda da infecção, 
as respostas imunes dependentes de interferon controlam a rápida expansão do parasita e 
atenuam os sintomas agudos da doença. No entanto, após a disseminação, o parasita se 
diferencia em cistos semi-dormentes que se formam dentro das células musculares e 
neurônios, onde persistem por toda a vida no hospedeiro infectado. As terapias atuais 
usadas para o tratamento da toxoplasmose aguda são incapazes de eliminar a infecção 
crônica devido ao crescimento lento e assíncrono dos bradizoítos. Apesar do progresso 
significativo no tratamento da toxoplasmose, há um forte impulso para desenvolver novas 
terapêuticas para as formas aguda e latente da infecção. Nas seções subsequentes serão 
apresentados uma visão geral dos aspectos epidemiológicos, classificação, características 
gerais, ciclo do parasita e sinais e sintomas do T. gondii. Também serão fornecidos 
subsídios para o diagnóstico e terapêutica. Por fim, serão abordados novas estratégias de 
diagnóstico e tratamento da toxoplasmose em humanos e em modelos animais. 
Histórico 
O protozoário T. gondii foi reconhecido pela primeira vez no Brasil, pelo Instituto 
Biológico de São Paulo (1908) ao observarem corpúsculos parasitários em coelhos lesões 
semelhantes as provocadas pelo conhecido parasito Leishmania, porém com 
características peculiares que questionaram Splendore (1908) a realizar extensas 
pesquisas envolvendo este novo protozoário e sua relação com as células intracelulares. 
No mesmo ano, Nicolle e Manceux (1908) no Instituto Pasteur de Tunis 
identificaram o parasito em roedores (Gundi - Ctenodactylus gundi) e o nomearam de T. 
gondii, baseados na morfologia (toxon = arco, plasma = vida) e no hospedeiro (gundi). 
Em 1923, foi descrito o primeiro caso de toxoplasmose humana em uma criança de 11 
anos de idade que apresentava hidrocefalia e microftalmia. Dez anos depois (1937), o T. 
gondii foi reconhecido como o agente causador de encefalomielite em crianças recém-
nascidas, sendo que cinco anos mais tarde comprovou-se a sua transmissão vertical em 
humanos. Apesar de várias pesquisas envolvendo o T. gondii terem sido realizados desde 
o início do século XIX, somente na década de 1960 o ciclo biológico do parasito foi 
elucidado, ao demonstrar estágios infecciosos de T. gondii nas fezes de gatos, e que estes 
poderiam transmitilos a hospedeiros intermediários. 
Material publicado e disponível em:https://www.passeidireto.com/arquivo/114317012/parasito 
 
4 
As linhagens clonais conhecidas como tipos I, II e III são comumente encontradas 
na América do Norte e Europa, com a maioria das infecções humanas decorrentes de 
cepas do tipo II. 
 
Aspectos epidemiológicos 
O Toxoplasma gondii é um patógeno intracelular que afeta aproximadamente um 
terço da população humana. Dados epidemiológicos estimam que 20 a 90% da população 
mundial já entraram em contato com o parasito; isto é, apresentam anticorpos. Em 
gestantes, a prevalência de positividade pode ser maior ao redor do mundo, variando entre 
51% a 72% na América Latina, 54% a 77% na África Ocidental, 4% a 39% no sudeste 
asiático, 58% nos países europeus e 15% na América do Norte. 
Os índices de incidência estão relacionados ao clima quente, baixas latitudes e 
clima seco, como é o caso do Brasil. No Brasil, a prevalência de toxoplasmose varia de 
acordo com a região estudada. Dados limitados indicam que em certas regiões do Brasil 
(especialmente a região Sul) aproximadamente 50% das crianças foram expostos ao 
parasita. Altas taxas de soroprevalência (36-92%) foram encontradas em mulheres 
grávidas. Em um estudo envolvendo 20.389 mulheres gestantes da região sul do Brasil, 
53,03% das mulheres possuíam anticorpos IgG para T. gondii e 3,26% foram positivas 
para IgM. Esses dados indicam que a soroprevalência de T. gondii em crianças e em 
mulheres grávidas no Brasil é uma das maiores em todo o mundo. 
 Pesquisas soroepidemiológicas forneceram evidências de uma distribuição 
mundial de T. gondii em suínos, com prevalências variando de acordo com a idade, 
categorias de suínos, geografia e sistema de manejo. Em geral, uma baixa prevalência de 
infecções por T. gondii (<1%) é observada em suínos criados em confinamento com 
condições de manejo controladas, impedindo o acesso de roedores e gatos, enquanto 
valores de prevalência mais elevados (>60%) podem ser encontrados em fazendas com 
suínos soltos, fazendas sem condições controladas que permitem acesso ao ar livre e em 
explorações de quintal. 
Anticorpos para T. gondii foram encontrados em ovinos e caprinos em todo o 
mundo. Mais de 500 artigos relataram estudos de soroprevalência nessas espécies de 
ruminantes domésticos em todas regiões do globo. Nas últimas décadas, numerosos 
artigos foram publicados sobre a soroprevalência de anticorpos específicos para T. gondii 
em bovinos taurinos. No geral, os resumos de teses mostram uma grande variação nas 
proporções relatadas de achados positivos e as estimativas resumidas foram de 9,5% para 
o gado na China, 27,9% no sul da Ásia ou 12 % na África. 
 
Classificação taxonômica 
Taxonomicamente, o T. gondii (NICOLLE e MANCEAUX, 1909) causador da 
toxoplasmose, é um parasito pertencente ao Filo Apicomplexa (LEVINE 1970), classe 
Coccidia (LEUCKART, 1879), Ordem Eucoccidiorida (LÉGER e DUBOSCQ, 1910), 
Subordem Eimeriorina (LÉGER, 1911), Família Sarcocystidae (POCHE, 1913), 
Material publicado e disponível em:https://www.passeidireto.com/arquivo/114317012/parasito 
 
5 
subfamília Toxoplasmatinae (BIOCCA, 1956), GêneroToxoplasma (NICOLLE e 
MANCEAUX, 1909). 
 
Etiologia e transmissão 
 
A infecção humana é adquirida pela ingestão de alimentos ou água contaminados 
com oocistos esporulados ou carne mal cozida infectada com cistos latentes. Ainda, por 
transmissão transplacentária, ou por meio de um aloenxerto infectado durante o 
transplante de órgãos. A aquisição via hemoderivados ou por ingestão acidental ou 
inoculação de Toxoplasma em laboratórios que trabalham com o parasita é rara. 
 
Morfologia 
Até então, três formas evolutivas infecciosas do T. gondii são reconhecidas: os 
taquizoítos (agrupam-se em clones), bradizoítos (presente em cistos teciduais) e oocistos 
(forma infectante). A análise da sequência do genoma completo de mais de 60 isolados 
de animais e humanos de todo o mundo identificou seis clados principais que diferem 
amplamente em ilhas genômicas de proteínas secretoras polimórficas amplificadas, 
muitas das quais funcionam como determinantes de virulência. 
Frenkel (1973) foi o primeiro a descrever a morfologia dos taquizoítos (do Grego 
tachos = veloz). Os taquizoítos são estruturas celulares arqueadas capazes de invadir todos 
os tipos de células, sendo considerados os estágios de multiplicação e de disseminação 
rápida (DUBEY, 1998). Possuem aproximadamente 6 μm de comprimento e 2 μm de 
largura podendo serem encontrados durante a fase aguda da infecção, também 
denominada forma proliferativa, forma livre ou trofozóito. Durante a fase aguda, a qual 
geralmente ocorre dentro de 8 a 12 dias após a infecção, os taquizoítos são capazes de 
atravessar as barreiras teciduais como a BHE e transplacentária, podendo atingir o SNC 
e o feto. Nesta fase da infecção, os taquizoítos se multiplicam por endodiogenia, no 
interior de seus vacúolos parasitóforos. O citoplasma torna-se repleto de taquizoítos a 
ponto de eclodir e provocar a liberação dos taquizoítos, que invadem as células contíguas 
ou são fagocitadas. Esta multiplicação proliferativa favorece a infecção em diversos 
locais do organismo, como o SNC, olhos, musculatura esquelética, musculatura cardíaca 
e a placenta. 
Alguns desses taquizoítos iniciam uma segunda fase de desenvolvimento; ou seja, 
como bradizoítos. Os bradizoítos constituem a forma de resistência do T. gondii nos 
tecidos (do Grego brady = lento), sendo os principais sítios de infecção o miocárdio, 
cérebro e musculatura esquelética. Os bradizoítos incidem na fase crônica da infecção e 
diferem morfologicamente pouco dos taquizoítos. Na fase crônica, a multiplicação do 
parasito diminui de forma acentuada e a infecção é mantida por um longo período na 
forma latente através da formação de cistos teciduais repletos de bradizoíto. Os cistos 
teciduais apresentam parede elástica (<0,5 μm de espessura), com tamanho variando de 
5 a 70 μm de diâmetro e podem conter centenas de bradizoítos no seu interior, 
multiplicando-se lentamente por endodiogenia e pode persistir por toda a vida do 
hospedeiro. 
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6 
A última forma de estágio de T. gondii são os oocistos. Oocistos não esporulados; 
ou seja, não infectantes, possuem aspectos subesféricos a esféricos e medindo de 10 a 12 
μm de diâmetro. Enquanto, os oocistos esporulados (forma infectante) apresentam 
aspectos subesféricos a elípticos e medem 11 a 13 μm de diâmetro. Cada oocisto contém 
no seu interior dois esporocistos elípticos, medindo de 6 a 8 μm. Os oocistos são 
resistentes a vários processos de inativação, permanecendo viáveis após contato com 
agentes químicos como ácido sulfúrico 2% ou em dicromato de potássio a 2,5%. Desta 
forma, resistem mesmo em temperaturas muito baixas (-20oC) a elevadas (>37oC) por 
meses, infectando água e alimentos (DUBEY, 2014, p.15). 
Um complexo de membranas conhecido como película delimita todo o corpo do 
protozoário. É formado por uma membrana plasmática externa e, abaixo dela, duas 
membranas intimamente opostas que formam o complexo da membrana interna. Este 
complexo interno está ausente na região mais apical onde se localiza o conóide e na parte 
mais posterior da célula. Abaixo do complexo da membrana interna, há uma camada de 
microtúbulos. Vinte e dois microtúbulos que se originam no anel polar e se projetam em 
direção à região posterior da célula, atingindo cerca de dois terços do comprimento do 
corpo celular. Além disso, existe uma rede de estruturas filamentosas com diâmetro 
médio de 8 a 10 nm, muito lábeis e localizadas imediatamente abaixo do complexo da 
membrana interna. São compostos por proteínas do grupo das articulinas denominadas 
alveolinas e se estendem por toda a célula terminando em uma estrutura circular 
localizada na região posterior, conhecida como complexo basal, onde proteínas como a 
ocupação da membrana e o nexo de reconhecimento existe (MORN-1). 
Uma característica do citoesqueleto de T. gondii é o conóide que aparece como 
um cilindro oco inserido dentro do anel polar do qual emergem os 22 microtúbulos 
subpeliculares. Tem um diâmetro de 400 nm e um comprimento de 250 nm e aparece em 
dois estados. Em estado de repouso, aparece sob o anel polar. Quando ativado por um 
influxo de Ca++, ele extrude em direção à região anterior das células. Este movimento 
ocorre durante o processo de invasão da célula hospedeira. No estado de repouso, o 
conóide se posiciona imediatamente abaixo da membrana plasmática, sob o anel 
posterior, de onde emergem os microtúbulos subpeliculares. Dois microtúbulos estão 
situados dentro do conóide, e mais dois anéis apicais estão presentes em sua porção mais 
apical. O anel anterior tem diâmetro de 160 nm e o segundo mede 200 nm. Várias 
proteínas demonstraram existir nessas estruturas complexas, como as proteínas de ligação 
ao cálcio Centrina 2, TgCAM1, TgCAM2 e TgMyoH miosina. 
Taquizoítos, bradizoítos e esporozoítos são semelhantes estruturalmente, 
possuindo, porém, diferenças nas suas diversas organelas as quais desempenham papéis 
fundamentais nos processos de interação com a célula hospedeira, movimentação, adesão 
e invasão. Os três estágios infecciosos apresentam uma especialização explícita da região 
anterior onde se localiza o complexo apical. É usado para iniciar o processo de infecção 
das células hospedeiras. Este complexo é formado pelo conóide e dois conjuntos de 
organelas secretoras: os micronemas e as róptrias. 
Nesses processos estão envolvidos os antígenos de superfície (SAG), e proteínas 
presentes em organelas do complexo apical, como as proteínas de micronemas (MIC), 
proteínas de roptrias (ROP) e proteínas de grânulos densos (GRA). 
Material publicado e disponível em:https://www.passeidireto.com/arquivo/114317012/parasito 
 
7 
As SAGs são proteínas ancoradas na superfície celular do T. gondii por âncora 
glicosilfosfatidilinositol (GPI) e funcionam como ligantes que facilitam a adesão do 
parasito à célula hospedeira. SAG1 (30 kDa) é a proteína predominante na superfície de 
taquizoítos de T. gondii, sendo utilizada em vários testes de diagnósticos e em ensaios 
vacinais. As proteínas do micronema são também proteínas facilitadoras nos processos 
de adesão e invasão do T. gondii na célula hospedeira. Das inúmeras proteínas do 
micronema, a MIC3 (90kDa) é uma potente adesina presente em todos os estágios 
infecciosos de T. gondii, a qual tem sido utilizada em testes sorológicos e candidata a 
compor uma vacina contra toxoplasmose. 
As ROP, por sua vez, são organelas em forma de bastão encontradas na região 
anterior do T. gondii apresentando proteínas com atividade enzimática (proteíno-
quinases, fosfatases e proteases). Seu conteúdo está envolvido na penetração do parasito 
e na formação do vacúolo parasitóforo (forma encistada) na célula hospedeira. Por fim, 
as GRA são organelas envolvidas na maturação do vacúolo parasitóforo, caracterizadas 
por nanotubos membranosos, assim como são as principais porções de antígenos 
excretórios/secretórios de T. gondii, estando associadasà construção da rede membranosa 
intravacuolar que permite a interação do parasito com a célula hospedeira. 
Outra característica dos estágios infecciosos do T. gondii é a presença das 
organelas secretoras apicais. Os micronemas são os mais abundantes. Eles aparecem 
como estruturas semelhantes a bastonetes com 250 nm de comprimento e 50 nm de 
largura. Concentram-se em torno do anel polar abaixo do sistema de membrana e parecem 
fundir-se com a região onde existe apenas a membrana plasmática. Eles são os primeiros 
a secretar seu conteúdo proteico, essencial para o movimento do protozoário e sua 
associação com a membrana da célula hospedeira. As proteínas micronemais são 
denominadas MICs. Eles incluem proteínas com propriedades semelhantes às perforinas, 
adesinas e serina proteases (subtilisinas). Algumas das proteínas micronemais estão 
envolvidas na montagem (juntamente com proteínas rópteras) da junção móvel. A análise 
morfológica mostrou que o número de micronemas é maior nos esporozoítos, menor nos 
bradizoítos e intermediário nos taquizoítos. Sua secreção pode ser induzida por 
tratamentos que aumentam a concentração de cálcio intracelular. 
 
As róptrias compreendem o segundo grupo de organelas secretoras apicais. Eles 
são maiores que os micronemas, são em forma de clube com duas regiões bem definidas. 
A mais basal é mais larga e de aspecto esponjoso, contendo proteínas envolvidas na 
subversão das funções da célula hospedeira, conhecidas como ROPs. A porção anterior, 
ou pescoço, concentra proteínas associadas à invasão da célula hospedeira e são 
conhecidas como RONs. Apresentam pH ácido. A secreção de róptria desempenha um 
papel essencial na constituição da junção móvel para a invasão do T. gondii e formação 
da membrana do vacúolo parasitóforo (PV). 
 
O terceiro grupo de organelas secretoras são os grânulos densos. Geralmente são 
esféricos com diâmetro médio de 0,2 μm e estão distribuídos por todo o corpo do 
protozoário. Eles também contêm um grande número de proteínas secretadas na porção 
lateral e posterior do protozoário quando localizado dentro do PV. As proteínas de 
grânulos densos são conhecidas como GRAs e estão envolvidas na montagem de uma 
rede de túbulos e estruturas filamentosas com o PV. 
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8 
O núcleo do protozoário está localizado na porção média do corpo celular. É 
aproximadamente esférica, com uma discreta concavidade em sua face superior (ou seja, 
aquela voltada para o complexo apical) onde se acomoda o complexo de Golgi. Durante 
a divisão, o núcleo assume a forma de ferradura, mantendo a integridade de sua 
membrana. 
 
Acima do núcleo, o apicoplasto está localizado em posição lateral. O apicoplasto 
é alongado e delimitado por quatro membranas. É uma organela de origem 
endossimbiótica e está intimamente associada ao complexo de Golgi e ao retículo 
endoplasmático. O apicoplasto contém um DNA cromossômico extra de 35 kb e toda a 
maquinaria que permite a síntese de algumas proteínas. Desempenha papéis essenciais 
em processos bioquímicos como a síntese de ácidos graxos tipo II e a síntese de 
isoprenóides e grupos heme e é a primeira organela a se dividir durante o ciclo celular do 
protozoário. 
 
Toxoplasma gondii apresenta perfis de retículo endoplasmático rugoso e liso 
distribuídos por toda a célula. O complexo de Golgi está intimamente oposto à porção 
côncava (anterior) do núcleo, apresentando 4 a 6 lamelas. Ele se divide em uma fase 
inicial da endodiogenia, e cada complexo é incorporado em uma das novas células 
formadas. 
 
Toxoplasma gondii apresenta uma única e ramificada mitocôndria que pode 
atingir cerca de 10 µm de comprimento distribuída por toda a célula. O Toxoplasma 
gondii também contém cerca de dez acidocalcisomas, que são organelas ácidas que 
armazenam cálcio e estão envolvidas na homeostase intracelular e na osmorregulação. Os 
diâmetros dessas organelas variam de 40 a 150 nm e estão dispersos no citoplasma. 
 
Outras estruturas citoplasmáticas de T. gondii incluem corpos lipídicos, que 
parecem ser mais abundantes em esporozoítos, que raramente são vistos em taquizoítos, 
mas caracteristicamente encontrados em bradizoítos e esporozoítos. Eles aparecem como 
estruturas esféricas que contêm polissacarídeos de reserva. 
 
Morfologicamente, bradizoítos e esporozoítos diferem dos taquizoítos em vários 
aspectos, como a posição do núcleo, que é mais posterior neles; o número de micronemas, 
grânulos densos e grânulos de amilopectina, bem como o aspecto das roptrias. 
 
Ciclo do parasita 
O ciclo biológico do T. gondii é do tipo heteroxeno, ocorrendo em duas fases 
distintas. A fase sexuada é enteroepitelial e ocorre apenas no hospedeiro definitivo (HD), 
sendo o HD membros da família Felidae (DUBEY, 2014). Enquanto a fase assexuada 
acontece na face extraintestinal em tecidos do hospedeiro intermediário (HI), esses 
podem ser qualquer animal de sangue quente incluindo o homem. Os esporozoítos, 
bradizoítos ou taquizoítos, ao penetrarem no epitélio intestinal dos felídeos, sofrem um 
processo de multiplicação por endodiogenia e merogonia, dando origem a vários 
merozoítos. O rompimento da célula parasitada libera os merozoítos que penetram em 
novas células epiteliais e se transformam nas formas sexuadas, os gametócitos, que, após 
o processo de maturação, formam os gametas masculinos (microgametas) e/ou os 
gametas femininos (macrogametas). O macrogameta (imóvel) permanece dentro de uma 
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célula epitelial, enquanto os microgametas (móveis e flagelados) saem de sua célula e 
fecundam o macrogameta, formando o ovo ou zigoto. Este evolui dentro do epitélio 
formando uma parede externa dupla, dando origem ao oocistos. Os oocistos não 
esporulados são eliminados junto as fezes, portanto a esporulação ocorre no ambiente, 
em média até cinco dias após a excreção, dependente da temperatura e umidade. 
Os HI, como o homem, por exemplo, podem adquirir a infecção pela ingestão de 
oocistos esporulados presentes em alimentos e água contaminados, caixas de areia, 
ingestão de cistos contendo bradizoítos em carne crua ou mal-cozida e ingestão de 
taquizoítos em líquidos biológicos (leite, saliva e esperma). Além disso, as formas 
acidentais de contaminação por auto- inoculação, transplante de órgãos e transmissão 
congênita podem ocorrer. 
Ciclo em animais 
O processo primário de infecção de um felino é pela ingestão de presas contendo 
cistos teciduais, ou oocistos contendo esporozoítos excretados por outro felino. Após a 
ingestão, a parede dos cistos é rompida no estômago, provavelmente devido ao seu baixo 
pH e à ação de enzimas proteolíticas, liberando bradizoítos ou esporozoítos, 
respectivamente. Em qualquer uma das situações, as células epiteliais intestinais serão as 
primeiras células a serem invadidas e se transformarão em esquizontes, estágio de 
reprodução assexuada que pode ser identificada pela presença de vários núcleos. 
Durante a esquizogonia, sucessivas divisões nucleares precedem a 
individualização de cada célula. Após rodadas consecutivas de divisão nuclear, a 
formação do complexo de membrana interna para a individualização de cada merozoíto 
pode ser acompanhada em paralelo com a aparência do complexo apical, incluindo 
micronemas e roptrias, todas estruturas características de um Apicomplexa típico. Essas 
estruturas citoplasmáticas se organizam em torno de cada núcleo, dando origem às células 
filhas, chamadas merozoítos, dentro da célula hospedeira. A ruptura desses enterócitos 
libera muitos merozoítos, que também são capazes de infectar novos enterócitos e se 
dividir novamente por esquizogonia. Cada ciclo esquizogônico dá origem a vários 
merozoítos que serão liberados para invadir prontamente novos enterócitos, aumentando 
exponencialmente o número de parasitas. Cinco tipos diferentes de esquizontesde T. 
gondii foram descritos em células epiteliais intestinais felinas antes do início da 
gametogonia. 
 
Três a quinze dias após a infecção primária felina, os esquizontes e merozoítos 
são encontrados principalmente na porção do íleo do intestino, e alguns começam a se 
diferenciar em gametas. Os macrogametas são gerados a partir de um único merozoíto e 
apresentam formato oval (8 µm de comprimento e 6 µm de largura), um único núcleo, 
retículo endoplasmático, mitocôndrias, corpos lipídicos, inclusões de amilopectina e 
corpos formadores de parede tipo I (diâmetro de 0,35 µm e elétron denso) e II (largura de 
11,2 µm, menos denso e em menor número). Os microgametas são formados por uma 
divisão esquizogônica e são alongados (6 µm de comprimento e 2 µm de largura); 
apresentam cromatina nuclear condensada, dois corpos basais, respectivos flagelos 
localizados na região anterior e uma mitocôndria restrita à base dos flagelos. 
 
A fusão de um microgameta com um macrogameta produz o oocisto imaturo, que 
é liberado no lúmen intestinal do hospedeiro definitivo. O oocisto imaturo apresenta 
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10 
forma elíptica (13 µm de comprimento x 11 µm de largura) e contém em seu interior um 
único esporoblasto. Uma vez que os oocistos são liberados com as fezes do gato, o 
ambiente aerado desencadeia a maturação, ou seja, a esporulação. Após a esporulação, o 
oocisto se divide em dois esporocistos (6-8 µm cada). Uma camada fina e elétron-densa 
e uma camada interna elétron-lúcida, bem como duas membranas externas, formam a 
parede do oocisto. Após a maturação subsequente do oocisto, cada esporocisto contém 
quatro esporozoítos. Os oocistos esporulados são altamente resistentes às condições 
ambientais e permanecem viáveis na água ou em condições secas por vários meses. 
 
O ciclo de vida de T. gondii no hospedeiro intermediário 
Hospedeiros intermediários podem ser infectados por várias vias (Fig. 1). Tanto 
as paredes dos cistos teciduais quanto os oocistos são removidos por enzimas digestivas, 
liberando, respectivamente, bradizoítos ou esporozoítos que, dentro do novo hospedeiro, 
se movem por um mecanismo único de deslizamento. As proteínas micronemais são as 
primeiras a serem secretadas e são essenciais para a motilidade do protozoário por 
deslizamento e adesão inicial à superfície da célula hospedeira. A motilidade de 
deslizamento resulta de uma montagem complexa de proteínas ancoradas a um motor de 
actina miosina localizado entre a membrana plasmática e a película interna. Esse chamado 
glideossomo envolve proteínas micronemas (AMA1 e MIC2) inseridas na membrana 
plasmática do taquizoíto que reconhecem e se ligam aos receptores da membrana 
plasmática da célula hospedeira. O domínio intracelular de AM1 e MIC 2 está ligado a 
uma aldolase, que está ligada a actina filamentosa que é empurrada por um motor de 
miosina TgMYO e várias proteínas GAP (GAP40, GAP45, GAP50 e GAPM) que 
constroem uma conexão entre as três membranas do a película e a rede de alveolina. Esta 
montagem complexa empurra o taquizoíto para a frente em direção a uma nova célula 
hospedeira. 
 
A interação do T. gondii com uma célula do hospedeiro visa, em última instância, 
sua internalização. Em T. gondii, esse processo pode ocorrer em qualquer célula nucleada, 
principalmente macrófagos, células epiteliais, células musculares e neurônios. 
Inicialmente, o T. gondii se liga à superfície da célula hospedeira potencial e em sequência 
reorienta o lado apical induzindo, pela secreção de proteínas localizadas nas organelas 
apicais, ou seja, micronemas e róptrias, o processo de internalização. Para invasão, o 
taquizoíto monta uma junção móvel com a membrana plasmática da célula hospedeira. 
Essa junção móvel forma um anel ao redor do taquizoíto no ponto de entrada na célula 
hospedeira. Isso resulta na ligação da proteína micronemal AMA1 inserida na superfície 
do taquizoíto à proteína roptria RON 2 que é secretada, inserida e exposta na membrana 
da célula hospedeira. 
 
Patogenia 
A infecção se inicia no intestino delgado, onde esporozoítos ou bradizoítos 
liberados de oocistos ou cistos teciduais ingeridos podem infectar enterócitos e se replicar 
ali ou atravessar a camada epitelial e entrar na lâmina própria. Dentro da lâmina própria, 
o parasita infecta células pertencentes a várias linhagens hematopoiéticas, incluindo 
macrófagos, células dendríticas e neutrófilos. As respostas imunes inatas e adaptativas à 
infecção por T. gondii controlam efetivamente os taquizoítos de replicação rápida. 
Tipicamente, a infecção por T. gondii, resulta na indução de uma resposta imunológica 
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celular e humoral com produção de citocinas pró e antiinflamatórias responsáveis pelo 
controle da infecção. 
Receptores de reconhecimento da proteína de ligação à actina (profilina) 
denominados Toll-Like Receptors (TLR) presentes nas células dendríticas, estão 
envolvidos no mecanismo de sinalização celular (HOU et al., 2011) (Figura 13). Um 
estudo, utilizando ratos knockout MYD88 (proteína 88 de diferenciação mielóide a 
resposta imune primária) em TLR demonstraram ter uma produção defeituosa da IL-12 e 
menor liberação de IFN-γ após a infecção por T. gondii (YAROVINSKY et al., 2006), 
concluindo-se que a ativação de MYD88 por TRL em células dendríticas (CDs) conduz 
a ativação de IL-12. Contudo, a deficiência de TRL4 está envolvida com a produção de 
IL-6, INF- γ e IL-12, responsáveis por promover o aumento da carga parasitária no SNC. 
Mecanismos moleculares e de resposta imune inata, revelaram que TRLs tipo 11 
e 12 (TRL11 e TRL12), presente em animais e humanos respectivamente, estão 
envolvidos na resposta imune inata contra T. gondii através do reconhecimento da 
profilina liberada pelo parasito (YAROVINSK, 2014). A MYD88 na presença de IRF8 
induz a transcrição da IL-12 nas CDs (Figura 13). 
Assim que o T. gondii entra em contato com as células epiteliais do hospedeiro 
uma proteína (profilina) é liberada pelo parasito. A profilina é reconhecida pelos 
receptores TLR 11 e/ou TRL 12 das CDs. As CDs ativadas secretam IL-12 (A) a qual, 
estimula as células NK a apresentar para as células TCD4+ e produzir INF-γ (C) que levará 
a apoptose do parasito. As CDs infectadas apresentam o antígeno parasitário para as 
células TCD8+, que irá produzir IL-10 (D). Uma vez infectados pelos taquizoítos o INF-
γ ativa os macrófagos (B). Macrófagos ativados, podem responder estimulando as 
enzimas idoleamina ou iNOS (E) a privação do triptofano essencial ao desenvolvimento 
do parasito ou a produção de óxido nítrico (ON) levando a destruição do vacúolo 
parasitóforo (Figura 13) (YAROVINSKY (2014). 
Já a imunidade adaptativa contra T. gondii é desempenhada através da 
apresentação de antígenos de superfície pelo complexo de histocompatibilidade de classe 
II (MHC-II) de CDs e macrófagos e MHC-I de células nucleadas. As duas principais 
populações de células T ativadas por este mecanismo são os linfócitos TCD4+ e TCD8+. 
A resposta humoral adaptativa contra T. gondii é desencadeada pelas células B, as quais 
desempenham um papel importante para o controle de cistos teciduais. Além disso, essas 
células são essenciais para a geração de respostas imunes mediadas por anticorpos. 
 
Sinais e sintomas 
Mais de 80% dos adultos e crianças infectados pelo T. gondii são assintomáticos. 
No entanto, no caso de pacientes imunodeficientes, a toxoplasmose é uma doença grave 
e com risco de vida. Uma pessoa imunocompetente com toxoplasmose aguda pode 
apresentar os seguintes sintomas: linfadenopatia cervical, retroperitoneal e mesentérica, 
mal-estar, febre e mialgias, convulsões, cefaleia, déficit de nervos cranianos, déficit 
neurológico focal, desequilíbrio, encefalite, meningoencefalite. A toxoplasmose ocular 
se manifesta principalmente como perda da atividadevisual e dor ocular seguida de 
retinocoroidite. Pneumonite e miocardite também foram relatadas. Nesses casos, a 
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infecção pode ser adquirida recentemente ou pode ser uma reativação. No entanto, em 
caso de reativação da infecção, os sintomas dependem apenas do tecido ou órgão 
infectado. 
A encefalite toxoplasmática difusa também pode se desenvolver. Distúrbios 
motores ou sensoriais de membros únicos ou múltiplos podem ser resultado do 
envolvimento da medula espinhal. 
A toxoplasmose congênita pode ser subclínica ou apresentar envolvimento 
multissistêmico. As manifestações clínicas, se presentes, incluem prematuridade, 
restrição de crescimento intrauterino, icterícia, hepatoesplenomegalia, miocardite, 
pneumonite, púrpura, coriorretinite, hidrocefalia, calcificações intracranianas, 
microcefalia, convulsões, retardo mental, cegueira e epilepsia. Normalmente, os casos 
sintomáticos apresentam manifestações oculares ou neurológicas. 
 
 
 
Diagnóstico 
Os métodos imunológicos foram e continuam sendo os método diagnóstico 
preferido e mais comum para o diagnóstico da toxoplasmose em laboratórios clínicos no 
século passado. Esses métodos são baseados no reconhecimento de antígenos de 
superfície de T. gondii por imunoglobulinas específicas de T. gondii do hospedeiro. 
Diferentes métodos imunológicos geralmente medem diferentes anticorpos (IgA, IgM, 
IgG e IgE) que possuem padrões únicos de aumento e diminuição com o tempo após a 
infecção. 
 
Durante os últimos anos, muitos métodos de testes imunológicos, incluindo teste 
de corante Sabin Feldman (SFDT), teste de anticorpos fluorescentes indiretos (IFAT), 
teste de aglutinação em látex (LAT), teste de hemaglutinação indireta (IHA), ensaios 
imunoenzimáticos (ELISA) , teste de aglutinação modificado (MAT), Western blotting 
(WB) e teste de avidez de IgG foram usados para detecção de infecção por T. gondii em 
diferentes pacientes. 
Embora nas últimas duas décadas, outros métodos imunológicos, incluindo 
ensaios de quimioluminescência (CLIA), ensaio de fluorescência ligada a enzima 
(ELFA), teste imunocromatográfico (ICT), teste de avidez de IgG sérica e ensaios de 
aglutinação imunossorvente (ISAGA) tenham sido desenvolvidos para melhorar a 
capacidade de diagnóstico de infecção por T. gondii. CLIA e ELFA são variações 
totalmente automatizadas do ELISA padrão que têm várias vantagens, incluindo 
reprodutibilidade, custo-benefício e medição rápida e precisa dos níveis de anticorpos 
IgG e IgM. Além disso, o CLIA é útil na medição do índice de avidez de IgG, mesmo em 
níveis baixos de anticorpos IgG específicos de Toxoplasma. A TIC é um método 
adequado para aplicação em campo, pois possui baixo custo, procedimento simples e não 
requer técnicos especializados. Na TIC, uma membrana de celulose é usada como 
transportador e um antígeno ou anticorpo marcado com ouro coloidal é usado como 
marcador. Recentemente, Wang et al. desenvolveram uma tira de ICT rápida para 
detecção de antígenos excretores/secretores (ESA) na infecção aguda de T. gondii tão 
cedo quanto 2-4 dias após a infecção. No ISAGA, os anticorpos anti-IgM humanos são 
usados para o diagnóstico de toxoplasmose aguda ou congênita. A desvantagem deste 
método é a necessidade de um grande número de taquizoítos de T. gondii. No entanto, 
esse problema foi resolvido substituindo os taquizoítos de T. gondii por esferas de látex 
revestidas com antígenos solúveis. 
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13 
Uma abordagem recentemente desenvolvida para melhorar o diagnóstico da 
infecção por T. gondii e também discriminar entre as diferentes fases da infecção é usar 
antígenos recombinantes no lugar do TLA. Estudos recentes utilizando o método de 
antígenos recombinantes ou quiméricos e peptídeos multiepítopos demonstraram 
resultados bastante promissores para o desenvolvimento de novas estratégias capazes de 
discriminar infecções recentemente adquiridas de infecções crônicas. Esses antígenos 
incluem antígenos de superfície SAG1 (P30), SAG2 (P22), SAG3 (P43) e P35; antígenos 
de grânulos densos GRA1 (P24), GRA2 (P28), GRA4, GRA5, GRA6 (P32) e GRA7 
(P29); antígenos de micronema MIC2, MIC3, MIC4 e MIC5; antígenos de matriz MAG1; 
e antígenos de róptria ROP1 (P66) e ROP2 (P54). A vantagem proeminente desses 
antígenos recombinantes é a identificação de anticorpos específicos das fases aguda ou 
crônica e a discriminação entre esses dois estágios da infecção por T. gondii usando uma 
única amostra de soro. Está demonstrado que a combinação de antígenos recombinantes 
complementares melhora significativamente a sensibilidade e especificidade dos testes 
quando comparados com um único antígeno. 
Outros antígenos recombinantes combinados e suas características diagnósticas 
são revisados em artigos de revisão publicados recentemente. Além disso, em 2014, 
Drapała et al. avaliaram a utilidade de duas misturas de antígenos recombinantes (rROP1 
+ rSAG2 e rROP1 + rGRA6) no teste de avidez de IgG. Seus resultados mostraram que 
essas duas misturas têm alta sensibilidade (100 e 95,4%, respectivamente) para detecção 
de toxoplasmose aguda, sugerindo que novo teste de avidez de IgG. 
Um número crescente de estudos recentemente realizados tem demonstrado as 
potenciais vantagens dos antígenos peptídicos quiméricos ou sintéticos para o diagnóstico 
sorológico da infecção por T. gondii, como padronização simples, alta sensibilidade, 
baixa contaminação com proteínas dos organismos, redução dos custos de produção, e 
aumentando a probabilidade de discriminar diferentes estágios da toxoplasmose. Estes 
antigénios peptídicos quiméricos e/ou sintéticos incluem vários epítopos imunorreactivos 
de diferentes antigénios de T. gondii que foram devidamente seleccionados. Esses 
epítopos imunorreativos são hidrofóbicos e geralmente estão bem expostos na superfície 
do antígeno. Durante os últimos anos, uma variedade de ferramentas inovadoras, 
incluindo análise de microarranjos de peptídeos por métodos bioinformáticos, 
mapeamento de epítopos, exibição de fagos de bibliotecas de cDNA e reatividade com 
anticorpos monoclonais, foram desenvolvidos para a previsão de epítopos específicos e 
sua localização em antígenos de T. gondii. 
Apesar das melhorias significativas nos métodos sorológicos, ainda existem 
limitações insolúveis, como a incapacidade desses métodos de confirmar a presença do 
parasita no feto e no cérebro em transmissão congênita e/ou pacientes 
imunocomprometidos. O desenvolvimento dos métodos moleculares durante as últimas 
três décadas induziu uma grande revolução no diagnóstico de doenças infecciosas em 
geral. Para superar as limitações dos testes sorológicos, diferentes métodos moleculares, 
incluindo PCR, nested PCR, PCR em tempo real e também técnicas de amplificação 
isotérmica mediada por loop (LAMP) foram desenvolvidos para detectar DNA de T. 
gondii em amostras biológicas. 
Nos métodos baseados em PCR, um fragmento específico do genoma pode ser 
amplificado resultando em muitos milhões de cópias da molécula de DNA alvo. A 
primeira técnica de PCR para detecção de T. gondii foi estabelecida por Burg e colegas 
em que o gene B1 de 35 repetições do genoma de T. gondii foi amplificado [74]. Após 
isso, vários genes de direcionamento de múltiplas cópias, incluindo 18S rRNA-, P30-, 
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B1-genes, fragmento de repetição de 529-bp ou o elemento AF146527 foram usados para 
a detecção de T. gondii em diferentes amostras biológicas. 
Foi relatado que a PCR com o gene RE de 529 pb é 10 a 100 vezes mais sensível 
que o gene B1. Para diagnosticar toxoplasmose congênita e ocular, a PCR tem sido 
utilizada com sucesso com líquido amniótico, tecidos placentário e cerebral, humor 
aquoso e líquido vítreo. Além disso, sangue total, urina,líquido cefalorraquidiano (LCR), 
lavado broncoalveolar, líquidos pleural e peritoneal têm sido usados efetivamente para 
diagnosticar toxoplasmose em pacientes imunocomprometidos. 
 
Nested PCR é usado para aumentar a especificidade da amplificação de DNA, 
bem como para detectar os patógenos que ocorrem com muito poucas quantidades. Em 
um estudo relatado por Alonso et al., a nested PCR mostrou-se um método molecular 
rápido, sensível e eficaz na detecção precoce da toxoplasmose em pacientes com HIV 
[80]. Em outro estudo, foi demonstrado que a nested PCR tem alta sensibilidade para 
detecção de oocistos de T. gondii em rios, poços e águas do mar. 
Multiplex PCR é outro tipo de métodos de PCR para detectar vários patógenos 
usando vários conjuntos de primers que cada um tem como alvo um patógeno específico. 
Este método permite a análise simultânea de vários alvos em uma única amostra. 
Nowakowska et al. utilizaram as amostras de líquido amniótico e cefalorraquidiano de 
casos de toxoplasmose congênita para determinar o genótipo do parasito por nested 
multiplex PCR. Eles relataram uma sensibilidade de > 25 parasitas/ml em amostras de 
líquido cefalorraquidiano e amniótico por PCR multiplex-nested. Rahumatullah et ai. 
desenvolveram um ensaio de PCR triplex visando o gene B1, região de 529 repetições e 
região ITS1 de T. gondii. De acordo com seu relatório, este ensaio foi capaz de detectar 
apenas 10 pg de DNA de T. gondii, 104 taquizoítos em fluidos corporais enriquecidos e 
DNA de T. gondii nos tecidos de órgãos de camundongos experimentalmente infectados. 
Os métodos baseados em RT-PCR são ensaios desenvolvidos recentemente que 
possibilitam a quantificação da carga parasitária e têm um alto grau de precisão 
diagnóstica específica do complexo para o diagnóstico de patógenos em amostras 
clínicas. O RT-PCR é o ensaio molecular mais sensível para a detecção de patógenos, 
especialmente quando o DNA alvo está em baixas concentrações. Além disso, esses 
ensaios são mais rápidos, sensíveis e reprodutíveis do que a PCR convencional e são úteis 
em investigações como a cinética de infecções e monitoramento da resposta terapêutica 
[89]. As principais vantagens da RT-PCR sobre a PCR convencional incluem a não 
necessidade de abrir os tubos de reação e, portanto, minimizar o risco de contaminação 
ambiental dos amplicons, redução de resultados falsos positivos, medição de produtos de 
amplificação durante cada ciclo usando sondas ou corantes intercalados e fornecendo 
diagnóstico precioso como escolha de tratamentos específicos para pacientes que abrigam 
vários patógenos. 
 
Na última década, vários estudos aplicaram RT-PCR para diagnóstico de 
toxoplasmose em várias amostras biológicas, ambientais e alimentares. A maioria desses 
estudos relatou que RT-PCR é um método mais sensível em comparação com outros 
métodos moleculares e biológicos. Bottari et al., demonstrou que o RT-PCR usando o 
alvo de 529 pb foi melhor que o gene B1 para o diagnóstico de toxoplasmose congênita 
em ambos os períodos pré-natal (81,3 versus 64,6%) e nascimento (36,0 versus 20,0%). 
Amplificação isotérmica mediada por loop (LAMP) é um método de PCR 
modificado em uma etapa, com alta sensibilidade, especificidade, eficiência e rapidez. 
Este método amplifica o DNA sob condições isotérmicas (60-65°C) usando uma DNA 
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polimerase (Bst) com atividade de assentamento de fita e 4-6 primers específicos, que são 
capazes de reconhecer um total de 6-8 regiões distintas dentro do DNA alvo. As 
vantagens técnicas de usar LAMP em vez de PCR e RT-PCR convencionais incluem a 
não necessidade de equipamentos altamente sofisticados, não é caro e demorado, não há 
necessidade de extração de DNA e é mais tolerante a inibidores de PCR, como sangue, 
soro e ingredientes alimentares 
 
Por fim, a tomografia computadorizada, a ressonância magnética, a imagem 
nuclear e a ultrassonografia podem ser úteis, embora seus resultados possam não ser 
específicos isoladamente. As técnicas de imagem são úteis para o diagnóstico de 
toxoplasmose cerebral e ocular. Na toxoplasmose cerebral (encefalite), uma variedade de 
técnicas de imagem, como tomografia computadorizada (TC), ressonância magnética 
(RM), imagem nuclear e ultrassonografia (US), podem ser úteis, embora seus resultados 
possam não ser específicos. 
 
Uma tomografia computadorizada do cérebro é frequentemente usada como um 
teste de triagem inicial e pode mostrar lesões nodulares únicas ou múltiplas. A 
administração de material de contraste intravenoso (IV) com qualquer modalidade 
melhora o rendimento e a precisão do diagnóstico [118]. Em estudos de tomografia 
computadorizada, lesões arredondadas isodensas ou hipodensas com parede fina e lisa 
foram observadas após a administração intravenosa de meio de contraste e lesões 
calcificadas com parede espessa ou dot-like foram observadas após tratamento médico. 
Na toxoplasmose do SNC, aproximadamente 75% das lesões são múltiplas e os gânglios 
da base são o local mais proeminente para induzir nódulos. Na toxoplasmose congênita, 
as tomografias computadorizadas podem demonstrar hidrocefalia difusa e calcificações 
cerebrais associadas a calcificações múltiplas, irregulares, nodulares, semelhantes a cistos 
nas áreas periventriculares e no plexo coroide. 
A ressonância magnética é mais adequada para a determinação da extensão do 
dano e melhorou a capacidade de distinguir entre diferentes lesões do SNC. Brightbill et 
ai. relataram que a hiperintensidade ponderada em T2 pode estar patologicamente 
relacionada à encefalite necrosante, enquanto a isointensidade ponderada em T2 está 
associada a abscessos em organização. de imagem nuclear, como tomografia por emissão 
de pósitrons com fluorodesoxiglicose (FDG-PET), cloreto de tálus (201Tl) e tecnécio-99 
m (99mTc) sestamibi (MIBI) mostraram características promissoras para distinguir a 
toxoplasmose do SNC do linfoma do SNC em pacientes HIV-positivos, embora sejam 
necessárias mais investigações prospectivas para confirmar a capacidade dessas 
ferramentas de imagem. 
A US pré-natal pode ser útil para detectar anormalidades cerebrais devido à 
toxoplasmose congênita [126]. Em uma revisão abrangente [122], Khan afirma que “os 
achados ultrassonográficos na toxoplasmose congênita incluíram ventriculomegalia 
simétrica, densidades periventriculares e hepáticas/esplênicas intracranianas, destruição 
focal do tecido cerebral relacionada ao aumento da cisterna ou ventrículo vizinho, 
calcificação ocular, microftalmia , bandas metafisárias, irregularidade da borda 
metafisária da placa de crescimento, ascite fetal e aumento da espessura placentária”. A 
US pós-natal pode ser usada para monitorar o tamanho ventricular em bebês de até 18 
meses de idade. Em pacientes adultos, a US abdominal pode revelar 
hepatoesplenomegalia e linfadenopatia abdominal por toxoplasmose. 
A toxoplasmose ocular pode ser diagnosticada por achados clínicos como 
acuidade visual, pressão intraocular, biomicroscopia e oftalmoscopia indireta [129]. 
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Embora técnicas de imagem como autofluorescência de fundo de olho (FAF), 
oftalmoscopia confocal de varredura a laser (CSLO), tomografia óptica coerente (OCT), 
angiografia fluorescente (AF), ultrassonografia e angiografia com verde de indocianina 
(ICG) possam ser úteis para seu diagnóstico e tratamento de complicações que incluem 
edema macular, descolamentos de retina, neovascularização da retina, oclusão vascular, 
atrofia do nervo óptico, lesões vitreorretinianas, glaucoma e catarata. 
 
Tratamento 
O tratamento da toxoplasmose normalmente inclui combinações de dois 
antimicrobianos, na maioria das vezes inibidores da diidrofolato redutase (DHFR) 
(pirimetamina e trimetoprima) e diidropteroato sintetase (sulfonamidas, como 
sulfadiazina, sulfametoxazol e sulfadoxina),que bloqueiam a síntese de ácido fólico. A 
pirimetamina, um inibidor chave de DHFR, parece ser o fármaco mais eficaz contra o T. 
gondii e é a base para regimes eficazes. Estes incluem pirimetamina-sulfadiazina (pir-
sulf), o padrão-ouro contra o qual outros regimes são medidos, e pirimetamina combinada 
com clindamicina, atovaquona, claritromicina ou azitromicina. Outros regimes incluem 
trimetoprima, outro inibidor de DHFR, em combinação com sulfametoxazol (TMP-SMX; 
também conhecido como cotrimoxazol) e atovaquona isoladamente ou em combinação 
com sulfadiazina. Infelizmente, todas as drogas utilizadas na prática clínica são apenas 
ativas contra o estágio de taquizoítos do parasita e não demonstram atividade contra cistos 
contendo bradizoítos, o estágio latente do parasita. Curiosamente, a resistência às drogas 
atualmente utilizadas não foi descrita como um problema clínico. 
Como a espiramicina não é tóxica e não atravessa a placenta, ainda é usada 
profilaticamente em gestantes para prevenir a transmissão materno-fetal do parasita. Este 
quimioterápico atua inibindo a síntese proteica do parasito e é ainda, capaz de atravessar 
a barreira transplacentária atuando na redução da transmissão materno-fetal. 
Similarmente como a maioria das drogas anti-T. gondii, a espiramicina atua somente nas 
formas taquizoíto do parasito e apesar de reduzir a frequência da transmissão, esse 
quimioterápico não altera a patologia da infecção fetal. 
Assim, as drogas que atuam contra esse estágio terão que direcionar processos 
metabólicos essenciais que ocorrem dentro desse estado semi-adormecido ou bloquear a 
emergência e reinvasão de bradizoítos, que dão origem a ondas sequenciais de cistos 
teciduais. Vários candidatos pré-clínicos promissores foram identificados em estudos 
recentes. Compostos de quinolonas, que atuam no complexo mitocondrial bc1, reduzem 
a carga de cistos em camundongos cronicamente infectados. O principal desafio com este 
andaime químico é a baixa solubilidade, que recentemente foi parcialmente abordada 
usando pró-drogas esterificadas ou derivados de tetrahidroquinolona. O medicamento 
guanabenz aprovado pela FDA também reduz a carga de cistos teciduais em 
camundongos cronicamente infectados. Estudos recentes com inibidores da proteína 
quinase 1 dependente de cálcio (CDPK1) mostram-se promissores não apenas para 
reduzir a carga de cistos, mas eliminar completamente a infecção crônica em um modelo 
de camundongo imunocomprometido, embora com eficácia modesta. Apesar das 
limitações atuais, existe a promessa de que uma dessas abordagens possa levar a uma 
terapia para curar infecções crônicas em humanos. 
 
Considerações finais 
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Avanços marcantes no controle de diversas doenças infecciosas causadas por 
protozoários parasitas ocorreram nas últimas décadas, principalmente aqueles que passam 
parte de seu ciclo de vida dentro das células hospedeiras. Apesar disso, o controle 
epidemiológico e o desenvolvimento de novos quimioterápicos com baixa toxicidade e 
alta especificidade continuam a constituir grandes desafios. Algumas dessas doenças são 
restritas a áreas específicas do mundo, como é o caso da doença de Chagas. Outras, como 
a toxoplasmose, estão amplamente distribuídas pelo mundo. De fato, T. gondii, um 
membro do filo Apicomplexa, desenvolveu a capacidade de infectar quase qualquer tipo 
de célula de mamíferos e aves. Nos EUA, estimou-se que 11% da população com seis 
anos de idade ou mais já foi infectada pelo T. gondii. Em vários países do mundo, foi 
demonstrado que mais de 60% das pessoas foram infectadas com T. gondii. Em algumas 
áreas geográficas (por exemplo, Brasil), até 60% da população é soropositiva para 
antígenos de T. gondii. As condições ambientais e os hábitos alimentares podem afetar as 
taxas de infecção. Por exemplo, a ingestão de carne crua ou mal cozida está associada à 
transmissão de T. gondii, e carne de porco e ovelha são mais propensas a conter cistos 
teciduais do que bovinos. A contaminação por oocistos excretados com fezes de gato não 
envolve necessariamente o contato com o próprio gato. Gatos de estimação estão menos 
sujeitos a se contaminar (e produzir oocistos) do que gatos que vivem na rua ou em áreas 
rurais. O gênero Toxoplasma contém apenas uma espécie, T. gondii, que pode ser 
agrupada em genótipos (tipos I, II e III, XII e os haplótipos X e A). Alguns são restritos 
a animais selvagens. 
 
Referências 
 
Dubey, J. P. Toxoplasmosis of animals and humans (CRC, 2010). 
 
Attias, M., Teixeira, D.E., Benchimol, M. et al. The life-cycle of Toxoplasma 
gondiireviewed using animations. Parasites Vectors 13, 588 (2020). 
https://doi.org/10.1186/s13071-020-04445-z 
 
Rostami, A., Karanis, P. & Fallahi, S. Advances in serological, imaging techniques and 
molecular diagnosis of Toxoplasma gondii infection. Infection 46, 303–315 (2018). 
https://doi.org/10.1007/s15010-017-1111-3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Material publicado e disponível em:https://www.passeidireto.com/arquivo/114317012/parasito 
 
18 
 
DOENÇA DE CHAGAS 
Introdução 
 
Os triatomíneos são insetos pertencentes a família Triatominae com uma ampla 
diversidade intraespecífica contando 157 espécies e 2 subespécies, distribuídas em 18 
gêneros, sendo o triatomíneo mais conhecido o barbeiro, vetor de transmissão da Doença 
de Chagas. A doença de Chagas (DC), ou tripanossomíase americana, é uma doença 
tropical negligenciada encontrada principalmente em 21 países da América Latina, onde 
é principalmente transmitida por vetores, mais especificamente por membros da 
subfamília Triatominae (Hemiptera, Reduviidae). Os triatomíneos ou barbeiros são 
insetos hematófagos que têm o hábito de defecar durante ou após o repasto sanguíneo – 
se infectados com T. cruzi, liberam o parasita nas fezes/urina. Estima-se que 8 milhões 
de pessoas estejam infectadas em todo o mundo, e mais de 65 milhões de pessoas em 
risco de adquirir a doença, que causa mais de 12.000 mortes por ano, sendo o controle 
vetorial o método mais útil para prevenir novas infecções. 
A infecção tem duas fases sucessivas. A fase aguda é caracterizada por alta 
parasitemia, geralmente assintomática ou oligossintomática com febre, anorexia e 
taquicardia. Essas manifestações desaparecem espontaneamente em 90% dos casos, e 
possivelmente 60-70% dos indivíduos infectados nunca desenvolverão sinais ou sintomas 
relacionados à DC, caracterizando a forma indeterminada. Os demais pacientes podem 
evoluir para a fase crônica com queixas clínicas neurológicas, cardíacas, digestivas 
(megacólon ou megaesôfago) ou cardiodigestivas. A cardiomiopatia chagásica crônica 
(CCC) é a manifestação mais grave da doença, acometendo um terço dos indivíduos com 
sorologia positiva.A limitação das estratégias terapêuticas tem sido um dos maiores 
desafios no combate à DC. Nifurtimox e benzonidazol, desenvolvidos na década de 1970, 
ainda são as únicas opções comerciais com eficácia estabelecida na DC. No entanto, a 
eficácia dessas drogas tem eficácia comprovada apenas durante a infecção precoce e os 
benefícios na fase crônica são questionáveis. Consequentemente, há uma necessidade 
crescente de novas alternativas farmacológicas, seja pela otimização de medicamentos 
existentes ou pela formulação de novos compostos. 
 
 
Histórico 
Em 1909 foi descoberta a doença de Chagas pelo médico e cientista brasileiro 
Carlos Ribeiro Justiniano das Chagas, o então pesquisador assistente do instituto Oswaldo 
Cruz, nesse mesmo ano se mudou para a cidade de Lassance, interior de Minas Gerais em 
busca do combate à malária. Foi então nessa pesquisa que ele acabou encontrando um 
flagelado de mico o qual denominou Trypanosoma minasense e indo a fundo nessa 
pesquisa encontrou um Trypanosoma diferente do anterior só que dessa vez em barbeiros 
e denominou esse protozoário de Trypanosoma cruzi em homenagem a Oswaldo Cruz, e 
desta forma descobriuuma nova doença humana, a chamada doença de Chagas. 
O CD recebeu esse nome em homenagem ao seu descobridor, Carlos Ribeiro 
Justiniano Chagas, que nasceu em uma fazenda de café em Oliveira, Minas Gerais, no 
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Brasil, em 9 de julho de 1878. Chagas formou-se em Medicina em 1903 e foi convidado 
por Oswaldo Cruz para trabalhar como médico no Ministério da Saúde Pública e Higiene 
do Brasil, onde aplicou pela primeira vez o controle vetorial intradomiciliar contra a 
malária. Devido ao sucesso em seu trabalho, Chagas tornou-se membro da Academia 
Nacional de Medicina do Brasil e recebeu diversos prêmios e títulos de instituições de 
Paris, Bélgica, Lima e Estados Unidos, incluindo Doutor Honoris Causa da Universidade 
de Harvard. Além de Chagas ter sido indicado duas vezes ao Prêmio Nobel de Medicina 
e Fisiologia (1913 e 1921), mas por motivos pouco claros, nunca foi premiado. Algumas 
evidências apontam para uma oposição política a Chagas no Brasil, devido ao caráter 
socioeconômico da doença. Além disso, pesquisadores da Europa não aceitaram essa 
descoberta incomum, e a doença de Chagas ainda não era completamente compreendida 
em 1912. Em 1921, embora Chagas tivesse estabelecido as principais características da 
nova doença e publicado em um periódico relevante da época, surpreendentemente não 
havia nenhum relatório escrito sobre a avaliação de Chagas no Comitê Nobel do Instituto 
Karolinska, e nenhum cientista recebeu o prêmio naquele ano. Dirigiu o Instituto Oswaldo 
Cruz por 17 anos (de 1917 até sua morte em 1934) e coordenou uma campanha contra a 
epidemia de gripe espanhola no Brasil (1918). 
 
Em 14 de fevereiro de 1909, Chagas consultou um paciente que seria o primeiro 
caso de DC descrito na literatura: uma criança de 2 anos, Berenice, que apresentava febre 
alta, hepatoesplenomegalia, edema de face e presença de parasita no sangue. Berenice 
permaneceu assintomática ao longo de sua vida e morreu aos 73 anos por outras causas. 
A partir daí, intensificou-se a investigação da DC na América Latina, com os 
primeiros relatos da doença em 1913 em El Salvador; em 1919 no Peru (19) e na 
Venezuela; em 1922 na Costa Rica; em 1924 no Paraguai; em 1933 na Guatemala; em 
1937 no Chile; em 1938 no México; em 1942 na Bolívia; em 1947 na Colômbia; em 1949 
na Nicarágua e na Argentina; e 1960 em Honduras. Mais recentemente, o DNA do T. 
cruzi foi encontrado em múmias do Chile/Peru e do Brasil, datando de 7.050 anos a.C. e 
2.500–5.000 anos a.C., respectivamente, demonstrando que a doença existe na América 
Latina há mais de 9.000 anos. Apesar de datar do período pré-colombiano, a DC não foi 
mencionada antes de 1909, o que torna as descobertas de Carlos Chagas uma conquista 
única na história da parasitologia e da medicina. Só ele descreveu as características mais 
importantes de uma nova doença tropical: o vetor, o patógeno e seus diferentes estágios 
de desenvolvimento, os hospedeiros, bem como suas manifestações clínicas, 
epidemiologia e até a profilaxia da doença. 
As linhagens ancestrais de Trypanosoma cruzi provavelmente foram introduzidas 
na América do Sul por meio de morcegos cerca de 7 a 10 milhões de anos atrás. A 
evidência mais antiga de infecção por T. cruzi veio da detecção de DNA do parasita em 
uma múmia Chinchorro de 9.000 anos da área costeira do Deserto do Atacama. Foi 
levantada a hipótese de que os Chinchorros que costumavam ter um estilo de vida nômade 
participam do ciclo silvestre do T. cruzi. Gradualmente, após sua colonização, surgiu um 
ciclo doméstico de transmissão do T. cruzi , facilitado pela capacidade dos vetores de se 
adaptarem facilmente a vegetação mais aberta. Além disso, achados históricos sugerem 
que muitas culturas pré-hispânicas estavam em contato próximo com insetos vetores 
triatomíneos em suas residências antes da chegada dos conquistadores europeus à 
América do Sul, América Central e México. Desde o início do século XVI, há evidências 
de que a DC estava presente na América Latina, afetando tanto os indígenas quanto os 
viajantes europeus. Alguns séculos depois, em 1908, durante uma campanha contra a 
malária em apoio à construção de uma ferrovia no estado de Minas Gerais (Brasil), um 
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engenheiro ferroviário alertou Carlos Chagas sobre grandes insetos hematófagos que 
viviam nas residências locais e mordeu as pessoas adormecidas preferencialmente no 
rosto. Em seguida, Chagas os dissecou e encontrou numerosos tripanossomas em seu 
intestino posterior . Naquela época, os ciclos de transmissão do T. cruzi eram restritos ao 
ambiente silvestre, sendo inicialmente um fenômeno enzoótico, mas devido ao êxodo 
rural, desmatamento e urbanização, a DC tornou-se uma antropozoonose. 
 
Após sua descoberta, a DC permaneceu por muitas décadas como uma doença 
exclusivamente rural associada a aspectos sociais da pobreza em áreas da América Latina 
(40). De fato, a DC sempre esteve associada a regiões com graves deformações políticas, 
instabilidade econômica, analfabetismo e cabanas miseráveis (82). A área endêmica 
clássica da DC abrange desde a região sul dos EUA até o norte da Argentina e Chile, 
compreendendo 21 países (Argentina, Belize, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa 
Rica, Equador, El Salvador, Guiana Francesa, Guatemala , Guiana, Honduras, México, 
Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela) (40). Nesta área, 
cerca de 6 milhões de pessoas são afetadas, ocorrendo aproximadamente 28.000 novos 
casos de DC e 12.000 óbitos por ano (4). A Organização Pan-Americana da Saúde 
(OPAS) estima que 65 milhões de pessoas vivem em áreas de exposição. 
A assunção do controle vetorial como o método mais eficaz para prevenir a 
transmissão do T. cruzi em áreas endêmicas motivou, em 1991, o estabelecimento da 
“Iniciativa Cone Sul”. Esta iniciativa foi um programa multinacional nos países do Cone 
Sul (Argentina, Brasil, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai) que visava a 
eliminação do Triatoma infestans. Nos anos seguintes, programas semelhantes também 
foram criados em áreas endêmicas como a “Iniciativa dos Países Andinos” (1997), 
“Iniciativa da América Central e México” (1998) e “Iniciativa dos Países Amazônicos” 
(2004). Como consequência desses programas, observou-se uma diminuição acentuada 
no número de casos transmitidos pelo vetor, o que também contribuiu indiretamente para 
a redução das infecções por hemotransfusão e via materno-fetal. 
No entanto, devido ao desequilíbrio causado por alterações ambientais e de 
biodiversidade associadas à presença de atividades humanas próximas ao ciclo silvestre 
do T. cruzi, a transmissão oral tem surgido em áreas altamente endêmicas como a Bacia 
Amazônica e também em regiões onde os triatomíneos domésticos e o controle 
peridoméstico tem sido eficaz. Dois surtos de origem alimentar ocorreram no Brasil, um 
em 2005 no estado de Santa Catarina (área com controle de vetores), quando 24 pessoas 
foram infectadas após ingerirem caldo de cana contaminado com T. cruzi; e outro em 
2006, no estado do Pará (área de alta endemicidade), com 178 casos de doença aguda 
após ingestão de açaí contaminado. 
 
Epidemiologia 
 
A doença de Chagas (DC) é uma antropozoonose causada pelo protozoário 
parasita Trypanosoma cruzi, que afeta cerca de 6 a 8 milhões de pessoas em todo o mundo 
e causa aproximadamente 50.000 mortes por ano. Outros 65–100 milhões de pessoas 
vivem em áreas de risco de infecção em todo o mundo. Embora mais de um século tenha 
se passado desde sua descoberta, a DC continua sendo um dos principais problemas de 
saúde pública para a maioria dos países da América Latina. Nas últimas décadas, a DC 
também tem sido uma preocupação para locais não endêmicos como Canadá, EUA, 
Europa, Austrália e Japão devido à constante migração de indivíduos de áreas endêmicas 
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A Doença de Chagas é uma infecção tropical de grande importância no mundo, 
com alto impacto social e econômico, principalmente nas áreas endêmicas. Estima-se 
que são gastos US$ 627,5 milhões por ano em custos de saúde. De acordo com 
estimativas da Organização Mundial da Saúde, o número de pessoas infectadas em escala 
global ascende de 7 para 8 milhões. No Brasil, a doença de Chagas continua sendo até 
hoje um grande problema atingindo cerca de 3 milhões de indivíduos em suas diversas 
classes sociais. 
 
A forma indeterminada da doença é encontrada em 60 a 70% dos pacientes com 
Doença de Chagas. Destes, de 20 a 30% evoluem para a cardiomiopatia chagásica crônica 
mais frequente entre os pacientes com sinais clínicos e a maior causa de mortalidade, 
responsável por 10% das mortes em adultos nas regiões endêmicas. Dos pacientes 
chagásicos, de 5 a 10% desenvolvem síndromes digestivas, sendo no Brasil a prevalência 
variando de 2 a 8,8%. Nos pacientes imunodeprimidos, em especial aqueles HIV+, de 25 
a 44% apresentam algum tipo de comprometimento cardíaco e em 75 a 80% reporta-se o 
acometimento do sistema nervoso central. A infecção congênita pode ocorrer em 71% 
dos recém-nascidos de mães em fase aguda. 
No Brasil, 1,09% das bolsas de sangue são descartadas devido à sorologia positiva 
para T. cruzi. 
 
Classificação taxonômica 
 Os triatomíneos estão taxonomicamente classificados no Reino Animalia, Filo 
Arthropoda, Classe Insecta, Ordem Hemíptera, Família Reduvinidae, subfamília 
Triatominae (Jadel 1909). Destas incluem 6 tribos distribuídas em 18 gêneros. As 
relações taxonômicas do grupo ainda não estão totalmente resolvidas, alguns estudos 
demonstram que o clado é monofilético, outros, polifilético; ou ainda parafilético. 
 Por sua vez, o agente etiológico da doença de Chagas, o parasito flagelado 
pertence ao Reino Protista, Filo Apicomplexa, Classe Kinetoplasma, Ordem 
Trypanosomatida, Família Tryponomatidae, Gênero Trypanossoma, espécie T. cruzi. O 
T. cruzi é politípico, com duas subespécies reconhecidas: Trypanosoma cruzi cruzi, 
agente da doença de Chagas, e o Trypanosoma cruzi marinkellei, encontrado apenas em 
morcegos no Continente americano. 
 
Aspectos morfológicos 
 
Em uma revisão recente da literatura Vinicius Paiva e colaboradores (2022), 
reuniram e publicaram no periódico internacional “The lancet” evidências que apoiam a 
ideia de que os triatomíneos evoluíram e que há pequenas alterações morfológicas entre 
populações de uma mesma espécie. Atualmente, em vários países das Américas, várias 
espécies de vetores são encontradas naturalmente infectadas com T. cruzi. 
Os triatomíneos são vulgarmente chamados de barbeiros devido ao fato de 
geralmente picarem a face. Outros nomes populares incluem: chupões, bicudos, procotós, 
vum-vum, chupança. Em geral, têm tamanho entre 2 e 3 cm, mas podem variar de 0,5 a 
4,5 cm de comprimento. Os barbeiros têm desenvolvimento hemimetabólico, isto é, as 
formas jovens são parecidas às adultas. Em geral são insetos lentos, pouco agressivos e 
de pouca mobilidade espacial. Podem viver tanto em ambiente silvestre como em 
domicílios e áreas circundantes (pe- ridomicílios), alguns sendo exclusivamente silvestres 
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A cabeça dos barbeiros geralmente é longa, os olhos são bem desenvolvidos e um 
par de ocelos está presente. Na cabeça ainda se insere um par de antenas, com função 
sensorial (olfato e audição), constituídas por quatro artículos. 
Na base da antena há uma peça chamada tubérculo antenífero, que é de grande 
importância na diferenciação dos três gêneros de maior importância para o homem, por 
incluírem espécies associa- das a domicílios (Panstrongylus (antenas encontram-se 
inseridas junto à margem anterior dos olhos), Rhodnius(antenas apresentam-se no ápice 
da cabeça) e Triatoma (antenas inserem-se aproximadamente na metade da distância entre 
o ápice da cabeça e a margem anterior dos olhos). 
Outras estruturas na cabeça podem apresentar forma, tamanho e coloração 
diferentes, constituindo-se de importância na identificação das espécies através das 
chaves pictóricas. A coloração geral do corpo é negra ou marrom com manchas amarela-
das, alaranjadas, amarronzadas ou avermelhadas. 
O tórax é composto por três segmentos: protórax, mesotórax e metatórax. A parte 
dorsal de cada segmento é chamada de noto; assim, no primeiro segmento existe o 
pronoto, muito importante na identificação. Na porção dorsal do tórax é possível observar 
uma estrutura triangular, denominada escutelo, que se alonga por sobre os primeiros 
segmentos abdominais. 
Cada par de pernas se insere em um segmento do tórax. A perna é constituída de 
coxa, trocânter, fêmur, tíbia e tarso, este dividido em vários artículos, chamados 
tarsômeros. No tórax também se inserem os dois pares de asas, sendo as anteriores metade 
coriácea e metade membranosa (hemiélitros) e as posteriores inteiramente membranosas. 
O abdome dos barbeiros é achatado dorso-ventralmente e, quando as asas estão 
em repouso, pode-se ver uma borda, chamada conexivo. Em geral, o conexivo apresenta 
manchas, as quais são muito importantes para a identificação das espécies. Entre as faces 
dorsal e ventral do conexivo pode existir uma membrana que permite uma maior dilatação 
do abdômen durante a alimentação 
A distinção dos sexos é feita observando-se a parte posterior do abdome que, em 
vista dorsal, é contínua nos machos e chanfrada nas fêmeas, onde está o ovipositor. O 
dimorfismo sexual está presente, ou seja, as fêmeas são sempre maiores que os machos 
da mesma espécie, além disso, as fêmeas apresentam o ápice do abdômen pontudo devido 
à presença do ovipositor, enquanto que nos machos o ápice é arredondado 
Os barbeiros sofrem cinco mudas, apresentando cinco estádios de ninfa. Os jovens 
são semelhantes aos adultos, com exceção das asas e genitália, que não se apresentam 
totalmente desenvolvidas, e da ausência dos ocelos. 
Os ovos dos triatomíneos apresentam uma variabilidade na forma, desde quase 
esférica em Panstrongylus geniculatus até cilíndrica em Psammolestes arthuri, e no 
tamanho com comprimento médio de 0,96mm em Alberprosenia malheroi, a 4,01mm em 
Dipetalogaster. apresenta uma borda corial, e o opérculo a borda opercular. Entre ambas, 
está a goteira espermática onde estão localizadas as micrópilas e logo acima as aerópilas, 
de menor tamanho, porém mais numerosas. Diversos estudos mostram que de acordo com 
o gênero, os ovos podem apresentar estruturas como colo ou colarinho e achatamento 
lateral, bem como uma arquitetura exocorial que pode variar desde células hexagonais 
infundibuliformes a células poligonais, neste caso apresentando uma ornamentação 
constituída de perfurações. 
 
Aspectos morfológicos do T. cruzi 
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O T.cruzi possui organelas, que normalmente são encontradas em células 
eucarióticas, e algumas outras estruturas que lhe são próprias. Quando analisada ao 
microscópio eletrônico de transmissão a superfície de todas as formas evolutivas do T. 
cruzi apresenta um discreto glicocálice com aproximadamente 7 nm de espessura. Este 
glicocálice é na realidade constituído pelos carboidratos que se projetam para o lado 
externo da célula e que estão associados às proteínas periféricas ou integrais, formando 
as glicoproteínas e aos lipídios, formando os glicolipídeos. O estudo da superfície usando 
a técnica do “fracture-flip” mostra que a superfície da forma epimastigota é bastante lisa, 
exceto na região mais especializada do citóstoma , quando comparada à superfície das 
formas amastigota e tripomastigotas que apresentam, pela mesma técnica, uma 
superfície mais rugosa. As diferenças morfológicas entre a superfície das formas 
epimastigotas e tripomastigotasvista pela técnica do “fracture-flip” possivelmente 
refletem diferenças na dimensão das mucinas uma vez que as mucinas ancoradas por GPI 
em tripomastigotas são maiores do que as encontradas em epimastigotas. 
Como em todas as células, a membrana plasmática do T. cruzi apresenta uma 
bicamada lipídica à qual, proteínas de diferente natureza encontram-se associadas em 
diferentes graus. A presença de proteínas na membrana plasmática do T. cruzi tem sido 
analisada por técnicas estruturais e bioquímicas. Com a utilização de técnicas estruturais 
como criofratura foi possível mostrar que existem vários domínios na membrana 
plasmática que envolve o T. cruzi bem como nos outros tripanosomatídeos e que existem 
significativas diferenças entre as várias formas evolutivas. As imagens obtidas com a 
técnica da criofratura convencional mostram as proteínas integrais de membrana que 
aparecem ao microscópio eletrônico de transmissão na forma de pequenas partículas que 
foram denominadas partículas intramembranosas. Foi possível com esta técnica mostrar 
que a membrana que reveste as formas epimastigotas é muito mais rica em proteínas 
integrais do que a que reveste a forma amastigota e esta é maior que a que reveste a forma 
tripomastigota. Por outro lado, áreas especiais de membrana, que apresentam 
características diferentes daquela que reveste o corpo celular, foram encontradas (Figura 
5). A membrana que reveste o flagelo é muito pobre em partículas intramembranosas, 
exceto na região da base do flagelo, onde existe uma aglomeração de partículas dando 
origem a uma estrutura denominada colar ciliar, e nas áreas de adesão do flagelo ao corpo 
celular, onde partículas assumem uma organização linear configurando uma área de 
junção do flagelo ao corpo celular. Esta junção envolve a organização de partículas 
intramembranosas encontradas na membrana flagelar nas formas epimastigotas (Figura 
5) e tanto na membrana flagelar como na que reveste o corpo celular no caso da forma 
tripomastigota sugerindo uma adesão muito mais eficiente nesta última forma evolutiva. 
Até o momento as proteínas juncionais não foram caracterizadas. No entanto, uma série 
de proteínas de alto peso molecular e que são altamente antigênicas têm sido identificadas 
por métodos imunocitoquímicos na região de adesão do flagelo ao corpo celular que 
recebeu a denominação de zona de adesão flagelar ou FAZ (“flagellar adhesion zone”). 
Uma outra proteína bem caracterizada e que parece estar envolvida na adesão flagelo-
corpo da forma epimastigota é uma glicoproteína de 72 kDa, conhecida como Gp 72. O 
“knock out” do gene que codifica esta proteína levou ao aparecimento de uma forma onde 
o flagelo não permanece associado ao corpo celular. Esta situação foi posteriormente 
revertida pela introdução do gene, via transfecção. 
Utilizando esta modalidade de microscopia, análises tridimensionais do complexo 
citóstoma-citofaringe de T. cruzi mostraram pela primeira vez que nas formas 
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epimastigotas este complexo é circundado por um conjunto de sete microtúbulos e que se 
dispõem em formato de “calha” ao redor da citofaringe. Além disso, foi possível observar 
vesículas alinhadas próximas a região livre da citofaringe, o que é um indicativo de fusão 
ou brotamento de vesículas nesta invaginação. 
Os quatro principais componentes do citoesqueleto de 
células, (i) microtúbulos, (ii) filamentos espessos, (iii) filamentos 
intermediáriose (iv) microfilamentos, desempenham papel importante na manutenção da 
forma de células eucarióticas, movimentos da célula, movimentos intracelulares, controle 
da mobilidade de componentes da membrana, etc. Os estudos relativos ao citoesqueleto 
do T. cruzi ainda são incipientes. Praticamente nada se conhece sobre filamentos espessos 
e intermediários. Microfilamentos ainda não foram identificados, apesar de um grande 
número de estudos estruturais realizados. No entanto actina, o componente principal dos 
microfilamentos, já foi identificada em T. cruzi tanto por microscopia de 
imunofluorescência como em estudos bioquímicos. Já os microtúbulos têm sido 
estudados em mais detalhe e representam o principal componente do citoesqueleto dos 
tripanosomatídeos. 
O T. cruzi possui diversas estruturas do citoesqueleto e estruturas relacionadas a 
ele que são essenciais para a biologia do protozoário, tais como a camada de microtúbulos 
subpeliculares (SPMT) que são microtúbulos estáveis responsáveis pelo formato celular 
característico dos tripanosomatídeos, pois formam uma espécie de arcabouço com arranjo 
helicoidal que fica localizada logo abaixo da membrana plasmática (Figura 6). Os 
microtúbulos subpeliculares são resistentes a baixas temperaturas e não sofrem 
despolimerização expressiva quando tratados com potentes desestabilizadores de 
microtúbulos de mamíferos, apesar de não serem insensíveis a estas drogas.Acredita-se 
que a membrana plasmática e os microtúbulos subpeliculares formem uma unidade 
estrutural e funcional, o periplasto, responsável pela manutenção do formato 
característico da célula e por todas as atividades que competem à interface entre o 
protozoário e o meio externo. 
Uma estrutura importante nos tripanosomatídeos é o flagelo, único, que emerge 
do corpo a partir de uma invaginação da membrana plasmática denominada bolsa 
flagelar. A extremidade da célula a partir da qual o flagelo torna-se livre do corpo é a 
extremidade anterior. Na forma amastigota o flagelo é muito curto, muitas vezes 
permanecendo no interior da bolsa flagelar, razão pelo qual às vezes não é visto no 
microscópio óptico, o que levou à criação do termo amastigota (sem flagelo) para 
erroneamente designar a forma intracelular multiplicativa do T. cruzi e de Leishmania. 
O axonema do flagelo é formado pelo arranjo padrão de nove pares de microtúbulos 
periféricos e um par central. O flagelo encontra-se intimamente associado a um 
corpúsculo basal, estrutura firmemente associada ao citoplasma da célula e que se 
caracteriza por apresentar nove “triplets” periféricos de microtúbulos (Figura 7). Um fato 
interessante é que o corpúsculo basal dos tripanosomatídeos possui pequenos filamentos 
que o une ao cinetoplasto (região da mitocôndria onde está confinado o DNA 
mitocondrial) e mantém o cinetoplasto perpendicular ao eixo do flagelo 
O flagelo dos tripanosomatídeos é mantido aderido ao corpo celular do protozoário pela 
FAZ- zona de adesão flagelar (Flagellar Attachment Zone). Alguns estudos utilizaram 
experimentos que possibilitam deletar genes e assim impedir a tradução de determinadas 
proteínas de interesse. Ao deletarem as proteínas da FAZ geraram parasitas com defeitos 
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na morfogênese do flagelo e com endocitose deficiente. Um fato interessante é que o 
corpúsculo basal dos tripanosomatídeos possui pequenos filamentos que o une ao 
cinetoplasto (região da mitocôndria onde está confinado o DNA mitocondrial) e mantém 
o cinetoplasto perpendicular ao eixo do flagelo 
O movimento do flagelo se dá graças a um processo de deslizamento entre os 
microtúbulos do axonema, com participação de uma proteína especial com atividade 
ATPásica, chamada de cinesina. De modo geral, o início de uma onda que se propaga ao 
longo do flagelo ocorre em uma das extremidades. Se a onda tem início na ponta do 
flagelo e se propaga em direção à base, a célula se movimenta para frente e dizemos que 
o flagelo puxa a célula. Quando a onda se inicia na base do flagelo e se propaga para a 
sua extremidade o movimento se dá no sentido oposto e dizemos que o flagelo empurra 
a célula. De modo geral, as células eucarióticas flageladas executam apenas um destes 
movimentos. Já os tripanosomatídeos, no entanto, apresentam a propriedade de apresentar 
ambos os movimentos, tornando-os extremamente eficientes no direcionamento do seu 
movimento.

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