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Planejamento de ações educativas
O desenvolvimento de ações educativas em saúde
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar as bases conceituais e teóricas para o desenvolvimento de ações educativas em saúde.
O que são práticas educativas?
O trabalho em saúde envolve, mesmo nos atendimentos individuais de maneira direta ou indireta, grupos de pessoas. Isso porque o ser humano é um ser social e só existe na relação com o outro. O ato de produção de saúde e de doença ocorre na relação com o mundo, desde amigos, família, comunidade, trabalho entre outros meios. Em razão disso, é fundamental estar com a escuta atenta à soma de variáveis que podem contribuir ou não com as decisões tomadas pelas pessoas que podem afetar sua saúde. A partir disso, faz sentido concluir que ações educativas realizadas em unidades de saúde, no território, consultório ou em outros espaços, possuem o potencial de intervenção nesses meios.
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Dica
Uma ação educativa, ou prática educativa, tem como objetivo desenvolver nas pessoas ou em um grupo a habilidade de analisar de maneira crítica a sua realidade, de tomar decisões para solucionar problemas, alterar situações, organizar, realizar ações e avaliá-las de maneira crítica.
Paulo Freire aponta (1981) que o aprender é dinâmico e a motivação do educando e a sua relação da aprendizagem com sua vida são fundamentais. Os indivíduos são, literalmente, individuais, ou seja:
ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo.
(FREIRE, 1981, p. 79)
Freire propõe um método dialógico, ou seja, que se baseia na linguagem e na cultura dos indivíduos com quem se trabalha. Por entender que todas as pessoas possuem algum saber, Freire ensina que não é possível dar algum tipo de saber a alguém, e sim que esse pode ser produzido a partir da interação em dado contexto.
Dica
É fundamental que profissionais de saúde busquem conhecimentos sobre o processo de aprendizado a fim de se tornarem capazes de propor ações educativas visando conscientizar seus alunos. Tal conscientização somente ocorre quando existe uma reflexão rigorosa sobre a realidade e quando é possível evidenciar os focos problematizados por um grupo ou usuário, instigando o debate e construindo uma rede de significados.
Breve referencial teórico sobre as ações educativas em saúde
As práticas ou ações educativas em grupo são ancoradas em estudos do século XIX. Le Bon (1954) traz o pensamento sobre fenômenos coletivas que possibilitam grupos agirem com conexão. De acordo com o autor, ocorrem nos grupos algumas características psíquicas próprias, com certa perda de características individuais. Desse modo, passa a haver uma psicologia coletiva na qual, muitas vezes, o comportamento que surge é totalmente diferente do indivíduo fora da multidão.
Gustave Le Bon
Outros autores descrevem o estudo dos grupos, como Kurt Lewin (1978), fundador da teoria de pequenos grupos e da pesquisa-ação. Para Lewin e Le Bon, um grupo não é uma consequência da soma de indivíduos, e sim representa uma reunião de relações que estão em movimento constante. Lewin ainda apontou a importância de uma abordagem interdisciplinar.
Em um grupo, existe uma estrutura que corresponde à organização que ocorre a partir do processo de reconhecimento dos seus membros, além de uma dinâmica que diz respeito às forças de coesão e difusão do grupo. É a partir dessa relação que ocorre a formação de normas de cooperação, divisão de tarefas, liderança.
A respeito dos grupos, Freud (1921) diverge de Le Bon ao trazer que esses ajuntamentos podem ser de característica mais duradoura quando formados por pessoas semelhantes e mais efêmeras.
Para Freud, não existe uma forma de pensar coletiva, os pensamentos individuais poderiam ser vistos a partir do psiquismo de cada um dos componentes do grupo. Ele aponta que, em um grupo, existem dois tipos de vínculo:
· Vínculo Vertical
Os indivíduos se ligam aos líderes.
· Vínculo Horizontal
A ligação ocorre de um membro com os outros e assim se sentem mais fortalecidos para assumir alguns riscos.
Por fim, a concepção de Bion (1975), tendo como base as ideias de Freud, defende que o ser humano é um ser social, assim a relação com coletivos sempre estará presente ainda que de maneira simbólica. Desse modo, sempre existe uma unidade dentro de um grupo mesmo que seus integrantes não tenham consciência deste fato. De acordo com Bion, os grupos funcionam em dois níveis:
· Nível 1
É o nível das tarefas e regras que está ligado ao que é material e consciente, como as regras e tarefas operativas que um grupo deve desenvolver.
· Nível 2
É chamado de valência e corresponde ao funcionamento do grupo, de modo a se preservar e proteger, bloqueando ou favorecendo a realização da tarefa.
Resumindo
Isso é importante para entendermos que é possível um grupo caminhar na operação de seus objetivos e compreender as relações que possui.
Não vamos esgotar o assunto sobre o estudo de grupos, porém aqui trouxemos o que há de mais relevante para termos uma noção sobre o planejamento de ações educativas. O vínculo, apontado por Pichon-Rivière (1998), é um dos conceitos mais importantes para as ações educativas. Em alguns grupos, especialmente os operativos, não é suficiente existir um objetivo em comum ou uma finalidade de realizar determinada tarefa, é necessário haver um vínculo entre essas pessoas.
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Saiba mais
Vínculo é uma estrutura dinâmica, uma maneira própria pela qual cada indivíduo se relaciona com os demais.
Com ideias semelhantes a Bion, Pichon-Rivière afirma que grupos se juntam por uma tarefa, mas também por afeto.
A comunicação, a criatividade e a interação permitem fluir uma interação reflexiva, principalmente quando existem fatores que dificultam a realização da tarefa proposta.
Um grupo não é uma construção linear ou progressiva, e sim algo dinâmico e complexo. Todo grupo tem suas ambiguidades, as quais são importantes em seu processo e devem sempre ser consideradas. É nessa complexidade que ocorre o aprendizado, processo muito além do que a simples incorporação de informações. Aprendizado é uma ampliação da habilidade de criar opções, um reflexo da maleabilidade dos grupos.
Principais abordagens educativas
É importante conhecer as diferentes concepções pedagógicas.
Até o momento, ressaltamos a importância de um processo de aprendizado baseado na descoberta e realizamos uma crítica à simples transferência de conhecimentos por métodos não reflexivos, superficiais e de baixa retenção de conhecimento. Conheça, a seguir, algumas das abordagens de “ensinar-aprender-ensinar”:
Transmissão
Nessa abordagem, os indivíduos desenvolvem papéis delimitados: quem ensina e quem aprende. Segundo a lógica da transmissão de conhecimentos, quem sabe mais tem funções de aconselhar, vigiar e corrigir, enquanto o outro deve simplesmente aprender. Em geral, utiliza-se a repetição como um método de decorar e não existe uma preocupação com a realidade prática nem com valores e crenças daquele que deve aprender.
Vamos a um exemplo prático:
Uma enfermeira acaba de ser contratada e percebe que, em sua nova unidade de saúde, há muitas pessoas com hipertensão descontrolada. Intrigada por tal situação, ela nota que o problema está nas informações inadequadas que os agentes comunitários passam aos usuários da unidade e acredita que deve melhorar a maneira de orientá-los. Com isso, ela revisa a literatura sobre hipertensão arterial sistêmica e monta um conteúdo em aulas expositivas. Durante três semanas consecutivas, ela explica para os agentes tudo que considera ser relevante sobre a hipertensão, bem como lhes passa as orientações que os usuários hipertensos devem receber para o controle dessa doença.
Condicionamento
Nesse caso, o que está em jogo é o resultado. Muito associada ao behaviorismo e à reflexologia, essa abordagem é referente ao condicionamento de uma pessoa para que ela apresente as respostas desejadas. Fala-se literalmente de um treinamento para se obter a resposta desejada mediante adeterminada situação. Muitas vezes, é utilizada a técnica da repetição do conteúdo para a fixação do comportamento desejado.
Vamos a um exemplo prático:
Nas unidades de saúde, são usuais as ações conhecidas como capacitação para condicionar algumas práticas entre as equipes de saúde, por exemplo, um treinamento para o preenchimento correto de anamneses e fichas de cadastro. Esses treinamentos costumam ser contínuos para evitar que falhas sejam cometidas. Nessa abordagem, é sempre válido não desvincular esses treinamentos do que os motiva.
Essas duas abordagens são as ditas tradicionais. Embora possam ser utilizadas, possuem algumas limitações específicas, pois não estimulam uma visão crítica e pouco consideram o conhecimento prévio do usuário do sistema de saúde sobre o tema abordado. Uma das fragilidades dessas abordagens é que um conhecimento descontextualizado dificilmente provoca mudanças práticas. Seguiremos agora com outras abordagens que trazem a principal diferença do foco: o aprendiz.
Humanista
É a abordagem que coloca o foco no usuário do serviço de saúde. O processo de aprendizagem é de total autonomia do indivíduo e o conhecimento se constrói por meio do reconhecimento das experiências pessoais. Nessa abordagem, quem ensina é um facilitador da aprendizagem e deve adotar uma postura compreensiva com os sentimentos, crenças e valores daqueles que estão aprendendo.
Vamos a um exemplo prático:
Durante uma reunião de equipe de profissionais que atuam em uma unidade de saúde, o coordenador traz um tema para discussão e solicita aos demais que pesquisem e realizem uma apresentação sobre o assunto em um próximo encontro. O coordenador não interfere na construção e, durante a apresentação, permite que o grupo construa o conhecimento.
Cognitivista
É a abordagem que atribui maior influência à cultura, à personalidade, à afetividade, ao meio histórico e ao momento social no processo de aprendizagem. Nessa abordagem, há construção do conhecimento em todos os momentos, desde o seu nascimento até o momento de morrer. O papel do educador é auxiliar que o aprendiz desenvolva a capacidade de aprender de maneira significativa para si mesmo.
Vamos a um exemplo prático:
Em uma unidade de saúde, existe um grupo chamado “Bem viver”. Nas reuniões, são compartilhadas informações para elucidar e estimular de maneira reflexiva o cuidado de doenças crônicas. Os usuários trocam experiências sobre seu modo de lidar com sua condição. O diferencial das reuniões é que os usuários são envolvidos e responsáveis por todas as etapas da elaboração do grupo, desde a programação ao planejamento e à execução. Os profissionais oferecem algumas ferramentas como dramatização, expressão corporal, trabalho em dupla, pintura, música, relaxamento. O grupo tem um importante papel na promoção de saúde de todos os envolvidos.
Sociocultural
A abordagem coloca no centro do processo do aprender-ensinar contextos econômicos, políticos, culturais e sociais. A educação deve ser pautada pela visão da sociedade e do mundo e permite reflexões. É nessa abordagem que aprendemos sobre educação problematizadora. A relação educador e educando é igualitária e democrática.
Essas abordagens promovem graus diferentes de autonomia entre os aprendizes, que são os usuários de saúde, enquanto os professores são os profissionais trabalhadores da saúde. Cada uma delas garante, de modo diferente, uma relação de autonomia com o conhecimento compartilhado.
Para escolher a melhor abordagem, devemos verificar quais são os objetivos da ação educativa. Porém, as abordagens tradicionais tendem a ter uma efetividade menor, uma vez que não possuem uma construção de sentido por parte dos usuários de saúde.
Exemplo
Em alguns momentos, é necessário haver uma transmissão de informações. Na pandemia da covid-19, por exemplo, foi importante informar à sociedade como ocorre a transmissão do vírus e, em seguida, criar hábitos automatizados que deveriam ser fixados pelos indivíduos, como o uso de máscara e a higienização das mãos e de superfícies.
Independentemente de abordagem escolhida, é importante levar em consideração que os profissionais de saúde e as comunidades são participantes ativos desse processo de aprendizagem.
Por que ações educativas devem ser realizadas?
As ações educativas em saúde são iniciativas importantes, pois estimulam aspectos relacionados à promoção da saúde e à prevenção de doenças. Ao incorporarem questões relacionadas ao cotidiano das pessoas, essas ações contribuem para o estabelecimento de um compromisso da população com dimensões sociais, abordando assuntos relacionados à saúde e à qualidade de vida.
A saúde não é só a ausência de doenças. Para garantir o bem-estar físico, mental, social, é importante ir além da prevenção.
Para isso, a atenção à saúde de um indivíduo não precisa se restringir aos atendimentos individuais.
Um nutricionista, por exemplo, pode desenvolver ações pautadas na promoção da saúde, com estratégias para auxiliar no pleno potencial de saúde de indivíduos e comunidades.
A abordagem do cuidado por meio de ações educativas é cada vez mais relevante, ainda mais com a crescente prevalência de doenças crônicas não transmissíveis no Brasil e no mundo.
A literatura sobre o assunto é vasta e conta com experiências de diversos países com intervenções em saúde, abordando agravos não transmissíveis (DCNTs) para buscar abordagens com menor custo e maior efetividade para o tratamento dessas doenças, como é o caso das abordagens ancoradas na mudança do estilo de vida.
É essencial incluir as ações educativas como estratégias para as atividades de prevenção e cuidado das DCNTs. As campanhas são indispensáveis para transformar as informações disseminadas em mudanças de atitudes e de comportamento que contribuam com uma vida mais saudável. Esse contexto suscita a necessidade e a urgência de tirar do segundo plano o local histórico que as ações educativas tiveram ao longo da história, pois não eram vistas como prioridade. Em geral, essas ações são realizadas com o objetivo de ensinar às pessoas normas de conduta para modificar comportamentos inadequados.
A maciça utilização de técnicas sem que haja cuidado, consulta ou adaptação ao público, como palestras, pode não ser uma boa estratégia.
O uso de palestras parte do pressuposto de que uma doença ocorre por ausência de cuidado das pessoas com sua saúde, culpando-as pelos problemas que surgem. Em geral, são limitadas à transmissão de conteúdo sem crítica e de maneira descontextualizadas.
E isso ocorre porque, muitas vezes, profissionais de saúde não enxergam que as ações educativas fazem parte do seu processo de trabalho, desvalorizando-as e centrando a maior parte do tempo e atenção na clínica, individual e curativa.
Atenção
Com a complexidade dos problemas de saúde e da própria dinâmica de vida das pessoas, é indispensável que profissionais de saúde pensem em ações educativas que tenham como norte fortalecer a autonomia das pessoas através de sua capacidade e escolha.
As informações sobre saúde devem ser abordadas de modo simples e contextual, de maneira que os indivíduos possam fazer escolhas mais saudáveis em suas vidas. Para que isso ocorra, é importante um processo de influência mútua entre o conteúdo teórico e a experiência de vida, além da relação de confiança e do vínculo entre indivíduos com o serviço e o profissional de saúde.
O trabalhador da saúde deve sempre garantir que o usuário do serviço consiga apreender o conteúdo apresentado, caso contrário, esse indivíduo pode colocar sua saúde em risco por não ter compreendido bem alguma informação. É nesse processo de comunicação que deve ocorrer uma escuta, observação e interação entre as pessoas. O profissional deve ter sempre uma disponibilidade a partir de ações intencionais e orientadas por um interesse palpável.
As ações coletivas, em geral, apresentam-se como uma potente ferramenta para o desenvolvimento de autonomia entre os indivíduos, de maneira a proporcionar um espaço de escuta e fala e um momento ímpar de reflexão sobrea saúde.
O espaço de uma ação educativa, especialmente aquela realizada em grupos, pode ser uma experiência de liberdade e de novas vivências. Realizar ações coletivas bem-sucedidas não é uma tarefa simples. Demanda planejamento, estudo, vínculo e tempo. Porém, os resultados tendem a ser recompensadores.
O adequado planejamento de ações educativas em saúde
Ao final deste módulo, você será capaz de descrever as principais etapas para o adequado planejamento de ações educativas em saúde.
Neste módulo, abordaremos, de maneira mais aprofundada, o processo de planejamento das ações educativas em saúde. Para isso, vale ressaltar o que entendemos por planejamento. A ideia de planejamento nos acompanha em todas as dimensões da nossa vida, seja na organização dos estudos para uma prova seja para nos preparar para uma viagem nas férias. O planejamento amplia nossos recursos e nos prepara para enfrentar uma situação, um problema ou um objetivo desejado. Planejar contribui para que possamos intervir e transformar a realidade.
Resumindo
Planejar é o ato de desenhar, colocar em prática e acompanhar um conjunto de propostas de ação para uma realidade específica. Na saúde, lidamos com problemas complexos, que demandam um planejamento organizado e sistematizado.
No contexto das ações de educação em saúde, não seria diferente. Vamos estudar cinco momentos essenciais para o adequado planejamento das ações educativas em saúde: elaboração de um diagnóstico situacional de saúde da população; definição dos objetivos da ação; estruturação do plano de ação com análise de viabilidade e estratégia; operacionalização do plano; e acompanhamento e avaliação da ação.
Elaboração de um breve diagnóstico situacional em saúde
Para a elaboração do diagnóstico situacional, é preciso, antes de tudo, definir a equipe envolvida na ação. A sensibilização e o engajamento da equipe de diferentes profissionais de saúde serão fundamentais para o desenvolvimento das ações a partir da perspectiva integrada e multiprofissional. Vale ressaltar que a participação no processo de planejamento corresponsabiliza e implica os profissionais na condução do processo. Organizada a equipe responsável pela ação, pode-se traçar o diagnóstico da situação de saúde.
A análise da situação de saúde ou diagnóstico consiste em conhecer os problemas de saúde enfrentados pela população usuária.
Toda e qualquer ação educativa deve fazer sentido com o cotidiano e as condições de vida do público-alvo. Por isso, o diagnóstico deve ser a base orientadora para a ação educativa. Nessa etapa, podem ser utilizados dados oficiais oriundos dos Sistemas de Informação em Saúde, bem como diálogos com profissionais, usuários, lideranças comunitárias, visando identificar os problemas que determinam ou condicionam a saúde dos envolvidos. Veja com atenção o caso-guia:
Uma unidade de saúde que conta com a Estratégia Saúde da Família (ESF) possui três equipes. Uma nutricionista vinculada ao Núcleo Ampliado em Saúde da Família - Atenção Básica (NASF-AB) compartilha com sua equipe multiprofissional que tem observado nas reuniões de matriciamento um aumento de dúvidas sobre o manejo da obesidade em crianças e adolescentes. Ela chega à conclusão de que essas dúvidas podem ter relação com um possível aumento de casos de obesidades em crianças e adolescentes. Pensando nisso, começa a planejar um grupo para abordar a temática com crianças, pais e responsáveis. Antes de pensar na estruturação do grupo em si, a nutricionista acessa o sistema de prontuário eletrônico da unidade de saúde, filtrando o número de casos ativos de crianças com excesso de peso, chegando a um quantitativo de 100 indivíduos.
Frente a isso, ela aproveita para acessar o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) e identifica que, apesar de um quantitativo baixo de respostas para avaliação do estado nutricional, há uma prevalência de 18% de excesso de peso na unidade, 9% a mais do que a média municipal. Além disso, percebe também que a base do consumo alimentar na faixa etária entre 5 e 9 anos é rica em alimentos ultraprocessados, como biscoitos, embutidos e bebidas açucaradas.
A psicóloga aproveita o ensejo e compartilha que os relatos de bullying relacionados à aparência e ao padrão corporal também têm aparecido mais. Assim, juntas, realizam uma breve conversa com os agentes comunitários de saúde de cada equipe. Esses agentes informam que os pais e responsáveis têm percebido uma mudança no padrão da alimentação escolar e que, de acordo com professores, as crianças não vêm aceitando muito bem a inserção de frutas, verduras e legumes que substituíram o macarrão com salsicha e biscoito com suco na alimentação escolar.
Essas crianças não conhecem ou nunca experimentaram muitos desses alimentos! Ainda segundo os agentes, a falência da fábrica de vidros, principal empregadora no local, impactou de forma negativa o acesso a alimentos saudáveis no bairro, uma vez que, sem a fábrica, os hortifrútis e a feira se deslocaram para o bairro vizinho.
Com aquelas informações anotadas, as profissionais já tinham uma base para compreender como seria possível direcionar a ação educativa.
Definição dos objetivos da ação educativa em saúde
O segundo momento estratégico para o planejamento das ações educativas consiste na definição dos objetivos da ação. Essa etapa é crucial para a boa execução da ação educativa, uma vez que, dentro de um universo complexo de situações-problemas, deve-se priorizar um objetivo relevante, ou seja, que impacte realmente o que se necessita mudar. Ao mesmo tempo, esse objetivo deve estar dentro da governabilidade dos profissionais envolvidos. Para definir o objetivo da ação educativa, deve-se responder:
Como eu espero que a ação educativa em saúde impacte a qualidade de vida da população?
Resposta
Algumas dimensões nos ajudam a definir a situação-problema que irá se transformar em objetivo. Em outras palavras, o objetivo é a própria expressão positiva do problema. A primeira é a magnitude do problema, ou seja, o seu tamanho.
Em geral, essa magnitude é de fato quantitativa, numérica e precisa estar associada a algum parâmetro para que seja qualificada como alta, esperada ou baixa. Outra dimensão importante é a transcendência, isto é, a relevância técnica, cultural ou política daquele problema. O terceiro aspecto é o da vulnerabilidade, muito vinculado ao acesso à informação, ao conhecimento e aos recursos materiais do público-alvo. Veja com atenção este outro caso-guia:
ão este outro caso-guia:
Caso-guia 2
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Seguindo nosso relato de caso, as profissionais do NASF-AB identificaram ao menos cinco grandes problemas que podem ter impacto no aumento do excesso de peso entre crianças e adolescentes acompanhados naquela unidade de saúde. São estes os problemas:
a) Equipes de saúde com dificuldades no manejo da obesidade infantil e do bullying escolar.
b) Prevalência de 18% de casos de excesso de peso entre crianças e adolescentes.
c) Baixo preenchimento dos dados de estado nutricional e marcadores de consumo alimentar.
d) Recusa no consumo e/ou desconhecimento de alimentos in natura e minimamente processados entre as crianças que frequentam a escola do bairro.
e) Ambiente alimentar do bairro com baixa comercialização de alimentos in natura ou minimamente processados.
Delineadas as situações-problema, os profissionais levam esses dados sistematizados para o conjunto da equipe NASF-AB a fim de gerar uma ação educativa. São elencados, então, o que será matéria para ações de educação em saúde com a população (B, D e E) e o que será base para ações de educação permanente entre os profissionais (A e C). É destacado, ainda, o problema que a equipe, em articulação com outros profissionais, tem governabilidade para intervir.
Nesse contexto, elegem a “Recusa no consumo e/ou desconhecimento de alimentos in natura e minimamente processados entre as crianças que frequentam a escola do bairro” como base para a ação educativa, tendo em vista que a prevalência será resultado a médio e longo prazo das condiçõespara a prática de uma alimentação saudável e adequada e que, para tratar de ambiente alimentar, será necessária a articulação com outros setores da prefeitura e uma mobilização comunitária. Assim, o objetivo definido pelo grupo fica sistematizado em: “Ampliar o contato e a experiência das crianças, pais e responsáveis atendidos na unidade de saúde com alimentos in natura e minimamente processados”.
Estruturação do plano da ação educativa em saúde
Definido o objetivo da ação educativa, o terceiro momento para o planejamento é a estruturação do plano de ação com análise de viabilidade e desenho da estratégia. Nessa etapa, os responsáveis pela condução da ação educativa passam a destrinchar as atividades cruciais para atingir o objetivo. O “como fazer?” é o grande balizador desse momento.
É a partir dele que se enumera os temas a serem abordados, os materiais necessários, os recursos disponíveis, entre outros.
Nesse momento, a escolha da abordagem educativa deve ser feita. É a partir dela que se repercute o modelo de educação adotado e a forma de sua aplicação. Os modelos de abordagens educativas vão gerar diferentes tipos de planejamento da ação educativa em saúde, conforme demostrado no quadro a seguir.
	ABORDAGENS TRADICIONAIS
	ABORDAGENS CENTRADAS NO APRENDIZ
	Concepção
	Concepção
	Educação bancária, em que se estabelece uma relação verticalizada de superioridade entre o profissional de saúde e o usuário, que é um sujeito passivo e esvaziado de conhecimento.
	Educação problematizadora, em que se estabelece uma relação horizontalizada e uma complementariedade de diálogo entre os saberes técnicos e os populares, valorizando a experiência do usuário na construção compartilhada de saber.
	Aspectos positivos
	Aspectos positivos
	Proporciona acesso ao conhecimento científico para a população, ampliando informações e/ou conhecimentos existentes.
	Fomenta a construção coletiva do conhecimento, proporcionando ao usuário uma visão reflexiva e crítica, capacitando-o para a tomada de decisões.
	Aspectos negativos
	Aspectos negativos
	A capacitação de um usuário passivo, reprodutor de um conhecimento descontextualizado, e reprodução de assimetrias na construção do conhecimento.
	Baixa oferta de formação dos profissionais de saúde para trabalhar a partir desse tipo de abordagem.
	Implicação no planejamento da ação educativa
	Implicação no planejamento da ação educativa
	Ações educativas ofertadas em larga escala, por meio de palestras, grupos com alto número de usuários, cartazes, com o objetivo de sensibilização, sem necessariamente haver implicação na mudança de práticas.
	Ações educativas ofertadas em escala comunitária, por meio de grupos com menor número de usuários, ações no território, visitas territoriais, favorecendo o vínculo e a troca de experiências, com o objetivo de fomentar a autonomia dos indivíduos.
Quadro: Comparativo da implicação das abordagens tradicionais e centradas no aprendiz para o planejamento das ações educativas em saúde.
Elaborado por: Elisa Proença da Silva Mendonça
Neste estudo, temos como referência os modelos educativos com o foco no aprendiz, em destaque o sociocultural. Isso porque, ao pensar em uma ação educativa a partir dessa abordagem, assume-se a educação problematizadora, dialógica e participativa, com propósito de intervir para mudanças de contexto e fomentar autonomia.
A equipe de nosso caso-guia, por exemplo, já havia indicado que realizaria uma atividade em grupo envolvendo as crianças, pais e responsáveis. Porém, outras ações podem caracterizar a ação educativa, tais como:
Atividades no território
Visitas sociais na comunidade
Produção de conteúdos gráficos
Oficinas
Outras atividades
O que essencialmente define a perspectiva educativa da ação é o conteúdo e a forma como se oferta a atividade.
As atividades coletivas, sobretudo os grupos, ganham destaque nas ações educativas em saúde. Como modalidade de cuidado coletivo, os grupos oportunizam a construção compartilhada do conhecimento e da aprendizagem em saúde a partir de relações interpessoais e da constituição de subjetividade.
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Curiosidade
Uma referência bastante difundida entre os métodos na saúde são os Grupos Operativos (GO).
Ainda na década de 1940, o psiquiatra e psicanalista Pichon-Rivière, elaborou sua proposta de GO. Para o autor, o grupo é um conjunto de pessoas que compartilham tempo e espaço e se expressam através de uma articulação de uma rede, onde cada uma apresenta um papel, estabelecendo assim vínculos entre todas. O objetivo principal dos GO é fomentar uma aprendizagem que estimule a troca entre os participantes, concebida a partir de uma análise crítica da realidade, gerando ações provocadas por uma busca de conhecimento a partir de inquietações. Atividades de grupo a partir desse referencial possibilitam, além de integração, a reflexão sobre si mesmo e sobre a ação dos outros (VINCHA; SANTOS; CERVATO-MANCUSO, 2017).
Os Grupos Operativos se aderem bastante à educação problematizadora ou dialógica, uma vez que reconhecem uma reciprocidade e complementariedade do ensino-aprendizagem. Nos serviços de saúde, os Grupos Operativos contribuem para extrapolar as ações educativas pautadas na transmissão de conhecimento, pois visam promover a conversão do conhecimento para ações/atitudes, tendo como direção as necessidades e realidades das pessoas envolvidas. Espera-se que essa conversão seja pautada a partir da comunicação, implicação e vinculação entre as pessoas. Assim, sentimentos, significados, relações, experiências e expectativas são imbricados na ação.
Para o planejamento de GO, a teoria de Pichon vem sendo utilizada como referencial para a saúde. Autores contemporâneos, como Mello Filho (2007), Osório (1986), Zimerman (2000), apresentam releituras criativas no uso dos grupos voltados para públicos específicos, como pessoas com doenças crônicas não transmissíveis. A composição de grupos mais homogêneos, ou seja, que compartilham alguma experiência ou condição, é avaliada de forma positiva, uma vez que possibilita identificação, estabelecimento de rede e união, resultando em melhoria na condição de saúde.
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Saiba mais
Além disso, recomenda-se que os grupos tenham entre 5 e 12 participantes, evidenciando experiências positivas com até no máximo 25 pessoas, havendo de 5 a 24 encontros por grupo, com frequência semanal, quinzenal ou mensal (VINCHA, SANTOS, CERVATO-MANCUSO, 2017).
Após escolha da abordagem educativa e de metodologia coerente, é importante que o planejamento continue a partir da descrição do conteúdo programático a ser trabalhado. Resgatando o caso-guia de nosso módulo, podemos exemplificar:
· O que é uma alimentação saudável e adequada?
· O que são alimentos in natura?
· O que são alimentos minimamente processados?
· O que são alimentos processados?
· O que são alimentos ultraprocessados?
· O que são ambientes alimentares e como eles influenciam nossa saúde?
· Como podemos pensar em uma alimentação saudável e adequada em nosso bairro, para nossa família?
Cada tema a ser trabalhado pode ser abordado a partir de ações coletivas diferentes dentro de um mesmo grupo operativo. Oficinas, exibição de vídeos, espaços conjuntos entre pais, responsáveis e crianças ou com os grupos separados, visitas territoriais, são alguns exemplos de atividades coletivas. A partir do desenho das atividades a serem realizadas vinculadas a cada temática, será possível elencar os recursos necessários para a ação educativa.
	TEMAS
	ATIVIDADES
	EXEMPLOS DE RECURSOS
	O que é uma alimentação saudável e adequada?
	Roda de conversa com pergunta disparadora
	Cadeiras, lista de presença, um quadro branco e um pincel de quadro branco.
	O que são alimentos in natura?
	Atividade prática de visita à horta comunitária do bairro, visando aproximar os participantes dos alimentos e plantas medicinais in natura
	Lista de presença, papel e lápis para disponibilizar aos participantes que queiram.
	O que são alimentos minimamente processados?
	Atividade prática de visita ao hortifrúti do bairro vizinhopara identificar os alimentos minimamente processados.
	Lista de presença, papel e lápis para disponibilizar aos participantes que queiram. Van e motorista para levar os usuários ao local.
	O que são alimentos processados?
	Roda de conversa com acesso à tabela de composição nutricional on-line
	Cadeiras, lista de presença, computador e projetor.
	O que são alimentos ultraprocessados?
	Oficina de leitura e análise de rótulo dos alimentos ultraprocessados
	Cadeiras, lista de presença, computador, projetor, papel 40kg, pincel para papel.
	O que são ambientes alimentares e como eles influenciam nossa saúde?
	Roda de conversa com pergunta disparadora
	Cadeiras, lista de presença, tarjetas de papel e pincéis para papel.
	Como podemos pensar em uma alimentação saudável e adequada em nosso bairro, para nossa família?
	Roda de conversa com pergunta disparadora e análise conjunta do mapa de estabelecimentos que vendem alimentos no bairro
	Cadeiras, lista de presença, mapa do bairro pré-desenhado com a marcação dos estabelecimentos que comercializam alimentos
Quadro: Exemplos de temáticas, atividades e recursos a serem mobilizados para o desenvolvimento de ações educativas
Elaborado por: Elisa Proença da Silva Mendonça
Posterior ao detalhamento dos recursos necessários, deve-se estipular o cronograma de atividades, especificando: frequência dos encontros, dia de referência na semana, tempo de duração de cada atividade e agendamento/pactuação do local adequado para sua realização. A divulgação e o convite para o público-alvo devem ser preparados, utilizando como estratégias cartazes, panfletos, publicação em redes sociais e o suporte dos agentes comunitários.
Por fim, ainda na fase de preparação, deve ser organizado o mecanismo de avaliação da ação, com o intuito de evidenciar se o objetivo foi ou não alcançado pelo desenvolvimento da ação. Para facilitar a compreensão sobre a estruturação do planejamento, ainda a título de estruturação das atividades, veja a seguir um exemplo de roteiro, indicando seus elementos basilares:
basilares:
Parte I – Elementos fixos de um objetivo de intervenção
Título de ação educativa: ___________________________________________
Descrição do problema: ___________________________________________
Característica geral do local: ___________________________________________
Objetivo: ___________________________________________
População-alvo: ___________________________________________
Parte II – Elementos flexíveis de um objetivo de intervenção
Conteúdo programático: ___________________________________________
Metodologia: ___________________________________________
Avaliação: ___________________________________________
Recursos necessários: ___________________________________________
Cronograma de atividades
Data -
Conteúdo trabalhado -
Operacionalização do plano de ação educativa
Para que um planejamento de ação educativa seja executável a partir da referência de educação problematizadora, é muito importante que ele reflita o contexto, as necessidades e o olhar dos sujeitos envolvidos. Esse fator fará todo o diferencial no sucesso da construção de grupalidade entre os envolvidos. Um método de grupo que pode nos apoiar bastante no manejo das atividades coletivas é a experiência da Estratégia de Gestão Autônoma da Medicação (GAM). Criada no Canadá, oriunda da experiência de usuários com sofrimento mental e em uso de medicamentos psicotrópicos em Quebec, tal estratégia foi adaptada por um estudo multicêntrico realizado por pesquisadores do campo da saúde mental no Brasil (PASSOS et al, 2013).
A GAM no Brasil parte das premissas da nossa reforma psiquiátrica, reconhecendo que a lógica da medicalização e medicamentalização do sofrimento, ou seja, que a busca por resolver todos os problemas de saúde com medicamentos ou tratamentos médicos, é operada pelo saber biomédico hegemônico. Considerando o objetivo de superar a hierarquização entre o saber dos profissionais e dos usuários a partir do dispositivo do grupo, o manejo em cogestão realizado na GAM é uma referência importante para que essas experiências contribuam cada vez mais para uma nova abordagem de grupo nos serviços de saúde, extrapolando o campo da saúde mental (PASSOS et al, 2013).
A cogestão é um conceito operativo que indica um modo de fazer gestão.
Saiba mais
Cogestão significa coordenação “ao lado”, ou seja, “fazer junto”, e não “fazer para”. Pensar a partir da cogestão é considerar a mudança da estrutura verticalizada de saberes e poderes.
O manejo cogestivo de um grupo é, na verdade, uma forma de coordenar ou moderar um grupo que vai além de seu ato. Esse tipo de manejo nos provoca, como profissionais de saúde, a fazer uma coordenação distribuída e compartilhada, no grupo e do grupo, descentralizando o poder de fala e de detenção da verdade do saber técnico-científico.
Nessa concepção de manejo, assume-se que, à medida que a fala circula entre os participantes, os profissionais de saúde abrem espaço para o compartilhamento de experiências. Quanto mais as pessoas se sentem disponíveis para trocar experiências, mais grupalidade se produz, gerando uma distribuição do protagonismo entre os diferentes sujeitos presentes.
Apesar disso, vale ressaltar que realizar um manejo cogestivo é diferente de não manejar um grupo ou não estipular um mecanismo de funcionamento nele. Os profissionais responsáveis pelo manejo devem ter a sensibilidade de disparar as discussões a partir de perguntas ou elementos disparadores. Devem sempre estar atentos para fazer intervenções de modo que não se desvirtue o tema de discussão proposto ou que haja uma concentração da fala a partir de um usuário específico (PASSOS et al, 2013).
A habilidade de construir espaços abertos à fala, à contribuição e ao compartilhamento do protagonismo é algo que se desenvolve na prática. Constituir um grupo, mesmo que homogêneo, sempre será um desafio.
Quando a grupalidade acontece em um espaço coletivo, os resultados são imensamente satisfatórios.
Outro aspecto importante que a GAM nos ensina para a realização de atividades coletivas é o estabelecimento de contrato do grupo. Ele pode ser desde algo mais formal, escrito em uma cartolina, até algo pactuado e relembrado no início dos encontros.
Esse contrato serve para orientar as pessoas que chegam, definir regras comuns de funcionamento interno e estabelecer mecanismos de convivência, como o combinado para manifestar desejo de fala, evitar cortes ou atropelos, ou que alguma informação íntima seja compartilhada.
Por fim, outra dimensão importante para colocar o planejamento em prática é a capacidade de flexibilidade de quem o projeta. O planejamento deve ser o desenho que antecede e direciona a ação, contudo deve ser também um processo dinâmico de aprendizagem-ajuste-aprendizagem. A capacidade de adaptação é fundamental para o objetivo final seja preservado.
Acompanhamento e avaliação da ação educativa
Para finalizar o ciclo do planejamento das ações educativas, a avaliação deve ser tida como um dos corações do plano. É a partir da elaboração de instrumentos de avaliação que será possível mensurar o alcance do objetivo. Para tanto, devem ser descritos os critérios estabelecidos e os instrumentos utilizados, os quais podem ser:
· Questionário
· Formulários
· Relatório de observação das falas
· Autoavaliação
· Entrevistas
· Outros instrumentos
Caso seja necessário, entre as ações realizadas, pode-se selecionar aquelas que são estratégicas para a verificação dos resultados gerais ou mesmo o reconhecimento dos novos recursos que os participantes encontraram para resolver seus problemas.
Dica
Na avaliação, é basilar estar atento às condições e ao acesso aos diferentes recursos da escrita, a depender do perfil de participantes, visando evitar constrangimentos e falta de acessibilidade às pessoas analfabetas ou com algum tipo de deficiência.
Um bom recurso para esses casos são as escalas gráficas. Nessa estratégia, avaliações como “Ótimo”, “Bom”, “Regular”, “Ruim” ou “Péssimo” são demonstradas, porexemplo, a partir de figurinhas de faces ou cores. Nessa correlação gráfica, uma carinha com sorriso largo, ou a cor verde, corresponde ao conceito “Ótimo”. Já um rosto triste, ou a cor vermelha, se relaciona com o conceito “Péssimo”.
Essas escalas podem aferir o nível de satisfação e de aprendizado identificados pelos usuários no espaço.
Dica
Tendo em vista a possibilidade de utilizar os instrumentos de avaliação como forma de acompanhar o desenvolvimento das ações educativas mais longas, pode-se incorporar os próprios indicadores do cuidado na avaliação dos grupos. Em nosso caso-guia, pode-se, por exemplo, analisar regularmente a prevalência da obesidade infantil entre os usuários do serviço. Desse modo, as atividades educativas acabam por se conceber como instrumentos de cuidado coletivo, impactando a forma como se promove saúde e se previne fatores de risco ou exposição ao adoecimento.
Por fim, é importante salientar que, apesar de se configurar didaticamente como a etapa final do processo de planejamento, a avaliação é o marco da continuidade do desenvolvimento de ações, por retroalimentar e dar base para qualificar as ações educativas subsequentes.

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