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UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 1 CIÊNCIAS SOCIAIS Teoria Antropológica Clássica SEMESTRE 2 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 2 CIÊNCIAS SOCIAIS Créditos e Copyright Este curso foi concebido e produzido pela Unimes Virtual. Eventuais marcas aqui publicadas são pertencentes aos seus respectivos proprietários. A Unimes Virtual terá o direito de utilizar qualquer material publicado neste curso oriunda da participação dos alunos, colaboradores, tutores e convidados, em qualquer forma de expressão, em qualquer meio, seja ou não para fins didáticos. Copyright (c) Unimes Virtual É proibida a reprodução total ou parcial deste curso, em qualquer mídia ou formato. TOJI, Simone. Teoria Antropológica Clássica. Simone Toji. Santos: Núcleo de Educação a Distância da UNIMES, 2015. 102p. (Material didático. Curso de ciências sociais). Modo de acesso: www.unimes.br 1. Ensino a distância. 2. Ciências Sociais. 3. Antropologia Clássica. CDD 301 http://www.unimes.br/ UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 3 CIÊNCIAS SOCIAIS UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS FACULDADE DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS PLANO DE ENSINO CURSO: Licenciatura em Ciências Sociais COMPONENTE CURRICULAR: Teoria Antropológica Clássica SEMESTRE: 2º CARGA HORÁRIA TOTAL: 80 horas EMENTA: A disciplina apresenta as principais tradições de pensamento que consolidaram a Antropologia enquanto ciência e marco teórico dentro das ciências sociais. Apresenta reflexão teórica e metodológica sobre conceitos fundamentais da antropologia social britânica, do culturalismo norte-americano e do estruturalismo francês por meio do estudo de autores fundamentais e de conceitos como os de cultura, sociedade, função, estrutura e símbolo. Estabelece diálogo com temas atuais como a diversidade cultural, as relações de poder, as religiões, as relações dos homens com o mundo natural, indicando a vitalidade dos clássicos para pensar o mundo atual. OBJETIVO GERAL: Apresentar as bases conceituais e as principais tradições do pensamento antropológico clássico. Discutir e refletir a relação destes conceitos com temas atuais. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: Unidade I - A noção de cultura e sua relação com a identidade brasileira UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 4 CIÊNCIAS SOCIAIS Objetivos da Unidade Entender a noção de cultura e o que estuda a sociologia da cultura: a cultura como algo construído e não dado a priori. Explicitar as conexões entre a noção de cultura e as relações de poder, tendo em vista a construção da identidade nacional. Pensar neste o contexto o lugar da cultura para a formação Estado nacional brasileiro. Unidade II - O nascimento da cultura brasileira: a colônia Objetivos da Unidade Apresentar como a cultura brasileira foi construída no período colonial e suas transformações a partir do início do século XX, quando se dá a modernização política e econômica no país. Mostrar como a difusão da cultura no Brasil está ligada principalmente neste período às classes dominantes e à elite agrária. Unidade III - A cultura de massa no contexto da modernização Objetivos da Unidade Entender a ideia da cultura de massa em suas diversas expressões no Brasil: cinema, rádio, televisão, música e teatro. Mostrar como o desenvolvimento dessa cultura se relaciona com a industrialização brasileira e o desenvolvimento das relações capitalistas. Unidade IV - A cultura brasileira e sua construção no âmbito do Estado Objetivo da unidade Compreender como a identidade nacional e a cultura brasileira foram consideradas de diferentes maneiras e compreender qual o sentido de uma identidade ou memória que se querem nacionais. Retomar das teorias raciais do século XIX, bem como aquelas sobre a cultura popular, mostrando sua reverberação nas teorias sobre a formação nacional que vigoraram ao longo do século XX. Entender a unidade cultural da nação como um construto, em última medida, ideológico. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 5 CIÊNCIAS SOCIAIS CONTEÚDO PROGRAMÁTICO UNIDADE I: Apontamentos históricos sobre o surgimento da Antropologia enquanto ciência e a construção da alteridade. UNIDADE II: A antropologia social britânica. UNIDADE III: A Escola Sociológica Francesa e o Estruturalismo Antropológico. UNIDADE IV: O culturalismo norte-americano. Bibliografia Básica BOAS, Franz. Antropologia Cultural. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editores, 2005. EVANS-PRITCHARD, E. E. Os Nuer. São Paulo: Perspectiva, 1978. LÉVI-STRAUSS, Claude Antropologia Estrutural 1. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 1970. Bibliografia Complementar MAUSS, Marcel. Sociologia e Antropologia. São Paulo, Cosac e Naify, 2005. MARCONI, Maria de Andrade. Antropologia: Uma Introdução. São Paulo: ATLAS, 2008. GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro, LTC, 1989. MALINOWSKI, Bronislaw. Crime e Costume na Sociedade Selvagem. Brasilia, Editora UNB, 2008. OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. Sobre o Pensamento Antropológico. Rio de Janeiro, Tempo Brasileiro, 2003. METODOLOGIA: A disciplina está dividida em unidades temáticas que serão desenvolvidas por meio de recursos didáticos, como: material em formato de texto, vídeo aulas, fóruns e UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 6 CIÊNCIAS SOCIAIS atividades individuais. O trabalho educativo se dará por sugestão de leitura de textos, indicação de pensadores, de sites, de atividades diversificadas, reflexivas, envolvendo o universo da relação dos estudantes, do professor e do processo ensino/aprendizagem. AVALIAÇÃO: A avaliação dos alunos é contínua, considerando-se o conteúdo desenvolvido e apoiado nos trabalhos e exercícios práticos propostos ao longo do curso, como forma de reflexão e aquisição de conhecimento dos conceitos trabalhados na parte teórica e prática e habilidades. Prevê ainda a realização de atividades em momentos específicos como fóruns, chats, tarefas, avaliações a distância e Prova Presencial, de acordo com a Portaria de Avaliação vigente. http://campus20172.unimesvirtual.com.br/mod/resource/view.php?id=23875 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 7 CIÊNCIAS SOCIAIS Sumário Aula 01 – Viajantes, relatos oficiais, missionários: primeiras impressões de um outro mundo 9 Aula 02 - A sistematização do conhecimento: o surgimento do antropólogo ...........................14 Aula 03 - Terminologia e tradições do pensamento antropológico............................................17 Resumo da Unidade I ....................................................................................................................19 Aula 04 - Os antecessores: Rivers, Haddon, Seligman e a Expedição Cambridge ao Estreito de Torres .........................................................................................................................................21 Aula 05 - Malinowski e a consolidação do Funcionalismo .........................................................23 Aula 06 - A instituição do trabalho de campo como método de trabalho dentro da Antropologia ....................................................................................................................................26 Aula 07 - Radcliffe-Brown e a noção de estrutura social ............................................................29Aula 08 - Evans-Pritchard, os Nuer e a preocupação com os sistemas políticos africanos ...32 Aula 09 - Bateson e o Naven ........................................................................................................35 Aula 10 - Gluckman e os processos de conflito ..........................................................................37 Aula 11 - Victor Turner e a noção de drama social .....................................................................40 Aula 12 - A influência do estruturalismo francês - Leach ...........................................................42 Aula 13 - Mary Douglas e as abominações do Levítico..............................................................45 Resumo da Unidade II ...................................................................................................................47 Aula 14 - Durkheim e o olhar sociológico ....................................................................................50 Aula 15 - As Formas Elementares da Vida Religiosa, de Émile Durkheim...............................53 Aula 16 - Mauss e o fato social total - a questão da reciprocidade ...........................................56 Aula 17 - “As Técnicas Corporais”, de Marcel Mauss.................................................................59 Aula 18 - Lévi-Strauss – vida e obra ............................................................................................61 Aula 19 - O Estruturalismo e a noção de estrutura social ..........................................................63 Aula 20 - As Estruturas Elementares do Parentesco, de Lévi-Strauss, e seu impacto sobre os estudos antropológicos. ............................................................................................................65 Aula 21 - Análise estrutural de mitos ............................................................................................68 Aula 22 - O Pensamento Selvagem, de Lévi-Strauss.................................................................70 Resumo da Unidade III ..................................................................................................................73 Aula 23 - Franz Boas como pioneiro na Antropologia Americana ............................................75 Aula 24 - Cultura e personalidade ................................................................................................78 Aula 25 - Margareth Mead e a noção de ethos ...........................................................................80 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 8 CIÊNCIAS SOCIAIS Aula 26 - Outros enfoques: Geertz e a interpretação das culturas ...........................................82 Aula 27 - Estruturalismo e História: Marshall Sahlins .................................................................84 Resumo Unidade IV .......................................................................................................................86 Aula 28 - Os Diários de Malinowski ..............................................................................................88 Aula 29 - O “Estar Lá” – a visão de Geertz sobre a etnografia malinowskiana ........................91 Aula 30 - O nativo também faz etnografia ...................................................................................93 Aula 31 - Na Antropologia Brasileira ............................................................................................95 Aula 32 - Um poema ......................................................................................................................97 Resumo Unidade V ......................................................................................................................100 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 9 CIÊNCIAS SOCIAIS Aula 01_Viajantes, relatos oficiais e missionários: primeiras impressões de um outro mundo Nesta primeira aula, conheceremos alguns antecedentes que alimentaram a formação de um corpo de conhecimento sobre terras longínquas e povos diferentes dos europeus. Essa preocupação foi a semente para a criação da disciplina específica Antropologia. Vamos passear por essas histórias! A história das ciências está vinculada ao modo como os europeus organizaram o conhecimento, de forma sistemática e intensiva, principalmente a partir do século XIX. Porém, antes dessa maneira de conceber o saber, o conhecimento era produzido de modo espontâneo e sem muitas regras de procedimentos. No caso da história da Antropologia, o "conhecimento espontâneo" anterior fora produzido principalmente por três tipos de agentes: os viajantes, os cronistas oficiais e os missionários. Corriam os séculos XV, XVI e XVII, momento em que a Europa realizava sua expansão marítima. Ibéricos, italianos, entre muitos europeus, se aventuraram por águas e terras desconhecidas, em busca de oportunidades vantajosas de comércio. Lugares nos quais só se ouvia falar em lendas e histórias fantásticas eram, então, visitadas. Povos com costumes e modos de pensar diferentes eram contatados. A Índia, a China, o Oriente se tornaram rota da busca por especiarias. A América é descoberta a oeste. E todo o empreendimento da colonização é posto em movimento. O mundo se alargara e colocou em cena novos atores - índios e nativos de modos estranhos aos olhos europeus. Nas novas terras, o Novo Mundo, necessitava ser conhecido. Na dinâmica colonial, a produção de documentos sobre o que era inédito ficou a cargo de alguns sujeitos errantes. Que tal adentrar em alguns desses relatos, tendo por referência a empresa de colonização portuguesa e o Brasil? Camões, poeta viajante, pode nos indicar como as esquadras portuguesas encaravam esses percursos marítimos: UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 10 CIÊNCIAS SOCIAIS Desembarcamos logo na espaçosa Parte, por onde a gente se espalhou, De ver cousas estranhas desejosa, Da terra que outro povo não pisou. (...) Nem ele entende a nós, nem nós a ele, Selvagem mais que o bruto Polifemo. (...) (CAMÕES, Luis de. Os Lusíadas. Canto V, sonetos 26 e 28. Ateliê Editorial, 1999.) Esse trecho faz referência a uma parada do navio do narrador lírico no continente africano, enquanto ruma em busca das Índias Orientais. A descrição é de uma terra desconhecida, habitada por "selvagens", que o viajante português não consegue decifrar. Passando para um exemplo de relato oficial sobre terras recém descobertas, podemos apreciar a própria Carta de Pero Vaz de Caminha: Senhor, Posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a notícia do achamento desta Vossa terra nova, que se agora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que -- para o bem contar e falar -- o saiba pior que todos fazer! (..) A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixa de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência. Ambos traziam o beiço de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro, de comprimento de uma mão travessa, e da grossura de um fuso de algodão, agudo na ponta como um furador. Metem-nos pela parte de dentro do beiço; ea parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita a modo de roque de xadrez. E UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 11 CIÊNCIAS SOCIAIS trazem-no ali encaixado de sorte que não os magoa, nem lhes põe estorvo no falar, nem no comer e beber. (CAMINHA, Pero Vaz. Carta ao Rei Dom Manoel. Ed. Crisálida, 2002.) Aqui, o escrivão oficial da frota de naviosdo descobrimento do Brasil - a ainda Terra de Santa Cruz - descreve os habitantes com os quais a tripulação tomou contato, enfatizando a relação pacífica engendrada e classificando os indígenas como "inocentes". Ao contrário desta visão edílica, Hans Staden, mercenário alemão que esteve no Brasil por duas vezes, nos fornece um olhar mais aterrorizador dos habitantes que aqui encontrou, que o aprisionaram, até ser libertado por um comerciante francês: (...) A seguir retoma o tacape aquele que vai matar o prisioneiro e diz: "Sim, aqui estou eu, quero matar-te, pois tua gente também matou e comeu muitos dos meus amigos". Responde-lhe o prisioneiro: "Quando estiver morto, terei ainda muitos amigos que saberão vingar-me". Depois golpeia o prisioneiro na nuca, de modo que lhe saltam os miolos, e imediatamente levam as mulheres o morto, arrastam-no para o fogo, raspam-lhe toda a pele, fazendo-o inteiramente branco, e tapando-lhe o ânus com um pau, a fim de que nada dele se escape. Depois de esfolado, toma-o um homem e corta-lhe as pernas, acima dos joelhos, e os braços junto ao corpo. Vêm então as quatro mulheres, apanham os quatro pedaços, correm com eles em torno das cabanas, fazendo grande alarido, em sinal de alegria. Separam após as costas, com as nádegas, da parte dianteira. Repartem isto entre si. As vísceras são dadas às mulheres. Fervem-nas e com o caldo fazem uma papa rala, que se chama mingau, que elas e as crianças sorvem. Comem essas vísceras, assim como a carne da cabeça. O miolo do crânio, a língua e tudo o que podem aproveitar, comem as crianças. (..)Tudo isso vi, e assisti. (...) (STADEN, Hans. Duas viagens ao Brasil. 1ª ed., 1557. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/Edusp, 1974, pp. 176-8) Descrevendo os rituais de morte e canibalismo de inimigos, esse aventureiro europeu nos mostra um novo mundo mais "infernal". UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 12 CIÊNCIAS SOCIAIS Por fim, chegamos ao relato de um missionário francês, que preocupado com a salvação das almas dos silvícolas nos fornece descrições de nativos do Maranhão: Como se explica que os tupinambás, compartilhando a culpa de Adão e sendo herdeiros de seu pecado, não tenham herdado também a vergonha, consequência do pecado, como ocorreu com todas as nações do mundo? Pode-se alegar, em sua defesa, que em virtude de ser velho costume seu viverem nus, já não sentem pudor ou vergonha de mostrar o corpo descoberto e o mostram com a mesma naturalidade que nós as mãos. Eu direi entretanto que nossos pais só sentiram a vergonha e ocultaram sua nudez quando abriram os olhos, isto é, quando tiveram conhecimento do pecado e perceberam que estavam despidos do belo manto da justiça original. (...). Riscam com jenipapo as sobrancelhas, previamente arrancadas, e assim passam grande parte de sua existência, muito satisfeitas com tal mister. Os maiores e mais valentes guerreiros, para se tornarem mais estimados pelos seus companheiros e temidos de seus inimigos, têm por hábito picar e tatuar figuras no corpo (assim como fazemos em nossas couraças) por meio de um pedaço do osso da canela de certos pássaros, que afiam como navalhas. (Claude d’Abeville. História da Missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e terras circunvizinhas. 1ª ed., 1614. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/Editora da Universidade de São Paulo, 1975, pp. 216-18) Como bem assinalou esse missionário, a questão da possibilidade da salvação das almas dos indígenas jazia no argumento da consciência do pecado. Como os índios não tinham essa dimensão, eles eram apenas ingênuos, cujas almas não estavam perdidas. E porque esses índios tinham alma, então, eles também tinham humanidade, não eram animais brutos. A passagem por esses variados escritos nos expõe o mosaico de visões e posições acerca das novas terras e novos povos que o processo de colonização UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 13 CIÊNCIAS SOCIAIS colocou em evidência para os europeus ocidentais. Será a Antropologia que surgirá mais tarde como disciplina para sistematizar e organizar esse tipo de conhecimento. O texto aponta que o conhecimento sobre lugares e povos exógenos ao continente europeu foi produzido por três agentes principais da dinâmica colonial, os viajantes, os cronistas oficiais e os missionários. Tais relatos serão mais tarde sistematizados e trabalhados de modo científico pela Antropologia. Compare os trechos dos relatos apresentados durante a aula com algum escrito sobre habitantes do espaço. Você acha que há semelhanças no modo de descrever características que nos parecem estranhas? O desconhecido provoca simpatia ou medo? UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 14 CIÊNCIAS SOCIAIS Aula 02_A sistematização do conhecimento: o surgimento do antropólogo Em nossa segunda aula, acompanharemos a Antropologia ganhar status de ciência. Seguindo nosso percurso, o século XIX foi o momento em que muitos conhecimentos tomaram a forma de ciência. A prática científica se tornou um modo reconhecido de produzir o saber e criou suas regras e procedimentos específicos. Assim também aconteceu com a Antropologia. As universidades europeias se tornaram o lugar privilegiado para se desenvolver a ciência. E desse modo, também surgiram profissionais especializados para produzir o conhecimento, os cientistas. No caso da Antropologia, esses profissionais foram chamados de antropólogos ou etnólogos. Nos primórdios da formação da Antropologia como ciência, a maneira de realizar os estudos se consolidou no que hoje chamamos de “antropologia de gabinete”. Isto é, os antropólogos da época utilizavam-se dos relatos de viajantes, missionários e dados dos governos das metrópoles coloniais para realizar suas pesquisas. Eles não viajavam até os locais que investigavam, tampouco faziam contato com as populações estudadas. Eles faziam todo o trabalho recolhendo material a partir das mesas de seus escritórios. Por esse tempo, havia duas correntes de pensamento dominantes nas reflexões da Antropologia: o Evolucionismo e o Difusionismo. O Evolucionismo se pôs em evidência após o lançamento da obra de Charles Darwin, A Evolução das Espécies. Inspirados nessas discussões, cientistas sociais como Comte e Spencer transpuseram noções como evolução, competição, adaptação, para o plano da sociedade dos homens. Nesse sentido, surgiram ideias como a de progresso da civilização. E se na sociedade humana não havia diferença de espécies, havia as diferenças raciais. Por isso, muitos estudos antropológicos voltaram-se para confirmar a existência de raças entre os homens e de verificar quais seriam as raças superiores e as raças inferiores. Tendo como parâmetro que a UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 15 CIÊNCIAS SOCIAIS sociedade europeia ocidental era o modelo de povo civilizado, todos os outros povos acabaram sendo classificados como primitivos ou selvagens. Afora as consequências políticas e morais de tais pressupostos, o termo “primitivo” adentrou a disciplina, não sendo raro até hoje ouvir que a Antropologia é o “estudo das sociedades primitivas”. Porém, o uso do termo primitivo não carrega mais o valor pejorativo do evolucionismo. Os principais antropólogos evolucionistas foram Lewis Henry Morgan e Edward Burnett Tylor. Já o Difusionismo se caracterizava por pensar que certo elemento de um grupo social teria sido emprestado ou transformado de uma outra sociedade matriz. Assim sendo, escolhia-se um item, como por exemplo o uso do fogo na alimentação, e se costurava uma série de ligações históricas entre vários grupos humanos, que hipoteticamente teriam entrado em contato e desenvolvido formas semelhantesou transformadas de uso do mesmo item. Essa corrente de pensamento foi uma reação contra o evolucionismo, mas coexistiu com ele. Foi uma escola antropológica que tentou entender a natureza da cultura, em termos da origem da cultura e da sua extensão de uma sociedade a outra. O empréstimo cultural seria um mecanismo básico de evolução cultural. O Difusionismo defendeu que as diferenças e semelhanças culturais eram causa da tendência humana para imitar e a absorver traços culturais e a diversidade cultural explica-se pelas relações de empréstimo e não pela invenção independente. William Halse Rivers Rivers foi um exemplo um antropólogo difusionista. Contextualizadas as ideias científicas e antropológicas em voga, não podemos nos esquecer de que o mundo vivia sob o colonialismo direto ou indireto. Isso quer dizer de uma certa forma o conhecimento era produzido dentro da dinâmica de relação entre países metrópoles e países colônias, países civilizados ou países primitivos. A Antropologia balançava entre ser uma ciência que contribuía para produzir mais conhecimento sobre os “primitivos” para melhor ajudar a dominação da empresa colonial ou ser o registro do que restou nos países novos depois que a colonização “destruiu”. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 16 CIÊNCIAS SOCIAIS A partir do século XIX, a Antropologia se estabelece como ciência e seus profissionais, os antropólogos, voltavam suas mentes para ideias de correntes de pensamento como o Evolucionismo e o Difusionismo. Importante: É importante ressaltar que ainda em muitas situações o termo primitivo carrega valor pejorativo quando usado em situações em que é ainda relacionado a leituras evolucionistas, mesmo dentro do senso comum. É importante fazer esta ressalva, pois, mesmo quando encontrada nos textos antropológicos, a referência a “sociedades primitivas” deve levar em consideração que a antropologia estudada nos dias atuais já não mais utiliza os métodos, leituras e conceitos desses primeiros autores conhecidos como fundadores do evolucionismo cultural e do evolucionismo social. Você acredita na existência de raças humanas? Quais as consequências dessas concepções? UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 17 CIÊNCIAS SOCIAIS Aula 03_Terminologia e tradições do pensamento antropológico Finalizando esta unidade, aprenderemos algumas variações na designação do pensar e fazer antropológico, segundo as tradições britânica, francesa e americana. Vamos primeiramente obter uma visão abrangente da questão. O que denominamos aqui no Brasil como Antropologia tem suas variações de nome em outros lugares. Isso acontece dependendo da história de formação da disciplina em cada país específico. Por exemplo, na França, a criação dos estudos antropológicos está vinculada à disciplina da sociologia. A chamada Escola Sociológica Francesa, iniciada por Émile Durkheim no final do século XIX, teve papel determinante no desenvolvimento da antropologia como ciência. Porém, nesse início, os assuntos antropológicos eram chamados de Etnologia, sendo uma especialidade dentro da disciplina de sociologia. Os temas tratavam das formas de vida religiosa, das formas de trocas de povos da Oceania, dos índios norte-americanos, entre outros. Mais tarde o termo antropologia ganhou força e se tornou disciplina independente. No caso da Grã-Bretanha, a primeira cadeira da disciplina na Universidade de Cambrigde foi chamada de Antropologia Social. Sob esse nome é que se concentraram os estudos sobre povos da Oceania e África. Para os norte-americanos, os estudos antropológicos ganharam a alcunha de Antropologia Cultural, iniciando pesquisas principalmente sobre as populações indígenas remanescentes do povoamento americano e sobre os esquimós. As experiências de trabalho e criações teóricas dessas três linhas contribuíram para consolidar um corpo de pensamento antropológico. Por isso, UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 18 CIÊNCIAS SOCIAIS apesar das diferentes denominações e variações, elas ajudaram a formar o corpo de conhecimento que é a Antropologia. No Brasil, a disciplina recebe simplesmente o nome de Antropologia, enquanto Etnologia aparece como referência de estudos sobre os índios brasileiros. As próximas unidades apresentarão mais detalhadamente as tradições de pensamento dentro da Antropologia acima apresentadas. Resumo: Esta aula tratou da variação de nomes dados à Antropologia como disciplina científica. Na tradição francesa, usou-se primeiro o termo Etnologia. Na britânica, consolidou-se com o nome de Antropologia Social. Enquanto nos EUA, estabeleceu-se com a denominação de Antropologia Cultural. Apesar da variação, todos contribuíram por cristalizar a Antropologia enquanto disciplina científica. Reflexão: Tente lembrar se você já ouviu alguns dos termos apresentados. De que assunto ele tratava? UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 19 CIÊNCIAS SOCIAIS Resumo da Unidade I Nesta primeira unidade, tomamos contato com o contexto histórico e de formação da Antropologia enquanto saber científico. Antes dela, relatos de viajantes, missionários e cronistas oficiais produziram o conhecimento de lugares distantes e populações diferentes do ambiente europeu. A Antropologia nasceu dentro da dinâmica do empreendimento colonialista e correntes de pensamento como o Evolucionismo e o Difusionismo estavam em voga nessa época. Para a formação da Antropologia como ciência cada lugar desenvolveu uma variação de termo para a disciplina. Na França, primeiramente foi chamada de Etnologia. No Reino Unido, estabeleceu-se como Antropologia Social e nos EUA ficou conhecida como Antropologia Cultural. Essas três tradições de pensamento formam a chamada Antropologia Clássica. Glossário da Unidade I Antropologia de gabinete: antropólogos do final do século XIX e início do XX que se utilizavam dos relatos de viajantes, missionários e dados dos governos das metrópoles coloniais para realizar suas pesquisas. Eles não viajavam até os locais que investigavam, tampouco faziam contato com as populações estudadas. Eles faziam todo o trabalho recolhendo material a partir das mesas de seus escritórios. Antropologia Cultural: termo utilizado pelos os norte-americanos para se referir aos estudos antropológicos. Antropologia Social: denominação consolidada na Grã-Bretanha para a disciplina de Antropologia. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 20 CIÊNCIAS SOCIAIS Evolucionismo: corrente de pensamento dentro da antropologia baseada nas ideias de Charles Darwin, de A Evolução das Espécies, e em Comte e Spencer, que transpuseram noções como evolução, competição, adaptação, para o plano da sociedade dos homens. Nesse sentido, surgiram ideias como a de progresso da civilização. Estudos sobre raça e progresso das sociedades foram desenvolvidos. Escola Sociológica Francesa: grupo de estudiosos, liderados por Émile Durkheim, que teve papel determinante no desenvolvimento da antropologia como ciência no final do século XIX. Difusionismo: corrente de pensamento que se caracterizava por selecionar certo elemento de um grupo social e verificar se teria sido emprestado ou transformado de uma outra sociedade matriz, de modo histórico e geográfico. Referências Bibliográficas da Unidade I D´ABEVILLE, Claude. História da Missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão e terras circunvizinhas. 1ª ed., 1614. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/Editora da Universidade de São Paulo, 1975, pp. 216-18. CAMINHA, Pero Vaz. Carta ao Rei Dom Manoel. Ed. Crisálida, 2002. LÉVI-STRAUSS, Claude. “Lugar da Antropologia nas Ciências Sociais e problemas colocadospor seu ensino”. In: Antropologia Estrutural. Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, 1996. CAMÕES, Luis de. Os Lusíadas. Canto V, sonetos 26 e 28. Ateliê Editorial, 1999. STADEN, Hans. Duas viagens ao Brasil. 1ª ed., 1557. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/Edusp, 1974, pp. 176-8. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 21 CIÊNCIAS SOCIAIS Aula 04_Os antecessores: Rivers, Haddon, Seligman e a Expedição Cambridge ao Estreito de Torres Antes de nos concentrarmos no Funcionalismo como corpo teórico da Antropologia, nesta aula, vamos acompanhar alguns precursores que abriram os caminhos na Grã-Bretanha. Como trabalhamos na Unidade I, a Antropologia se institucionaliza como disciplina científica no final do século XIX. No Reino Unido, a Universidade de Cambrigde e a London School of Economics serão as primeiras universidades a oficializar cursos de estudos antropológicos. É, então, por iniciativa da Universidade de Cambrigde que é organizada em 1898 uma expedição à Oceania, a chamada Expedição Cambridge ao Estreito de Torres, que visitou terras e populações da Melanésia e Nova Guiné. Coordenada por Alfred Cort Haddon, a expedição reuniu especialistas de várias áreas como a de Biologia, Botânica e, claro, da de Antropologia. O grupo coletou objetos de cultura material - como utensílios, ferramentas de nativos - espécimes da fauna e da flora local, além de realizar registros de imagens de danças e rituais. Antropólogos como William Halse R. Rivers e Charles G. Seligman reuniram informações e material sobre os povos locais. Ainda sob a prática da antropologia de gabinete, esses cientistas fizeram o esforço de viajar e entrar em contato com as populações que eram objeto de suas pesquisas. Eles chegavam de navio até as localidades, contatavam as autoridades coloniais do lugar e pediam a elas que lhes apresentassem grupos de nativos. Esses antropólogos se utilizaram do apoio de intérpretes para realizar o preenchimento de fichas de informações sobre os nativos, enquanto os aborígenes aguardavam em fila em frente à mesa do pesquisador, posta do lado de fora da embarcação. Tal expedição ao Estreito de Torres inspirou a realização de outras viagens, como a expedição de um ano de Walter Baldwin Spencer e Francis James Gillen em 1901 e a Expedição Antropológica de Oxford e Cambridge à Austrália Ocidental em UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 22 CIÊNCIAS SOCIAIS 1910-11, com a participação de Alfred Radcliffe-Brown. Além disso, transformou a área da Oceania em foco para o desenvolvimento teórico da Antropologia. Resumo: O texto fala da experiência da Expedição Cambridge ao Estreito de Torres, que foi um antecedente importante para o desenvolvimento dos estudos antropológicos na Grã-Bretanha. Tal viagem estabelece a Oceania como área-foco de pesquisa e se mostra como uma transição entre a antropologia de gabinete e a antropologia de campo. Importante: Note que, apesar de terem viajado em tais expedições, alguns desses autores ainda são considerados parte dos antropólogos de gabinete, pois estudavam também dados trazidos por cronistas e viajantes. Os antropólogos ingleses que deixam de ter tal alcunha são os que começam a realizar pesquisas de campo em que convivem com as sociedades pesquisadas, como Edward Evans- Pritchard e Bronislaw Malinowski. É preciso lembrar também que, nem todos os antropólogos de gabinete são evolucionistas ou difusionistas. Marcel Mauss é uma grande referência dentro da antropologia até hoje e foi um antropólogo que escreveu textos baseados em fontes trazidas por outros autores. Reflexão: Imagine que você faz parte de uma expedição a um lugar remoto na região amazônica do Brasil, onde você não conhece ninguém. O que você esperaria encontrar por lá? Como você procederia para entrar em contato com os povos que habitam a região? UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 23 CIÊNCIAS SOCIAIS Aula 05_Malinowski e a consolidação do Funcionalismo Em nossa quinta aula, conheceremos o trabalho de Bronilaw Malinowski e sua contribuição aos estudos antropológicos. Bronilaw Malinowski nasceu na Polônia em 1884 e até seus vinte e poucos anos estudava Ciências Exatas e realizava seu doutoramento em Física e Química na Alemanha. Conta a lenda que de uma hora para outra, ele cai doente e tem de parar com sua pesquisa. É quando, enfermo, lhe cai nas mãos o livro de James Frazer, O Ramo de Ouro, e Malinowski decide estudar Antropologia. Então, já restabelecido, parte para a Inglaterra e vai estudar na London School of Economics. Sob a orientação do Profº Seligman, ele vai para a Austrália para realizar pesquisa nos arquipélagos da Oceania. É quando eclode a I Guerra Mundial e Malinowski, como cidadão de passaporte austríaco, é considerado um “estrangeiro inimigo”. Então as autoridades australianas permitem que ele permaneça nas Ilhas Trobriand, estudando os nativos dali e convivendo com eles. Durante todo o período da guerra, Malinowski fica estabelecido junto aos trobriandeses. Como um golpe do acaso, seu trabalho antropológico é obrigado a se tornar intensivo, isto é, ele passa a morar na aldeia junto com os aborígenes durante períodos prolongados de pelo menos um ano. Abandonado pela esfera oficial, o pesquisador fica sem intérprete e tem de aprender a língua vivendo junto com os nativos. Terminada a I Guerra Mundial em 1918, Malinowski retorna à Inglaterra e em 1922 publica a obra Argonautas do Pacífico Ocidental, baseada na sua estadia nas Ilhas Trobriand. A partir desse trabalho, Malinowski impõe novos modelos de referência para a Antropologia. Primeiro, ele muda os parâmetros de obtenção das informações para a pesquisa, instituindo o trabalho de campo como método necessário e legítimo. Segundo, ele mostra um novo arcabouço teórico para explicar a dinâmica de uma sociedade, que será mais tarde denominado de Funcionalismo. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 24 CIÊNCIAS SOCIAIS Nesta aula, vamos analisar alguns conceitos do citado Funcionalismo e deixaremos a próxima aula para aprofundar as atribuições do trabalho de campo como novo método de pesquisa. Vamos apreciar esse corpo teórico por meio da obra Argonautas do Pacífico Ocidental. Em sua obra seminal, Malinowski nos coloca em contato com os grupos trobriandeses, localizados na Melanésia. Para o autor, a sociedade trobriandesa deveria ser explicada por meio das atividades que desenvolve e não por hipóteses históricas que não poderiam ser comprovadas, já que esses grupos não possuíam escrita. Desse modo, é enfatizada uma abordagem sincrônica das instituições sociais, ou seja, a sociedade é explicada a partir das ações e referências que elabora no presente. Ao mesmo tempo, todas as atividades realizadas pelas tribos das Ilhas Trobriand estão articuladas entre si, de maneira que todas as partes da sociedade são interdependentes. Assim, nos agrupamentos trobriandeses, a instituição que melhor demonstra essa interligação entre partes sociais é o kula. O kula se refere ao sistema de trocas desenvolvido pelas tribos trobriandesas, que não visa apenas o caráter econômico, mas também tem caráter cerimonial. A troca no kula não se satisfaz na troca de produtos, mas é também uma forma dos nativos se relacionarem e celebrarem os encontros. Como as populações pesquisadas vivem em ilhas, as trocas são realizadas por meio de canoas. Assim, a construção de canoas e as práticas religiosas estão relacionadas para a execução do kula. Entretanto , há um aspecto do Kula para o qual devo chamar a atenção, tendo em vista sua importância teórica. Vimos que essa instituição apresenta vários aspectos intimamente ligados e que se influenciam mutuamente. Paratomar apenas dois: a iniciativa econômica e o ritual mágico formam um todo inseparável, onde as forças da crença mágica e os esforços dos homens moldam-se e influenciam-se mutuamente. Parece-me que uma análise e comparação mais profunda da maneira pela qual dois aspectos da cultura dependem funcionalmente um do outro, deve fornecer algum material interessante para a reflexão teórica.[1] http://campus20162.unimesvirtual.com.br/mod/page/view.php?id=32321&inpopup=1#_ftn1 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 25 CIÊNCIAS SOCIAIS Desse modo, se a sociedade é considerada uma totalidade cujas partes estão articuladas, a interligação é assegurada porque cumpre uma função para manter o todo social e para satisfazer as necessidades dos indivíduos envolvidos. Resumo: Nesta aula, conhecemos um pouco da trajetória de Bronislaw Malinowski e de como sua experiência de trabalho com as tribos das Ilhas Trobriand resultou na inclusão do trabalho de campo como método científico na Antropologia e na proposição de análise teórica denominada Funcionalismo. O Funcionalismo toma a sociedade como um todo, cujas partes estão articuladas porque exercem uma função social. Importante: O funcionalismo recebeu este nome justamente por considerar que uma sociedade é formada por partes interligadas que se relacionam funcionalmente. Ex: fabricação de canoas se relaciona com a troca de conchas, ou seja, um comportamento é realizado em função de outro. Deste modo, a lógica dos comportamentos dentro de um grupo se explica por ela mesma no momento em que está sendo observada e não na comparação com outros grupos em outros períodos históricos (isso é uma abordagem sincrônica) Reflexão: É possível pensar as trocas da sociedade ocidental atual na perspectiva do kula? Por quê? [1] MALINOWSKI, Bronislaw - Argonautas do Pacífico Ocidental, São Paulo, Abril, Coleção Os Pensadores, 1977 Cap. XXII, p. 369. http://campus20162.unimesvirtual.com.br/mod/page/view.php?id=32321&inpopup=1#_ftnref1 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 26 CIÊNCIAS SOCIAIS Aula 06_A instituição do trabalho de campo como método de trabalho dentro da Antropologia Como adiantado na aula passada, hoje vamos analisar mais atentamente as características que constituem o modelo de pesquisa de campo instituído a partir de Malinowski. A estadia prolongada de Malinowski nas Ilhas Trobriand e a publicação de Argonautas do Pacífico Ocidental definiram um novo modo de obter dados e informações sobre nativos de terras distantes. Como já ensaiara as diversas expedições britânicas realizadas no final do século XIX e começo do XX, era preciso chegar até os grupos pesquisados. Porém, Malinowski estabeleceu parâmetros rigorosos para o que viria a ser conhecido como trabalho de campo. Vamos seguir alguns de seus critérios. Antes de mais nada, o antropólogo deve “afastar-se da companhia de outros homens brancos, mantendo-se assim em contato o mais íntimo possível dos nativos.”[1] Isso quer dizer que o pesquisador deve ir viver junto com os pesquisados durante um longo período, segundo o autor, no mínimo um ano, evitando apenas contatos esporádicos. O antropólogo também não deve se utilizar de intérpretes para se relacionar com os nativos, deve evitar ao máximo a utilização de intermediários para obter as informações sobre a vida social local e deve também aprender a língua nativa, o que lhe possibilitará não tomar a opinião pessoal de intérpretes como dado da pesquisa. E o mais importante de tudo, o antropólogo deve tentar se integrar à vida cotidiana do grupo que escolheu estudar, tomando parte dos afazeres e eventos quando possível. A isso Malinowski dá o nome de observação participante, pois é no relacionamento com os pesquisados que o cientista vai apreendendo as instituições sociais. O diário etnográfico se mostra como instrumento ideal para o acompanhamento da jornada de pesquisa. http://campus20162.unimesvirtual.com.br/mod/page/view.php?id=32329&inpopup=1#_ftn1 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 27 CIÊNCIAS SOCIAIS Dessa maneira, o isolamento do antropólogo de sua sociedade original e a imersão na cultura do pesquisado, de modo ativo, servirão de base para constituir um trabalho de campo intensivo e acurado. Malinowski ainda aponta que no trabalho de campo, o pesquisador não deve se ater a fatos exóticos ou sensacionais. Deve acompanhar sistematicamente os fenômenos que acontecem na vida social nativa e procurar os princípios e leis que a organizam. Ao mesmo tempo, deve sempre atentar para a diferença do que os pesquisados dizem e o que eles fazem, pois nem sempre o declarado é realizado. Além disso, o autor despreza a utilização de formulários ou questionários estatísticos, pois muitos dos fenômenos importantes à vida social dos pesquisados não aparecem nesse tipo de coleta de dados. Após a convivência e apreensão de informações junto aos nativos, cabe ao pesquisador sistematizar e realizar uma análise profunda do que recolheu e vivenciou, ligando as diversas facetas do cotidiano social do pesquisado. Então, como resultado final, o antropólogo deve apresentar uma etnografia, isto é, sua experiência em campo articulada da análise social. Isso não quer dizer que não houve outros autores que também estavam preocupados em realizar trabalho de campo intensivo. Veremos mais à frente a experiência de Franz Boas nos EUA. Mas Malinowski foi alguém que se tornou referência no assunto e criou uma reflexão a respeito. Resumo: O texto acima discorreu sobre o estabelecimento do trabalho de campo como método científico na Antropologia através do trabalho de Malinowski. Entre os principais critérios para realizar o trabalho de campo estão: viver junto dos pesquisados de modo intensivo, não utilizar intermediários - como os intérpretes - para obter as informações de pesquisa e participar das atividades cotidianas ou rituais dos pesquisados quando possível por meio da observação participante. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 28 CIÊNCIAS SOCIAIS Reflexão: Compare métodos de trabalho de ciências diferentes da Antropologia. O que dá a objetividade e a legitimidade desses estudos em comparação à Antropologia? [1] MALINOWSKI, Bronislaw. “Introdução”, In: Argonautas do Pacífico Ocidental, São Paulo: Abril, Coleção Os Pensadores, 1977. http://campus20162.unimesvirtual.com.br/mod/page/view.php?id=32329&inpopup=1#_ftnref1 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 29 CIÊNCIAS SOCIAIS Aula 07_Radcliffe-Brown e a noção de estrutura social Nesta aula vamos acompanhar o desenrolar da teoria antropológica na Grã-Bretanha por meio do autor Radcliffe-Brown, que ficou conhecido por desenvolver um tipo de teoria estrutural funcionalista. Vamos conhecer alguns de seus conceitos. Radcliffe-Brown nasceu em Birmingham em 1881. Cursou a Universidade de Cambridge em Ciências Mentais e Morais e teve entre seus mestres Charles Samuel Myers e William Halse R. Rivers, que participaram da Expedição ao Estreito de Torres. Em, 1904 tornou-se aluno de Rivers em Antropologia. Orientado por Rivers e Alfred Cort Haddon, Radcliffe-Brown realizou estudos nas Ilhas Andaman, na Oceania entre 1906 e 1908. Já em 1910 passa a exibir grande influência da concepção teórica do francês Durkheim. Em 1922, publica The Andaman Islanders. A partir do final da década de 1930, as elaborações teóricas de Radcliffe- Brown passam a ganhar preponderância no mundo acadêmico britânico. A preocupação de Radcliffe-Brown era produzir estudos sobre sociedades que não tinham escrita, e por isso, não eram passíveis de realizar estudos históricos, era preciso abordar os processos sincrônicos da vidasocial. Traduzindo: imagine chegar num grupo social, que não possui registros escritos e você deve realizar alguma avaliação a respeito. Você se limita a observar os elementos da vida nativa no tempo presente, que lhes estão disponíveis. A principal fonte de informações pode ser o sistema de parentesco atuante. Assim fez Radcliffe-Brown. Vejamos seus conceitos-chave. A primeira noção é o de relações sociais, que são os vínculos e interações entre as pessoas. A rede contínua e organizada de relações sociais é denominada estrutura social. “... os componentes ou unidades de uma estrutura social são as pessoas e uma pessoa é um ser humano considerado não como um organismo, mas como tendo uma posição numa dada estrutura social.”[1] http://campus20162.unimesvirtual.com.br/mod/page/view.php?id=32330&inpopup=1#_ftn1 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 30 CIÊNCIAS SOCIAIS As relações sociais entre as pessoas são controladas por normas e regras. A essas normas e comportamento estabelecidas numa certa forma de vida social dá- se o nome de instituição social. Assim, as regras de comportamento que um homem deve ter com relação a seus filhos é um tipo de instituição social como a paternidade. Outra ideia importante é a de processo social, porque para o autor a realidade que o antropólogo estuda não é uma entidade em si, mas é o processo da vida social, que “consiste numa multidão imensa de ações e interações dos seres humanos, agindo individualmente ou em conjunto com outros indivíduos ou grupos de indivíduos” Já o conceito de função social é a relação entre a estrutura social e o processo da vida social, na qual um depende do outro para se manterem. Para as relações entre as pessoas continuarem a existir, é preciso que as regras e instituições sociais sejam ativadas e exercidas, para que a vida social continue seu processo e vice-versa. Radcliffe-Brown, ao contrário de Malinowski, deu maior ênfase na interpretação dos fenômenos sociais na abordagem sociológica e não na abordagem psicológica do homem. Brown também ajudou a fundar a disciplina de Antropologia em países como a Austrália e a África do Sul, acompanhando o ritmo da dinâmica colonial inglesa. Também presenciou a mudança de foco da Antropologia Social Britância que vinha atuando intensamente na Oceania e agora passava a analisar as sociedades na África. Resumo: O texto apresentou o desenvolvimento teórico que se seguiu ao funcionalismo malinowskiano, que foi elaborado por Radcliffe-Brown. Tal grade teórica fico chamada como Estruturo-funcionalista, pois foram trabalhados os conceitos de estrutura social, instituição, função social e processo social. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 31 CIÊNCIAS SOCIAIS Importante: Podemos dizer que Malinowski enfatiza aspectos da vida psicológica do homem no sentido de que ele volta-se para inclinações humanas para explicação dos fenômenos (a troca, nesse sentido, é um fenômeno humano). Enquanto isso, Radcliffe-Brown interpreta os comportamentos como parte das relações sociais que nos fazem humanos (a troca, nesse sentido, é uma manifestação empírica de uma relação social). São leituras filosóficas para pensar os comportamentos humanos um pouco distintas uma da outra, mas ambos ainda são considerados antropólogos. Reflexão: Tente aplicar alguns conceitos estudados nesta aula sobre a genealogia da sua família. Observe as relações de matrimônio, consanguinidade ou afinidade e tire alguma conclusão a respeito. [1] RADCLIFFE-BROWN, A. “Introdução”, In: Estrutura e função na sociedade primitiva. Petrópólis: Vozes 1973, p.17. http://campus20162.unimesvirtual.com.br/mod/page/view.php?id=32330&inpopup=1#_ftnref1 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 32 CIÊNCIAS SOCIAIS Aula 08_Evans-Pritchard, os Nuer e a preocupação com os sistemas políticos africanos Continuando com a história de desenvolvimento da Antropologia Social Britânica, nesta aula, vamos conhecer o trabalho de Evans-Pritchard. Herdeiro de Radcliffe-Brown, Evans-Pritchard o sucedeu na cátedra de Antropologia Social na Universidade de Oxford em 1946. Em 1937, ele publicara Bruxaria, Oráculos e Magia, sobre os Azande, na qual a principal preocupação era a questão da racionalidade nas práticas e crenças africanas. Aos estudos de parentesco, incluiu as preocupações a respeito dos sistemas políticos, com a publicação juntamente com Fortes, em 1940, de Sistemas Políticos Africanos. Ainda em 1940, Evans-Pritchard publica sua monografia Os Nuer, povo africano que habitava ao sul do rio Nilo. É sobre este trabalho que a aula de hoje será desenvolvida. Os Nuer eram grupos que ocupavam a África Oriental, juntamente com outros agrupamentos que se localizavam nas proximidades dos cursos d´água do rio Nilo. Evans-Pritchard estabeleceu contato com esse grupo justamente no momento em que eles combatiam tropas britânicas e soldados do governo do Sudão. O antropólogo fez inúmeras incursões junto aos Nuer em 1930, 1931, 1935 e 1936, que foram interrompidas devido falta de financiamento ou aos problemas de conflito com as tribos, mas juntando todo o período declara que realizou quase um ano de pesquisa. Segundo o autor, o principal interesse dos Nuer é a sua preocupação com o gado. Os bovinos expressavam todo o orgulho e as relações sociais de prestígio entre aqueles africanos. Outro ponto, é que a economia de criação do gado estava intimamente ligada ao ritmo ecológico e social. Desse modo, o tempo Nuer era dividido em duas estações principais, a estação das chuvas e a estação da seca. Essas estações também eram marcadas pela mobilidade espacial, pois no tempo das chuvas, os Nuer permaneciam nas planícies, engordavam seu gado e se UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 33 CIÊNCIAS SOCIAIS sustentavam da caça e da roça. No tempo das secas, eles migravam para perto das margens dos rios e se alimentavam da pesca. Os Nuer não concebiam um tempo abstrato, eles marcavam o tempo por meio das atividades, a hora de levar o gado para pastar, o momento de se mudar para os rios. Por isso, eles não lutavam contra o tempo, o tempo eram as próprias atividades que realizavam. Os Nuer não apresentavam instituições exuberantes, nem práticas que chamassem muita atenção, nem cultura material impressionante. O mesmo acontecia com suas formações políticas. Eram grupos sem um centro visível de poder, não havia chefes todo-poderosos. Os guerreiros, chefes da pele de leopardo, que só atuavam nos momentos de combate e de modo temporário. Havia também os profetas que possuíam função sagrada, mas não governavam, nem julgavam. Por essas características, os Nuer foram considerados uma sociedade constituída por uma espécie de anarquia ordenada. Um artifício de construção da identidade Nuer foi descrito por Evans- Pritchard. Dependendo quem for o interlocutor, um Nuer pode se identificar como lou, lak ou leng. Se o Nuer fala com um estrangeiro, ele se apresenta como Nuer, se ele fala com alguém de outra tribo, ele se apresenta como da tribo lou, se fala com alguém de sua tribo, ele apresenta sua linhagem de parentesco. O mesmo ocorre nas disputas, dependendo do inimigo as tribos se associam ou travam lutas entre si. As linhagens etárias e de parentesco aparecem como formas de organização social juntamente com as formas políticas. Resumo: Nesta aula, vimos a inclusão da preocupação com sistemas políticos na tradição de pensamento da Antropologia Social Britânica por meio do autor Evans-Pritchard e sua etnografia sobre os Nuer, povo da parte oriental do continente africano. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 34 CIÊNCIAS SOCIAIS Importante: Note que oautor, assim como Radcliffe-Brown e Malinowski, está preocupado em entender as relações sociais a partir do que é apresentado pelos nativos e não a partir de comparações históricas ou culturais, seguindo uma postura crítica em relação ao evolucionismo cultural e ao difusionismo, respectivamente. Evans-Pritchard mostrou como uma sociedade sem Estado se organiza e organiza suas relações com outros grupos ao estudar os Nuer. Reflexão: Contraposto a que modelo de sistema político os Nuer foram considerados como sociedade “anárquica”? Algumas tribos indígenas brasileiras também não possuem uma forma centralizada de poder, você considera que são sociedades sem formas de poder constituído? Por quê? UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 35 CIÊNCIAS SOCIAIS Aula 09 - Bateson e o Naven Nesta parte, iremos conhecer a obra de Gregory Bateson em Naven, cuja elaboração teórica ficou esquecida dentro da história da disciplina, mas atualmente começa a ser redescoberta, dada sua originalidade. Vamos resgatá-la. Gregory Bateson era um cientista natural na Universidade de Cambrigde, até que A.C. Haddon o convidasse para estudar Antroplogia e o enviasse à Nova Guiné. Bateson recebeu a influência teórica tanto de Malinowski quanto de Radcliffe-Brown a sua formação, como podemos perceber no uso muito particular de noções como função social e forma estrutural. Em 1936, publica Naven. Naven é um comportamento cerimonial dos povos Iatmul da Nova Guiné, Oceania, no qual os homens se vestem de mulher e as mulheres vestem-se de homem, numa apresentação recheada de zombaria, em que o gesto mais característico acontece quando um “tio” esfrega as nádegas na perna do “sobrinho”. Essa encenação é ativada toda vez que o filho da irmã, o laua, executa pela primeira alguma tarefa considerada importante como pescar o primeiro peixe ou construir uma canoa. A partir desse rito, Bateson vai trabalhar planos múltiplos e simultâneos da cultura Iatmul. Transformando os conceitos do funcionalismo malinowskiano, as noções do estruturalismo de Radcliffe-Brown e a antropologia cultural americana, ele desenvolve os planos sociológico, estrutural e emotivo com as idéias de função estrutural, função ethológica, função afetiva, função eidológica e função sociológica para explicar o sentido do ritual naven. Um dos pontos de sua originalidade é colocar que a cultura Iatmul só poderia ser coerentemente compreendida se desvendada juntamente com o aspecto emotivo do rito, a zombaria e seu aspecto cognitivo e simbólico. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 36 CIÊNCIAS SOCIAIS Resumo: Aqui vimos a contribuição de Gregory Bateson, na sua obra Naven, que trata da cultura dos povos Iatmul da Nova Guiné, por meio de um rito de zombaria, cujo elemento afetivo é importante para entender os outros aspectos da cultura. Reflexão: Você conhece algum outro autor que ficou muitos anos esquecidos e só depois de muitos anos sua obra é redescoberta. Por que você acha que isso acontece? UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 37 CIÊNCIAS SOCIAIS Aula 10_Gluckman e os processos de conflito Esta aula apresentará a evolução da Antropologia Social Britânica para os problemas de conflito, processo e integração ritual por meio da obra de Max Gluckman. Max Gluckman nasceu na África do Sul, foi para a Universidade de Oxford em 1934 para realizar seu doutorado em Antropologia. Realizou trabalho de campo entre os Zulus entre 1936 e 1938 e, em 1940, publicou seu primeiro ensaio na obra Sistemas Políticos Africanos, organizada por Fortes e Evans-Pritchard. Lá, já demonstrava sua preocupação com as formas de oposição e conflito. A partir de 1939, colaborou para o desenvolvimento do Instituto Rhodes Livingstone e transferiu seus estudos dos grupos zulus para os grupos da África Central. Em 1949, Gluckman foi nomeado professor na Universidade de Manchester para criar o novo departamento. Nas análises de Gluckman, os ritos apresentam-se como pontos privilegiados para a observação da dinâmica social. A vida social possui uma estabilidade dinâmica, e não estática, da qual os conflitos podem restabelecer o equilíbrio social. Ao discorrer sobre rituais de rebelião no sudeste da África, o autor nos mostra formas institucionalizadas de conflitos com função de integração social. Isto significa que existem cerimônias, que apresentam propositalmente elementos de tensão social para confirmar a estrutura do sistema social. ...eu as chamo de rituais de rebelião. Demonstrarei que seguem esquemas tradicionais estabelecidos e sagrados nos quais são questionadas as distribuições particulares de poder e não a própria estrutura do sistema. Isso permite protesto institucionalizado, além de renovar a unidade do sistema de várias e complexas maneiras.[1] Aqui é importante também a noção de processo social, pois as instituições sociais só são confirmadas quando colocadas sob a pressão do conflito e, assim, http://campus20162.unimesvirtual.com.br/mod/page/view.php?id=32336&inpopup=1#_ftn1 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 38 CIÊNCIAS SOCIAIS postas em movimento para revitalizar a estrutura social. Cerimônias que afirmam o conflito e a tensão, como as dos grupos zulus, que acabam por representar simbólica e dramaticamente as relações sociais, em toda a sua ambivalência, conseguem levar à unidade e prosperidade da sociedade e não à mudança social. A aceitação da ordem estabelecida como certa, benéfica e mesmo sagrada parece permitir excessos desenfreados, verdadeiros rituais de rebelião, pois a própria ordem age para manter a rebelião dentro de seus limites. Assim, representar os conflitos, seja diretamente, seja inversamente, seja de maneira simbólica, destaca sempre a coesão social dentro da qual existe os conflitos. Todo sistema social é um campo de tensões, cheio de ambivalências, cooperações e lutas contrastantes. [2] Gluckman ainda desenvolveu estudos sobre as áreas urbanas e rurais, focando os africanos como trabalhadores que se deslocam pelo sistema rural e industrial ao mesmo tempo. Desse modo, também foi pioneiro nos estudos de antropologia urbana. Resumo: Nesta parte vimos como o tema dos conflitos se desenvolve dentro da tradição de pensamento da Antropologia Social Britânica por meio do trabalho de Max Gluckman. E seus trabalhos sobre os povos africanos zulus, ele ressalta que existem rituais de rebelião, isto é, formas institucionalizadas de demonstrar os conflitos sociais, de maneira que tal prática acaba por reforçar a unidade do sistema social. Importante: As preocupações de Gluckman inauguram um método e uma postura teórica nova dentro da antropologia que caracteriza o pensamento da escola de Manchester: o estudo dos processos sociais internos a cada sociedade. Compreendemos melhor essa nova forma de pensar a estrutura social a partir do evento narrado pelo autor. Além disso, Gluckman nos permite ampliar o olhar sobre a estrutura social quando assume que estruturas sociais podem conter diferentes http://campus20162.unimesvirtual.com.br/mod/page/view.php?id=32336&inpopup=1#_ftn2 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 39 CIÊNCIAS SOCIAIS grupos culturais e que há um processo histórico interno a cada sistema que explica a relação de forças entre seus membros. Reflexão: Se você considerar o futebol uma forma de ritual de conflito institucionalizado, no qual dois times rivais entram em disputa seguindo regras bem precisas, quais seriam as suas significações, simbolizações e quais os seus efeitos para a sociedade brasileira? [1] GLUCKMAN, Max - Rituais de rebelião no sudeste da África. In: Cadernos de Antropologia. EditoraUniversidade de Brasília. 1974 [2] GLUCKMAN, Max. Idem http://campus20162.unimesvirtual.com.br/mod/page/view.php?id=32336&inpopup=1#_ftnref1 http://campus20162.unimesvirtual.com.br/mod/page/view.php?id=32336&inpopup=1#_ftnref2 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 40 CIÊNCIAS SOCIAIS Aula 11_Victor Turner e a noção de drama social Na aula que segue, vamos estudar como a preocupação sobre os processos sociais de conflitos na Antropologia Social Britânica desemboca na elaboração teórica sobre o simbolismo social principalmente através da noção de drama social na obra de Victor Turner. Victor Turner nasceu em 1920 e foi aluno de Gluckman na Universidade de Manchester no final da década de 1940. Iniciou seus estudos analisando os processo de conflito e resolução de conflitos em sociedades tribais da região da África Central. Em 1957, publica Schism and Continuity in an African Society, analisando a organização social Ndembu. A obra de Gluckman já anunciava certa preocupação sobre os processos de significação e representação presentes nas formas rituais de conflito. Porém, Turner vai se concentrar mais no desenvolvimento teórico do aspecto simbólico do ritual. Isso fica evidente com a publicação, em 1967, de The Forest of Symbols – Aspects of Ndembu Ritual, em que aponta como os rituais estão carregados de simbolismo social. Na obra citada, o autor apresenta os vários níveis de observação e interpretação presentes nos elementos rituais, sublinhando a multivocalidade dos símbolos, isto é, um mesmo símbolo pode representar coisas distintas, de acordo com as diferentes fases do ritual, e também coisas diferentes para pessoas distintas. Assim como Gluckman, que se inspirou na influência das teorias de Durkheim, Turner considera que o ritual reforça os valores sociais e por isso integra a sociedade, salienta que o símbolo é um agente de unidade social da comunidade, mas também da manutenção da estrutura social. Em 1974, é publicado o livro Dramas, Fields and Metaphors, trabalho no qual Turner enfatiza o caráter simbólico da ação humana. Considerando que a ação humana ocorre na forma de processo e que ela se evidencia diante dos conflitos sociais existentes sob uma forma dramática, isto é, performática. A essas unidades de ação no processo não-harmônico ou desarmônico, que surgem em situações de UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 41 CIÊNCIAS SOCIAIS conflito, o autor dará o nome de drama social. Essas situações são mais evidentes quando ocorrem rituais coletivos, porém podem estar presentes também em eventos históricos ou políticos. Os dramas sociais são carregados de símbolos – símbolos culturais, símbolos rituais – que são originados e ao mesmo tempo sustentam os processos temporais de mudanças nas relações sociais. Símbolos instigam a ação social e por isso participam das transformações que os dramas sociais colocam em movimento. Aqui é possível perceber como Turner se apropria das noções de processos social, de processos de conflito e, ao amalgamá-las com idéias sobre o simbolismo da ação humana, cria o conceito de drama social. Resumo: Acima vimos como a Antropologia Social Britânica desenvolveu o conceito de drama social, por meio da obra de Victor Turner, a partir das noções de processo social e processos de conflito social, de modo a enfatizar o aspecto simbólico da ação humana. Reflexão: Se você tomar as ocupações de terras realizadas por movimentos de trabalhadores sem-terra como drama social, quais elementos da sociedade brasileira são revelados? UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 42 CIÊNCIAS SOCIAIS Aula 12 _ A influência do estruturalismo francês - Leach Nesta aula, vamos acompanhar o impacto que a obra de Lévi-Strauss, antropólogo francês, causa na Antropologia Social Britânica, influenciando os trabalhos de autores como Edmund Leach e Mary Douglas. A partir da década de 1950, como já observamos na obra de Turner, muitos antropólogos estavam dispostos a transferir seus interesses das normas para os sistemas simbólicos. A obra teórica de Lévi-Strauss, denominada sob o termo Estruturalismo, entusiasmou muitos antropólogos britânicos, principalmente Edmund Leach e Mary Douglas. Pontuamos aqui que o Estruturalismo será trabalhado na Unidade II, que abordará a tradição de pensamento da Antropologia desenvolvida pelos franceses. Nesta aula, vamos acompanhar mais de perto os trabalhos de Edmund Leach, tratando da obra de Mary Douglas na próxima. Vamos ao trabalho. Edmund Leach estudava Engenharia em Cambridge, quando, depois de formado, passou alguns anos na China. Foi quando decidiu fazer Antropologia e ingressou na London School of Economics no começo da década de 1930. Foi aluno de Malinowski e em 1938 realizou algum trabalho de campo entre os Curdos do Oriente Médio, mas decidiu por realizar seus estudos de campo ao lado dos guerrilheiros Kachins, na Birmânia. Em 1954, Leach publica Sistemas Políticos da Alta Birmânia, sua tese de doutorado. Nesse trabalho, é enfatizado o caráter instável das formas culturais, políticas e de relacionamento entre as pessoas, que não eram estáticas, mas navegavam entre noções extremas e opostas, que serviam de tipos ideais para as pessoas classificarem e de posicionarem. Esses tipos ideais eram o gumlao, princípio igualitário e quase anárquico; a forma gumsa, princípio intermediário e instável; e estado Shan. Por vezes as comunidades kachins realizavam combinações desses tipos ou mudavam de um tipo para outro. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 43 CIÊNCIAS SOCIAIS A partir da década de 1960, Leach se mostra mais íntimo das elaborações teóricas do Estruturalismo e experimenta o método. A sua contribuição particular consistiu em ampliar a gama de aplicações e em racionalizar o método em alguns aspectos. Nas oposições binárias do método estruturalista, existe um terceiro termo que não é A nem é B. Devido sua natureza anômala, esse terceiro elemento é cercado de tabus e proibições. Por exemplo, os animais podem ser classificados em animais de estimação, animais de lavoura, animais selvagens etc. Quanto mais íntimo da relação com os homens, menor a propensão do homem de se alimentar do animal. Assim não se come os animais de estimação, mas se come os animais de caça em situações especiais de apuro. Leach se interessava particularmente por analisar as anomalias dentro do esquema estruturalista, isto é, a criatura que não se ajusta nitidamente em qualquer das categorias usuais. Desse modo, lhe seduz analisar o nascimento virgem, presente não só na Nossa Senhora cristã e ocidental, mas também em contos de tribos africanas. Como vimos, embora existisse uma tradição genuinamente britânica de análise antropológica baseada na preponderância das relações sociais e da estrutura social sobre as categorias culturais, houve um interesse por parte de antropólogos britânicos de assimilar a perspectiva intelectualista de Lévi-Strauss. Resumo: O texto apresenta a influência do método estruturalista de Lévi- Strauss sobre alguns antropólogos britânicos como Edmundo Leach e Mary Douglas. Leach ampliou o alcance do método e se interessou por analisar os elementos que eram considerados anomalias e tabus nas sociedades. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 44 CIÊNCIAS SOCIAIS Reflexão: Tente enumerar alguns personagens ou objetos que são foco de tabu, proibição ou são olhados com suspeitas, como o lobisomem, uma encruzilhada, entre outros. O que os fazem anômalos? Quais os elementos que eles carregam, que normalmente não são vistos juntos e ao mesmo tempo? UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educaçãoa Distância 45 CIÊNCIAS SOCIAIS Aula 13_Mary Douglas e as abominações do Levítico Como anunciado na aula anterior, continuamos a acompanhar a influência do estruturalismo francês sobre a Antropologia Social Britânica, agora enfocando a obra de Mary Douglas. Se na aula anterior iniciamos a discussão sobre a influência do método estruturalista sobre o pensamento britânico com os trabalhos de Edmund Leach, passamos a enfocar a proposta de Mary Douglas. Mary Douglas estudou na Universidade de Oxford, tendo sido orientada por Evans-Pritchard. Ela faz uma apropriação muito particular das teorias de Malinowski, Radcliffe-Brown, Evans-Pritchard junto com o Estruturalismo francês. Em “As Abominações do Levítico”, análise das regras de alimentação ditadas por um livro do Velho Testamento bíblico, a autora faz considerações sobre as idéias de poluição e contaminação. Antes de qualquer coisa, ela considera que as idéias de poluição só fazem sentido quando “em referência a uma estrutura total de pensamento cujo ponto- chave, limites, linhas internas e marginais se relacionam por rituais de separação.”[1] Assim, os animais indicados como proibidos de serem ingeridos se reportam à referência de ser santo, ser total e uno. A santidade é unidade, integridade e perfeição do indivíduo e da espécie. Os animais proibidos pela regra dietética do Levítico são impuros e imperfeitos porque transitam entre categorias que deveriam estar separadas. Os ruminantes como os bovinos, as ovelhas e cabras são animais de carne pura porque são ruminantes e têm casco fendido. Já o coelho é considerado ruminante, mas não tem casco fendido, por isso sua carne é proibida. Assim também com o porco, que tem casco fendido, mas não é ruminante. Também as criaturas que não respeitam a classificação de vida apropriada em terra, em água ou em ar são proibidas. A doninha, o crocodilo, os lagartos são http://campus20162.unimesvirtual.com.br/mod/page/view.php?id=32342&inpopup=1#_ftn1 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 46 CIÊNCIAS SOCIAIS impuros porque que têm teriam duas mãos e dois pés, mas andam com todos os quatros. Os animais que rastejam são impuros porque se movem como peixes, mas andam sobre a terra. Todos esses elementos vão contra a idéia de integridade e unicidade, pois são compostos de aspectos que deveriam estar separados. E desse jeito, vão contra a noção de santidade. Se a interpretação proposta aos animais proibidos está correta, as leis dietéticas teriam sido signos que a cada momento inspiravam meditação sobre a unidade, pureza e perfeição de Deus. Pelas regras de evitação, à santidade foi dada uma expressão física em cada encontro com o mundo animal e a cada refeição. A observância das regras dietéticas teriam então sido uma parte significativa do grande ato litúrgico de reconhecimento e culto que culminava no sacrifício no Templo.[2] Desse modo, finalizamos aqui nosso percurso pelos clássicos da Antropologia Social Britânica. Resumo: Nesta aula, tomamos contato com a obra de Mary Douglas e sua proposta muito particular de análise, utilizando-se dos métodos do estruturalismo francês. Reflexão: Você já presenciou outras formas de proibição alimentar? Você consegue sugerir algum tipo de explicação para tal proibição? [1] DOUGLAS, Mary. "As abominações do Levítico". Pureza e Perigo. Perspectiva, São Paulo, Cap.3. [2] DOUGLAS, Mary. Idem http://campus20162.unimesvirtual.com.br/mod/page/view.php?id=32342&inpopup=1#_ftn2 http://campus20162.unimesvirtual.com.br/mod/page/view.php?id=32342&inpopup=1#_ftnref1 http://campus20162.unimesvirtual.com.br/mod/page/view.php?id=32342&inpopup=1#_ftnref2 UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 47 CIÊNCIAS SOCIAIS Resumo da Unidade II A Unidade II tratou de apresentar os principais autores e temas desenvolvidos pela Antropologia Social Britânica clássica. Começando pela experiência da Expedição Cambridge ao Estreito de Torres, que foi um antecedente importante para o desenvolvimento dos estudos antropológicos na Grã-Bretanha. Tal viagem estabelece a Oceania como área-foco de pesquisa e se mostra como uma transição entre a antropologia de gabinete e a antropologia de campo. Com Bronislaw Malinowski, conhecemos sua experiência de trabalho com as tribos das Ilhas Trobriand, que resultou na inclusão do trabalho de campo como método científico na Antropologia e na proposição de análise teórica denominada Funcionalismo. O Funcionalismo toma a sociedade como um todo, cujas partes estão articuladas porque exercem uma função social. Seguido ao funcionalismo malinowskiano, foi elaborado por Radcliffe-Brown uma grade teórica chamada como Estrutural-funcionalista, na qual são trabalhados os conceitos de estrutura social, instituição, função social e processo social. Por meio do autor Evans-Pritchard vimos a inclusão da preocupação com sistemas políticos na tradição de pensamento da Antropologia Social Britânica e sua etnografia sobre os nuer, povo da parte oriental do continente africano. Também acompanhamos a contribuição de Gregory Bateson, com sua obra Naven, que trata da cultura dos povos Iatmul da Nova Guiné, por meio de um rito de zombaria, cujo elemento afetivo é importante para entender os outros aspectos da cultura. Com Max Gluckman percebemos como o tema dos conflitos se desenvolve dentro da tradição de pensamento da Antropologia Social Britânica. Em seus trabalhos sobre os povos africanos zulus, ele ressalta que existem rituais de UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 48 CIÊNCIAS SOCIAIS rebelião, isto é, formas institucionalizadas de demonstrar os conflitos sociais, de maneira que tal prática acaba por reforçar a unidade do sistema social. Com Victor Turner, a Antropologia Social Britânica desenvolveu o conceito de drama social, a partir das noções de processo social e processos de conflito social, de modo a enfatizar o aspecto simbólico da ação humana. Por fim, a influência do método estruturalista de Lévi-Strauss sobre alguns antropólogos britânicos como Edmundo Leach e Mary Douglas produziu trabalhos inovadores, ampliando o alcance do método estruturalista. Glossário da Unidade II Estrutural-funcionalismo: teoria antropológica que trabalha com os conceitos de estrutura social, instituição, função social e processo social. Etnografia: obra escrita com o relato da experiência em campo realizada pelo antropólogo, articulada de análise social. Funcionalismo: arcabouço teórico que considera a sociedade como um todo formado por partes articuladas, que se relacionam porque atendem às funções sociais. Observação participante: quando o antropólogo deve tentar se integrar à vida cotidiana do grupo que escolheu estudar, tomando parte dos afazeres e eventos quando possível. Trabalho de campo: método da Antropologia para obter informações e dados para pesquisa. Referências Bibliográficas da Unidade II DOUGLAS, Mary. “As abominações do Levítico", In: Pureza e Perigo. Perspectiva: São Paulo. EVANS-PRITCHARD, Edward. E. "Tempo e Espaço". Os Nuer. São Paulo: Perspectiva, 1978. UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS Núcleo de Educação a Distância 49 CIÊNCIAS SOCIAIS GLUCKMAN, Max. “Rituais de rebelião no sudeste da África”. In: Cadernos de Antropologia. Brasília: Editora Universidade de Brasília. 1974. KUPER, Adam. Antropológos e Antropologia. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1978. LEACH, Edmund - "O nascimento virgem". In: Edmund Leach. Coleção Grandes Cientistas Sociais, São Paulo, Ática, 1983. MALINOWSKI, Bronislaw. "Introdução" e Cap. III - "Características essencias do Kula", In: Argonautas do Pacífico Ocidental, São Paulo: Abril, Coleção Os Pensadores, 1977 ,. RADCLIFFE-BROWN, Alfred. Cap. 1 - "O irmão
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