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0309 - Teoria Antropológica Clássica

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UNIVERSIDADE 
METROPOLITANA DE 
SANTOS 
Núcleo de Educação a Distância 
1 CIÊNCIAS SOCIAIS 
 
Teoria 
Antropológica 
Clássica 
 
SEMESTRE 2 
 
 
UNIVERSIDADE 
METROPOLITANA DE 
SANTOS 
Núcleo de Educação a Distância 
2 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Créditos e Copyright 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Este curso foi concebido e produzido pela Unimes Virtual. Eventuais marcas aqui 
publicadas são pertencentes aos seus respectivos proprietários. 
A Unimes Virtual terá o direito de utilizar qualquer material publicado neste curso 
oriunda da participação dos alunos, colaboradores, tutores e convidados, em 
qualquer forma de expressão, em qualquer meio, seja ou não para fins didáticos. 
Copyright (c) Unimes Virtual 
É proibida a reprodução total ou parcial deste curso, em qualquer mídia ou formato. 
TOJI, Simone. 
 Teoria Antropológica 
Clássica. Simone Toji. Santos: Núcleo de Educação 
a Distância da UNIMES, 2015. 102p. (Material 
didático. Curso de ciências sociais). 
 Modo de acesso: www.unimes.br 
 1. Ensino a distância. 2. Ciências 
Sociais. 3. Antropologia Clássica. 
 
 CDD 301 
 
http://www.unimes.br/
 
 
UNIVERSIDADE 
METROPOLITANA DE 
SANTOS 
Núcleo de Educação a Distância 
3 CIÊNCIAS SOCIAIS 
UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS 
FACULDADE DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS 
PLANO DE ENSINO 
 
 
CURSO: Licenciatura em Ciências Sociais 
COMPONENTE CURRICULAR: Teoria Antropológica Clássica 
SEMESTRE: 2º 
CARGA HORÁRIA TOTAL: 80 horas 
 
EMENTA: 
 
A disciplina apresenta as principais tradições de pensamento que consolidaram a 
Antropologia enquanto ciência e marco teórico dentro das ciências sociais. 
Apresenta reflexão teórica e metodológica sobre conceitos fundamentais da 
antropologia social britânica, do culturalismo norte-americano e do estruturalismo 
francês por meio do estudo de autores fundamentais e de conceitos como os de 
cultura, sociedade, função, estrutura e símbolo. Estabelece diálogo com temas 
atuais como a diversidade cultural, as relações de poder, as religiões, as relações 
dos homens com o mundo natural, indicando a vitalidade dos clássicos para pensar 
o mundo atual. 
 
OBJETIVO GERAL: 
 
Apresentar as bases conceituais e as principais tradições do pensamento 
antropológico clássico. Discutir e refletir a relação destes conceitos com temas 
atuais. 
 
OBJETIVOS ESPECÍFICOS: 
 
Unidade I - A noção de cultura e sua relação com a identidade brasileira 
 
 
UNIVERSIDADE 
METROPOLITANA DE 
SANTOS 
Núcleo de Educação a Distância 
4 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Objetivos da Unidade 
Entender a noção de cultura e o que estuda a sociologia da cultura: a cultura como 
algo construído e não dado a priori. Explicitar as conexões entre a noção de cultura 
e as relações de poder, tendo em vista a construção da identidade nacional. Pensar 
neste o contexto o lugar da cultura para a formação Estado nacional brasileiro. 
 
Unidade II - O nascimento da cultura brasileira: a colônia 
Objetivos da Unidade 
Apresentar como a cultura brasileira foi construída no período colonial e suas 
transformações a partir do início do século XX, quando se dá a modernização 
política e econômica no país. Mostrar como a difusão da cultura no Brasil está 
ligada principalmente neste período às classes dominantes e à elite agrária. 
 
Unidade III - A cultura de massa no contexto da modernização 
Objetivos da Unidade 
Entender a ideia da cultura de massa em suas diversas expressões no Brasil: 
cinema, rádio, televisão, música e teatro. Mostrar como o desenvolvimento dessa 
cultura se relaciona com a industrialização brasileira e o desenvolvimento das 
relações capitalistas. 
 
Unidade IV - A cultura brasileira e sua construção no âmbito do Estado 
Objetivo da unidade 
Compreender como a identidade nacional e a cultura brasileira foram consideradas 
de diferentes maneiras e compreender qual o sentido de uma identidade ou memória 
que se querem nacionais. Retomar das teorias raciais do século XIX, bem como 
aquelas sobre a cultura popular, mostrando sua reverberação nas teorias sobre a 
formação nacional que vigoraram ao longo do século XX. Entender a unidade 
cultural da nação como um construto, em última medida, ideológico. 
 
 
UNIVERSIDADE 
METROPOLITANA DE 
SANTOS 
Núcleo de Educação a Distância 
5 CIÊNCIAS SOCIAIS 
 
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 
 
UNIDADE I: Apontamentos históricos sobre o surgimento da Antropologia enquanto 
ciência e a construção da alteridade. 
UNIDADE II: A antropologia social britânica. 
UNIDADE III: A Escola Sociológica Francesa e o Estruturalismo Antropológico. 
UNIDADE IV: O culturalismo norte-americano. 
 
Bibliografia Básica 
 
BOAS, Franz. Antropologia Cultural. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editores, 2005. 
EVANS-PRITCHARD, E. E. Os Nuer. São Paulo: Perspectiva, 1978. 
LÉVI-STRAUSS, Claude Antropologia Estrutural 1. Rio de Janeiro, Tempo 
Brasileiro, 1970. 
 
 
Bibliografia Complementar 
 
 
MAUSS, Marcel. Sociologia e Antropologia. São Paulo, Cosac e Naify, 2005. 
MARCONI, Maria de Andrade. Antropologia: Uma Introdução. São Paulo: ATLAS, 
2008. 
GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro, LTC, 1989. 
MALINOWSKI, Bronislaw. Crime e Costume na Sociedade Selvagem. Brasilia, 
Editora UNB, 2008. 
OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. Sobre o Pensamento Antropológico. Rio de 
Janeiro, Tempo Brasileiro, 2003. 
 
METODOLOGIA: 
A disciplina está dividida em unidades temáticas que serão desenvolvidas por meio 
de recursos didáticos, como: material em formato de texto, vídeo aulas, fóruns e 
 
 
UNIVERSIDADE 
METROPOLITANA DE 
SANTOS 
Núcleo de Educação a Distância 
6 CIÊNCIAS SOCIAIS 
atividades individuais. O trabalho educativo se dará por sugestão de leitura de 
textos, indicação de pensadores, de sites, de atividades diversificadas, reflexivas, 
envolvendo o universo da relação dos estudantes, do professor e do processo 
ensino/aprendizagem. 
 
AVALIAÇÃO: 
 
A avaliação dos alunos é contínua, considerando-se o conteúdo desenvolvido e 
apoiado nos trabalhos e exercícios práticos propostos ao longo do curso, como 
forma de reflexão e aquisição de conhecimento dos conceitos trabalhados na parte 
teórica e prática e habilidades. Prevê ainda a realização de atividades em momentos 
específicos como fóruns, chats, tarefas, avaliações a distância e Prova Presencial, 
de acordo com a Portaria de Avaliação vigente. 
 
http://campus20172.unimesvirtual.com.br/mod/resource/view.php?id=23875
 
 
UNIVERSIDADE 
METROPOLITANA DE 
SANTOS 
Núcleo de Educação a Distância 
7 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Sumário 
 
Aula 01 – Viajantes, relatos oficiais, missionários: primeiras impressões de um outro mundo 9 
Aula 02 - A sistematização do conhecimento: o surgimento do antropólogo ...........................14 
Aula 03 - Terminologia e tradições do pensamento antropológico............................................17 
Resumo da Unidade I ....................................................................................................................19 
Aula 04 - Os antecessores: Rivers, Haddon, Seligman e a Expedição Cambridge ao Estreito 
de Torres .........................................................................................................................................21 
Aula 05 - Malinowski e a consolidação do Funcionalismo .........................................................23 
Aula 06 - A instituição do trabalho de campo como método de trabalho dentro da 
Antropologia ....................................................................................................................................26 
Aula 07 - Radcliffe-Brown e a noção de estrutura social ............................................................29Aula 08 - Evans-Pritchard, os Nuer e a preocupação com os sistemas políticos africanos ...32 
Aula 09 - Bateson e o Naven ........................................................................................................35 
Aula 10 - Gluckman e os processos de conflito ..........................................................................37 
Aula 11 - Victor Turner e a noção de drama social .....................................................................40 
Aula 12 - A influência do estruturalismo francês - Leach ...........................................................42 
Aula 13 - Mary Douglas e as abominações do Levítico..............................................................45 
Resumo da Unidade II ...................................................................................................................47 
Aula 14 - Durkheim e o olhar sociológico ....................................................................................50 
Aula 15 - As Formas Elementares da Vida Religiosa, de Émile Durkheim...............................53 
Aula 16 - Mauss e o fato social total - a questão da reciprocidade ...........................................56 
Aula 17 - “As Técnicas Corporais”, de Marcel Mauss.................................................................59 
Aula 18 - Lévi-Strauss – vida e obra ............................................................................................61 
Aula 19 - O Estruturalismo e a noção de estrutura social ..........................................................63 
Aula 20 - As Estruturas Elementares do Parentesco, de Lévi-Strauss, e seu impacto sobre 
os estudos antropológicos. ............................................................................................................65 
Aula 21 - Análise estrutural de mitos ............................................................................................68 
Aula 22 - O Pensamento Selvagem, de Lévi-Strauss.................................................................70 
Resumo da Unidade III ..................................................................................................................73 
Aula 23 - Franz Boas como pioneiro na Antropologia Americana ............................................75 
Aula 24 - Cultura e personalidade ................................................................................................78 
Aula 25 - Margareth Mead e a noção de ethos ...........................................................................80 
 
 
UNIVERSIDADE 
METROPOLITANA DE 
SANTOS 
Núcleo de Educação a Distância 
8 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Aula 26 - Outros enfoques: Geertz e a interpretação das culturas ...........................................82 
Aula 27 - Estruturalismo e História: Marshall Sahlins .................................................................84 
Resumo Unidade IV .......................................................................................................................86 
Aula 28 - Os Diários de Malinowski ..............................................................................................88 
Aula 29 - O “Estar Lá” – a visão de Geertz sobre a etnografia malinowskiana ........................91 
Aula 30 - O nativo também faz etnografia ...................................................................................93 
Aula 31 - Na Antropologia Brasileira ............................................................................................95 
Aula 32 - Um poema ......................................................................................................................97 
Resumo Unidade V ......................................................................................................................100 
 
 
 
 
UNIVERSIDADE 
METROPOLITANA DE 
SANTOS 
Núcleo de Educação a Distância 
9 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Aula 01_Viajantes, relatos oficiais e missionários: primeiras impressões de um 
outro mundo 
 
Nesta primeira aula, conheceremos alguns antecedentes que alimentaram 
a formação de um corpo de conhecimento sobre terras longínquas e povos 
diferentes dos europeus. Essa preocupação foi a semente para a criação da 
disciplina específica Antropologia. Vamos passear por essas histórias! 
A história das ciências está vinculada ao modo como os europeus 
organizaram o conhecimento, de forma sistemática e intensiva, principalmente a 
partir do século XIX. Porém, antes dessa maneira de conceber o saber, o 
conhecimento era produzido de modo espontâneo e sem muitas regras de 
procedimentos. No caso da história da Antropologia, o "conhecimento espontâneo" 
anterior fora produzido principalmente por três tipos de agentes: os viajantes, os 
cronistas oficiais e os missionários. 
Corriam os séculos XV, XVI e XVII, momento em que a Europa realizava sua 
expansão marítima. Ibéricos, italianos, entre muitos europeus, se aventuraram por 
águas e terras desconhecidas, em busca de oportunidades vantajosas de comércio. 
Lugares nos quais só se ouvia falar em lendas e histórias fantásticas eram, então, 
visitadas. Povos com costumes e modos de pensar diferentes eram contatados. A 
Índia, a China, o Oriente se tornaram rota da busca por especiarias. A América é 
descoberta a oeste. E todo o empreendimento da colonização é posto em 
movimento. 
O mundo se alargara e colocou em cena novos atores - índios e nativos de 
modos estranhos aos olhos europeus. Nas novas terras, o Novo Mundo, necessitava 
ser conhecido. Na dinâmica colonial, a produção de documentos sobre o que era 
inédito ficou a cargo de alguns sujeitos errantes. Que tal adentrar em alguns desses 
relatos, tendo por referência a empresa de colonização portuguesa e o Brasil? 
 Camões, poeta viajante, pode nos indicar como as esquadras portuguesas 
encaravam esses percursos marítimos: 
 
 
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10 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Desembarcamos logo na espaçosa 
Parte, por onde a gente se espalhou, 
De ver cousas estranhas desejosa, 
Da terra que outro povo não pisou. 
(...) 
Nem ele entende a nós, nem nós a ele, 
Selvagem mais que o bruto Polifemo. 
(...) 
(CAMÕES, Luis de. Os Lusíadas. Canto V, sonetos 26 e 28. Ateliê Editorial, 1999.) 
Esse trecho faz referência a uma parada do navio do narrador lírico no 
continente africano, enquanto ruma em busca das Índias Orientais. A descrição é de 
uma terra desconhecida, habitada por "selvagens", que o viajante português não 
consegue decifrar. 
Passando para um exemplo de relato oficial sobre terras recém 
descobertas, podemos apreciar a própria Carta de Pero Vaz de Caminha: 
 
Senhor, 
Posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim os outros capitães 
escrevam a Vossa Alteza a notícia do achamento desta Vossa terra nova, 
que se agora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso 
minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que -- 
para o bem contar e falar -- o saiba pior que todos fazer! 
(..) 
A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e 
bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem 
mais caso de encobrir ou deixa de encobrir suas vergonhas do que de 
mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência. Ambos traziam o 
beiço de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro, de comprimento 
de uma mão travessa, e da grossura de um fuso de algodão, agudo na 
ponta como um furador. Metem-nos pela parte de dentro do beiço; ea parte 
que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita a modo de roque de xadrez. E 
 
 
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SANTOS 
Núcleo de Educação a Distância 
11 CIÊNCIAS SOCIAIS 
trazem-no ali encaixado de sorte que não os magoa, nem lhes põe estorvo 
no falar, nem no comer e beber. 
(CAMINHA, Pero Vaz. Carta ao Rei Dom Manoel. Ed. Crisálida, 2002.) 
 
Aqui, o escrivão oficial da frota de naviosdo descobrimento do Brasil - a ainda 
Terra de Santa Cruz - descreve os habitantes com os quais a tripulação tomou 
contato, enfatizando a relação pacífica engendrada e classificando os indígenas 
como "inocentes". 
Ao contrário desta visão edílica, Hans Staden, mercenário alemão que esteve 
no Brasil por duas vezes, nos fornece um olhar mais aterrorizador dos habitantes 
que aqui encontrou, que o aprisionaram, até ser libertado por um comerciante 
francês: 
(...) A seguir retoma o tacape aquele que vai matar o prisioneiro e diz: "Sim, 
aqui estou eu, quero matar-te, pois tua gente também matou e comeu 
muitos dos meus amigos". Responde-lhe o prisioneiro: "Quando estiver 
morto, terei ainda muitos amigos que saberão vingar-me". Depois golpeia o 
prisioneiro na nuca, de modo que lhe saltam os miolos, e imediatamente 
levam as mulheres o morto, arrastam-no para o fogo, raspam-lhe toda a 
pele, fazendo-o inteiramente branco, e tapando-lhe o ânus com um pau, a 
fim de que nada dele se escape. Depois de esfolado, toma-o um homem e 
corta-lhe as pernas, acima dos joelhos, e os braços junto ao corpo. Vêm 
então as quatro mulheres, apanham os quatro pedaços, correm com eles 
em torno das cabanas, fazendo grande alarido, em sinal de alegria. 
Separam após as costas, com as nádegas, da parte dianteira. Repartem 
isto entre si. As vísceras são dadas às mulheres. Fervem-nas e com o caldo 
fazem uma papa rala, que se chama mingau, que elas e as crianças 
sorvem. Comem essas vísceras, assim como a carne da cabeça. O miolo 
do crânio, a língua e tudo o que podem aproveitar, comem as crianças. 
(..)Tudo isso vi, e assisti. (...) (STADEN, Hans. Duas viagens ao Brasil. 1ª 
ed., 1557. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/Edusp, 1974, pp. 176-8) 
Descrevendo os rituais de morte e canibalismo de inimigos, esse aventureiro 
europeu nos mostra um novo mundo mais "infernal". 
 
 
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METROPOLITANA DE 
SANTOS 
Núcleo de Educação a Distância 
12 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Por fim, chegamos ao relato de um missionário francês, que preocupado 
com a salvação das almas dos silvícolas nos fornece descrições de nativos do 
Maranhão: 
Como se explica que os tupinambás, compartilhando a culpa de Adão e 
sendo herdeiros de seu pecado, não tenham herdado também a vergonha, 
consequência do pecado, como ocorreu com todas as nações do mundo? 
Pode-se alegar, em sua defesa, que em virtude de ser velho costume seu 
viverem nus, já não sentem pudor ou vergonha de mostrar o corpo 
descoberto e o mostram com a mesma naturalidade que nós as mãos. Eu 
direi entretanto que nossos pais só sentiram a vergonha e ocultaram sua 
nudez quando abriram os olhos, isto é, quando tiveram conhecimento do 
pecado e perceberam que estavam despidos do belo manto da justiça 
original. (...). Riscam com jenipapo as sobrancelhas, previamente 
arrancadas, e assim passam grande parte de sua existência, muito 
satisfeitas com tal mister. Os maiores e mais valentes guerreiros, para se 
tornarem mais estimados pelos seus companheiros e temidos de seus 
inimigos, têm por hábito picar e tatuar figuras no corpo (assim como 
fazemos em nossas couraças) por meio de um pedaço do osso da canela 
de certos pássaros, que afiam como navalhas. 
 
(Claude d’Abeville. História da Missão dos padres capuchinhos na ilha do Maranhão 
e terras circunvizinhas. 1ª ed., 1614. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/Editora da 
Universidade de São Paulo, 1975, pp. 216-18) 
 
Como bem assinalou esse missionário, a questão da possibilidade da 
salvação das almas dos indígenas jazia no argumento da consciência do pecado. 
Como os índios não tinham essa dimensão, eles eram apenas ingênuos, cujas 
almas não estavam perdidas. E porque esses índios tinham alma, então, eles 
também tinham humanidade, não eram animais brutos. 
A passagem por esses variados escritos nos expõe o mosaico de visões e 
posições acerca das novas terras e novos povos que o processo de colonização 
 
 
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METROPOLITANA DE 
SANTOS 
Núcleo de Educação a Distância 
13 CIÊNCIAS SOCIAIS 
colocou em evidência para os europeus ocidentais. Será a Antropologia que surgirá 
mais tarde como disciplina para sistematizar e organizar esse tipo de conhecimento. 
 
O texto aponta que o conhecimento sobre lugares e povos 
exógenos ao continente europeu foi produzido por três agentes principais da 
dinâmica colonial, os viajantes, os cronistas oficiais e os missionários. Tais relatos 
serão mais tarde sistematizados e trabalhados de modo científico pela Antropologia. 
 
 
Compare os trechos dos relatos apresentados durante a aula com 
algum escrito sobre habitantes do espaço. Você acha que há semelhanças no modo 
de descrever características que nos parecem estranhas? O desconhecido provoca 
simpatia ou medo? 
 
 
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14 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Aula 02_A sistematização do conhecimento: o surgimento do antropólogo 
 
Em nossa segunda aula, acompanharemos a Antropologia ganhar status de 
ciência. 
Seguindo nosso percurso, o século XIX foi o momento em que muitos 
conhecimentos tomaram a forma de ciência. A prática científica se tornou um modo 
reconhecido de produzir o saber e criou suas regras e procedimentos específicos. 
Assim também aconteceu com a Antropologia. 
As universidades europeias se tornaram o lugar privilegiado para se 
desenvolver a ciência. E desse modo, também surgiram profissionais especializados 
para produzir o conhecimento, os cientistas. No caso da Antropologia, esses 
profissionais foram chamados de antropólogos ou etnólogos. 
Nos primórdios da formação da Antropologia como ciência, a maneira de 
realizar os estudos se consolidou no que hoje chamamos de “antropologia de 
gabinete”. Isto é, os antropólogos da época utilizavam-se dos relatos de viajantes, 
missionários e dados dos governos das metrópoles coloniais para realizar suas 
pesquisas. Eles não viajavam até os locais que investigavam, tampouco faziam 
contato com as populações estudadas. Eles faziam todo o trabalho recolhendo 
material a partir das mesas de seus escritórios. 
Por esse tempo, havia duas correntes de pensamento dominantes nas 
reflexões da Antropologia: o Evolucionismo e o Difusionismo. 
 
O Evolucionismo se pôs em evidência após o lançamento da obra de 
Charles Darwin, A Evolução das Espécies. Inspirados nessas discussões, cientistas 
sociais como Comte e Spencer transpuseram noções como evolução, competição, 
adaptação, para o plano da sociedade dos homens. Nesse sentido, surgiram ideias 
como a de progresso da civilização. E se na sociedade humana não havia diferença 
de espécies, havia as diferenças raciais. Por isso, muitos estudos antropológicos 
voltaram-se para confirmar a existência de raças entre os homens e de verificar 
quais seriam as raças superiores e as raças inferiores. Tendo como parâmetro que a 
 
 
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SANTOS 
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15 CIÊNCIAS SOCIAIS 
sociedade europeia ocidental era o modelo de povo civilizado, todos os outros povos 
acabaram sendo classificados como primitivos ou selvagens. Afora as 
consequências políticas e morais de tais pressupostos, o termo “primitivo” adentrou 
a disciplina, não sendo raro até hoje ouvir que a Antropologia é o “estudo das 
sociedades primitivas”. Porém, o uso do termo primitivo não carrega mais o valor 
pejorativo do evolucionismo. Os principais antropólogos evolucionistas foram Lewis 
Henry Morgan e Edward Burnett Tylor. 
Já o Difusionismo se caracterizava por pensar que certo elemento 
de um grupo social teria sido emprestado ou transformado de uma outra sociedade 
matriz. Assim sendo, escolhia-se um item, como por exemplo o uso do fogo na 
alimentação, e se costurava uma série de ligações históricas entre vários grupos 
humanos, que hipoteticamente teriam entrado em contato e desenvolvido formas 
semelhantesou transformadas de uso do mesmo item. Essa corrente de 
pensamento foi uma reação contra o evolucionismo, mas coexistiu com ele. Foi uma 
escola antropológica que tentou entender a natureza da cultura, em termos da 
origem da cultura e da sua extensão de uma sociedade a outra. O empréstimo 
cultural seria um mecanismo básico de evolução cultural. O Difusionismo defendeu 
que as diferenças e semelhanças culturais eram causa da tendência humana para 
imitar e a absorver traços culturais e a diversidade cultural explica-se pelas relações 
de empréstimo e não pela invenção independente. William Halse Rivers Rivers foi 
um exemplo um antropólogo difusionista. 
Contextualizadas as ideias científicas e antropológicas em voga, não 
podemos nos esquecer de que o mundo vivia sob o colonialismo direto ou indireto. 
Isso quer dizer de uma certa forma o conhecimento era produzido dentro da 
dinâmica de relação entre países metrópoles e países colônias, países civilizados ou 
países primitivos. A Antropologia balançava entre ser uma ciência que contribuía 
para produzir mais conhecimento sobre os “primitivos” para melhor ajudar a 
dominação da empresa colonial ou ser o registro do que restou nos países novos 
depois que a colonização “destruiu”. 
 
 
 
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16 CIÊNCIAS SOCIAIS 
A partir do século XIX, a Antropologia se estabelece como ciência e 
seus profissionais, os antropólogos, voltavam suas mentes para ideias de correntes 
de pensamento como o Evolucionismo e o Difusionismo. 
 
Importante: É importante ressaltar que ainda em muitas situações o termo 
primitivo carrega valor pejorativo quando usado em situações em que é ainda 
relacionado a leituras evolucionistas, mesmo dentro do senso comum. É importante 
fazer esta ressalva, pois, mesmo quando encontrada nos textos antropológicos, a 
referência a “sociedades primitivas” deve levar em consideração que a antropologia 
estudada nos dias atuais já não mais utiliza os métodos, leituras e conceitos desses 
primeiros autores conhecidos como fundadores do evolucionismo cultural e do 
evolucionismo social. 
 
 Você acredita na existência de raças humanas? Quais as consequências 
dessas concepções? 
 
 
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17 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Aula 03_Terminologia e tradições do pensamento antropológico 
 
Finalizando esta unidade, aprenderemos algumas variações na 
designação do pensar e fazer antropológico, segundo as tradições britânica, 
francesa e americana. Vamos primeiramente obter uma visão abrangente da 
questão. 
O que denominamos aqui no Brasil como Antropologia tem suas variações de 
nome em outros lugares. Isso acontece dependendo da história de formação da 
disciplina em cada país específico. 
Por exemplo, na França, a criação dos estudos antropológicos está 
vinculada à disciplina da sociologia. A chamada Escola Sociológica Francesa, 
iniciada por Émile Durkheim no final do século XIX, teve papel determinante no 
desenvolvimento da antropologia como ciência. Porém, nesse início, os assuntos 
antropológicos eram chamados de Etnologia, sendo uma especialidade dentro da 
disciplina de sociologia. Os temas tratavam das formas de vida religiosa, das formas 
de trocas de povos da Oceania, dos índios norte-americanos, entre outros. Mais 
tarde o termo antropologia ganhou força e se tornou disciplina independente. 
No caso da Grã-Bretanha, a primeira cadeira da disciplina na Universidade de 
Cambrigde foi chamada de Antropologia Social. Sob esse nome é que se 
concentraram os estudos sobre povos da Oceania e África. 
Para os norte-americanos, os estudos antropológicos ganharam a alcunha 
de Antropologia Cultural, iniciando pesquisas principalmente sobre as populações 
indígenas remanescentes do povoamento americano e sobre os esquimós. 
As experiências de trabalho e criações teóricas dessas três linhas 
contribuíram para consolidar um corpo de pensamento antropológico. Por isso, 
 
 
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18 CIÊNCIAS SOCIAIS 
apesar das diferentes denominações e variações, elas ajudaram a formar o corpo de 
conhecimento que é a Antropologia. 
No Brasil, a disciplina recebe simplesmente o nome de Antropologia, 
enquanto Etnologia aparece como referência de estudos sobre os índios brasileiros. 
As próximas unidades apresentarão mais detalhadamente as tradições de 
pensamento dentro da Antropologia acima apresentadas. 
Resumo: Esta aula tratou da variação de nomes dados à Antropologia 
como disciplina científica. Na tradição francesa, usou-se primeiro o termo Etnologia. 
Na britânica, consolidou-se com o nome de Antropologia Social. Enquanto nos EUA, 
estabeleceu-se com a denominação de Antropologia Cultural. Apesar da variação, 
todos contribuíram por cristalizar a Antropologia enquanto disciplina científica. 
Reflexão: Tente lembrar se você já ouviu alguns dos termos 
apresentados. De que assunto ele tratava? 
 
 
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19 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Resumo da Unidade I 
 
 
Nesta primeira unidade, tomamos contato com o contexto histórico e de 
formação da Antropologia enquanto saber científico. Antes dela, relatos de viajantes, 
missionários e cronistas oficiais produziram o conhecimento de lugares distantes e 
populações diferentes do ambiente europeu. 
A Antropologia nasceu dentro da dinâmica do empreendimento colonialista e 
correntes de pensamento como o Evolucionismo e o Difusionismo estavam em voga 
nessa época. 
Para a formação da Antropologia como ciência cada lugar desenvolveu uma 
variação de termo para a disciplina. Na França, primeiramente foi chamada de 
Etnologia. No Reino Unido, estabeleceu-se como Antropologia Social e nos EUA 
ficou conhecida como Antropologia Cultural. Essas três tradições de pensamento 
formam a chamada Antropologia Clássica. 
 
Glossário da Unidade I 
 
Antropologia de gabinete: antropólogos do final do século XIX e início do 
XX que se utilizavam dos relatos de viajantes, missionários e dados dos governos 
das metrópoles coloniais para realizar suas pesquisas. Eles não viajavam até os 
locais que investigavam, tampouco faziam contato com as populações estudadas. 
Eles faziam todo o trabalho recolhendo material a partir das mesas de seus 
escritórios. 
Antropologia Cultural: termo utilizado pelos os norte-americanos para se 
referir aos estudos antropológicos. 
Antropologia Social: denominação consolidada na Grã-Bretanha para a 
disciplina de Antropologia. 
 
 
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20 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Evolucionismo: corrente de pensamento dentro da antropologia baseada nas 
ideias de Charles Darwin, de A Evolução das Espécies, e em Comte e Spencer, que 
transpuseram noções como evolução, competição, adaptação, para o plano da 
sociedade dos homens. Nesse sentido, surgiram ideias como a de progresso da 
civilização. Estudos sobre raça e progresso das sociedades foram desenvolvidos. 
Escola Sociológica Francesa: grupo de estudiosos, liderados por Émile 
Durkheim, que teve papel determinante no desenvolvimento da antropologia como 
ciência no final do século XIX. 
Difusionismo: corrente de pensamento que se caracterizava por selecionar 
certo elemento de um grupo social e verificar se teria sido emprestado ou 
transformado de uma outra sociedade matriz, de modo histórico e geográfico. 
 
Referências Bibliográficas da Unidade I 
D´ABEVILLE, Claude. História da Missão dos padres capuchinhos na ilha do 
Maranhão e terras circunvizinhas. 1ª ed., 1614. Belo Horizonte/São Paulo: 
Itatiaia/Editora da Universidade de São Paulo, 1975, pp. 216-18. 
CAMINHA, Pero Vaz. Carta ao Rei Dom Manoel. Ed. Crisálida, 2002. 
LÉVI-STRAUSS, Claude. “Lugar da Antropologia nas Ciências Sociais e problemas 
colocadospor seu ensino”. In: Antropologia Estrutural. Tempo Brasileiro, Rio de 
Janeiro, 1996. 
CAMÕES, Luis de. Os Lusíadas. Canto V, sonetos 26 e 28. Ateliê Editorial, 1999. 
STADEN, Hans. Duas viagens ao Brasil. 1ª ed., 1557. Belo Horizonte/São Paulo: 
Itatiaia/Edusp, 1974, pp. 176-8. 
 
 
 
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21 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Aula 04_Os antecessores: Rivers, Haddon, Seligman e a Expedição Cambridge 
ao Estreito de Torres 
 
Antes de nos concentrarmos no Funcionalismo como corpo teórico da 
Antropologia, nesta aula, vamos acompanhar alguns precursores que abriram os 
caminhos na Grã-Bretanha. 
 
Como trabalhamos na Unidade I, a Antropologia se institucionaliza como 
disciplina científica no final do século XIX. No Reino Unido, a Universidade de 
Cambrigde e a London School of Economics serão as primeiras universidades a 
oficializar cursos de estudos antropológicos. 
É, então, por iniciativa da Universidade de Cambrigde que é organizada em 
1898 uma expedição à Oceania, a chamada Expedição Cambridge ao Estreito de 
Torres, que visitou terras e populações da Melanésia e Nova Guiné. Coordenada 
por Alfred Cort Haddon, a expedição reuniu especialistas de várias áreas como a de 
Biologia, Botânica e, claro, da de Antropologia. O grupo coletou objetos de cultura 
material - como utensílios, ferramentas de nativos - espécimes da fauna e da flora 
local, além de realizar registros de imagens de danças e rituais. 
Antropólogos como William Halse R. Rivers e Charles G. Seligman reuniram 
informações e material sobre os povos locais. Ainda sob a prática da antropologia 
de gabinete, esses cientistas fizeram o esforço de viajar e entrar em contato com as 
populações que eram objeto de suas pesquisas. Eles chegavam de navio até as 
localidades, contatavam as autoridades coloniais do lugar e pediam a elas que lhes 
apresentassem grupos de nativos. Esses antropólogos se utilizaram do apoio de 
intérpretes para realizar o preenchimento de fichas de informações sobre os nativos, 
enquanto os aborígenes aguardavam em fila em frente à mesa do pesquisador, 
posta do lado de fora da embarcação. 
Tal expedição ao Estreito de Torres inspirou a realização de outras viagens, 
como a expedição de um ano de Walter Baldwin Spencer e Francis James Gillen em 
1901 e a Expedição Antropológica de Oxford e Cambridge à Austrália Ocidental em 
 
 
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22 CIÊNCIAS SOCIAIS 
1910-11, com a participação de Alfred Radcliffe-Brown. Além disso, transformou a 
área da Oceania em foco para o desenvolvimento teórico da Antropologia. 
 
 
Resumo: O texto fala da experiência da Expedição Cambridge ao 
Estreito de Torres, que foi um antecedente importante para o desenvolvimento dos 
estudos antropológicos na Grã-Bretanha. Tal viagem estabelece a Oceania como 
área-foco de pesquisa e se mostra como uma transição entre a antropologia de 
gabinete e a antropologia de campo. 
Importante: Note que, apesar de terem viajado em tais expedições, alguns 
desses autores ainda são considerados parte dos antropólogos de gabinete, pois 
estudavam também dados trazidos por cronistas e viajantes. Os antropólogos 
ingleses que deixam de ter tal alcunha são os que começam a realizar pesquisas de 
campo em que convivem com as sociedades pesquisadas, como Edward Evans-
Pritchard e Bronislaw Malinowski. É preciso lembrar também que, nem todos os 
antropólogos de gabinete são evolucionistas ou difusionistas. Marcel Mauss é uma 
grande referência dentro da antropologia até hoje e foi um antropólogo que escreveu 
textos baseados em fontes trazidas por outros autores. 
Reflexão: Imagine que você faz parte de uma expedição a um lugar 
remoto na região amazônica do Brasil, onde você não conhece ninguém. O que 
você esperaria encontrar por lá? Como você procederia para entrar em contato com 
os povos que habitam a região? 
 
 
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23 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Aula 05_Malinowski e a consolidação do Funcionalismo 
 
Em nossa quinta aula, conheceremos o trabalho de Bronilaw Malinowski e 
sua contribuição aos estudos antropológicos. 
 
Bronilaw Malinowski nasceu na Polônia em 1884 e até seus vinte e poucos 
anos estudava Ciências Exatas e realizava seu doutoramento em Física e Química 
na Alemanha. Conta a lenda que de uma hora para outra, ele cai doente e tem de 
parar com sua pesquisa. É quando, enfermo, lhe cai nas mãos o livro de James 
Frazer, O Ramo de Ouro, e Malinowski decide estudar Antropologia. Então, já 
restabelecido, parte para a Inglaterra e vai estudar na London School of Economics. 
Sob a orientação do Profº Seligman, ele vai para a Austrália para realizar pesquisa 
nos arquipélagos da Oceania. É quando eclode a I Guerra Mundial e Malinowski, 
como cidadão de passaporte austríaco, é considerado um “estrangeiro inimigo”. 
Então as autoridades australianas permitem que ele permaneça nas Ilhas Trobriand, 
estudando os nativos dali e convivendo com eles. 
Durante todo o período da guerra, Malinowski fica estabelecido junto aos 
trobriandeses. Como um golpe do acaso, seu trabalho antropológico é obrigado a se 
tornar intensivo, isto é, ele passa a morar na aldeia junto com os aborígenes durante 
períodos prolongados de pelo menos um ano. Abandonado pela esfera oficial, o 
pesquisador fica sem intérprete e tem de aprender a língua vivendo junto com os 
nativos. 
Terminada a I Guerra Mundial em 1918, Malinowski retorna à Inglaterra e em 
1922 publica a obra Argonautas do Pacífico Ocidental, baseada na sua estadia nas 
Ilhas Trobriand. A partir desse trabalho, Malinowski impõe novos modelos de 
referência para a Antropologia. Primeiro, ele muda os parâmetros de obtenção das 
informações para a pesquisa, instituindo o trabalho de campo como método 
necessário e legítimo. Segundo, ele mostra um novo arcabouço teórico para explicar 
a dinâmica de uma sociedade, que será mais tarde denominado de Funcionalismo. 
 
 
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24 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Nesta aula, vamos analisar alguns conceitos do citado Funcionalismo e 
deixaremos a próxima aula para aprofundar as atribuições do trabalho de campo 
como novo método de pesquisa. 
Vamos apreciar esse corpo teórico por meio da obra Argonautas do Pacífico 
Ocidental. 
Em sua obra seminal, Malinowski nos coloca em contato com os grupos 
trobriandeses, localizados na Melanésia. Para o autor, a sociedade trobriandesa 
deveria ser explicada por meio das atividades que desenvolve e não por hipóteses 
históricas que não poderiam ser comprovadas, já que esses grupos não possuíam 
escrita. Desse modo, é enfatizada uma abordagem sincrônica das instituições 
sociais, ou seja, a sociedade é explicada a partir das ações e referências que 
elabora no presente. Ao mesmo tempo, todas as atividades realizadas pelas tribos 
das Ilhas Trobriand estão articuladas entre si, de maneira que todas as partes da 
sociedade são interdependentes. Assim, nos agrupamentos trobriandeses, a 
instituição que melhor demonstra essa interligação entre partes sociais é o kula. 
O kula se refere ao sistema de trocas desenvolvido pelas tribos trobriandesas, que 
não visa apenas o caráter econômico, mas também tem caráter cerimonial. A troca 
no kula não se satisfaz na troca de produtos, mas é também uma forma dos nativos 
se relacionarem e celebrarem os encontros. Como as populações pesquisadas 
vivem em ilhas, as trocas são realizadas por meio de canoas. Assim, a construção 
de canoas e as práticas religiosas estão relacionadas para a execução do kula. 
 
Entretanto , há um aspecto do Kula para o qual devo chamar a atenção, 
tendo em vista sua importância teórica. Vimos que essa instituição 
apresenta vários aspectos intimamente ligados e que se influenciam 
mutuamente. Paratomar apenas dois: a iniciativa econômica e o ritual 
mágico formam um todo inseparável, onde as forças da crença mágica e os 
esforços dos homens moldam-se e influenciam-se mutuamente. 
Parece-me que uma análise e comparação mais profunda da maneira pela 
qual dois aspectos da cultura dependem funcionalmente um do outro, deve 
fornecer algum material interessante para a reflexão teórica.[1] 
http://campus20162.unimesvirtual.com.br/mod/page/view.php?id=32321&inpopup=1#_ftn1
 
 
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25 CIÊNCIAS SOCIAIS 
 
Desse modo, se a sociedade é considerada uma totalidade cujas partes 
estão articuladas, a interligação é assegurada porque cumpre uma função para 
manter o todo social e para satisfazer as necessidades dos indivíduos envolvidos. 
Resumo: Nesta aula, conhecemos um pouco da trajetória de Bronislaw 
Malinowski e de como sua experiência de trabalho com as tribos das Ilhas Trobriand 
resultou na inclusão do trabalho de campo como método científico na Antropologia e 
na proposição de análise teórica denominada Funcionalismo. O Funcionalismo toma 
a sociedade como um todo, cujas partes estão articuladas porque exercem uma 
função social. 
Importante: O funcionalismo recebeu este nome justamente por considerar 
que uma sociedade é formada por partes interligadas que se relacionam 
funcionalmente. Ex: fabricação de canoas se relaciona com a troca de conchas, ou 
seja, um comportamento é realizado em função de outro. Deste modo, a lógica dos 
comportamentos dentro de um grupo se explica por ela mesma no momento em que 
está sendo observada e não na comparação com outros grupos em outros períodos 
históricos (isso é uma abordagem sincrônica) 
Reflexão: É possível pensar as trocas da sociedade ocidental atual na 
perspectiva do kula? Por quê? 
 
[1] MALINOWSKI, Bronislaw - Argonautas do Pacífico Ocidental, São Paulo, Abril, 
Coleção Os Pensadores, 1977 Cap. XXII, p. 369. 
 
http://campus20162.unimesvirtual.com.br/mod/page/view.php?id=32321&inpopup=1#_ftnref1
 
 
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26 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Aula 06_A instituição do trabalho de campo como método de trabalho dentro 
da Antropologia 
 
Como adiantado na aula passada, hoje vamos analisar mais atentamente 
as características que constituem o modelo de pesquisa de campo instituído a partir 
de Malinowski. 
A estadia prolongada de Malinowski nas Ilhas Trobriand e a publicação 
de Argonautas do Pacífico Ocidental definiram um novo modo de obter dados e 
informações sobre nativos de terras distantes. 
Como já ensaiara as diversas expedições britânicas realizadas no final do 
século XIX e começo do XX, era preciso chegar até os grupos pesquisados. 
Porém, Malinowski estabeleceu parâmetros rigorosos para o que viria a ser 
conhecido como trabalho de campo. Vamos seguir alguns de seus critérios. 
Antes de mais nada, o antropólogo deve “afastar-se da companhia de outros 
homens brancos, mantendo-se assim em contato o mais íntimo possível dos 
nativos.”[1] Isso quer dizer que o pesquisador deve ir viver junto com os 
pesquisados durante um longo período, segundo o autor, no mínimo um ano, 
evitando apenas contatos esporádicos. 
O antropólogo também não deve se utilizar de intérpretes para se relacionar 
com os nativos, deve evitar ao máximo a utilização de intermediários para obter as 
informações sobre a vida social local e deve também aprender a língua nativa, o que 
lhe possibilitará não tomar a opinião pessoal de intérpretes como dado da pesquisa. 
E o mais importante de tudo, o antropólogo deve tentar se integrar à vida 
cotidiana do grupo que escolheu estudar, tomando parte dos afazeres e eventos 
quando possível. A isso Malinowski dá o nome de observação participante, pois é 
no relacionamento com os pesquisados que o cientista vai apreendendo as 
instituições sociais. O diário etnográfico se mostra como instrumento ideal para o 
acompanhamento da jornada de pesquisa. 
http://campus20162.unimesvirtual.com.br/mod/page/view.php?id=32329&inpopup=1#_ftn1
 
 
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27 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Dessa maneira, o isolamento do antropólogo de sua sociedade original e a 
imersão na cultura do pesquisado, de modo ativo, servirão de base para constituir 
um trabalho de campo intensivo e acurado. 
 
Malinowski ainda aponta que no trabalho de campo, o pesquisador não 
deve se ater a fatos exóticos ou sensacionais. Deve acompanhar sistematicamente 
os fenômenos que acontecem na vida social nativa e procurar os princípios e leis 
que a organizam. Ao mesmo tempo, deve sempre atentar para a diferença do que os 
pesquisados dizem e o que eles fazem, pois nem sempre o declarado é realizado. 
Além disso, o autor despreza a utilização de formulários ou questionários 
estatísticos, pois muitos dos fenômenos importantes à vida social dos pesquisados 
não aparecem nesse tipo de coleta de dados. 
Após a convivência e apreensão de informações junto aos nativos, cabe ao 
pesquisador sistematizar e realizar uma análise profunda do que recolheu e 
vivenciou, ligando as diversas facetas do cotidiano social do pesquisado. Então, 
como resultado final, o antropólogo deve apresentar uma etnografia, isto é, sua 
experiência em campo articulada da análise social. 
Isso não quer dizer que não houve outros autores que também estavam 
preocupados em realizar trabalho de campo intensivo. Veremos mais à frente a 
experiência de Franz Boas nos EUA. Mas Malinowski foi alguém que se tornou 
referência no assunto e criou uma reflexão a respeito. 
 
Resumo: O texto acima discorreu sobre o estabelecimento do trabalho de 
campo como método científico na Antropologia através do trabalho de Malinowski. 
Entre os principais critérios para realizar o trabalho de campo estão: viver junto dos 
pesquisados de modo intensivo, não utilizar intermediários - como os intérpretes - 
para obter as informações de pesquisa e participar das atividades cotidianas ou 
rituais dos pesquisados quando possível por meio da observação participante. 
 
 
 
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28 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Reflexão: Compare métodos de trabalho de ciências diferentes da 
Antropologia. O que dá a objetividade e a legitimidade desses estudos em 
comparação à Antropologia? 
 
[1] MALINOWSKI, Bronislaw. “Introdução”, In: Argonautas do Pacífico Ocidental, São 
Paulo: Abril, Coleção Os Pensadores, 1977. 
http://campus20162.unimesvirtual.com.br/mod/page/view.php?id=32329&inpopup=1#_ftnref1
 
 
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29 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Aula 07_Radcliffe-Brown e a noção de estrutura social 
 
Nesta aula vamos acompanhar o desenrolar da teoria antropológica na 
Grã-Bretanha por meio do autor Radcliffe-Brown, que ficou conhecido por 
desenvolver um tipo de teoria estrutural funcionalista. Vamos conhecer alguns de 
seus conceitos. 
Radcliffe-Brown nasceu em Birmingham em 1881. Cursou a Universidade de 
Cambridge em Ciências Mentais e Morais e teve entre seus mestres Charles Samuel 
Myers e William Halse R. Rivers, que participaram da Expedição ao Estreito de 
Torres. Em, 1904 tornou-se aluno de Rivers em Antropologia. Orientado por Rivers e 
Alfred Cort Haddon, Radcliffe-Brown realizou estudos nas Ilhas Andaman, na 
Oceania entre 1906 e 1908. Já em 1910 passa a exibir grande influência da 
concepção teórica do francês Durkheim. Em 1922, publica The Andaman Islanders. 
A partir do final da década de 1930, as elaborações teóricas de Radcliffe-
Brown passam a ganhar preponderância no mundo acadêmico britânico. 
A preocupação de Radcliffe-Brown era produzir estudos sobre sociedades 
que não tinham escrita, e por isso, não eram passíveis de realizar estudos históricos, 
era preciso abordar os processos sincrônicos da vidasocial. Traduzindo: imagine 
chegar num grupo social, que não possui registros escritos e você deve realizar 
alguma avaliação a respeito. Você se limita a observar os elementos da vida nativa 
no tempo presente, que lhes estão disponíveis. A principal fonte de informações 
pode ser o sistema de parentesco atuante. Assim fez Radcliffe-Brown. Vejamos 
seus conceitos-chave. 
A primeira noção é o de relações sociais, que são os vínculos e interações 
entre as pessoas. A rede contínua e organizada de relações sociais é 
denominada estrutura social. 
“... os componentes ou unidades de uma estrutura social são as pessoas e 
uma pessoa é um ser humano considerado não como um organismo, mas como 
tendo uma posição numa dada estrutura social.”[1] 
http://campus20162.unimesvirtual.com.br/mod/page/view.php?id=32330&inpopup=1#_ftn1
 
 
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30 CIÊNCIAS SOCIAIS 
As relações sociais entre as pessoas são controladas por normas e regras. A 
essas normas e comportamento estabelecidas numa certa forma de vida social dá-
se o nome de instituição social. Assim, as regras de comportamento que um 
homem deve ter com relação a seus filhos é um tipo de instituição social como a 
paternidade. 
 
Outra ideia importante é a de processo social, porque para o autor a 
realidade que o antropólogo estuda não é uma entidade em si, mas é o processo da 
vida social, que “consiste numa multidão imensa de ações e interações dos seres 
humanos, agindo individualmente ou em conjunto com outros indivíduos ou grupos 
de indivíduos” 
Já o conceito de função social é a relação entre a estrutura social e o 
processo da vida social, na qual um depende do outro para se manterem. Para as 
relações entre as pessoas continuarem a existir, é preciso que as regras e 
instituições sociais sejam ativadas e exercidas, para que a vida social continue seu 
processo e vice-versa. 
Radcliffe-Brown, ao contrário de Malinowski, deu maior ênfase na 
interpretação dos fenômenos sociais na abordagem sociológica e não na abordagem 
psicológica do homem. 
Brown também ajudou a fundar a disciplina de Antropologia em países como 
a Austrália e a África do Sul, acompanhando o ritmo da dinâmica colonial inglesa. 
Também presenciou a mudança de foco da Antropologia Social Britância que vinha 
atuando intensamente na Oceania e agora passava a analisar as sociedades na 
África. 
 
Resumo: O texto apresentou o desenvolvimento teórico que se seguiu ao 
funcionalismo malinowskiano, que foi elaborado por Radcliffe-Brown. Tal grade 
teórica fico chamada como Estruturo-funcionalista, pois foram trabalhados os 
conceitos de estrutura social, instituição, função social e processo social. 
 
 
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31 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Importante: Podemos dizer que Malinowski enfatiza aspectos da vida 
psicológica do homem no sentido de que ele volta-se para inclinações humanas para 
explicação dos fenômenos (a troca, nesse sentido, é um fenômeno humano). 
Enquanto isso, Radcliffe-Brown interpreta os comportamentos como parte das 
relações sociais que nos fazem humanos (a troca, nesse sentido, é uma 
manifestação empírica de uma relação social). São leituras filosóficas para pensar 
os comportamentos humanos um pouco distintas uma da outra, mas ambos ainda 
são considerados antropólogos. 
Reflexão: Tente aplicar alguns conceitos estudados nesta aula sobre a 
genealogia da sua família. Observe as relações de matrimônio, consanguinidade ou 
afinidade e tire alguma conclusão a respeito. 
 
[1] RADCLIFFE-BROWN, A. “Introdução”, In: Estrutura e função na sociedade 
primitiva. Petrópólis: Vozes 1973, p.17. 
http://campus20162.unimesvirtual.com.br/mod/page/view.php?id=32330&inpopup=1#_ftnref1
 
 
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32 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Aula 08_Evans-Pritchard, os Nuer e a preocupação com os sistemas políticos 
africanos 
 
Continuando com a história de desenvolvimento da Antropologia Social 
Britânica, nesta aula, vamos conhecer o trabalho de Evans-Pritchard. 
Herdeiro de Radcliffe-Brown, Evans-Pritchard o sucedeu na cátedra de 
Antropologia Social na Universidade de Oxford em 1946. Em 1937, ele publicara 
Bruxaria, Oráculos e Magia, sobre os Azande, na qual a principal preocupação era a 
questão da racionalidade nas práticas e crenças africanas. Aos estudos de 
parentesco, incluiu as preocupações a respeito dos sistemas políticos, com a 
publicação juntamente com Fortes, em 1940, de Sistemas Políticos Africanos. 
Ainda em 1940, Evans-Pritchard publica sua monografia Os Nuer, povo 
africano que habitava ao sul do rio Nilo. É sobre este trabalho que a aula de hoje 
será desenvolvida. 
Os Nuer eram grupos que ocupavam a África Oriental, juntamente com outros 
agrupamentos que se localizavam nas proximidades dos cursos d´água do rio Nilo. 
Evans-Pritchard estabeleceu contato com esse grupo justamente no momento em 
que eles combatiam tropas britânicas e soldados do governo do Sudão. O 
antropólogo fez inúmeras incursões junto aos Nuer em 1930, 1931, 1935 e 1936, 
que foram interrompidas devido falta de financiamento ou aos problemas de conflito 
com as tribos, mas juntando todo o período declara que realizou quase um ano de 
pesquisa. 
Segundo o autor, o principal interesse dos Nuer é a sua preocupação com o 
gado. Os bovinos expressavam todo o orgulho e as relações sociais de prestígio 
entre aqueles africanos. Outro ponto, é que a economia de criação do gado estava 
intimamente ligada ao ritmo ecológico e social. Desse modo, o tempo Nuer era 
dividido em duas estações principais, a estação das chuvas e a estação da seca. 
Essas estações também eram marcadas pela mobilidade espacial, pois no tempo 
das chuvas, os Nuer permaneciam nas planícies, engordavam seu gado e se 
 
 
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33 CIÊNCIAS SOCIAIS 
sustentavam da caça e da roça. No tempo das secas, eles migravam para perto das 
margens dos rios e se alimentavam da pesca. Os Nuer não concebiam um tempo 
abstrato, eles marcavam o tempo por meio das atividades, a hora de levar o gado 
para pastar, o momento de se mudar para os rios. Por isso, eles não lutavam contra 
o tempo, o tempo eram as próprias atividades que realizavam. 
Os Nuer não apresentavam instituições exuberantes, nem práticas que 
chamassem muita atenção, nem cultura material impressionante. O mesmo 
acontecia com suas formações políticas. Eram grupos sem um centro visível de 
poder, não havia chefes todo-poderosos. Os guerreiros, chefes da pele de leopardo, 
que só atuavam nos momentos de combate e de modo temporário. Havia também 
os profetas que possuíam função sagrada, mas não governavam, nem julgavam. Por 
essas características, os Nuer foram considerados uma sociedade constituída por 
uma espécie de anarquia ordenada. 
Um artifício de construção da identidade Nuer foi descrito por Evans-
Pritchard. Dependendo quem for o interlocutor, um Nuer pode se identificar 
como lou, lak ou leng. Se o Nuer fala com um estrangeiro, ele se apresenta como 
Nuer, se ele fala com alguém de outra tribo, ele se apresenta como da tribo lou, se 
fala com alguém de sua tribo, ele apresenta sua linhagem de parentesco. O mesmo 
ocorre nas disputas, dependendo do inimigo as tribos se associam ou travam lutas 
entre si. 
As linhagens etárias e de parentesco aparecem como formas de organização 
social juntamente com as formas políticas. 
Resumo: Nesta aula, vimos a inclusão da preocupação com sistemas 
políticos na tradição de pensamento da Antropologia Social Britânica por meio do 
autor Evans-Pritchard e sua etnografia sobre os Nuer, povo da parte oriental do 
continente africano. 
 
 
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34 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Importante: Note que oautor, assim como Radcliffe-Brown e Malinowski, 
está preocupado em entender as relações sociais a partir do que é apresentado 
pelos nativos e não a partir de comparações históricas ou culturais, seguindo uma 
postura crítica em relação ao evolucionismo cultural e ao difusionismo, 
respectivamente. Evans-Pritchard mostrou como uma sociedade sem Estado se 
organiza e organiza suas relações com outros grupos ao estudar os Nuer. 
Reflexão: Contraposto a que modelo de sistema político os Nuer foram 
considerados como sociedade “anárquica”? Algumas tribos indígenas brasileiras 
também não possuem uma forma centralizada de poder, você considera que são 
sociedades sem formas de poder constituído? Por quê? 
 
 
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35 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Aula 09 - Bateson e o Naven 
 
Nesta parte, iremos conhecer a obra de Gregory Bateson em Naven, cuja 
elaboração teórica ficou esquecida dentro da história da disciplina, mas atualmente 
começa a ser redescoberta, dada sua originalidade. Vamos resgatá-la. 
 
Gregory Bateson era um cientista natural na Universidade de Cambrigde, até 
que A.C. Haddon o convidasse para estudar Antroplogia e o enviasse à Nova Guiné. 
Bateson recebeu a influência teórica tanto de Malinowski quanto de Radcliffe-Brown 
a sua formação, como podemos perceber no uso muito particular de noções como 
função social e forma estrutural. Em 1936, publica Naven. 
Naven é um comportamento cerimonial dos povos Iatmul da Nova Guiné, 
Oceania, no qual os homens se vestem de mulher e as mulheres vestem-se de 
homem, numa apresentação recheada de zombaria, em que o gesto mais 
característico acontece quando um “tio” esfrega as nádegas na perna do “sobrinho”. 
Essa encenação é ativada toda vez que o filho da irmã, o laua, executa pela primeira 
alguma tarefa considerada importante como pescar o primeiro peixe ou construir 
uma canoa. 
A partir desse rito, Bateson vai trabalhar planos múltiplos e simultâneos da 
cultura Iatmul. Transformando os conceitos do funcionalismo malinowskiano, as 
noções do estruturalismo de Radcliffe-Brown e a antropologia cultural americana, ele 
desenvolve os planos sociológico, estrutural e emotivo com as idéias de função 
estrutural, função ethológica, função afetiva, função eidológica e função sociológica 
para explicar o sentido do ritual naven. 
Um dos pontos de sua originalidade é colocar que a cultura Iatmul só poderia 
ser coerentemente compreendida se desvendada juntamente com o aspecto 
emotivo do rito, a zombaria e seu aspecto cognitivo e simbólico. 
 
 
 
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Resumo: Aqui vimos a contribuição de Gregory Bateson, na sua obra Naven, 
que trata da cultura dos povos Iatmul da Nova Guiné, por meio de um rito de 
zombaria, cujo elemento afetivo é importante para entender os outros aspectos da 
cultura. 
 
Reflexão: Você conhece algum outro autor que ficou muitos anos 
esquecidos e só depois de muitos anos sua obra é redescoberta. Por que você acha 
que isso acontece? 
 
 
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Aula 10_Gluckman e os processos de conflito 
 
Esta aula apresentará a evolução da Antropologia Social Britânica para os 
problemas de conflito, processo e integração ritual por meio da obra de Max 
Gluckman. 
Max Gluckman nasceu na África do Sul, foi para a Universidade de Oxford em 
1934 para realizar seu doutorado em Antropologia. Realizou trabalho de campo 
entre os Zulus entre 1936 e 1938 e, em 1940, publicou seu primeiro ensaio na 
obra Sistemas Políticos Africanos, organizada por Fortes e Evans-Pritchard. Lá, já 
demonstrava sua preocupação com as formas de oposição e conflito. A partir de 
1939, colaborou para o desenvolvimento do Instituto Rhodes Livingstone e transferiu 
seus estudos dos grupos zulus para os grupos da África Central. 
Em 1949, Gluckman foi nomeado professor na Universidade de Manchester 
para criar o novo departamento. 
Nas análises de Gluckman, os ritos apresentam-se como pontos privilegiados 
para a observação da dinâmica social. A vida social possui uma estabilidade 
dinâmica, e não estática, da qual os conflitos podem restabelecer o equilíbrio social. 
Ao discorrer sobre rituais de rebelião no sudeste da África, o autor nos 
mostra formas institucionalizadas de conflitos com função de integração social. Isto 
significa que existem cerimônias, que apresentam propositalmente elementos de 
tensão social para confirmar a estrutura do sistema social. 
 
...eu as chamo de rituais de rebelião. Demonstrarei que seguem esquemas 
tradicionais estabelecidos e sagrados nos quais são questionadas as 
distribuições particulares de poder e não a própria estrutura do sistema. Isso 
permite protesto institucionalizado, além de renovar a unidade do sistema 
de várias e complexas maneiras.[1] 
 
Aqui é importante também a noção de processo social, pois as instituições 
sociais só são confirmadas quando colocadas sob a pressão do conflito e, assim, 
http://campus20162.unimesvirtual.com.br/mod/page/view.php?id=32336&inpopup=1#_ftn1
 
 
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postas em movimento para revitalizar a estrutura social. Cerimônias que afirmam o 
conflito e a tensão, como as dos grupos zulus, que acabam por representar 
simbólica e dramaticamente as relações sociais, em toda a sua ambivalência, 
conseguem levar à unidade e prosperidade da sociedade e não à mudança social. 
 
A aceitação da ordem estabelecida como certa, benéfica e mesmo sagrada 
parece permitir excessos desenfreados, verdadeiros rituais de rebelião, pois 
a própria ordem age para manter a rebelião dentro de seus limites. Assim, 
representar os conflitos, seja diretamente, seja inversamente, seja de 
maneira simbólica, destaca sempre a coesão social dentro da qual existe os 
conflitos. Todo sistema social é um campo de tensões, cheio de 
ambivalências, cooperações e lutas contrastantes. [2] 
 
Gluckman ainda desenvolveu estudos sobre as áreas urbanas e rurais, 
focando os africanos como trabalhadores que se deslocam pelo sistema rural e 
industrial ao mesmo tempo. Desse modo, também foi pioneiro nos estudos de 
antropologia urbana. 
Resumo: Nesta parte vimos como o tema dos conflitos se desenvolve 
dentro da tradição de pensamento da Antropologia Social Britânica por meio do 
trabalho de Max Gluckman. E seus trabalhos sobre os povos africanos zulus, ele 
ressalta que existem rituais de rebelião, isto é, formas institucionalizadas de 
demonstrar os conflitos sociais, de maneira que tal prática acaba por reforçar a 
unidade do sistema social. 
Importante: As preocupações de Gluckman inauguram um método e uma 
postura teórica nova dentro da antropologia que caracteriza o pensamento da escola 
de Manchester: o estudo dos processos sociais internos a cada sociedade. 
Compreendemos melhor essa nova forma de pensar a estrutura social a partir do 
evento narrado pelo autor. Além disso, Gluckman nos permite ampliar o olhar sobre 
a estrutura social quando assume que estruturas sociais podem conter diferentes 
http://campus20162.unimesvirtual.com.br/mod/page/view.php?id=32336&inpopup=1#_ftn2
 
 
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39 CIÊNCIAS SOCIAIS 
grupos culturais e que há um processo histórico interno a cada sistema que explica a 
relação de forças entre seus membros. 
Reflexão: Se você considerar o futebol uma forma de ritual de conflito 
institucionalizado, no qual dois times rivais entram em disputa seguindo regras bem 
precisas, quais seriam as suas significações, simbolizações e quais os seus efeitos 
para a sociedade brasileira? 
 
[1] GLUCKMAN, Max - Rituais de rebelião no sudeste da África. In: Cadernos de 
Antropologia. EditoraUniversidade de Brasília. 1974 
[2] GLUCKMAN, Max. Idem 
http://campus20162.unimesvirtual.com.br/mod/page/view.php?id=32336&inpopup=1#_ftnref1
http://campus20162.unimesvirtual.com.br/mod/page/view.php?id=32336&inpopup=1#_ftnref2
 
 
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40 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Aula 11_Victor Turner e a noção de drama social 
 
Na aula que segue, vamos estudar como a preocupação sobre os 
processos sociais de conflitos na Antropologia Social Britânica desemboca na 
elaboração teórica sobre o simbolismo social principalmente através da noção de 
drama social na obra de Victor Turner. 
Victor Turner nasceu em 1920 e foi aluno de Gluckman na Universidade de 
Manchester no final da década de 1940. Iniciou seus estudos analisando os 
processo de conflito e resolução de conflitos em sociedades tribais da região da 
África Central. Em 1957, publica Schism and Continuity in an African Society, 
analisando a organização social Ndembu. 
A obra de Gluckman já anunciava certa preocupação sobre os processos de 
significação e representação presentes nas formas rituais de conflito. Porém, Turner 
vai se concentrar mais no desenvolvimento teórico do aspecto simbólico do ritual. 
Isso fica evidente com a publicação, em 1967, de The Forest of Symbols – Aspects 
of Ndembu Ritual, em que aponta como os rituais estão carregados de simbolismo 
social. Na obra citada, o autor apresenta os vários níveis de observação e 
interpretação presentes nos elementos rituais, sublinhando a multivocalidade dos 
símbolos, isto é, um mesmo símbolo pode representar coisas distintas, de acordo 
com as diferentes fases do ritual, e também coisas diferentes para pessoas distintas. 
Assim como Gluckman, que se inspirou na influência das teorias de 
Durkheim, Turner considera que o ritual reforça os valores sociais e por isso integra 
a sociedade, salienta que o símbolo é um agente de unidade social da comunidade, 
mas também da manutenção da estrutura social. 
Em 1974, é publicado o livro Dramas, Fields and Metaphors, trabalho no qual 
Turner enfatiza o caráter simbólico da ação humana. Considerando que a ação 
humana ocorre na forma de processo e que ela se evidencia diante dos conflitos 
sociais existentes sob uma forma dramática, isto é, performática. A essas unidades 
de ação no processo não-harmônico ou desarmônico, que surgem em situações de 
 
 
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41 CIÊNCIAS SOCIAIS 
conflito, o autor dará o nome de drama social. Essas situações são mais evidentes 
quando ocorrem rituais coletivos, porém podem estar presentes também em eventos 
históricos ou políticos. Os dramas sociais são carregados de símbolos – símbolos 
culturais, símbolos rituais – que são originados e ao mesmo tempo sustentam os 
processos temporais de mudanças nas relações sociais. Símbolos instigam a ação 
social e por isso participam das transformações que os dramas sociais colocam em 
movimento. 
Aqui é possível perceber como Turner se apropria das noções de 
processos social, de processos de conflito e, ao amalgamá-las com idéias sobre o 
simbolismo da ação humana, cria o conceito de drama social. 
 
Resumo: Acima vimos como a Antropologia Social Britânica desenvolveu 
o conceito de drama social, por meio da obra de Victor Turner, a partir das noções 
de processo social e processos de conflito social, de modo a enfatizar o aspecto 
simbólico da ação humana. 
 
Reflexão: Se você tomar as ocupações de terras realizadas por 
movimentos de trabalhadores sem-terra como drama social, quais elementos da 
sociedade brasileira são revelados? 
 
 
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42 CIÊNCIAS SOCIAIS 
Aula 12 _ A influência do estruturalismo francês - Leach 
 
Nesta aula, vamos acompanhar o impacto que a obra de Lévi-Strauss, 
antropólogo francês, causa na Antropologia Social Britânica, influenciando os 
trabalhos de autores como Edmund Leach e Mary Douglas. 
 
A partir da década de 1950, como já observamos na obra de Turner, muitos 
antropólogos estavam dispostos a transferir seus interesses das normas para os 
sistemas simbólicos. A obra teórica de Lévi-Strauss, denominada sob o 
termo Estruturalismo, entusiasmou muitos antropólogos britânicos, principalmente 
Edmund Leach e Mary Douglas. 
Pontuamos aqui que o Estruturalismo será trabalhado na Unidade II, que 
abordará a tradição de pensamento da Antropologia desenvolvida pelos franceses. 
Nesta aula, vamos acompanhar mais de perto os trabalhos de Edmund 
Leach, tratando da obra de Mary Douglas na próxima. Vamos ao trabalho. 
Edmund Leach estudava Engenharia em Cambridge, quando, depois de 
formado, passou alguns anos na China. Foi quando decidiu fazer Antropologia e 
ingressou na London School of Economics no começo da década de 1930. Foi aluno 
de Malinowski e em 1938 realizou algum trabalho de campo entre os Curdos do 
Oriente Médio, mas decidiu por realizar seus estudos de campo ao lado dos 
guerrilheiros Kachins, na Birmânia. 
Em 1954, Leach publica Sistemas Políticos da Alta Birmânia, sua tese de 
doutorado. Nesse trabalho, é enfatizado o caráter instável das formas culturais, 
políticas e de relacionamento entre as pessoas, que não eram estáticas, mas 
navegavam entre noções extremas e opostas, que serviam de tipos ideais para as 
pessoas classificarem e de posicionarem. Esses tipos ideais eram o gumlao, 
princípio igualitário e quase anárquico; a forma gumsa, princípio intermediário e 
instável; e estado Shan. Por vezes as comunidades kachins realizavam 
combinações desses tipos ou mudavam de um tipo para outro. 
 
 
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43 CIÊNCIAS SOCIAIS 
A partir da década de 1960, Leach se mostra mais íntimo das elaborações 
teóricas do Estruturalismo e experimenta o método. A sua contribuição particular 
consistiu em ampliar a gama de aplicações e em racionalizar o método em alguns 
aspectos. Nas oposições binárias do método estruturalista, existe um terceiro termo 
que não é A nem é B. Devido sua natureza anômala, esse terceiro elemento é 
cercado de tabus e proibições. Por exemplo, os animais podem ser classificados em 
animais de estimação, animais de lavoura, animais selvagens etc. Quanto mais 
íntimo da relação com os homens, menor a propensão do homem de se alimentar do 
animal. Assim não se come os animais de estimação, mas se come os animais de 
caça em situações especiais de apuro. 
 
Leach se interessava particularmente por analisar as anomalias dentro do 
esquema estruturalista, isto é, a criatura que não se ajusta nitidamente em qualquer 
das categorias usuais. Desse modo, lhe seduz analisar o nascimento virgem, 
presente não só na Nossa Senhora cristã e ocidental, mas também em contos de 
tribos africanas. 
Como vimos, embora existisse uma tradição genuinamente britânica de 
análise antropológica baseada na preponderância das relações sociais e da 
estrutura social sobre as categorias culturais, houve um interesse por parte de 
antropólogos britânicos de assimilar a perspectiva intelectualista de Lévi-Strauss. 
 
Resumo: O texto apresenta a influência do método estruturalista de Lévi-
Strauss sobre alguns antropólogos britânicos como Edmundo Leach e Mary 
Douglas. Leach ampliou o alcance do método e se interessou por analisar os 
elementos que eram considerados anomalias e tabus nas sociedades. 
 
 
 
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Reflexão: Tente enumerar alguns personagens ou objetos que são foco 
de tabu, proibição ou são olhados com suspeitas, como o lobisomem, uma 
encruzilhada, entre outros. O que os fazem anômalos? Quais os elementos que eles 
carregam, que normalmente não são vistos juntos e ao mesmo tempo? 
 
 
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Aula 13_Mary Douglas e as abominações do Levítico 
 
Como anunciado na aula anterior, continuamos a acompanhar a influência do 
estruturalismo francês sobre a Antropologia Social Britânica, agora enfocando a obra 
de Mary Douglas. 
Se na aula anterior iniciamos a discussão sobre a influência do método 
estruturalista sobre o pensamento britânico com os trabalhos de Edmund Leach, 
passamos a enfocar a proposta de Mary Douglas. 
Mary Douglas estudou na Universidade de Oxford, tendo sido orientada por 
Evans-Pritchard. Ela faz uma apropriação muito particular das teorias de Malinowski, 
Radcliffe-Brown, Evans-Pritchard junto com o Estruturalismo francês. 
Em “As Abominações do Levítico”, análise das regras de alimentação ditadas 
por um livro do Velho Testamento bíblico, a autora faz considerações sobre as idéias 
de poluição e contaminação. 
Antes de qualquer coisa, ela considera que as idéias de poluição só fazem 
sentido quando “em referência a uma estrutura total de pensamento cujo ponto-
chave, limites, linhas internas e marginais se relacionam por rituais de 
separação.”[1] 
Assim, os animais indicados como proibidos de serem ingeridos se reportam 
à referência de ser santo, ser total e uno. A santidade é unidade, integridade e 
perfeição do indivíduo e da espécie. 
Os animais proibidos pela regra dietética do Levítico são impuros e 
imperfeitos porque transitam entre categorias que deveriam estar separadas. Os 
ruminantes como os bovinos, as ovelhas e cabras são animais de carne pura porque 
são ruminantes e têm casco fendido. Já o coelho é considerado ruminante, mas não 
tem casco fendido, por isso sua carne é proibida. Assim também com o porco, que 
tem casco fendido, mas não é ruminante. 
Também as criaturas que não respeitam a classificação de vida apropriada 
em terra, em água ou em ar são proibidas. A doninha, o crocodilo, os lagartos são 
http://campus20162.unimesvirtual.com.br/mod/page/view.php?id=32342&inpopup=1#_ftn1
 
 
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46 CIÊNCIAS SOCIAIS 
impuros porque que têm teriam duas mãos e dois pés, mas andam com todos os 
quatros. Os animais que rastejam são impuros porque se movem como peixes, mas 
andam sobre a terra. 
Todos esses elementos vão contra a idéia de integridade e unicidade, pois 
são compostos de aspectos que deveriam estar separados. E desse jeito, vão contra 
a noção de santidade. 
Se a interpretação proposta aos animais proibidos está correta, as leis 
dietéticas teriam sido signos que a cada momento inspiravam meditação 
sobre a unidade, pureza e perfeição de Deus. Pelas regras de evitação, à 
santidade foi dada uma expressão física em cada encontro com o mundo 
animal e a cada refeição. A observância das regras dietéticas teriam então 
sido uma parte significativa do grande ato litúrgico de reconhecimento e 
culto que culminava no sacrifício no Templo.[2] 
Desse modo, finalizamos aqui nosso percurso pelos clássicos da Antropologia 
Social Britânica. 
Resumo: Nesta aula, tomamos contato com a obra de Mary Douglas e sua 
proposta muito particular de análise, utilizando-se dos métodos do estruturalismo 
francês. 
Reflexão: Você já presenciou outras formas de proibição alimentar? Você 
consegue sugerir algum tipo de explicação para tal proibição? 
 
[1] DOUGLAS, Mary. "As abominações do Levítico". Pureza e Perigo. Perspectiva, 
São Paulo, Cap.3. 
[2] DOUGLAS, Mary. Idem 
http://campus20162.unimesvirtual.com.br/mod/page/view.php?id=32342&inpopup=1#_ftn2
http://campus20162.unimesvirtual.com.br/mod/page/view.php?id=32342&inpopup=1#_ftnref1
http://campus20162.unimesvirtual.com.br/mod/page/view.php?id=32342&inpopup=1#_ftnref2
 
 
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Resumo da Unidade II 
A Unidade II tratou de apresentar os principais autores e temas 
desenvolvidos pela Antropologia Social Britânica clássica. 
Começando pela experiência da Expedição Cambridge ao Estreito de 
Torres, que foi um antecedente importante para o desenvolvimento dos estudos 
antropológicos na Grã-Bretanha. Tal viagem estabelece a Oceania como área-foco 
de pesquisa e se mostra como uma transição entre a antropologia de gabinete e a 
antropologia de campo. 
Com Bronislaw Malinowski, conhecemos sua experiência de trabalho com as 
tribos das Ilhas Trobriand, que resultou na inclusão do trabalho de campo como 
método científico na Antropologia e na proposição de análise teórica 
denominada Funcionalismo. O Funcionalismo toma a sociedade como um todo, 
cujas partes estão articuladas porque exercem uma função social. 
Seguido ao funcionalismo malinowskiano, foi elaborado por Radcliffe-Brown 
uma grade teórica chamada como Estrutural-funcionalista, na qual são 
trabalhados os conceitos de estrutura social, instituição, função social e processo 
social. 
Por meio do autor Evans-Pritchard vimos a inclusão da preocupação 
com sistemas políticos na tradição de pensamento da Antropologia Social Britânica 
e sua etnografia sobre os nuer, povo da parte oriental do continente africano. 
Também acompanhamos a contribuição de Gregory Bateson, com sua 
obra Naven, que trata da cultura dos povos Iatmul da Nova Guiné, por meio de um 
rito de zombaria, cujo elemento afetivo é importante para entender os outros 
aspectos da cultura. 
Com Max Gluckman percebemos como o tema dos conflitos se desenvolve 
dentro da tradição de pensamento da Antropologia Social Britânica. Em seus 
trabalhos sobre os povos africanos zulus, ele ressalta que existem rituais de 
 
 
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48 CIÊNCIAS SOCIAIS 
rebelião, isto é, formas institucionalizadas de demonstrar os conflitos sociais, de 
maneira que tal prática acaba por reforçar a unidade do sistema social. 
Com Victor Turner, a Antropologia Social Britânica desenvolveu o conceito de 
drama social, a partir das noções de processo social e processos de conflito social, 
de modo a enfatizar o aspecto simbólico da ação humana. 
Por fim, a influência do método estruturalista de Lévi-Strauss sobre alguns 
antropólogos britânicos como Edmundo Leach e Mary Douglas produziu trabalhos 
inovadores, ampliando o alcance do método estruturalista. 
 
Glossário da Unidade II 
Estrutural-funcionalismo: teoria antropológica que trabalha com os 
conceitos de estrutura social, instituição, função social e processo social. 
Etnografia: obra escrita com o relato da experiência em campo realizada pelo 
antropólogo, articulada de análise social. 
Funcionalismo: arcabouço teórico que considera a sociedade como um todo 
formado por partes articuladas, que se relacionam porque atendem às funções 
sociais. 
Observação participante: quando o antropólogo deve tentar se integrar à 
vida cotidiana do grupo que escolheu estudar, tomando parte dos afazeres e 
eventos quando possível. 
Trabalho de campo: método da Antropologia para obter informações e dados 
para pesquisa. 
 
Referências Bibliográficas da Unidade II 
 
DOUGLAS, Mary. “As abominações do Levítico", In: Pureza e Perigo. Perspectiva: 
São Paulo. 
EVANS-PRITCHARD, Edward. E. "Tempo e Espaço". Os Nuer. São Paulo: 
Perspectiva, 1978. 
 
 
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49 CIÊNCIAS SOCIAIS 
GLUCKMAN, Max. “Rituais de rebelião no sudeste da África”. In: Cadernos de 
Antropologia. Brasília: Editora Universidade de Brasília. 1974. 
KUPER, Adam. Antropológos e Antropologia. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1978. 
LEACH, Edmund - "O nascimento virgem". In: Edmund Leach. Coleção Grandes 
Cientistas Sociais, São Paulo, Ática, 1983. 
MALINOWSKI, Bronislaw. "Introdução" e Cap. III - "Características essencias do 
Kula", In: Argonautas do Pacífico Ocidental, São Paulo: Abril, Coleção Os 
Pensadores, 1977 ,. 
RADCLIFFE-BROWN, Alfred. Cap. 1 - "O irmão

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