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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA UNIDADE BARRA DA TIJUCA QUINTA FEIRA-FEIRA - MANHÃ A1 DE DIREITO DAS SUCESSÕES PROFESSORA ROSEMARY LOPES FARIA QUESTÕES DE DIREITO SUCESSÓRIO ALUNO LUCAS GARCIA SAYÃO MATRÍCULA 20201107956 2 1. Aprendemos em sala de aula que, com a morte, a sucessão da pessoa está aberta e, com isso a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários. Essa transmissão automática é o que a doutrina chama de SAISINE. Desta maneira, analise se é possível a exclusão de cônjuge ou companheiro? Em caso positivo, indique as hipóteses. Utilize pelo menos duas doutrinas e aponte também o entendimento dos tribunais sobre o tema. Elabore um texto dissertativo/argumentativo com no máximo 15 linhas. (4,0 pontos) R: Existem duas formas de exclusão do cônjuge do processo de sucessão, a primeira é no caso de meação, que dependendo do regime de bens a dotados, pode afastar a pessoa companheira da qualidade de herdeiro, e a segunda é a indignidade. Primeiro deve-se entender a diferença entre ser herdeiro e ser meador. Herdeiro é aquele que tem direito a receber os bens do de cujus em razão da morte, seja por força de lei, ou por vontade do espólio. Já o meeiro, tem direito sobre metade dos bens comuns do casal, direito que se dá, em decorrência da comunhão de bens, e não pelo falecimento. Vide Art. 1.685 do CC. Portanto, pode-se afirmar que o meeiro em regime de comunhão universal de bens não tem direito a herança, uma vez que não existem bens particulares a serem partilhados, portanto, em regra, excluído do procedimento de sucessão de bens, vide art. 1.829, I do CC. A este respeito, versa Caio Mario: “À meação, em regra, já tem o cônjuge direito em vida do outro, na vigência da sociedade conjugal, não lhe advindo, portanto, successionis causa.” 1 Em segundo plano, temos o instituto da indignidade, que por motivos elencados no art. 1.814 do CC, como por exemplo o homicídio doloso do espólio, cerceia o direito sucessório do indigno, tornando-o incapaz de suceder. Lembra-se que não há hipótese de deserdação do cônjuge. Sobre o tema, versa Carlos Roberto Gonçalves: “Nos termos do art. 1.829, I, do Código Civil, a cônjuge, casada no regime da comunhão universal de bens, não é herdeira do falecido marido. Por outro lado, estatui o art. 1.814 do mesmo diploma que são excluídos da sucessão somente “os herdeiros ou legatários”. Nesse caso, mesmo sendo ela causadora da morte do marido, não pode ser excluída da sucessão para não receber a meação. Embora seja meeira, não é herdeira. Não faz jus à metade dos bens inventariados por direito sucessório, uma vez que, sendo meeira, metade do patrimônio já lhe pertence por direito, independentemente da morte do marido”. 2 Entendimento este, confirmado pelo STJ, em REsp 1.787.027, julgado pela Ministra Nancy Andrighi, versa: “Assim, na dissolução do casamento sob o regime da comunhão universal de bens, deve ser reservada a meação do cônjuge sobrevivente e deferida aos herdeiros necessários a outra metade.” 3 1 Instituições de Direito Civil: Direito das Sucessões - Vol. VI. P. 139. 2 Direito civil brasileiro v 7 - direito das sucessões. P. 46. 3 RECURSO ESPECIAL Nº 1.787.027 - RS (2016/0019400-1), P. 15. 3 2. No estudo da filiação é possível depreender que a mesma pode ser decorrente de fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido. Entretanto, para tanto é necessário que o marido, ainda em vida, tenha deixado consentimento expresso e inequívoco. Neste sentido, decidiu a 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ, 2021). Considerando as regras atinentes ao direito das sucessões, informe: a. No que consiste a fecundação artificial homóloga? (2,0 pontos). R: Trata-se da fecundação artificial ou reprodução assistida post mortem. Onde o cônjuge sobrevivente utiliza o material genético do companheiro falecido, deixado em uma clínica de fecundação artificial, para gerar um filho após o falecimento. Nos termos da resolução n. 2.168/2017 do CFM.4 b. Nossos tribunais entendem possível a realização de fecundação artificial homóloga? Quais os requisitos? (2,0 pontos). R: Sim, é possível a realização da fecundação artificial homóloga, porém, o companheiro falecido deve deixar expresso de forma escrita, com consentimento livre e esclarecido, por meio de testamento ou equivalente, a vontade de fecundação após o falecimento, a fim de garantir a vontade do de cujus, seguindo o entendimento do CFM, CNJ, CFJ e do STJ: “A decisão de autorizar a utilização de embriões consiste em disposição post mortem, que, para além dos efeitos patrimoniais, sucessórios, relaciona-se intrinsecamente à personalidade e dignidade dos seres humanos envolvidos, genitor e os que seriam concebidos, atraindo, portanto, a imperativa obediência à forma expressa e incontestável, alcançada por meio do testamento ou instrumento que o valha em formalidade e garantia”5 “É permitida a reprodução assistida post-mortem desde que haja autorização prévia específica do(a) falecido(a) para o uso do material biológico criopreservado, de acordo com a legislação vigente”6 c. Um(a) filho(a) gerado(a) através de fecundação artificial homóloga post mortem, fará jus a herança do pai falecido, considerando que o pai faleceu 10 anos antes da fecundação ser realizada? Aponte as controvérsias sobre o tema indicando o posicionamento da doutrina. (2,0 pontos). R: É reconhecido o direito dos ao planejamento familiar, art. 226 §7 da CF, portanto, mesmo concebido após o falecimento de um dos cônjuges, é valido para todos os direitos, inclusive os sucessórios. Neste sentido, versa o CC: “Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos: 4 RESOLUÇÃO CFM nº2.168/2017, art. I, inciso 4. 5 RECURSO ESPECIAL Nº 1.918.421 - SP (2021/0024251-6), P. 4. 6 RESOLUÇÃO CFM nº2.168/2017, art. VIII 4 III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido; IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga;” Portanto, como direito fundamental garantido na constituição, é garantido aos filhos gerados post mortem direitos iguais aos concebidos em vida, a filiação parental, reconhecimento de paternidade e direitos hereditários. Neste sentido, observa Maria Berenice Dias: “A norma constitucional que consagra a igualdade da filiação não traz qualquer exceção. Assim, presume-se a paternidade do filho biológico depois do falecimento de um dos genitores. Ao nascer, ocupa a primeira classe dos herdeiros necessários. (...) Vedar reconhecimento e direito sucessório a quem foi concebido mediante fecundação artificial post mortem pune, em última análise, o afeto, a intenção de ter um filho com a pessoa amada. Pune-se o desejo de realizar um sonho”7 Porém, o direito a herança do filho gerado por fecundação artificial homóloga não é ad aeternum. Como não existe um prazo definido pelo código civil especificamente para esta situação, aplica-se por analogia o art. 1.800 §4, de dois anos para a concepção do filho post mortem. Porém, este prazo pode ser prolongado, em caso de expressa autorização em testamento ou documento equivalente. Porém, por não haver passividade na jurisprudência, há doutrinadores que discordam da interpretação de Maria Berenice Dias, como a Karla Ferreira de Camargo: “Acredita-se que a imposição de um prazo para que se possa exigir os efeitos sucessórios deve prevalecer. Todavia, tal prazo deveria ser melhor estudado, não, necessariamente, adotando-se o exíguo prazo de dois anos disposto no § 4º, do art. 1.800, CC/2002, mas um prazo que se revele adequado à possibilidade de se submeter a técnica de fertilização póstuma.”8 Portanto, há uma divergência entre os doutrinadoresse deve ser aplicado ou não o prazo de 2 anos para a habilitação do filho gerado artificialmente após o falecimento do cônjuge. Porém, esta controvérsia só é aplicada, uma vez que o de cujus não deixou a informação expressa em testamento. Não há controvérsias quando o cônjuge falecido formalizou declaração de vontade feita por testamento, livre e formalmente expressa, contendo determinações o prazo para concepção e para habilitação nos autos do processo, valendo então, a vontade póstuma do espólio. 3. A BIBLIOGRAFIA: a. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm b. PEREIRA, Caio Mário da S. Instituições de Direito Civil: Direito das Sucessões - Vol. VI. - Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2022. c. MEEIRO OU HERDEIRO? ENTENDA A DIFERENÇA <https:// jgm.adv.br/publicacao/meeiro-ou-herdeiro-entenda-a-diferenca/> 7 Manual das Sucessões, P. 123 e 124. 8 Inseminação artificial post mortem e seus reflexos no Direito Sucessório, P. 17. 5 d. GONÇALVES, Carlos R. Direito civil brasileiro v 7 - direito das sucessões. - Rio de Janeiro: Editora Saraiva, 2021. e. REsp 1.787.027 – <https://processo.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeor DoAcordao?num_registro=201600194001&dt_publicacao=24/04/2020> f. RECURSO ESPECIAL Nº 1.918.421 - SP (2021/0024251-6) - <https://processo.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?comp onente=ATC&sequencial=133249320&num_registro=202100242516&d ata=20210826&tipo=5&formato=PDF> g. Implantação de embriões congelados em viúva exige autorização expressa do falecido, decide Quarta Turma <https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/1506 2021-Implantacao-de-embrioes-congelados-em-viuva-exige- autorizacao-expressa-do-falecido--decide-Quarta-Turma.aspx> h. RESOLUÇÃO CFM nº2.168/2017 <https://sistemas.cfm.org.br/ normas/visualizar/resolucoes/BR/2017/2168> i. Reprodução Humana Assistida Homóloga e Heteróloga, Monoparentalidade Programada e Coparentalidade. < https:// professorclebercouto.jusbrasil.com.br/artigos/211560163/reproducao- humana-assistida-homologa-e-heterologa-monoparentalidade- programada-e-coparentalidade#:~:text=A%20fecunda%C3%A7 %C3%A3o%20artificial%20hom%C3%B3loga%20%C3%A9,espermato zoide%2C%20%C3%B3vulo%20ou%20embri%C3%A3o) > j. LÔBO, Paulo Luiz N. Direito Civil Volume 6 - Sucessões. Rio de Janeiro: Editora Saraiva, 2022. k. DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011 l. FISCHER, Karla Ferreira de Camargo. Inseminação artificial post mortem e seus reflexos no Direito Sucessório. <http://www.ibdfam. org.br/assets/upload/anais/224.pdf.>
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