é consumida pelo fitoplâncton (BRAGA et al., 2005). NOTA UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO 24 FIGURA 10 – CICLO BIOGEOQUÍMICO DO FÓSFORO FONTE: Braga et al. (2005, p. 32) Cerca de 5 x 1012 g de fósforo são devolvidas anualmente pela poeira atmosférica e aerossóis ao ambiente terrestre, mas o fosfato volta sempre para o mar, onde parte dele é depositada nos sedimentos rasos e parte se perde nos sedimentos profundos (ODUM; BARRETT, 2011). Porém, os meios de retorno do fósforo para os ecossistemas a partir dos oceanos são insuficientes para compensar a parcela que se perde, tendo como principais agentes de retorno os peixes e as aves marinhas. Um exemplo deste processo pode ser observado nos depósitos de guano (fosfato de cálcio originário dos excrementos das aves marinhas) existentes nas costas do Peru e do Chile. Porém, a ação predatória dos seres humanos sobre esses pássaros faz com que a taxa de retorno se reduza ainda mais. Ao mesmo tempo em que reduzem a taxa de retorno, a ação antrópica, avança na exploração da mineração, na ocupação desordenada do solo, no desmatamento e na agricultura, acelerando o processo de perda de fósforo do ciclo. Estima-se que, atualmente, de um a dois milhões de toneladas de fosfato são produzidas a partir da mineração, só que apenas 60 mil toneladas retornam ao ecossistema (BRAGA et al., 2005). O que se observa é que as atividades humanas parecem acelerar a taxa de perda de fósforo, diminuindo esse ciclo. Porém, segundo Odum e Barrett (2011), não existe razão para preocupação imediata com o suprimento para uso do homem, pois as reservas de fosfato são abundantes. No entanto, a mineração e o processamento do fosfato para fertilizantes geram graves problemas de poluição local. Como já estudamos, uma parte significativa do fósforo se perde nos depósitos de sedimentos profundos no oceano. Porém, devido aos movimentos tectônicos, existe a possibilidade de levantamentos geológicos que tragam novamente o fósforo perdido. Também, por meio da reciclagem, o fósforo presente TÓPICO 1 | O MEIO AMBIENTE E CICLOS BIOGEOQUÍMICOS 25 nos compostos orgânicos, é metabolizado pelos decompositores e transformado em fosfatos, sendo novamente utilizado pelos produtores. Contudo, este processo apresenta perdas, uma vez que os ossos (ricos em fósforo) oferecem resistência aos decompositores e à erosão (BRAGA et al., 2005). O fósforo terá um papel importante no futuro, pois, de todos os macronutrientes, ele é o mais escasso em termos de abundância relativa nos depósitos disponíveis na superfície da Terra (ODUM; BARRETT, 2011). 3.4 CICLO BIOGEOQUÍMICO DO ENXOFRE Na natureza existem muitos compostos contendo enxofre, pois este elemento possui grande capacidade de fazer ligações químicas, apresentando números de oxidação variando de (–2) a (+6) (ROCHA; ROSA; CARDOSO, 2009). O enxofre é um elemento químico essencial à vida na Terra, onde organismos vivos, incluindo plantas, assimilam espécies de enxofre, enquanto que várias formas de enxofre são emitidas como produto final de seus metabolismos. FONTE: Adaptado de: <http://www.quimica.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo. php?conteudo=1245>. Acesso em: 8 jan. 2014. O enxofre representa aproximadamente 0,5% da massa seca de plantas e microrganismos e 1,3% do tecido animal (MARTINS et al., 2003). Apesar disso, o ciclo do enxofre é uma das peças-chave nos padrões gerais de produção e decomposição (ODUM; BARRETT, 2011). O ciclo biogeoquímico do enxofre possui um conjunto de transformações entre as espécies de enxofre presentes na litosfera, hidrosfera, atmosfera, biosfera e antroposfera, conforme apresentado na figura a seguir. O elemento enxofre possui um ciclo basicamente sedimentar, embora possuindo uma fase gasosa de pouca importância. A principal forma de assimilação do enxofre pelos seres produtores é como sulfato inorgânico, sendo produzido por uma série de microrganismos com funções específicas de redução e oxidação. A maioria do enxofre que é assimilado é mineralizado em processo de decomposição. Porém, sob condições anaeróbias, o enxofre é reduzido a sulfetos, dos quais o sulfeto de hidrogênio (H2S) é um composto letal à maioria dos seres vivos, principalmente aos ecossistemas aquáticos em grandes profundidades. FONTE: Adaptado de: <http://pt.slideshare.net/bikengineer/ciclos-biogeoqumico-1s-anos- alterado>. Acesso em: 8 jan. 2014. UNIDADE 1 | OS CICLOS BIOGEOQUÍMICOS E A QUÍMICA DO SOLO 26 FIGURA 11 – CICLO BIOGEOQUÍMICO DO ENXOFRE FONTE: Martins et al. (2003, p. 37) Os compostos reduzidos de enxofre, como o H2S, são formados por atividade bacteriana anaeróbica no processo de oxidação de carbono orgânico a dióxido de carbono e na redução do sulfato (SO42-) a sulfeto (S2-). Uma parte destes compostos reage com íons metálicos e são fixados na litosfera, como rochas e sedimentos (MARTINS et al., 2003). Ainda sob condições anaeróbias e na presença de ferro, o enxofre é precipitado, formando sulfetos férricos e ferrosos. Com isso, a produção destes compostos, permite que o fósforo converta-se de insolúvel a solúvel, tornando-se utilizável. Esse é um exemplo da inter-relação entre diferentes ciclos de minerais ocorrendo em um ecossistema (BRAGA et al., 2005). A relação do fósforo com o ciclo do enxofre é mais evidenciada nos sedimentos anaeróbicos das zonas alagadas, sendo locais importantes para a reciclagem do nitrogênio e carbono também (ODUM; BARRETT, 2011). Os processos realizados por microrganismos nas zonas anaeróbicas profundas de solos e sedimentos resultam dos movimentos ascendentes de gases de H2S em ecossistemas terrestres e pantanosos. A decomposição das proteínas também leva à produção de sulfeto de hidrogênio. Quando o H2S chega à atmosfera, é convertido em dióxido de enxofre (SO2), sulfato (SO4), dióxido de carbono (CO2) e em minúsculas partículas flutuantes de SO4 (aerossóis de enxofre) (ODUM; BARRETT, 2011). TÓPICO 1 | O MEIO AMBIENTE E CICLOS BIOGEOQUÍMICOS 27 Já em ambientes com oxigênio, bactérias aeróbicas também produzem sulfeto, pela decomposição de matéria orgânica contendo enxofre. Os compostos reduzidos de enxofre como o sulfeto de hidrogênio (H2S), o dimetilsulfeto (CH3SCH3 ou DMS), o sulfeto de carbonila (COS) e o dissulfeto de carbono (CS2) são voláteis e rapidamente escapam para a atmosfera. O principal composto biogênico do enxofre é o dimetilsulfeto (CH3SCH3), sendo emitido predominantemente por determinadas algas marinhas, como a alga vermelha Polysiphonia fastigiata. Uma parte do enxofre deste organismo está na forma de ácido dimetilssulfopropiônico, sofrendo decomposição para produzir o dimetilsulfeto, formando um grande reservatório nos oceanos (MARTINS et al., 2003). O DMS presente no oceano é transferido para a atmosfera na ordem de 3% a 10%, porém os oceanos são responsáveis por 99% do fluxo global de DMS. A outra parte está relacionada com emissões terrestres a partir da vegetação e solos. Na atmosfera, o DMS reage com o radical hidroxila OH*, que é o principal responsável pela sua remoção. O sulfeto de carbonila (COS) é fornecido ao ecossistema principalmente pelas árvores e outras espécies de plantas, onde a queima da biomassa constitui a maior fonte direta antrópica do COS. Por apresentar baixa reatividade química, o COS é o gás que contém enxofre, mais abundante na atmosfera, possuindo um tempo de vida médio de um ano e meio, permitindo que atinja a alta atmosfera, sendo uma importante fonte de SO2 e de sulfato particulado para a estratosfera (MARTINS et al., 2003). Já o sulfeto de hidrogênio (H2S) é um gás mal cheiroso, sendo produzido por bactérias específicas. As principais fontes de H2S para a atmosfera são as atividades vulcânicas, oceânicas, a partir de solos e vegetação, a queima da biomassa e as emissões industriais. Uma vez presente na atmosfera, o H2S é rapidamente oxidado pelo radical OH* (MARTINS et al., 2003). O dissulfeto de carbono