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Autoras: Profa. Camila Francis D’Avila e Silva Profa. Priscilla Silvestrin Colaboradoras: Profa. Elizabeth Nantes Cavalcante Profa. Angélica Carlini Registro de Imóveis Professoras conteudistas: Camila Francis D’Avila e Silva / Priscilla Silvestrin Camila Francis D’Avila e Silva Mestre em Direitos Fundamentais (2010) e especialista em Direito Civil e Direito Processual Civil (2007), ambos pelo Centro Universitário Unifieo. Graduada em Direito pela Universidade Paulista – UNIP (2003). Graduada em Habilitação em Seguros pela Fundação Escola Nacional de Seguros – Funenseg (2003). Coordenadora dos cursos de Direito da Faculdade Capital Federal – Fecaf e Estácio de Carapicuíba. Advogada e professora universitária de Direito na UNIP. Priscilla Silvestrin Mestre em Ciências Contábeis pela Pontifícia Universidade Católica – PUC de São Paulo com bolsa Capes (2015). Possui graduação em Ciências Contábeis pela PUC-SP (2014) e em Direito pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (2005). Especialista em Direito Público pelo Instituto Damásio de Jesus. Advogada e contadora. Trabalhou no Tabelionato de Protestos de Títulos da cidade de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. É professora universitária da UNIP e do Centro Universitário Senac, sendo membro do Núcleo Docente Estruturante – NDE em ambas instituições. Ainda é professora da Faculdade Capital Federal – Fecaf, autora da editora Saraiva e pesquisadora da docência no Ensino Superior nas áreas do Direito e da Ciência Contábil. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) S586r Silva, Camila Fracis D’Avila e. Registro de Imóveis / Camila Francis D’Avila e Silva, Priscilla Silvestrin. – São Paulo: Editora Sol, 2019. 128 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXV, n. 2-174/19, ISSN 1517-9230. 1. Registrador de Imóveis. 2. Atos registrais. 3. Procedimento de registro. I. Silvestrin, Priscilla. II. Título. CDU 342.113.6 U503.56 – 19 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Kleber Souza Ricardo Duarte Sumário Registro de Imóveis APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 HISTÓRICO E PRINCÍPIOS DO DIREITO REGISTRAL IMOBILIÁRIO ................................................. 11 1.1 Origem e evolução histórica do sistema registral ................................................................... 11 1.2 Natureza jurídica dos serviços notariais e de registro .......................................................... 15 1.2.1 Atividade notarial ................................................................................................................................... 16 1.3 Princípios do registro de imóveis ................................................................................................... 18 1.3.1 Princípio da inscrição ............................................................................................................................ 19 1.3.2 Princípio da presunção e da fé pública .......................................................................................... 20 1.3.3 Princípio da prioridade ......................................................................................................................... 21 1.3.4 Princípio da especialidade ................................................................................................................... 21 1.3.5 Princípio da continuidade ................................................................................................................... 23 1.3.6 Princípio da concentração .................................................................................................................. 23 2 REGISTRO DE IMÓVEIS: CONSIDERAÇÕES GERAIS ............................................................................ 24 2.1 Conceito ................................................................................................................................................... 25 2.2 Finalidade e importância do registro de imóveis .................................................................... 26 2.3 Efeitos do registro de títulos e documentos ............................................................................. 27 2.4 Direito real de garantia ...................................................................................................................... 29 Unidade II 3 ATRIBUIÇÕES E RESPONSABILIDADES DO REGISTRADOR IMOBILIÁRIO .................................. 36 3.1 Natureza jurídica .................................................................................................................................. 36 3.2 Titulares de serviços notariais e de registro .............................................................................. 38 3.3 Do ingresso na atividade notarial e de registro ....................................................................... 40 3.4 Direitos e deveres dos notários e oficiais de registro ............................................................ 42 3.5 Das atribuições e competências dos notários .......................................................................... 47 3.6 Das atribuições e competências dos oficiais de registro ...................................................... 48 3.7 Das responsabilidades e dos impedimentos dos notários e oficiais de registro ......... 49 4 DA FISCALIZAÇÃO PELO PODER JUDICIÁRIO ....................................................................................... 53 4.1 Da competência territorial dos registradores ........................................................................... 57 Unidade III 5 DA ESCRITURAÇÃO IMOBILIÁRIA ............................................................................................................. 65 5.1 Especificidades legais .......................................................................................................................... 65 5.1.1 Constituição Federal .............................................................................................................................. 65 5.1.2 Normas infraconstitucionais .............................................................................................................. 66 5.2 Regras gerais de escrituração .......................................................................................................... 74 5.2.1 Obrigatoriedade do registro de imóveis ........................................................................................ 75 5.3 Livros gerais ............................................................................................................................................76 5.3.1 Livro nº 1 – Protocolo............................................................................................................................ 77 5.3.2 Livro nº 2 – Registro geral ................................................................................................................... 77 5.3.3 Livro nº 3 – Registro auxiliar .............................................................................................................. 79 5.3.4 Livro nº 4 – Indicador real ................................................................................................................... 79 5.3.5 Livro nº 5 – Indicador pessoal ............................................................................................................ 80 5.3.6 Livro de aquisição de imóveis rurais por estrangeiros ............................................................. 80 5.3.7 Livro de registro de indisponibilidades ........................................................................................... 81 6 ATOS REGISTRAIS ............................................................................................................................................ 81 6.1 Processamento da matrícula ........................................................................................................... 82 6.1.1 Cancelamento da matrícula ............................................................................................................... 84 6.1.2 Processamento do registro ................................................................................................................. 86 6.1.3 Procedimento da averbação ............................................................................................................... 87 6.2 Da caracterização dos títulos de registro de imóveis ............................................................ 89 6.2.1 Título aquisitivo ....................................................................................................................................... 90 6.2.2 Caracterização do imóvel .................................................................................................................... 90 6.2.3 Escritura pública ...................................................................................................................................... 91 6.3 Carta de arrematação e de adjudicação em hasta ................................................................. 92 6.4 Mandado de registro de adjudicação compulsória ................................................................ 92 Unidade IV 7 PROCEDIMENTO DO REGISTRO ................................................................................................................. 99 7.1 Apresentação do título ...................................................................................................................... 99 7.2 Protocolo: procedimento .................................................................................................................. 99 7.3 Análise da legalidade dos atos registrais ..................................................................................100 7.4 Procedimento de dúvida .................................................................................................................100 7.4.1 Dúvida eletrônica ..................................................................................................................................102 7.4.2 Dúvida inversa ........................................................................................................................................103 7.5 Retificação ............................................................................................................................................104 8 USUCAPIÃO NO REGISTRO DE IMÓVEIS ..............................................................................................106 8.1 Usucapião ..............................................................................................................................................106 8.1.1 Requisitos para a usucapião.............................................................................................................107 8.1.2 Modalidades de usucapião ...............................................................................................................109 8.2 Usucapião extrajudicial ....................................................................................................................111 7 APRESENTAÇÃO Entender o funcionamento do registro de imóveis no Brasil é de grande importância para o futuro profissional. A relevância social e econômica disso se dá face à importância da tutela jurídica do direito de propriedade, ancorada no princípio da dignidade da pessoa, tendo em vista que o patrimônio é parte do desenvolvimento da personalidade humana. O registro de imóveis, além de proporcionar a segurança jurídica, possibilita a concretização da função social da propriedade e produz efeitos econômicos ao promover a circulação de bens e riquezas, fazendo com que se executem as máximas constitucionais estabelecidas na Constituição Federal (BRASIL, 1988) no capítulo VII, relativo à ordem econômica (CF, art. 170 e incisos), na confluência de alguns dos princípios que a embasam, entre os quais estão o direito da concorrência, o direito do consumidor, o direito de propriedade e a função social da propriedade. O exercício da profissão no âmbito jurídico, notarial e de registro implica, entre outras atividades, o gerenciamento de fluxos processuais e administrativos, bem como a análise e a organização de documentos legais sem prejuízo da assessoria técnica. Portanto, o objetivo desta disciplina é o estudo específico do sistema de registro de imóveis no Brasil para capacitar o aluno a exercer seu ofício de forma profissional e com conhecimento do assunto. Para isso, estudaremos: • a evolução histórica do registro de imóveis no Brasil; • a delimitação da natureza jurídica do registro de imóveis; • os principais aspectos do registro de imóveis; • os princípios e fundamentos do registro de imóveis; • a função e as responsabilidades do registrador imobiliário e os serviços por ele desempenhados; • os livros, a matrícula, os títulos do registro de imóveis, as negativas e a averbação; • as especificidades legais da escrituração imobiliária; • os procedimentos de dúvida, retificação e usucapião no registro de imóveis. Este livro-texto considera: histórico e princípios do direito registral imobiliário; atribuições e responsabilidades do registrador imobiliário; escrituração imobiliária; procedimento do registro. Não basta conhecer a teoria; é preciso saber executar as ações demandadas pela legislação, pelas normas e regras de procedimento, tudo para o bom andamento dos processos. Ademais, deve-se conhecer a estrutura do instituto registrário, de forma que o futuro profissional seja capaz de desenvolver competências e habilidades no trato da comunicação interna e externa, na delegação de funções e na identificação das prioridades do trabalho a ser desenvolvido. 8 Além das competências e habilidades citadas, um bom profissional deverá buscar a otimização de processos e procedimentos, gerando qualidade e eficiência na prestação de serviço frente à demanda imobiliária. Para isso, é preciso que desenvolva uma visão sistêmica do papel do seu ofício na atualidade. Assim, a capacitação para administrar de acordo com as necessidades específicas da área jurídica, notarial e de registro implica mobilizar conhecimentos de forma estruturada, mas com criatividade e eficiência. Atualmente, a globalização e a tecnologia viabilizam a celeridade e prontidão no intercâmbio de informações e na operabilidade eficiente no âmbito dos negócios e das transações comerciais. A internet possibilitou fluidez e permuta de dados sem precedentes, alcançando os trâmites mais metódicos e burocráticos. Sabiaque existe um intercâmbio de documentos e informações entre os ofícios de registro de imóveis e que, com a ferramenta de busca por CPF ou CNPJ, é possível detectar bens registrados, entre outros? Trata-se do Sistema de Registro Eletrônico de Imóveis (SREI). Essa e outras informações com seus desdobramentos práticos são parte desta disciplina. Buscar desafios e estimular o senso de responsabilidade frente a um mundo globalizado e em constante mutação é um elemento do aprendizado do gerenciamento de situações patrimoniais e de procedimentos organizacionais de registro e qualificação registral. Bom estudo! INTRODUÇÃO É inegável que os registros públicos surgiram como expedientes legais a conferir maior segurança e publicidade às relações jurídicas oriundas dos direitos de propriedade. O registro imobiliário tem por finalidade oficializar o domínio, na linha dos negócios, fatos e atos jurídicos, sobre um bem imóvel, não só no interesse daquele que detém o domínio, mas na parte social, tendo em vista que o registro de imóveis exerce uma função nas relações patrimoniais. O desenvolvimento de uma sociedade emergente e a globalização das relações privadas justificam a necessidade de conferir maior publicidade e segurança às relações privadas. Além do mais, a diversidade dos negócios jurídicos, cujos contratos irradiam reflexos jurídicos não apenas às partes contratantes, mas a terceiros que eventualmente possam, de alguma forma, ser atingidos pelos efeitos da relação negocial imobiliária, fez com que o Poder Público impusesse maior transparência e publicidade às atividades negociais que envolvem questões patrimoniais. O registro, como paradigma da proteção jurídica patrimonial, promoveu a efetivação da função social da propriedade. Assim, o procedimento administrativo de registro imobiliário propiciou uma diminuição nos riscos de demandas judiciais, tendo em vista que conferiu maior certeza jurídica e veracidade aos negócios jurídicos de cunho patrimonial. Não é demais lembrar que as informações constantes do registro obrigam não só aqueles que participaram do negócio jurídico, mas o próprio Estado, institucionalizando-se por meio da matrícula, da averbação, da retificação e do registro propriamente dito. 9 Todo aquele que possui propriedade quer, além de dispor do bem, usufruí-lo e usá-lo como bem lhe aprouver. Ao se servir do bem e utilizá-lo, o proprietário quer também dispor da coisa, ou seja, exercer o direito de transferir o imóvel, aliená-lo, gravá-lo de ônus ou mesmo reavê-lo de quem o possua injustamente. O registro da propriedade, além de trazer a certeza e a segurança ao proprietário, lhe confere o direito sobre a coisa, sendo que este subsiste independentemente do seu uso ou não. O estudo da presente disciplina propiciará ao estudante conhecer os desdobramentos do direito de propriedade, como a publicidade dos atos registrários e a operabilidade prática do direito real de propriedade imobiliária, entre outros oriundos do processo de registro, além de oferecer a compreensão dos atos e dos efeitos registrais, constituindo ou desconstituindo direitos. O estudo de registro de imóveis, além de se constituir como um desmembramento do direito de propriedade, será útil para responder a questionamentos recorrentes, tais como: qual a finalidade do registro de imóveis? Qual a sua funcionalidade prática? Quais as consequências de não ter um imóvel registrado? De que forma proceder para registrar um imóvel? Para que serve a matrícula e a averbação do imóvel? Além das respostas a tais questões, estudaremos as formalidades inerentes ao registro, que são de grande importância, tendo em vista que conferem estabilidade às relações privadas. Assim, para o direito de propriedade, não basta comprovar o domínio; é preciso dar autenticidade aos atos praticados. Daí a importância do direito registral e, por consequência, a relevância da presente disciplina. Para compreensão desses e de outros temas relativos à disciplina, iniciaremos a jornada acadêmica com a análise histórica dos sistemas de registro de imóveis no Brasil, além dos conceitos, princípios e finalidades deste instituto. Atos como matrícula, averbação e registro farão com que o aluno desenvolva o vocabulário técnico próprio para a área que está sendo estudada, permitindo a aplicabilidade prática desses termos no manuseio da técnica. Nosso estudo habilitará o profissional a compreender melhor a dimensão de suas responsabilidades frente à atividade de registro de imóveis e a especificidade dos atos praticados pelo registrador. Tal profissional, além das responsabilidades inerentes a sua ocupação, desempenha importante função social na prestação de serviços jurídicos e administrativos. A atividade registrária assegura que os interesses sociais sejam efetivados em uma base mais transparente e confiável, uma vez que fornece não só a estabilidade necessária às relações jurídicas, mas a segurança e a autenticidade que se espera dessas relações. Enfatizam-se nesse estudo, além da compreensão do conteúdo e do domínio da terminologia própria utilizada para a área, os efeitos do registro e do não registro, bem como o processo evolutivo do instituto e seus desdobramentos mais atuais. 11 REGISTRO DE IMÓVEIS Unidade I Nesta unidade serão mostradas as bases históricas e os princípios do direito registral imobiliário, sua origem e evolução histórica, a natureza jurídica dos serviços notariais e de registro e em que consiste a atividade notarial. Veremos ainda os princípios informadores do registro de imóveis e as considerações gerais sobre a finalidade e a relevância desse registro. Será apresentado também qual o efeito do registro de títulos e documentos na conservação de documento sobre imóveis. Conheceremos os direitos reais que recaem sobre bens imóveis, inclusive as particularidades relativas a navios e aeronaves. 1 HISTÓRICO E PRINCÍPIOS DO DIREITO REGISTRAL IMOBILIÁRIO Em razão das negociações e do capitalismo, o objetivo do sistema jurídico é se tornar o mais seguro possível. Nesse sentido, o elemento fundamental é a norma jurídica positivada, que se reveste da forma de lei, contrato ou sentença. A seguir, veremos a origem e a evolução histórica do sistema registral, a natureza jurídica dos serviços notariais e de registro, a atividade notarial, os princípios relativos ao registro de imóveis, seu conceito e finalidade, além dos efeitos do registro de títulos e documentos relativos à propriedade, encerrando com o direito real de garantia de propriedade. 1.1 Origem e evolução histórica do sistema registral Há uma frase muito famosa que diz: “Quem não registra não é dono”, e é justamente essa a função do registro de imóveis em nossa sociedade. O art. 1.227 do Código Civil (BRASIL, 2002) menciona que os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por ato entre vivos, só se adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247). Nesse sentido, podemos nos perguntar: qual é a necessidade de se registrar um bem? No caso de imóveis, tem serventia de conferir segurança aos proprietários em uma série de fatores, como sucessão, relação do bem com terceiros, direitos de garantia, entre outros. A visão de propriedade imobiliária também foi sendo alterada no curso do tempo. Perante o Código Civil de 1916 (BRASIL, 1916), por exemplo, a propriedade era absoluta e não considerava a função social. Com o advento da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), ela passou a atender a sua função social. Na verdade, foi uma grande inovação. 12 Unidade I Saiba mais Para exercitar seus conhecimentos, analise o art. 5º da Constituição Federal de 1988, no site do Planalto. O Título II da Magna Carta versa sobre os Direitos e Garantias Fundamentais. Em seu primeiro capítulo, o art. 5º, inciso XXIII, dispõe que a função social é um direito e uma garantia fundamental. Confira a redação deste artigo e inciso, que instituia função social com outros dispositivos nos arts. 170 e 182. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Emendas Constitucionais de Revisão. Brasília, 2016. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 11 jul. 2019. Cada país tem a sua legislação própria sobre registro e este é adaptado conforme os direitos reais decorrentes dos direitos conferidos. No Brasil, por exemplo, até a chegada da família real, ocorrida em 1808, todas as terras pertenciam à coroa portuguesa. O sistema de distribuição e de divisão de terras no Brasil iniciou-se com a descoberta do Brasil pelos portugueses, tornando-se, portanto, colônia de Portugal. Ocorre que, em um país com imensas terras cultiváveis e falta de mão de obra, propiciou-se a busca pela produtividade. Para isso, colonizou-se a terra para dela extrair riquezas econômicas, tornando-se necessária a sua divisão a uma melhor organização administrativa. Martim Afonso de Souza, nobre e militar português a serviço da coroa portuguesa, foi encarregado, pela coroa, de dividir as terras do Brasil para povoar o território e lavrar toda a área possível. Para tanto, dividiu o território brasileiro em capitanias hereditárias, que por seu turno eram segmentadas em sesmarias. As capitanias hereditárias foram parte de um sistema político-administrativo cuja finalidade era a divisão territorial do Brasil em um número de lotes que ficariam sob o encargo e ônus de terceiros (donatários). É importante salientar que elas não pertenciam aos referidos donatários, mas sim à coroa. Tal expediente jurídico-administrativo assemelhava-se ao que conhecemos hoje em dia como usufruto. Assim, o título de possuidor originário pertencia ao rei de Portugal, que conferia direitos possessórios a terceiros por meio de cartas de sesmaria, que nada mais eram do que instrumentos de concessão de terras. 13 REGISTRO DE IMÓVEIS Observação Usufruto é o direito conferido a alguém, durante certo tempo, de gozar ou fruir de um bem cuja propriedade pertence a outrem. Esse direito é conferido pelo titular do bem, que pode determinar um prazo específico para o gozo desse direito, conforme determina o art. 1.390 e seguintes do Código Civil. Um possível questionamento é: se tudo era da coroa portuguesa, como avançamos até hoje? Vitor Kümpel (2013b) diz que: Em 1850, Dom Pedro Segundo tentou resolver essas questões por meio da Lei 601, que dispunha sobre as terras devolutas no Império e as que eram possuídas por título de sesmaria, bem como aquelas decorrentes do simples título de posse mansa e pacífica, determinando que fossem medidas e demarcadas e que fossem legitimadas aquelas adquiridas por “occupação primaria”, ou havidas “do primeiro occupante, que se acharem cultivadas, ou com principio de cultura, e morada, habitual do respectivo posseiro, ou de quem o represente”. Parece que avançamos, sim: o regime de concessão de terras não se coaduna com um sistema democrático de direito. Além do mais, a propriedade, com a Constituição de 1988, passou a exercer uma função social. O sistema de sesmarias pertenceu ao regime imperial. Ainda assim, pairam dúvidas sobre a forma como evoluíram os registros de imóveis no Brasil. O art. 13 da Lei 601 (BRASIL, 1850) estabelecia que o governo iria organizar o registro territorial, com base nas declarações feitas pelos possuidores, e para garantir que os possuidores declarassem seus bens, imporia multas no caso de descumprimento ou inexatidão. Muitas pessoas se confundem quando falamos a respeito do significado da expressão “terra devoluta”. Conforme a técnica jurídica, ela se refere a terras públicas às quais não foi dada nenhuma destinação pelo Poder Público e que nunca integraram o patrimônio de um particular, ainda que estejam irregularmente sob sua posse. O termo “devoluta” relaciona-se ao conceito de terra devolvida ou a ser devolvida ao Estado. Voltando à questão da demarcação, Ricardo Dip (2010, p. 531) acredita que a Lei 601 de 1850, ao promover a demarcação de domínio das terras de cada indivíduo, já sinalizava para a função social da propriedade. De qualquer modo, fica a dúvida: quem é que teria a responsabilidade de promover os registros? Segundo o Decreto 1.318 de 1854, em seu art. 91 (BRASIL, 1854), seria de responsabilidade do vigário receber as declarações para o registro das terras. O art. 103 desse decreto estabelecia que os vigários se obrigavam a manter os livros de registro (por ele abertos), que deveriam ser enumerados, rubricados e encerrados. 14 Unidade I Saiba mais Para obter informações adicionais a respeito do início dos registros de imóveis em nosso país, leia o artigo a seguir: PELAGALI, R. D. História do registro de imóveis no Brasil. JusBrasil, 21 maio 2018. Disponível em: <https://pelagali.jusbrasil.com.br/artigos/580004765/ historia-do-registro-de-imoveis-no-brasil?ref=serp>. Acesso em: 11 jul. 2019. Como a Igreja encontrava-se unida oficialmente ao Estado nesta fase, os registros ocorriam nas paróquias locais. Veja que as sesmarias, como subdivisões das capitanias, foram os primeiros documentos de registro de terras no Brasil. Ainda que os donatários não fossem possuidores dessas terras, poderiam usufruir delas ocupando-as e cultivando-as para a prática mercantilista. Vê-se, portanto, que o expediente das sesmarias não servia para fins de sucessão nem de propriedade, mas para fins econômicos. Para as questões sucessórias, o Decreto 3.453/1865 regulamentou a Lei 1.237/1864, determinando o prazo de três meses a contar de sua publicação a fim de que fosse instalado em todas as comarcas do império um registro geral de imóveis. Esse decreto instituiu os oficiais e os livros de registro geral. De certa forma, ele sistematizou a organização registrária no Brasil, dispondo sobre os emolumentos, as responsabilidades dos oficiais de registro, entre outras disposições. A sistematização de procedimentos é um importante instrumento de gestão organizacional. Por sistema, entende-se um conjunto de elementos interdependentes de modo a formar um todo organizado. Neste sentido, o sistema de registro de imóveis é fundamental, pois diferencia-se em razão dos efeitos que se extraem dele. Assim, temos a publicidade e a inscrição dos direitos reais em seus cadastros como exemplos de efeitos jurídico. O sistema de registro divide-se em três tipos: alemão, francês e brasileiro. Veja as diferenças: Quadro 1 Alemão Francês Brasileiro Nome: Publicista ou Constitutivo Nome: Declaratista, Privatista ou Consensual Nome: Eclético A inscrição cria o direito real, que induz a presunção absoluta de titularidade do direito real inscrito e reflete no terceiro de boa-fé que, acreditando nos cadastros, formalizou o negócio jurídico. A inscrição não gera efeito de presunção de exatidão do conteúdo, pois, sendo nulo o título, também o será o registro. Presunção de veracidade relativa, podendo o registro ser retificado caso exista prova contrária. Adaptado de: Castro (2017). 15 REGISTRO DE IMÓVEIS Releva destacar que para cada imóvel existe uma matrícula aberta em uma folha do livro de registro, na qual serão anotadas as situações jurídicas a ele referentes. As anotações relativas às situações jurídicas aparecem contendo a qualificação do proprietário e a inscrição dos títulos, conforme previsto na legislação. Da matrícula consta o registro de escritura do imóvel, que, por sua vez, é a comprovação de propriedade do imóvel. Por essa razão, todo imóvel deve ser registrado, pois, caso contrário, não será possível comprovar a sua posse. Dessa maneira, o fólio real ou matrícula imobiliária funciona como eixo central do sistema brasileiro de registro de imóveis, de forma que qualquer mutação jurídica real que se observar no imóvel esteja registrada na matrícula correspondente, e que toda a vida jurídica desse bem possa ser conhecidapor qualquer interessado, até mesmo para servir como prova de propriedade. 1.2 Natureza jurídica dos serviços notariais e de registro Natureza jurídica é a essência, a substância ou a compleição das coisas, ou seja, a razão de ser do ato, do contrato ou do negócio. Trata-se de um conceito que busca explicar o princípio ou a essência de um instituto jurídico, isto é, de uma medida, situação ou um fato que exista no direito. Neste item, busca-se explicar a natureza jurídica dos serviços desempenhados pelos notários e registradores, profissionais que realizam suas funções nos cartórios e tabelionatos. Os serviços notariais e de registro incluem-se entre aqueles de organização técnica e administrativa. Estes serviços destinam-se a garantir publicidade, autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos, nos termos do que estabelece o art. 1º da Lei 8.935/94, que regulamenta o art. 236 da Constituição de 1988. Art. 236. Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público. § 1º Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e criminal dos notários, dos oficiais de registro e de seus prepostos, e definirá a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário. § 2º Lei federal estabelecerá normas gerais para fixação de emolumentos relativos aos atos praticados pelos serviços notariais e de registro. Conforme visto, os serviços notariais e de registro, cuja disciplina remonta ao art. 236 da Constituição Federal, são também objeto de uma série de outras regulamentações, a exemplo das estipuladas pelo Conselho Nacional de Justiça – CNJ: • Provimento CNJ 69/2018: dispõe sobre o teletrabalho (trabalho em regime não presencial, por meio de recursos telemáticos) nos serviços notariais e de registro. • Provimento CNJ 67/2018: dispõe sobre os procedimentos de conciliação e de mediação nos serviços notariais e de registro do Brasil. 16 Unidade I Saiba mais O Conselho Nacional de Justiça é um órgão voltado à reformulação de quadros e meios no Judiciário, sobretudo no que diz respeito ao controle e à transparência administrativa e processual. Visa, mediante ações de planejamento, à coordenação, ao controle administrativo e ao aperfeiçoamento do serviço público na prestação da Justiça. Para obter dados adicionais sobre esse importante órgão, acesse: <https://cnj.jusbrasil.com.br/>. Embora sejam particulares realizando a função notarial e de registro, os tabeliães são delegatários da atividade pública. Seu vínculo com o Estado ocorre em razão de contrato administrativo de concessão e sua atividade tem fé pública. 1.2.1 Atividade notarial A atividade notarial, de competência dos Cartórios de Registro de Imóveis, é de natureza jurídico-administrativa e tem por escopo a organização jurídica da propriedade privada. Dip (2010, p. 417) assinala a natureza jurídica deste tipo de atividade como sendo de “direito público-direito privado”. Pelo fato de essas atividades serem conceituadas como jurídico-administrativas, a formalidade e a materialidade presenciam-se na prática notarial a partir do ato de registro dos títulos de propriedade de imóveis, das transcrições e das averbações no Cartório de Registro de Imóveis. Para saber, portanto, quem é o proprietário de um imóvel, será necessário consultar o registro do imóvel nesse cartório. Diante disso, será proprietário aquele que promover a escritura do imóvel em seu nome. É por intermédio desse documento que se atesta o acordo firmado entre comprador e vendedor do bem. A escritura de um imóvel tem por finalidade validar o acordo feito entre as partes, bem como dar publicidade ao ato. O contrato de compra e venda obriga as partes a honrarem o compromisso a que se submeteram, enquanto a escritura, por sua vez, oficializa a transferência da titularidade ou concessão de quaisquer direitos reais sobre coisa alheia. A escritura pode ser lavrada em qualquer cartório de notas, inclusive de outra cidade ou estado, mas tem que ser registrada no cartório de abrangência do imóvel, onde ele, objeto do contrato, possui matrícula. Conhecer a atividade dos notários e registradores no âmbito do ordenamento jurídico brasileiro é condição indissociável do aprendizado da atividade notarial. Aliás, esta prática representa uma face pública no segmento das prestações de serviços e por isso é regulamentada pelo direito administrativo. Embora a atividade notarial, como já mencionado, possua uma parcela privada, uma vez que há a administração de fatos e interesses de natureza privatística, seguem-se, no entanto, normas de direito público. 17 REGISTRO DE IMÓVEIS Saiba mais Com a finalidade de saber um pouco mais sobre as atividades notarial e registral, além de dicas do registro de imóveis, assista ao vídeo a seguir: SAIBA qual o passo a passo para conseguir o registro de imóveis. G1, 5 fev. 2017. 4:48 minutos. Disponível em: <http://g1.globo.com/pa/para/ videos/t/todos-os-videos/v/saiba-qual-o-passo-a-passo-para-conseguir- o-registro-de-imoveis/5627200/>. Acesso em: 11 jul. 2019. É este sistema híbrido que fomenta o gerenciamento da unidade de serviços cartorários. Deve-se atentar ao fato de que se trata de delegação de um serviço público a um particular que está vinculado ao Estado. Ribeiro (2009, p. 22) ressalta que o serviço público vai até o reconhecimento de que se trata de função estatal; de que o Estado mantém a titularidade do poder da fé pública cujo exercício delega a particulares. A referida delegação do exercício de uma atividade vinculada a um formalismo imposto pelo Estado abrange, entre outras questões: • a regulação da atividade notarial e de registro; • a organização dos serviços notariais e de registro; • o processo seletivo mediante concurso de provas e títulos dos profissionais do direito; • a outorga e a cessação da delegação; • a regulamentação técnica; • a fiscalização da prestação dos serviços para assegurar aos usuários sua continuidade, universalidade, uniformidade, modicidade e adequação. Sobre a dicotomia público e privado, o Supremo Tribunal Federal manifestou-se: Numa frase, então, serviços notariais e de registro são típicas atividades estatais, mas não são serviços públicos, propriamente. Inscrevem-se, isto sim, entre as atividades tidas como função pública lato sensu, a exemplo das funções de legislação, diplomacia, defesa nacional, segurança pública, trânsito, controle externo e tantos outros cometimentos que, nem por ser de exclusivo domínio estatal, passam a se confundir com serviço público (ADI 3.643, voto do Rel. Min. Ayres Britto, j. 8-11-2006, Plenário, DJ, 16-2-2007). 18 Unidade I Consequentemente, a classificação do STF considera a atividade notarial e registral como sendo função pública lato sensu. Para esclarecer melhor os termos utilizados por esta Corte Suprema, observe a figura a seguir: Lato sensu — Locução latina — Em sentido amplo, sem nenhuma restrição — Superlativo: latissimo sensu Stricto sensu — Hermenêutica — Diz-se da interpretação ou da significação em sentido limitado de qualquer vocábulo ou texto Figura 1 – Lato e stricto sensu: diferenciação Estudaremos a partir de agora o serviço do tabelião de notas, que é regulado pela Lei 8.935 e tem como atuação aquela descrita no art. 6º: Art. 6° Aos notários compete: I – formalizar juridicamente a vontade das partes; II – intervir nos atos e negócios jurídicos a que as partes devam ou queiram dar forma legal ou autenticidade, autorizando a redação ou redigindo os instrumentos adequados, conservando os originais e expedindo cópias fidedignas de seu conteúdo; III – autenticar fatos. Veja que a função notarial é exercida pelo notário ou pelo tabelião, que são profissionais do direito, dotados de fé pública e que recebem, por delegação do Poder Público, a incumbência de exercer a atividade notarial e de registro. Este profissional poderá aconselhar as partes interessadas e assessorá-las de forma a concluírem onegócio dentro das formalidades legais e dos princípios da transparência e da boa-fé. 1.3 Princípios do registro de imóveis No âmbito jurídico, lato sensu, entende-se por princípio o elo fundamental para a interpretação das normas. Entretanto, por se tratar também de normas, notadamente dotadas de uma maior generalidade do que as outras, podemos definir que por princípios teríamos comandos de ordem geral, eivados de maior abstração e que viabilizam os alicerces do direito. Em outras palavras, os princípios funcionam como sistemas valorativos e aferidores da legitimidade da ordem jurídica, ou seja, constituem-se como 19 REGISTRO DE IMÓVEIS a base valorativa para a compreensão de qualquer regramento jurídico. Eles exprimem todos os pontos básicos para toda operação jurídica e por isso apontam os fundamentos jurídicos legalmente instituídos ao funcionamento do sistema de proteção aos direitos. Neste item, serão estudados os pontos cardeais do sistema de registro de imóveis, iniciando-se pelos princípios informadores do direito registrário, conforme listados a seguir: • Princípio da inscrição: declara uma situação ou constitui um direito. • Princípio da presunção e da fé pública: relaciona-se à segurança jurídica. • Princípio da prioridade: é explicitado na lei que determina a prioridade do título. • Princípio da especialidade: liga-se à individualização do bem. • Princípio da continuidade: atesta e anuncia o ato registrário. • Princípio da concentração: concentra todos os atos relativos ao imóvel na matrícula, conferindo, assim, maior publicidade e segurança jurídica. Vejamos a seguir cada princípio em suas especificidades. 1.3.1 Princípio da inscrição Este princípio vincula-se à materialidade do direito, ou seja, a sua concretude. Para que a sociedade reconheça a existência de um direito patrimonial relativo a bens imóveis, é necessário que se operacionalize o registro do ato que concede o domínio. Novamente, retoma-se a ideia de que quem não registra o imóvel não é dono. Portanto, o princípio da inscrição expressa a constituição, a transmissão e a extinção de que qualquer direito real somente se efetiva por intermédio da inscrição do título na tábua registral. Vejamos o que dispõe o art. 172 da Lei 6.015/73: No Registro de Imóveis serão feitos, nos termos desta Lei, o registro e a averbação dos títulos ou atos constitutivos, declaratórios, translativos e extintos de direitos reais sobre imóveis reconhecidos em lei, “inter vivos” ou “mortis causa” quer para sua constituição, transferência e extinção, quer para sua validade em relação a terceiros, quer para a sua disponibilidade. Pela leitura do dispositivo legal, percebe-se que a transferência somente ocorre com o registro, ou seja, esse é o efeito primário deste princípio. Com efeito, denota-se que é apenas pelo registro que se efetiva o direito real sobre o imóvel, conquanto alguns efeitos secundários decorram deste princípio. 20 Unidade I O princípio da inscrição gera dois efeitos: • Constitutivo: faz surgir o direito ou a obrigação. — Exemplo: o art. 1.245 do Código Civil determina que somente é adquirida a propriedade de um imóvel pelo registro perante o ofício competente. • Declarativo: declara a constituição anterior de fato jurídico perfeito anterior ao registro. É interessante notar que a inscrição declarativa abrange dois efeitos. Veja a explicação a seguir: Quadro 2 Integrativa Preventiva Quando complementa os dados da cadeia de propriedade do bem Exemplo: sucessão causa mortis Serve para alertar terceiros sobre riscos relativos ao bem Exemplo: hipoteca judiciária, penhora, arresto e sequestro, além de indisponibilidade do bem Quando complementa as características do bem Exemplo: numeração, construção ou demolição de áreas Deve-se destacar que o efeito declarativo preventivo não impede a alienação do imóvel (exceto se a declaração versar sobre a indisponibilidade do bem); por isso é tão importante que a pessoa que busca garantia real registre tal condição no cartório. No caso das inscrições constitutivas, a sanção pela ausência de inscrição acaba por não transferir o direito ao adquirente, pois ele, se não registrar, não será o dono do bem. Já nos casos de inscrições declarativas, a sanção pela falta de formalização da inscrição consiste na suspensão do exercício do direito. As inscrições preventivas têm caráter declaratório, enquanto as inscrições provisórias possuem natureza constitutiva do direito que se busca resguardar. 1.3.2 Princípio da presunção e da fé pública O princípio da presunção e da fé pública está relacionado com um dos princípios mais abrangentes e significativos do ordenamento jurídico: o princípio da segurança jurídica. É importante que se saiba que esse princípio tem a intenção de trazer estabilidade para as relações jurídicas e se divide em duas partes: uma de natureza objetiva e outra de natureza subjetiva. Acompanhe a seguir a natureza jurídica desse princípio: 21 REGISTRO DE IMÓVEIS Natureza objetiva Versa sobre a irretroatividade de nova interpretação de lei no âmbito da administração pública Natureza subjetiva Versa sobre a confiança da sociedade nos atos, procedimentos e condutas proferidas pelo Estado Figura 2 – Natureza jurídica do princípio da segurança jurídica Portanto, o princípio da segurança jurídica é um dos princípios gerais do Estado Democrático de Direito, visto que é uma presunção de exatidão que protege o proprietário do imóvel e o adquirente, pois coloca às claras a situação jurídica do bem. Presumir algo significa tirar uma conclusão antecipada, baseada em indícios e suposições, e não em fatos comprovados, ou seja, supor uma condição. O princípio da presunção admite prova contrária. Isso significa que o titular de direito real que se sentir prejudicado pode buscar a retificação ou a anulação do registro, sendo possível corrigir os equívocos nos dados constantes da inscrição tanto pela via judicial quanto pela via administrativa, ou seja, diretamente no registro de imóveis. O princípio da fé pública visa à proteção da coletividade nas transmissões dos direitos reais, pois, confiando que a realidade fática está fielmente representada nos cadastros imobiliários, os cidadãos estão livres para realizar quaisquer negócios jurídicos com segurança. 1.3.3 Princípio da prioridade Esse princípio visa assegurar aos contratantes a inexistência de contradição e a segurança na aquisição e na fruição dos direitos reais, especialmente porque o nosso ordenamento jurídico permite que vários direitos reais recaiam sobre um mesmo imóvel e sejam registrados na matrícula do imóvel segundo a ordem de inscrição deles no registro do imóvel. Portanto, aquele que registra primeiro tem o direito. Isso vale para a propriedade ou quaisquer direitos reais sobre coisa alheia ou de garantia. 1.3.4 Princípio da especialidade Por este princípio, entende-se que tanto o imóvel quanto os contratantes devem estar claramente identificados e determinados, bem como o fato que originou o direito. Assim, por exemplo, com relação ao imóvel, deverão constar da matrícula elementos objetivos que o identifiquem e o diferenciem, por exemplo: localização, características, área, logradouro, número do imóvel, entre outros. 22 Unidade I Vemos, portanto, que o princípio da especialidade é caracterizado como a individualização que se lança no registro. A identificação, ligada ao objeto de registro, é inerente ao bem, que por sua vez é objeto do direito real e sobre o qual recai o negócio jurídico. Dessa forma, indicar-se-á ainda o valor pecuniário em moeda nacional, o prazo, a qualificação das partes e a taxa de juros, se houver. Nesse sentido, podemos classificar este princípio em dois outros subprincípios: • Princípio da especialidade objetiva: significa que os dados do bem devem estar plenamente delimitados, conforme versa o art. 176, § 1º, da Lei de Registros Públicos. • Princípio da especialidade subjetiva: trata daindividualização da pessoa que é titular do direito. Observe o trecho a seguir como um exemplo de individualização, de forma clara e precisa, do imóvel registrado: Lote do terreno foreiro 4-b-1-A, oriundo da subdivisão do lote 4-B-1, medindo 13,00 m de frente para a Rua A, localizado do lado direito ou par da referida rua, situado a 27,00 m (vinte e sete metros) para com a esquina da Rua B; do lado direito de quem da rua olha o imóvel mede 35,00 m (trinta e cinco metros), onde confronta com o lote de indicação fiscal nº 18-002-001.000-9; do lado esquerdo de quem da rua olha o imóvel mede 35,00 m (trinta e cinco metros), onde confronta com o lote de indicação fiscal nº 18.002.004.000-5; na linha de fundos mede 13,00 (treze metros), onde confronta com o lote de [...] (RIBEIRO, 2009, p. 70). A fim de saber a diferença entre terreno e lote, observe a figura a seguir: Lote Pedaço de terra dividido em várias partes, como em condomínios residenciais. Cada uma delas é chamada de lote e vendida separadamente Terreno Pedaço de terra reservado para construção que é vendido por inteiro A) B) Figura 3 – A) Terreno; B) Lote A intenção da lei é identificar, com a melhor delimitação possível, qual o objeto do direito real, considerando todas as suas características, bem como aquelas inerentes a seu titular. 23 REGISTRO DE IMÓVEIS 1.3.5 Princípio da continuidade A principal função do registro de imóveis é não permitir que as pessoas transmitam direitos que não são de sua propriedade. Essa é a razão do princípio da continuidade: rastrear a cadeia de titularidade, uma vez que todos os donos desse bem estarão relacionados na matrícula. Existe uma locução latina segundo a qual ninguém pode dar o que não tem: nemo dat quod non habet, ou seja, se você não for o dono, não poderá transferir a titularidade a ninguém. Consequentemente, tem que haver possibilidade jurídica para transferência de direitos. Segundo Castro (2017, p. 74), tal preceito é também denominado princípio da inscrição prévia do prejudicado, no direito alemão, e do efeito relativo da publicidade, no direito francês, sendo que no Brasil de início se adotou o nome de registro do título anterior, atualmente denominado princípio da continuidade. Saiba mais Para informações adicionais a respeito do princípio da continuidade, tenhamos como exemplo a sentença a seguir: SÃO PAULO (Estado). Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Processo Digital nº 1559113-39.2017.8.26.0477. Classe-Assunto: Execução Fiscal – ITR (Imposto Territorial Rural). Exequente: Prefeitura Municipal de Praia Grande. Executado: Almery Bezerra Pissolati. Praia Grande, 20 de maio de 2019. Por conseguinte, a sucessão decorrente do princípio da continuidade tem reflexos em diversas áreas do direito e não apenas no direito civil. No exemplo anterior, o juiz considerou a continuidade registral em sede de execução fiscal, ou seja, de direito tributário. Lembrete A principal função do registro de imóveis é não permitir que as pessoas transmitam direitos que não são de sua propriedade 1.3.6 Princípio da concentração Este princípio é o mais característico do registro de imóveis, pois por ele se entende que todos os acontecimentos havidos desde a origem do imóvel devem estar concentrados na matrícula. Tal princípio decorre da interpretação da Lei de Registros Públicos, e tem o condão de conferir segurança jurídica e transparência aos atos registrais. Dele deriva um subprincípio: o da publicidade dos atos no âmbito imobiliário. 24 Unidade I Sabe-se que da instituição jurídica do direito notarial brasileiro procedem dois princípios fundamentais: o da segurança jurídica e o da publicidade. Ambos se entrelaçam da mesma forma que ocorre com todos os princípios que formam o direito notarial e registral. Agora que aprendemos que a atividade notarial e registral não é estanque, mas fluida e dinâmica, percebemos que, na medida em que os princípios orbitam em torno dos atos jurídico-institucionais, também se penetram e se interconectam a fim de conferir unidade ao sistema jurídico notarial. Dessa forma, espera-se que aqueles que participam do negócio jurídico (vendedor, comprador, partes interessadas) tenham conhecimento de todos os atos que se relacionam com a propriedade. Estas informações, sobre a situação jurídica do imóvel, devem constar da sua matrícula, a permitir que os direitos reais sobre a propriedade sejam oponíveis erga omnes (princípio da publicidade), propiciando segurança a todos os envolvidos no negócio. Observe na figura a seguir os possíveis interessados nos atos praticados relativos à propriedade do imóvel: Registro de imóveis Governo - Tributos Consultor imobiliário VendedorOutros CompradorVizinhos Figura 4 Portanto, é possível que qualquer pessoa tenha conhecimento sobre toda a cadeia de acontecimentos do bem imóvel, bastando para isso retirar uma certidão da matrícula do bem. 2 REGISTRO DE IMÓVEIS: CONSIDERAÇÕES GERAIS Observamos anteriormente que a finalidade do registro de imóveis é conferir segurança jurídica a quaisquer transações de direitos que estejam relacionadas com os bens imóveis. 25 REGISTRO DE IMÓVEIS Desse modo, para atingir a finalidade legal, a Lei de Registros Públicos – Lei 6.015/73, apresenta resumidamente as atribuições do registro de imóveis afirmando que perante esse documento serão feitos o registro e a averbação dos títulos ou atos constitutivos, declaratórios, translativos e extintos de direitos reais, sobre imóveis reconhecidos em lei. Tais expedientes registrais podem ocorrer inter vivos ou mortis causa, quer para sua constituição, transferência e extinção, quer para sua validade em relação a terceiros, quer para a sua disponibilidade, como se verifica no art. 172. Neste item estudaremos o conceito de direito imobiliário, bem como a finalidade e a importância do registro. Além dos referidos tópicos, veremos o efeito do registro de títulos e documentos perante o registro de imóveis e o direito real de garantia de propriedade. 2.1 Conceito Para Serra, Serra e Cassettari (2016, p. 16), o registro de imóveis é a instituição competente para a formação e conservação do assento dos dados relacionados aos direitos reais previstos na legislação pátria, bem como das demais informações cuja inscrição a lei determinar para efeitos de publicidade. Chama-se de inscrição a inserção de dados no registro imobiliário, que em nossa sistemática atual, resumidamente, se faz por atos de registro, por atos de averbação ou pela abertura de novas matrículas. Vimos que é no registro de imóveis que se processam a matrícula, o registro e a averbação, que são relativos aos bens imóveis. Veremos no quadro a seguir em que consistem esses institutos. Quadro 3 – Matrícula, registro e averbação Matrícula Individualização do imóvel Localização e descrição São lançados na matrícula o registro e a averbação Retrato do imóvel pelo histórico anotado nos livros do cartório Registro Declara quem é o proprietário As escrituras de compra e venda ou de hipoteca de um imóvel são registradas na matrícula Averbação Alterações Ato que anota todas as alterações ou acréscimos referentes ao imóvel ou às pessoas que constam do registro ou da matrícula do imóvel Os expedientes citados caracterizam-se como atos registrais, ou seja, referem-se à individualização do imóvel (matrícula), à propriedade do imóvel (registro) e às alterações promovidas no imóvel (averbação). 26 Unidade I Conforme a Lei 6.015, de 1973, esses atos têm a natureza de serviços notariais ou registrais cuja finalidade é a de gestão técnico-administrativa notarial e tem seu regramento positivado na Lei de Registros Públicos. Dessa forma, a fim de garantir autenticidade, publicidade e segurança jurídica aos atos de natureza notarial e registral, a lei, ao delegar o exercício de determinada atividade jurídica ao particular, erigiu um conceito de presunção de legitimidade aos atos, conferindo, àquelesque se incumbem de exercer esta atividade, fé pública. Em outras palavras, presumem-se verdadeiros os atos emanados pelos notários e tabeliães. Assim, o registro público surge como expediente legal para conferir legitimidade e eficácia aos atos jurídicos que se perfazem no decorrer das relações sociais e econômicas da vida em sociedade. A comprovação e a validade desses atos terão fé pública a partir do momento em que a lei os regulamentar. 2.2 Finalidade e importância do registro de imóveis Conhecer a finalidade e a relevância do registro de imóveis no ordenamento jurídico tem grande utilidade, já que representam as funcionalidades legais e úteis tendentes a satisfazer as necessidades sociais. Segundo Alvim Neto, Clápis e Cambler (2014, p. 524), são três as principais finalidades dos registros de imóveis. A primeira delas é garantir a autenticidade do registro, na medida em que se cria uma presunção relativa de autenticidade. Lembrete Presunção relativa é aquela que admite prova em contrário. A segunda função é obter segurança jurídica pelo aperfeiçoamento do controle dos lançamentos e dos cadastros imobiliários, constituindo um repositório de informações, garantindo que haja indenização ao titular ou a terceiros pelos danos que lhes foram causados por risco inerente às deficiências estruturais do sistema. Assim, ao se apresentar uma certidão de registro de imóveis, é possível opô-la perante toda a sociedade, garantindo-se direitos e, por consequência, obrigações decorrentes, em especial de atenção ao princípio fundamental da função social da propriedade, conforme estabelecido no art. 5º, inciso XXIII, da Constituição Federal de 1988. Finalmente, a terceira e última função é assegurar a eficácia dos assentos, eficácia esta que será a validade jurídica conferida ao ato, que, por decorrência dessa qualidade, assegura o direito de propriedade em face de terceiros. 27 REGISTRO DE IMÓVEIS Para Maria Helena Diniz (2009, p. 407), o plano da eficácia situa-se no âmbito do cumprimento da norma legal, na medida em que os destinatários observam e aplicam o regramento jurídico. 2.3 Efeitos do registro de títulos e documentos Nesse mesmo dispositivo legal, além de outras disposições específicas, faculta-se a transcrição de quaisquer documentos no Registro de Títulos e Documentos. Interessa saber ainda que o art. 128 desta lei estabelece que, à margem dos respectivos registros, serão averbadas quaisquer ocorrências que possam promover qualquer alteração em relação às obrigações ou às pessoas que nos atos figurarem, inclusive no tocante à prorrogação de prazos. O art. 129 da Lei de Registros Públicos relaciona os atos jurídicos sujeitos a registro, no Registro de Títulos e Documentos, para que possam surtir efeitos em relação a terceiros. Verifique que esse artigo relaciona uma série de nove atos jurídicos que devem ser registrados, para que possam se opor a terceiros. Este estudo é bastante relevante para as atividades do futuro profissional, pois os atos ali elencados fazem parte da atividade de análise cotidiana de documentos. A partir da análise do supracitado art. 129, percebe-se que a utilidade do registro de um título ou documento pode variar conforme a natureza do ato jurídico veiculado no instrumento apresentado, assim como em função da modalidade de registro escolhida. O que importa, em sede de direito registral imobiliário, é possibilitar o direito de propriedade, inscrito constitucionalmente no art. 5º (XXII e XXX) da Constituição Federal, assim como fundamento da ordem econômica (art. 170, II e III) e princípio da ordem urbanística (arts. 182 e 183). O registro da propriedade torna-se de especial relevância, tendo em vista que sua observação e seu cumprimento impedem que o proprietário de um imóvel possa se utilizar de má-fé e vender este bem a mais de uma pessoa. O registro de imóveis, além de objetivar as garantias constitucionais das liberdades subjetivas, pois é pelo registro que as informações relativas ao imóvel se tornam públicas e disponíveis para qualquer interessado, viabiliza a confiança no sistema, possibilitando uma melhor organização jurídico-administrativa da atividade imobiliária. É possível solicitar ao oficial de registro de títulos e documentos o registro facultativo para a conservação, conforme o modelo a seguir, extraído do Centro de Estudos de Títulos e Documentos de São Paulo (CDTSP): 28 Unidade I ILMO SR. OFICIAL DE REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS DA CAPITAL - SP SOLICITAÇÃO DE REGISTRO FACULTATIVO (PARA SUA CONSERVAÇÃO) DE DOCUMENTO SOBRE IMÓVEL Nome do Apresentante nacionalidade estado civil profissão portador do RG. inscrito no CPF.MF. residente à número complemento bairro cidade CEP UF vem requerer a Vossa Senhoria o REGISTRO facultativo do documento: nome do contrato / documento a ser registrado para efeito de sua conservação, conforme o disposto no Art. 127, inc. VII, da Lei dos Registros Públicos (Lei Federal n.º 6.015, de 31 de dezembro de 1973), considerando que mencionado documento: a) contém declarações de vontade que encerram obrigações convencionais; b) não se reveste de formalidades solenes que formalizam o ato jurídico constitutivo ou traslativo de direitos reais sobre imóveis; c) não visa efeitos atribuídos ao serviço Registro de Imóveis competente; Declara o(a) requerente estar ciente que o registro ora solicitado não atribui, por si só, nenhum direito, servindo somente para conservação do documento e autenticação de data. nestes termos pede deferimento São Paulo, de Mês de ____________________________________________ assinatura São Paulo Figura 5 Portanto, no próprio requerimento dado consta que o efeito do registro está adstrito ao item VII do art. 127 da LRP, ou seja: facultativo, de quaisquer documentos, para sua conservação. Repare ainda que o documento ressalva o seguinte: 29 REGISTRO DE IMÓVEIS a) contém declarações de vontade que encerram obrigações convencionais; b) não se reveste das formalidades solenes que formalizam o ato jurídico constitutivo ou translativo de direitos reais sobre imóveis; c) não visa efeitos atribuídos ao serviço Registro de Imóveis competente; Declara o(a) requerente estar ciente que o registro ora solicitado não atribui, por si só, nenhum direito, servindo somente para conservação do documento e autenticação de data. 2.4 Direito real de garantia Nas sociedades antigas, a garantia real era um instituto jurídico desconhecido, uma vez que o devedor deveria responder por suas obrigações em sua própria pessoa, ou seja, sujeitando-se fisicamente ao adimplemento da dívida. Assim, no caso de não pagamento, ele poderia tornar-se escravo do credor. No direito obrigacional existem dois tipos de garantia das obrigações: reais e pessoais. As garantias reais são aquelas que recaem sobre bens móveis ou imóveis, ou seja, são os bens que garantem o adimplemento da obrigação. Note-se que neste tipo de garantia o devedor deverá indicar o bem sobre o qual recai a obrigação. Assim, se não houver o pagamento por parte do devedor, seus bens serão a garantia do pagamento. As garantias pessoais ou fidejussórias são aquelas em que uma pessoa (garantidora) assegura o pagamento da dívida do devedor. Assim, o garantidor ratifica a satisfação da obrigação, caso o devedor não o faça. Neste item estudaremos o direito real de garantia, método jurídico eficaz cuja finalidade é colocar o credor a salvo da insolvência do devedor. O Código Civil Brasileiro de 2002, no Título X, trata dela e dispõe sobre os institutos jurídicos do penhor, da anticrese e da hipoteca. O art. 1.419 deste diploma legal estabelece que, nas dívidas garantidas por penhor, anticrese ou hipoteca, parte do patrimônio do devedor fica afetado ao pagamento da obrigação. São formas de utilizar bens móveis ou imóveis como garantidores do cumprimento de determinada relação jurídica. As garantias reais, que observaremos a seguir, têm natureza acessória, ou seja,subordinam-se a uma relação pessoal dos contratantes. Assim, elas estarão sempre vinculadas com uma obrigação principal, que lhes deu origem. O direito real de garantia tem uma regra básica na qual somente aquele que dispõe de um bem, ou seja, que detém o direito de dispor da coisa, é que poderá dá-la em garantia. O art. 1.420 do Código Civil de 2002 é cristalino neste sentido; estabelece que somente aquele que tem capacidade de alienar poderá empenhar, hipotecar ou dar em anticrese. Trata-se aqui de requisito objetivo, pois a não observação deste dispositivo legal gera nulidade do negócio jurídico. Passemos agora a estudar os institutos do direito de garantia real como medidas eficazes ensejadoras da segurança jurídica dos negócios jurídicos. 30 Unidade I Por penhor, entende-se o fato de um bem móvel ser deixado em garantia para adimplemento de uma obrigação. Dessa forma, transfere-se a posse de um bem móvel para o credor, que, por sua vez, retém o bem até que a dívida seja integralmente paga, quando, então, o bem é restituído ao devedor. O penhor pode ser convencional (acordo entre as partes) ou legal (estipulado por lei). Não obstante, o Código Civil de 2002 dispõe, no art. 1.431, parágrafo único, sobre outras modalidades de penhor: rural, industrial, mercantil e de veículos. Considerados como modalidades especiais, nestes tipos as coisas empenhadas continuam em poder do devedor, que tem o dever da guarda e da conservação. Na modalidade convencional, o penhor é um expediente bastante utilizado pelo fato de facilitar empréstimos em dinheiro. De qualquer modo, é importante saber que a coisa dada em penhor, ou seja, entregue ao credor, é a sua própria garantia; portanto, deve haver a transferência efetiva da posse. O penhor constitui-se por contrato e recai diretamente sobre o bem dado em garantia, devendo ser levado a lançamento no Registro de Títulos e Documentos (art. 127, II, da Lei 6.015/73). Segundo Carlos Roberto Gonçalves (2014, p. 557), o penhor, após ser regularmente constituído, liga-se à coisa pelo princípio da aderência ou inerência, pois segue em poder do detentor da coisa, configurando a “sequela”. Vincula-se, portanto, até o adimplemento da obrigação. O penhor comum (ou penhor tradicional) será levado a registro no Cartório de Títulos e Documentos (art. 1.432, CC c/c art. 127, LRP) e o credor permanecerá na posse da coisa empenhada. Pela leitura do art. 1.432 do Código Civil em cotejo com o art. 127 da Lei de Registros Públicos fica evidente que o comando legal para que o contrato seja levado a registro faz surgir o direito real de garantia sobre o bem. Trataremos agora de outra garantia trazida pelo Código Civil de 2002: a anticrese. Trata-se, no caso, de direito real que recai sobre coisa alheia. Nesta hipótese, o credor tem a posse, podendo explorar o bem para que se pague a dívida com a exploração dele. Observação Em outras palavras, a anticrese é expediente jurídico no qual o credor recebe a posse do bem e dele retira os frutos até o limite da quantia em que a obrigação deva ser satisfeita, momento em que a posse retorna ao devedor. É importante ressaltar que no instituto da anticrese, o bem a ser dado em garantia deve ser um bem imóvel, pois, em se tratando de bem móvel, estaríamos diante do instituto de penhor. Vê-se que o registro da anticrese adere à coisa, podendo transmitir-se inter vivos ou mortis causa. Assim, o instituto traz obstáculos à livre circulação do bem, tendo em vista que o uso e o gozo dele pertencem àquele que o aliena. Sendo um instituto jurídico acessório, a anticrese vincula-se a uma relação jurídica principal, que lhe deu origem. Após o encerramento da relação principal, extinguir-se-á a anticrese. 31 REGISTRO DE IMÓVEIS A terceira e última espécie de garantia trazida pelo Código Civil de 2002 no Título X é a hipoteca. Entende-se por hipoteca o direito real de garantia cujo objeto é um bem imóvel ou outro que a lei designe como sujeito à hipoteca, e que pertence a um devedor ou a terceiro que exerça a posse sobre o bem. Até aqui a Lei Civil praticamente não trouxe qualquer novidade, a não ser a peculiaridade do instituto, ou seja, apresenta-se como uma importante contribuição para a movimentação econômico-financeira no ramo do segmento imobiliário. Por este instituto jurídico viabiliza-se o crédito, a fim de promover a movimentação dos negócios no ramo imobiliário, visto que se trata de um direito real de garantia que possibilita ao credor hipotecário reivindicar o bem de quem quer que o possua. Isso significa que, por meio desta garantia, o bem poderá ser reivindicado de forma imediata e preferencial para adimplir o pagamento da dívida. Perceba que não há a transmissão de posse ao credor. Se o devedor não paga a dívida hipotecária no seu vencimento, fica o credor habilitado para exercer o direito de excussão, através de ação de execução hipotecária, e posteriormente solicitar a venda judicial do bem. Saiba mais Com o objetivo de saber mais a respeito de garantias reais sobre bens imóveis, sugere-se a leitura do capítulo 2.4 de: SILVA, B. M. Compra de imóveis: aspectos jurídicos, cautelas devidas e análise de riscos. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2017. Cabe notar que a lei civil recepcionou os navios e as aeronaves como objetos de hipotecas, devendo ser regidos por lei especial. Figura 6 32 Unidade I Para finalizar, a hipoteca não só será inserida no registro de imóveis como também estará sujeita a registro de qualquer alteração relativa à garantia real. Dessa forma, tem-se a prorrogação de prazos, por exemplo, que deverá ser averbada no cartório da circunscrição da situação do bem. Resumo A divisão de terras no Brasil se deu por meio das capitanias hereditárias, cuja característica principal era o usufruto. Sua evolução aconteceu mediante os regulamentos do Império sobre as terras devolutas e sua demarcação. Historicamente, a Igreja católica e o Estado eram unidos de maneira oficial e, portanto, as primeiras divisões das terras da coroa, com direito sucessório e de propriedade, foram feitas de início pela Igreja e, depois, por um registro geral de imóveis, que deveria existir em todas as comarcas. Os procedimentos utilizados para sistematizar o registro relativo à inscrição dos direitos reais e obter o efeito jurídico a que se destinam são classificados em três tipos: alemão, francês e brasileiro, cada qual com as suas características quanto ao efeito do ato negocial. Sobre a natureza jurídica dos serviços notariais e de registro, importa destacar que estes são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público, sendo que a responsabilidade civil e criminal dos notários, dos oficiais de registro e de seus prepostos está regulamentada na legislação infraconstitucional (Lei 8.935/94). O sistema de emolumentação é hibrido em razão da atividade delegatária de que tanto o notário quanto o registrador são titulares. Portanto, os emolumentos são de serviço público delegado e vinculados ao Estado, que define os valores a serem percebidos para cada tipo de serviço delegado. Acerca dos princípios informadores do registro de imóveis, o princípio da inscrição reconhece como sendo concreto o direito patrimonial de constituição, transmissão e extinção relativo aos bens imóveis. O princípio da presunção e da fé pública se relaciona à segurança jurídica e confere ao titular proteção jurídica relativa à aquisição dos bens imóveis. Segundo o princípio da prioridade, aquele que registra primeiro tem prioridade em detrimento de qualquer outro. Já o princípio da especialidade é aquele que determina a individualização do bem, considerando todos os seus aspectos físicos e espaciais, enquanto o princípio da continuidade é utilizado para rastrear a cadeia de titularidade 33 REGISTRO DE IMÓVEIS do imóvel. A concentração é a principal característica do registro de imóveis, pois todos os fatos relativos a este bem estarão concentrados em sua matrícula.Aprendemos que é necessário haver uma positivação, ou seja, uma norma escrita para fazer valer a vontade das pessoas que contratam entre si bens relativos a imóveis. Consequentemente, a norma jurídica determinou que os direitos reais sobre os imóveis só serão constituídos ou transmitidos por um ato que seja lavrado no Cartório de Registro de Imóveis. O referido local é a instituição competente para a formação e conservação do assento dos dados relacionados aos direitos reais previstos na lei relativos aos imóveis, a fim de determinar a publicidade por meio da matrícula, do registro e da averbação. Vimos que a matrícula serve para individualizar o imóvel, sua localização, sua descrição. Por outro lado, a averbação é a alteração ou o acréscimo de informações relativas aos imóveis, ao passo que o registro é o instrumento pelo qual se declara quem é o proprietário do bem. É possível registrar quaisquer documentos para guarda e conservação, nos termos do art. 127, VII, da Lei 6.015, no Registro de Títulos e Documentos. Concluímos vendo que direitos reais de garantia são aqueles que, caso não haja pagamento nos termos e condições ajustadas, podem vir a se tornar do credor. Exercícios Questão 1. Donato Seichelles comprou um terreno próximo à casa de seus pais para construir uma casa e, no futuro, ter sua vida independente, porém com a proximidade necessária para assistir os genitores, que já estão ficando com muita idade. Ele não pretende registrar a escritura neste momento porque está sem dinheiro, já que despendeu todas as suas economias para pagar o valor integral do terreno. Ele comenta essa decisão com os amigos no fim de semana. Como amigo de Donato e estudante do assunto, você afirma: A) Que ele não precisa se preocupar com o registro da escritura, porque não há prazo processual para isso. B) Que ele não precisa se preocupar com o registro da escritura, porque não há prazo legal para isso. C) Que ele precisa registrar a escritura com urgência, porque não se pode confiar em ninguém. D) Que ele precisa registrar a escritura com urgência, porque ela é a efetiva garantia de propriedade do imóvel. 34 Unidade I E) Que ele deve registrar a escritura do terreno apenas quando a casa ficar pronta, para não ter gastos excessivos. Resposta correta: alternativa D. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: prazos processuais são estabelecidos pela lei para vigorarem processos judiciais. Neste caso, não há um processo judicial instaurado e, portanto, não cabe a aplicação de prazos processuais. B) Alternativa incorreta. Justificativa: a escritura deve ser registrada para que a propriedade do imóvel se torne pública e possa ser exercida livremente nos termos da lei. A questão mais importante não é a existência de prazo, mas o fato de que sem o registro do imóvel a propriedade não se torna reconhecida. C) Alternativa incorreta. Justificativa: a questão não é de confiança, mas de previsão legal. Somente aquele que dispõe de escritura do imóvel registrada pode ser identificado como proprietário e exercer os direitos decorrentes dessa situação jurídica. D) Alternativa correta. Justificativa: somente a escritura registrada garante o reconhecimento da propriedade e, consequentemente, o direito de usufruir e defendê-la perante terceiros. E) Alternativa incorreta. Justificativa: esta é uma prática comum no Brasil, mas que, infelizmente, é errada. O proprietário de qualquer imóvel só será reconhecido como tal quando possuir a escritura de compra e venda devidamente registrada. Assim, não importa se no imóvel existe uma casa ou se ele é apenas um terreno. O que comprova a propriedade é o registro da escritura. Questão 2. Tamira Nelite, sua colega de trabalho, está adquirindo um apartamento com o noivo, uma vez que pretendem se casar no próximo ano. Ela está muito feliz com a compra do bem, principalmente porque o imóvel era de propriedade do seu cunhado e ela não vai ter nenhum problema com a documentação. Ao ouvir essa referência à documentação, você recomenda à Tamira que lavre a escritura e a registre, já que o parentesco não é garantia de regularidade na documentação do imóvel. Esta afirmação pode ser feita com base no princípio da presunção e da fé pública porque: 35 REGISTRO DE IMÓVEIS I – Esse princípio está relacionado com o princípio da segurança jurídica, que garante a estabilidade das relações jurídicas. II – Trata-se de situação típica do direito de família, e a prioridade na transmissão de bens imóveis deve ser dada à família, como determina o princípio da prioridade. III – Esse princípio (presunção e fé pública) expressa a confiança que uma sociedade deve poder ter nos atos praticados pelo Estado, de forma que eles sejam sempre recebidos como posicionamentos em conformidade com a lei. Assinale a alternativa correta: A) I, somente. B) II, somente. C) III, somente. D) I e III. E) II e III. Resolução desta questão na plataforma.
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